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Tutela da água Estado mínimo ou máximo Ambiental Âmbito Jurídico

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25/08/2015 Tutela da água: Estado mínimo ou máximo? ­ Ambiental ­ Âmbito Jurídico
http://www.ambito­juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6880 1/5
Ambiental
 
Tutela da água: Estado mínimo ou máximo?
Tatiana de Oliveira Takeda
Resumo: Esse trabalho consiste em uma reflexão sobre a tutela da água e o papel do Estado como guardião deste bem. Para lograr tal objetivo, buscou‐se destacar a
importância do elemento em questão, como tem sido tratado no decorrer dos séculos, como o Estado tem se portado, as ideias de privatização, etc.. Nas últimas décadas,
o Brasil e o restante do mundo, enfrentam o dilema de ter que se desenvolver e, simultaneamente, preservar o meio ambiente. A água não tem sido tratada como bem
finito que é, pelo contrário, objeto de ambição, poluição e desperdício, tem sido alvo de descaso nos quatro cantos do globo. Além disso, por também ser um bem de uso
difuso e público, com substancial valor econômico, tem servido de impasse entre seus usuários. Em todos os casos, a intervenção e mediação do Estado torna‐se
necessária por meio de políticas que assegurem, acima de tudo, a proteção do bem mais valioso que o mundo dispõe.
Palavras‐chave: Tutela, Água, Estado, Meio Ambiente
Abstract: This work is a reflection on the water authority and the role of the State as guardian of the well. To achieve this goal, sought to highlight the importance of
the element in question, as has been treated over the centuries, as the state has been ported, the ideas of privatization, etc.. In recent decades, Brazil and the rest of
the world, face the dilemma of having to develop, while preserving the environment. The water is not treated as well which is finite, however, the subject of ambition,
pollution and waste, has been neglect in the four corners of the globe. Furthermore, also be a good use of diffuse and public with substantial economic value, has been
the impasse between its users. In all cases, intervention and mediation of the state is required by policy to ensure, above all, protection of much more valuable that
the world has.
Key words: Protection, Water, State, Environment
Sumário: Introdução. 1. A água. 1.1. Evolução histórica do uso da água. 1.2. As reservas de água no Brasil e no mundo. 1.3. A qualidade da água brasileira. 2. O Estado. 2.1.
O papel do Estado na contemporaneidade. 3. A legislação pertinente a tutela da água. 4. Privatização da água. 5. Corrupção e água. Conclusão. Bibliografia.
INTRODUÇÃO
O meio ambiente possui em nosso ordenamento jurídico uma definição legal, prevista pelo art. 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/1981, correspondendo ao “conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”[1].
A água é um dos elementos da natureza encontrados em diversos lugares, quais sejam nos mares, rios, lagos, lençóis subterrâneos, ar, plantas, animais e tantos outros
em que exista vida. No entanto, embora o planeta Terra seja constituído principalmente por água, a qualidade deste elemento, seja doce ou até mesmo salinizado, está
ameaçada, haja vista haver vários pontos do mundo marcados por evidente escassez e poluição que aumentam progressivamente.
Este é somente um dos motivos pelo qual o Estado está obrigado a construir as medidas necessárias (legislativas, de política pública, investimentos, etc.) para garantir o
direito e proteção da água. Neste contexto, é dever do mesmo permitir aos particulares e às comunidades exercer plenamente seu direito ao acesso, distribuição
equitativa de todas as instalações e serviços de água disponíveis, bem como promover a difusão de informação adequada a respeito do uso higiênico, a proteção das fontes
e os métodos para reduzir seu desperdício.
O reconhecimento autônomo do direito à água na Constituição Federal de 1988 – CF/88, deve conduzir a práticas de conservação da água limpa e de distribuição
equitativa, fomentar a captação de água de chuva, o uso de esgoto, ou ao menos fossas sanitárias e a depuração domiciliária, evitar o esbanjamento no urbano e agrícola,
tornar sustentável o consumo, ajudar a gerar autonomia das comunidades territoriais, dos municípios e dos estados, implementar a desconcentração e descentralização
nas decisões sobre o assunto e outras.
Todavia, ao se falar em tutela das águas, o assunto torna‐se sintomático, haja vista que o papel do Estado na proteção desse bem nem sempre é observado com a devida
cautela.
Firme‐se que nos últimos tempos surgiu um Estado Ambiental de Direito, que emerge a partir do re‐equacionamento do papel do Estado na sociedade, em face de uma
terceira geração de direitos fundamentais, particularmente o direito ao meio ambiente, à qualidade de vida sadia e à preservação do patrimônio genético. Neste
contexto ambiental se insere a função do Estado de proteger as águas, papel inevitável da contemporaneidade que deve criar condições para a preservação e fruição
desse bem natural.
Com olhos na tutela das águas e no papel que o Estado exerce sobre essa questão, serão tecidas considerações no decorrer deste artigo que possui o objetivo precípuo
de destacar o comportamento atual deste ente, bem como as ações que deveriam ser exercidas pelo mesmo na busca pela qualidade de vida da sociedade brasileira.
1. A ÁGUA
A água é fundamental para o planeta. Nela, surgiram as primeiras formas de vida, e a partir dessas, originaram‐se as formas terrestres, as quais somente conseguiram
sobreviver na medida em que puderam desenvolver mecanismos fisiológicos que lhes permitiram retirar água do meio e retê‐la em seus próprios organismos. A evolução
dos seres vivos sempre foi dependente da água.
Veja‐se a importância do elemento essencial para a sobrevivência humana. Existe a necessidade de manter no organismo humano uma quantidade razoável de água para
seu perfeito funcionamento, pois se não for assim, pode–se até convalescer ficando desidratado, o que geraria até a morte, visto que aquela é o componente principal do
sangue, no qual estão os nutrientes que são levados pela corrente sanguínea a todos os tecidos do organismo.
Aliás, sob outro prisma, a água doce possui participação fundamental no cotidiano de todas as pessoas. Ela está presente em praticamente todas as atividades, quais
sejam domésticas, comerciais, públicas, industriais, sanitárias e tantas outras.
Ocorre que hoje, 1,4 bilhão de pessoas estão privadas do acesso à água potável. A utilização da água está a demandar a existência de uma autoridade capaz de
regulamentá‐la, em conformidade com os interesses do conjunto dos habitantes do Planeta, harmonizando‐os com os interesses particulares[2].
Não há dúvida que há uma conscientização crescente da necessidade de preservar a água doce, mantendo sua qualidade e racionalizando seu uso. O problema é que a
conscientização tem‐se dado, nos planos nacional e internacional, por instituições, pessoas e governos que não dispõem, isoladamente, ou mesmo em conjunto, de meios
econômicos e de persuasão conducentes à efetividade das propostas.
Se, nos próximos 10 ou 15 anos, não se chegar a alguma solução política concertada, o domínio da água provocará múltiplos conflitos comerciais. A principal fonte de vida
da humanidade vai se transformar em um recurso estratégico vital e, portanto, em uma mercadoria rara, particularmente lucrativa nos novos mercados.
A tese privatista, segundo a qual só o livre mercado poderia garantir “a paz da água”, tem encontrado muitos adeptos nos últimos anos. A prática, porém, não tem
produzido provas nesse sentido. Na Inglaterra, o preço da água aumentou 55%, entre 1990 e 1994, sem que os investimentos das companhias privadas tenham crescido nas
mesmas proporções. Em consequência, as falhas no seu fornecimento aumentaram, enquanto as companhias obtiveram enormes margens de lucro. Por outro lado, na
província de Quebec, no Canadá, a tendência privatizante foi revertida,reafirmando o governo que “a água é um bem público, que deve permanecer sob controle
público”. Neste mesmo sentido, os países‐membros do Grupo de Lisboa pretendem criar um movimento de opinião internacional para o estabelecimento de um contrato
mundial da água. Tal contrato partiria do princípio de que o acesso à água potável constitui um direito econômico e social fundamental de toda pessoa assim como um
direito coletivo de toda comunidade humana[3].
Observe‐se que não há dúvida de que a água deve ser tratada como um bem pertencente à humanidade, visto que a saúde do homem está intimamente ligada ao acesso
básico e seguro a este bem natural. Destaque‐se que nos países pobres, 85% das doenças humanas relacionam‐se com a quantidade ou qualidade da água.
Assim, justifica‐se o estudo deste elemento fundamental da natureza que a cada dia  torna‐se mais escasso e de difícil acesso, principalmente, às camadas pobres
espalhadas pelo globo.
1.1. Evolução histórica do uso da água
A humanidade passou por duas grandes revoluções: Agrícola e Industrial. A água esteve presente nas duas. Primeiramente o homem aprendeu a fazer a água trabalhar
para ele no momento em que descobriu como controlar os rios cuja exploração deu ensejo à agricultura que, por sua vez, deu início à civilização (urbanização) humana.
Especialistas no assunto descrevem que no decorrer da história várias civilizações entraram em decadência em função de desequilíbrios ambientais. Supõem‐se que a
civilização acadiana se extinguiu devido à seca do Tigre e do Eufrates. Estudos revelam que épocas de anarquia e banditismo, com rupturas na sucessão política e
substituição de faraós, coincidem com os períodos de seca e as longas vazantes do Nilo.
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25/08/2015 Tutela da água: Estado mínimo ou máximo? ­ Ambiental ­ Âmbito Jurídico
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Na América, Maias, Astecas e Incas provavelmente teriam abandonado suas cidades, pela contaminação e poluição da água e do solo provocados pela destruição da mata
primitiva.
Quase sempre a primeira preocupação dos assentamentos humanos era se localizar nas proximidades dos mananciais de água. Entretanto, na medida em que povoados
transformavam‐se em cidades, também as reservas de água tornavam‐se, insuficientes e expostas à contaminação e poluição.
Thales de Mileto (625 ‐ 548 a.C.), supostamente, com os conhecimentos adquiridos junto aos egípcios, descobriu que a Terra era redonda e que a água fosse a origem de
todas as coisas, observando como os campos inundados ficavam fecundos, depois que as águas do Nilo retornavam ao seu delta.
Nenhuma civilização se compara à romana no que se refere às obras hidráulicas e saneamento. No século IV a.C. Roma já contava com 856 banhos públicos e 14 termas
que consumiam aproximadamente 750 milhões de litros de água por dia[4], distribuídos por uma rede com mais de 400 km de extensão. Neste período, o controle do
suprimento de água ficava sob o encargo de algumas pessoas, as quais induziam a população a utilizá‐la adequadamente. Um papel decisivo no abastecimento de água das
cidades romanas cabia, por exemplo, ao armazenamento preventivo de água em depósitos especiais cujos canos de escoamento eram colocados, em geral, em alturas
diversas. Os mais elevados destinavam‐se ao abastecimento das residências particulares e abaixo deles partiam os canos para os edifícios públicos como os banhos e
hospitais. Na parte mais baixa eram conectados os canos de alimentação dos poços públicos. As residências particulares sofriam as primeiras conseqüências em caso de
falta de água, a qual era poupada para os banhos, poços públicos e hospitais.
Os romanos também desenvolveram dispositivos especiais de medição de consumo de água, os quais eram testados e lacrados, pagando‐se uma taxa única por tal serviço.
Além disso, desenvolveram dispositivos especiais de outorga para disciplinar os usos da água e criaram hidrômetros para medição do consumo de água, cujo controle, era
feito por administradores públicos que promoviam já nessa época o uso racional da água e praticas de reuso, ao utilizarem água dos banhos públicos nas descargas das
latrinas.
Na Idade Média, as condições sociais e econômicas determinaram a tendência para substituir o trabalho manual por máquinas acionadas pela água.
Nos séculos X e XI expandiu‐se a utilização da roda hidráulica e no XIII, sua utilização tinha‐se ampliado para o esmagamento da azeitona e de sementes várias, para o
apisoamento de fibras, tecidos, minérios e pecas metálicas e para o acionamento de foles de fornalhas. Há analogias entre este período e o da revolução industrial.
Nos séculos XIX e XX, com o desenvolvimento científico e tecnológico, o Homem passou a dispor de materiais, equipamentos e técnicas que lhe permitiram construir
sistemas mais eficazes para a utilização e o domínio de grandes caudais.
A construção metálica, primeiramente de ferro fundido e depois de aço, permitiu obter equipamentos hidráulicos eficientes e condutas de grandes diâmetros capazes de
resistir a pressões elevadas.
As turbinas hidráulicas e as bombas rotativas vulgarizaram‐se na primeira metade do século XX, ao que esteve associado o desenvolvimento das tecnologias elétricas. A
produção de energia hidroelétrica sofreu grande expansão, tendo contribuído para o desenvolvimento industrial de muitos países[5].
1.2. As reservas de água no Brasil e no mundo
No tocante às reservas de água existentes no mundo pode‐se afirmar que jamais irão aumentar, pois a quantidade verificada na atualidade é a mesma que havia há
milhões de anos, com o diferencial de que hoje a população do globo aumentou e a pouca água disponível é de difícil acesso e inadequada para o uso em diversos pontos
do mundo, visto que a interferência do homem foi grande, o que contribuiu para inutilização da mesma para o uso dos seres vivos.
A medida que a qualidade cai e a escassez aumenta, o homem continua sendo um ser constituído de cerca de 60% a 70% de água, ou seja, uma pessoa com 100kg tem,
portanto, entre 60 e 70 kg deste elemento em seu corpo, considerando‐se 1 litro de água = 1 kg de peso.
O Brasil detém cerca 12% da reserva hídrica do Planeta, com disponibilidade de 182.633 m3/s, além de possuir os maiores recursos mundiais, tanto superficiais (Bacias
hidrográficas do Amazonas e Paraná) quanto subterrâneos (Bacias Sedimentares do Paraná, Piauí e Maranhão).
O potencial hídrico ainda conta com a presença de chuvas abundantes em mais de 90% do território, aliadas a formações geológicas que favoreceram a gênese de imensas
reservas subterrâneas, como também possibilitaram a instalação de extensas redes de drenagem, gerando cursos de água de grandes expressões.
Todavia, as águas são distribuídas de forma irregular pelo território brasileiro, enquanto a Amazônia conta com 78%, a Região Sudeste conta com somente 6%.
Além disso, o país é afetado tanto pela escassez hídrica quanto pela degradação dos recursos causada pela poluição de origem doméstica, industrial e agrícola. Assim,
como os demais países em desenvolvimento, o Brasil apresenta baixa cobertura de serviços de saneamento e sistemas de abastecimento com altas taxas de perdas físicas.
Ainda existem nas cidades, vilas e pequenos povoados, 40 milhões de pessoas sem abastecimento de água e 80% do esgoto coletado não é tratado. Calcula‐se que, para
cada metro cúbico de água captado nos rios, apenas metade chega ao consumidor[6].
A quantidade de água doce no mundo está estimada em 34,6 milhões de km3 (ref. 1km3 corresponde a 1 trilhão de litros), porém somente cerca de 30,2% (10,5 milhões
de km3) podem ser utilizados para a vida vegetal e animal nas terras emersas (água doce subterrânea, rios, lagos, pântanos, umidade do solo e vapor na atmosfera). O
restante, cerca de 69,8% (24,1 milhõesde km3) encontra‐se nas calotas polares, geleiras e solos gelados.
Dos 10,5 milhões de km3 de água doce, aproximadamente 98,7% (10,34 milhões de km3) correspondem à parcela de água subterrânea, e apenas 0,9% (92,2 mil km3)
corresponde ao volume de água doce superficial (rios e lagos) diretamente disponível para o consumo humano.
Esse volume é suficiente para atender de 6 a 7 vezes o mínimo anual que cada habitante do Planeta precisa, considerando a população atual de 6,4 bilhões de
habitantes[7].
Observe‐se a existência de uma distribuição heterogênea: 50% nas regiões intertropicais, 48%, nas zonas temperadas e 2% nas zonas áridas e semi‐áridas. Além disso, as
demandas de uso também são diferentes, sendo maiores nos países desenvolvidos.
Por fim, note‐se ainda que a distribuição relativa dos recursos hídricos no globo está definida da seguinte forma: 27% América do Sul, 26% Ásia, 17% América do Norte, 15%
Europa, 9% África, 4% Oceania, 2% América Central.
1.3. A qualidade da água brasileira
Não é novidade nenhuma que a água limpa está cada vez mais rara no litoral, bem como a potável está cada vez mais cara. Essa situação resulta do desperdício, que
chega entre 50% e 70% nas cidades, e da ausência de cuidados com a qualidade. Assim, parte da água no Brasil já perdeu a característica de recurso natural renovável
(principalmente nas áreas densamente povoadas), em razão de processos de urbanização, industrialização e produção agrícola que são incentivados, mas pouco
estruturados em termos de preservação ambiental.
No setor urbano, genericamente, os problemas de abastecimento estão relacionados ao crescimento da demanda, ao desperdício e à urbanização descontrolada. Além
disso, as empresas de abastecimento são responsáveis por perdas na rede de distribuição por roubos e vazamentos que atingem entre 40% e 60%, bem como 64% delas
não coletam o esgoto gerado.
O saneamento básico não é tratado de forma adequada, já que 90% dos esgotos domésticos e 70% dos efluentes industriais são jogados sem tratamento nos rios, açudes e
águas litorâneas, o que tem gerado um nível de degradação alarmante.
Na zona rural não é diferente. O descaso é similar, pois é notório que os recursos hídricos são explorados de forma irregular, muitas vezes com retirada de água dos
mananciais, em excesso, aliada à falta ou escassez de mata ciliar como também de cobertura vegetal nas nascentes, fundamental na proteção dos cursos de água. Além
do mais, não há de se esquecer que os agrotóxicos e dejetos utilizados na agricultura alteram a qualidade da água e os processos erosivos contribuem para o
assoreamento dos cursos dos rios.
2. O ESTADO
Trata‐se o Estado por instituição pública que coordena a vida política de uma sociedade qualquer. Todavia, há de se ressaltar a dificuldade em dissertar sobre suas
atribuições, haja vista existirem interesses políticos nas gestões da administração pública.
De acordo com a CF/88, por meio de diversos mecanismos práticos o Estado deve promover o bem estar social. Dentre esses deveres do Estado destaca‐se o de proteção
às águas por se tratar de elemento básico do meio ambiente.
Note‐se que, no caso da água, bem fundamental à sobrevivência humana, a descontinuidade de sua oferta pode acarretar grave distúrbio à ordem social, vez que não há
condições possíveis de sobrevivência sem esse elemento tão precioso, que torna capaz a existência e continuação da vida orgânica.
Deste modo, trata‐se este elemento por bem público essencial e jamais pode ser objeto de escambo susceptível de uma exploração imoderada que venha a colocar o
interesse privado sobre o público.
O acesso à água é de interesse social, não se justificando a sua exploração por particulares sem uma atuação estatal que seja capaz de levar este bem até aonde os
privados não tenham interesse em investir num empreendimento e até aonde ele é necessário para sustentação da própria vida.
Claro que o papel do Estado não é somente vigiar a exploração das águas pelos particulares, mas sim em um todo.
A tutela das águas deve ser exercida com olhos atentos aos interesses particulares, públicos e estrangeiros, nas ações individuais, ou seja, na forma como cada cidadão
vem agindo em seu espaço, bem como com fito nos preceitos que circundas o desenvolvimento sustentável.
2.1. O papel do Estado na contemporaneidade[8]
25/08/2015 Tutela da água: Estado mínimo ou máximo? ­ Ambiental ­ Âmbito Jurídico
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O Estado contemporâneo busca um ponto intermediário entre o liberalismo e a exacerbada intervenção na sociedade. Não é defeso aos indivíduos promover, por
exemplo, seu crescimento financeiro, porém, não se pode conceber irrestrita liberdade aos particulares na condução da economia do Estado.
O tipo de Estado que corresponde às necessidades da sociedade atual traz consigo algumas indagações: É conveniente que o Estado diminua que tipo de atuação? Um
Estado mais interventor é melhor para quem?
Há quem deseje o Estado Máximo, com mais rigidez no controle, com mais polícia, mais prisões, mais penas, bem como aqueles que já preferem o Estado Mínimo pautado
no livre arbítrio [9].
Assim, enquanto uns desejam atuação forte no sentido de prevenção, caracterizando espécie de Estado Máximo, outros jamais apoiariam políticas de “tolerância zero”,
buscando a presença de um Estado Mínimo.
Em suma, a questão em debate acerca do Estado Mínimo ou Máximo, traz à tona os interesses de diversas camadas da sociedade, cada qual raciocinando em prol de suas
necessidades e vantagens pessoais.
Mas e em relação à tutela da água?
O que seria mais vantajoso? Reduzir ou aumentar o papel e atuação do Estado nesta questão?
A discussão sobre a redução ou majoração do papel e atuação do Estado deve ser realizada a guiza do que se concebe como Mínimo e Máximo.
Ocorre que, de uma espécie de utopia neoliberal, o Estado Mínimo acabou virando sinônimo de “Estado fraco”, incapaz de manter a segurança interna e externa e prover
serviços razoáveis fundamentais à sociedade.
O enfraquecimento dos Estados nacionais não se deveu apenas a decisões de ordem política, mas tem raízes profundas nas mudanças de paradigma tecnológico, haja vista
que as novas tecnologias de produção flexíveis tornam as relações trabalhistas, comerciais e financeiras ainda mais maleáveis e isso reduz cada vez mais o papel mediador
desempenhado por aquele ente.
No Brasil, para exemplificar o Estado Mínimo na seara social, têm‐se as favelas do Rio de Janeiro que já se caracterizam como um perfeito exemplo da conjugação entre
exclusão social e falta do poder do Estado. O que traduz que mesmo dentro de um país aparentemente estável, podem surgir pontos de desordem muito complicados de
controlar[10].
A realidade do Rio de Janeiro acaba por levar a uma reflexão sobre a Amazônia, objeto de desejo da maioria dos países do globo. O Estado brasileiro, na atual conjuntura,
tem condições de defender a Amazônia das ambições estrangeiras?
Portanto, não há como se vislumbrar a diminuição do papel e atuação do Estado na questão da tutela da água. Reduzi‐la seria deixar o bem maior do Brasil à mercê,
principalmente, dos países ditos desenvolvidos, bem como não se pode permitir uma sobreposição dos interesses econômicos e financeiros em relação aos sociais. Afinal,
como a própria CF/88 ensina, a água é um bem de responsabilidade do Estado e, assim sendo, deve receber a devida atenção enquanto é tempo.
Todavia, o que tem se verificado é uma crescente necessidade de se majorar o papel do Estado na tutela da água. Aumentar ainda mais a responsabilidade e,
consequentemente, a fiscalização e proteção de um bem que se torna cada vez mais finito e carente de proteção.
3. A LEGISLAÇÃO PERTINENTE A TUTELA DA ÁGUA
Meio ambiente é um bem jurídico, e assim é porque a ordem jurídica o escolheu e, consequentemente, está no campoda tutela constitucional, cabendo à norma
infraconstitucional e ao Poder Público, de modo geral, identificá‐lo[11].
A água se insere no tema meio ambiente e, portanto, objeto de tutela do Estado, razão pela qual se destaca a legislação pertinente ao assunto neste tópico.
Aliás, antes de adentrar às considerações acerca das principais normas que regem o Direito Ambiental brasileiro, vale ressaltar que com o desligamento umbilical do
Direito Administrativo e do Direito Ambiental, passou‐se a conceber que o poder de polícia estatal, mesmo lastreado nos mesmos motivos, variava na finalidade. Enquanto
aquele verificava a legalidade da atividade exercida pelo administrado, este passava a dar maior ênfase ao resultado dessa atividade[12].
Destarte, a primeira norma a ser citada é o Decreto nº 24.643/1934, conhecido como “Código de Águas”. Trata‐se de decreto que inaugurou os trabalhos legislativos na
esfera da tutela ambiental, tendo dado trato normativo prioritário aos usos e costumes aplicados no contexto social que se destinou a regular.
O Código de Águas estabeleceu divisão entre as águas, classificando‐as como de uso comum, públicas e particulares, além de fixar regras de uso sustentável,
estabelecendo que se respeitem os fluxos livres das águas e suas correntes naturais, sem alterar substancialmente suas condições originais.
Por este decreto também foram normatizados aspectos controvertidos dos limites entre os domínios público e privado, impondo os parâmetros aplicáveis nas divisas de
propriedades vizinhas beneficiárias de cursos de água comum.
Ademais, dispôs sobre as responsabilidades penal, civil e administrativa.
Não menos importante, a Lei nº 6.938/1981, conhecida como “Lei de Política Nacional do Meio Ambiente”, veio orientar a ação do poder público quanto à preservação da
qualidade ambiental e à manutenção do equilíbrio ecológico. De acordo com ela, a Política Nacional do Meio Ambiente tem como escopo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, tencionando garantir condições ao desenvolvimento sócio‐econômico, aos ditames de segurança nacional e à proteção
da dignidade humana.
Destaque merece a proposição de conceitos essenciais na instrumentalização do Direito Ambiental. Dispôs sobre o que venha a ser meio ambiente, degradação, poluição,
poluidor e recursos ambientais.
Outra novidade foi tecer considerações relevantíssimas acerca das atividades ou empreendimentos capazes de ocasionar significativo impacto no meio ambiente,
estabelecendo que devem sofrer prévio licenciamento pelo órgão competente, determinado por critérios federativos segundo a extensão do impacto, sob pena de não
conseguir autorização estatal para sua efetivação.
Ainda, salientou que certas atividades voltadas para o meio ambiente devem, de acordo com a lei, ser incentivadas pelo Poder Público, com o propósito de desenvolver
pesquisas e métodos de redução da degradação ambiental, fabricar equipamentos não‐poluentes e estimular toda iniciativa voltada para o uso racional dos recursos
naturais.
Como instrumento de tutela inibitória foi sancionada a Lei nº 7.347/1985 que criou a Ação Civil Pública ‐ ACP.
A lei definiu critérios materiais e processuais relativos à ACP, bem como inovou ao criar ferramenta de tentativa de contenção de irregularidades, o Termo de
Ajustamento de Conduta – TAC. Tal instrumento dispõe sobre pena a ser aplicada caso o ajustamento da conduta do sujeito não seja cumprido. Note‐se que este
compromisso é celebrado por livre vontade entre as partes e constitui título executivo extrajudicial.
A Lei nº 9.433/1997, que trata da Política e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, veio fixar a Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento e
gestão; atribuir valor econômico ao uso da água; dar poder de gestão a comitês e conselhos de recursos hídricos; propor participação da União, Estados, Municípios, assim
como dos usuários e da comunidade, na gestão descentralizada dos recursos hídricos.
Por fim, faz‐se alusão à Lei nº 9.605/1998, a “Lei dos Crimes Ambientais”, que estabelece sanções penais e administrativas decorrentes de condutas e atividades lesivas
ao meio ambiente.
Segundo a lei, respondem tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas, incluídas as hipóteses combinatórias da última quanto a autoria, co‐autoria e participação.
Na lei em comento está previsto um tipo penal de poluição, qualificado por ocorrer em níveis que resulte ou possa resultar em danos a saúde humana, bem como
provoquem mortandade de animais ou substancial destruição da vegetação. Saliente‐se, que no caso de poluição hídrica, que propicie a interrupção do abastecimento
público de água da comunidade afetada, a pena é de reclusão de um a cinco anos, tanto quanto nos casos em que se dificulte ou impeça o uso público de praia ou, ainda,
por lançamento de substância ou resíduo em desacordo com as exigências normativamente estabelecidas[13].
Veja‐se que de uma síntese das principais normas que regem as águas brasileiras, pode‐se depreender que se trata de um arsenal jurídico que, se observado, tem o
condão de auxiliar o Estado na proteção dos recursos hídricos de forma a colaborar no desenvolvimento sustentável e comedido das reservas. No entanto, de nada vale
possuir legislação satisfatória se não for aplicada. Daí surge a imprescindível atuação intensa do Estado.
4. PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA
Apesar de as privatizações de sua produção, distribuição e uso não terem sido bem sucedidas, no século XIX, nas cidades européias e americanas, visto que as empresas
privadas acabaram por transferir tal responsabilidade ao Estado, volta‐se hoje a se insistir no tema.
O Banco Mundial entende que o papel do Estado deve ser o de estabelecer as regras do jogo, promovendo os mecanismos de mercado, sem envolvimento direto com o
gerenciamento da água. Aduz que gerenciamento e/ou propriedade devem ser deixados inteiramente nas mãos do setor privado, devendo o Estado propiciar a segurança
da lei para as transferências de propriedade e direitos da água, bem como para definir e fazer cumprir os padrões de qualidade para uma água potável segura[14].
Num outro passo, o Professor José Afonso ensina que a água é “bem insuscetível de apropriação privada, por ser indispensável à vida (humana, animal e vegetal)”, sem
esquecer que a legislação faz a distinção entre águas de domínio particular e de domínio público[15].
Ocorre que, atualmente, existe um processo acelerado de privatizações de serviços de água, do abastecimento público, assim como da drenagem e tratamento de águas
25/08/2015 Tutela da água: Estado mínimo ou máximo? ­ Ambiental ­ Âmbito Jurídico
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residuais. Na privatização ocorre a concessão, ou seja, a entrega dos serviços públicos a empresas privadas para que os explorem e obtenham lucro.
Sucintamente, a privatização da água pode se dar de três formas. a) os governos vendem completamente o fornecimento da água pública e os sistemas de tratamento
para as corporações privadas (Reino Unido); b) os governos cedem concessões ou leases às corporações de água para que elas assumam o fornecimento do serviço e do
custo da operação e manutenção do sistema (França); c) os governos contratam uma corporação para administrar os serviços de água por uma taxa administrativa, mas a
empresa não assume a coleta de receita e nem aufere lucros.
Destas três maneiras a mais aceita foi a utilizada na França e que é conhecida como Parcerias Público Privado ‐ PPPs.
Ocorre que o comércio notadamente lucrativo da água despertou a atenção do setor privado que vislumbra se beneficiar cada vez mais com a escassez do bem. É
previsível que a água venha a ser para o século XXI o que o petróleo foi para o século XX, ou seja, o fator determinante de riqueza e poder das nações.
Infelizmente, diante a escassez de água que o mundoenfrenta, os Estados têm abandonado suas responsabilidades quanto ao interesse público ou bem comum dos
cidadãos, cedendo descaradamente aos interesses econômicos e dificultando o consumo de água, principalmente, aos pobres.
O interesse dos particulares, notadamente das transnacionais, explica‐se pelo potencial de mercado que a água possui, tendo em vista que não sofre crise de procura,
isto é, sempre existem clientes, acaba se tornando um monopólio (porque são limitadas as alternativas aos consumidores, criando‐se uma forte dependência entre os
utilizadores e os donos da água), e por ser um recurso territorializado (sua utilização é próxima do local de ocorrência, assim torna‐se fisicamente viável o controle
regional por um grupo ou por uma transnacional deste bem).
Veja‐se que, ao se privatizar os serviços de água dá‐se ensejo a uma enorme cedência de poder político, isto é, haverá uma sucumbência do social ao econômico.
Como atribuição do Poder Público tem‐se que o acesso à água tratada e de qualidade é um direito que todo cidadão possui, haja vista que é um direito fundamental à sua
sobrevivência e que deve ser promovido e mantido pelos Estados.
O Poder Público deve prestar serviços à população, constituindo um dever seu. Entre os serviços que devem ser prestados apresenta‐se o acesso à água, que se
enquadra como um serviço de necessidade declarada perante os seres humanos, pois propicia saúde e, consequentemente, vida.
Ocorre que, a grande preocupação que se tem em relação ao privatizar a água, gira em torno das populações carentes. É preciso que se garanta o mínimo de dignidade
às pessoas, incluindo o acesso à água.
Com olhos nas pessoas humildes que também carecem de água, mas que por sua situação econômica desfavorável ficam à mercê das decisões tomadas pelas autoridades
administrativas, torna‐se arriscado colocar o poderio sobre as águas nas mãos dos particulares, haja vista que não é novidade que a busca destes é pelo lucro e não pelas
obras sociais.
A água, assim como o ar, não pode ser objeto de lucro às expensas da classe desprovida de recursos financeiros. Ela é um bem público que deve ser protegido por todos
os níveis de governo e por toda a sociedade.
Assim, a água é um bem que pertence a toda humanidade, resguardada como um direito e garantia fundamental à vida do homem, possuindo o caráter de um bem de
todos que não pode ser dominado e transformado em um bem particular, pois ocorrendo isso há o cerceamento do acesso ao consumo que é essencial à sobrevivência
humana[16].
5. CORRUPÇÃO E ÁGUA[17]
No dia 25 de junho de 2008, foi apresentado o “Informe Global da Corrupção” oriundo de estudos realizados pela Organização Não Governamental “Transparência
Internacional”, com sede em Berlim, aduzindo que a corrupção tem tornado a água mais cara em alguns países em desenvolvimento do que em cidades como Nova York,
Londres ou Roma e ameaça a sobrevivência de 1,2 bilhão de pessoas que não têm acesso garantido a esse bem e de 2,6 bilhão que não têm serviços de saneamento
adequado e prevendo que mais de 3 bilhões de pessoas poderão viver em países que sofrem escassez da mesma, até 2025.
Este foi o primeiro relatório a explorar o impacto e o alcance da corrupção no fornecimento de água, na obtenção de contratos de irrigação e na manipulação da gestão e
políticas de distribuição, bem como indicou que esta corrupção, assessorada por subornos e outros delitos, é uma das principais razões para a “crise mundial da água” que
vem acelerando o ritmo da degradação ambiental e aumentando o custo de tal bem em 30% nos países em desenvolvimento.
O relatório destacou que a corrupção detectada nos quatro cantos do mundo tira investimentos do setor, aumenta preços e reduz os suprimentos de água, repercutindo,
entre outras, nas seguintes conclusões: a) As residências pobres em Jacarta, Lima, Nairóbi ou Manila gastam mais com água do que moradores de Nova York, Londres ou
Roma; b) Na Índia a corrupção eleva em 25% o custo dos contratos de irrigação e em outros países, a corrupção pode elevar em até 30% o custo de conectar residências à
rede de abastecimento de água; c) No México, 20% dos produtores rurais, os mais ricos, recebem mais de 70% dos subsídios para irrigação, comprometendo e agravando a
pobreza e insegurança alimentar; d) Na China a corrupção debilitou a aplicação das regulamentações ambientais, o que levou à contaminação dos aqüíferos em 90% das
cidades ocasionando que 75% dos rios urbanos não sejam aptos para a captação de água ou para a pesca.
Ocorre que as consequências das atividades humanas são devastadoras e afetam, principalmente, mulheres, crianças e pobres. Observe‐se que cerca de 80% dos
problemas de saúde são provenientes da qualidade da água ou com instalações sanitárias impróprias e causam a morte de aproximadamente 1,8 milhão de crianças por
ano. Além disso, o analfabetismo é impulsionado quando as meninas que devem andar 10 quilômetros para apanhar água perdem tempo que poderia ser dedicado aos
estudos.
Com relação aos países ricos, os casos de corrupção estão, geralmente, ligados à destinação de contratos para construir e operar a infra‐estrutura do serviço de água, um
mercado de US$ 210 bilhões por ano na América do Norte, Europa ocidental e Japão.
Observe‐se que, terras irrigadas ajudam a produzir 40% do suprimento mundial de alimentos e a energia hidrelétrica representa 1/6 da produção elétrica mundial. O
sistema de irrigação pode ajudar na luta contra a crise alimentar, haja vista que a falta de água significa falta de alimentos. Desta forma, mister se faz fortalecer a
regulamentação do manejo e uso da água, assegurando uma competição justa e sistemas de prestação de contas na concessão de contratos. Além disso, a transparência
se impõe como princípio basilar neste setor.
Ressalte‐se que na cidade indiana de Bangalore, nos últimos 10 anos, se permitiu à população avaliar os serviços públicos e isto levou a melhoria no abastecimento de
água e serviços sanitários, mostrando para o mundo que os cidadãos podem realizar ações em nível local.
O que se vê nitidamente é que as condições de corrupção no setor da água persistem porque seu impacto mais importante recai sobre aqueles com menos possibilidades
de reação, ou seja, mulheres, crianças e pobres. No entanto, existem ações que podem fazer com que esta corrupção seja atenuada e quiçá exterminada. São algumas
delas: a) Observação de princípios fundamentais, principalmente o da Transparência de todos os aspectos da governabilidade da água, desde a elaboração de orçamentos
até a identificação da contaminação, as inspeções públicas de projetos e o acesso às bases de contratação e aos informes de desempenho; b) Dar ensejo a políticas
reguladoras que desempenham a gestão da água para que supervisionem com eficácia tanto em meio ambiente como em saneamento, agricultura ou energia; c) Realizar
licitações pautadas em medidas anticorrupção, concedendo paridade entre participantes e promovendo acordos para uma adjudicação justa de contratos públicos.
CONCLUSÃO
A água por ser um bem precioso, essencial aos seres vivos e reconhecidamente de valor econômico, necessita de um manejo racional a partir de um processo de gestão
sustentável, caso contrário, corre‐se um sério risco de escassez, sem precedentes, de água de qualidade.
Para que a gestão seja a contento, mister se faz enfatizar a relevância da proteção da água, afinal, sem a tutela do Estado, este bem torna‐se vulnerável e suscetível de
ações unilaterais que venham a deixar o social em segundo plano, perdendo para os interesses econômicos.
Infelizmente, o que se vislmubra no Brasil é a cultura predominante do desperdício de água que se contrapõe aos programas e propostas de gestão sustentável dos
recursos hídricos.
Assim, considerando todas as abordagens ao longo deste artigo, é de fácil constatação que a questão da água, principalmente no Brasil, está diretamente relacionada e
dependenteda cultura do desperdício (embasada na falsa premissa de que temos água em abundância) e da ausência de uma política de governo, que discipline e
controle tanto o consumo, como a defesa interna e externa do maior bem nacional.
No que toca ao processo de privatização, note‐se que este assunto é deveras secundário ao interesse social, pois não garante direitos fundamentais. No entanto, também
existe a dificuldade em demonstrar que um determinado serviço é ou não uma atribuição do Estado ou tem ou não uma finalidade social. Todavia, trata‐se o Estado por
interventor da sociedade, cabendo a ele substituir os particulares todas as vezes que isso seja necessário à manutenção da ordem social.
Numa realidade em que a água carece de proteção e atuação intensa do Estado na sua defesa, importante ressaltar‐se que o Brasil possui um sistema jurídico expressivo
que tem o condão de orientar as ações do poder público quanto à preservação da qualidade ambiental e à manutenção do equilíbrio ecológico. Como já dito em linhas
pretéritas, o País não carece de de normas que disponham sobre preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, bem como das que
garantem condições ao desenvolvimento sócio‐econômico, aos ditames de segurança nacional e à proteção da dignidade humana.
Portanto, com relação às ferramentas jurídicas necessárias na defesa do patrimônio natural que é a água, o Brasil encontra‐se em situação privilegiada, pois existe um
arsenal a ser observado e aplicado em toda a extensão do território nacional.
Para que a atuação do Estado seja satisfatória e a proteção da água devidamente realizada, é necessário ater‐se aos pressupostos do desenvolvimento sustentável que
assegure a compatibilização do crescimento com a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida.
Ademais, calha‐se enaltecer que o direito à água é um direito da pessoa humana, integrada na denominada terceira geração dos direitos fundamentais (meio ambiente) e
sua proteção é dever do Estado e da coletividade, redundando em verdadeira união de forças em torno de um bem comum.
25/08/2015 Tutela da água: Estado mínimo ou máximo? ­ Ambiental ­ Âmbito Jurídico
http://www.ambito­juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6880 5/5
 
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Notas:
[1] BELTRÃO, Antônio F. G.. 2008, p.20
[2] AZEVEDO, Plauto Faraco de. 2008, p. 104
[3] AZEVEDO, Plauto Faraco de. 2008, p. 106
[4] <http://www.cepis.ops‐oms.org/bvsarg/p/fulltext/brasil/brasil.pdf> Acesso em 15 de junho de 2009
[5] <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio‐ambiente‐agua/agua‐na‐historia.php> Acesso em 18 de junho de 2009
[6] SEIFFERT, Mari Elizabete Bernardini. 2007, p.133
[7] <http://bradescobancodoplaneta.ning.com/profiles/blog/show?id=1741754%3ABlogPost%3A216843> Acesso em 18 de junho de 2009
[8] Artigo de Tatiana de Oliveira Takeda publicado em jornal periódico:
   <http://www.dmdigital.com.br/index2.php?edicao=7897>
[9] <http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/emir/2005/04/23/jorcolemi20050423001.html> Acesso em 19 de junho de 2009
[10] <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/02/306254.shtml> Acesso em 19 de junho de 2009
[11] ARAÚJO, Gisele Ferreira de. 2008, p. 37
[12] MORAES, Luís Carlos Silva de. 2006, p. 13
[13] <http://revistadasaguas.pgr.mpf.gov.br/aguas/edicoes‐da‐revista/edicao‐atual/materias/tutela> Acesso em 15 de junho de 2009
[14] AZEVEDO, Plauto Faraco. 2008, p.107
[15] LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. 2008, p.32
[16] <http://www.ambito‐juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1184> Acesso em 15 de junho de 2009
[17] Artigo publicado por Tatiana de Oliveira Takeda em jornal periódico e site jurídico:
   <http://www.dm.com.br/materias/show/t/gua_e_corrupo>
   <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1360>
Tatiana de Oliveira Takeda
Advogada, assessora do Tribunal de Contas do Estado de Goiás ‐ TCE, professora do curso de Direito da Universidade Católica de Goiás ‐ UCG, especialista em Direito Civil e
Processo Civil e mestranda em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento
Informações Bibliográficas
 
TAKEDA, Tatiana de Oliveira. Tutela da água: Estado mínimo ou máximo?. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 69, out 2009. Disponível em: <
http://www.ambito‐juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6880
>. Acesso em ago 2015.
O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

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