Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução à fenomenologia e existencialismo Fenomenologia • Se propagou na Europa após a Segunda Guerra Mundial; • Influenciou decisivamente o movimento existencialista; • Fenomenologia e Existencialismo constituem uma das mais importantes matrizes filosóficas das psicologias do século XX. Fundador: Edmund Husserl (1859-1938) Nasceu na República Tcheca Questão central em Husserl: Como fundamentar de modo absolutamente seguro o conhecimento? • A atitude fenomenológica deve ater-se apenas aquilo que se dá à experiência, tal como se dá: o fenômeno. • Não considera as coisas como existentes em si mesmas, elas dependem de sua relação com uma consciência. • Enfatiza a prioridade da intuição sobre o pensamento conceitual. A intuição é a via de acesso ao fenômeno. • É através da intuição que se dá o âmbito de interesse mais próprio da fenomenologia: a correlação entre sujeito e objeto. • Sujeito já pressupõe objeto e objeto já pressupõe sujeito – um só existe em função do outro. • A fenomenologia pode ser compreendida como a descrição das estruturas gerais da consciência, não do sujeito empírico estudado pela psicologia (observável), mas do sujeito transcendental (além de si mesmo). Intuição não está relacionado a algo místico, misterioso. Intuição designa a visão direta e imediata de um ente (ser que existe) Atitude fenomenológica • Consideração da experiência em si mesma, independentemente dos juízos de realidade ou de valor que espontaneamente somos levados a fazer. • Para a psicologia: ouvir o que a outra pessoa diz e, apesar de não se perguntarem se é verdade ou não, conectarem-se com um sentido desse dizer. • Redução fenomenológica: redução ao que imediatamente se apresenta, a fenômeno. • Voltar as coisas mesmas=volta ao que aparece na experiência. • Não existe consciência pura sem intencionalidade nenhuma, assim como não existe conhecimento puro sem intencionalidade nenhuma. Por exemplo: perceber que uma pessoa está com raiva não é perceber tudo que se passa com ela. É necessário perceber também a que, ou a quem, essa raiva se dirige - ou seja, qual é o seu sentido. • Quando a fenomenologia estuda a imaginação, a percepção, a linguagem, a relação inter-humana ou os estados perturbados da mente, por exemplo, ela esta se voltando para os mesmos objetos que a psicologia também considera. Mas a psicologia positivista (a que se refere Husserl) faz isso a partir de um enfoque empírico, por meio de mensurações, separando sujeito e objeto. Já a fenomenologia considera esses objetos enquanto vivências cuja natureza quer elucidar (sem se ocupar diretamente com medidas ou relações quantitativas). Nesse sentido, a fenomenologia não é essa psicologia, mas uma reflexão sobre a realidade da qual ela também se ocupa. Fazendo isso, a fenomenologia está ao mesmo tempo manifestando os fundamentos dessa psicologia e refletindo sobre seus limites: constitui-se, pois, também como uma espécie de instância crítica da psicologia. • É nesse sentido que se pratica uma psicologia fenomenológica no contexto da psicologia humanista: elucidação do vivido baseada na consideração de experiências concretas e situadas, conduzindo a uma compreensão teórica que possibilite lidar melhor com o fenômeno. • No pressuposto humanista da autonomia o ser humano não é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador de coisas novas. A pessoa não é vista principalmente como efeito de causas anteriores modificáveis, mas como um ser desafiado pela vida e chamado a responder criativamente. Principais representantes • Martin Heidegger (1889-1976) – Alemanha; • Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) – França; • Paul Ricoeur (1913-2005) - França Existencialismo • Surge no período entre as duas Guerras Mundiais (1918-1945); • Ganha difusão pela Europa e EUA na década de 1950; • Nunca se constituiu como um sistema filosófico estruturado, valoriza o filosofar enquanto atitude de interrogação; Principal representante: Jean-Paul Sartre (1905-1980), Filósofo francês Precursores: Friedrich Nietzsche (1844-1900), Alemanha Sören Kierkegarrd (1813-1855), Dinamarca A tradição filosófica do ocidente é essencialista, ou seja, busca a essência das coisas. O existencialismo faz uma crítica à visão essencialista, pois o indivíduo não pode ser explicado a partir de uma essência universal. O ser do homem consiste em sua própria existência singular, sua subjetividade, que é pura liberdade de escolha. EXISTIR SER A existência precede a essência • O homem precisa primeiro existir para depois dar sentido a sua existência; • Por isso, só o homem não está predeterminado quanto ao seu sentido, só ele é livre. • O homem existe, as coisas são. “ O conhecimento não é, não pode ser a meta do homem senão o meio de evolução; é a vida, a existência, a minha e a tua que contam [...]. A verdade não me interessa, se existe; minha angústia é minha verdade”. “o existencialismo seria uma expressão de uma experiência singular, individual, um pensamento motivado por uma situação muito particular”. Sartre – O existencialismo é um humanismo • Crítica ao existencialismo por ser uma doutrina pessimista do humano. • Sartre questiona: será que o que assusta no existencialismo não é justamente seu otimismo? afinal, essa filosofia deixa uma possibilidade de escolha ao homem. • Existe uma corrente de existencialistas cristãos e outra de ateus. Sartre se encontra entre os ateus. • Ponto comum: a existência precede a essência. • O homem, para o existencialismo ateu, o homem é aquilo que ele fez de si mesmo. • O homem não é responsável apenas por si mesmo, mas por todos os homens: criando o homem que queremos ser, estamos criando uma imagem de homem tal como julgamos que ele deve ser. • O homem é angústia: o homem que se engaja e se dá conta ele não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira, não consegue escapar ao sentimento de sua total e profunda responsabilidade. O homem só consegue escapar dessa angústia se agir de má fé. • Má fé: esquivar-se da responsabilidade • É o oposto do quietismo: a realidade não existe a não ser na ação. A passividade também é ação. • O homem se define pela sua ação: só o ato lhe permite viver. • Atribui ao homem uma dignidade, pois não lhe transforma em um objeto. • Humanismo existencialista: não existe outro legislador além do homem, e é no desamparo que ele decidirá sobre si mesmo, mas procurando sempre uma meta fora de si. A analítica do Dasein de Heidegger Dasein (ser-ai) • Sua diferença radical com relação aos entes que não tem o modo de ser do homem é que ele não possui uma essência anterior à existência, antes, o que ele é, seu ser, está sempre em jogo no seu existir. • O Dasein é o ente que se pergunta pelo próprio ser, só ele compreende os demais entes e somente ele tem a capacidade de fazer a pergunta pelo sentido do ser. • O modo de ser do homem é a existência, o “ser-ai”, o “ser-no- mundo”. 1. Mundanidade (ser-no-mundo) O Dasein é mundano, do mundo. Mundo é estrutura de sentido, contexto de significação, linguagem sempre historicamente em movimento. O homem, enquanto ser-no-mundo, não é encerrado em si mesmo, está sempre num contexto relacional. 2. O cotidiano impessoal Há uma tendência para o encobrimento, o Dasein foge desi, esquecendo-se do seu ser-próprio, relacionando-se com ele como algo que já possui uma configuração preestabelecida. 3. Compreensão e disposição (ser-em) O Dasein e o mundo são coexistentes, um jamais antecede o outro. 4. O ser-para-a-morte e o poder-ser em sentido próprio Enquanto um ente, o Dasein jamais alcança sua totalidade, permanecendo em constante inconclusão. Enquanto existe, o Dasein é ser-para-a-morte, pois a morte é uma possibilidade desde o início da existência. Toda a angústia, em última instância, é a angústia da morte. É somente experienciando essa angústia diante do nada que o Dasein pode encontrar o que tem de mais próprio e singular. Daseinsanalyse – análise do Dasein • Na daseinsanalyse clínica cada fenômeno que vem a luz no diálogo clínico deve ser discutida a partir do contexto factual concreto em que surge. • Ludvig Binswanger – psiquiatra suíço: opunha-se ao determinismo causal aplicado à existência humana. Elaborou diversos estudos de casos clínicos de pacientes esquizofrênicos. Fenomenologia e Existencialismo na clínica • Medard Boss – psiquiatra e psicoterapeuta suíço: toda doença é uma restrição mais ou menos grave do dispor livremente do conjunto de possibilidades de relação em que o homem sempre se encontra. Ex.: o que diferencia o neurótico obsessivo do homem normal não é o fato de que aquele tem algo que lhe dá a possibilidade do comportamento obsessivo e que os outros não possuiriam; todos têm, enquanto homem, tal possibilidade. O que caracteriza o neurótico enquanto tal é o fato de que ele está restrito a essa possibilidade. Fechado ao exercício de inúmeras outras que fazem parte do existir saudável. • A psicoterapia existencial é um espaço de acolhimento e compreensão do distúrbio; • A relação terapêutica não deve ser pensada como um encontro de sujeitos isolados; • O problema da compreensão do outro não se reduz a uma questão de metodologias e técnicas, ao contrário, essas somente são possíveis enquanto desdobramento temático da pré-compreensão do outro em que já sempre se encontra o Dasein segundo seu modo de ser no mundo. O humanismo e a psicologia humanista • O termo humanismo surgiu no Renascimento entre o final do séc. XIV e o início do séc. XV, denominava tanto um aspecto literário, os escritores clássicos, quanto um viés filosófico, preocupando-se com o valor do homem e a tentativa de compreendê-lo em seu mundo. • O termo foi se desdobrando ao longo dos séculos, na concepção moderna, o humanismo está relacionado a autonomia do homem Condição do homem como constituidor de suas próprias leis, não sendo determinado por outras instâncias, como a natureza ou a história. O homem é o sujeito/autor de suas ações, nega-se qualquer determinismo.
Compartilhar