Prévia do material em texto
Cálculo Diferencial e Integra II – Período: 2016.2 Resumo sobre Coordenadas Polares Faremos agora uma pequena mudança no nosso estudo para introduzirmos um novo sistema de coordenadas no plano chamado Sistema de Coordenadas Polares. No sistema de coordenadas cartesianas, que tem sido o mais usado por nós até aqui, a localização de um ponto P baseia-se na sua distância a duas retas concorrentes: uma horizontal, chamada eixo concorrência das retas chama-se a origem do sistema de coordenadas. A distância orientada do ponto P até a reta vertical chama-se abscissa, em geral representada pela letra x e sua distância orientada até a reta horizontal chama-se ordenada, geralmente representada pela letra y. Veja a figura abaixo: Outro modo de localizar um ponto é baseado em duas outras entidades associadas ao ponto P no plano. Essas entidades são: a sua distância orientada até a origem, que será denotada por r e o ângulo orientado que o vetor OP forma com o semi-eixo-x positivo, que será denotado por θ . Assim diremos que os números r e θ são coordenadas polares para P. Veja a figura abaixo: Coordenadas polares do ponto P são representadas como um par ordenado ( )θ,r . O plano onde encaramos os pontos com suas coordenadas polares não possui o eixo-y, nem a parte negativa do eixo-x. Ele será chamado de plano polar. O ponto O será chamado de pólo e o eixo- x positivo passa a se chamar eixo polar. Antes de passarmos aos exemplos, cumpre fazermos um ligeiro comentário acerca do adjetivo orientado(a) que apareceu no texto anteriormente. Para nós, ele terá um significado associado ao sinal. Tanto ângulos como distâncias poderão estar acrescidas de um sinal. No caso de ângulos o sinal será positivo se os medirmos no sentido anti-horário e negativo caso a medida seja efetuada no sentido horário. Para as distâncias faremos o comentário logo após os exemplos. Exemplo 1. Localize no plano polar o ponto cujas coordenadas polares são 4 3 ,2 pi . Para isso, efetuamos uma rotação de 4 3pi radianos no sentido anti-horário e marcamos desde o pólo uma distância de 2 unidades. A representação está mostrada abaixo. Observe que esse mesmo ponto possui 4 11 ,2 pi como um par de coordenadas polares. Se você notou que pipipi 2 4 3 4 11 += não terá dificuldade em perceber que se adicionarmos pi2 ao ângulo, encontraremos um novo par de coordenadas polares para o ponto dado. Isso quer dizer que um mesmo ponto tem infinitos pares de coordenadas polares! Queremos agora dar um sentido para coordenadas polares onde r possa assumir valores negativos. Vamos supor que queiramos marcar no plano polar o ponto − 6 ,2 pi . A forma de marcá-lo e que será conveniente quando formos traçar curvas no plano polar é a seguinte: primeiro marcamos o ponto com 0>r , ou seja, 6 ,2 pi . Em seguida, tomamos seu simétrico com relação ao pólo. Esse simétrico será a representação no plano polar de − 6 ,2 pi .Veja a figura a seguir: Agora temos uma grande liberdade de interpretar as coordenadas polares com vários sinais. Vejamos mais um exemplo: Exemplo 2. Determine pares de coordenadas polares para o ponto 3 ,5 pi que satisfaçam: a) 0>r e 0<θ b) 0<r e 0>θ c) 0<r e 0<θ Na letra (a), podemos tomar −= − 3 5 ,52 3 ,5 pipipi . Para a letra (b), observamos que o ponto dado tem que ser o simétrico de um outro. O ângulo positivo que devemos girar para marcarmos o ponto pedido deve ser 3 4 3 pipi pi =+ , portanto, nesse caso, um par de coordenadas polares é − 3 4 ,5 pi . Vejamos a letra (c). Novamente, o ponto dado tem que ser simétrico de um outro. Portanto, o ângulo negativo que devemos girar deve ser 3 2 3 pi pi pi −=− . Assim, um par de coordenadas polares nesse caso é −− 3 2 ,5 pi . Veja a figura abaixo Uma pergunta que surge naturalmente é a seguinte: como relacionar um par de coordenadas polares de um ponto com as coordenadas cartesianas de um ponto P? Para respondê-la, vamos observar a figura a seguir: Da figura acima, temos que: r y sen =θ , ou seja, θrseny = . e que r x =θcos , ou seja, θcosrx = . Assim, conhecidas coordenadas polares para um ponto P então suas coordenadas cartesianas ficam automaticamente conhecidas através das expressões anteriores. Agora, vamos ao contrário. Suponhamos dadas as coordenadas cartesianas ( )yx, de P e vamos encontrar um par de coordenadas polares para ele. Comecemos com o caso onde .0=x Nesse caso, o um par de coordenadas polares para o ponto P é 2 , piy . Suponhamos agora que 0≠x . Então o triângulo da figura anterior nos fornece: , x y tg =θ ou seja, = x y arctgθ . O mesmo triângulo, através do Teorema de Pitágoras, nos fornece: 22 yxr += . Para usarmos as fórmulas acima devemos tomar apenas um cuidado: o quadrante onde o ponto está não é, em geral, fornecido por elas. Portanto, devemos tomar cuidado quando formos utilizá-las. Vejamos alguns exemplos desse tipo de situação. Exemplo 3. Suponha um par de coordenadas polares para o ponto P seja 3 ,5 pi . Vamos determinar as suas coordenadas cartesianas. Sabemos que: 2 5 2 15 3 cos5cos =×=== piθrx . 2 35 2 35 3 5 =×=== piθ senrseny Logo as coordenadas cartesianas de P são . 2 35 , 2 5 Veja a figura do exemplo 2. Exemplo 4. Vamos determinar um par de coordenadas polares para o ponto P cujas coordenadas cartesianas são ( )1,1 −− . Inicialmente notamos que ( ) ( ) 211 22 =−+−=r . Por outro lado, ( ) 4 1 1 1 piθ == − − = artcgarctg . Como o ponto P pertence ao quarto quadrante este certamente não é um θ para o ponto P. Se observarmos bem, o ângulo correto é 4 3pi − que também possui tangente igual a 1, mas é “esquecido” pela função arco-tangente, já que não pertence ao domínio usual de inversão da função tangente. Passamos agora a uma situação que naturalmente surge nas coordenadas polares. Vamos introduzir algumas curvas e tentar desenhá-las. Uma curva em coordenadas polares é uma expressão do tipo ( )θfr = , onde f é uma função de θ . Vamos ver alguns exemplos. Você pode usar um software apropriado como o winplot ou o geogebra para fazer desenhos bem curiosos. Exemplo 5. Vamos ver o que representa no plano polar a equação 7=r . Podermos converter essa equação em uma equação cartesiana que é a que conhecemos melhor. Como 22 yxr += , temos que a equação da nossa curva, agora em coordenadas cartesianas, é 722 =+ yx , ou seja, ,4922 =+ yx ou seja, nossa curva é mesmo uma circunferência de centro no pólo (ou na origem) com raio 7. Uma figura dela está mostrada a seguir. Igual desenho representa a curva 7r = − Exemplo 6. Vejamos agora o que representa θcos4=r .O traçado dessa curva reveste-se de um caráter dinâmico. No que segue faremos θ variar de 0 até pi2 e acompanharemos o que sucede com r. Inicialmente note que se θ varia de 0 até 2 pi , r varia de 4 até 0. Portanto, enquanto giramos no sentido anti-horário saindo de 0 e nos aproximando de 2 pi , r deverá sair de 4 e colapsar até 0 . Veja na figura abaixo o primeiro trecho do gráfico −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x y Agora faremos θvariar de 2 pi até pi . Quando fizermos isso, r variará entre 0 e -4. Aqui um cuidado: como 0<r vamos marcar pontos simétricos. Dizendo de outra forma, enquanto θ fizer seu passeio no segundo quadrante, nós estaremos marcando os pontos no quarto! Assim, o gráfico da figura anterior fica completo: −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 x y Exemplo 7. Vamos fazer agora um esboço da curva ( )θsenr −= 12 . A idéia é fazer θ variar em intervalos onde possamos acompanhar bem o que se passa com r. Primeiro vamos fazer θ variar de 0 até 2 pi . Com isso, r varia de 2 até 0. O trecho do gráfico correspondente a essa variação está mostrado na figura abaixo. −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −3 −2 −1 1 2 3 x Agora faremos θ variar de 2 pi até pi . Fazendo isso, r variará de 0 até 2. Abaixo vemos mais um trecho do gráfico. −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −3 −2 −1 1 2 3 x Fazendo agora θ variar de pi até 2 3pi , vemos que r varia de 2 até 4, conforme mostra a figura a seguir: −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 x Finalmente, faremos θ variar de 2 3pi até pi2 o que acarreta uma variação de r desde 0 até 2, completando o gráfico como nos mostra a figura a seguir. −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 x Essa curva chama-se cardióide, por ter um formato de coração. Nosso intuito agora é calcular a área de uma região no plano polar limitada por duas retas, αθ = e βθ = e pela curva ( )θfr = , conforme a figura ao lado. Podemos provar que a área pedida é dada por: ( ) θθ β α dfA ∫= 22 1 . Exemplo 8. Vamos calcular a área de um círculo de raio 0>a . A equação de uma circunferência de raio a e, digamos, com centro no pólo é dada por ar = . A área limitada por esta circunferência é justamente a área pedida. Lembrando que, para cobrirmos a circunferência precisamos variar θ de 0 até pi2 , a fórmula acima nos diz que: ( ) ∫∫ ==== piβ α pipiθθθ 2 0 2222 2 2 1 2 1 2 1 aadadfA , que é a fórmula conhecida por todos nós. Exemplo 9. Vamos calcular a área limitada pela cardióide θcos1−=r . A curva tem o seguinte aspecto: −2 −1 1 2 −2 −1 1 2 Pela fórmula que vimos acima, a área é dada por: ( ) ( ) ( ) ∫∫∫∫ =+=+−=−== pipipiβ α θθpiθθθθθθθ 2 0 2 2 0 2 2 0 22 cos 2 1 coscos21 2 1 cos1 2 1 2 1 ddddfA 2 32cos 2 1 2 1 2 1 2 0 piθθpi pi = ++= ∫ d . Em algumas situações, é necessário calcular a área entre duas curvas, isto é, queremos calcular a área de uma região no plano polar limitada por duas retas, αθ = e βθ = e pelas curvas ( )1r h θ= e ( )2r h θ= conforme a figura a seguir: Nesse caso, pode-se demonstrar que: ( ) ( )2 22 112A h h d β α θ θ θ= − ∫ . Vejamos alguns exemplos: Exemplo 10. Calcule a área exterior ao círculo 1r = e interior ao círculo 2cosr θ= . Na figura a seguir estão mostrados os círculos. Determinando os pontos de interseção, encontramos 3 piθ = e 3 piθ = − (ou, se você preferir, 2 3 piθ = ). A seguir, um esboço da situação: A área da região será dada então por: [ ] [ ] 3 2 2 3 1 32cos 1 2 2 3 A d pi pi piθ θ − = − = +∫ Exemplo 11. Vamos determinar a área interior à Limaçon 3 2cosr θ= + e exterior ao círculo 2r = . Primeiro observe a figura a seguir que mostra a situação: Determinando os pontos de interseção, encontraremos 2 3 piθ = e 4 3 piθ = (ou 2 3 piθ = − . Se você preferir). Podemos calcular a área pedida de algumas formas. A primeira é calcular uma integral entre 0 e 2 3 pi e multiplicar por 2 . Outro jeito é calcular a mesma integral entre 2 3 pi − e 2 3 pi . Usando o segundo modo, temos que a área será dada por: [ ] [ ] 2 3 2 2 2 3 1 14 11 33 2cos 2 2 3 2 A d pi pi piθ θ − = + − = +∫ Para mais exemplos, consulte: James Stewart, Cálculo, Volume 2, 5ª. Edição (ou alguma mais recente), no capítulo 10, Curvas Paramétricas e Coordenadas Polares, na seção de coordenadas polares. Guidorizzi, volume 2, página 39, Seção 3.5, Áreas em Coordenadas Polares, tem bons exemplos. Exercícios 1. Esboce a curva e calcule a área limitada por ela: a. 5r senθ= , b. ( )2 4cos 2r θ= , c. 4r senθ= − . 2. Encontre a área da região dentro de um laço da curva: a. ( )2r sen θ= b. ( )3cos 5r θ= c. ( )1 2r sen θ= + , laço interno 3. Encontre a área da região que está dentro da primeira curva e fora da segunda: a. 1 cosr θ= − e 3 2 r = , b. 4r senθ= e 2r = , c. 3cosr θ= e 1 cosr θ= + . 4. Encontre a área que está dentro de ambas as curvas: a. , cosr sen rθ θ= = , b. ( ) ( )2 , cos 2r sen rθ θ= = , c. 3 2 , 2r sen rθ= + = . Respostas 1. a. 25 4 pi -o- b. 4 -o- c. 33 2 pi 2. a. 8 pi -o- b. 9 20 pi -o- c. 3 3 2 pi − 3. a. 9 3 8 4 pi − -o- b. 4 2 3 3 pi + -o- c. pi 4. a. 2 8 pi − -o- b. 1 2 pi − -o- c. 19 11 3 3 2 pi −