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Modelos e Paradigmas da Experiência Jurídica (Direito Constitucional 
Comparado) 
Professor: Juliano Zaiden Benvindo 
1ª Avaliação: 11/10/2016 
Bianca Bianchi do Nascimento – 16/0151171 
Resposta 
 A Suprema Corte norte-americana pode ser caracterizada como forte, 
uma vez que participa de decisões imprescindíveis para a adequação do texto 
constitucional americano às mudanças internas e externas, estando presente na 
configuração de distintos momentos históricos, como na Guerra Civil, em 1859. 
Porém, isto não quer dizer que esta não esteja suscetível à influência de atores 
políticos. 
Seu sistema interno é definido por um balanço entre setores mais liberais 
e mais conservadores, que, no entanto, estão sujeitos à interferência de atores 
políticos, o que é fácil de se verificar uma vez compreendido o processo de 
sucessão dos membros da Suprema Corte, que são indicados pelo presidente 
dos Estados Unidos. Assim, caso um membro seja substituído por outro mais 
conservador, a linha de decisões em diante tende a pender para este lado. E é 
através desta estratégia que as forças políticas jogam, escolhendo aqueles que 
melhor representam suas posições. 
 Essa situação resulta em um afastamento entre a Suprema Corte e o 
povo, uma vez que, a primeira estando direcionada à direita (como é o caso 
explicado pelo artigo da prova) esta passa a ignorar os norte-americanos 
comuns, que recorrem a ela para pleitear seus direitos e as transformações 
sociais que almejam. Sendo estes representantes escolhidos por uma 
perspectiva “de cima”, isto é, pelos entes políticos; e não “por baixo”, não 
possuindo membros eleitos para a representação popular, o que se dá é uma 
redução da população à condição de mera expectadora das decisões proferidas; 
o que induz, ainda, ao redirecionamento de culpa para o sistema judiciário, que 
toma para si algumas das funções do legislativo. 
 Este é o processo que Hirschl atribui à terceira face da judicialização: a 
judicialização da megapolítica, que consiste no emprego de tribunais e juízes 
para lidar com políticas que definem comunidades inteiras, resultando na 
transformação de cortes supremas em todo o mundo em uma parte central de 
elaboração de políticas públicas, o que, com certo exagero, é chamado por ele 
de uma transição para a “juristocracia”. O fenômeno explicado é responsável por 
desempenhar, portanto, um papel oposto ao que, na realidade, se espera como 
vantagem de uma corte constitucional: ao fazer o controle de constitucionalidade 
das leis e a interpretação das normas constitucionais, esta seria uma ponte que 
interliga e adequa o direito às transformações e necessidades sociais. 
No direito constitucional comparado, há alguns empecilhos a serem 
considerados em uma pesquisa, como o olhar tendencioso do pesquisador 
estrangeiro sobre a realidade de um outro país; uma tentativa de classificação 
em melhor e pior, que nem sempre considera todos os aspectos históricos, 
culturais e sociais dos locais, o que está atrelado a uma visão meramente 
descritiva e formalista do direito constitucional; problemas de amostragem ou 
muito grandes, ou demasiadamente pequenas; ou ainda a atribuição de uma 
perspectiva altamente abstrata sobre ideais como identidade e força, por 
exemplo. Neste contexto, os Estados Unidos se mostram de certa forma alheios 
às transformações globais: em um cenário que a constituição surge como marco 
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simbólico de uma grande transição na vida política de um país, estes mantêm o 
seu texto constitucional intocado, o que implica em um grande papel da Corte e 
dos tribunais em realizar a interpretação das normas, além do controle de 
constitucionalidade difuso – também diferente do modelo concentrado europeu, 
e do controle misto. 
Retomando, porém, a questão da indicação de membros na Corte 
Suprema dos Estados Unidos, um sistema similar se desenvolve no Chile quanto 
à eleição dos membros do Tribunal Constitucional, os quais são eleitos pela 
Suprema Corte, Presidente, Senado e Conselho de Segurança, o que, segundo 
os constitucionalistas, ocasionaria deficiências democráticas estruturais em sua 
composição. 
A Corte Suprema chilena é fraca, no sentido de que parece ser mais 
influenciada e controlada pelo sistema político do que de fato, influenciadora e 
controladora deste, o que pode explicar também a afirmação de Barry Weingast 
de que a constituição deve proteger aqueles com poder para derrubar a 
democracia. Em uma perspectiva histórica, por exemplo, a Corte Suprema 
chilena deu respaldo ao regime ditatorial iniciado em 1973, que adotara a fórmula 
da legitimação através da institucionalização, estabelecendo uma ditadura legal-
constitucional. Ainda em 2016, em meio à pressão de movimentos sociais por 
uma nova constituição, que seja mais aberta à participação popular, com uma 
reforma mais do que meramente no texto, mas especialmente na configuração 
de um poder democrático, provindo do povo, com reconhecimento do seu caráter 
plural, o processo constituinte ainda necessita abarcar como um de seus 
patamares o respeito pelo arranjo institucional vigente, de maneira a motivar a 
participação de setores políticos já estabelecidos, conforme notícia no I-Connect. 
 Essa situação política pode ser explicada pela história do 
constitucionalismo chileno, que passa por uma fase ditatorial em cujos meados 
se ratifica a Constituição de 1980, também chamada de Constituição de 
Pinochet, que mesmo com pretensões de legitimidade, se inicia já com uma 
fraude eleitoral de um plebiscito que não contava com a opção “não”. Essa 
constituição, no entanto, elaborada sob verdadeira “engenharia constitucional”, 
conta com tamanho requinte para sua modificação, que impede o surgimento de 
um novo documento constitucional, apesar de sua revisão em 2015. No entanto, 
o Chile ainda passa por um processo de crise constitucional mediante a todos 
os resquícios deixados pelo autoritarismo. 
 A Constituição de 1980, no entanto, criou a Corte Constitucional, 
responsável pela revisão judicial, que, de acordo com a Constituição tem as 
funções de exercer o controle de constitucionalidade, sendo este se enquadra 
em uma categoria mista. 
Bem como a Constituição americana se torna anacrônica caso suas 
normas sejam interpretadas simploriamente como as de um jogo de basebol, a 
chilena também se torna incompatível com uma realidade democrática na 
medida em que sua interpretação seja desvinculada ao novo contexto social e 
político, donde caberia o papel de ambos o Tribunal Constitucional e a Corte 
Suprema, os quais, entretanto, se mantém inertes e apáticos. 
 Assim, as instituições funcionam na medida em que manipulam as 
mudanças políticas, a Suprema Corte e o Tribunal Constitucional funcionam 
através de um bamboleio para se enquadrar nestas transformações; e a 
Constituição – ou uma interpretação excludente desta - parece ser o cerne da 
crise em si, por resguardar autoritarismo, inclusive para sua própria modificação.

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