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A propedêutica filosófica: a questão do método

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A propedêutica filosófica: a questão do método 
	A fundamentação do pensamento filosófico depende essencialmente da organização dos argumentos apresentados. Para isso, é preciso que as ideias sejam organizadas de forma a produzir um discurso lógico e coerente, apreensível ao ouvinte, isto é, ao auditório. Tal fato confirma a importância dos estudos lógicos na construção discursiva das teses filosóficas.
Não é sem razão, portanto, que Aristóteles (384-322 a. C.) afirma que a Lógica deve ser considerada como a propedêutica da Filosofia, entendendo-se o conceito de propedêutica como um estudo introdutório e preliminar a todo tipo de conhecimento.
Por isso, as investigações lógicas são parte integrante e essencial para a Filosofia, quando a exposição de ideias não é antecipadamente garantida – como no caso das ciências exatas. Ou seja, no exame de uma tese, torna-se necessária a compreensão adequada dos conceitos e proposições ou juízos escolhidos, a fim de que o raciocínio elaborado siga uma linha de coerência lógica na exposição dos argumentos. 
Tendo em vista a importância da ordenação correta dos argumentos na sustentação das teses apresentadas, acrescente-se que o próprio Aristóteles elaborou uma espécie de roteiro para uma investigação minuciosa, que possibilitasse a formulação correta dos raciocínios a serem apresentados. 
Neste roteiro — um tanto exaustivo, mas imprescindível para uma análise aprofundada —, convém destacar os dois principais tipos de raciocínio identificados pela lógica aristotélica como adequados à percepção da veracidade das ideias em estudo: o raciocínio indutivo e o raciocínio dedutivo. 
Raciocínio indutivo
O raciocínio indutivo é aquele que, partindo da enumeração de casos particulares, pode concluir por uma ideia universal. Por exemplo: da observação de que vários tipos de aves têm penas (a coruja, a águia, o pardal, a andorinha etc.) conclui-se que todas as aves (universalmente) têm penas. Ou seja, depois de verificar e enumerar todos os casos particulares, será possível estabelecer um juízo geral sobre a observação inicial. 
Na Lógica Clássica, o raciocínio indutivo deveria fazer a enumeração completa dos casos, para que a conclusão pudesse ser ‘’perfeita’’. Posteriormente, na Modernidade, os procedimentos indutivos passam a se tornar uma probabilidade — ligados, portanto, à estatística. 
Raciocínio dedutivo
Já o raciocínio dedutivo, como o próprio nome indica, deduz uma conclusão particular ou singular que se baseou em uma proposição universal. Isto é, partindo do fato de que todos os homens são mortais, conclui-se necessariamente que Paulo é mortal. Esse tipo de raciocínio é mais preciso, pois de um todo verdadeiro foi retirada uma parte. 
O exemplo que melhor ilustra o método dedutivo é o silogismo, pelo qual o raciocínio é elaborado a partir de uma construção lógica perfeita: de um juízo universal (premissa maior) pode-se inferir outro juízo que seja singular (premissa menor). 
No entanto, não se pode deixar de considerar que, às vezes, tais modelos são construídos erroneamente, quer por ignorância, quer por má intenção. É o caso das falácias, que aparentam uma construção lógica, mas que são desmascaradas quando melhor se examina o discurso. A exposição de uma falácia decorre de falha na construção dos argumentos. Isso acontece quando o discurso argumentativo deixa de seguir uma lógica adequada na escolha dos termos utilizados. 
EXEMPLO: Todo político é ladrão. / Pedro é político. / Logo, Pedro é ladrão. A falácia decorre de uma generalização, que necessariamente não corresponde à realidade, pois há políticos honestos. 
Na formulação das proposições ou juízos, é possível verificar dois tipos que denotam situações diferentes e, por vezes, complexas: os juízos de realidade e os juízos de valor. 
Juízos de realidade 
Os juízos de realidade, ou juízos de fato, são aqueles que delimitam o seu plano de ação, pois descrevem e buscam a comprovação evidente de um determinado fato ou fenômeno, numa observação objetiva e quantitativa do que está em julgamento; isto é, os juízos de realidade vinculam-se, portanto, à metodologia científica, pois as pesquisas das ciências seguem sistematicamente todas as etapas previstas para chegar a uma generalização. 
Juízos de valor 
Os juízos de valor, ao contrário, não se limitam simplesmente à observação quantitativa dos dados em questão; vão além do fenômeno, para buscar interpretar qualitativamente o fato e melhor compreender as causas que possibilitaram os fenômenos. Esse modelo de juízo é próprio da Filosofia, que não se limita à simples aparência do objeto, pois realiza um mergulho profundo para um entendimento mais amplo, embora não tenha a garantia antecipada da demonstração, própria das ciências exatas. Conforme ressalta Norberto Bobbio (2006, p. 135): 
“Ora, característica fundamental da ciência consiste em sua avaloratividade, isto é, na distinção entre juízos de fato e juízos de valor e na rigorosa exclusão destes últimos do campo científico: a ciência consiste somente em juízos de fato. O motivo dessa distinção e dessa exclusão reside na natureza diversa desses dois tipos de juízos: o juízo de fato representa uma tomada de conhecimento da realidade, visto que a formulação de tal juízo tem apenas a finalidade de informar, de comunicar a um outro a minha contestação; o juízo de valor representa, ao contrário, uma tomada de posição frente à realidade, visto que sua formulação possui a finalidade não de informar, mas de influir sobre o outro [...]”.
Ainda no campo dos discursos, é necessário destacar também a argumentação retórica, cujo apelo ultrapassa a simples organização formal dos discursos, pois é elaborada de forma a persuadir e convencer o interlocutor (o auditório), sobre as ideias apresentadas, num processo que envolve o aspecto psicológico dos indivíduos. Ou seja, a partir de ethos, pathos e logos, (do grego: costume, paixão e razão), o discurso retórico pode ser capaz de persuadir o ouvinte, por intermédio de técnicas próprias de convencimento. Aristóteles apresenta uma interessante contribuição explicativa sobre a discursividade retórica (s.d., p. 33):
“Assentemos que a Retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão. Nenhuma outra arte possui esta função, porque as demais artes têm, sobre o objeto que lhes é próprio, a possibilidade de instruir e persuadir [...] mas a Retórica parece ser capaz de, por assim dizer, no concernente a uma dada questão, descobrir o que é próprio para persuadir”.
A retórica, porém, não deve ser considerada como uma forma de iludir, pois a formulação de tais discursos vai depender, e muito, do caráter do orador. Como instrumento político primordial do cidadão grego na Grécia Clássica, a retórica possibilitou, e mesmo fortaleceu os embates políticos da ágora — da assembleia em que se discutia democraticamente o rumo e o destino da pólis (cidade).

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