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APOSTILA DE FRUTICULTURA GERAL APRESENTAÇÃO 2 0 1 4 MATERIAL DIDÁTICO FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 2 AUTORES RAILENE HÉRICA CARLOS ROCHA FRANCISCO TARCÍSIO LUCENA GUILHERME VELOSO DA SILVA IVANDO COMANDANTE DE MACEDO SILVA JACKSON SILVA NOBREGA JERFFESON ARAÚJO CAVALCANTI JOSEANO GRACILIANO DA SILVA NATALI ALMEIDA EVANGELISTA PEREIRA ODAIR HONORATO DE OLIVEIRA PEDRO JORGE DA SILVA SEVERO FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 3 Apresentação Nossa primeira apostila da disciplina de fruticultura geral é uma iniciativa da professora Dr. Railene Hérica Carlos Rocha juntamente com o grupo PET Agronomia CCTA/UFCG, que tem por objetivo contribuir com a qualidade do ensino da referida disciplina, auxiliando os alunos no conteúdo teórico e prático. Esta apostila é uma coletânea de informações colhidas na literatura existente e de aspectos práticos do dia a dia, não tem qualquer pretensão de ser um trabalho de pesquisa, apenas aperfeiçoar o conhecimento dos alunos e servir de alternativa além dos livros específicos da disciplina. Assim, esta publicação foi estruturada de forma simples e objetiva com instruções sobre a importância, conceitos, práticas e cuidados relacionados à instalação e manutenção de pomares, além de práticas de colheita e beneficiamento de frutas e outras práticas agrícolas. No momento em que o país promove incentivos a ações sociais voltadas para a melhoria da qualidade alimentar da população, através dos programas do governo federal, o grupo PET Agronomia acredita que esta iniciativa irá contribuir, também, com a melhoria do curso de graduação do Centro de Ciência e Tecnologia Agroalimentar da Universidade Federal de Campina Grande. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 4 Sumário CAP. 1 - INTRODUÇÃO À FRUTICULTURA .................................................................. 11 1. DEFINIÇÃO ............................................................................................................. 11 2. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA .............................................................. 11 2.1.Importância econômica .......................................................................................... 11 2.2. Importância social ............................................................................................. 18 2.3. Importância nutricional ................................................................................... 18 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................... 20 CAP. 2 – PROPAGAÇÃO DE FRUTÍFERAS E PRODUÇÃO DE MUDAS .................... 23 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 23 2. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA .................................................................... 24 2.1. Estaquia ................................................................................................................ 24 2.1.1. Técnicas de estaquia ......................................................................................... 37 2.2. Enxertia .............................................................................................................. 40 2.2.1.Finalidades da enxertia ....................................................................................... 41 2.2.2.Fatores que afetam o pegamento do enxerto ..................................................... 43 2.2.2.1. Incompatibilidade .......................................................................................... 43 2.3. Condições ambientais ....................................................................................... 44 2.4. Outros fatores importantes .............................................................................. 44 3. EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS ..................................................................... 46 4. PROCESSOS DE ENXERTIA ............................................................................... 47 4.1. Borbulhia .............................................................................................................. 47 4.2. Garfagem ........................................................................................................... 49 5.3 Garfagem em fenda dupla ou inglês complicado ............................................... 50 4.3. Encostia .............................................................................................................. 51 5.MERGULHIA ........................................................................................................... 52 5.1.Tipos de mergulhia ................................................................................................. 53 5.1.1. Mergulhia no sol ................................................................................................ 53 5.1.2. Mergulhia aérea ................................................................................................ 54 6. Estruturas especializadas ................................................................................. 55 7. MICROPROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS .................................... 57 8. VIVEIROS PARA PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS ................. 60 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 5 8.1. TIPOS DE VIVEIROS ........................................................................................ 61 9. PREPARO DA ÁREA ............................................................................................. 63 9.1. Viveiro de raiz nua .............................................................................................. 63 9.2. Viveiro em recipientes ...................................................................................... 63 10.CAPACIDADE E EXTENSÃO .............................................................................. 63 10.1. Espécie e espaçamento ...................................................................................... 64 11.INSTALAÇÕES ....................................................................................................... 64 12.QUEBRA-VENTOS ................................................................................................ 65 13.RECIPIENTES ........................................................................................................ 66 13.1. Funções dos recipientes ..................................................................................... 66 13.2. Tipos de recipientes ........................................................................................... 67 14.SUBSTRATOS ......................................................................................................... 68 14.1. Características físicas ........................................................................................ 68 14.2. Características químicas .................................................................................. 70 15.IRRIGAÇÃO ............................................................................................................ 71 15.1. Tipos de irrigação .............................................................................................. 71 16.TRATOS CULTURAIS .......................................................................................... 72 16.1. Transplante ........................................................................................................ 72 16.2. Tratamento da muda, embalagem e classificação .......................................... 72 16.3. Viveirista ............................................................................................................ 73 17.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................73 CAP. 3 – PLANEJAMENTO E INSTALAÇÃO DE POMARES ....................................... 77 1. LOCAL PARA O CULTIVO DE FRUTÍFERAS ................................................ 78 2. Planejamento ............................................................................................................ 79 2.1. Requisitos básicos .............................................................................................. 79 3. INSTALANDO O POMAR ..................................................................................... 80 4. ARAÇÃO E GRADAGEM ..................................................................................... 80 5. INSTALAÇÃO DE QUEBRA-VENTOS .............................................................. 81 6. ESCOLHA DE ESPÉCIES ADAPTADAS ........................................................... 82 7. COLETA DE SOLO ................................................................................................ 82 8. ROTAÇÃO DE CULTURA OU REPLANTIO .................................................... 83 9. Mão-de-obra ............................................................................................................. 83 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 6 10.Abertura das covas e sulcos de plantio .................................................................. 84 11.DENSIDADE DO POMAR ..................................................................................... 87 12. CUIDADOS PÓS-PLANTIO ................................................................................. 89 12.1. Condução do pomar .......................................................................................... 89 13.ADUBAÇÃO EM FRUTEIRAS ............................................................................. 90 13.1.Análise do solo ....................................................................................................... 91 14.MANEJO DA ADUBAÇÃO EM FRUTÍFERAS ................................................. 91 15.ADUBAÇÃO DE FUNDAÇÃO E ADUBAÇÃO DE COBERTURA ................. 92 16.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 94 CAP. 4 – IRRIGAÇÃO EM FRUTEIRAS ........................................................................... 98 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 98 2. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO ................................................................................ 99 2.2. Irrigação localizada ............................................................................................ 99 2.1. Irrigação por aspersão .................................................................................... 100 2.2. Fatores que afetam a escolha do sistema de irrigação ................................. 101 CAP. 5 – PODA EM FRUTEIRAS .................................................................................... 103 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 103 2. IMPORTÂNCIA DA PODA ................................................................................. 103 3. OBJETIVO DA PODA .......................................................................................... 104 4. FISIOLOGIA DA PODA ...................................................................................... 104 5. HÁBITOS DE FRUTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES FRUTÍFERAS 105 6. TIPOS DE PODAS ................................................................................................ 106 6.1. Poda de formação .............................................................................................. 106 6.2. Poda de frutificação ........................................................................................ 107 6.3. Poda de rejuvenescimento .............................................................................. 107 6.4. Poda de limpeza ............................................................................................... 107 7. SISTEMAS DE CONDUÇÃO DE PLANTAS .................................................... 108 8. ÉPOCA DE PODA ................................................................................................. 110 8.1. Poda seca ou hibernal ........................................................................................ 110 8.2. Poda verde ou de verão ................................................................................... 110 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 7 8.3. Poda de outono ................................................................................................ 111 9. INTENSIDADE DE PODA ................................................................................... 111 10. INSTRUMENTOS DE PODA ............................................................................. 111 11.PODA NA GOIABEIRA ....................................................................................... 112 12.PODA NO MARACUJAZEIRO .......................................................................... 114 13.PODA DA MANGUEIRA ..................................................................................... 115 14.REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 118 CAP. 6 - COLHEITA E MANUSEIO PÓS-COLHEITA .................................................. 123 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 123 2. PONTOS CRÍTICOS NO MANUSEIO PÓS-COLHEITA ............................... 124 2.1. DANOS MECÂNICOS ................................................................................... 124 2.2. Danos mecânicos por compressão ................................................................. 124 3. COLHEITA MANUAL ......................................................................................... 125 3.1. Colheita mecanizada ....................................................................................... 126 4. ÍNDICE DE MATURIDADE ................................................................................ 128 4.1. Métodos de observação prática ...................................................................... 128 5. AVALIAÇÃO DA MATURIDADE ..................................................................... 128 5.1.Métodos Subjetivos ............................................................................................... 128 5.2. Métodos objetivos ............................................................................................ 129 6. AVALIAÇÃO DA MATURIDADE ..................................................................... 130 7. COLHEITA E PÓS-COLHEITA DO MELÃO .................................................. 132 8. OPERAÇÕES NO GALPÃO DE EMBALAGEM ............................................. 136 9. MANGA .................................................................................................................. 138 10.COLHEITA E PÓS-COLHEITA DA GOIABA ................................................ 143 10.4. MANEJO PÓS-COLHEITA .......................................................................... 146 10.5. EMBALAGEM ............................................................................................... 149 10.6. ROTULAGEM ................................................................................................ 150 10.7. ARMAZENAMENTO .................................................................................... 150 11.CAJU ....................................................................................................................... 151 12.REFRERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 152 CAP. 13 – PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS ......................................................156 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 8 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 156 2. DEFINIÇÃO ........................................................................................................... 157 3. SITUAÇÃO ATUAL DO SISTEMA DO SISTEMA DE PRODUÇÃO INTREGRADA DE FRUTAS NO BRASIL. ............................................................ 157 4. DESAFIOS .............................................................................................................. 159 5. NORMAS TÉCNICAS PARA A PRODUÇÃO INTEGRADA ......................... 160 6. VANTAGENS DA PRODUÇÃO INTEGRADA ................................................ 160 7. CERTIFICAÇÃO .................................................................................................. 161 8. ANÁLISE COMPARATIVA DOS SISTEMAS PRODUÇÃO INTEGRADA, CONVENCIONAL E ORGÂNICO .......................................................................... 161 9. PRODUÇÃO INTEGRADA E A INDÚSTRIA .................................................. 162 10.QUALIDADE DOS PRODUTOS ........................................................................ 162 11. RASTREABILIDADE ......................................................................................... 163 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 164 CAP. 8 – BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS ....................................................................... 168 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 168 2. FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR NA QUALIDADE DO PRODUTO NA COLHEITA .......................................................................................................... 168 3. PRÁTICAS SANITÁRIAS NO CAMPO ............................................................ 169 3.1. Manejo sanitário ............................................................................................. 169 3.2. Agravantes ....................................................................................................... 170 4. OPERAÇÕES NO GALPÃO DE EMBALAGEM ............................................. 172 4.1. Recepção e pesagem ........................................................................................ 172 4.2. Limpeza e sanitização ..................................................................................... 172 5. EMBALAMENTO ................................................................................................. 175 6. PRÁTICAS SANITÁRIAS PARA EMBALADORES ....................................... 177 7. TRANSPORTE ...................................................................................................... 179 8. SAÚDE E HIGIENE DOS TRABALHADORES ............................................... 180 9. TREINAMENTO ................................................................................................... 181 10.RASTREAMENTO ............................................................................................... 182 11.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 183 12.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 183 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 9 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 10 CAP. 1 – INTRODUÇÃO A FRUTICULTURA FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 11 CAP. 1 - INTRODUÇÃO À FRUTICULTURA 1. DEFINIÇÃO A fruticultura pode ser conceituada como sendo o conjunto de técnicas e práticas aplicadas adequadamente com o objetivo de explorar plantas que produzam frutas comestíveis, comercialmente (FACHINELLO, 2008). A fruticultura é um ramo da agricultura convencional e difere da mesma por necessitar do tratamento individual de cada planta. Enquanto na agricultura, as plantas recebem um tratamento coletivo, isto é, semeia-se e colhe-se como um todo, na fruticultura, para chegar à colheita, além da semeadura, são necessárias operações como: repicagem, transplante, enxertia, condução, poda desbaste, controle fitossanitário e colheita individual, isto é, fruto a fruto, conservação e embalagem (SIMAO, 1998). 2. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA 2.1. Importância econômica A produção mundial de frutas e vegetais tem tido grande avanço nos últimos anos. Só na última década a produção demonstra crescimento a um ritmo anual da ordem de 3 % (três por centos ano -1 ). Em 2011, quase 640 milhões de toneladas de frutas foram coletadas em todo o mundo. O crescimento da produção mundial foi em grande parte impulsionado pela expansão da área na Ásia, especialmente a China, que emergiu como o maior produtor de frutas do mundo, responsável por 20 % da produção mundial. Altas taxas de crescimento de frutas também foram registradas em regiões de deficiência alimentar e de baixa renda como a África Subsaariana e no Sul da Ásia. A produção frutícola promove altos rendimentos por unidade de terra (kg.ha -1 ), assegurando perspectivas promissoras de receita, especialmente para pequenos agricultores, sobretudo em áreas onde o valor da terra é alto e a quantidade, escassa. Ademais, a fruticultura pode contribuir para a redução da pobreza, fornecendo oportunidades de postos de trabalho (FAO, 2013). A importância econômica da fruticultura no mundo pode ser verificada nas figuras abaixo (1 e 2). FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 12 Figura 1: Países produtores de frutas, excluindo o melão (milhões de toneladas, em 2010). Fonte: FAO, Statistics Division (FAOSTAT), 2013. Figura 2: Produção per capita de frutas, excluindo o melão (2000 - 2010). Fonte: FAO, Statistics Division (FAOSTAT), 2013. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, em 2012, o Brasil se destaca entres os grandes produtores mundiais de frutas (excluindo o melão), ocupando a terceira posição do ranking, com 38,3 milhões de FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 13 toneladas produzidas por ano, o que representa 6 % da produção mundial, ficando atrás da China que produz 139,6 milhões de toneladas e da Índia com produção anual de 71 milhões de toneladas. Considerando dados do IBGE de 2012 (Tabela 1), o Brasil produz anualmente (incluindo-se melão) cerca de 40,9 milhões de toneladas de frutas. Da figura 2, constata-se que os continentes América, Oceania e Europa experimentaram ligeira queda da produção per capita (kg/pessoa) entre os anos de 2000 a 2010, enquanto a produção de frutas nos continentes africano e asiático, bem como no mundo, apresentou suave aumento no mesmo período. No Brasil, a fruticultura é praticada em todas as regiões, desde o clima mais temperado da região Sul até o Semiárido Nordestino. A cadeia produtiva da fruticultura brasileira é responsável por boa parte das exportações comerciais, contribuindo para promoção de postos de trabalho e divisas ao país. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) revelam que, em 2013, o volume brasileiro de exportações foi de 778 mil toneladas de frutas (incluindo nozes e castanhas), gerando um montante de mais de 800 milhões de dólares. Observando a evolução das exportações brasileiras de frutas entre os anos de 2003 e 2013, nota-se que a partir do ano de 2008 houve uma queda do volume exportado (Gráfico 1). Essa queda foi decorrente da eclosão da grave crise econômica que atingiu o comércio mundial e persistiu até 2011, onde é possível observar uma discreta elevação das exportações neste e em anos que seguem, reflexo de uma lenta recuperaçãoda economia global. Quadro 1: Exportações de frutas no Brasil – 2012 e 2013. Produtos 2012 2013 Valor (US$ milhões) Quantidade (mil toneladas) Valor (US$ milhões) Quantidade (mil toneladas) Frutas (inclui nozes e castanhas) 910 765 878 778 Frutas frescas e secas 582 595 621 611 Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC. http://agrostat.agricultura.gov.br/ FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 14 Figua 3:. Evolução da receita e quantidade de frutas exportadas do Brasil – 2003/2013. Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC. Segundo recentes dados do IBGE (Tabela 1), no Brasil a laranja lidera o ranking de produção anual nacional (18.012.560 ton.), sendo seguida pela produção de banana (6.902.184 ton.) e melancia (2.079.547 ton.). A citricultura é desenvolvida principalmente no estado de São Paulo, que produziu em 2012, mais de 13 milhões de toneladas da fruta. Analisando-se a produção na região semiárida do Nordeste (Tabela 2), a posição de destaque é ocupada pela banana, como principal frutífera cultivada (1.279.937 ton. ano -1 ), acompanhada da mangicultura (714.184 ton. ano -1 ) e do melão (545.027 ton. ano -1 ). Nesta região a fruticultura é fortemente desenvolvida nos perímetros irrigados, a exemplo da Chapada do Apodi (RN), Várzeas de Sousa (PB), Tabuleiro de Russas (CE), Vale do São Francisco (PE e BA) e Vale do Açu (RN), onde se produz frutas de excelência, que ganham cada vez mais o mercado internacional. Abaixo, estão relacionados os dados que dimensionam a cadeia produtiva da fruticultura a nível nacional, regional e local. Tabela 1 - Áreas colhidas, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção das principais frutas no Brasil – 2012. Cultura Área colhida (Hectares) Quantidade produzida (Toneladas) Valor da produção (Mil Reais) Rendimento (kg/ha) Abacate 9.568 159.903 123.057 16.712,27 Abacaxi* 65.502 1.697.734 1.727.858 25.918,81 Exportações brasileiras de frutas (inclui nozes e castanhas) 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000 1.100.000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Mil US$ Toneladas http://agrostat.agricultura.gov.br/ FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 15 Banana (cacho) 481.116 6.902.184 4.396.349 14.346,20 Cacau 684.333 253.211 1.234.157 370,01 Caqui 8.170 158.241 211.885 19.368,54 Castanha de caju 756.846 80.630 110.743 106,53 Coco-da-baía* 257.742 1.954.354 897.678 7.582,60 Goiaba 15.171 345.332 331.877 22.762,64 Laranja 729.583 18.012.560 4.595.830 24.688,84 Limão 47.349 1.208.275 553.080 25.518,49 Maça 38.688 1.339.771 969.760 34.630,14 Mamão 31.310 1.517.696 1.165.886 48.473,20 Manga 73.310 1.175.735 660.159 16.037,85 Maracujá 57.848 776.097 857.595 13.416,14 Melancia 94.612 2.079.547 998.206 21.979,74 Melão 22.789 575.386 475.676 25.248,41 Pera 1.668 21.990 28.964 13.183,45 Pêssego 19.155 232.987 293.858 12.163,25 Tangerina 51.841 959.672 566.374 18.511,83 Uva 82.063 1.514.768 2.042.870 18.458,60 TOTAL 3.528.664 40.966.073 22.241.862 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal. (Adaptado por OLIVEIRA, F. S.) (*) Quantidade produzida (Mil frutos) Tabela 2 - Áreas colhidas, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção das principais frutas no Semiárido Nordestino do Brasil – 2012. Cultura Área colhida (Hectares) Quantidade produzida (Toneladas) Valor da produção (Mil Reais) Rendimento (kg/ha) Abacate 464 2.555 2.107 5.506,47 Abacaxi* 9.245 229.635 209.799 24.838,83 Banana (cacho) 102.812 1.279.937 738.510 12.449,30 Cacau 35.286 10.736 52.871 304,26 Caqui 8 32 26 4.000,00 Castanha de caju 493.852 49.255 70.181 99,74 Coco-da-baía* 34.038 337.525 146.590 9.916,12 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 16 Goiaba 6.304 136.623 140.996 21.672,43 Laranja 27.165 364.237 117.564 13.408,32 Limão 2.585 25.916 14.128 10.025,53 Maça 45 1.215 1.276 27.000,00 Mamão 6.579 244.801 177.396 37.209,45 Manga 43.527 714.184 391.087 16.407,84 Maracujá 29.887 393.109 412.143 13.153,18 Melancia 22.047 467.855 253.336 21.220,80 Melão 19.778 545.027 438.412 27.557,24 Tangerina 919 6.082 2.864 6.618,06 Uva 8.843 279.229 659.466 31.576,28 TOTAL 843.384 5.087.953 3.828.752 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal. (Adaptado por OLIVEIRA, F. S.) (*) Quantidade produzida (Mil frutos) No estado da Paraíba, as maiores produções de frutas (Tabela 3) são impulsionadas pelo abacaxi (294.640 ton.), banana (141.974 ton.) e coco (57.456 ton.). A banana e abacaxi são cultivados principalmente na microrregião do brejo e litoral norte paraibano, respectivamente. Já a produção de coco é concentrada no perímetro irrigado de São Gonçalo, região de Sousa. O panorama local no município de Pombal – PB revela um discreto desenvolvimento da fruticultura. Dados da produção de 2012 apontam uma área colhida total de apenas 100 hectares, com produção de 1.045 toneladas e receita gerada da ordem de 501 mil reais. Tabela 3 - Áreas colhidas, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção das principais frutas no estado da Paraíba – 2012. Cultura Área colhida (Hectares) Quantidade produzida (Toneladas) Valor da produção (Mil Reais) Rendimento (kg/ha) Abacate 89 617 366 6.932,58 Abacaxi* 9.847 294.640 320.799 29.921,80 Banana (cacho) 12.830 141.974 85.701 11.065,78 Castanha de caju 5.412 818 1.266 151,15 Coco-da-baía* 9.817 57.456 32.122 5.852,70 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 17 Goiaba 526 2.866 1.693 5.448,67 Laranja 949 4.393 2.721 4.629,08 Limão 282 1.619 1.150 5.741,13 Mamão 997 43.831 40.755 43.962,89 Manga 1.751 12.199 6.328 6.966,88 Maracujá 670 5.497 8.176 8.204,48 Melancia 206 4.002 1.659 19.427,18 Tangerina 1.726 7.334 4.327 4.249,13 Uva 102 1.836 4.399 18.000,00 TOTAL 45.204 579.082 511.462 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal. (Adaptado por OLIVEIRA, F. S.) (*) Quantidade produzida (Mil frutos) Tabela 4 - Áreas colhidas, quantidade produzida, rendimento médio e valor da produção das principais frutas no município de Pombal, estado da Paraíba – 2012. Cultura Área colhida (Hectares) Quantidade produzida (Toneladas) Valor da produção (Mil Reais) Rendimento (kg/ha) Banana (cacho) 60 900 430 15.000,00 Coco-da-baía* 20 80 37 4.000,00 Goiaba 5 20 11 4.000,00 Manga 15 45 23 3.000,00 TOTAL 100 1.045 501 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal. (Adaptado por OLIVEIRA, F. S.) (*) Quantidade produzida (Mil frutos) Quadro 2: Ranking dos 10 maiores municípios produtores de frutas (exceto abacaxi e coco da baía) do Brasil – 2012. Município Quantidade produzida (Toneladas) Casa Branca - SP 724.546 Mogi Guaçu - SP 457.607 Petrolina - PE 449.278 Rio Real - BA 432.710 Itapetininga - SP 398.087 Itápolis - SP 377.827 Águas de Santa Bárbara - SP 364.100 Brotas - SP 340.829 Bebedouro - SP 328.646 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 18 Botucatu - SP 318.240 Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal. (Adaptado por OLIVEIRA, F. S.) 2.2. Importância social Atrelado ao importante papel econômico desempenhado pela fruticultura no Brasil existe também um importante papel social, pois gera cerca de 4 milhões de empregos, sendo considerada a atividade que mais emprega no setor agrícola brasileiro (VIEIRA, 2000). O valor da fruticultura é incalculável, já que, tratando-se de cultivo extensivo e intensivo, exige a presença constante do agricultor e ocupa mão-de-obra em grande número (SIMÃO, 1998). A fruticultura é um fator de fixação do homem a terra e possibilita a subdivisão da gleba em pequenas propriedades altamente produtivas. Eleva o padrão de vida do lavrador, dos operários, e sua função estende-se além dos campos, ao integrar milhares de braçosna comercialização, distribuição, venda e industrialização dos produtos (SIMÃO, 1998). De acordo com Buainain e Batalha (2007), cada hectare ocupado com fruticultura emprega diretamente cerca de 2 a 5 pessoas ao longo da cadeia produtiva. Esses autores revelam que a manutenção da posição competitiva atual da fruticultura nacional no mercado internacional depende da capacidade do país de enfrentar desafios ligados ao ambiente institucional e à introdução de inovações tecnológicas, tanto na organização, produção como nos segmentos pós-colheita. A fruticultura desempenha um importante papel social na agricultura familiar no Brasil, segundo Lourenzani et al. (2004), a agricultura familiar voltada a fruticultura apresenta grande importância social e econômica, assim como fragilidades e potencialidades. Por um lado, observa-se a capacidade de geração de renda e emprego, além da importante contribuição da agricultura familiar para a produção agropecuária. Por outro, fica claro também que a agricultura familiar ainda é depositária de um grande contingente de pessoas vivendo em condições sociais e de produção extremamente heterogêneas, muitas vezes, formando bolsões de pobreza rural. 2.3. Importância nutricional A nutrição constitui-se no objetivo principal do homem, e a saúde humana, é regulada por uma ingestão equilibrada de alimentos. Estes podem ser divididos em proteínas, carboidratos, lipídeos, sais minerais e vitaminas (SIMÃO, 1998). FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 19 Os elementos minerais reconhecidos como essenciais são comumente divididos entre macroelementos (cálcio, fósforo, potássio, sódio, cloro, magnésio, enxofre) e microelementos (ferro, cobre, cobalto, manganês, zinco, iodo, flúor, molibdênio, selênio, cromo, silício), de acordo com as quantidades maiores ou menores em que são encontrados no organismo humano. A importância de sua inclusão na dieta tem sido amplamente discutida em textos sobre nutrição (SGABIERI, 1987). As frutas desempenham papel importantíssimo na saúde humana, pois, além de elementos energéticos, catalíticos, sais minerais e vitaminas etc., fornecem celulose e água. A celulose constitui o meio mais efetivo para promover o funcionamento normal do organismo, corrigindo preguiça intestinal e a prisão de ventre, tão comuns nos climas quentes (SIMÃO, 1998). O consumo de frutas diário fornece uma quantidade considerável de minerais (potássio, zinco, cálcio, magnésio, cobre, etc.) e de vitaminas especialmente vitamina C. Além disso, as frutas fornecem quantidades relativamente reduzidas de calorias (DIREÇÃO GERAL DE SAÚDE, 2005). Segundo a World Health Organization (2002), o consumo insuficiente de frutas aumenta o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de câncer, e entre os 10 fatores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo. Tal consumo equivale amenos de 400 g por dia ou cerca de 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200 kcal/dia. Tabela 5: Valor nutricional de algumas frutas de valor comercial. Frutas (100 g) Calorias (K/cal) Proteínas (g) Lipídeos (g) Cálcio (mg) Fósforo (mg) Ferro (mg) Abacate 162 1,8 16 13 47 0,7 Abacaxi 52 0,4 0,2 18 8 0,5 Açaí 247 3,8 12,2 118 0,5 11,8 Banana 89 1,3 0,3 15 26 0,2 Cacau 562 21,8 52,1 120 72 3 Cajá 46 0,8 0,2 56 67 0,3 FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 20 Caju 36,5 0,8 0,2 50 18 1 Cupuaçu 72 1,7 1,6 23 26 2,6 Goiaba 42,5 0,9 0,1 17 30 0,7 Graviola 60 1,1 0,4 24 28 0,5 Laranja 45,5 0,6 0,4 45 21 0,2 Maçã 63,2 0,4 0,5 7 12 0,3 Mamão 68 0,2 1 21 26 0,8 Manga 64,3 0,4 0,3 21 17 0,78 Mangaba 47,5 0,7 0,3 41 18 2,8 Maracujá 90 2,2 0,7 13 17 1,6 Melancia 31 0,5 0,2 7 12 0,23 Melão 29,9 0,84 0,13 17 0,16 0,4 Morango 39 1 0,6 22 22 0,9 Umbu 44 0,6 0,4 20 14 2 Uva 78 1,4 1,4 19 35 0,7 Fonte: www.diariodeumadietista.com 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). Estatísticas e Dados Básicos de Economia Agrícola. Brasília: MAPA, 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/Pasta%20de%20Abril%20%202014.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2014. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. Cadeia Produtiva de Frutas. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. Brasília: IICA: MAPA/SPA, 2007. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 21 DIREÇÃO GERAL DA SAÚDE. Princípios para uma Alimentação saudável – Frutos, legumes e hortaliças. Lisboa, 2005. FACHINELLO, J.C.; NACHTIGAL, J. C.; KERSTEN, E. Fruticultura: Fundamentos e Práticas. Pelotas, 2008. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). Organization United Nations (ONU). FAO Statistical Yearbook 2013: World food and agriculture. Roma: FAO, 2013. 289 p. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/018/i3107e/i3107e00.htm>. Acesso em: 13 jun. 2014. LOURENZANI, A. E. B. S.; LOURENZANI, W. L.; BATALHA, M. O. Barreiras e Oportunidades na Comercialização de Plantas Medicinais provenientes da Agricultura Familiar. Informações Econômicas, São Paulo, v.34, n.3, 2004. SGABIERI, W. C. Alimentação e nutrição: Fator de saúde e desenvolvimento. Campinas/São Paulo: Unicamp/Almed, 1987. SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba: FEALQ, 1998, 757p. VIEIRA, F.C. Panorama da fruticultura brasileira. Revista Preços Agrícolas, 2000. WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world report 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva: World Health Organization, 2002. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 22 CAP. 2 – PROPAGAÇÃO DE FRUTÍFERAS E PRODUÇÃO DE MUDAS FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 23 CAP. 2 – PROPAGAÇÃO DE FRUTÍFERAS E PRODUÇÃO DE MUDAS 1. INTRODUÇÃO A propagação vegetativa ou assexuada é um processo de reprodução onde não ocorre a fusão de gametas, deferindo da propagação sexuada, baseando-se na multiplicação e regeneração de partes da planta matriz. A propagação vegetativa é um processo de multiplicação e regeneração de partes da planta-mãe, ocorrendo por processos de divisão e diferenciação celular, baseando-se no princípio de que todas ás células vegetais contém informação genética para a regeneração da planta, a partir de qualquer órgão, processo denominado totipotência (SASSO, 2009). Enquanto que a propagação sexuada ou por sementes, é o principal mecanismo de multiplicação das plantas superiores e de, praticamente, todos os angiospermas. É o processo onde ocorre a fusão dos gametas masculinos e femininos para formar uma só célula, denominada zigoto, no interior do ovário, após a polinização. Esses gametas podem ser provenientes de uma mesma flor, ou de flores diferentes de uma mesma planta (autopolinização) ou, ainda, de flores pertencentes a plantas diferentes (polinização cruzada). A população proveniente da reprodução sexuada apresenta variabilidade genética, devido à segregação e à recombinação de genes (FACHINELLO; HOFFMANN; NACHTIGAL, 2015). Uma característica marcante sobre as sementes é a mono ou a poliembrionia, geralmente observada nas sementes de manga, como se pode observar na figura 1 (SANTOS; PINHEIRO, 2015). Figura 1. Semente de manga mono (à esquerda) e poliembriônica (à direita). FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 24 Esse tipo de semente resulta em plântulas “anormais”, como se pode observar na figura 2 (SANTOS; PINHEIRO, 2015). Figura 2: Plântulas de manga monoembriônica (à esquerda) e poliembriônica (à direita). 2. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA 2.1. Estaquia A estaquia e um processo de propagação assexuada, onde ocorre a indução do enraizamentoadventício em segmentos destacado da planta matriz (planta mãe), que quando condicionado a condições ambientais favoráveis dar-se origem a uma nova planta. A estaquia é um processo simples, podendo ser utilizada para obtenção de porta-enxertos ou as próprias mudas, entretanto, impossibilita a capacidade deformação de raízes das espécies ou cultivares utilizadas (FACHINELO, NACHTIGAK e KERSTEN, 2008). Estaquia é o termo utilizado para a propagação por meio de estacas, utilizando qualquer parte da planta (ramos, raízes ou folhas), que quando colocadas em meio adequado são capazes de formar raízes adventícias e dar origem a uma nova planta (EMBRAPA, 2010). O princípio do método de estaquia baseia-se na regeneração de partes da planta, podendo ser utilizadas ramos, raízes, caules e até mesmo fascículos. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 25 i. Ciclo de propagação das plantas As fases de propagação e enraizamento adventício nas plantas se dá por meio do processo de desdiferenciação, onde as células diferenciadas não-meristemáticas reassumem a divisão celular e forma novos meristemas; a formação das raízes iniciais: formação de estruturas morfogênicas nas células diferenciadas; o desenvolvimento dos primórdios radiculares: são estruturas morfogênicas que se desenvolvem em primórdios radiculares, visualmente, perceptíveis; e o crescimento e emergência radicular: onde ocorre formação radical suficiente para proporcionar a sustentação da nova planta. Esse processo é representado esquematicamente na figura 3. Figura 3. Ciclo de propagação das plantas (Fonte: XAVIER, WENDING, SILVA, 2009). Vantagens da propagação: Obtenção de muitas mudas originária de uma única planta – mãe; Técnica de baixo custo e fácil de ser realizada; Não ocorre problemas com incompatibilidade como no caso de enxertia; As plantas originadas de um porta-enxerto possuem maior uniformidade. Desvantagens: Maior risco de contaminação, ao utilizar partes da planta infectada; As mudas obtidas possuem menor longevidade; Sistema radicular fasciculado; Poe se tornar inviável: algumas espécies podem apresentar baixo potencial de enraizamento. b. Aplicações da enxertia A enxertia pode ser utilizada em diversas aplicações, como: Multiplicação de variedades ou espécies com a aptidão para emitir raízes adventícias; FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 26 Na produção de porta enxertos; Perpetuação de espécies oriundas do melhoramento genético de plantas. c. Classificação das estacas As estacas podem ser classificadas de acordo com vários critérios, mas o mais utilizado é o critério é a classificação quanto à época, em que são divididas, com o seu estágio de desenvolvimento, em estacas herbáceas, semilenhosas e lenhosas. a) Estacas herbáceas: essas estacas são obtidas geralmente no período de crescimento vegetativo (primavera/verão), período esse que os tecidos apresentam uma alta atividade meristemática e um baixo grau de lignificação. As estacas herbáceas apresentam alto potencial de regeneração, em contrapartida estas apresentam baixa tolerância a desidratação. Normalmente essas estacas são colhidas nos ápices da planta matriz, contendo de um a dois pares de folhas. O tamanho das estacas varia de 10 à 20 cm de comprimento e são frágeis sendo necessários cuidados especiais. As estacas necessitam de um substrato poroso, com boa drenagem e devem ser cultivadas em locais com alta umidade, sendo necessário controle da temperatura e irrigação por nebulização em casa de vegetação ou estufa, a fim de proporcionar as condições adequadas para a sobrevivência e o enraizamento das estacas. As estacas de espécies que apresentam folhas grandes, estas devem ser cortadas ao meio com objetivo de evitar as perdas de água e facilitar o manejo. As estacas levam de três a cinco semanas para enraizarem, após esse período deve ser feito a repicagem e muda-las para um ambiente com menor umidade. b) Estacas semilenhosas: são consideradas intermediárias, ou seja, entre herbáceas e lenhosas. Essas estacas são obtidas no período final do verão e inicio do outono, elas diferem da herbácea por apresentarem um maior grau de lignificação e com um grau menor que as lenhosas. O tamanho das estacas varia de acordo com a espécie, variando de 7,5 à 15 cm de comprimento. Os cuidados a serem tomados com as estacas são principalmente com a desidratação, por isso deve-se utilizar irrigação por nebulização intermitente, evitando o murchamento e a queda das estacas. c) Estacas lenhosas: essas estacas são obtidas no período de dormência (inverno). As estacas lenhosas apresentam alto grau de lignificação e maior taxa de regeneração potencial. Não é necessário cuidados e estruturas especiais, como nebulização e casa FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 27 de vegetação, podendo ser cultivadas no próprio viveiro. O tamanho das estacas varia de 20 à 30 cm de comprimento e com diâmetro de 1,5 à 2,5 cm, devendo ser cultivadas em substrato à base de solo e requerem irrigação controlada. As estacas levam de 5 à 10 semanas para enraizarem, por isso devem ficar do plantio até a formação completa da muda no substrato, este estando devidamente nutrido. d) Estacas de raiz: em algumas espécies possuem grandes dificuldades para enraizarem por estacas, possuindo alto potencial de enraizamento e brotações por meio das estacas do tipo raiz. A melhor idade para colher as estacas é quando a planta matriz estiver com três a quatro anos. A época ideal para retirar as estacas é no fim do inverno e início da primavera, período em que as raízes estarão com maiores reservas, como pode-se observar na figura 3. O tamanho das estacas de raiz varia de 6 à 15 cm, sendo colocados no sentido horizontal no leito contendo substrato, onde enraízam e brotam, dando origem a uma nova planta. Figura 3. Morfologia da raiz e armazenamento de reservas. i. Lesão na base da estaca A lesão que deve ser realizada na base da estaca (local que será enterrado) serve para estimular a formação de raízes e pode ser feita apenas retirando uma parta da “casca” da estaca, como se pode observar na figura 4. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 28 Figura 4. Lesão na base de estacas de figueira e de goiabeira (à esquerda e à direita, lenhosa e semilenhosa, respectivamente). d. Anelamento A prática de anelamento consiste na retirada de um anel de casca da estaca a ser propagada ou por meio do estrangulamento com um fio de cobre. Isso permite que a seiva elaborada não retorne às raízes, fazendo com que ela seja produzida no local do anelamento (FACHINELLO; LUCCHESI; GUTIRREZ, 1988). Figura 5. Anelamento por estrangulamento e. Dobramento dos ramos Esta técnica de condicionamento consiste na dobra manual dos ramos durante a estação de crescimento. Estes ramos ficam presos à planta por uma porção de lenho e casca até a época de utilização das estacas lenhosas (inverno) como se pode observar na figura 6. Este tipo de injúria provoca um aumento da relação C/N e a formação de um tecido pouco diferenciado, resultante da cicatrização, na região da dobra, com aumento da capacidade de emissão de raízes. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 29 Figura 6. Processo de dobra de ramos para obtenção de estacas de pessegueiro. f. Nebulização na produção de mudas A nebulização pode ser instalada em telados, estufas plásticas ou mesmo no ambiente externo. O ambiente protegido é o mais adequado para esta técnica, uma vez que permite uma aplicação controlada da água, além de evitar o efeito do vento sobre a irrigação (figura 7). Figura 7. Nebulização de mudas em ambiente protegido O controle dos intervalos de acionamentodo sistema de nebulização pode ser efetuado através de alguns mecanismos, tais como a folha úmida, na qual há uma superfície de tela, que simula a superfície de uma folha. Quando esta superfície perde água a um nível pré- estabelecido, é acionado o mecanismo da nebulização. g. Princípios anatômicos do enraizamento No momento em que se prepara uma estaca, esta consiste de uma ou mais gemas e de uma porção de tecido diferenciado, onde o sistema radicular ainda não está formado. As FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 30 raízes a serem formadas na estaca serão resultado do traumatismo produzido pelo corte, diante disso exista dois aspectos fundamentais para o enraizamento das estacas: a) Diferenciação: é a capacidade das células maduras retornarem as condições meristemáticas e desenvolverem um novo ponto de crescimento. b) Totipotência: é a informação genética que cada célula possui para a reconstrução de uma planta e as suas funções, portanto, as células da planta são responsáveis por conter todas as informações genéticas necessárias para que ocorra a perpetuação das espécies. No momento do preparo das estacas ocorre uma lesão nos tecidos, tanto nas células do xilema quanto do floema, causada pelo corte. O traumatismo causado pelo corte é seguido de uma cicatrização, ocorrendo a formação de uma camada de suberina reduzindo a desidratação da área danificada. Na região danificada ocorre a formação de uma massa de células parenquimatosas, constituindo um tecido pouco diferenciado, desorganizado e em diferentes etapas de lignificação, chamado de calo. O calo é um tecido cicatricial que pode surgir a partir do câmbio vascular, córtex ou da medula, dando início ao processo de regeneração. As células que se tornaram meristemas dando origem aos primórdios radiculares. Logo após as células adjacentes ao câmbio e ao floema iniciam a formação das raízes adventícias. A formação das raízes adventícias ocorre em duas fases, a primeira fase é de iniciação, onde ocorre a divisão celular, e em seguida uma segunda fase em que ocorre a diferenciação das células em um primórdio radicular, resultando no crescimento da raiz adventícia. O processo de iniciação das raízes ocorre basicamente, seguidas de quatro etapas de modificações morfológicas: Diferenciação de algumas células adultas; Formação de iniciais de raízes próximos aos feixes vasculares; Formação de primórdios radiculares; Desenvolvimento dos primórdios e emergência, através do córtex e da epiderme da estaca, das raízes adventícias, acompanhado da sua conexão com sistema vascular da estaca. h. Princípios fisiológicos do enraizamento A capacidade de uma estaca emitir raízes está relacionada a fatores endógenos e as condições ambientais proporcionadas ao enraizamento. Para se obter sucesso na produção de mudas deve ter conhecimento sobre esses princípios, além disso os estudos desses aspectos auxiliam na caracterização de uma espécie sendo fácil ou difícil o enraizamento. Tem sido FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 31 observado que na formação de raízes adventícias vários fatores desempenham papel fundamental, entre eles os reguladores de crescimento: Auxinas As auxinas que são hormônios que desempenham maior papel na formação das raízes em estacas. O AIA (ácido indolilacético) foi identificado em 1934, constituído na auxina ocorrendo comumente em plantas, onde suas primeiras utilizações foi promover o enraizamento de segmentos de plantas. Posteriormente, outras substâncias de origem exógena, como AIB (ácido indolbutírico) e ANA (ácido naftalenacético), mostraram-se mais eficientes que o próprio AIA na promoção do enraizamento de estacas, mesmo estes sendo de origem exógena. A auxina é sintetizada nas gemas apicais e folhas novas e translocada para a base da planta por um transporte polar. As raízes também produzem auxinas, mas não ocorre o acumulo de auxinas nas raízes, devido a grande quantidade de substâncias inativadoras de auxina nesta parte da planta. O aumento da concentração de auxina exógena na aplicação nas estacas, estimula as raízes até um valor máximo, onde o acréscimo de auxina atua como inibidor. Com a aplicação da auxina, ocorre um aumento na concentração da base da estaca, e se os requerimentos fisiológicos estiverem em condições satisfatórias ocorre a formação do calo, resultante do ativamento das células do câmbio e das raízes adventícias. Giberelina A giberelina é um hormônio que aumenta o tamanho do caule, onde a mais importante encontrada na natureza é o AG3 (ácido giberélico). As giberelinas podem atuar inibindo o enraizamento se estiver em uma concentração alta, isso pode ocorrer devido a interferência na regulação da síntese de ácido nucléico. Por outro lado alguns inibidores da giberelina, como SADH (ácido succínico 2,2-dimetilhidrazida) ácido abscísico e paclobutrazol, mostram efeitos benéficos ao enraizamento de estacas. Citocininas A citocinina é um hormônio que atua como estimulador da divisão celular, caso esteja presente a auxina, sendo assim, atuando na formação de calos e na iniciação de gemas. Entretanto espécies com altas concentrações de citocininas imprimem um efeito de difícil enraizamento do que aquelas com concentrações menores. A relação citocinina/auxina em baixas estimula a formação de primórdios foliares, ao passo que uma relação elevada proporciona a formação das raízes. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 32 Ácido abscísico O ácido abscísico é um hormônio que ainda está sendo estudado com relação ao seu efeito no enraizamento, mas a princípio ele atua como inibidor do crescimento das raízes adventícias. Etileno O etileno em baixas concentrações próximas a 10 ppm estimula a formação e o desenvolvimento das raízes, isso pode ocorrer através da interação com a auxina onde o etileno sintetizado quando com a aplicação de auxina explica esse efeito de enraizamento das estacas. O etileno é o hormônio mais dependente entra as interações complexas do que a concentração simples do regulador. Outras substâncias de ocorrência natural atuam no sinergismo com a auxina, sendo necessária para que ocorra o enraizamento, substâncias essas denominadas cofatores do enraizamento. Esses cofatores são sintetizados em gemas e folhas jovens e em maiores concentrações em estacas originadas de plantas jovens, sendo transportados pelo xilema e floema. Devido a isso em algumas espécies deve-se manter as folhas e gemas vegetativas, esses órgãos vão atuar como um laboratório na produção de reguladores de crescimento e nutrientes. As folhas são importantes para a formação das raízes, pois esta atua na síntese de carboidratos. Inicialmente Bouillenne e Went em 1933 adotaram o termo “rizocalina”, que englobava o conjunto de substâncias, além dos reguladores de crescimento que atuam no estimulo do enraizamento, muitas ainda não são conhecidas totalmente. Em 1955 propuseram que a rizocalina era um complexo constituída por três componentes: a) Um orto-dihidroxifenol, atuando como fator específico transporta a partir das folhas; b) A auxina, considerado um fator não específico; c) Uma enzima especifica do tipo polifenoxidase, encontrada em alguns tecidos, com periciclo, floema e câmbio. As reações entre esses três componentes dão origem a rizocalina. i. Fatores que afetam a formação das raízes O conhecimento sobre os fatores que afetam o enraizamento das estacas é de grande importância, para que possa explicar-se por que uma espécie possui facilidade ou ou dificuldade para enraizar, como também, o manejo adequado propicia sucesso na produção de mudas. Esses fatores são classificados em fatores internos e externos: Fatores internos FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 33 Condição fisiológica da matriz: refere-se ao conjunto das características internas damesma, tais como o conteúdo de água, condição nutricional, teor de reservas, estado fisiológico, estado fitossanitário, potencial genético e balanço hormonal. As estacas retiradas de uma planta matriz que sofre com déficit hídrico, terão menor capacidade de enraizamento, do que aquelas oriundas de plantas com suprimento de água adequado. A condição nutricional afeta diretamente a capacidade do enraizamento, uma vez que o conteúdo adequado e em equilíbrio de P, K, Ca e Mg, favorecem o enraizamento, o N é um importante componente para a síntese de proteínas e ácidos nucléicos, essenciais para que ocorra o enraizamento, porém, em excesso pode tornar-se prejudicial. Já o Zn atua como ativador do triptofano este percursor da auxina, sendo necessário a sua presença para que ocorra a formação das raízes. Deve-se ter cuidado com teores excessivos, especialmente com o N e Mn na planta matriz, sendo indispensável um manejo adequado da adubação das plantas matrizes que irá fornecer as estacas. Idade da planta: geralmente as estacas provenientes de plantas mais jovens possuem maior facilidade de enraizamento do que aquelas originadas de plantas mais velhas. Este fator pode estar relacionado com o aumento do conteúdo de inibidores e a diminuição do conteúdo dos cofatores à medida que aumenta a idade da planta. Tipo de estaca: o tipo adequado de estaca varia de acordo com cada espécie, como a composição química variam ao longo dos ramos, as estacas provenientes do mesmo ramo tendem a diferir quanto a sua capacidade de enraizamento. Assim, em estacas lenhosas, são obtidos melhores resultados quando utiliza-se a porção basal, isso pode ocorrer devido ao acumulo de substâncias de reserva, a um menor teor de N e a inicial presença de raízes pré-formadas nesta região. Já nas estacas lenhosas e herbáceas, ocorre o inverso onde os melhores resultados são obtidos quando se utiliza uma porção mais apical. Podendo ser atribuído a uma maior proximidade com promotores do enraizamento, pela proximidade com os sítios da síntese de auxina, e á menor diferenciação dos tecidos, resultando em uma maior facilidade das células voltarem a se tornar meristemáticas. Época do ano: a época de ano possui uma estreita ligação com a consistência das estacas, quando coletadas no período de crescimento vegetativo (primavera/verão) as estacas apresentam-se mais herbáceas, apresentando maior capacidade de enraizamento em espécies de difícil enraizamento. Já quando as estacas são coletadas FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 34 no inverno possuem um alto grau de lignificação, tornando-se mais dificultoso o seu enraizamento. Potencial genético de enraizamento: refere-se a potencialidade de uma espécie formar raízes, variando de acordo com cada espécie e/ou cultivar. Sanidade: a sanidade durante o processo da estaquia é influenciada pelo grau de contaminação do material propagativo, pelo substrato, pela qualidade da água utilizada na irrigação e pelo tratamento fitossanitário que venha ser realizado nesse período. Viroses, fungos e bactérias podem ocasionar a morte das estacas, antes ou após o enraizamento, podendo afetar também a sobrevivência das estacas e a qualidade do sistema radicular da muda. Balanço hormonal: o equilíbrio entre os regulados de crescimento possui grande influência no enraizamento de estacas. Então é necessário que aja um balanceamento adequado, especialmente entre as auxinas, giberelinass e citocininas. Uma das formas mais comuns para favorecer o balanço hormonal para o enraizamento é a aplicação exógena de reguladores sintéticos, tais como o AIA (ácido indolacético), o ANA (ácido naftalenacético) e o AIA (ácido indolacético), os quais possuem a capacidade de elevar o teor de auxinas nos tecidos. Oxidação de composto fenólicos: em algumas espécies, especialmente da família Myrtacea, ocorre um forte escurecimento na região de corte das estacas, este proveniente da oxidação de compostos fenólicos. Os diferentes tipos de fenóis ao entrarem em contato com o oxigênio, inicia as reações de oxidação, resultando na produção de produtos tóxicos os tecidos. A minimização das reações de oxidação desses compostos pode ocorrer com a utilização de substâncias oxidantes, tais como o o ácido ascórbico, o PVP (polivinilpirrolidona), o ácido cítrico e o DLECA (dietilditiocarbamato). Fatores externos Temperatura: O aumento da temperatura favorece a divisão celular, atuando na formação das raízes, entretanto, especialmente em estacas herbáceas e semilenhosas estimula uma elevada taxa transpiratória, induzindo ao murchamento da estaca. Pode ocorrer também o desenvolvimento de brotações antes que ocorra o enraizamento, aspecto indesejável. Quando busca-se o enraizamento de estacas lenhosas, recomenda- se manter o substrato aquecido, visando a reduzir a respiração e transpiração na parte exposta ao ar e o favorecimento da divisão celular ne região de formação das raízes. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 35 Deve-se manter as temperaturas diurnas entre 21 e 26 °C e as noturnas entre 15 e 21°C, sendo consideradas as mais adequadas para o enraizamento. Luz: a luz desempenha papel importante para o enraizamento, estando relacionada a fotossíntese e degradação de compostos fotolábeis, como as auxinas. A baixa intensidade luminosa na planta matriz antes da coleta das estacas, favorece a formação das raízes, isso ocorre provavelmente pela preservação das auxinas e outras substâncias endógenas. O estiolamento dos ramos de onde serão retiradas as estacas, é uma prática recomendada, especialmente em espécies de difícil enraizamento. É necessário que se mantenha um ambiente escuro na região basal das estacas, região essa onde serão formadas as raízes. Umidade: para que ocorra a divisão celular, é necessário que as células se mantenha turgidas. O potencial da perda de água nas estacas é muito grande, através das folhas ou brotações em desenvolvimento, especialmente considerando o período em que as raízes não estão formadas. A perda de água é considerada uma das principais causas da morte das estacas. Sendo necessário a prevenção contra o murchamento, especialmente em espécies que exigem um longo período para que ocorra a formação das raízes e nos casos em que as estacas possuem folhas e/ou consistência em herbáceas. É bastante utilizado nebulização imtermitente, permitindo que ocorra a redução da perda de umidade pela formação de uma película de água nas folhas, como também, a redução da temperatura, com a manutenção da atividade fotossintética nas estacas com folhas. A alta umidade favorece ao desenvolvimento de patógenos, sendo necessários cuidados para evitar a ocorrência. Substrato: o substrato tem a função de sustentar as estacas durante o período de enraizamento, mantendo sua base em um ambiente escuro, úmido e aerado adequadamente. Os efeitos que o substrato exerce sobre o enraizamento e na qualidade das raízes formadas, está relacionado especialmente a porosidade, a qual exerce função no teor de água retido e o seu equilíbrio com a aeração. Podendo ser constituídos de diferentes materiais, como a areia, vermiculita, a cinza de casca de arroz, solo, entre outros. O substrato para ser considero bom deve apresentar as seguintes características: proporcionar a retenção do teor de água suficiente para manter as células turgidas prevenir contra o murchamento das estacas; FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 36 permitir uma aeração adequada a base da estaca, de modo que permita a iniciação e o desenvolvimento das raízes; apresentar uma boa aderência à estaca; não favorecer à contaminação e ao desenvolvimento de organismos patógenos e saprófitos; permitir que as estacas sejam removidas com o mínimo de danos as raízes; é de baixo custo de obtenção e de fácil obtenção; não conter ou liberar substância que possa exerce efeito fitotóxico ás estacas. Condicionamento: em espécies de difícil enraizamento deve-se realizar alguns tratamentos antes de realizar à estaquia, com o objetivo de conseguir bons resultados. Em diversos casos o condicionamento é fundamental para que se possa obter bons resultados no enraizamento das estacas. São exemplos de alguns condicionamentos: Tratamento com fitorreguladores: a utilização de fitorreguladores tem como objetivo, aumentar a percentagem de estacas que formam raízes, acelerar sua iniciação, aumentar o número e qualidade das raízes formadas e aumentar aa uniformidade do enraizamento das estacas. Alguns reguladores favorecem ao enraizamento, como as auxinas sintéticas que inibem o desenvolvimento de gemas, e consequentemente dos ramos, exercendo um efeito no balanço hormonal favorecendo o enraizamento. São exemplos de auxinas sintéticas utilizadas o AIA, AIB, ANA e 2,4-D, que visam elevar o conteúdo hormonal nos tecidos da estaca. As citocininas também são utilizadas em tratamentos, atuando no estimulo do desenvolvimento de raízes adventícias, importante em estacas com folhas e de raízes. Anelamento: consiste na obstrução da casca de um ramo da planta matriz, com a finalidade de bloquear a translocação descendentes de carboidratos, hormônios e cofatores de enraizamento, permitindo que ocorra a acumulação desses composto acima do local onde foi feita a obstrução, região que será a base da futura estaca. Esse acumulo de compostos favorece a formação e o crescimento das raízes, o aumento da quantidade de células parenquimatosas e tecidos menos diferenciados. O anelamento é feito na região basal ou mediana do ramo onde será retirada à estaca, onde realiza-se um corte ou com um anel de arame. O anelamento deve ser realizado no momento em que o comprimento do ramo o permita fazer, durante a fase ativa de crescimento vegetativo, visando assegurar o maior acumulo de compostos. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 37 Estiolamento: entende-se por estiolamento o crescimento exagerado em altura da planta, quando está com deficiência de luminosidade, o que resulta em brotações alongadas, folhas pequenas e não expandidas e apresentando baixo teor de clorofila. Além disso, são encontrados em tecidos estiolados baixos teores de lignina e altos teores de auxinas endógenas e de outros cofatores do enraizamento, uma vez que esses compostos são sensíveis a incidência de luz, favorecendo o enraizamento. Dobra de ramos: é uma técnica de condicionamento que consiste em dobrara manualmente os ramos, durante a estação de crescimento. Estes ramos ficam presos a planta por uma porção do lenho e casca até que seja feita a utilização das estacas lenhosas. Esse tipo de injúria provoca um aumento da relação C/N e a formação de um tecido pouco diferenciado, resultado da cicatrização da região onde foi feita a dobra, resultando no aumento da capacidade de enraizamento. 2.1.1. Técnicas de estaquia Preparo e manejo das estacas Depois de realizada à seleção e coleta das estacas, estas devem ser levadas para um galpão ou estrutura semelhante para que sejam preparadas as estacas. O preparo das estacas pode ser feito com o auxílio de uma tesoura de poda ou com serras elétricas, no caso de estacas lenhosas em grandes quantidades. Feitas as estacas estas devem permanecer embebidas em água até o momento de serem colocadas no substrato. O comprimento e o diâmetro das estacas variam de acordo com o tipo e a espécie, as estacas lenhosas podem ter de 20 à 30 cm de comprimento e um diâmetro de 0,6 á 2,5 cm, já as estacas semilenhosas, em geral, apresentar um comprimento que varia de 7,5 à 15 cm e as estacas herbáceas possuem dimensões que podem ser até menores. Após o preparo, deve-se realizar a separação das estacas de acordo com o tamanho, permitindo uma maior homogeneidade de plantas, facilitando a realização de operações posteriores. Também recomenda-se realizar a identificação dos lotes de estaca por cultivar, de forma que evite a mistura posterior no viveiro. Em estacas lenhosas e herbáceas devem ser mantidas as folhas apicais, em geral 2 ou 3, estas favorecem ao enraizamento, devido a produção de cofatores de enraizamento nas folhas. Nas estacas lenhosas a presença de gemas nas estacas aumenta o enraizamento em diversas espécies. Por outro lado, a presença de folhas nas estacas representa uma superfície transpiratória, onde a perda de água aumenta em condições de elevadas temperaturas. Por isso FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 38 deve ser realizada a nebulização nas estacas folhosas. As folhas que são mantidas na parte superior da estaca podem ser cortadas ao meio, como meio de reduzir a perda de água e facilitar seu manejo. O corte superior da estaca deve ser feito logo acima de uma gema e o corte inferior logo abaixo. Essa recomendação é mais viável com o número baixo de estacas, onde um número grande de estacas torna-se inadequado. É possível realizar o armazenamento de estacas lenhosas durante o inverno, podendo ocorrer a formação de calo ou iniciais de raízes. As estacas podem ser armazenadas em leitos aquecidos ou em substrato umedecido. Em algumas espécies cortes realizados na lateral na base da estaca, favorecem o enraizamento, especialmente em espécies em que o esclerêquima constitui uma barreira física a emissão das raízes. A exposição do câmbio, proporcionados por cortes, podem favorecer ao enraizamento, devido a absorção de substâncias promotoras de enraizamento. Estaqueamento O plantio das estacas pode ser feito em recipientes (sacos plásticos, vasos, caixa, baldes, etc.), aplicado para as estacas folhosas (semilenhosas e herbáceas), estas que necessitam de alta umidade sobre as folhas. Já as estacas lenhosas podem ser plantadas em estruturas de propagação ou diretamente no viveiro, especialmente em espécies cauducífolias, quando a umidade é propiciada pela chuva ou por irrigações esporádicas. Essa prática é denominada de enviveiramento, destinado principalmente para produção de mudas em larga escala e multiplicação de espécies que possuem facilidade para enraizarem. Neste caso, deve- se realizar em solos profundos, com boa drenagem e com viabilidade de uso para irrigação. A profundidade de plantio varia de acordo com o tipo de estaca, para estacas de ramos aconselha-se que dois terços sejam enterrados no substrato. Para estacas de raiz é importante mante-las enterradas a uma profundidade de 2,5 à 5 cm, na posição horizontal, de modo a manter sua correta polaridade. Com relação a prevenção de doenças recomenda-se à imersão das estacas em solução fungicida. Para aumentar a sobrevivência das estacas pode fazer a mistura de fungicidas e AIA (ácido indobulrítico). No momento do plantio, é importante que a estaca tenha uma boa aderência ao substrato, uma vez que a presença de grandes espaços porosos pode fazer com que ocorra um aumento na desidratação das estacas. FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 39 Substrato O substrato é um dos fatores que exerce maior influência no enraizamento, sendo necessário atenção especial na escolha do substrato a ser utilizado. Deve-se levar em consideração no momento da escolha do substrato a espécie que vai ser plantada, observando qual substrato é melhora para determinada espécie, especialmente aquelas que possuem maior dificuldade para enraizamento. Um bom substrato deve ter características desejáveis, como proporcionar retenção de água suficiente, de forma que previna a dessecação da base da estaca e, quando saturado mantenha uma quantidade adequada de espaços porosos para facilitar a entrada de oxigênio, indispensáveis para que se inicie o desenvolvimento radicular e prevenir contra o desenvolvimento de patógenos nas estacas. Deve-se utilizar substratos quenão seja inóculos de patógenos saprófitos, evitando assim que ocorra infecção das mudas por estes organismos. Existe vários tipos de substrato utilizados, os mais comuns são areia, vermiculita e solo, e uma diversidade de outros que podem ser utilizados na produção de mudas. Além dos substratos já citados existe outros tipos, como o musgo turfoso, musgo esfagnineo e a água, são bastante utilizados. Na utilização da água é necessário possuir um bom sistema de oxigenação para que permita o desenvolvimento das raízes. Técnicas de condicionamento Estratificação: é uma técnica que consiste na adição de camadas alternadas de areia grossa e/ou solo, em condições úmidas, visando proporcionar a prévia formação do calo, além de propiciar a conservação da estaca. A intensidade da formação do calo pode ser aumentada, a partir da elevação da umidade e temperatura a certos limites. Devem ser tomados cuidados com para evitar o desenvolvimento de fungos e bactérias, a acumulação de água e o dessecamento, essenciais a formação das raízes. Assim que os calos ou as brotações são formadas é necessário a retirada da estratificação. Lesões na base da estaca: é uma técnica utilizada especialmente em estacas que apresentam madeira velha na sua base, onde os cortes favorecem a formação do calo e das raízes nas bordas da lesão. Nessa região a divisão celular é estimulada pelo aumento na taxa respiratória e nos teores de auxinas, carboidratos e etileno na área lesionada. As lesões permitem que haja uma maior absorção de água e de reguladores de crescimento, aumentando a sua eficiência. Em contrapartida, as lesões permitem que ocorra o rompimento da barreira física, barreira esta formada por anéis de esclerênquima, o que é um fator indesejado, pois, pode impedir que FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 40 ocorra a emergência das raízes. Recomenda-se nessa técnica realizar apenas um ou dois cortes de 2,5 à 5 cm na base da estaca. Uso de nebulização: A nebulização é a aplicação de água em forma de névoa, sobre as estacas, com a finalidade de criar uma atmosfera que propicie menor perda de água pelas folhas. A redução das taxas de transpiração e respiração e a redução da temperatura das folhas é obtida a partir da formação de uma película de água sobre as folhas, proporcionada pela nebulização intermitente, assegurando a destinação dos fotosintatos e nutrientes para a formação das raízes. Deve-se manter intervalos durante as aplicações de água, durante o período diurno, evitando a aplicação em excesso, podendo ser dispensada a nebulização durante a noite. A nebulização pode ser instalada em telados, estufas plásticas ou mesmo em ambiente externo. O ambiente protegido é o mais indicado para utilização dessa técnica, permitindo uma aplicação controlada da água e evitando a ação do vento e solo. O controle dos intervalos de acionamento do sistema de nebulização pode ser feito através de alguns mecanismos, como: - Folha úmida, na qual há uma superfície de tela que simula a superfície de uma folha. Quando esta superfície perde água a um nível pré-estabelecido, é acionado o mecanismo de nebulização; - O temporizador, aparelho que aciona o sistema de nebulização em intervalos regulares de tempo; - controlador eletrônico de umidade, constituído de um sistema computadorizado de acionamento da irrigação, com base na temperatura e umidade relativa do ar. Figura 2.3: Sistema de nebulização (A); Lesões em estacas (B). 2.2. Enxertia A enxertia é o método de propagação assexuada que consiste em se unir duas ou mais porções de tecido de modo que a união destas partes venha a constituir-se em uma nova A B FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 41 planta. É um dos principais métodos de propagação e é largamente utilizado em um grande número de espécies, tais como os citros, pessegueiro, ameixeira, goiabeira, macieira, pereira, abacateiro, entre outros. A grande importância da enxertia deve-se ao fato de que, na verdade são conjugados os aspectos favoráveis (vigor, tolerância a fatores bióticos e abióticos adversos, produtividade, entre outros) de duas ou mais plantas às quais podem ser de uma mesma espécie ou até mesmo gêneros diferentes. A planta propagada por enxertia é composta por duas partes, chamadas de porta- enxerto e enxerto. Porta-enxerto ou cavalo é a parte que confere o sistema radicular à planta propagada, podendo ser proveniente de sementes ou de propagação vegetativa. Porta-enxertos oriundos de sementes, em geral, são mais vigorosos e apresentam sistema radicular pivotante e mais profundo. Porta-enxertos oriundos de propagação vegetativa como a estaquia ou a mergulhia podem ser menos vigorosos, porém são geneticamente mais uniformes. Enxerto, borbulha, garfo ou cavaleiro é a parte que irá originar a parte aérea da planta e pode consistir de um segmento de ramo com uma ou duas gemas (garfo) ou de uma gema com uma pequena porção de casca (borbulha). O enxerto deverá ser retirado de uma planta com todas as características da cultivar, bem como que tenha ultrapassado o período da juvenilidade, assim, tão logo haja área foliar suficiente para percepção dos estímulos indutores do florescimento e para sustentação dos frutos, a planta irá produzir, reproduzindo fielmente as características da planta-mãe. 2.2.1. Finalidades da enxertia Manter as características genéticas de uma espécie, de uma cultivar ou de um clone A enxertia, bem como os demais métodos de propagação assexuada, permite que as características produtivas das plantas sejam mantidas em seus descendentes, garantindo o valor agronômico das mesmas, produzindo plantas mais uniformes quanto ao porte, exigências edafoclimáticas e tratamentos fitossanitários, entre outros. Propagar plantas que não podem ser multiplicadas por outros métodos Algumas espécies frutíferas produzem sementes com baixo poder germinativo, como é o caso da ameixeira (cerca de 2%), e outras simplesmente não as produzem. Por sua vez, em espécies altamente heterozigotas, a propagação por sementes implicaria modificações FRUTICULTURA GERAL PET - Agronomia UFCG 42 genéticas nos descendentes. Além disso, a enxertia é utilizada em espécies que apresentam dificuldade de formar raízes. Obter benefícios do porta-enxerto Embora os porta-enxertos sejam responsáveis apenas pela formação do sistema radicular e sustentação das novas plantas, em muitos casos, podem determinar características importantes como, por exemplo, conferir maior ou menor vigor à copa, como nos casos da macieira, da pereira, da videira e de citros, ou conferir melhor qualidade aos frutos. Além disso, muitos porta-enxertos são tolerantes a condições desfavoráveis, como solos pesados - com excesso ou falta de umidade - ataque de pragas ou doenças, entre outras. Substituir cultivares de plantas estabelecidas Muitas vezes, em pomares estabelecidos com uma determinada cultivar, surgem problemas, como a baixa produtividade, frutos de qualidade inferior, hábito de crescimento inadequado, ou mesmo, suscetibilidade a pragas e doenças. Essas dificuldades podem ser solucionadas com a enxertia de uma nova cultivar mais adequada, sem necessidade de se implantar um novo pomar. Outra situação muito comum de uso da enxertia em plantas já estabelecidas é aquela em que se têm pomares com cultivares que necessitam de polinização cruzada eque, por morte ou número insuficiente de plantas polinizadoras, podem ter a produção comprometida e requerem a presença de plantas ou ramos de uma cultivar polinizadora. Em pequenos pomares domésticos, a enxertia possibilita que, numa mesma planta, tenha-se mais de uma cultivar ou mais de uma espécie. Isso é possível, enxertando-se uma cultivar ou espécie diferente em cada ramo principal. Contudo, nesse caso, deve-se ter o cuidado para que as cultivares enxertadas tenham o mesmo
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