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História do Direito Brasileiro Estácio Natal Profa. Dra. Margarida Maria Knobbe 2018 Reprodução autorizada apenas para estudo dos alunos da disciplina. É vedado o uso para outros fins, publicação em sites da internet, etc. sem prévia autorização por escrito da autora. Aplicação: articulação teoria e prática aula 1 Em reportagem recentemente publicada, importante veículo de comunicação afirmou que, de acordo com especialistas, a Lava-Jato inventou não um novo direito penal, mas sim uma nova maneira de conduzir o processo penal. Entendem tais juristas que as novidades não se limitam apenas à velocidade acelerada dos processos, mas também implementou novidades que são mais comuns no sistema anglo-saxão (o denominado sistema de common law), mas não na tradição romano-germânica, na qual se filia o sistema jurídico brasileiro. Cita, então, como tais novidades os acordos de delação e os acordos de leniência. Em (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1936497-lava-jatoacelerou- processos-mas-direito-penal-de-curitiba-e-criticado.shtml) Neste sentido, pesquise e responda: I) Quais as características fundamentais que diferenciam os sistemas romano- germânico do sistema denominado de common law? II) Por que razão o Brasil acabou adotando o sistema jurídico românico- germânico em detrimento do sistema de common law? ANTES DESTA AULA Antes desta aula, você deveria: Acessar o ambiente virtual da disciplina no SAVA (no SIA, entrar em Sala de Aulas Virtuais e Minhas disciplinas presenciais) e tomar o primeiro contato com os recursos didáticos disponíveis, como o material didático (livro da disciplina), conteúdo interativo (vídeoaulas e conteúdo on-line) e calendário, entre outros. Uma panorâmica do que será apresentado na disciplina pode ser conferida nos primeiros 5 minutos da Aula 1 Teletransmitida, disponível no ambiente da Sala de Aula Virtual - SAVA. Ler o livro texto - Livro didático de História do Direito Brasileiro, da Estácio, até a página 28. Aula 2 Direito português no Brasil colônia Uma outra história? “Se quisermos pensar no ‘descobrimento’, temos de negar a história dos que são nativos de nossa terra. O termo descobrimento relaciona-se com a Europa e com todas as razões da colonização. Guarda silêncio sobre os fatores que levaram a Europa a explorar o Novo Mundo. Silencia a respeito dos conflitos entre portugueses e nativos e dos objetivos da colonização, baseados na expropriação territorial, na escravização e na destribalização.” Daniel Munduruku (em O banquete dos deuses – conversa sobre a origem da cultura brasileira, 2002, p. 26). Ao ‘descobrir’: “... os manuais não se veem obrigados a ter de explicar os desmandos de Portugal com relação aos índios e o etnocídio que praticou. ... encobre-se um juízo de valor sobre a historicidade dos povos que aqui viviam. ... é mais cômodo chamar os índios de ferozes e destruí-los como inimigos dos ‘nobres’ valores europeus. ... fica mais fácil deixar de falar nos atos de resistência dos povos indígenas contra o governo português. (...) ao mencionar os índios, os livros didáticos introduzem-nos sempre como seres inferiores, citando a ausência de história, ou a pouca inventividade tecnológica ou ainda aspectos exóticos, para criar o sentimento de repulsa nos educandos. Além disso, tal atitude legitima a agressão europeia que é sempre vista como benéfica e civilizadora.” Daniel Munduruku (em O banquete dos deuses – conversa sobre a origem da cultura brasileira, 2002, p. 26-27). Os verdadeiros ‘donos’ da terra Em 1500, estima-se que os indígenas brasileiros fossem entre um e cinco milhões. Os tupis ocupavam a região costeira que se estende do Ceará a Cananeia (SP). Os guaranis espalhavam-se pelo litoral Sul do país e a zona do interior, na bacia dos rios Paraná e Paraguai. Em outras regiões, encontravam- se outras tribos, genericamente chamados de tapuias, palavra tupi que designa os índios que falam outra língua. Essa população foi drasticamente reduzida em consequência dos massacres realizados pelos colonizadores e, posteriormente, os conflitos com fazendeiros e garimpeiros que invadiram terras indígenas. Apesar da divisão geográfica, as sociedades tupis e guaranis eram bastante semelhantes entre si, nos aspectos linguísticos e culturais. Os grupos se formavam e se mantinham unidos principalmente pelos laços de parentesco, que também articulavam o relacionamento desses mesmos grupos entre si. Agrupamentos menores, as aldeias ligavam-se através do parentesco com unidades maiores, as tribos. Hoje, existem cerca de 818 mil índios no Brasil (0,42% da população brasileira, segundo o IBGE, 2010) distribuídos em mais de 240 povos, vivendo espalhados por todo o país. Sem fé, sem lei, sem rei A língua tupi não tinha pronúncia das letras “F”, “L” e “R”, o que foi utilizado pelos portugueses como forma de depreciação do indígena, partindo de uma comparação com os europeus: “Como os índios não eram cristãos, não tinham fé; como não legislavam, não tinham lei, como não tinham um chefe supremo, não tinham rei.” (Flávia Lajes de Castro) Encontro de xamãs Yanomami (Beto Ricardo, 2011) “O ‘descobrimento’ do Brasil não deixa de ser uma forma poética de indicar o encontro fortuito de duas culturas e civilizações, como se uma mão invisível ou o destino estivessem agindo para aproximá-las. O fato é que, sem os planos de conquista e de expansão marítima europeia, o Brasil e a América não teriam sido ‘descobertos’ no século XV.” Prof. Ramon Casas Vilarino (http://www.sumare.edu.br/blog/index.php/o-descobrimento-e-a-conquista-do-brasil/) Dominação e colonização na América Modelo português Colônia de exploração Plantation (latifúndio agroexportador) Mão de obra escrava (mais negros do que índios) Sociedade menos hierarquizada (livres e cativos) Administração mais simples e centralizada Modelo espanhol Colônia de exploração Plantation (latifúndio agroexportador) Mão de obra escrava (mais índios do que negros) Sociedade mais hierarquizada (chapetones – elite espanhola, criollos – descendentes dos espanhóis, mestiços, negros e índios) Administração mais complexa e descentralizada A questão da identidade Os filhos dos colonos que nasciam na colônia, eram “portugueses”. Isso porque não existia um reino brasileiro, ou coisa do gênero. O que verdadeiramente havia era a América portuguesa. A nacionalidade em alguns casos não depende de onde se nasce (jus solis), mas do reconhecimento de um indivíduo de acordo com sua ascendência (jus sanguinis). Lembrem-se dos casos atuais de dupla nacionalidade. O Brasil colônia era um pedaço de Portugal na América e somente com o passar do tempo, com as desavenças que começaram a surgir com a Metrópole, é possível que se pense na aparição de algum sentimento de pertencimento e de identidade ‘brasileira’. Nesse primeiro momento, porém, o que existia eram portugueses situados em terras coloniais portuguesas. Aliás, só a partir de uma certa liberdade conceitual poderíamos denominar os nativos como ‘brasileiros’, pois ‘oficialmente’ somente faz sentido usar a denominação ‘brasileiro’ após a separação definitiva entre Portugal e a ex-colônia. Colonialismo Para Boaventura de Sousa Santos Recusa de tratar o outro como igual Conjunto de trocas extremamente desiguais que assentam na privação da humanidade da parte mais fraca como condição para sobre- explorar ou para a excluir como descartável Para Norberto Bobbio sistema de dominação, controle por superioridade militar, econômica, tecnológica Pacto colonial A vinda dos portugueses para o Brasil atende a necessidades históricas de expansão da economia capitalista de mercado em sua etapa de formação (século XVI). O Estado garantia os lucros da burguesia metropolitana, simultaneamente se fortalecendo, através da tributação. A Igreja assumia o papel de justificadora da empreitada. Tripé econômico: escravismo, monocultura e latifúndio. Exclusividade de comércio com a metrópole; proibição de manufaturas. Período Pré-colonial (1500-1530) ➢ Período marcado pela extração do pau-brasil Pau-Brasil • Fabricação de tintura para tecidos. • Exploração nômade e predatória. • Escambo com indígenas. • Incursões estrangeiras (ESP e FRA). ➢ Não conduziu à povoação do território, apenas à instalação de algumas feitorias. ➢ Portugal estava em dificuldades financeiras e o comércio com o Oriente estava em declínio. ➢ O litoral brasileiro era alvo de constantes ataques promovidos por outros países europeus. ➢ O temor de perder o território convenceu os portugueses a ocupá-lo com atividades mais duradouras. ➢ No ano de 1530, o rei de Portugal organizou a primeira expedição com objetivos de colonização. Comandada por Martim Afonso de Souza, tinha como objetivos: povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar. A colonização: fase do açúcar Processo de povoamento, exploração e dominação do território Fixou-se no litoral Colonização a partir das áreas de recente domínio dos tupis Despreocupação com os processos de urbanização Economia: cana-de-açúcar ➢ Problemas iniciais para a implantação da atividade açucareira: • necessidade de um grande investimento inicial; • enfraquecimento da estrutura econômica portuguesa; • expulsão dos judeus, debilitando a economia lusa. ➢ A solução: empréstimos holandeses. A Holanda fica responsável pelo transporte, refino e distribuição do produto no mercado europeu. Estratificação social Sociedade ➢ A mão de obra principal eram os escravos, que estavam substituindo a escravidão indígena; ➢ Existiam alguns trabalhadores livres, desempenhando funções de vigilância e serviços especializados; ➢ O senhor de escravos era a autoridade do engenho. Por que predominou a escravidão africana? Setores da Igreja Católica faziam oposição à escravidão indígena, mas não à africana. Alto índice de mortalidade indígena. Não tinham imunidade às doenças e epidemias trazidas pelos europeus. Diversos tipos de escravidão na África. Os africanos dominavam técnicas que os indígenas não conheciam em áreas como a metalurgia e a pecuária. Inadaptação dos indígenas em relação ao controle do tempo e rotinas pré-estabelecidas no trabalho forçado. Escravidão africana • valor de mercado, gerava grande circulação de renda, conferindo lucros aos traficantes de escravos e receita ao Estado lusitano; • suas habilidades no manuseio de ferramentas e instrumentos de metais os tornavam mais facilmente adaptáveis ao modelo agrícola dos europeus. ➢ A vida das pessoas escravizadas: • vida útil em torno de 7 ou 10 anos; • severamente agredidos e trabalhavam até a exaustão; • “banzo” - saudade da África; • buscavam formas de resistência, como as fugas, os suicídios, homicídios, abortos e organização de comunidades, os quilombos. E o direito? O que se considera Direito brasileiro é o conjunto de normas e procedimentos que formam a vida jurídica do Brasil, com o objetivo de orientar sua organização social, política e econômica. Embora o país, historicamente, tenha sido originado por uma mistura de portugueses, indígenas e africanos, aos quais se acrescentaram imigrantes de outros países nos séculos XIX e XX (como alemães, espanhóis, italianos, poloneses, ucranianos e japoneses), prevaleceu a ordem jurídica de raiz portuguesa, imposta pelo processo de colonização. Isso significa dizer que o Direito brasileiro prende-se ao Direito português para a maior parte do Direito privado (relações jurídicas entre os cidadãos particulares, ex.: civil, comercial, etc.). Mais tarde, o Direito público (relações nas quais está presente o poder público, composto de vários sub-ramos: o direito constitucional, o administrativo, o penal, o previdenciário, o eleitoral, internacional público e privado, processual civil e penal, do trabalho, tributário e financeiro) também teve influências do constitucionalismo francês. Tristes permanências O escravismo não pode ser desconectado da situação socioeconômica atual dos negros, em geral, no Brasil. A estrutura das capitanias hereditárias, como uma decorrência da visão patrimonialista portuguesa, tem relação com as dificuldades dos homens públicos brasileiros contemporâneos (fartamente noticiadas pela imprensa) de distinguir o que é público e o que é privado. Também o nepotismo e suas consequências (corrupção), vem do início de nossa história. Está presente no primeiro documento oficial da Ilha de Vera Cruz, a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Cabral: "E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. " O Direito em Portugal e na colônia Afresco nos "Paços de Audiência", em Monsaraz, Portugal (século XV). “O bom juiz e o mau juiz”. O primeiro, com uma expressão grave e digna no rosto, segura na mão a reta vara da justiça. O segundo, com duas caras e a vara da justiça quebrada, olha para os dois lados ao mesmo tempo. Justiça portuguesa Juízes Ordinários (ou Juízes da Terra) – eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que empunhavam (2 por cidade). Juízes de Fora (figura criada em 1352) – nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com a finalidade de serem o suporte do rei nas localidades, garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino. Juízes de Órfãos – com a função de serem guardiões dos órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a eles ligados. Provedores – colocados acima dos juízes de órfãos, para o cuidado geral dos órfãos, instituições de caridade (hospitais e irmandades) e legitimação de testamentos (feitos, naquela época, verbalmente, o que gerava muitos problemas). Corregedores – nomeados pelo rei, com função primordialmente investigatória e recursal, inspecionando, em visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, como se dava a administração da Justiça, julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados. Desembargadores - magistrados de 2ª instância, que apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (para obter a clemência real). Recebiam tal nome porque despachavam ("desembargavam") diretamente com o rei as petições formuladas pelos particulares em questões de graça e de justiça, preparando e executando as decisões régias. Aos poucos, os reis foram lhes conferindo autoridade para tomar, em seu nome, as decisões sobre tais matérias, passando a constituir o Desembargo do Paço.” 1ª. Fase do Direito no Brasil (1500-1548) CHEGADA DOS PORTUGUESES E CAPITANIAS HEREDITÁRIAS – documentos para a ocupação: cartas de doação, foral. Martim Afonso de Sousa, o líder da expedição colonizadora de 1530, gozava de plenos poderes, tanto judiciais quanto policiais; assim como os donatários das capitanias hereditárias, que também gozavamdos mesmos poderes. Tripartição do poder de julgar: juízes (ordinários) municipais (base), rei (topo), justiça senhorial dos donatários (de fato) Capitanias hereditárias ➢ Buscava a efetiva ocupação do território, mas sem despesas para a Coroa; ➢ A solução foi entregar o território para exploração de particulares; ➢ O objetivo desses nobres deveria ser ocupar, explorar e defender a sua capitania; ➢ Dois documentos regulavam as Capitanias: Carta de doação (concessão dos direitos administrativos) e Foral (relação dos direitos e deveres dos Capitães). Mapa das capitanias hereditárias Donatários Direitos • doar sesmarias (distribuir terras aos colonos); • fundar vilas; • cobrar tributos sobre as benfeitorias; • receber a redízima e a vintena (participação em tributos). Deveres • promover a colonização; • defender a capitania; • propagar a fé católica; • garantir os direitos da Coroa: a) tributo do dízimo (1/10 do valor da produção da capitania); b) tributo do quinto (1/5 do valor dos metais preciosos). Capitanias hereditárias Motivos para o uso • Portugal já havia testado essa forma de administração em suas ilhas do Atlântico. • Transferência de despesas para particulares (a Coroa não gastava nada). Motivos do fracasso falta de recursos e de interesse dos donatários + distância excessiva da metrópole + invasões estrangeiras + ataques de indígenas. EXCEÇÕES: Pernambuco e São Vicente. 2ª. Fase do Direito no Brasil 1549 – GOVERNOS-GERAIS – centralização política: leis portuguesas aplicadas no Brasil, especialmente formadas por: Regimentos – disciplinam os cargos da administração (ex.: criação dos governos-gerais) Cartas-régias – resoluções do rei destinadas às autoridades públicas (ex.: isenção tributária para a matéria-prima importada) Cartas de lei – normas de caráter geral (ex.: elevação do Brasil a reino) Alvarás – normas de caráter específico, de vigência temporária (ex.: criação do Banco do Brasil) Governos-gerais ➢ Objetivos: • Correção de erros das Capitanias . • Centralização Administrativa. ➢ Cargos auxiliares: • Ouvidor-mor (justiça), • Provedor-mor (tesouro – cobrança de impostos), • Capitão-mor (defesa). Controle sobre a colônia ➢ Com a chegada de Tomé de Souza, começam os Governos-Gerais; ➢ Tentativa de estabelecer maior controle da Coroa na Colônia; ➢ O Estado português passava a assumir o processo de colonização; ➢ O governador decidia sobre impostos e assuntos jurídicos, estando acima dos capitães e das Câmaras Municipais (formada pelos ‘homens bons’ - proprietários de terra, cristãos-velhos, dessa categoria excluíam-se os escravos e outros trabalhadores mecânicos/manuais e os cristãos-novos, ou seja, que não tinham pais e avós já cristãos, entre outros); ➢ Criação do Conselho Ultramarino para ampliar o controle sobre o império colonial. Conselho Ultramarino Entre 1642 e 1833, coube ao Conselho Ultramarino, localizado em Lisboa, a uniformização da administração do império português. Da venda de escravos ao passaporte de padres, da cobrança de impostos ao combate às invasões, tudo era regulado ou fiscalizado por essa instância administrativa composta por nobres e letrados. A abrangência da instituição era imensa, incluindo territórios no Brasil, África e Ásia, ilhas atlânticas, além dos negócios do reino. Tanta responsabilidade resultou em uma montanha de documentos, que, caso empilhados, atingiriam entre 15 e 16 km de altura! Governadores-gerais ➢ Tomé de Souza (1549 – 1553): edifica a cidade de Salvador; chegada dos jesuítas e de novos colonos; estabelecimento da Igreja; ➢ Duarte da Costa (1553 – 1558): chegou com mais colonos e mais jesuítas; fundou o colégio de São Paulo; ocupação francesa no Rio de Janeiro (França Antártica); ➢ Mem de Sá (1558 – 1572): instala as primeiras missões jesuítas; expulsa os franceses do Rio de Janeiro; funda a cidade do Rio de Janeiro. 3ª. Fase do Direito no Brasil 1580 – a partir da dominação espanhola, quando Felipe II unificou as duas coroas ibéricas. A dominação espanhola perdurou até 1640, quando ocorreu a restauração da monarquia portuguesa. As principais leis deste período estão reunidas nas Ordenações Filipinas, em vigor a partir de 1603. As Ordenações do Reino “Como Colônia portuguesa, o Brasil estava submetido às Ordenações do Reino, que eram as compilações de todas as leis vigentes em Portugal, mandadas fazer por alguns de seus monarcas e que passavam a constituir a base do direito vigente. São verdadeiras consolidações gerais, que servirão de molde para as codificações futuras (Código Civil, Comercial, Penal, Processual, etc).” Ives Gandra da Silva Martins Filho (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_03/ordenamento%20jur%20brasil.htm) Ordenações Afonsinas (1446-1514) Aparecidas no séc. XV, no reinado de Afonso V, o Africano, sendo seus compiladores João Mendes, Ruy Fernandes Lopo Vasques, Luiz Martins e Fernão Rodrigues. Foi resultado do esforço do lendário jurista João das Regras, que desejou libertar Portugal dos últimos vínculos com a Espanha. A primeira compilação eminentemente portuguesa, tendo como fonte de inspiração os Direitos: Germânico, Romano, Canônico e até o Mulçumano (vindicta privada). Compunham-se de cinco livros, versando sobre as seguintes matérias: Livro I – Organização Judiciária e Competência; Livro II – Direito Dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos Estrangeiros; Livro III – Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Comercial; Livro V – Processo Penal e Direito Penal. Ordenações Manuelinas (1514-1603) Compilação determinada pela existência de vultuoso número de leis e atos modificadores das Ordenações Afonsinas. Foram feitas e promulgadas no reinado de D. Manoel I, o Venturoso, e contém as mesmas matérias das Ordenações anteriores. No reinado de D. Sebastião, essas Ordenações sofreram grandes modificações, nos livros de Direito Civil e Processo Civil, atendendo às Resoluções do Concílio de Trento e ao Direito Canônico. Devem-se essas modificações a Duarte Nunes Leão, ficando elas, conhecidas na história, como Código Sebastiânico ou Código de D. Duarte (1569). Ordenações Filipinas (1603-1916) Com a morte de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578, o rei da Espanha, Filipe II, neto de D. Manuel I, após vários entreveros, unificou em 1581 os dois reinos, dando início ao Domínio espanhol, que vai de 1581 até 1640. E, em 1603, passaram a vigorar no Brasil as Ordenações Filipinas ou Código Filipino, que também era composto de cinco livros, regulando as mesmas matérias das Ordenações anteriores, mas modificou a estrutura judiciária, criando novos cargos. Cargos criados pelas Ordenações Filipinas Juiz das Casas da índia, Mina, Guiné, Brasil e Armazéns: responsáveis pelas questões ultramarinas relativas à arrecadação fiscal; Chanceler das Sentenças: responsável pelo selo das sentenças e cartas expedidas por alguns outros juízes singulares; Corregedor da Comarca: quem deveria vigiar os membros da Justiça, exercendo a correição na comarca, podendo ser auxiliado por tabeliães do local, com o objetivo de apurar as culpas, querelas e estados dessas pessoas; Ouvidor da Comarca: exercia as mesmas funções do Corregedor e contra seus atos caberia agravo para o Corregedor. Livro V: pena de acordo com posição social do réu Acusado permanecia preso até a sentença, quando então era executada a pena. Nos raros casos em que havia pena de prisão, nunca era superior aquatro meses. Principais penas: morte: natural, natural para sempre, cruelmente e pelo fogo; açoites; degredo para galés, perpétuo ou temporário; mutilações com requintes de crueldade; queimaduras com tenazes em brasa; confisco de bens; multa. As penas eram aplicadas segundo os privilégios ou linhagem dos executados. Fidalgos, Vereadores, Juízes e outros, exaustivamente listados nas Ordenações, não poderiam sofrer pena de açoites ou degredo com baraço e pregão. Há disposição proibindo que sejam presos em ferros os Doutores em Leis ou Cânones, ou em Medicina, feitos em Universidade, os Cavaleiros Fidalgos, de Ordens Militares de Cristo, Santiago e Aviz, os Escrivães da Fazenda e Câmara reais, bem como as respectivas mulheres. As pessoas vis (não nobres) sofriam tormento, eram condenadas a penas vis: forca, galés (remar em embarcações), corte de membro, açoites, marca nas costas, baraço (laço de apertar a garanta) e pregão (descrição da culpa e da pena). Longa duração As Ordenações Filipinas foram revalidadas, após o domínio espanhol, em 1643 por D. João IV e, no que diz respeito ao Direito Civil, vigoraram no Brasil até 1º de janeiro de 1917, quando entrou em vigência o Código Civil Brasileiro de 1916. É importante esclarecer que as Ordenações do Reino não eram códigos no sentido atual, mas compilações de leis, atos e costumes, ao lado das quais, funcionam como fontes subsidiárias, o Direito Consuetudinário (costumes), o Direito Romano e o Direito Foralício (cartas forais, com as quais o rei concedia terras). Cartas forais (classificação de acordo com o alcance e conteúdo) Cartas de povoação: contêm apenas certo número de disposições sobre o início do povoamento, para defesa ou exploração agrícola estável de uma terra erma e a habitar para cultivo. Foro breve: documento legal em que se inserem normas de conduta local, extraídas, mais ou menos livremente, de outros agregados habitacionais já existentes, mais evoluídos, e destinados a criar ou melhorar a organização coletiva do núcleo de moradores a que se destina. Foro extenso: documento mais pormenorizado. Seu conteúdo envolve dois elementos primordiais: 1) a garantia da propriedade plena de terras e casas, possuídas pelos membros da coletividade local, com direito de livre alienação, em vida, ou por morte, embora, em muitos casos, com encargos e restrições; 2) a determinação explícita dos tributos ou prestações que os vizinhos terão que pagar à entidade outorgante, de modo a evitar quaisquer arbitrariedades ou abusos. Exemplo: Foral de Olinda Outorgado em 1537 pelo primeiro donatário, fidalgo de formação europeia, Duarte Coelho. O Foral de Olinda confere à povoação o título de Vila e estabelece o seu patrimônio público. Em 1550, a Câmara solicitou ao donatário uma cópia do documento, a qual foi tirada do livro de tombo e matrícula da Capitania. Com a invasão holandesa em 1630 e o incêndio em 1631, o documento guardado no arquivo do conselho foi novamente perdido. Em 1654, após a restauração do domínio português em Pernambuco, o texto foi localizado no Mosteiro de São Bento de Olinda. Através do resgate histórico deste documento do século XVI, o Projeto Foral de Olinda possibilitou o aumento da arrecadação municipal, através da incorporação do cadastro de terrenos foreiros ao Sistema de Cadastro Imobiliário do município. Os trabalhos iniciaram-se em 1984, culminando com a emissão dos carnês de cobrança em 1994, 1996 e 1998, para, respectivamente, 34.000 imóveis localizados em Olinda, 15.000 em Recife e 18.000 parcelas no Cabo. Sugestão de leitura Foro, laudêmio e taxa de ocupação: o que é isso? Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI219673,71043- Foro+laudemio+e+taxa+de+ocupacao+o+que+e+isso Aplicação: articulação teoria e prática O Foral de Olinda de 1537 é o documento histórico mais antigo relativo à cidade e elevou o povoado de Olinda à condição de Vila, estabelecendo seu patrimônio público, bem como um plano de ocupação territorial. Foi produzido pelo primeiro capitão donatário de Pernambuco (Duarte Coelho) aos povoadores e moradores, cedendo o direito de uso da terra, mas sem transferir sua propriedade. Ainda hoje a Prefeitura Municipal se utiliza do documento para fundamentar a cobrança de “foro anual” e também de “laudêmio”. Inconformado, José, morador em terreno passível de cobrança, afirma que no Brasil não se reconhece um documento com quase cinco séculos de existência, além do que os forais não possuem força jurídica. Diante da informação acima, pesquise e responda: a) o que é uma Carta Foral? b) Com que fundamento o Município de Olinda continua cobrando o foro anual e laudêmio? PARA A PRÓXIMA AULA Antes da próxima aula, você deve: Acessar o ambiente virtual da disciplina no SAVA (no SIA, entrar em Sala de Aulas Virtuais e Minhas disciplinas presenciais), assistir às videoaulas 1, 2 e 3 e observar outras indicações de materiais para aprofundamento deste conteúdo. Ler o livro texto - Livro didático de História do Direito Brasileiro, da Estácio, até a página 48.
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