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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Medicina 8° Período MEDICINA DA MULHER GINECOLOGIA JOÃO PAULO ALVIM MAULER MED 106 2 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 ÍNDICE ANAMNESE E EXAME FÍSICO EM GINECOLOGIA ......................................................................... 3 CICLO MENSTRUAL ....................................................................................................................... 5 SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL - CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS ....................................... 11 AMENORRÉIAS ............................................................................................................................ 16 ABDOME AGUDO EM GINECOLOGIA ......................................................................................... 20 DISMENORRÉIA E SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL ....................................................................... 26 CLIMATÉRIO ................................................................................................................................ 29 PLANEJAMENTO FAMILIAR ........................................................................................................ 32 CÂNCER DE MAMA ..................................................................................................................... 35 3 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 ANAMNESE E EXAME FÍSICO EM GINECOLOGIA A primeira coisa é a identificação. A idade é importante, porque de acordo com a fase da vida da mulher, uma mesma alteração pode ter significados diferentes (um sangramento vaginal numa paciente na menacne - período de vida em que há atividade menstrual - é comum, e várias causas benignas causam isso; um sangramento na paciente menopausada tem outro significado: a principal causa é atrofia endometrial, mas pode ser câncer; numa paciente pré- púbere pode ser um trauma, corpo estranho, abuso). Na ginecologia, as principais queixas da paciente são algum sangramento anormal, dor pélvica (muitas vezes nem é uma causa ginecológica), corrimento vaginal, prurido vulvar. E muitas vezes a paciente procura o profissional não com alguma queixa, mas para fazer o exame de prevenção, ou para fazer planejamento (anticoncepção, consulta pré-concepcional). Na história ginecológica e obstétrica é preciso saber quando foi a menarca (primeira menstruação) e como são os ciclos menstruais (intervalo entre eles, duração e intensidade da menstruação). Perguntar a data da última menstruação (DUM - primeiro dia de sangramento da última menstruação), se ela tem dismenorréia (dor durante o período menstrual - cólica), quando foi a primeira relação sexual, número de parcerios, e se ela tem dispareunia (dor na relação sexual). Perguntar qual o método contraceptivo, se ela já teve tratamento para doenças sexualmente transmissíveis. Saber quantas gestações ela já teve, quantos partos e quantos abortos (por exemplo, G1P1A0), como foram os partos (vaginais, cesáreos, se houve alguma intercorrência). Qual o peso dos filhos ao nascer, qual a idade atual deles, e se ela amamentou. Disso tudo, é muito importante, mesmo para o médico generalista, a data da última menstruação (para saber se há chance da mulher estar grávida) e o uso de método contraceptivo (pensar que alguma mulheres não devem engravidar em determinados momentos, por causa de outra doença, por exemplo). Na história fisiológica, perguntar sobre as funções excretoras. Perguntar se a paciente consegue prender a urina normalmente (quando tosse, espirra, pega peso), pois isso é comum na paciente pós-menopausa, ou se quando ela tem vontade não consegue segurar (urgência miccional). Perguntar sobre sono, apetite, perda de peso recente. Na história patológica pregressa, fazer como nas outras especialidades. História de tromboembolismo é importante, porque quem já teve trombose ou tem alguns fatores de risco não pode usar estrogênio. Também é importante na ginecologia a diabetes (paciente com diabetes tem mais chance de ter candidíase, e a Candida não albicans, que é mais difícil de tratar), síndrome metabólica (é fator de risco para síndrome do ovário policístico - SOP), hipertensão (aumenta o risco de pré-eclampsia), obesidade (dificulta o parto). Além disso, o tecido adiposo transforma androgênio em estrogênio, e não em progesterona. Isso gera risco maior de câncer de endométrio. O endométrio responde a estrogênio e progesterona. O estrogênio prolifera o endométrio, gerando uma hiperplasia e podendo gerar displasia. A paciente que tem muita conversão periférica de estrogênio sem progesterona (obesidade) é risco para câncer de endométrio. O mesmo acontece com a SOP, em que há liberação de estrogênio mas a mulher não ovula. Doenças hepáticas e renais podem levar a irregularidade menstrual. Doenças hepáticas podem contraindicar anticoncepcionais que têm primeira passagem hepática. Alguns medicamentos (anticonvulsivantes, tetraciclina, rifampicina) reduzem a eficácia do anticoncepcional hormonal. Se a paciente usa AAS ou Varfarina ela pode 4 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 ter sangramento menstrual aumentado. Colher ainda a história familiar. Perguntar sobre neoplasias ginecológicas e intestinais. Na história social perguntar sobre tabagismo (cigarro aumenta risco de câncer de colo do útero - quem fuma é mais propenso a ter alterações pelo vírus HPV; ele não aumenta risco de câncer de mama, de ovário, de endométrio - no caso do câncer de endométrio o cigarro é até fator protetor) e etilismo. Para o exame físico, antes de começar a examinar deve-se checar se todo o material está disponível para o preventivo, por exemplo. A paciente se despe e coloca a camisola com a abertura para frente. Ela se senta e cobre com um lençol os membros inferiores. Só despe o que está sendo examinado. No exame físico, faz-se o exame físico geral, desde a ectoscopia até o exame de membros inferiores. Não esquecer de aferir a pressão arterial. O exame das mamas começa com a inspeção estática e dinâmica, seguida da palpação dos linfonodos axilares e supraclaviculares, com a paciente sentada. Com a paciente deitada, faz-se a palpação das mamas e a expressão aréolo-papilar. Com a paciente sentada, faz-se a inspeção estática: vê-se se tem alguma retração, abaulamento, cicatriz, alteração na pele. Depois, na inspeção dinâmica, a paciente eleva os braços, depois os abaixa, coloca as mãos na cintura e faz uma contração do músculo peitoral maior. Depois vem a palpação dos linfonodos, com a paciente ainda sentada. A paciente então se deita, com as duas mãos atrás da cabeça. A palpação é feita com as duas mãos e com as polpas digitais, buscando nódulos, áreas endurecidas, císticas, assimetrias. Depois é feita a expressão aréolo-papilar e pesquisa do complexo aréolo-papilar. Quando tiver alguma alteração, deve ser localizada em quadrantes, superiores e inferiores, lateral e medial (ou externo e interno). O exame da genitália externa segue a sequência: distribuição dos pelos, observar grandes e pequenos lábios em busca de alguma lesão, avaliar as glândulas de Bartolin e de Skene. Avaliar se tem distopia (colocar a mão da boca e soprar, para ver se tem algum prolapso, herniação, da parede vaginal). A paciente fica na posição de litotomia. Vai se avaliar clitoris, pequenos e grandes lábios, uretra, carúncula himenal na entrada da vagina. Para introduzir o espéculo, a mão dominante introduz o espéculo e a outra mão afasta os grandes e pequenos lábios. O espéculo é introduzido com uma inclinação de “2 horas”. Passou do intróito vaginal, coloca ele na horizontal, a mão não dominante segura o espéculoe a dominante o abre. Ele é aberto o suficiente para ver o colo do útero. Quanto menos abrir, menos incômodo. Para tirar o espéculo, não se fecha imediatamente, porque senão ele pega o colo do útero e dá cólica. Então tira ele um pouco aberto para sair do colo, e então se fecha para retirar o resto. Pode-se fazer o teste do KOH, ou teste de Whiff. Colhe-se um pouco da secreção e joga-se uma substância básica, e se tiver vaginose bacteriana ou tricomoníase vai ter um odor alterado, de “peixe podre”. Colhe-se o preventivo da ectocérvice e da endocérvice, passando para a lâmina. Aplicar depois o ácido acético, e áreas que ficarem brancas (aceto-reagentes ou aceto-brancas) são áreas com lesão pelo HPV. Geralmente não cora nada. Se corar é porque pode ter lesão pelo HPV. E depois aplica o Schiller, em que no local que ficou branco não será corado pelo iodo (o local alterado chama Schiller positivo ou iodo negativo). Depois faz-se o toque bimanual. Uma mão vai introduzir no colo e a outra fica na região supra- púbica. Avaliar se tem dor ao manipular o colo, se tem alguma lesão palpável, as dimensões e mobilidade do útero. Depois movimenta as mãos para os lados para avaliar os anexos. Quando a mão da vagina vai para um lado, a supra-púbica acompanha. 5 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 CICLO MENSTRUAL O ciclo menstrual é definido pela interrelação endócrina entre o hipotálamo, hipófise e ovários. O hipotálamo produz o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), que age na hipófise, estimulando a liberação de FSH e LH, e essas duas gonadotrofinas vão agir no ovário, atuando no crescimento folicular, ovulação e formação do corpo lúteo. E o ovário também vai produzir seus hormônios, basicamente estrogênio e progesterona, além da testosterona. Em cada ciclo menstrual fisiológico existe o desenvolvimento e amadurecimento de um óvulo, e o preparo do organismo feminino, principalmente do útero, para receber uma gravidez. O sangue menstrual é formada pelo tecido endometrial da camada funcional do endométrio, que é eliminada a cada menstruação, e sangue dos capilares e arteríolas que estão ali. Uma característica desse sangue é que ele não coagula. Ele tem componentes fibrinolíticos. O que às vezes a mulher refere como um coágulo que sai na menstruação é um agregado, que se forma dentro da vagina, formado por hemácias e muco. A primeira menstruação se chama menarca, e a última se chama menopausa. A idade da primeira menstruação, em 80% das vezes, ocorre entre os 11 e 13 anos da menina. Um ciclo menstrual eumenorreico, normal, dura entre 24 e 35 dias. O primeiro dia do ciclo menstrual é o primeiro dia da menstruação, e vai até o primeiro dia da próxima menstruação. Essa duração pode variar de um ciclo para o outro e de uma mulher para a outra. O fluxo deve durar de 3 a 7 dias. O volume é de 30 a 80 mL. O ciclo menstrual é formado basicamente por 3 etapas. A fase folicular, que é a fase em que acontece o crescimento do folículo, a fase ovulatória, representada pela ovulação, e depois a fase lútea, que é comandada pela progesterona, que é o hormônio produzido pelo corpo lúteo. A fase lútea é fixa, a duração do corpo lúteo normal é sempre de 14 dias. Então a partir do momento em que a mulher ovula, se estiver tudo normal e ela não estiver grávida, dali a 14 dias ela vai menstruar. O que varia de um ciclo para o outro é a duração da primeira fase, do crescimento folicular, podendo variar de 10 a 21 dias. Esse crescimento tem a ver com a qualidade do folículo. É por isso que na mulher próxima da menopausa não é incomum o ciclo se tornar mais curto, porque a qualidade folicular dela é pior. Uma menstruação com duração maior de 7 dias se chama hipermenorréia. Quando há aumento do fluxo, do volume, há uma menorragia. Se há os dois, há uma hipermenorragia. Se há uma diminuição, seja do volume e/ou do número de dias, há uma hipomenorréia. Amenorréia é um período de ausência de menstruação. Polimenorréia é quando há ciclos curtos, com menos de 24 dias, e a mulher fica menstruada várias vezes ao ano. Oligomenorréia é o contrário, ciclos longos, com poucas menstruações durante o ano, portanto. Metrorragia é uma sangramento genital de origem uterina, sem ciclicidade, normalmente de grande volume. 6 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 O hipotálamo está localizado na base do cérebro. Os núcleos arqueados do hipotálamo médio-basal produzem o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Ele vai na hipófise e estimula a liberação de gonadotrofinas. A liberação dele acontece de forma pulsátil. O intervalo entre os pulsos varia de acordo com a fase do ciclo. A resposta da hipófise varia de acordo com esses pulsos. Esse hormônio é liberado em direção à hipófise pelo sistema porta hipotálamo-hipofisário. O que faz o hipotálamo funcionar mais ou menos, liberando mais ou menos GnRH? Há um controle intrínseco, do próprio sistema nervoso central, determinado pelo próprio GnRH, denominado alça ultra-curta de feedback ou retrocontrole. O próprio GnRH tem o poder de controlar sua secreção. Se ele está alto no sangue, ele mesmo manda uma mensagem ao hipotálamo, reduzindo sua produção (feedback ou retroação negativa). Se ele está baixo, ele envia uma mensagem determinando o aumento da produção. Além disso, o ovário controla a produção hipotalâmica. Os hormônios ovarianos atuam no hipotálamo, controlando a produção do GnRH, de acordo com a necessidade de aumento ou diminuição dessa liberação. É a alça longa. E a hipófise, através da alça curta, também controla. Quando o FSH e o LH atingem níveis adequados, eles bloqueiam ou reduzem a produção do GnRH. Existem ainda fatores extrínsecos, que influenciam o SNC, podem interferir na produção de GnRH. Por exemplo, uma mulher que não quer engravidar e tem uma relação desprotegida. Essa mulher desenvolve um nível de stress que consegue, através das alterações na produção de substâncias do SNC, bloquear a ação hipotalâmica, fazer um ciclo anovulatório e não menstruar. Em anoréxicas e atletas de alta performance também, há alteração na produção dos opioides, que interferem no funcionamento do ciclo menstrual. A hipófise fica localizada na sela túrcica, e produz, sob estímulo do hipotálamo, o FSH e o LH. O FSH, hormônio folículo estimulante, vai estimula o folículo a crescer. Todo mês, um grupo de folículos começa a desenvolver (pode ser chamado também de onda folicular), para que um se destaque (ou 2). Esse folículo que se desenvolve vai ovular, e todos os outros sofrem atresia. Todo mês a mulher perde um grupo de folículos, para se desenvolver um. E esse estímulo para que um desenvolva é dado pela ação do FSH no ovário. O LH (hormônio luteinizante) é quem determina o momento da ovulação. É preciso ter um pico de LH para que o óvulo que está dentro do folículo termine sua maturação, e o folículo se rompa, liberando este óvulo. A característica da secreção do LH é de fazer um pico sanguíneo no meio do ciclo, 36 horas antes da ovulação. O FSH tem uma secreção alta, que vai aumentando ao longo da fase folicular. Na fase lútea ele atinge um platô e depois começa a cair, no meio da fase lútea, e no fim ele começa a subir de novo, perto da menstruação, para recrutar o folículo do mês seguinte. O LH já tem um padrão de pico no meio do ciclo. A prolactina também é um hormônio importante secretado pela hipófise. Ela estimula a produção de leite. Mas ela pode se elevar em condições patológicas (uso de algumas medicações, idiopática, hipotireoidismo), e isso é importante porque vai interferir na ciclicidade menstrual. A secreção da prolactina é regulada pela dopamina. 7 JOÃO PAULO MAULER – MED 106As gonadotrofinas agem se ligando a receptores na membrana celular, ao contrário dos hormônios produzidos pelos ovários (estrogênio e progesterona), que agem se ligando a receptores no núcleo da célula. No corpo todo da mulher tem receptores para estrogênio, como na pele, na mama, no útero, na vagina. Ele garante o turgor da pele, a elasticidade, ele mantém a mama jovem. Esses hormônios são carreados no sangue pela proteína SHBG (globulina ligadora de hormônio sexual). Os ovários são formados de estroma e pelos folículos de Graaf, que são sua unidade funcional. Os folículos são constituídos por células da teca (as mais externas), células da granulosa e o próprio oócito. O folículo de Graaf tem duas funções: produzir hormônios (estrogênio, progesterona e androgênio) e produzir um óvulo maduro todo mês. Quando a menina nasce, ela passou pela concentração máxima de folículos, que é quando ela tinha 20 semanas de vida intrauterina. Com 5-6 semanas, essas células germinativas começam a ser produzidas. Elas vão se multiplicando, e por volta da 20a semana de vida intrauterina se atinge o máximo (6 a 7 milhões de folículos). A partir daí há uma perda constante e inevitável de folículos, até que eles se esgotam e a mulher chega à menopausa. Quando a menina nasce, ela já tem só um milhão de folículos. Na puberdade, quando ela vai começar a ovular, ela só tem de 300 a 400 mil folículos. A cada ciclo menstrual há a perda de cerca de mil folículos para desenvolvimento de somente um óvulo. Além disso há uma perda qualitativa. Por isso a mulher que engravida mais tardiamente tem maior risco de aborto, de mal formação ou alteração cromossômico. Isso porque o óvulo, ao longo da vida da mulher, sofreu danos moleculares, que vão interferir na qualidade do DNA, na qualidade e aptidão do óvulo de produzir uma gravidez normal. Por isso é mais difícil engravidar mais tarde, e engravidando o risco de perda é maior, além do risco de alterações cromossômicas. O período ótimo de fertilidade seria entre 18 e 32 anos. A mulher tem ciclos irregulares mais ou menos a partir dos 45 anos, a ultima menstruação por volta dos 51, mas a perda da fertilidade acontece antes, por volta dos 42 anos. O que acelera a perda da qualidade dos folículos e também a perda de folículos mais precocemente são o uso de cigarro, drogas, exposição a poluição, exposição ocupacional a radiação. Essa perda mensal de cerca de mil folículos acontece de qualquer maneira, mesmo que a mulher esteja grávida, ou amamentando, ou em uso de anticoncepcional, ou mesmo na mulher que não está ovulando. Os hormônios ovarianos fazem um feedback negativo sobre os hormônios hipofisários. O estrogênio, ao subir, faz um feedback negativo na hipófise. Isso acontece até um determinado ponto. Quando ele chega em 200 pg/mL no sangue (mais ou menos no meio do ciclo) ele faz um feedback positivo sobre o LH, que é fundamental para estimular aquele pico de LH. O folículo vai crescendo, produzindo cada vez mais estrogênio. O estrogênio que antes bloqueava agora estimula a hipófise, e faz-se o pico de LH, que estabelece a ovulação 36 horas depois. O pico de LH também estimula o início da produção de progesterona pelo ovário, e essa progesterona também ajuda no feedback positivo. A função do útero basicamente é receber a gravidez, e todo mês ele se prepara para isso. Há uma proliferação da camada responsiva ao estrogênio, que é o endométrio, durante o período folicular. Durante a fase lútea, a fase da progesterona, há a formação de um arcabouço de 8 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 sustentação. Para a progesterona agir, o estrogênio tem que ter agido antes. É ele quem leva ao aparecimento de receptores para progesterona no endométrio. A fase folicular é dominada pelo estrogênio. Depois da ovulação vem a fase lútea, dominada pela progesterona. Na fase folicular há o crescimento de um grupo de folículos, estimulados pelo FSH, para que um deles possa ovular. São os folículos primordiais. A mulher chega na puberdade com folículos primordiais no ovários. Eles são a reserva ovariana. A primeira etapa de desenvolvimento, de folículo primordial para primário, acontece independente de qualquer ação hormonal. Do primário para frente depende da ação do FSH. Se tiver FSH, ele vai em frente, e se não tiver, atresia. O folículo primordial não tem receptor para FSH, e essa evolução para folículo primário é contínua em todas as fases da vida. O folículo primordial só tem o oócito com uma camada de células da granulosa. O folículo primário tem várias células da granulosa e forma a teca. Do folículo primário para o pré-antral já há atuação do FSH. Do nascimento até a puberdade não tem FSH. Então na infância só tem folículo primordial passando a primário, e primário sofrendo atresia e apoptose. Começa o FSH a agir, ele evolui de primário para pré-antral. No folículo pré-antral começa a produção de hormônio pelo ovário. Existe o oócito. Em volta dele tem as células da granulosa (mais internas). Em volta delas tem as células da teca. Cada uma tem um receptor diferente. As da teca tem receptor de LH e as da granulosa tem receptor de FSH. O colesterol chega no folículo, entra na teca por estímulo do LH, e é convertido em androgênio. Esse androgênio vai para a granulosa, e por aromatização se transforma em estrogênio. De todos os folículos recrutados no mês, aquele que consegue fazer essa conversão com mais rapidez é o que vai dominar e ovular. É o que tem mais habilidade de fazer essa aromatização e transformar androgênio em estrogênio. No folículo antral esse processo continua. O folículo que está num meio muito androgênico sofre atresia e não consegue ovular. O folículo dominante é aquele que tem um meio estrogênico. O estrogênio aumenta o número de receptores no próprio folículo e diminui o FSH para os outros. O estrogênio faz feedback negativo sobre o FSH, diminuindo o FSH. Mas o estrogênio que está sendo produzido naquele folículo dominante aumenta a quantidade de receptores para FSH 9 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 nele. Então mesmo o FSH caindo, esse folículo continua aproveitando bem o FSH. Além disso ele é mais vascularizado, recebe mais aporte de FSH. Os outros folículos têm menos receptor, menos vascularização, o FSH está caindo, eles param de crescer, de fazer conversão, e sofrem atresia. Há produção de líquido dentro do folículo, ele vai crescendo, ficando cheio de líquido, e há mais proliferação de células da granulosa, mais produção de estrogênio. No período pré-ovulatório, o estrogênio se elevou rapidamente e fez aquele pico de LH, por causa daquela troca de feedback. O estrogênio alto em vez de bloquear a hipófise a estimula, e há o pico de LH. Depois do pico de LH o FSH começa a cair. O oócito, que estava parado na prófase da meiose, dá prossegimento à meiose. Nessa fase pré-ovulatória é importante o prosseguimento da meiose do oócito, e agora há receptores de LH também na granulosa. Isso porque o LH é que é importante na segunda fase do ciclo. É ele quem vai estimular as células a produzirem progesterona. Por isso precisa de mais receptor de LH para o folículo responder a ele. OS folículos que têm uma luteinização começam a produzir progesterona já 12 a 24 horas antes da ovulação1. Os folículos em atresia estão produzindo androgênio. O androgênio aumenta a libido da mulher. Por isso no período periovulatório a mulher tem mais desejo sexual (é uma forma da natureza de favorecer a gestação). Quando ovula, o oócito continua a meiose até a fase de metáfase 2. Cerca de 32 ou 36 horas antes houve o pico de LH. Há um enfraquecimento da parede do folículo por ação de proteases. Há um processo inflamatório mesmona parede folicular. A parede se rompe, e o oócito é expulso junto com o líquido folicular. O líquido folicular quando cai na pelve causa uma irritação peritoneal, com dor. No período ovulatório não é infrequente a mulher se queixar de dor. O oócito é então captado pela fímbria da trompa. Na fase lútea, há a formação do corpo lúteo, cuja função é manter a gravidez. O corpo lúteo vai produzir progesterona, que é o que segura a gravidez. Se não acontece a gravidez, vai ter uma queda de LH no final da fase lútea e acontece sa luteólise. O que mantém o corpo lúteo funcionante é o beta-HCG, que é um hormônio produzido pela placenta. O corpo lúteo funciona produzindo progesterona até 8 semanas de gravidez. A partir daí a própria placenta assume a produção hormonal. Se a mulher não tem um corpo lúteo bom, produtor de progesterona, e engravida, ela vai abortar. A insuficiência de corpo lúteo é uma causa de aborto recorrente. A progesterona é quem causa a TPM também. A progesterona retém líquido, altera o humor, causa irritabilidade. São sintomas relacionados ao período pré- menstrual. No final da fase lútea, antes de menstruar, o FSH começa a se elevar novamente, para recrutar os folículos do próximo ciclo. 1 Por isso a mulher que quer saber se está ovulando, mede a temperatura. A progesterona é um hormônio termogênico, faz a temperatura subir um pouco. 10 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Caso clínico: paciente RPR, 19 anos, tem o seguinte padrão menstrual: TM 12/26/52. Procura o ginecologista relatando que até os 15 anos seu ciclo tinha duração de 37 a 40 dias, mas que atualmente fica menstruada 2 vezes em um mesmo mês. Seu padrão menstrual atual pode ser considerado normal? Qual seria provavelmente seu dia fértil? Essa paciente deseja usar pílula anticoncepcional, pois ela sabe que com a pílula ela não vai ovular, e assim poderá economizar óvulos e retardar a menopausa. Até os 15 anos a paciente tinha uma oligomenorréia (ciclo longo, com poucas mentruações ao ano). Seu padrão atual, 26 dias, é considerado normal (24 a 35 dias), e ela pode menstruar duas vezes no mesmo mês. Ela ovula no 12o dia do ciclo, porque a segunda fase do ciclo (fase lútea) é fixa e tem 14 dias. Ela não está correta sobre o uso de anticoncepcional para retardar a menopausa, porque os folículos continuam sofrendo atresia e apoptose, independente deles estarem sendo aproveitados ou não. 2 Significa que a mulher teve a menarca aos 12 anos, seu ciclo dura 26 dias e o fluxo dura 5 dias. 11 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL - CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS O sangramento uterino anormal é muito frequente. De todas as queixas ginecológicas, 20% serão distúrbios menstruais. As causas não estruturais (em que não há nenhuma alteração na estrutura do útero e ovários) são mais comuns nos extremos da vida reprodutiva. É considerado um sangramento uterino anormal quando há uma alteração do volume (é uma mensuração subjetiva), da duração (normal até 7 dias) ou da frequência (intervalos entre as menstruações). A grande maioria das mulheres desenvolverá, em algum momento da vida, algum grau de distúrbio menstrual, e uma grande partes delas vai precisar de tratamento. O sangramento, do ponto de vista objetivo, traz para a paciente um quadro de dor ou dismenorréia (cólica no período menstrual, que pode ser incapacitante), anemia (dependendo do volume perdido), prejuízo nas atividades (trabalho, lazer, sexual), piora na qualidade de vida. A classificação do sangramento uterino anormal é pelo sistema PALM-COEIN. Toda vez que tem um sangramento uterino anormal, é preciso pensar se tem uma causa estrutural ou uma calsa não estrutural. As causas estruturais (PALM) são Pólipo, Adenomiose (infiltração do endométrio na musculatura uterina), Leiomioma (tumoração benigna do corpo uterino) e Malignas. As causas não estruturais (COEIN) são Coagulopatia, Ovulatória, Endometrial, Iatrogênica e Não classificada (quando não se consegue identificar o motivo do sangramento e foram excluídas causas orgânicas). É sempre importante, na mulher com sangramento anormal, excluir a gravidez. Antes de pensar em causa estrutural ou não estrutural, é preciso pensar se existe a possibilidade daquela mulher estar grávida e tendo uma complicação da gravidez. O sangramento anormal é um sintoma, que deve estar relacionado com alguma outra alteração. O normal é um intervalo entre menstruações de 24 a 35 dias, durando de 3 a 7 dias, com um volume de até 80 mL. Porém, o volume é subjetivo, e por isso mais importante é a interferência na qualidade de vida da paciente do que a medida do volume3. Na primeira fase do ciclo menstrual, o estrogênio age no endométrio, fazendo uma proliferação universal. A ovulação acontece no meio do ciclo, e o hormônio que passa a predominar é a progesterona. Ela é fundamental para desenvolver o estroma, que dá o suporte estrutural do endométrio. Ele consegue ficar alto, espessado porque ele tem a estrutura que a progesterona forma. Quando há a involução do corpo lúteo, caem os hormônios e ocorre a menstruação, porque a sustentação do endométrio é retirada. Além disso, localmente há uma autodigestão enzimática da camada funcional do endométrio e do seu plexo capilar, ocorrendo focos de necrose e um processo inflamatório local que fazem a eliminação tecidual. Quando se pensa que um sangramento uterino pode ser em decorrência de uma coagulopatia? Principalmente nas meninas que estão tendo as primeiras menstruações. Às vezes a manifestação de uma púrpura, de uma doença de Von-Willebrand (as mais comuns) vai acontecer no período menstrual somente. Ela não tinha tido nenhum momento de sangramento para avaliar o sistema de coagulação. Quando ela tem as primeiras menstruações, vê-se um quadro de sangramento abundante, com dificuldade de coerção. 3 Menos da metade das pacientes que procuram tratamento por menorragia (volume menstrual aumentado) têm mesmo um volume de mais de 80 mL. 12 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Pensar nisso na adolescente. Vão ser solicitados os exames (hemograma, coagulograma) e a partir daí algum exame específico. Dificilmente vai se encontrar um quadro de coagulopatia numa mulher adulta, que já teve várias menstruações sem nenhuma repercussão. Dentro do quadro dos distúrbios ovulatórios, o ciclo sem ovulação corresponde a 80% das causas de sangramentos não estruturais. Vai ter uma falta de ovulação nos extremos da vida reprodutiva, quando a menina está nos 2 primeiros anos após a menarca, ou quando a mulher está nos últimos anos do menacme, próxima da menopausa. O outro quadro de anovulação ocorre no menacme, naquela mulher que tem hirsutismo, por causa de hiperandrogenismo, às vezes acne, ciclos longos e irregulares. Essa é a mulher que tem a síndrome dos ovários policísticos (SOP). A paciente perto da menarca pode ter ciclos anovulatórios porque ela ainda tem uma imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano. Essa imaturidade é mais frequente nos 2 primeiros anos após a menarca. É fisiológico que uma menina tenha nos 2 primeiros anos de menstruação alterações no sangramento mentrual, por conta de anovulação (não quer dizer que não se deva intervir). Por imaturidade da hipófise, ela não responde ao pico de estrogênio e de LH. À medida que o folículo vai crescendo, ele vai produzindo cada vez mais estrogênio, e esse estrogênio vai na hipófise fazendo feedback negativo sobre o FSH. Quando ele atinge 200 pg/mL, esse feedback passa aser positivo, levando a um pico de LH. Isso é fundamental para ocorrer a ruptura folicular. Nessa menina, a hipófise não consegue entender o pico de estrogênio, e não libera o pico de LH, e a menina não ovula. Com isso vai haver uma proliferação contínua do endométrio. Se não tem ovulação, o ovário não produz progesterona, e não vai ter aquela sustentação para o endométrio. Ele vai só proliferando, sob a ação estrogênica, sem antagonismo da progesterona. Ele vai desabar de forma irregular, como se fosse soltando pedaços, formando buracos na cavidade. Isso gera um sangramento prolongado após um período sem menstruar. O sangramento pode chegar a ter um impacto hemodinâmico, causar anemia. Na paciente próxima da menopausa, a causa de anovulação também é fisiológica, mas por outra causa. Há uma diminuição da reserva de folículos, e esses últimos folículos já são mais refratários aos estímulos da hipófise, e com isso não vão ovular. Aí a consequência é a mesma. A síndrome dos ovários policísticos acontece durante o período reprodutivo. Um distúrbio no mecanismo de feedback, que faz com que haja um estímulo alterado pelo hipotálamo e, com isso, baixos níveis de FSH, em contraposição a altos níveis de LH. Normalmente, se for dosar no sangue, tem uma relação de 2:1 entre LH e FSH. Não se sabe porque, parece que há uma situação genética envolvida. É uma doença de causa genética, em que o hipotálamo libera pulsos alterados de GnRH, fazendo com que o FSH fique em níveis mais baixos. Com isso, como o FSH é responsável pelo crescimento dos folículos, os folículos começam a crescer, mas não chegam a ovular, formando um aspecto de vários microcistos, que são folículos que começaram a crescer mas não conseguiram terminar, pela falta de FSH. Essa paciente desenvolve uma anovulação crônica. Muitas vezes o quadro associado é de obesidade, hiperandrogenismo, que se manifesta por aumento de pelo, acne, queda de cabelo, oleosidade. Existe um espectro de manifestações clínicas amplo, variando de mulher para mulher. O sangramento vai ocorrer igual nas outras duas situações: intervalos longos sem menstruar, e sangramento prolongado e intenso, por conta de uma hiperproliferação endometrial, por ação estrogênica contínua. 13 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Para fazer o diagnóstico de SOP, existe o critério de Rotterdam. É preciso ter 2 dos 3 critérios: oligoanovulação e/ou anovulação, hiperandrogenismo clínico ou laboratorial, ovários policísticos ao ultrassom. Ou seja, não basta ter ovários policísticos ao ultrassom. Existe uma diferenciação da síndrome do ovário policístico verdadeira, quando a anovulação está presente. É importante excluir outras causas de anovulação e hiperandrogenismo antes de dizer que é SOP. Há um aumento da pulsatilidade do GnRH. Até hoje não se sabe como um único hormônio estimula de forma diferente dois outros. O fato é que na SOP a pulsatilidade aumenta. Isso faz com que o LH responda mais que o FSH. O LH age na teca, camada de células mais externas do folículo. Ele produz lá na teca androgênio. O androgênio vai para a granulosa e é transformado em estrogênio. Se tem muito LH, vai ter muito androgênio. O FSH é baixo, então o crescimento do folículo não é adequado. Por isso ele não cresce até ovular. É comum tratar SOP com metformina. Há uma hiperinsulinemia por resistência periférica a insulina. Por isso hoje a SOP hoje é abordada de forma multiprofissional, porque se entende ali uma síndrome metabólica também. A paciente tem maior risco de desenvolver diabetes, tem maior risco de dislipidemia, e com isso de desenvolver doença cardiológica, hipertensão. Com a hiperinsulinemia, a insulina tem uma ação sinérgica ao LH, ela faz produzir mais androgênio. Além disso a insulina inibe a síntese hepática de globulina carreadora de esteróide (SHBG). Se tem pouca proteína de transporte, o hormônio fica mais livre no sangue. A testosterona livre vai agir mais nos tecidos. Por isso quando dá metformina para o paciente com SOP, ela melhora o hiperandrogenismo. A síndrome dos ovários policísticos não tem cura. São tratadas as consequências de acordo com o objetivo da paciente. Essa mulher, pode, em qualquer momento da vida, ter os pulsos de GnRH normalizados e ela voltar a ovular, não se sabe a causa. Dentro da causa endometrial, algumas mulheres todo mês quando menstruam liberam um volume muito grande. Essa mulher pode ter nascido com um aumento da atividade fibrinolítica no endométrio, e um aumento da produção e concentração de prostaglandinas locais. Isso faz com que haja uma perda de hemostasia local. Nesse caso, pode-se fazer um tratamento hormonal ou não hormonal. No não-hormonal, usa- se o ácido tranexâmico (Transamin®), que é um anti-fibrinolítico. É dado um comprimido de 8 em 8 horas durante o período menstrual. Ele controla a atividade fibrinolítica no endométrio e reduz o sangramento. Outra opção é uso de AINE. O mais testado em estudo é o ácido mefenâmico, mas podem ser usados outros. Eles vão reduzir a produção local de prostaglandinas, reduzindo o sangramento de forma importante. Quem tem muita menstruação e toma antiinflamatório, é significativa a redução do volume menstrual. O tratamento hormonal, pode usar o sistema intrauterino de levonorgestrel (SIN_LNG), que é um DIU medicado (Mirena®). É um DIU que vem com progesterona na haste. Ele libera lentamente progesterona dentro do útero, com absorção sistêmica quase inexistente, levando a uma atrofia do endométrio. Com isso, a paciente muitas vezes entra em amenorréia. Então, nos quadros de sangramento mentrual intenso, que não responde a tratamento oral, ou a paciente não pode usar antiinflamatório, ou tem intolerância, ela pode inserir um DIU com progesterona. Pode-se ainda usar um contraceptivo hormonal oral, pois ele reduz a proliferação do endométrio. A pílula é um anovulatório. Ela bloqueia a ovulação bloqueando a hipófise. Fica a cargo da pílula a proliferação do endométrio, com doses baixas de estrogênio, e por isso a proliferação é menor. E a progesterona da pílula contém o crescimento 14 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 endometrial, e quando sangra sangra menos. Ou pode ainda usar progesterona contínua, uma pílula só de progesterona. A escolha desse tratamento vai depender da paciente e seus objetivos secundários (se quer anticoncepção, usar contraceptivo oral, se tem dismenorréia usar AINE, porque o ácido tranexâmico não melhora dor). A causa iatrogênica relaciona-se ao uso de medicamentos, que pode ser, por exemplo, um uso inadequado pela paciente (não tomar a pílula corretamente, ou tomar a pílula do dia seguinte junto com o contraceptivo). O diagnóstico do sangramento uterino anormal é baseado na exclusão de causas orgânicas, incluindo complicações de gravidez, lesões (sangramento em uma menina pode ser abuso sexual), anormalidades estruturais dos órgãos pélvicos. Pesquisar o uso de medicamentos. Verificar a função do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano-endometrial. Se tem uma adolescente com sangramento uterino anormal, pensa-se em causa não-estrutural, o mais comum no início da vida reprodutiva é imaturidade do eixo, ou até pode ser uma coagulopatia. Mas não deixar de fazer o teste de gravidez. A paciente no menacme, o mais comum são as causas estruturais (mioma, pólipo, adenomiose), mas não esquecer do ovário policístico. Também é importante descartar gravidez. É importante, se possível, fazer um estudo do endométrio antes de medicar, por causa do risco de doença maligna. Sabe-se que o câncer de endométrio é estrogênio-dependente, e se der estrogênio para tratar a mulher pode estar estimulando o câncer endometrial. No cimatério é preciso se preocupar com sangramentouterino anormal, porque ele muitas vezes pode ser determinado por neoplasias, principalmente após a menopausa. Normalmente um ultrassom transvaginal dá informação boa sobre isso, porque ele mede a espessura do endométrio (e a espessura é um indício de hiperproliferação). A histeroscopia é uma arma interessante, pois permite uma visualização direta da cavidade uterina. O tratamento pode ser hormonal ou não hormonal. Pode-se dar estrogênio e progesterona combinado (pílula anticoncepcional), ou porque sangra muito, ou porque tem SOP. Pode dar só a progesterona, cíclica ou contínua. Na anovulação falta progesterona. Pode-se mimetizar um ciclo normal, dando todo mês 10 dias de progesterona, como se ela ovulasse. Faz-se uma fase lútea para ela com o medicamento, e após os 10 dias de progesterona ela menstrua. Se ela não quer sangrar, dá a progesterona contínua. Pode-se usar ainda o sistema intrauterino de levonorgestrel. O tratamento não hormonal é com AINE, antifibrinolítico. A função desses medicamentos é atuar na estabilidade do endométrio e no controle dos fatores que levam à descamação e cicatrização. Pensar no estrogênio como um cicatrizante, ele que faz proliferar. Quando se tem um quadro de urgência, com repercussão hemodinâmica, hipotensão, hipovolemia, lipotimia, é preciso atuar internando essa paciente e fazendo a estabilização hemodinâmica com infusão de líquido. Depois vai pensar em bloquear o sangramento. Se o endométrio está desabando de forma irregular, reepitelizar esse endométrio. Então a paciente internou, e entra com estrógenos conjugados oral em altas doses (2,5 mg, 4 vezes ao dia). O ácido tranexâmico ou antifibrinolítico tem venoso, que pode ser dado 4 vezes ao dia também. Dar antiemético. Se ela não está instável, pode dar o tratamento para casa (passar a pílula anticoncepcional 3 comprimidos por dia 3 dias, depois reduz para 2 por dia, depois 1 por dia, 2 cartelas; pode passar AINE, principalmente se tiver dor, e até o ácido tranexâmico). 15 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Acima de 35 anos, se ela chega na urgência com sangramento intenso, o ideal, antes de dar estrogênio, é estudar o endométrio, pelo risco maior de ter câncer Mas se não tiver como pode dar o estrogênio, porque um dia de estrogênio não vai fazer estrago. Mas tem que encaminhar a paciente para um estudo do endométrio depois. Muitas paciente com sangramento agudo podem apresentar uma desordem crônica associada, que necessita de avaliação sistemática e uma terapia de longo prazo. Não adianta parar o sangramento, e a paciente voltar para casa e logo ter sangramento novamente. É preciso fazer uma abordagem de manutenção. O objetivo na manutenção naquela paciente com anovulação (SOP) é reduzir o androgênio, restaurar a função ovulatória (se ela quer engravidar), regularizar a menstruação para proteger o endométrio de câncer e reduzir os riscos a longo prazo de diabetes e doença cardiovascular, pela questão metabólica envolvida. É preciso orientar sobre mudança de estilo de vida, com atividade física e perda de peso. Isso já reduz a anovulação. Para anemia, fazer reposição de ferro. Se ela quer contracepção, usar contraceptivo hormonal oral (ter SOP não é garantia de contracepção). Progesterona cíclica é uma opção se não quer usar pílula e não precisa de contracepção. Metformina será boa principalmente na paciente com SOP obesa. Se a paciente quer engravidar, pode usar um medicamento que induza a ovulação, como o citrato de clomifeno. Existe FSH e LH injetável. Tratamento cirúrgico é exceção para causa não estrutural. Mas pode precisar tirar o endométrio se ele não responde ao tratamento. Ou então faz uma ablação com a histeroscopia. 16 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 AMENORRÉIAS Para que a menstruação ocorra normalmente, é preciso que o hipotálamo esteja funcionando, produzindo GnRH, que vai atuar na hipófise. A hipófise responde produzindo FSH e LH. O FSH age no ovário estimulando o crescimento folicular, e o LH é liberado em forma de pico no meio do ciclo menstrual, propiciando a maturação final do óvulo, a ruptura do folículo e a ovulação. O ovário, por sua vez, produz principalmente estrogênio e progesterona. O estrogênio age sobre o útero, proliferando o endométrio, e a progesterona dando a sustentação, o arcabouço. Quando esses hormônios caem, há a menstruação. O controle da produção desses hormônios se dá por mecanismo de feedback, em que o aumento de um hormônio pode levar à diminuição do outro. Lembrar de quando o estradiol atinge a concentração de 200 pc/mL, e passa a fazer um feedback positivo sobre a hipófise, levando ao pico de LH. Amenorréia é a ausência de mentruação. Ela pode estar associada a múltiplos fatores, não necessariamente motivos ginecológicos. Existem distúrbios endócrinos, infecciosos, neoplásicos, que levam à parada da menstruação. A amenorréia pode ser fisiológica, na gravidez, na amamentação (prolactina alta faz feedback negativo no hipotálamo, no GnRH), na pós-menopausa. Para que se diga que a paciente está em amenorréia, ela precisa estar 6 meses sem menstruar, na amenorréia secundária. A amenorréia é primária quando a menina nunca menstruou até os 14 anos, na ausência de caracteres sexuais secundários (que são desenvolvidos através do estímulo do estrogênio), ou quando há desenvolvimento dos caracteres secundários, após os 16 anos. Geralmente na amenorréia primária há alguma má-formação, alguma alteração genética, que impede o desenvolvimento ovariano. E a amenorréia secundária é quando a mulher está sem menstruar há 6 meses. Amenorréias primárias A amenorréia primária pode ser por mal formação genital congênita, ou seja, a menina nasce com alguma alteração anatômica. A mais comum é a síndrome de Turner. Ela é rara. Existe uma disgenesia gonádica. A gônada é mal formada, ela não tem folículos. A menina nasce com a gônada atrófica, não funcionante. Essa menina tem um infantilismo sexual. Não tem desenvolvimento de mamas, a genitália tem aspecto infantil. Há desenvolvimento de pêlos, porque depende da produção de androgênios pela suprarrenal. Essa menina tem um cariótipo 45X0, ou um mosaicismo (algumas células 45X0 e outras 46XX, e o quadro clínico vai depender da proporção entre esses 2 cariótipos). Os ovários são atróficos. A hipófise se comporta como uma mulher na pós-menopausa. Como não tem o estrogênio para fazer o feedback e reduzir a produção de FSH e LH, eles vão estar elevados. Para fazer o diagnóstico da síndrome de Turner, pode-se, além da apresentação clínica, fazer a dosagem das gonadotrofinas, e o diagnóstico final é feito através do cariótipo. Pode acontecer de um paciente XY ter um quadro de feminilização testicular e chegar com a mesma queixa da menina com síndrome de Turner. Os dois pacientes têm o mesmo quadro clínico, a menina que tem a síndrome de Turner e o indivíduo que é masculino mas tem feminilização testicular, que é a síndrome de Morris. Ambos chegam à consulta com amenorréia. O indivíduo com síndrome de Morris tem os testículos funcionantes, mas os tecidos não têm resposta à testosterona. Por deficiência de uma enzima, a testosterona não consegue atuar nos receptores periféricos. Esse indivíduo não desenvolve caracteres sexuais 17 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 masculinos. Não há desenvolvimento de pênis, de bolsa escrotal, de distribuição de pêlos masculina. A genitália externa geralmente é ambígua. Esse indivíduo é tratado pela família como feminino. Mas não há desenvolvimento também de caracteres femininos (a gônada dela é testículo). Ela tem as gonadotrofinas normais (o testículo funciona normalmente, e a testosterona vai na hipófise fazer feedbacknegativo). Geralmente ele tem o testículo em posicionamento atópico, normalmente na região inguinal, e ele tem risco grande de malignização. Esse testículo é então retirado pelo risco de malignização. O indivíduo passa a receber estímulo estrogênico para desenvolver os caracteres sexuais secundários femininos (assim como o indivíduo com Turner). Apesar de fenotipicamente os indivíduos serem semelhantes, um é 45X0 e o outro 46XY. Um tem ovário atrófico, o outro testículo funcionante. Um tem gonadotrofinas elevadas, o outro normal. A consequência direta, na prática desses quadros, é que o indivíduo com Turner não tem capacidade de engravidar naturalmente, porque ela não tem folículos, mas pode fazer reprodução assistida, com doação de óvulos, o útero sendo estimulado com estrogênio, e a gravidez sendo mantida com hormônio exógeno. Se a menina tem desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, uma causa de amenorréia primária pode ser uma agenesia de útero e vagina. Ela nasce com uma alteração no desenvolvimento dos ductos de Muller, e ela não tem útero nem vagina (às vezes tem só o terço inferior da vagina). Muitas vezes essa menina tem alteração do sistema urinário também. É a síndrome de Rokitanski-Kuster-Hauser. Existem técnicas para reconstruir a vagina. Ela não vai menstruar nunca (não tem útero). Existem também, mais raros, o hímen imperfurado (mucosa do intróito vaginal toda fechada; o sangue menstrual não consegue escoar, e ela tem hematocolpo, depois hematométrio, e pode até refluir pela trompa e causar hematoperitôneo) e o septo vaginal transverso (parecido com o hímen imperfurado, mas há uma parede no interior da vagina). Nesses dois casos o ovário é preservado e há desenvolvimento normal dos caracteres sexuais secundários. Outra síndrome congênita é a síndrome de Kallman, em que há mulher tem uma deficiência central, hipotalâmica, que impede a produção de GnRH. Como a área afetada é próxima da área olfativa, a mulher tem também anosmia (não sente cheiro). Ela tem hipófise normal, ovário normal, mas não desenvolve caracteres sexuais secundários, porque sem o GnRH não há estímulo para a hipófise e o ovário. Se for estimulada, essa mulher pode engravidar. Normalmente essa mulher é tratada com reposição de estrogênio e, se ela quiser engravidar, se estimula com FSH e LH. Amenorréias secundárias A amenorréia secundária pode ser causada pela síndrome de Asherman. A paciente teve um aborto, precisou fazer uma curetagem para retirar restos de placente dentro do útero, que por algum motivo foi muito vigorosa. Pode acontecer de retirar a camada basal do endométrio, que é a responsável pela reconstituição do endométrio a cada mês. Aí, mesmo com o estímulo do estrogênio, ela não consegue se recompor. Uma parede do útero se cola à outra, formando uma fibrose, um processo cicatricial anômalo que forma uma trave, uma sinéquia entre uma parede uterina e outra. Essa paciente não forma endométrio normalmente e não consegue menstruar. É um problema não raro e difícil de tratar. Pode tratar por histeroscopia, cortando aquela aderência e colocando um DIU para evitar que as paredes se colem novamente, e depois se dá altas doses de estrogênio para que o endométrio, nos locais onde ainda há tecido 18 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 basal, consigam repor essas áreas de cicatrização anômala. O Asherman é sempre secundário a uma curetagem pós-gravidez. No sistema nervoso central pode ter alterações secundárias que levem a amenorréia. Por exemplo, lesões destrutivas (TCE, por exemplo) que levem a deficiência de produção de GnRH. Desnutrição, estresse, exercícios extenuantes, podem levar a amenorréia. Por isso, sempre que tiver uma amenorréia, sempre perguntar sobre perda de peso, distúrbio alimentar (anorexia), situações de estresse. Na hipófise, pode ter lesão ou tumor. A síndrome de Sheehan é quando no pós-parto há uma hemorragia, a mulher faz uma hipovolemia e uma necrose de hipófise por hipovolemia. Essa falta de vascularização da hipófise altera a produção de FSH e LH, impedindo o estímulo ovariano, a ovulação e a menstruação. A vasculite diabética pode comprometer a vascularização da hipófise, levando ao mesmo problema. Pode ter também um adenoma de hipófise produtor de prolactina. A hiperprolactinemia é uma causa frequente de amenorréia. Não se pode esquecer das causas farmacológicas de hiperprolactinemia (alguns antidepressivos, metildopa, metoclopramida). O adenoma dificilmente é necessário cirurgia para o tratamento. Normalmente o microadenoma tem tratamento clínico, mas se o adenoma for maior, causando alguma compressão no sistema nervoso, pode precisar de cirurgia, por via transesfenoidal. Uma causa importante de hiperprolactinemia é o hipotireoidismo primário. A tireóide não funciona, há uma elevação do TRH no hipotálamo, e ele estimula a hipófise demais, e com isso a prolactina sobe. A causa mais comum de amenorréia secundária é a anovulação de origem ovariana, que pode ser por falência ovariana pós-menopausa (fim da reserva folicular), síndrome dos ovários policísticos. O diagnóstico começa com a anamnese, onde é importante ver idade, desenvolvimento de caracteres sexuais, desenvolvimento pôndero-estatural, antecedentes de traumas. No exame físico ver se a genitália tem mal-formação, se tem nódulo inguinal, se tem caracter sexual secundário ou não. Se não tem, pensar na agenesia gonádica, e fazer diagnóstico diferencial com testículo feminilizante. Se tem, ver se tem hímen imperfurado. Ver se tem secreção das mamas (prolactina alta), ou uso de medicamentos. Na amenorréia a primeira coisa a se fazer também é excluir gravidez. A primeira causa de amenorréia é gravidez. A principal causa da amenorréia secundária é a anovulação. E aí, para saber se é anovulação mesmo, existe o teste da progesterona. Se a mulher não está ovulando, está faltando progesterona. Se está desconfiando que a mulher não está menstruando porque não ovula, ou seja, ela está sob ação estrogênica contínua, se dá 5 dias de progesterona (acetato de medroxiprogesterona). Depois disso, de 3 a 10 dias ela vai menstruar se o problema for anovulação. O endométrio vai estar proliferado pelo estrogênio. Quando dá a progesterona se forma o arcabouço, e tirando ela o endométrio desaba. Só falta saber o motivo dessa anovulação. E aí pode dosar prolactina e TSH, que são causas comuns de anovulação, ou tentar fazer diagnóstico de síndrome de ovário policístico. Se com o teste de progesterona, a mulher não menstruou, pode ser uma disfunção ovariana e não tem estrogênio, ou pode ser um impedimento para que a menstruação saia. Faz-se então o teste de 14 dias de estrogênio e depois progesterona. Se menstruar, significa que a saída está normal, mas falta estrogênio. Pode ser que o hipotálamo não esteja estimulando, ou pode ser um problema na hipófise, ou no ovário. Se dosar FSH e LH e estiver elevado, o problema é 19 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 falência ovariana. Se eles estiverem normais ou baixos, a causa pode ser hipofisária ou hipotalâmica. Se ela não menstrua com o teste, o problema é alguma coisa bloqueando a saída, e aí se trata especificamente essa obstrução do trato de saída. 20 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 ABDOME AGUDO EM GINECOLOGIA As principais causas de abdome agudo em ginecologia são inflamatóra (doença inflamatória pélvica), hemorrágica (gravidez ectópica e cisto ovariano hemorrágico - ou corpo lúteo hemorrágico), isquêmica (torção de anexos e degeneração de miomas) e perfurativa (perfuração uterina). Lembrar dos diagnósticos diferenciais (torção anexial do lado direito faz diagnóstico diferencial com apendicite, porexemplo). A primeira coisa a se pensar é se a paciente tem estabilidade hemodinâmica. Se a resposta for não é porque ela está sangrando em algum lugar (abdome agudo hemorrágico), que pode até 21 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 não estar sendo exteriorizado. As principais causas são gravidez ectópica e cisto ovariano hemorrágico. Gravidez ectópica é quando o blastocisto se implanta fora da cavidade endometrial. Ele pode se implantar, por exemplo, no colo do útero, ou no corno uterino (entre a cavidade endometrial e a tuba). A maioria das gestações ectópicas acontecem na tuba e, principalmente, na ampola (segmento médio da tuba). São locais que não oferecem as condições necessárias para o desenvolvimento da gestação. Geralmente a paciente vai ter inicialmente os sintomas da gravidez (náusea, desconforto abdominal), e os sintomas geralmente começam entre a sexta e oitava semana de gravidez. Os sintomas clássicos são amenorreia (80%), dor abdominal (77%) e sangramento (menos da metade tem, 36%; nem toda paciente tem um sangramento vaginal, a maioria delas tem um sangramento intracavitário, abdominal). Quem tem corpo lúteo hemorrágico é quem não usa anticoncepcional hormonal. Os anticoncepcionais hormonais, a maioria deles, são anovulatórios, e para formar o corpo lúteo tem que ovular. O corpo lúteo cresceu e sangrou. Esse sangramento leva a uma irritação peritoneal. É mais comum e mais grave em pacientes que usam anticoagulante. O corpo lúteo hemorrágico gera uma dor súbita e de local bem definido. A paciente sabe exatamente quando começou a dor e sua localização. Os fatores predisponentes são distúrbios da coagulação e uso de anticoagulantes. Estamos falando de uma paciente instável hemodinamicamente. É preciso fazer ressuscitação volêmica da paciente e operar. Essa paciente precisa ser operada rápido. Como é um quadro de instabilidade hemodinâmica, a laparotomia é a via mais indicada. Se for uma gravidez ectópica, existem duas possibilidades. Pode-se fazer uma salpingectomia (retirar a tuba toda) ou uma salpingostomia (retirar só a gravidez ectópica, o blastocisto implantado). A vantagem da salpingectomia é que com a retirada total da tuba não fica nenhum resquício de gravidez ectópica, e não precisa nem acompanhar com β-hCG. A salpingostomia tem como vantagem preservar a tuba, mas o problema é que se causa aderência, e com isso aumenta o risco de uma nova gravidez ectópica. 22 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Quando a gravidez ectópica acontece na região cornual, comumente ela vai mais longe, mas quando chega por volta de 11 semanas ela rompe, e geralmente sangra muito. Se a paciente está estável hemodinamicamente, é preciso fazer outra pergunta: é um quadro infeccioso? A paciente tem clínica de infecção? Se a resposta for sim, o diagnóstico é de doença inflamatória pélvica (DIP). É uma doença que tem ficado cada vez mais comum por causa do aumento das doenças sexualmente transmissíveis. A DIP pode não se resolver e virar uma DIP crônica. DIP é uma doença infecciosa que começa no colo, como uma cervicite. O colo fica friável, vermelho, sangra com facilidade, e que tem uma secreção purulenta no orifício do colo. Por algum motivo, a infecção ascende para dentro da cavidade uterina, e até para tuba, ovário e cavidade pélvica4. Se a paciente não for tratada, ou virar uma DIP crônica, a paciente fica cheia de aderências, pode até bloquear o ovário, a tuba. Além da dor, a paciente pode então ter também infertilidade. Geralmente é causada por Clamídia ou gonococo. É uma doença sexualmente transmissível. Os casos que não são (10 a 15%) geralmente é quando tem alguma manipulação (por conta própria ou médica). A implicação de ser uma DST é que tem que tratar o parceiro. Cerca de 15% das pacientes que tiveram DIP vão ter gravidez ectópica (pela formação de aderências), 18% vai ter dor pélvica crônica, e 50% vai ter infertilidade (por obstrução tubária). Em torno de 12% das adolescentes sexualmente ativas têm no mínimo um episódio de DIP antes dos 20 anos de idade. Existe uma aderência clássica, que é a síndrome de Fitz-Hugh-Curtis. É uma peri-hepatite com aderências em corda de violino. O pus na cavidade pélvica reflui e dá essa síndrome. Para o diagnóstico existem 3 critérios mínimos (é preciso ter 2 pelo menos), que são critérios de exame físico. São eles dor à mobilização do colo, dor à palpação do fundo do útero e dor à palpação de anexo. Os critérios adicionais são 5: temperatura maior que 38,3oC, corrimento muco-purulento, aumento de PCR ou VHS, leucocitose e cultura para clamídia ou gonococo (a cultura seria patognômica, mas demora 48 horas, e nem todo laboratório faz cultura para clamídia e gonococo). A paciente deve ter 2 critérios mínimos e pelo menos 1 critério adicional. O Ministério da Saúde lançou em 2015 um manual para DST. Nele, existem os critérios maiores, e os critérios menores são um pouco diferentes. Existem ainda critérios elaborados. 4 Homem não tem DIP, e nem mulher que fez histerectomia total. 23 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 Os exames laboratoriais a serem pedidos são hemograma, VHS ou PCR, EAS com bacterioscopia e urocultura. β-hCG sempre tem que pedir, porque a gravidez é diagnóstico diferencial. É importante fazer ultrassom transvaginal, para ver se tem algum quadro de abscesso associado. No tratamento, se tem só cervicite, para cobrir o gonococo usa Ciprofloxacino 500 mg por via oral (dose única), e para cobrir a Clamídia usa Azitromicina 1 g via oral (dose única, 2 comprimidos de 500 mg). Esse tratamento não funciona para DIP, só para cervicite. Se for DIP é preciso ver se a paciente está apta a fazer tratamento ambulatorial ou internada. Se for ambulatorial, usa Ceftriaxona 500 mg IM (dose única), para o gonococo, e Doxaciclina 100 mg via oral, 2 vezes ao dia por 14 dias, para a Clamídia. Se no exame físico acha que tem vaginose bacteriana5, usar também o Metronidazol 500 mg (2 comprimidos de 250 mg), 2 vezes por dia por 14 dias. A paciente será internada se há incerteza no diagnóstico, se é feito o tratamento clínico e a paciente volta com o quadro pior, ou sem melhora, ou com intolerância ao tratamento, se há queda do estado geral, se há abscesso tubo-ovariano ou pélvico, ou se a paciente está grávida. O tratamento de primeira linha para a paciente internada é Cefotetan (2g IV, 12/12h) ou Cefoxitina (2g IV, 6/6h), mais Doxaciclina (100 mg V, 12/12h), por 14 dias. Porém, essas cefalosporinas são muito pouco disponíveis. O tratamento alternativo, então, é Clindamicina 900 mg, EV, de 8/8h, por 14 dias, mais Gentamicina, IV ou IM, 2 mg/kg de dose de ataque e dose de manutenção, que pode ser 1,5 mg/kg de 8/8h, ou dose única diária de 3 a 5 mg/kg, também por 14 dias. Se a paciente tiver um abscesso que não respondeu ao tratamento parenteral, ou que rompe, essa paciente deve ser tratada cirurgicamente, com laparotomia para retirada do abscesso e, dependendo do comprometimento do abscesso, histerectomia. Alguns livros estadiam a DIP em tipo 1 (sem critério de internação, tratamento ambulatorial), tipo 2 (critério de internação, mas não tem abscesso), tipo 3 (critério de internação, e tem abscesso) e tipo 4 (critério de internação, com abscesso roto; tem alta mortalidade e risco de evoluir para choque séptico). É importante rastrear outras DSTs (HIV, sífilis, hepatite B e C) e tratar o parceiro. Se a paciente está estável hemodinamicamente, e não é infecção, é preciso fazer outra pergunta: o β-hCG está positivo? Se ele estiver positivo, pode ser gravidez ectópica mesmo a pacienteestando estável, ela só não rompeu ainda. Existem vários fatores de risco para gravidez ectópica: gravidez ectópica prévia, doença ou cirurgia tubária, história de infecção genital ou pélvica, paciente infértil, múltiplos parceiros, tabagismo, uso de DIU (o DIU não aumenta o risco de gravidez ectópica; a mulher que não usa DIU tem mais gravidez ectópica, mas quando o DIU falha, e o índice de falha é muito pequeno, ele falha com uma proporção maior de gravidez ectópica). Porém, 50% dos casos de gravidez ectópica não apresentam fatores de risco detectáveis. 5 Corrimento acinzentado, fluido, com odor alterado, positivo para o teste de KOH. 24 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 A paciente com gravides ectópica vai ter o β-hCG positivo, mas ele não evolui como se fosse uma gravidez normal. Existem 2 formas de pedir o β-hCG: qualitativo ou quantitativo. À medida em que a gravidez vai evoluindo, esse valor vai aumentando. Na gravidez normal, em 48 horas, o β-hCG quase dobra (em média aumenta 66%). No aborto, ele cai. Na gravidez ectópica, ele pode começar a cair e pode aumentar, mas nunca aumenta na proporção de uma gravidez normal. O critério diagnóstico da gravidez ectópica é um β-hCG acima de 1.500 mUI/mL, com um ultrassom mostrando que não tem gravidez no útero (saco gestacional ausente)6. Se o β-hCG está menor que 1.500 mUI/mL, repete o exame em 48 horas, porque pode ser uma gravidez normal inicial. A conduta na gravidez ectópica pode ser medicamentosa ou cirúrgica. Se a paciente está estável, sem sinais clínicos de rotura tubária, massa inferior a 3 cm, β-hCG menor que 5.000 mUI/mL e sem aumento superior a 50% nas últimas 48 horas, com exames laboratoriais normais (hemograma, coagulograma, função hepática e renal), essa paciente pode não fazer cirurgia, e ser tratada com metotrexate. Na conduta cirúrgica, pode ser salpingectomia ou salpingostomia. Se a paciente está estável, sem infecção, e com β-hCG negativo, pode ser corpo lúteo hemorrágico ou torção de cisto anexial. O corpo lúteo hemorrágico também pode acontecer sem que a paciente esteja instável hemodinamicamente. Geralmente vai haver uma massa ovariana, que o Doppler mostra uma alteração chamada de “anel de fogo”, em que há fluxo aumentado na região periférica. A conduta, se a paciente está estável hemodinamicamente, vai ser conservadora, só observando a paciente. Se a paciente usou anticoagulante de forma iatrogênica, ou tem algum distúrbio de coagulação, é preciso corrigir isso. Na paciente com choque, vai tratar o choque. Se a paciente está estável, com índices hemantimétricos estáveis, vai acompanhar. Para evitar que ela forme outro corpo lúteo hemorrágico por um tempo, pode passar para ela um anticoncepcional hormonal anovulatório. A cirurgia será feita na paciente instável hemodinamicamente, ou com piora progressiva do hematócrito ou aumento do sangramento ao ultrassom. Se a paciente tiver uma massa anexial mais sólido, pode ter um quadro de torção de cisto anexial, que é um cisto que torceu sobre o próprio eixo, gerando uma isquemia. Quanto mais pesado esse cisto, mais fácil ele torcer. Câncer não dá torção anexial, porque ele adere a 6 É importante observar que só com o β-hCG acima de 1.500 mUI/mL é possível ver a gravidez no útero. Então, pode ser uma gravidez normal e não ver a gravidez no ultrassom, com β-hCG menor que 1.500 mUI/mL. Se tiver um β-hCG baixo, não pode dizer que é gravidez ectópica só porque não viu a gravidez no ultrassom. Pode ser que ainda não dá para ver. Nesse caso, repete-se o β-hCG em 48 horas e vê o comportamento. 25 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 estruturas adjacentes. Então essa torção é de uma lesão benigna. A lesão benigna mais comum em mulher jovem é o teratoma. O teratoma tem partes sólidas, então ele pode se movimentar e torcer. Corresponde a 2,5% das urgências ginecológicas. É mais frequente em jovens (e pode acontecer em gestante). Mais frequente à direita (à esquerda tem o sigmóide, que ocupa espaço e acomoda o ovário, impedindo movimentos). O tratamento é cirúrgico. Normalmente com 16 horas de evolução o ovário necrosa. Caso clínico 1: Paciente 28 anos, nuligesta, procura atendimento de urgência com relato de dor supra-púbica súbita. Apresenta atraso menstrual de uma semana e não faz uso de método contraceptivo por estar tentando engravidar. Ao exame, bom estado geral, corada, hidratada, estável hemodinamicamente, dor à palpação profunda supra-púbica sem sinais de irritação peritoneal. Ausência de sangramento ou corrimento vaginal. Colo longo, posterior, fechado, indolor à mobilização, útero intra-pélvico. Dor ao toque de região anexial direita. Solicitados inicialmente: hemograma sem alterações, exame urina rotina sem alterações, β-hCG positivo. A conduta é repetir o β-hCG, e fazer quantitativo, para ver se é uma gravidez ectópica. Caso clínico 2: Paciente 24 anos, G2P2A0, procura atendimento de maternidade com relato de dor em andar inferior do abdome, de grande intensidade, há uma semana, com piora nas últimas 24 horas. Relata ainda sensação febril e corrimento vaginal. Atendida há 3 dias em UPA, em uso de antiinflamatório. Ao exame físico, paciente febril em regular estado geral, abdome distendido, doloroso difusamente, exame especular evidenciando grande quantidade de secreção purulenta no orifício do colo e útero doloroso à mobilização. A paciente apresentou aos exames complementares leucocitose com desvio à esquerda, EAS mostrando piócitos (certamente por contaminação, não deve ser infecção urinária) e β-hCG negativo. US transvaginal mostrando dilatação tubária à esquerda associada a massa pélvica complexa, grande quantidade de líquido livre. O diagnóstico é de DIP do tipo 4 (sabe-se que é abscesso roto, por causa do líquido livre), e por isso o tratamento é cirúrgico (a tipo 4 é a única que faz tratamento cirúrgico), além da antibioticoterapia. Caso clínico 3: Paciente 14 anos, nuligesta, admitida em serviço de urgência de cirurgia por dor abdominal súbita, principalmente em fossa ilíaca direita. Nega atraso menstrual e refere não ter iniciado vida sexual. Ao exame, dor à palpação profunda em FID. Solicitados hemograma, PCR e EAS sem alterações, β-hCG negativo. Ultrassom mostrando massa ovariana de 3 cm em seu maior diâmetro, com fluxo aumentado ao Doppler, pequena quantidade de líquido livre na pelve. A hipótese diagnóstica é de corpo lúteo hemorrágico. A conduta é expectante. Faz um acesso venoso, hidratação (porque ela sangrou um pouco), faz uma medicação para dor (pode ser dipirona), e observa se ela instabiliza (se a massa aumenta, se ela começa a ter pulso fino, PA caindo ou índice hematimétrico caindo), o que normalmente não acontece. Geralmente forma-se um coágulo e a paciente pára de sangrar. 26 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 DISMENORRÉIA E SÍNDROME PRÉ-MENSTRUAL A dismenorréia é uma dor pélvica, que não é nem aguda e nem crônica. Ela é cíclica, relacionada com o período menstrual. A dismenorréia pode ser classificada em primária e secundária. A primária é quando não tem doença pélvica associada, e a secundária é quando tem uma doença pélvica. Existe a dor do meio, que coincide com o meio do ciclo menstrual, e decorre de um processo fisiológico, que é a ovulação. A dismenorréia primária surge normalmente um a dois anos após a menarca, quando os ciclos se tornam ovulatórios. Ela acomete geralmente mulheres jovens. Ela se deve a um desequilíbiro das prostaglandinas. Os principais fatores de risco para dismenorréia primária são a idade(abaixo de 20 anos), foco excessivo na perda de peso, depressão, ansiedade, perda de relacionamentos afetivos, menstruação volumosa, nuliparidade, tabagismo. No período menstrual acontece a descamação do endométrio. Após isso começa a fase pós- menstrual ou pré-ovulatória, em que ocorre o crescimento do endométrio, com proliferação endometrial, mas as glândulas endometrias ainda estão mais retas. Ocorre a ovulação, e com ela há o aumento da progesterona. Com a progesterona, as glândulas se tornam mais tortuosas, o endométrio se torna mais entumecido, os vasos que nutrem o endométrio se tornam mais tortuosos, tudo para acomodar um futuro embrião. Não acontecendo isso, os níveis de progesterona vão cair, e ocorre a menstruação. O endométrio proliferativo, por ação da progesterona, se torna um endométrio secretor. Nesse endométrio secretor começa a haver o acúmulo de prostaglandinas. Havendo a lise endometrial, ocorre a liberação dessas prostaglandinas, que vão promover contrações uterinas arrítmicas. Essas contrações provocam vasoconstrição e isquemia, e aí ocorre a dor. Essa dor começa algumas horas antes ou logo após o início do fluxo mentrual. Imediatamente antes do fluxo menstrual acontece a lise endometrial. É comum a presença de náuseas, vômitos, diarréia, síncope, como numa dor aguda. Ela é aliviada com massagem abdominal e movimentação do corpo. Na dismenorréia primária os sinais vitais estão normais. Não tem aceleração do pulso ou sudorese, os ruídos hidroaéreos intestinais estão normais, não há dor à descompressão peritoneal (diferente de um processo patológico pélvico), e nem há dor à mobilização do colo e anexos, embora a fonte do quadro doloroso seja a região pélvica, uterina. O diagnóstico da dismenorréia primária é um diagnóstico de presunção, com a história típica e a característica cíclica. O exame físico será normal. O ultrassom só está indicado para diagnóstico de exclusão, quando a dor é muito intensa e há dúvida diagnóstica. O tratamento é com antiinflamatório não hormonal (tratamento inicial de escolha, nível A de evidência). Ele diminui a síntese de prostaglandinas, reduzindo também o fluxo menstrual. Ele deve ser iniciado o mais precocemente possível. Uma vez iniciado o processo doloroso, interromper esse processo já é mais difícil. A mulher que tem dismenorréia primária em quase todos os ciclos, se ela pressente a chegada do período menstrual, ela já deve começar o uso. Contraceptivos orais combinados são uma indicação off-label. Eles promovem atrofia endometrial, e com isso menos prostaglandinas e menos dor. O uso intravaginal é a princípio mais eficaz. Os adesivos parecem ser menos eficazes. Outras opções são progestágenos 27 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 isolados (embora a progesterona esteja implicada no crescimento endometrial e produção de prostaglandinas, porque a progesterona dada continuamente promove atrofia endometrial), DIU de levonorgestel (o DIU é um excelente método contraceptivo para adolescentes), GnRH (o GnRH dado de forma contínua causa uma hipofisectomia química, causando uma menopausa artificial, é muito caro), danazol (é um androgênio, é muito caro). Mas GnRH e danazol já são usados em situações especiais, não são a primeira opção. Além disso, suspender o tabagismo, e o uso de almofadas térmicas abdominais. Fitoterápicos, suplementação de vitaminas, atividade física, uso de ômega 3, dieta vegetariana, acupuntura, tudo isso existem trabalhos mostrando que há melhoras, mas os dados não são reprodutíveis. Não existe evidência suficiente para recomendar. O tratamento cirúrgico é uma raridade. Raramente é visto, mas existem relatos. Ainda estão em pesquisa antagonistas dos receptores da vasopressina e DIU frameless de levonorgestrel. A dismenorréia secundária está relacionada a uma doença pélvica. As principais causas de dismenorréia secundária são endometriose, adenomiose, leiomiomas, congestão pélvica, pólipo endometrial e DIU de cobre. A endometriose é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, em local ectópico. A prevalência de endometriose na população feminina no menacme é de 5 a 15%. Os principais focos são ovários e peritônio. Quando ocorre o acúmulo de tecido endometrial na endometriose, se chama endometrioma. A endometriose tem como sintomas dismenorréia secundária, dor pélvica crônica (às vezes, além da dor do período menstrual tem dor pélvica crônica), episódios de dor aguda, dispareunia (dor à relação sexual), infertilidade (a endometriose é a principal causa de infertilidade), sangramento uterino anormal (aumento do fluxo menstrual, aumento do número de dias), sintomas urinários (quando acomete bexiga), sintomas intestinais (quando acomete intestino). O diagnóstico da endometriose é clínico, principalmente pela característica da dor relacionada ao período menstrual. Os métodos de imagem são pouco específicos. Não se pode depender deles para fazer o diagnóstico. Existe um marcador sanguíneo, que é o Ca-125, que pode estar aumentado na endometriose, mas ele é pouco específico e pouco sensível, então não pode ser usado para diagnóstico. Pode ser usado para seguimento do tratamento. A laparoscopia ou laparotomia é o padrão-ouro para diagnóstico, para visualização direta da endometriose, com ou sem biópsia. O tratamento clínico da endometriose pode ser feito com progestágenos (causa atrofia endometrial, no útero e também o ectópico), contraceptivos orais combinados, DIU de levonergestrel, GnRH. O tratamento cirúrgico é padrão, com ressecção das lesões, histerectomia com ou sem anexectomia. O tratamento da endometriose às vezes é mais mutilador, agressivo, do que o tratamento de câncer. É comum a associação do tratamento clínico e cirúrgico, o cirúrgico para remover os focos, e o clínico para evitar o surgimento de novas lesões e a recidiva do processo. Adenomiose é quando o endométrio se infiltra no miométrio (acaba sendo um tipo de endometriose, antigamente chamada de endometriose interna). É comum a associação da adenomiose com endometriose pélvica e leiomiomas. O útero apresenta-se difusamente aumentado, amolecido e doloroso (útero inflamado). 28 JOÃO PAULO MAULER – MED 106 O diagnóstico da adenomiose é clínico e cirúrgico (retrospectivo). Os sintomas são dismenorréia secundária, sangramento uterino anormal, dispareunia. A clínica é de extrema importância, e principalmente com exames que são a princípio normais, como ultrassom e ressonância, que tendem a estar normais, diferente do que acontece em outras situações, como mioma, pólipo, endometriose. A videolaparoscopia não vai dar diagnóstico também, pode sugerir pelo útero aumentado, mas não fecha o diagnóstico. O diagnóstico definitivo é retrospectivo (histopatológico). Geralmente a adenomiose não responde a tratamento clínico. O tratamento é cirúrgico, na maioria das vezes com histerectomia. Hoje, tem-se tido bons resultados com o DIU de levonorgestrel, conseguindo evitar boa parte das histerectomias. Síndrome pré-menstrual (SPM) É uma série de sinais e sintomas físicos e psicológicos, de intensidade normalmente moderada, recorrentes, que iniciam na fase lútea e melhoram quando a menstruação acontece. A prevalência de síndrome pré-menstrual é de 20 a 30% das mulheres na menacme. Algumas características são mudanças de humor, sensibilidade emocional exacerbada, cansaço, falta de energia, irritabilidade, entre outros. Dentro da síndrome pré-menstrual, existe o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). É quando os sintomas são tão prevalentes e tão intensos, que interferem de forma muito severa nas atividades sociais e ocupacionais dessa mulher. A presença de um sintoma psiquíco e um sintoma
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