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HISTÓRIA DA PSICOTERAPIA DE GRUPO Carlos Roberto de Figueiredo Ferreira – graduando em Psicologia (2018) Joseph Henri Pratti foi quem iniciou o que viria a ser conhecido por terapia de grupo, em 1905. Ele tratava seus pacientes como alunos e lhes dava aulas sobre a doença, os métodos de cura e os apoiava no prognóstico. Há uma grande influência do seu trabalho em grupos homogêneos, diante do incentivo à presença de pacientes que já haviam obtido sucesso no tratamento, como os “Alcoólicos Anônimos”, por exemplo. Moreno, em 1910, criou o que foi chamado de “Teatro do Homem Espontâneo”, onde situações-problemas eram usadas para a conscientização dos conflitos, estimulando a sua resolução. Nesse método o psicoterapeuta seria o “diretor”, o paciente o “ator”, os outros profissionais os “egos auxiliares” e os demais membros do grupo (outros pacientes) a “plateia”, que poderiam cooperar na medida em que as representações se desenvolvessem. Ao final dessas apresentações, era realizada uma discussão, que servia de ajuda para o paciente e para os demais participantes de um modo geral. Em 1930, Moreno propôs o termo “psicoterapia de grupos”, para descrever a sua prática, justificando que ao representar papeis, os pacientes desenvolviam sua espontaneidade e criatividade embotadas, com maior facilidade do que apenas verbalizar. Adler, no ano de 1912, influenciado por conceitos marxistas, após romper com Freud, passou a adotar um clima de igualdade, de abertura e de discussão livre entre seus grupos, propondo ao neuróticos um caminho para a ressocialização. Marsh, em 1919, se utilizando das ideias de Pratt, foi o grande pioneiro na concepção do hospital como “comunidade terapêutica, realizando em seu trabalho a utilização de pacientes mentais institucionalizados, grupos de discussão com o corpo técnico-hospitalar e até mesmo de alto-falantes no ambiente hospitalar, para se comunicar. Em 1920, Lazelll também se utilizando dos métodos de Pratt, foi um dos primeiros a teorizar o método de grupo, com grupos de esquizofrênicos, desenvolvendo sua teoria na ideia de que a socialização desses pacientes era de fundamental importância e auxiliava na mudança de comportamento e melhor adaptação, criando, em consequência dos seus trabalhos, associações de ex- pacientes. Freud, maior referência na história da psicologia até os tempos atuais, publicou a obra “Psicologia de Grupos e a Análise do Ego”, em 1921. Nesta obra Freud tratou da diferenciação entre um grupo centrado sem um líder e o outro com essa figura, sendo que nesse primeiro haveria uma grande propensão a excessos, rebeldias e até mesmo ofertando perigo, enquanto que no outro, o grupo realizavam uma substituição na figura desse líder, bem como, tinham os demais como irmãos, permitindo assim uma vivência de amor e ódio. Em 1920, Burrow criou o termo “análise grupal” ou “filoanálise”, baseando sua teoria na condição de que os sujeitos de um mesmo grupo social tendiam a sofrer dos mesmos problemas psíquicos. Para este teórico, no tratamento de grupos havia uma maior valoração no que tange a capacidade de oferecer menos resistência do paciente ao tratamento, já que eles viam nos demais participantes a semelhança de seus problemas, facilitando a conscientização psíquica, pois existia o encorajamento para o compartilhamento de suas experiências. Ele foi o organizador da primeira “comunidade terapêutica”, ainda em 1920, localizada em Nova York e denominada de “Lifewynn”. Os trabalhos nesse local consistiam em grupos formados por 20 pessoas, que viviam e trabalhavam juntas, em um acampamento de verão nas montanhas de Adirondack. As influências dessa iniciativa contribuíram para o crescimento do “movimento do potencial humano”, no qual a gestalt-terapia está inserida. Na década de 30, Biere, um seguidor dos ensinamentos de Adler, fez uso de “clubes sociais” e “comunidades terapêuticas” para ex-pacientes, fato que gerou grande repercussão na comunidade da Inglaterra, vindo a originar os “hospitais diurnos e noturnos” para neuróticos e fronteiriços. O método utilizado priorizava um tratamento situacional, dando menos ênfase nas questões ligadas ao subconsciente, promovendo uma mudança de postura do paciente ao permitir que ele abandonasse o seu papel de “objeto” e passasse a se ver como “sujeito”. A terapia situacional tinha as seguintes vantagens: Acabava com a distância entre percepção e cura da psicanálise individual; Criava condições de independência para os pacientes, trazendo melhoras significativas e maior rapidez nas altas; Minorava ou atenuava as dificuldades sociais geradas em razão da doença. Também nos anos 30, Wender combinou psicoterapia de grupo com a individual em ambiente hospitalar, através de aulas, palestras e entrevistas psicoterapêuticas. Sua metodologia consistia na recriação de uma “família”, tendo os pacientes uns nos outros a figura de irmãos simbólicos, com a utilização de conceitos referenciais psicanalíticos e um método educativo. Para Wender, a terapia de grupo ajudava no aumento da espontaneidade do paciente, permitindo que ele se abrisse com maior facilidade sobre as suas questões conflituosas, quando das sessões individuais. Em seus trabalhos, Wender promovia discussões e interpretações superficiais dos sonhos. Schilder, psiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos, nas décadas de 30-40, foi outro que se utilizou da combinação de psicoterapia de grupo e individual, assim como Wender. Ele também se utilizou de métodos psicanalíticos, porém, mas rigorosos e praticou seu trabalho em um hospital para pacientes neuróticos adultos internos e externos, com grupos de 04 e 05 indivíduos. Juntamente com Slavson e Klapman, Schilder é considerado o criador da introdução da interpretação psicanalítica na situação coletiva, já que trabalhava com grupos homogêneos, adotando critérios mais objetivos dos participantes para a criação dos mesmos, fator que permitia conclusões interpretativas individuais que servissem a todos. Esse tipo de atuação recebeu o nome de “terapia interpretativa no grupo”. Também é de Schilder o conceito de “ideologia neurótica”. Em 1934, Slavson desenvolveu o “método ativo” nas terapias de grupo, após observar mudanças de comportamento em crianças inseridas em grupos recreativos com atividades espontâneas. Nesse método, o psicoterapeuta adotava uma postura permissiva e aceitadora, com a finalidade de criar condições previamente planejadas de exposição de conflitos. Apesar de ser engenheiro, Slavson praticava a psicoterapia, como já mencionado, adotando técnicas psicanalíticas que enfatizavam mais o indivíduo do que o próprio grupo, bem como, ele ampliou sua prática para adolescentes e adultos. Segundo este teórico, ao contrário da psicoterapia individual, somente em terapias de grupos sólidas era possível encontrar os 05 elementos que permitiam a ocorrência de condições que levavam a relações favoráveis de mútuo apoio e uma possível descarga de agressão ou minoração dos sentimentos de culpa, que são: transferência, catarse, prova da realidade e sublimação. Foi Slavson quem fundou a Associação Americana de Psicoterapia de Grupo, em 1948. Kurt Lewin, psicólogo social, juntamente com Lippit e White, pesquisou as relações entre vida grupal e liderança, com foco na “dinâmica de grupo”, termo por ele criado em 1939. O trabalho de Lewin é considerado uma nova versão da psicologia Gestaltista e foi esse teórico quem percebeu a influência da alteração do comportamento diante da pressão em grupos e vice-versa, o que permitia a formação de uma “totalidade”, diante da composição de elementosheterogêneos, mas que funcionavam como unidade. Sua influência e de outros psicólogos sociais contribuíram para a fundação da “National Training Laboratories”, em 1947, onde desenvolveram a criação do “grupo-T” ou “grupo de treinamento”, composto geralmente de pessoas saudáveis. Foulkes (1976), outro que seguia os conceitos psicanalíticos, contribuiu para as psicoterapias grupais em favor do exército inglês. Ele adota em seus métodos a relação do indivíduo e a comunidade como o problema-chave. Grilberg, Langer & Rodrigues, trouxeram a técnica interpretativa no grupo, se utilizando também de referenciais psicanalíticos, não mais considerando o indivíduo como fenômeno central, mas a totalidade das manifestações do grupo, ultrapassando apenas os pacientes individualmente. Bion, em 1961, publicou “Experiências com Grupos”, uma obra baseada em suas observações com grupos militares e a aplicação da psicoterapia de grupo, citando 03 princípios básicos que influenciavam na formação desses grupos, quais sejam: dependência, formação de pares e luta ou fuga. A comunidade Esalen, fundada em 1962, nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia, foi de fundamental importância para a criação de outros centros e integra até os dias de hoje, psicologia, filosofia e meditação, além de outras práticas. O criador da Gestalt-terapia, Fritz Perls, viveu em Esalen de 1964 a 1969. Rogers (1970), foi o teórico que criou o “grupo de encontro”, exercendo grande influência, principalmente, na psicoterapia dos humanistas, dentre eles, os gestalt-terapeutas. A definição dada por Rogers para esses grupos era a de que, através de um processo experencial, ocorria uma engrandeciemnto no crescimento pessoal e nas relações interpessoais dos indivíduos envolvidos. Ele se utilizou de referenciais gestaltistas e da abordagem centrada na pessoa, atribuindo a procura de tais grupos à desumanização da cultura ocidental, para a satisfação das necessidades psicológicas. Por fim, ao que parece, de lá para cá a psicoterapia de grupo evoluiu enormemente e os estudos apontam grande eficácia na sua aplicação e resultados, fator que anda junto com a evolução da sociedade, cada vez menos dispondo de tempo e necessitando de resultados práticos, quer seja a curto, médio ou longo prazo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BORIS, Georges Daniel Janja Bloc. Elementos para uma história da psicoterapia de grupo. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v. 20, n. 2, p. 206-212, dez. 2014.
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