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DESENVOLVIMENTO

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DESENVOLVIMENTO
A carta maior do Brasil, estampa em seu artigo 1º, inciso III, um dos maiores , senão o maior dos princípios constitucionais existentes em todo o nosso ordenamento jurídico,senão vejamos:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvio dos Estados e Municípios e pelo Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I- a soberania;
II- a cidadania;;
III- a dignidade da pessoa humana;
IV- os valores socias do trabalho e da livre iniciativa;
V- o pluralismo político.
Parágrafo Único. Todo o poder emana do povo, que o exercepor meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição “.
Tal Princípio deixa claro que toda ação do estado deve ser analisada de forma que a pessoa seja um fim em si mesmo ou um meio para outros objetivos sob pena de ser declarada inconstitucional.
Alguns conceitos sobre dignidade da pessoa humana:
O conceito de dignidade da pessoa humana é muito subjetivo, sendo, por tanto, difícil de se definir. Contudo, existem alguns aspectos que possam determinar a dignidade da pessoa humana, com relação à valorização de sua existência, e devem ser compreendidos pelo contexto histórico e alguns acontecimentos envolvendo tal tema.
O principal marco na história dos direitos humanos remontam ao período pós-segunda guerra mundial com o surgimento das Nações Unidas, que tinha como principal objetivo , justamente, garantir a paz no mundo. Uma nova guerra, seria um atentado a própria humanidade, surgindo assim o tratado de São Francisco, cujo objetivo era proteger os direitos humanos em todo o mundo, tal tratado trazia que: “ Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade”. 
Assim sendo, podemos dizer que dignidade humana é primordial para se alcançar os direitos humanos, tomando força a partir da década de 1940, período pós-segunda guerra mundial. 
A dignidade da pessoa humana é intrínseco a cada ser humano, que devido a sua condição de humano, torna-se merecedor do respeito do estado e dos próprios seres humanos.Tal dignidade é que garante todos os direitos e deveres para essa pessoa , que são fundamentais e obrigatórios, garantindo, assim que toda pessoa esteja protegida de tudo que pode ser considerado desumano e degradante.
Posto isso, dignidade da pessoa humana pode ser considerado tudo aquilo que deve ser protegido para que toda e qualquer pessoa e que tenha as mínimas condições viver livre, digna e satisfatória.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, assinala o princípio da humanidade e da dignidade já no seu preâmbulo:
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo (…). Considerando que as Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana (…).
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece, em seu art. 11, § 1º, que :
“Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade”.
Derivando de um dos fundamentos republicanos, constante do art. 1º, inciso III, da Constituição da República Federativa do Brasil, declara a dignidade da pessoa humana, o princípio da humanidade é descrito no art. 5º, incisos III e XLIX.
Conforme bem define Luiz Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho:
Contudo foi com o Iluminismo que a noção de dignidade da pessoa humana ganhou uma dimensão mais racional e passou a irradiar efeitos jurídicos, sobretudo por influencia do pensamento de Immanuel Kant. O homem, então passa a ser compreendido por sua natureza racional e com capacidade de autodeterminação (…).
Fato é que, existe uma extrema dificuldade em conceituar Dignidade da Pessoa Humana, mesmo entre os estudiosos do tema, onde encontramos definições, as mais variadas possíveis. Senão Vejamos:
[Ingo Sarlet] define da seguinte forma:
(…) por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humano (…).
HISTÓRICO
Historicamente falou-se pela primeira vez sobre audiência de custódia no ano de 1966, quando do surgimento do Pacto Internacional sobre Direitos Humanos Civis e Políticos, previa que:
artigo 9º, item 3:
(“3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da sentença. (BRASIL. Decreto Nº 592 de 06 de julho de 1992. D.O.U. de 07 de julho de 1992, 8716 p. - “Pacto internacional sobre direitos civis e políticos”). 
No Brasil tal pacto só passou a produzir seus efeitos a partir de sua assinatura e promulgação que se deu em 06 de Julho de 1992. 
O estado de São Paulo foi o pioneiro no que tange a questão das audiências de custódias no Brasil, tudo começou em 06 de Fevereiro de 2015, juntamente com o CNJ em ação conjunta com o TJSP, lançava-se ali o projeto Audiência de Custódia, que tinha como principal escopo a imediata apresentação da pessoa presa em flagrante delito à presença de uma autoridade judiciária. Consistindo tão somente em uma apresentação e entrevista com o magistrado, dando oportunidade também de manifestação por parte do Ministério Público bem como da Defensoria Pública ou um Advogado constituído pelo o assistido.
Sua implantação está prevista em acordos e pactos internacionais sobre direitos humanos da qual o Brasil é signatário, porém era um dos únicopaíses no mundo que ainda não respeitava esse acordo. Como exemplo temos a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), criada em Novembro de 1969 na cidade de Costa Rica, por isso é também chamado de Pacto de São José da Costa Rica, contudo o Brasil só ratificou tal tratado em 1992, passando com isso a produzir seus efeitos internos. Vejamos:San José, capital da 
artigo 5º item 2:
(“2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. (Costa Rica – San José. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos”).
artigo 7º item 5:
(“5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. (Costa Rica – San Jose. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos”).
Trata-se, por tanto, de um direito que era exigido pela própria comunidade internacional que desde a década de 1960 já clamava por tais direitos, quais sejam: a proteção dos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, passando assim, ao reconhecimento de tais direitos.
Contudo, o Brasil precisava mostrar aos organismos internacionais uma atitude com relação à audiência de custódia, passando-se anos até que, emfim, tal discursão colocado em prática. Assim sendo, o STF através dos precedentes RE 466.343/SP e HC 87.585/TO, opinou no sentido de que a Convenção Americana de Direitos Humanos tem valor supralegal, isto é, estáacima das leis ordinárias, porém abaixo da Constituição Federal, não sendo, portanto necessária, a promulgação de leis ordinárias para que ela possa ser aplicada.
Foi nessa linha de pensamento que no dia 22 de janeiro de 2015, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo conjuntamente com o corregedor geral da Corregedoria Geral da Justiça assinou o Provimento Conjunto nº 03/2015 que prevê e regulamenta os primeiros passos para a efetivação das audiências de custódia no Estado de São Paulo. Em 06 de fevereiro de 2015, o Conselho Nacional de Justiça lança oficialmente o Projeto Audiência de Custódia em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e inicia, em nível experimental, as primeiras audiências de custódia no país.
Após alguns meses, em abril daquele mesmo ano, três acordos foram assinados entre o CNJ, o Ministério da Justiça e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) que tinham como objetivo incentivar a proliferação do projeto Audiências de Custódia no Brasil. 
Assim no dia 15 de dezembro daquele mesmo ano, o Conselho Nacional de Justiça assina a Resolução 213/2015, que disciplinava as diretrizes e previsões sobre audiência decustódia e sua correta aplicação em todo território nacional, assim como as previsões que pormenorizavam o sucesso de tal previsão.
Contudo a falta de uma legislação específica para tal instituto incomodava e de certa forma trazia também uma insegurança jurídica, uma vez que, somente positivações trazidas em acordos e pactos internacionais não seriam suficientes. Assim sendo, em de julho de 2016, o Senado aprovou em primeiro turno o PLS nº 554/2011, que propunha a seguinte ementa: 
“Altera o § 1º do art. 306 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), para determinar o prazo de vinte e quatro horas para a apresentação do preso à autoridade judicial, após efetivada sua prisão em flagrante. (SENADO Federal: PROJETO DE LEI DO SENADO nº 554, de 2011.)”.
Art. 306 do CPP “ A prisão de qualquer e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público a e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo 1º Em até 24( vinte e quatro ) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral par a Defensoria Pública.
Parágrafo 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas”. 
Por tanto, com o lançamento do projeto audiência de custódia pelo CNJ, através da Resolução 213/2015, vários outros tribunaisde justiça passaram a aderir tal projeto e assim cumprirem as determinações imposta pelo CNJ e hoje as audiências de custódia são uma realidade, levando-se em conta as particularidades de cada tribunal para o cumprimento e aplicação da referida determinação.
CONCEITO E PROCEDIMENTO
Segundo dois grandes autores na área o conceito de Audiência de Custódia diz respeito há:
“no direito de (todo) cidadão preso ser conduzido, sem demora, à presença de um juiz para que, nesta ocasião, se faça cessar eventuais atos de maus tratos ou de tortura e, também, para que se promova um espaço democrático de discussão acerca da legalidade e da necessidade da prisão.” (LOPES JR, Aury; PAIVA, Caio. Audiência de custódia e a imediata apresentação do preso ao juiz: rumo à evolução civilizatória do processo penal. Revista Liberdades, 15p)
Depreende-se do conceito dos renomados autores que tal audiência consiste na apresentação da pessoa presa em flagrante delito, em um prazo estimado de até 24h para que o mesmo seja levado diante de uma autoridade judiciária , onde será assistido por um defensor público ou um advogado constituído, bem como a presença de um membro do Ministério Público e principalmente de um Juiz. 
No decorrer da audiência de custódia serão avaliadas, fundamentalmente, duas questões. Se a prisão deste indivíduo foi legal, isto é, se esta prisão está dentro de todos os requisitos legais, no que se refere sua dignidade e se houve algum resquício de prática de tortura ou maus tratos por parte do agentes públicos que efetuaram sua prisão. Se analisa, ainda nessa audiência, a necessidade de manter esse flagranteado preso, convertendo esse flagrante em prisão preventiva ou se o mesmo tem condições de responder o processo em liberdade, decretando, assim, sua liberdade provisória.
Tal instituto tem natureza garantista e tem por fim, assegurar a validade e a eficácia dos atos produzidos. Bem com também tem natureza fiscalizatória no que se refere ao comportamento dos policias quando da prisão, uma que, mostra ser um meio eficaz de controlar os excessos policiais e carcerários, objetivando assim, cumprir os preceitos norteadores da Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Humanos.
PROCEDIMENTOS 
A Resolução 213/2015 do CNJ disciplina a correta aplicação deste instituto de forma clara e objetiva, contudo traremos os principais aspectos abordados neste procedimento:
Primeiro a pessoa presa em flagrante delito terá seu auto de prisão lavrado em uma delegacia por uma autoridade policial que neste primeiro momento já lhes garante seus direitos constitucionais e legais, como por exemplo: direito de permanecer em silêncio e de comunicar sua prisão a uma pessoa por ele indicada e de fazer contato com seu defensor .( Res. 213/2015-CNJ,art. 5º).
Em seguida deverá ser feita a comunicação ao cartório criminal, juntamente com o flagranteado, que logo após será encaminhado à presença de uma autoridade judiciária. No cartório, esses autos serão recebidos por técnico judiciário, autuados, e em seguida deve-se juntar a pesquisa de suas folhas de antecedentes criminais (FAC) do réu, a nomeação de defensor dativo, se for o caso e notificando-se ainda o Ministério. ( Res. 213/2015-CNJ, art.1º,§ 1º).
São garantidos ao custodiado o direito de um interrogatórioreservado e com seu defensor antes da audiência de custódia.( Res. 210/2015-CNJ, art. 6º).
A audiência será instalada com a presença do réu, de seu defensor, do representante do Ministério Público e do Juiz. Ela será integralmente gravada, e em ata constará apenas um breve relato dos atos praticados e a decisão completa do juiz. O Juiz realizará a qualificação do réu e questionará sobre a maneira com que se deu a prisão, inclusive sobre a ocorrência de eventuais agressões ou torturas, após, será aberto às partes o direito de reperguntas. ( Res. 210/2015-CNJ, art. 4º).
É importante ressaltar que neste momento não será avaliado o mérito, e toda e qualquer pergunta que tenha em vista a produção de prova de mérito deverá ser indeferida. ( Res. 210/2015- CNJ, art. 8º,I a X ).
Encerradas as perguntas, será aberta a palavra ao Ministério Público e à defesa, respectivamente, para que se manifestem sobre a manutenção da prisão. Por fim, o juiz decidirá sobre todas as questões apresentadas, inclusive, sobre a prisão. O cumprimento das determinações deverá ser imediato. ( Res. 210/2015-CNJ,art. 8º,§ 1º,I a IV).
Trata-se, portanto , de uma audiência rápida, direta e eficiente, com tudo são respeitados o direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, respeitados ainda, o momento processual a impessoalidade e imparcialidade do magistrado e que nesse momento tudo que o flagranteado declara em nada serve para obtenção e produção de provas, nem tampouco se produz mérito. 
Seu conceito está relacionado ao fato de se ter cuidado, ou seja, guarda de alguém ou de alguma coisa, proteção. Logo, tem-se que,custódia é o comportamento de se conduzir alguma pessoa presa à presença de uma autoridade judiciária que, após um contato dessa pessoa presa com uma autoridade policial que determinou sua prisãoem flagrante, deverá essa pessoa ser levada sem demora para que a autoridade judiciária análise sobre sua legalidade de sua prisão, apreciando questões relativas à pessoa presa emflagrante, bem como se esse flagranteado foi submetido a maus tratos ou se foi torturado. exercer um controle imediato da legalidade e da necessidade da prisão, assim como apreciar questões relativas à pessoa do cidadão conduzido, notadamente a presença de maus tratos ou tortura. Logo, conclui-se que a audiência de custódia pode ser considerada como uma importantíssima ferramenta de acesso à jurisdição penal,e ,portanto , uma “das garantias da liberdade pessoal que se traduz em obrigações positivas a cargo do Estado”.
Seu controle normativo encontra respaldo em diversos tratados internacionais de direitos humanos, senão vejamos:
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) prevê que :
“Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (…)” (art. 7.5). 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), na mesma linha de pensamento diz que:
“Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais (…)” (art. 9.3). 
Convenção Europeia de Direitos Humanos, idem no mesmo pensamento:
“Qualquer pessoa presa ou detida nas condições previstas no parágrafo 1, alínea c), do presente artigo deve ser apresentada imediatamente a um juiz ou outro magistrado habilitado pela lei para exercer funções judiciais (…)” (art. 5.3)
Posto essas considerações podemos definir Audiência de Custódia como sendo o instrumento processual pela qual determina que toda pessoa presa em flagrante tem que ser levada ,sem demora ,à presença de uma autoridade judiciária num prazo de até 24h, para que esta autoridade possa deliberar sobre sua prisão, analisando e avaliando sobre a legalidade e necessidade de manter sua prisão ou não.
FINALIDADE
Como finalidade podemos elencar alguns pontos, contudo é evidente que uma das principais finalidade da Audiência de Custódia é adequar o processo penal brasileiro aos tratados e pactos sobre direitos humanos em que o Brasil seja signatário.Porém , vejamos outras finalidades:
1-Prevenir a prática da tortura e dos maus tratos ou qualquer outra forma de coação física ou moral, inibe a execução de atos de tortura, tratamento cruel, desumano e degradante em interrogatórios de agentes públicos, senão vejamos:(“art. 5.2 da CADH que :
(“ Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade inerente ao ser humano”). 
Atos de tortura violam os direitos fundamentais do cidadão, e apesar das providências tomadas contra estes atos nos últimos anos no Brasil, ainda são recorrentes os casos em que a tortura ainda é praticada durante interrogatórios policiais.
2-Combater a superlotação carcerária: Com sua apresentação imediata da pessoa presa em flagrante delito a uma autoridade judiciária é um mecanismo que possibilita ao magistrado a apreciação da legalidade da prisão, assim sendo, a audiência de custódia minimiza a possibilidade de prisões ilegais. 
3-Viabilizar o respeito às garantias constitucionais: ou seja, com a realização da audiência de custódia, garante o efetivo respeito ao princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa ( art. 5º. LV , CF/1988.):
(“ aos litigantes, em processo judicial ou administrativo. E aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes ”).
4-Colocar o Brasil como um país comprometido na proteção dos Direitos Humanos: conforme dispõe art.7º da Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos que diz que:
(“ toda pessoa detida deve ser conduzida , sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada a exercer funções judiciais”).
5-Adequar o ordenamento jurídico interno para o cumprimento de obrigações internacionais, como bem exige o art. 2º da ( CADH ), segundo o qual é dever do estado-parte a adoção de dispositivos de direito interno compatíveis com as normas contidas no referido tratado.
6-Demanda expressa de iniciativa legislativa: O projeto de lei nº 554/2011, de autoria do senador Antônio Carlos Valadares, propõe alteração do parágrafo 1º do art. 306 do CPP incluindo a obrigatoriedade da realização de audiências de custódia no processo penal brasileiro.
No entanto, estatísticas mais recentes, proveniente dos projetos pilotos de implantação das audiências de custódia nas capitais, demonstrou ares de mudança nesse paradigma. Foram realizadas até outubro do presente ano 153.403 audiências de custódia, dentre as quais 70.827 dos réus foram postos em liberdade, o que representa 46,17% dos presos. Bem como 17.102 casos foram encaminhados para acompanhamento assistencial ou social, o que corresponde a 11,15% do total, e por fim, 7.250 presos informaram terem sofrido maus tratos ou tortura, índice que corresponde a 4,73% dos casos.
A audiência de custódia vem trazer uma nova proposta à questão prisional, a ideia de que a prisão nem sempre é a melhor escolha e que talvez, uma atitude mais humana, um contato mais justo, possa trazer uma mudança no comportamento social, proporcionar uma maior acuidade na aplicação de medidas extremas como o cerceamento da liberdade. Ainda é cedo para se afirmar qualquer relação entre essa nova postura e uma eventual redução na taxa da criminalidade, mas os idealizadores do projeto apostam nessa nova conduta.
CONSEQUÊNCIAS
Era sabido que desde 2011, criou-se uma expectativa de uma mínima diminuição da população carcerária, bem como de presos provisórios. Contudo com a implantação do projeto Audiência de Custódia, através da Resolução 213/2015 do CNJtal expectativa vem se cumprindo. Pois dados trazidos pelo próprio Conselho Nacional de Justiça, apontam que o Brasil é atualmente o país com a 4ª maior população carcerária no mundo, totalizando uma média de 996.223 presos ( segundos dados atualizados em 14/12/2016), mostrando um crescimento exponencial da população carcerária ano a ano sem nunca reduzir, sendo que no período de 1990 a 2013 o aumento foi de cerca 507%.
O estudo mostra também os níveis de criminalidade, uma vez que , o Brasil se encontra na 91ª posição na lista de países mais seguros do mundo, em 2013 a posição era a de 86ª . As taxas de homicídios também cresceram de forma alarmante nas últimas décadas, no ano de 1980 o país tinha cerca de 11,7 homicídios para cada 100 mil habitantes, já em 2003 essa taxa subiu para cerca de 28,9 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Assim sendo, com as audiências de custódia acontecendo nas grandes capitais, provou-se uma certa mudança nesse paradigma. Senão vejamos:
Segundo dados do próprio CNJ foram realizados até junho de 2017 uma total de 258.485 audiências de custódia em todo país, com cerca de 115.497 resultaram em liberdade provisória, ou seja,(44,68%) dos flagranteados foram soltos para responderem seu crimes em liberdade, sob alguma condição. Cerca de 142.988, ou seja, (55,32%) dos flagrantes foram convertidos em prisão preventiva, cerca de 12.665, ou seja, (4,90%) relataram algum tipo de violência durante a abordagem policiale cerca de 27.669, ou seja, (10,70%) dos assistidos foram encaminhados para algum tipo de tratamento ou encaminhamento assistencial.
Em nível de estado de Roraima, estado em que resido, mas precisamente na capital Boa Vista, segundo dados do Núcleo de Plantão Judicial e Audiência de Custódia ( NUPAC), órgão criado pela Resolução nº 59, de 23 de Novembro de 2016 pelo Tribunal de Justiça de Roraima TJ/RRe que disciplina as audiências de custódia no estado de Roraima, traz os seguintes dados: 
Em 2015 foram realizadas 372 audiências em todo o estado , com cerca de 180(49,45%), resultaram em prisão preventiva 182(50,00%),liberdades provisórias com medidas cautelares ,uma(0,27%) pessoa foi encaminhada para serviço assistencial e 9(2,47%) rescindiram. Já em 2016 foram um total de 801 audiências, 995 pessoas foram flagranteadas, 511(51,36%) flagrantes foram convertidos em prisão preventiva, 474(47,64%) foram convertidos em liberdade provisória sob alguma medida cautelar, 59(5,93%) presos foram encaminhado ao serviço assistencial, 75(7,54%) reinterações, 25(3%) pessoas relataram agressões policiais e 10(1,01%) flagrantes foram relaxados. Em 2017 foram 1.084 audiências com 1354 flagrantes, 675(49,85%) resultaram em prisão preventiva, 667(49,26) resultaram em liberdade provisória com alguma medida cautelar, 60(4,43%) foram encaminhados ao serviço assistencial, 87(6,43%) rescindiram na prática delituosa, 28(2%) alegaram excesso por parte policial e 12(0,89%) prisões foram relaxadas. Dados mais atuais apontam que até 27/03/2018 foram 374 audiências com 504 flagrantes, 285 convertidos em prisão preventiva, 210 presos foram soltos com alguma medida cautelar, 4 foram para assistência social, 57 reinteraram, 21 alegaram excesso pela polícia e 7 prisões foram relaxadas. 
Logo, o projeto audiência de custódia aproxima o magistrado, togado, em geral participante das altas classes sociais, ao preso, que na sua grande maioria , é uma pessoa leiga, sem grau de instrução e de baixa renda, e sem nenhuma estrutura familiar. A audiência de custódia humaniza a prisão ao colocar esse preso frente a frente aomagistrado, dando, assim, uma cara e voz com contexto real, não sendo só mais um processo ou mais uma decisão. 
O magistrado passa a ter contato imediato com a pessoa do flagranteado , podendo avaliar , in loco, com seus próprios olhos questões que no papel se perderiam, como algum hematoma deixado por possíveis excesso dos policiais que efetuaram sua prisão, tais como, escoriações, as contusões, as pancadas etc..., além de visíveis estados de embriaguez, transtorno mental ou outra desordem física e emocional. Podendo o magistrado , ainda, averiguar questões como porte físico, compleição, condições físicas, gravidez, doenças, enfim, uma série de circunstâncias que se perderiam na formalidade fria do auto de prisão em flagrante. 
Tal humanização tem por finalidade a busca pelo julgadorem um maior interesse pelas medidas cautelares diversas da prisão, como as previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal. A resolução 213 do CNJ também prevê a criação das Centrais Integradas de Alternativas Penais e Centrais de Monitoração Eletrônica. Tais centrais serão responsáveis pelo monitoramento das medidas cautelares diversas da prisão, pelo monitoramento eletrônico e pela combinação de esforços, junto á Assistência Social e à Saúde em busca de não apenas impor medidas de cumprimento pelo preso, mas de olhá-lo como ser humano em situação de necessidade e dentro do possível, ou seja, ajudá-lo.
A principal função atravésdas centrais das audiências de custódia é permitir que o Estado tenha capacidade de corrigir as suas falhas perante essas pessoa que, muitas das vezes, carecem de cuidados psicológicos, físicos e sociais. Através dessas medidas, o Estado estará buscando de maneira mais próxima e mais efetiva a proteção de todos os direitos fundamentais dessas pessoas que, em sua grande maioria, encontram-se à margem da sociedade, discriminados e excluídos.
Diante do exposto, é nítido e evidente que além da busca pela proteção aos direitos humanos, pela fiscalização da atividade policial e pela repreensão à tortura, o projeto de audiência de custódia, implantado pelo CNJ através da Resolução 213/2015 vem propor um novo modelo para a sociedade jurídica. Pleiteia-se a humanização do processo, transformando- o em uma pessoa e traz toda a complexidade daquele ser humano e daquela vida para a audiência. 
Assim o magistrado deixa de apenas ser um mero aplicador da lei, passando a ser um aplicador da justiça, tendo sob sua responsabilidade os meios para proporcionar àquela pessoa preso em flagrante uma nova oportunidade, em que o indivíduo não se vê mais sozinho contra o Estado, mas sim, amparado pelo Estado em busca de sua recuperação como um cidadão e uma nova pessoa perante a sociedade.
Portanto, percebe-se que a audiência de custódia, foi toda baseada à luz dos princípios do Devido Processo Legal, da Celeridade Processual, da Motivação das Decisões Judiciais e do Estado de Inocência. Senão vejamos:
No que diz respeito ao Devido Processo Legal, o artigo 5º, LIV da Carta maior diz que :
(“ Ninguém será privado de liberdade ou de seu bens seu o devido processo legal “). Para Capez: “consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei (Capez, Fernando – Curso de Processo Penal, 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 78)”. 
No que tange o princípio Celeridade Processuala Constituição Federal em seu art. 5º, LXXVIII diz que :
(“ A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação “).
 Com tal princípio fica compreendido na ideia da audiência de custódia que visa à realização de um ato célere e eficaz, buscando a rápida solução da situação flagrancial em que se encontra o preso, provendo uma análise rápida e certeira do ato.
Quanto ao princípio da Motivação das Decisões Judicias, o magistrado ao proferir sua decisão fundamentada, tem-se que o mesmo obedeceu tal princípio, conforme art. 93, IX da Constituição Federal e ainda o art. 381 do Código de Processo Penal Brasileiro.
(“ A sentença conterá:
I- os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las;
II- a exposição sucinta da acusação e da defesa;
III- a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão;
IV- a indicação dos artigos da lei aplicados;
V- o dispositivo;
VI- a data e a assinatura do juiz”).
QUESTÕES NORTEADORAS
O modelo de aprisionamento que se pratica no Brasil está um tanto quanto falido, pois contribui efetivamente para que a violência tenha reflexo na sociedade, somados pelos presídios em total condição de subumanidade , onde não existe o mínimo ou qualquer proposta de transformação dos encarcerados.
De forma que, o total desrespeito e violação aos princípios da dignidade da pessoa humana bem como seus direitos não são respeitados. O que se encontra hoje dentro das penitenciárias do Brasil, são presídios super lotados , ambientes insalubres, pouca ou quase nenhuma segurança, tanto para os apenados quantos para os profissionais que ali trabalham, instalações precárias, improvisismo, constantes ameaças à vida dos presos e as dos agentes prisionais, muitas regalias para uns em detrimento de outros, burlando assim lei, sistema dominados por grupos e facções criminosas e entre tantas outras masmorras existentes no sistema prisional.
Tal mazelas são frutos do total e absoluto descaso das autoridades constituídas em relação aos direitos humanos dos presidiários, em contrariedade quando se fala de recursos ,uma vez que, o Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), que gere as finanças dos sistema prisional, disponibiliza vultosas quantias que deveriam ser utilizados na melhoria das condições carcerárias como um todo, logo, o problema não é a falta de recursos, mas a desídia do Estado em geri-los adequada e eficientemente.
Por tanto, tem-se que, o quadro é de muita preocupação, pois o Sistema Penitenciário Brasileiro, da forma como se apresenta, tem por pressuposto fundamental o descumprimento da lei, ou seja,  a inércia do Estado em cumprir e fazer cumprir as sentenças judiciais. Assim send, o Projeto Audiência de Custódia , criado pelo CNJ através da Resolução 213/2015 tem pro finalidade, fundamentadamente, qualificar o ingresso do autuado no sistema prisional, isto é, restringir a entrada no sistema ao mínimo absolutamente necessário, utilizando-se, para tanto, além das situações de liberdade provisória(com ou sem fiança) e de relaxamento da prisão (quando ilegal), a substituição da prisão provisória por uma das medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal (CPP) Brasileiro.(“

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