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1 PPrrooppaaggaaççããoo ddee PPllaannttaass FFrruuttííffeerraass Editores técnicos José Carlos Fachinello Alexandre Hoffmann Jair Costa Nachtigal EEMMBBRRAAPPAA 2 Infra-estrutura para Propagação de Plantas Frutíferas O objetivo de todo viveirista é produzir mudas de plantas frutíferas com elevado padrão de qualidade (morfológica, fisiológica e fitossanitária). Essa meta é essencial para garantir a competitividade do viveiro e o retorno certo do investimento efetuado no estabelecimento da atividade, além de assegurar ao cliente, a satisfação de suas necessidades e, ao produtor de mudas, a idoneidade e a estabilidade do empreendimento durante anos. Para que esse objetivo seja alcançado, é fundamental adotar um elevado nível tecnológico, que inclua todas as etapas da produção, desde a obtenção do material propagativo básico até o transporte da muda ao cliente. Avanços na tecnologia de propagação são cada vez mais visíveis e concretos. Em culturas de nível tecnológico mais avançado, como na citricultura, na bananicultura e na pomicultura, parte dessa tecnologia já está quase totalmente incorporada à própria exigência legal, estabelecida pelos órgãos oficiais em nível estadual e federal. Neste capítulo, serão abordadas as principais estruturas e meios para propagação de espécies frutíferas, indicando algumas das condições que maximizem a qualidade das mudas produzidas. A necessidade em infra-estrutura do viveiro é variável, conforme as exigências legais, o nível tecnológico e o conhecimento da cultura, a escala de produção de mudas, o tamanho do viveiro, a disponibilidade de recursos do viveirista, o destino das mudas e o grau de exigência do mercado consumidor. Sementeiras e viveiros Para a propagação de plantas frutíferas, um dos aspectos de grande importância é a infra-estrutura da área de produção de mudas. Uma infra -estrutura adequada, racional e tecnificada é o primeiro passo para que o viveirista tenha uma atividade eficiente e economicamente viável. A escolha da infra-estrutura do viveiro de produção de mudas frutíferas depende de diversos fatores, tais como: Quantidade de mudas produzidas. Regularidade desejada da oferta de mudas. Número de espécies a serem propagadas. Método de propagação. Custos das instalações. • Grau de tecnificação do viveirista. Em relação a esse último fator, vale ressaltar que a propagação de plantas é uma atividade muito dinâmica e tem tido avanços que possibilitam a produção com qualidade e eficiência. Daí, decorre a importância do viveirista estar em contínuo contato com os órgãos de pesquisa, universidades e serviços de extensão, para constante aperfeiçoamento. Entende-se, por viveiro, a área onde são concentradas todas as atividades de produção de mudas. Quanto à duração, os viveiros podem ser classificados em permanentes e temporários. Viveiros permanentes São aqueles com caráter fixo, onde a produção de mudas prolonga se por vários anos. Por isso, esses viveiros requerem um bom planejamento para a instalação, incluem uma infra-estrutura permanente e geralmente apresentam maiores dimensões. Por mais que o viveiro seja permanente, quando o plantio é feito no solo, uma mesma 3 área pode ser utilizada por, no máximo, 2 anos, devido à alta sensibilidade das mudas a pragas, doenças e plantas invasoras, sendo necessária a adoção de rotação de culturas. Viveiros temporários Destinam-se à produção de mudas apenas durante certo período e, uma vez cumpridas suas finalidades, são desativados. Embora menos comuns que os viveiros permanentes na produção de mudas frutíferas, esses viveiros podem representar menor custo, já que não é necessária uma infra-estrutura muito tecnificada. Quanto à proteção do sistema radicular, os viveiros podem ser classificados em: Viveiros com mudas de raiz nua . Viveiros com mudas em recipientes. Viveiros com mudas em raiz nua São aqueles feitos em área de solo profundo, drenado, com textura média e bem manejado, para que as mudas para comercialização sejam retiradas com raiz nua (mesmo que, em alguns casos, um torrão possa acompanhar a muda). Nesse tipo de viveiro, são feitos canteiros, delimitados por carreadores, por onde transitam os veículos e demais meios de transporte de mudas. Viveiros com mudas em recipientes Geralmente implicam menor necessidade de área, sendo mais versáteis e permitindo que uma mesma área seja utilizada por muito mais tempo que o tipo anterior, desde que o substrato venha de local isento de pragas, doenças e propágulos de plantas invasoras. A escolha do local é o primeiro passo para a instalação do viveiro, sendo de grande importância. A seguir, diversos aspectos devem ser considerados: Facilidade de acesso É conveniente que os compradores de mudas tenham fácil acesso ao viveiro, pois esse é um fator que favorece a comercialização e a escolha do viveirista. Assim, deve-se dar especial atenção às estradas que conduzem ao viveiro, possibilitando o fácil trânsito dos veículos que transportam as mudas. Por sua vez, o viveiro deve estar afastado de estradas públicas de grande movimento, para reduzir o risco de infestação das mudas por pragas e doenças. Suprimento de água A água é o principal insumo num viveiro. Para irrigação e tratamentos fitossanitários, o cálculo da necessidade de água depende do número de tratamentos fitossanitários, do consumo de água por irrigação, das necessidades hídricas das mudas e das precipitações pluviais médias. A localização próxima a fontes de água, de preferência com pouco desnível em relação ao viveiro, reduz os custos com canalização e bombeamento. A boa qualidade da água é fundamental. Podem ser utilizadas águas de rios, lagos e de origem subterrânea, devendo ser evitada a água contendo propágulos de algas, de pragas, de doenças e de plantas invasoras. Além disso, é conveniente que a água apresente baixos teores de partículas suspensas (que reduzem a eficiência dos sistemas de irrigação) e de sais. Altos teores de silte e de argila podem impermeabilizar a super- fície do substrato, reduzindo a aeração e predispondo as mudas a doenças. Distância da área de plantio Embora seja aconselhável que o viveiro seja localizado na mesma região onde se 4 concentram os pomares, reduzindo o tempo de transporte das mudas e as perdas - devido à movimentação - é preciso ter o máximo cuidado para que os viveiros não fiquem muito próximos dos pomares. Geralmente, recomenda-se que o viveiro seja localizado a, no mínimo, 50 m de um pomar de mesma espécie, pois quanto maior for a distância, menor será o risco de infestação das mudas. Os maiores cuidados quanto ao isolamento do viveiro dizem respeito a vetores de viroses, tanto aéreos (afídeos) quanto de solo (nematóides). Ocorrência de invasoras O viveiro deve estar localizado em área livre de plantas invasoras. Viveiros com determinadas plantas invasoras não podem ser utilizados e a comercialização de mudas produzidas nesses viveiros é proibida por lei. As principais plantas invasoras incluídas nessa classe são a tiririca (Cyperus rotundus) e a grama-seda (Cynodon dacty/on). Além disso, como o controle de plantas invasoras é mais difícil em viveiros, deve-se fazer uma contínua vigilância e erradicação das mesmas. Facilidade de obtenção de mão-de-obra Viveiros demandam grande quantidade de mão-de-obra, tanto para a produção de mudas em si, como também para o monitoramento e controle de plantas invasoras, pragas e doenças. A disponibilidade de mão-de-obra próxima ao viveiro contribui para a redução do custo de produção das mudas. Declividade da área É recomendável quea área tenha pouca declividade e seja localizada em zona de relevo levemente ondulado. Áreas muito planas podem acumular a água das chuvas ou da irrigação. Independentemente do grau de declividade da área, os canteiros devem estar localizados no sentido perpendicular à movimentação da água, para reduzir os riscos de erosão. Quanto maior a declividade, maiores devem ser os cuidados com relação às práticas conservacionistas, para se evitar a degradação do solo. Aspectos físicos do solo É conveniente a instalação de viveiros em área com solos profundos e medianamente arenosos. Contudo, como nem sempre isso é possível, devem-se escolher as áreas cujo solo apresenta as melhores condições físicas possíveis. Solos muito argilosos dificultam a mecanização e o desenvolvimento radicular. Solos com elevada porosidade são desejáveis. Essa característica pode ser parcialmente melhorada com incorporação de matéria orgânica e adubação verde. Especialmente em áreas de chuvas intensas, o solo deve ter boa capacidade de drenagem, devendo-se evitar áreas encharcadas ou sujeitas à inundação, pois isso aumenta o risco de podridões-de-raízes e de toxidez por manganês. Para a adoção de sistemas de drenagem, devem-se estudar as características físicas do solo, tais como a profundidade do horizonte impermeável, condutividade hidráulica e textura. Aspectos químicos do solo Embora as condições químicas dos solos possam ser modificadas, o viveiro deve estar localizado em área cujo solo não tenha acidez elevada, possua boa fertilidade natural e adequado teor de matéria orgânica. Aspectos biológicos do solo 5 Solos ricos em matéria orgânica têm vida micro e macrobiana mais ativa, o que pode favorecer o desenvolvimento das mudas. Contudo, devem-se utilizar áreas isentas de nematóides, insetos de solo, fungos patogênicos (Fusarium sp., Pythium sp., Armilaria sp, Rosellinia sp, Phytophthora sp., entre outros) e bactérias fitopatogênicas (Agrobacterium tumefasciens). Por isso, é necessário o monitoramento, por meio de análises microbiológicas do solo da área a ser utilizada como viveiro. A desinfestação do solo pode ser uma boa alternativa no controle de patógenos de solo e de plantas invasoras, mas normalmente é de alto custo e acarreta danos sobre toda a vida microbiana do solo. A escolha adequada e o manejo da área principalmente no que se refere à rotação de culturas são fundamentais, pois até o momento, não se encontrou um método de controle eficiente contra podridões-de-raiz. Cultivos anteriores o viveiro deve estar localizado em área onde não existiram pomares há pelo menos 5 anos, e onde não existiram viveiros há pelo menos 3 anos. Quando se utilizam áreas onde, anteriormente, havia mata ou outras plantas perenes, deve ser feita a destoca no mínimo 2 anos antes da implantação do viveiro, cultivando-se gramíneas anuais, entre elas o milho, a aveia-preta, o sorgo, entre outras, até que o viveiro seja implantado. Essas gramíneas podem ser incorporadas ao solo, para elevação do teor de matéria orgânica. Algumas plantas frutíferas liberam fitotoxinas no solo, as quais comprometem os cultivos posteriores, implicando a necessidade de ser feita a rotação de culturas. Por exemplo, a nogueira européia libera no solo o jiglone, a macieira libera a floridzina e o pessegueiro e a ameixeira, a prunasina e a amigdalina. Aspectos climáticos o melhor clima do local onde o viveiro será implantado depende da(s) espécie(s) a ser (em) propagada(s). Entre os fatores climáticos mais limitantes, estão a temperatura, a luz e a ocorrência de ventos. No que sé refere à temperatura, é importante que o viveiro esteja localizado em área o mais livre possível de geadas. Além disso, temperaturas médias mais elevadas reduzem o tempo para a produção das mudas. Como exemplo, pode ser citado o fato de que, no Estado de São Paulo, enquanto mudas cítricas requerem cerca de 24 meses para serem produzidas, no Rio Grande do Sul requerem cerca de 36 meses, exceto se produzidas em estufas. A exposição à luz é fundamental, especialmente na fase final de propagação. Ventos muito fortes aumentam a quebra no local da enxertia, podendo requerer a implantação de quebra-ventos. A extensão da área do viveiro depende de diversos fatores, sendo os principais: Quantidade de mudas para plantio e replantio determinada pela capacidade operacional do viveiro e pela demanda por mudas pelos produtores. Densidade de mudas, o que depende da espécie e do tempo de permanência, de modo a proporcionar as melhores condições para seu desenvolvimento. Período de rotação, que se refere ao tempo que a muda permanece, desde o início de produção até o replantio ou comercialização. Esse intervalo é dependente da espécie, do método de propagação e do manejo da muda. Dimensões dos canteiros e carreadores, que dependem da espécie a ser propagada e do grau de mecanização adotado. Viveiros com maior grau de mecanização requerem canteiros mais longos, maiores distâncias entre linhas e carreadores mais largos. Dimensões das instalações determinadas, principalmente, pela quantidade de mudas produzidas pelo método de propagação adotado e pelo grau de tecnologia empregado. 6 Áreas para rotação, fundamentais para produção de mudas sadias, especialmente se a produção de mudas for feita diretamente no solo. Para dimensionamento do viveiro, deve-se considerar a disponibilidade de áreas para rotação, de modo que uma mesma área não seja utilizada para produção de mudas por mais de 2 anos. Um dos aspectos fundamentais a ser considerado no planejamento e dimensionamento dos viveiros é a seleção das espécies a serem propagadas. Existem viveiristas especializados em propagar apenas uma espécie, bem como viveiristas extremamente ecléticos, que propagam inúmeras espécies. Essa escolha depende da capacidade do mercado de absorver a produção das mudas, do tipo de clientela, do grau de especialização e de profissionalização do viveirista, das condições ambientais do viveiro e das exigências climáticas das espécies. De qualquer forma, os principais cuidados a serem tomados pelo viveirista - quando da seleção das espécies - são procurar trabalhar com uma certa economia de escala, para reduzir os custos unitários da muda, não abrindo mão da qualidade do produto. Telados e estufas A necessidade de instalações especiais em viveiros de produção de mudas frutíferas depende de diversos fatores e deve-se considerar a máxima eficiência no uso das mesmas, economicidade para construção e facilidade no manejo para produção das mudas. O grau de sofisticação das instalações depende da interação entre fatores como a espécie a ser propagada, quantidade de mudas a serem produzidas e o poder aquisitivo do viveirista. Atualmente, estão disponíveis no mercado, diferentes estruturas como telados, estufas plásticas, ripados e outras, em diversos módulos de tamanho e de custos. Para algumas espécies frutíferas, especialmente as mais sensíveis a viroses, torna-se recomendável - e em certos casos obrigatória - a manutenção das plantas-matrizes em telados, para garantir a sanidade das plantas fornecedoras de enxertos ou outra forma de material propagativo. Entre as instalações especiais para viveiros, destacam-se as seguintes: Telados É uma estrutura - de madeira ou de metal - coberta com tela, que garante o sombreamento e mantém a luminosidade próxima da natural (Fig. 1). O telado é útil nas seguintes situações: na manutenção de plantas matrizes isentas de viroses, na aclimatação e na produção de mudas que exigem sombreamento inicial. As telas podem apresentar diferentes graus de sombreamento, sendo importante considerar que, quanto maior for o grau de sombreamento, maior será a ocorrência de estiolamento dasmudas que permanecerem por longo tempo no telado e maior a facilidade de as mudas morrerem quando forem transferidas para o pomar. O tipo de tela mais utilizado é o que permite um sombreamento de 50%. O telado pode ter diferentes dimensões, podendo ser permanente ou temporário, dotado ou não de sistema de irrigação localizada. No caso de telas à prova de afídeos, a dimensão da malha deve ser inferior a 0,4 mm. 7 Fig. 1. Telado para produção de mudas. Estufas Também conhecida como casa de vegetação, a estufa é uma estrutura parcial ou completamente fechada, feita de madeira ou de metal (alumínio, aço ou ferro galvanizado), geralmente coberta com plástico especial, para essa finalidade. Pode ainda ser coberta de vidro ou fibra de vidro, o que acarreta maior custo. A grande vantagem do uso de estufas em viveiros é a possibilidade de controle ambiental, de modo a maximizar a produção de mudas, reduzindo o tempo necessário para a propagação e permitindo que as mudas possam ser produzidas em várias épocas do ano. Normalmente, as estufas possuem sistemas de nebulização intermitente, o que mantém a umidade relativa do ar elevada, permitindo a propagação por meio de estacas com folhas (técnica que, em certas espécies, viabiliza a propagação por estaquia). A elevada umidade do ar e a alta temperatura aumentam a velocidade de crescimento das plantas. As estufas podem ser construídas pelo próprio viveirista ou adquiridas de empresas especializadas. Além do sistema de nebulização, as estufas podem ser dotadas de sistemas automatizados para aquecimento do substrato e diminuição da temperatura, entre outros. Entre os problemas relacionados com o uso de estufas, podem ser citados os seguintes: Aumento da dependência da planta em relação ao homem. Elevado custo de implantação. Aumento da sensibilidade. Ocorrência de doenças. • Dificuldades na aclimatação. O enraizamento de estacas de muitas espécies - especialmente as semi-lenhosas e herbáceas - é muito difícil, se não for adotado um controle ambiental, principalmente em relação a três pontos: Manter alta umidade relativa do ar com baixa demanda evaporativa, de modo que a transpiração das estacas seja minimizada e a perda de água seja mínima. Manutenção de temperatura adequada - e suficientemente amena na parte aérea - para estimular o metabolismo na base das estacas e reduzir a transpiração. Manter a irradiação num limite suficiente, para ocasionar elevada atividade fotossintética, sem causar aumento excessivo da temperatura nas folhas. As estufas têm essa final idade de controle ambiental. Quanto mais controladas as condições de propagação, maiores as chances de sucesso, especialmente naquelas 8 espécies de difícil propagação. Um dos problemas a serem enfrentados em estufas, nas condições brasileiras, é o aumento excessivo da temperatura, o que implica no uso de mecanismos de resfriamento do ar. O uso de tela de alumínio na parte externa, a ventilação forçada por meio de argila expandida com água e tela de sombreamento podem reduzir, significativamente, a temperatura. Mesmo que a luz seja favorável à atividade fotossintética das mudas, a alta luminosidade não parece ser a condição mais favorável. Filmes de polietileno mais modernos estão disponíveis no mercado com alguns aditivos, tais como acetato de vinil, alumínio e silicatos de magnésio, os quais aumentam a opacidade do plástico às ondas longas (infravermelho), favorecendo o enraizamento. Altas temperaturas geralmente limitam a produção de mudas em estufas na maioria das regiões do Brasil. Na literatura, há citações de que, temperaturas ao redor de 35°C a 40°C limitam o crescimento das raízes da maioria das espécies lenhosas. Por isso, além de uma boa ventilação, é fundamental um bom sistema de resfriamento e de sombreamento. Estufins São pequenas estufas, com maior versatilidade, menor custo e menor tamanho. Normalmente, os estufins são construídos em madeira e com cobertura de polietileno, podendo ser utilizados tanto na produção de mudas por meio de sementes, quanto por meio de estacas semi-lenhosas. Ripados São construções simples, relativamente duráveis, baratas e fáceis de construir, com o inconveniente de não garantir sombreamento uniforme. Também têm a finalidade de proporcionar sombreamento, podendo substituir os telados. Substratos Entende-se por substrato qualquer material usado com a finalidade de servir de base para o desenvolvimento de uma planta até sua transferência para o viveiro ou área de produção, podendo ser compreendido não apenas como suporte físico, mas também como fornecedor de nutrientes para a muda em formação. Geralmente, o termo substrato refere-se a materiais dispostos em recipientes, mas pode incluir, também, o solo da sementeira ou do viveiro, onde muitas vezes se dá o desenvolvimento inicial da muda. O substrato é um dos muitos fatores que condicionam o sucesso na propagação de plantas. Na opção por um determinado material como substrato, objetiva-se otimizar as condições ambientais, para o desenvolvimento da planta numa ou mais etapas da propagação. Se for utilizado um material adequado, e se as demais condições também forem satisfeitas, o desenvolvimento da muda será satisfatório, tendo-se como resultado uma planta com capacidade de expressar, futuramente, o potencial produtivo da cultivar. Por sua vez, o uso de materiais inadequados, além da sua ineficiência nos métodos de propagação, originará plantas com problemas de desenvolvimento e com reflexos negativos sobre a futura produção. Inúmeros materiais podem ser usados como substratos na produção de mudas frutíferas. A escolha do substrato - ou mistura de substratos mais adequada para uma determinada situação - é função da técnica de propagação, da espécie (em alguns casos), da cultivar, das características do substrato, do custo e da facilidade de obtenção de cada 9 material. Podem estar incluídos desde materiais que permitam a germinação das sementes - e o posterior desenvolvimento das plântulas - até outros que possibilitem o enraizamento de estacas e o desenvolvimento das raízes adventícias, bem como materiais que proporcionem condições adequadas para a aclimatização de plantas propagadas por meio de técnicas de micropropagação. Em linhas gerais, um bom substrato é aquele que: É firme e denso o suficiente para manter a estrutura de propagação em condições até a germinação ou o enraizamento. Não contrai ou expande com a variação da umidade. Retém água em quantidade suficiente. É suficientemente poroso para permitir a drenagem da água e a aeração. Está livre de invasoras, nematóides ou outros patógenos. Não apresenta nível excessivo de salinidade. • Permite a esterilização a vapor. Na propagação por sementes, o substrato tem a finalidade de proporcionar condições adequadas à germinação ou ao desenvolvimento inicial da muda. Conforme a técnica de propagação adotada, pode-se dispor de um mesmo material durante todo o período de formação da muda, bem como utilizar-se materiais diferentes em cada fase (até a germinação, da germinação até a repicagem e da repicagem ao enviveiramento). Considerando que tanto a germinação quanto o desenvolvimento das mudas requerem água, oxigênio e suporte físico, o bom substrato deve: Proporcionar equilíbrio adequado entre a umidade e a aeração. Para tanto, deve haver boa capacidade de drenagem da água, mas retendo suficiente teor de umidade, que garante água suficiente para a embebição da semente e o metabolismo da muda. O fornecimento de oxigênio ao embrião pode ser limitado pelo substrato, em função da má drenagem e da baixa taxa de difusão do oxigênio na água. Proporcionar ambiente escuro, em virtude de muitas espécies serem fotoblásticas negativas e das raízes serem fototrópicas negativas. Boa capacidade de suporte físico da muda, bem como aderência às raízes, fato especialmente importante na repicagem da muda para o viveiro ou pomar. Conter nutrientes essenciais para o desenvolvimento sadio da planta. No caso de se utilizar um substrato apenas para a germinação, a presença de nutrientes não é necessária, podendo-se somente lançar mão de materiais inertes, pois a germinação ocorre às custas da reserva da semente. Entretanto, tão logo as raízes passem a ser funcionais, os nutrientes devem estar presentes. Estar isento de inóculo de patógenos ou saprófitos, que podem prejudicar a germinação e o desenvolvimento das mudas. A presença de patógenos pode provocar a ocorrência de dumping off, que ocasiona desde um baixo índice de sobrevivência das plantas na repicagem, até a morte das plântulas logo após sua emergência. Estar isento de propágulos (sementes ou estruturas vegetativas) de plantas invasoras, especialmente no caso de a muda oriunda desse processo ser comercializada ou levada ao campo com torrão. Além disso, um bom substrato deve ser de baixa densidade e ter uma composição química e física equilibrada, elevada capacidade de troca catiônica (CTC), boa 10 capacidade de aeração e drenagem, boa coesão entre as partículas e adequada aderência nas raízes. Na avaliação de um substrato, podem ser úteis parâmetros físicos tais como poros idade total, densidade, proporção do tamanho de partículas, espaços com ar e água, condutividade hidráulica saturada e insaturada. Na literatura, inúmeros materiais são citados como adequados para a germinação ou desenvolvimento de plantas propagadas por sementes. A associação de materiais - especialmente em mistura com o solo permite melhorar as condições para desenvolvimento das mudas. Assim, a grande maioria dos trabalhos com substratos nessa fase inclui misturas de solo, de vermiculita e de materiais orgânicos. É aconselhável misturar areia e materiais orgânicos, para melhorar a textura e propiciar melhores condições ao desenvolvimento das mudas. Em misturas, o solo e a turfa participam como retentores de umidade e nutrientes, enquanto a areia, serragem ou casca de arroz funcionam como condicionadores físicos. A mistura com materiais orgânicos beneficia as condições físicas do substrato e fornecem nutrientes, favorecendo o desenvolvimento das raízes e da planta como um todo. Numa sementeira, considerando-se o solo como substrato, é importante observar os seguintes aspectos: A sementeira deve estar localizada fora da área de produção e não deve ser usada por mais de 2 anos consecutivos, como forma de diminuir o potencial de inóculo de patógenos. Deve haver pequena declividade para exposição à luz e boa disponibilidade de água para irrigação. É conveniente que se utilizem solos com textura média. Para se evitar problemas com patógenos ou plantas invasoras, pode ser efetuada a esterilização do substrato. Esta pode ser feita utilizando-se fungicidas, solarização, tratamento térmico, ou agentes de controle biológico e químico, recomendados pela legislação vigente. Deve ser prevista uma rotação de culturas antes da implantação de sementeira, especialmente se na mesma área foram cultivadas espécies perenes. O suprimento de água deve ser adequado, pela necessidade de germinação e a sensibilidade das plântulas ao déficit hídrico. Com o uso de corretivos, o pH do solo deve ser ajustado para o nível adequado à espécie a ser propagada. Quanto ao suprimento de nutrientes, devem ser tomados cuidados com o excesso de adubação, especialmente a adubação nitrogenada. O excesso de sais inibe a germinação, além de o desequilíbrio nutricional favorecer a ocorrência de doenças. O manejo da adubação depende, essencialmente, do tempo de permanência da muda na sementeira. O substrato é um dos fatores de maior influência na propagação por estaquia, especialmente naquelas espécies com maior dificuldade de formação de raízes. O substrato não apenas afeta o percentual de estacas enraizadas, como também a qualidade do sistema radicular da muda. Destina-se a sustentar as estacas durante o enraizamento, mantendo sua base num ambiente úmido, escuro e suficientemente aerado. Num sentido mais restrito, o substrato deve garantir as condições adequadas apenas para o enraizamento das estacas. Contudo, numa abordagem mais ampla, é conveniente que algumas condições sejam oferecidas para que haja o desenvolvimento inicial das 11 raízes adventícias, tais como o fornecimento de nutrientes e o uso de materiais orgânicos, que podem favorecer o desenvolvimento radicular e o pegamento, e desenvolvimento no viveiro ou no campo. O substrato mais adequado para o enraizamento varia conforme a espécie, podendo-se considerar que um bom substrato deve reunir as seguintes características: Reter água suficiente para manter as células túrgidas, evitando o murchamento da estaca. Garantir aeração suficiente, por meio de um adequado espaço poroso, para a formação das raízes e o metabolismo radicular. Aderir bem à estaca e às raízes formadas. Não favorecer a contaminação e o desenvolvimento de patógenos e saprófitos, tanto por ser fonte de inóculo, quanto por criar condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos. Permitir que as estacas enraizadas sejam removidas com um mínimo de dano às raízes. Ter baixo custo e fácil aquisição. • Não conter ou liberar quaisquer substâncias fitotóxicas à estaca. Conforme o tipo de ambiente para propagação, deve ser dada atenção diferenciada. No caso de uso de nebulização intermitente, a drenagem é um dos fatores mais importantes, para se evitar a asfixia na base da estaca. Ao se trabalhar com estacas lenhosas em solo ou em recipientes com outro material, mas sem nebulização, a retenção de água assume maior importância. A escolha do substrato é feita levando-se em consideração a espécie, o tipo de estaca, as características do substrato, a facilidade de obtenção e o custo de aquisição. A determinação do substrato mais adequado para cada espécie deve ser feita por meio de experimentos. Na Tabela 1, são apresentadas algumas vantagens e desvantagens de alguns substratos que podem ser utilizados em estaquia. O meio de enraizamento não afeta apenas o enraizamento em si. Tem sido obtida grande influência do substrato sobre a qualidade do sistema radicular adventício, no que tange a diversos parâmetros. É conveniente atentar-se para a qualidade do sistema radicular formado, pois essa irá, diretamente, o pegamento no viveiro e o desenvolvimento posterior da muda. Geralmente, raízes desenvolvidas em areia são mais grossas, menos ramificadas e mais quebradiças, ainda que as características do sistema radicular também sejam função da espécie. A mistura da areia com turfa ou outros materiais orgânicos permite que se forme um melhor sistema radicular. A permanência das folhas na estaca também pode ser afetada pelo substrato. Substratos com menor contato com a estaca tendem a ocasionar maior queda de folhas e a morte das estacas. A parte da estaca que fica enterrada no substrato poderá sofrer asfixia, que desfavorece o enraizamento, podendo causar até mesmo a morte desta. A baixa capacidade de drenagem do substrato na base da estaca pode ocasionar a necrose na base da mesma. Além disso, o pouco espaço poroso poderá favorecer a ocorrência de doenças. 12 o teor de oxigênio requerido na formação de raízes é variável conforme a espécie, mas é sempre indispensável. Por exemplo, para Salix spp., 1 mg.L-l de oxigênio é suficiente para o enraizamento,podendo o mesmo enraizar em água, ao passo que para Hedera helix, são necessários apenas 10 mg. L-l . Em algumas espécies, o aumento do teor de oxigênio incrementou o enraizamento de estacas. Assim, é importante analisar as características físicas do substrato a ser utilizado nessa condição. Espaço poroso (macro e microporosidade), oxigênio disponível, aeração, drenagem e excesso de água no substrato são aspectos interligados entre si, passíveis de observação. Há menções de que o espaço poroso do substrato de enraizamento deve ser de 20%, admitindo-se um intervalo de 15% a 45% de poros idade. As seguintes propriedades físicas de um substrato de enraizamento são importantes: 13 Forma, textura e tamanho de partículas. Teores de argila e silte. Densidade, espaço poroso e capacidade de retenção de água na saturação e na capacidade de campo. A curva de retenção de água é um parâmetro que pode fornecer boas informações sobre o efeito do substrato no enraizamento. Mesmo em ambiente com nebulização intermitente, o substrato não se mantém constantemente saturado, especialmente durante o dia, quando as perdas de água para a atmosfera são mais elevadas. Assim, um material que retém mais água, em níveis de tensão mais elevados, pode ser mais recomendável para utilização, tendo em vista esse atributo físico. É importante que o substrato tenha uma capacidade de retenção tal que permita a planta retirar água com um gasto mínimo de energia e apresente um espaço poroso adequado. A competição do espaço poroso pela água e pelo ar é um ponto crucial na escolha do substrato. No que se refere às características químicas, o pH e a disponibilidade de nutrientes são importantes. Em algumas espécies, o pH favorece o enraizamento e desfavorece o desenvolvimento de microrganismos. O uso de materiais como a turfa permite que o pH do substrato seja mais baixo. O uso de materiais orgânicos pode favorecer o desenvolvimento das raízes adventícias. Geralmente, as características favoráveis de um substrato podem ser complementares às de outro. Assim, a mistura de dois ou mais substratos permite que se associem as vantagens e se complementem as desvantagens de cada material. Irrigação Seja na cultura instalada ou no viveiro de produção de mudas, a irrigação é de suma importância para o fruticultor ou viveirista que deseja obter mudas de qualidade. Durante o desenvolvimento da muda, existem várias fases críticas, onde a disponibilidade hídrica se faz necessária. Geralmente, o viveirista deseja obter uma muda de crescimento uniforme e ereto, o que vai facilitar todas as operações do viveiro, seja na enxertia e forçagem, ou no desponte e formação das pernadas (ramos primários emitidos a partir da haste principal da muda). No início do desenvolvimento das mudas, a irrigação é imprescindível, notadamente após a semeadura. A água utilizada pode ser proveniente de rios, lagos ou até de poços subterrâneos. A única exigência é que a água deve ser limpa, tendo-se o cuidado para evitar a introdução de algas ou sementes de plantas invasoras. Segundo alguns autores, a água deve ter no máximo 200 mg.L de silte e cálcio, menos de 10 mg.L de sódio e 0,5 mg.L-l de boro. Se a água tiver alto teor de silte ou de colóides, corre-?e o risco de impermeabilização da superfície do substrato, reduzindo sua aeração e aumentando a predisposição das mudas a doenças e pragas. No planejamento de um viveiro, deve-se ter uma fonte de água de boa qualidade para irrigação e não depender apenas das chuvas. Quanto ao tipo de irrigação utilizada, dependerá do local de produção da muda, da disponibilidade de água, e de recursos, além do tipo de substrato ou solo, e das condições do local. Quanto à freqüência da irrigação, é relevante o efeito da quantidade de suprimento de água, forma e freqüência de aplicação. Logicamente, no caso de as mudas serem produzidas em casa de vegetação, com equipamentos sofisticados, não há necessidade de maior preocupação. Na verdade, os aspectos de quantidade de água, forma e freqüência estão ligados diretamente às condições atmosféricas, qualidade física e química do substrato, poros idade e grau de saturação, estação do ano, estágio de desenvolvimento das mudas, além do tipo e 14 cobertura dos canteiros ou sementeiras. Os vários tipos de coberturas existentes permitem maior ou menor perda de umidade, sendo que, para cada tipo, deve-se adequar uma metodologia isoladamente. Outro aspecto a ser considerado é a espécie, já que cada uma delas se comporta diferentemente da outra. É indiscutível manter o teor de umidade adequado logo após a semeadura. Do contrário, corre-se o risco de perdas irreparáveis na obtenção das mudas. Por sua vez, o encharcamento é muito prejudicial, pois além de permitir a lixiviação de nutrientes e diminuir a aeração, pode favorecer o surgimento de doenças, a exemplo do dumping off. Contudo, calcular a quantidade exata de água e saber, com precisão, o momento certo de colocá-la, é difícil, pois depende de uma série de fatores. Geralmente, é a experiência profissional do produtor de mudas que vai definir a freqüência e a quantidade de água a ser colocada numa dada sementeira, recipiente ou viveiro. Apesar das poucas pesquisas existentes, sabe-se que a irrigação é recomendável no início da manhã, principalmente em regiões e épocas frias, pois permite a rápida condensação do gelo, que eventualmente possa formar-se na superfície das folhas. A irrigação no final do dia permite que o substrato permaneça úmido por mais tempo, de modo que o potencial hídrico das mudas mantenha se com valores mais altos durante a noite. Apesar da experiência ser um fator que pode auxiliar o viveirista, este pode lançar mão de recursos técnicos de baixo custo e ótimos resultados. Como regra geral, pode-se afirmar que a época de irrigação é mais importante do que a quantidade de água aplicada. Enfim, verifica-se que há necessidade de pesquisas, direcionadas às diferentes espécies, para determinação da quantidade de água e freqüência de irrigação para obtenção de mudas de alta qualidade. Embalagens Entende-se, por embalagem, todo e qualquer material destinado a acondicionar o substrato durante a produção de mudas. O uso de recipientes tem acompanhado a evolução tecnológica dos sistemas de propagação, pois são instrumentos indispensáveis na produção intensiva de mudas. À medida em que se avança na pesquisa de substrato para propagação, os recipientes assumem cada vez mais importância. A produção de mudas em viveiros sem uso de recipientes normalmente é mais econômica. Mesmo assim, a produção de mudas embaladas cada vez mais vem sendo adotada devido às vantagens que proporciona. Mesmo nesses casos, os recipientes podem tomar parte em alguma das etapas da propagação. É o caso de mudas cítricas - o porta-enxerto pode ser inicialmente desenvolvido em tubetes ou bandejas e depois as mudas são transferidas para o viveiro, onde são mantidas até a comercialização. Em outras situações, toda a produção da muda pode ser feita num ou mais recipientes. Na produção de mudas frutíferas, a adoção de recipientes apresenta como principais vantagens: Quando associada ao uso de telados ou estufas, permite o cultivo sob quaisquer condições climáticas, o que ocasiona cumprir-se rigorosamente um cronograma de produção. Redução da utilização de tratores e carretas na área de viveiro. Redução do tempo necessário para produção das mudas. Em mudas cítricas, no sistema de sementeira, são necessários 18 a 24 meses para produção das mudas, enquanto com o uso de bandejas ou tubetes são necessários 12 a 15 meses. Redução da competição entre as mudas. Redução da área necessária de viveiro. Proteção do sistema radicular contra danos mecânicose desidratação. 15 Proteção da muda contra doenças e pragas de solo, além de facilitar, quando necessário, a prática da esterilização do substrato. Aumento da facilidade no transporte das mudas. Redução do estresse no momento do transplante. Permanência do viveiro por mais tempo, evitando a necessidade de rotação de culturas devido ao risco de doenças e pragas do solo. Quando a produção de mudas é feita em recipientes, é importante observar os seguintes aspectos: Manutenção da umidade, especialmente em recipientes com pequena capacidade de acondicionamento de substrato. Adubação, pois o substrato pode facilmente ser esgotado quanto à disponibilidade de nutrientes. Limitação ao desenvolvimento radicular, aspecto que deve ser constantemente observado, de modo que o recipiente não venha a ser uma barreira para as raízes, a ponto de prejudicar o crescimento da muda. Convém que um bom recipiente apresente as seguintes carac;ticas: Ter boa resistência para suportar a pressão devida ao peso do substrato e da muda. Permitir que a planta tenha um rápido desenvolvimento inicial. Acondicionar o volume adequado de substrato. Possuir bom sistema de drenagem. Possibilitar boa retenção da umidade. Permitir boa retenção do substrato. Ter durabilidade, a ponto de resistir durante todo o processo de produção da muda. Ser de fácil manejo, quando da transferência (leveza e resistência). Ter baixo custo de aquisição. • Ser reutilizável, ou construído com material facilmente reciclável. Mesmo que um recipiente não reuna todas essas qualidades, deve- se selecionar aquele que reuna o maior número de vantagens, pois isso está estreitamente relacionado com a eficiência do sistema de propagação e da viabilidade do uso de recipientes. Assim, a escolha do recipiente deve considerar as qual idades de cada material, o método de propagação e os efeitos que ele proporciona sobre o crescimento da muda. Vários são os recipientes utilizados na produção de mudas frutíferas. Entre esses, podem ser citados: sacos de plástico, tubetes, citropotes, bandejas de plástico ou de isopor, caixas de madeira ou de metal, vasos de plástico, entre outros. A seguir, serão descritos alguns dos principais recipientes utilizados na propagação comercial de plantas frutíferas: Sacos de plástico São recipientes que podem apresentar as mais diferentes dimensões, tais como 8 cm (diâmetro) x 12 cm (altura) e 25 cm (diâmetro) x 25 cm (altura). Normalmente, apresentam coloração preta ou escura, para impedir o desenvolvimento de algas e de plantas invasoras dentro do recipiente e proporcionar melhores condições de desenvolvimento para as raízes. Perfurados na base, para drenagem da água, são muito versáteis, adaptando-se a uma grande variedade de situações, além de terem baixo custo de aquisição, serem reutilizáveis e de fácil manejo (Fig. 2). 16 Fig. 2. Mudas cítricas obtidas em embalagens de plástico. Contudo, se o plástico for de pouca espessura, esses recipientes rompem-se facilmente com o peso do substrato ou devido ao crescimento das raízes. Além disso, as perfurações devem estar localizadas próximo à base da embalagem. Caso contrário, não permitem um bom escoamento da água em excesso, prejudicando o crescimento da muda. No momento da aquisição, é importante atentar para a qualidade do plástico, além do número e a posição das perfurações. Tubetes São recipientes de formato cônico, construídos em plástico rígido e de cor escura. Internamente, apresentam estrias que dificultam o enovelamento das raízes. Podem acondicionar diferentes volumes de substrato. Para o uso dos tubetes, é necessário um sistema de suporte, que pode ser uma bandeja de isopor, plástico ou metal, bem como uma bancada com fios de arame distanciados, para possibilitar a colocação dos mesmos. Assim, os tubetes ficam suspensos, de modo que a base destes ficam expostas ao ar, proporcionando a denominada poda das raízes pelo vento. Apresentam a vantagem de serem reutilizáveis várias vezes, além de permitirem a produção de um grande número de mudas por unidade de área. Por serem unidades independentes, os tubetes permitem a seleção das mudas com a embalagem. Por disporem de pequeno volume de substrato, requerem que se retire a muda tão logo as raízes ocupem todo o substrato. Por isso, são úteis para a primeira etapa da propagação, além de necessitarem de irrigações periódicas, visto que o substrato facilmente se desidrata. Dependendo do substrato, o tubete pode não reter o mesmo, que é perdido pelo orifício na base (Fig. 3). 17 Fig. 3. Porta-enxerto de citros produzidos em tubetes. Bandejas Podem ser confeccionadas em plástico, normalmente apresentando um espaço único e contínuo para acondicionamento do substrato. Também podem ser feitas de poliestireno expandido (isopor), constituídas de um número variável de células, onde é feita a produção da muda. As células apresentam forma piramidal invertida, com capacidade de até 120 cm3 de substrato por célula. Na base, a célula apresenta um orifício para escoamento da água. As bandejas podem ser reutilizadas várias vezes. Como os tubetes, elas são úteis na primeira etapa da propagação, pois acondicionam pequeno volume de substrato. Preferencialmente, as bandejas devem ficar suspensas, permitindo a poda pelo vento. A durabilidade da bandeja está em função do ambiente onde é feita a propagação e do cuidado no manuseio das mesmas. Para uma dada espécie, em sistemas tradicionais de propagação (viveiros), podem ser produzidas cerca de 25 mil a 30 mil mudas por hectare, enquanto com uso de bandejas, podem ser produzidas cerca de 200 mil mudas por hectare. Citropotes Também conhecidos como containers, esses recipientes são assim denominados por serem desenvolvidos e difundidos para produção de mudas cítricas. São confeccionados em plástico preto rígido e acondicionam grande volume de substrato, permitindo que a muda seja mantida nesse recipiente desde a repicagem (produzida em tubetes ou bandejas) até a comercialização. Os citropotes apresentam diversas vantagens, dentre as quais a facilidade de manuseio, a possibilidade de produção de mudas numa mesma área por vários anos, desde que o substrato seja oriundo de local isento de patógenos e o plantio da muda no pomar não apresente danos ao sistema radicular. Uma das principais limitações ao uso do citropote é o custo elevado. Na propagação por sementes, usam-se sacos de plástico, bandejas e tubetes. Na propagação por estacas, é mais comum o uso de sacos de plástico, embora, até o momento, ensaios feitos com bandejas e tubetes tenham proporcionado resultados bastante promissores. 18 Controle fitossanitário A dificuldade em encontrar mudas de qualidade tem se constituído num dos mais sérios problemas com que se defronta o produtor de frutas. A qualidade sanitária da muda é, sem dúvida, um dos componentes mais importantes, tendo reflexo direto no desenvolvimento das plantas e na produtividade do pomar. Uma das dificuldades encontradas é que, geralmente, o produtor brasileiro não encontra, no mercado, mudas com garantia de isenção de doenças e pragas. A escaldadura das folhas da ameixeira - causada pela bactéria Xylella fastidiosa - é um exemplo. Cultivares sensíveis a esse patógeno, quando contaminadas, morrem em 3 anos. Como a doença é transmitida por cigarrinhas, se existir uma planta contaminada no pomar, a contaminação de outras plantas é praticamente inevitável. A maioria das cultivares de ameixeira japonesa, melhor adaptadas ao clima brasileiro, é sensível a essa bactéria, variando apenas o tempo que as plantas levam para morrer. A gravidade dessa doença é tanta que váriasregiões produtoras tiveram pomares dizimados, só retornando ao cultivo a partir da limpeza c10nal e produção de mudas sadias. Em outras regiões do mundo, onde ocorre essa doença, o cultivo da ameixeira praticamente desapareceu, como aconteceu na Região do Delta, na Argentina, e no sudeste dos Estados Unidos. Em 1975, a escaldadura, doença cujo agente causal é uma bactéria Xy/ella fastidiosa, foi diagnosticada no Sul do Brasil. Em Santa Catarina, por exemplo, a área de ameixeiras era de cerca de 400 ha, regredindo para menos de 50 ha, em 1982. Voltou, então, a crescer, com a obtenção de mudas isentas de bactéria. Com a pressa de plantar, devido aos altos preços da ameixa no mercado, esqueceu-se de questionar as garantias de sanidade das mudas e os riscos de contaminação, a partir de ameixeiras doentes, nas proximidades do pomar. A freqüente incidência de doenças tem sido responsável pela baixa qualidade das mudas produzidas, acarretando sérios prejuízos, tanto nas fases de sementeira e viveiro, como no plantio definitivo. Apesar de não se manifestarem nas fases de sementeira e viveiro, algumas doenças são introduzidas e disseminadas principalmente por material de propagação. A utilização de material propagativo sadio é de fundamental importância para a formação de pomares livres de patógenos, que causam queda na produtividade e longevidade das plantas. Com relação ao controle fitossanitário, recomenda-se usar os tratamentos indicados para todas as pragas e doenças que ocorrem no pomar, por meio de controle integrado ou de medidas como a limpeza e a desinfestação das ferramentas usadas nos viveiros e pomares, até o cuidado com mudas e borbulhas dos novos plantios. Em plantas frutíferas propagadas vegetativamente, a importância das doenças causadas por vírus é grande, pois todas as plantas obtidas de uma planta infectada também se apresentarão com o patógeno. A maioria dos vírus, viróides e fitoplasmas é transmitida por enxertos. Contudo, há alguns que são transmitidos por insetos, nematóides, sementes ou mecanicamente. Nas espécies frutíferas, a transmissão por enxertia é mais comum e os cuidados devem ser redobrados para se evitar a infecção de todo o viveiro. Tratando-se de plantas em viveiro, não se pode confiar em inspeções visuais, ou seja, na identificação de plantas doentes apenas por sintomas visíveis a olho nu, porque muitas doenças não se manifestam no período do viveiro, havendo algumas que levam anos para apresentar sintomas visíveis, ou mesmo aquelas que nunca os apresentam. 19 A melhor recomendação de controle é o uso de material sadio. Para isso, é necessário que se faça a multiplicação apenas a partir de plantas indexadas, isto é, testadas e isentas dos vírus que ocorrem na cultura. Se o material infectante for importante como variedade, poderá passar por um processo de limpeza, no qual poderá ser utilizada a termoterapia ou cultura de meristema. Após passar por esse processo de limpeza, o material deve ser novamente indexado e, uma vez isento dos supostos patógenos, será liberado para multiplicação. É importante observar que não só as borbulheiras devem ser indexadas, mas também os porta-enxertos, pois estes podem estar infectados e transmitir o vírus para a copa. É possível diminuir os danos causados por um vírus pelo uso do fenômeno da proteção cruzada, aquela conferida a uma planta infectada, sistematicamente, por uma estirpe de um vírus contra outras do mesmo vírus. Se a estirpe que infecta a planta em primeiro lugar é fraca, isto é, causa poucos danos, a planta ficará protegida contra infecção por estirpes fortes. Inoculando-se as mudas no viveiro com uma estirpe sabidamente fraca, consegue-se, então, obter-se plantas protegidas contra as fortes que ocorrem naturalmente e irão infectar as plantas no campo. Essa é a chamada pré-imunização, largamente usada em pomares cítricos paulistas, para protegê-los contra o vírus-da-tristeza. Nesse caso do vírus-da-tristeza, optou-se pela pré-imunização, pois o vírus é transmitido por pulgões e o uso de material sadio não resolveria o problema, uma vez que todas as plantas ficariam expostas no campo, ao ataque do vetor. Assim, só devem ser multiplicadas plantas que tenham sido submetidas a testes de sanidade. Todas as matrizes devem ser testadas periodicamente, pois uma planta considerada sadia pode se tornar infectada. As pragas que atacam as mudas nas sementeiras e viveiros podem causar grandes prejuízos, tanto ao crescimento das mudas quanto à sua qualidade final. o crescimento e brotação contínuos das plantas jovens propiciam o ambiente ideal para a rápida expansão das populações de diversas pragas. Por isso, a atenção em viveiros de mudas é indispensável. De modo geral, pode-se afirmar que o primeiro passo para o controle de uma praga, no pomar, é dado no controle fitossanitário no viveiro, pois isso dificultará a disseminação das pragas por meio das mudas. Dependendo da cultura, as pragas que prejudicam as mudas em viveiros são pulgões, lagartas, formigas, cigarrinhas, ácaros e nematóides. Às vezes, as pragas de raízes e os nematóides não são detectados nos viveiros, mas adquirem grande importância porque são observados apenas depois de alguns anos da formação do pomar, uma vez que as mudas são o principal meio para dispersão dessas pragas. Em todos os casos de infestação por nematóides, o principal método de controle é o preventivo, mediante o plantio de mudas isentas do patógeno. Assim, é necessário o exame de mudas, para evitar a disseminação de nematóides em áreas não-infestadas. Às vezes, a escolha de órgãos propagativos sadios é suficiente para manter o viveiro livre ou, pelo menos, com baixa população de pragas. É bom lembrar que o controle fitossanitário em sementeiras, viveiros e em plantas- matrizes fornecedoras de material propagativo é feito de acordo com as necessidades. Esse controle deve ser monitorado utilizando se os produtos de forma correta, preservando a integridade do meio ambiente e a saúde do trabalhador. Quando da aplicação de controle químico, deve-se dar preferência a produtos de baixa toxicidade humana e, em ripados ou viveiros fechados, aos inseticidas granulados 20 sistêmicos para controle de insetos sugadores. Detectando-se a presença de inimigos naturais das pragas, deve-se, pelo menos, utilizar produtos químicos seletivos. Controle de plantas invasoras Uma boa condução e formação de mudas exige uma série de operações que estão estreitamente relacionadas, tais como: seleção das plantas-matrizes, copas e porta- enxertos, controle de pragas e doenças, além de tratos culturais adequados. Dentro desse aspecto, o controle de plantas invasoras, tanto em sementeiras como em viveiros, é de grande importância. Modernamente, tem-se propagado, principalmente, porta-enxertos, como é o caso específico de mudas cítricas, por tubetes, bandejas ou si m i lares. Essa metodologia permite a utilização de substratos tratados, isentos de plantas invasoras e garante maior controle de pragas e doenças. Entretanto, na segunda fase de propagação, com a utilização de viveiros, o controle de plantas invasoras é fundamental, porque nesse local é onde serão realizadas todas as operações que resultarão numa muda de boa qualidade. Inicialmente definido como área de terreno destinada à produção de mudas, onde as mesmas são formadas até irem para o campo, o termo viveiro, neste caso, tem um conceito mais abrangente por englobar estruturas como sementeiras, valetas para estratificação, áreas para plantio de porta-enxertos, casas de vegetação, câmaras de nebulização e coberturas de tela de plástico. Também estão relacionados materiais como sacos de polietileno, tubetes, vasos, bandejas de isopor, componentes de substrato como solo, areia,esterco, compostos orgânicos, cascas e palhas, vermiculita, casca de madeira triturada, terriço, etc. Nesse caso, a correlação entre o enviveiramento de mudas frutíferas e os possíveis problemas com plantas invasoras têm um sentido amplo, que envolve cuidados e práticas bem distintas, de acordo com a fase de produção da muda e a metodologia utilizada. O conceito de planta invasora ou daninha baseia-se na presença indesejável de uma planta, em relação ao homem, quando prejudicaria direta ou indiretamente sua saúde, a produção agropecuária ou outras atividades de interesse econômico. O conceito de indesejabilidade fica claro em definições como "uma planta que ocorre onde não é desejada", ou "uma planta fora do lugar". Assim, uma determinada planta poderá ser considerada invasora, indiferente ou útil, dependendo do tempo e local onde ela ocorre. No caso específico de viveiros, a presença de outras plantas, que não sejam as mudas, sempre é considerada danosa ou prejudicial. Existem cinco métodos de controle de plantas daninhas, distintos dos processos de prevenção e de erradicação. Prevenção é a utilização de métodos para se evitar uma infestação ou reinfestação, enquanto a erradicação é a eliminação de uma população. Deve-se considerar que viveiros de produção de mudas - em seu sentido amplo, como mencionado anteriormente - podem apresentar peculiaridades que diferem de uma cultura em larga escala em campo, tais como: Os viveiros em campo normalmente ocupam áreas reduzidas atingindo, quando muito, alguns poucos hectares. Formação de mudas, em alguns casos, com todas as etapas diretamente em recipientes. Espaçamentos reduzidos, quando as mudas estão instaladas em viveiro no campo. Elevado número de tratos culturais e práticas especiais, realizados com freqüência, exigindo que durante o enviveiramento as mudas estejam livres de 21 plantas invasoras. Ciclo de produção variável, de 3 a 24 meses. Limitações, quanto à presença de plantas invasoras impostas pela legislação. As mudas são plantadas jovens e de pequeno porte, sendo mais frágeis e sensíveis do que as plantas adultas. Assim, independentemente do método utilizado, as particularidades, inerentes a um viveiro devem ser observadas. Controle manual de plantas invasoras Recomendável no caso de formação de mudas diretamente em recipientes (sacos de plástico, vasos, tubetes ou bandejas de isopor), bem como em sementeira, fazendo-se o arranquio das plantas invasoras com as mãos. O arranquio manual pode danificar as raízes da muda, quando as invasoras atingem um estágio de desenvolvimento mais avançado. O uso da enxada também é apropriado para pequenas áreas e espaçamentos reduzidos - como no caso de viveiros - podendo ser utilizada como componente de um sistema integrado de controle. Esse método dependerá, naturalmente, da disponibilidade de mão-de-obra, estimada em 10-15 DH/ha/capina, devendo-se considerar que o número de capinas, por ano, poderá ser de 6 a 8. Controle mecânico de plantas invasoras O uso de cultivadores de tração animal, de modelos e dimensões variadas, poderá ser feito em alguns tipos de viveiros instalados em campo, desde que se observem os cuidados necessários, considerando-se o porte reduzido das mudas e a fragilidade das mesmas. É um método que poderá fazer parte de um sistema integrado, de baixo custo, bom rendimento e não-agressivo ao ambiente, mas pouco eficiente para o controle de plantas Invasoras perenes. A utilização de equipamentos de tração mecânica, tais como enxada rotativa, grades e roçadeiras, é praticamente descartada em viveiros, pelas particularidades já mencionadas anteriormente. Controle cultural de plantas invasoras Relacionam-se como métodos culturais, a rotação, a consorciação de culturas, o uso de plantas companheiras (leguminosas) e práticas de manejo. Entre esses, e especificamente em viveiros, seria recomendável após o arranquio das mudas, fazer-se a alternância com outra cultura na mesma área (1 a 2 anos). Pode-se relacionar a cobertura da superfície do solo com restos vegetais ou filme de plástico, denominada cobertura morta. Ela mantém a umidade, protege o solo contra erosão, evita o desenvolvimento de plantas invasoras, acumula matéria orgânica e nutrientes, e eleva a atividade microbiana. A escolha de resíduos orgânicos para coberturas de viveiros deve ser feita mediante as seguintes observações: Possibilidade de conterem sementes de plantas invasoras. Ocorrência de fermentação. Liberação de substâncias tóxicas às mudas. Possibilidade de disseminar ou aumentar a incidência de doenças e pragas. • Disponibilidade do material (10 - 20 t/ha). Entre os materiais mais comuns e disponíveis, há o bagaço de cana, a palha de trigo, o arroz e a casca de arroz. Quanto ao filme de plástico, deve-se avaliar a 22 viabilidade econômica do seu uso. Controle biológico de plantas invasoras Consiste num método que procura manter uma população de plantas invasoras que não cause danos econômicos, usando-se um agente biológico (por exemplo, fungos). A utilização de bioerbicidas ainda é pouco pesquisada e não é utilizada em larga escala. Controle químico de plantas invasoras o uso de herbicidas sintéticos, em associação com o método manual, é a forma mais utilizada nos vários sistemas de produção de mudas. Para se escolher um herbicida, várias características devem ser consideradas, tais como: Ser ativo biologicamente e de baixo custo/benefício. Ser ecologicamente seguro ao aplicador e ao público. Ser de fácil aplicação. Ser compatível com outros químicos. • Apresentar alta margem de segurança às culturas. Destaca-se ainda o aspecto relacionado à sua seletividade, ou seja, um herbicida é seletivo quando matar ou retardar o crescimento de uma planta, sem afetar outras. Quando se diz que o produto é seletivo para folhas largas, significa que as espécies de folhas largas são resistentes, ou tolerantes ao produto, e o mesmo irá eliminar as demais. Essa seletividade depende das características físico-químicas do herbicida, da resistência da planta e do meio ambiente. Deve-se considerar que, em viveiros, trabalha-se com sementes, estacas, gemas e garfos, ou seja, estruturas vegetais que irão originar brotações e plantas inicialmente frágeis, herbáceas e bastante sensíveis. Assim, os cuidados devem ser maiores do que quando se aplicam herbicidas em áreas com frutíferas já adultas e apresentam maior resistência. A escolha do herbicida é função da recomendação para cada espécie frutífera e da invasora a ser controlada. Para tanto, deve-se tomar todos os cuidados para prevenir a ocorrência de deriva, contaminação da água, do solo e do próprio aplicador. 23 Formas de Propagação de Plantas Frutíferas Introdução A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar as espécies de forma controlada. Seu objetivo é aumentar o número de plantas, garantindo a manutenção das características agronômicas essenciais das cultivares. Os métodos de propagação podem ser agrupados em dois tipos: propagação sexuada, que se baseia no uso de sementes, e propagação assexuada, baseada no uso de estruturas vegetativas. Fundamentalmente, a diferença entre as duas formas de propagação é a utilização e a ocorrência da mitose e da meiose. Enquanto na propagação assexuada a divisão celular implica na multiplicação simples (mitose), mantendo o número de cromossomos inalterado, na propagação sexuada a meiose proporciona a redução do número de cromossomos. A propagação por sementes ocorre na maioria das plantas cultivadas e pode ser utilizada, também, na obtenção de mudas de plantas frutíferas. Esse método é responsável pela variaçãopopulacional e pelo surgimento de novas variedades, uma vez que na natureza, predomina a polinização cruzada, que assegura o maior intercâmbio de genes dentro de uma mesma espécie. Na produção comercial de mudas, a propagação assexuada é, por vezes, mais importante que a propagação sexuada, especialmente em plantas frutíferas, por diversas razões, entre as quais: Normalmente, é mais rápida que a propagação por sementes. O período improdutivo é mais curto. Permite a produção de plantas idênticas à planta-mãe, o que é importante na preservação das características agronômicas desejáveis. Isso não ocorre na propagação sexuada, devido à recombinação dos genes. A preferência pela reprodução sexuada ou assexuada é dada conforme: A facilidade de germinação da semente. O número de plantas que podem ser produzidas pelo método de propagação. A importância da preservação dos caracteres agronômicos das plantas-matrizes. Os ciclos reprodutivos das plantas podem ser visualizados na Fig. 1, na qual estão especialmente destacadas: 24 Fase juvenil ou juvenilidade A fase juvenil, também denominada juvenilidade, é o período em que a planta tem pouca resposta aos estímulos indutores do florescimento (fotoperíodo, frio, fitohormônios e outros). Essa fase é um período de longa duração (2 anos ou mais), marcado pela ausência de produção e pela presença de algumas características, tais como espinhos, elevado vigor e morfologia diferenciada das folhas. Fase de transição Segue-se a essa etapa uma fase de transição, na qual há uma resposta parcial aos estímulos indutores, resultando na produção de poucas flores. Fase adulta Na fase adulta, há uma resposta plena a tais estímulos indutores, resultando em elevação da produção de frutas e de material propagativo, para fornecer estacas, gemas ou outras estruturas de propagação. Assim, plantas propagadas, vegetativamente, apresentarão uma fase improdutiva menor, na qual há uma área foliar insuficiente, para a percepção dos estímulos indutores do florescimento e para o sustento da produção de frutos. Uma vez superado esse estágio, a planta atingirá a fase reprodutiva ou adulta. Entretanto, se forem utilizados propágulos de plantas em fase juvenil ou de transição, será necessário superar a juve- nilidade e alcançar a área foliar adequada, o que representa um período improdutivo mais longo. Quando uma planta é produzida por outro método de propagação, tal como a estaquia, a enxertia, a mergulhia e a micropropagação, em geral, o desenvolvimento segue a mesma seqüência daquela planta obtida por semente, descartando-se a etapa da germinação, embora a duração do período vegetativo seja menor. Essa menor duração da fase vegetativa, quando da reprodução assexuada, deve-se à utilização de material cal h ido em partes da planta-matriz, que já ultrapassaram a fase juvenil. Propagação sexuada É o processo onde ocorre a fusão dos gametas masculinos e femininos para formar uma só célula, denominada zigoto, no interior do ovário, após a polinização. Esses gametas podem ser provenientes de uma mesma flor, ou de flores diferentes de uma mesma planta (autopolinização) ou, ainda, de flores pertencentes a plantas diferentes (polinização cruzada). Do desenvolvimento do zigoto é produzida uma semente que originará uma nova planta, com genótipo distinto dos progenitores, devido à troca de informação genética na fecundação. Quando as plantas-matrizes são homozigotas e a autofecundação é predominante, os descendentes apresentarão características muito semelhantes às plantas que os originaram. Entretanto, como na natureza predomina a polinização cruzada, a segregação genética induzida pela reprodução sexual assume grande importância. Na reprodução sexuada, o embrião é, obrigatoriamente, proveniente do zigoto. Entretanto, no caso de sementes apomíticas, há formação de mais de um embrião, que podem ser oriundos, além do zigoto, de um conjunto de células do saco embrionário ou da nucela, com a mesma constituição genética do progenitor feminino. Mesmo que as técnicas de utilização de sementes apomíticas sejam semelhantes às da propagação sexuada, o método de propagação de plantas por apomixia é considerado por muitos autores como um processo de propagação assexuada. Esse processo é muito 25 comum em plantas cítricas, e sua utilização é limitada à obtenção de clones novos ou clones nucelares a partir de plantas que produzem sementes poliembriônicas (Fig. 2 e 3). Na propagação por sementes, é comum o uso do termo seedling para designar plantas jovens propagadas desse modo, que poderão ser utilizadas como porta-enxertos ou como pés-francos. A reprodução sexuada é o principal mecanismo de multiplicação das plantas superiores e de, praticamente, todos os angiospermas. A população proveniente da reprodução sexuada apresenta variabilidade genética, devido à segregação e à recombinação de genes. Em muitas espécies, esse tipo de propagação é o processo natural de disseminação. Mesmo que a variação das características entre os descendentes possa ser significativa, há casos em que a semente é a única forma de propagação viável. Quanto menor a manipulação de uma espécie pelo homem, tanto maior a significância desse tipo de reprodução, fato especialmente observado no caso de frutíferas nativas, pouco submetidas ao melhoramento genético. Em fruticultura, a propagação por sementes tem as seguintes finalidades: Obter porta-enxertos ou cavalos. Criar novas cultivares. Formar mudas de espécies que suportam bem a propagação sexuada, 26 conservando suas características. Para algumas espécies frutíferas, a propagação sexuada é ainda útil nos seguintes casos: Na obtenção de clones nucelares (ou cultivares revigoradas, o que é comum em espécies cítricas). Na obtenção de plantas homozigotas . Na propagação de plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio. A principal desvantagem da propagação por sementes, além da segregação genética nas plantas heterozigotas, que provoca dissociação de caracteres, é o longo período exigido por algumas plantas para atingir a maturidade. Contudo, existem exceções, como é o caso do maracujazeiro, cujo período improdutivo é semelhante entre plantas oriundas de propagação sexuada e assexuada. Uma das características da propagação por sementes é a variação que pode existir dentro de um grupo de plântulas. Na natureza, essa propriedade é importante, uma vez que torna possível a adaptação contínua de uma determinada espécie ao meio. Em cada geração, os indivíduos que estejam melhor adaptados a esse ambiente tendem a sobreviver e a produzir a geração seguinte. A propagação por sementes é um método eficiente para produzir plantas livres de doenças. Tem sido observado que vírus, nematóides e outros parasitas deletérios (nocivos) são comumente expurgados pela linha reprodutiva próxima à meiose ou pela meiose, e que, no entanto, são transmitidos e continuam a acumular em indivíduos de um done propagado vegetativamente. As sementes podem ser usadas como um filtro para algumas viroses, pois estas não se transmitem pela semente botânica, com algumas exceções. As vantagens e as desvantagens do uso da propagação sexuada em fruticultura encontram-se na Tabela 1. Plantas propagadas por sementes apresentam o fenômeno da juvenilidade, uma fase normalmente de longa duração, na qual a planta não responde aos estímulos indutores do florescimento. Plantas em estado juvenil tendem a apresentar características tais como a presença de espinhos, folhas lobuladas, ramos trepadores, fácil enraizamento e menor teor de RNA (ácido ribonucléico). Durante a juvenilidade, não há produção de frutos,o que acarreta um prolongamento do período improdutivo do pomar. O porte mais elevado pode representar uma desvantagem nas práticas de manejo do pomar, como na poda, no raleio, na colheita e em tratamentos fitossanitários. Além disso, a propagação sexuada pode induzir à desuniformidade das plantas e da produção, normalmente indesejadas em pomares comerciais. O desenvolvimento vigoroso e a maior longevidade das plantas, propagadas por sementes, podem estar associados à formação de um sistema radicular pivotante, mais vigoroso e mais profundo do que o sistema fasciculado, encontrado em plantas 27 propagadas por estacas. Muitos agentes causais de doenças, como vírus, bactérias, fungos e fitoplasmas não são transmitidos por meio das sementes, de modo que plantas obtidas por propagação sexuada tendem a apresentar melhor condição fitossanitária. Mesmo que a longevidade de plantas propagadas por sementes seja maior, um inconveniente da utilização dessas como porta-enxertos é o condicionamento da vida útil da copa a uma baixa longevidade do porta enxerto. Isso ocorre na enxertia de ameixeira sobre pessegueiro, na qual a vida útil da ameixeira, normalmente de 30 anos, fica reduzida a 15 anos, que é a vida útil do pessegueiro (porta-enxerto). Propagação assexuada A propagação assexuada, vegetativa ou agâmica é o processo de multiplicação que ocorre por mecanismos de divisão e diferenciação celular, por meio da regeneração de partes da planta-mãe. Esse tipo de propagação baseia-se nos seguintes princípios: Totipotencialidade As células da planta contêm toda a informação genética necessária para a perpetuação da espécie (totipotencialidade). Regeneração de células As células somáticas e os tecidos apresentam a capacidade de regeneração de órgãos adventícios. A propagação vegetativa consiste no uso de órgãos da planta, sejam eles estacas da parte aérea ou da raiz, gemas ou outras estruturas especializadas, ou ainda meristemas, ápices caulinares, calos e embriões. Assim, um vegetal é regenerado a partir de células somáticas, sem alterar o genótipo, devido à multiplicação mitótica. O uso desse tipo de propagação permite a formação de um clone, grupo de plantas provenientes de uma matriz em comum, ou seja, com carga genética uniforme e com idênticas necessidades edafodimáticas, nutricionais e de manejo. Enquanto em fruticultura a propagação sexuada tem importância restrita, a propagação assexuada é largamente utilizada na produção de mudas. Isso se deve à necessidade de se garantir a manutenção das características varietais, que determinam o valor agronômico do material a ser propagado, em espécies de elevada heterozigose, como as frutíferas. A utilização da propagação assexuada diz respeito à multiplicação, tanto de porta- enxertos, quanto da cultivar-copa. A importância e a viabilidade da utilização da propagação assexuada são uma função da espécie ou da cultivar, da capacidade de regeneração de tecidos (raízes ou parte aérea), do número de plantas produzidas, do custo de cada processo e da qualidade da muda formada. De modo geral, o uso da propagação assexuada justifica-se nos seguintes casos: Propagação de espécies e cultivares que não produzem sementes viáveis, como, por exemplo, limão-tahiti, laranja-de-umbigo e figueira. Perpetuação de clones, pois as frutíferas são altamente heterozigotas e perderiam suas características com a propagação sexuada. A escolha do método a ser utilizado depende da espécie e do objetivo do propagador. Basicamente, um bom método de propagação deve ser de baixo custo, fácil execução e proporcionar um elevado percentual de mudas obtidas. Dada a sua larga utilização na multiplicação de plantas frutíferas, a propagação assexuada apresenta diversas vantagens, que a torna, muitas vezes, mais viável que a 28 propagação sexuada. São vantagens da propagação assexuada: Permitir a manutenção do valor agronômico de uma cultivar ou done, pela perpetuação de seus caracteres. Possibilitar que se reduza a fase juvenil, uma vez que a propagação vegetativa mantém a capacidade de floração pré-existente na planta-mãe. Assim, há redução do período improdutivo. Permitir a obtenção de áreas de produção uniformes devido à ausência de segregação genética. Assim, plantas obtidas por propagação assexuada apresentam maior uniformidade fenológica, bem como resposta idêntica aos fatores ambientais, o que permite uma definição mais fácil das práticas de manejo a serem executadas no futuro pomar. Permitir a combinação de clones, especialmente quando a enxertia é utilizada. Como desvantagens da propagação assexuada, podem ser apontadas: A possibilidade de transmissão de doenças, especialmente as causadas por vírus e fitoplasmas. A possibilidade de contaminação do material utilizado na propagação vegetativa (estacas, ramos e gemas) por vetores ou pelo uso de ferramentas. O uso prolongado das mesmas plantas-matrizes aumenta o risco de propagação de doenças. Os patógenos associados à propagação vegetativa induem fungos (Phytophthora sp., Pythium sp., Rhizoctonia sp.), bactérias (Erwinia sp., Pseudomonas sp. e Agrobacterium tumefasciens), vírus e fitoplasmas. Ainda que a manutenção dos caracteres seja citada como uma vantagem, pode ocorrer, ao longo do tempo, uma mutação das gemas, podendo ser gerado um clone diferenciado e de menor qualidade que a planta-matriz. Entre plantas de um clone, podem ocorrer mudanças que resultam em degenerescência e variabilidade do mesmo. A exposição a um ambiente continuamente desfavorável pode conduzir à deterioração progressiva do done, manifestada em perda gradual do vigor e da produtividade, ainda que o genótipo básico não se altere. A degenerescência do done é causada, principalmente, por doenças de natureza virótica. O uso inadvertido das mesmas matrizes, sem que uma prévia indexagem tenha sido realizada, aumenta o risco de propagação de doenças e de degenerescência do done. Além disso, a replicação do DNA (ácido desoxirribonucléico), durante a divisão celular no meristema, pode resultar em alterações no genótipo e originar mutações. Na variabilidade de um c1one, o efeito da mutação depende da taxa de mutação e da extensão que as células oriundas da célula mutante original ocupam dentro do meristema. Entretanto, como as células do meristema são relativamente estáveis e menos sujeitas a mutações, a significância das mutações, em boas condições fitossanitárias, é reduzida. A ausência de variabilidade gerada no c10ne pode levar a problemas na futura área de produção, aumentando o risco de danos em todas as plantas por problemas climáticos ou fitossanitários, uma vez que foram fixadas todas as características varietais e todas as plantas têm a mesma combinação genética. As principais vantagens e desvantagens da propagação assexuada são resumidas na Tabela 2. 29 Geralmente, espécies frutíferas que se propagam, assexuadamente, são altamente heterozigotas e segregam amplamente, quando se reproduzem por via sexuada. Assim, a propagação assexuada é imprescindível em casos onde há interesse em se manter a identidade do genótipo, ou seja, obter-se um número infinito de plantas, com a mesma constituição genética, a partir de um único indivíduo. A propagação assexuada é especial mente útil para manter a constituição genética de um c10ne ao longo das gerações. O clone é definido por Hartmann et ai. (1990) como "o material geneticamente uniforme derivado de um só indivíduo e que se propaga de modo exclusivo, por meios vegetativos como estacas, divisões ou enxertos". O clone também pode ser conceituado como "um grupo de organismos que descendem por mitoses de um antecessor comum". Como o fenótipo de um indivíduo
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