Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A propedêutica filosófica A palavra “propedêutica” significa “um estudo preliminar, mas indispensável, à compreensão de determinado assunto”. Para que expressemos corretamente nossos raciocínios, precisamos, antes de mais nada, de clareza e coerência. Nesta unidade, vamos nos dedicar à Lógica, estudo da correta formulação dos argumentos e da consequente validade das construções discursivas. Objetivo Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: • Distinguir os elementos da constituição lógica do raciocínio. Conteúdo Programático Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas: • Tema 1 - Organização formal do pensamento • Tema 2 - O raciocínio lógico • Tema 3 - Condições de conhecimento (DES)INFORMAÇÃO O que você deduz deste diálogo? Tema 1 Organização formal do pensamento Qual a importância da Lógica para um bom entendimento dos discursos? O desenvolvimento das ciências e do conhecimento visa à organização correta do pensamento, possibilitando a construção de raciocínios claros e rigorosos em sua fundamentação. Isso significa que toda disciplina requer um princípio, uma introdução que explicite o rumo a ser seguido na elaboração de seus conceitos. Esse processo é considerado uma propedêutica: um estudo introdutório que possibilita a compreensão inicial de uma ciência; um estudo preliminar que antecede o ensino mais amplo de um conhecimento. É nesse sentido que Aristóteles sustenta que as investigações da Lógica sejam a propedêutica da Filosofia, já que devem ser a base dos discursos filosóficos, os quais não podem prescindir de uma ordenação rigorosa, especialmente por não possuírem a garantia comprobatória das ciências exatas e naturais. E, embora seja apenas um dos ramos da filosofia, a Lógica tem um papel muito amplo, sendo aplicada às mais diversas áreas do conhecimento, quando se torna necessário o uso de argumentos ou provas demonstrativas. Por conseguinte, o objetivo da Lógica é promover a organização correta do pensamento, distribuindo convenientemente as proposições, a fim de bem ordenar o raciocínio. A Lógica, portanto, é um instrumento de auxílio na construção formal do raciocínio, que independe de conteúdos específicos e examina os princípios gerais que fundamentam as regras do pensamento válido. Podemos dizer, ainda, que a Lógica é a reflexão sobre o ato formal de pensar, estando ligada à razão, ao discurso. A principal função da Lógica é, assim, auxiliar a ordenação dos pensamentos, proporcionando correção e clareza na elaboração do raciocínio, pois o pensamento é uma atividade intelectual, um processo de cognição da realidade, no qual se formam os conceitos e juízos que possibilitam o raciocínio e a comunicação entre os homens. Observação [...] dada a argúcia inata do intelecto, uma pessoa com conhecimento de lógica tem mais probabilidade de raciocinar corretamente do que aquela que não se aprofundou nos princípios gerais implicados nessa atividade. [...] o estudo da lógica proporcionará ao estudante certas técnicas e certos métodos de fácil aplicação para determinar a correção ou incorreção de todos os raciocínios, incluindo os próprios. (COPI, 1981, p. 20) Historicamente, não se pode precisar a origem dos estudos lógicos; no entanto, muito embora não tenha sido o iniciador dessas investigações, Aristóteles (384-322 a.C.) foi quem primeiro sistematizou a Lógica, elevando-a ao grau de disciplina científica; por isso ele é considerado o fundador da Lógica, o “pai” da Lógica Clássica. "Aristóteles, a lógica não era uma ciência teorética, nem prática ou produtiva, mas um instrumento para as ciências. O conjunto das obras lógicas aristotélicas recebeu, assim, o nome de Órganon, palavra grega que significa instrumento.” Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática ed.1996. A lógica aristotélica é definida como a ciência demonstrativa das formas de pensamento correto. Isso significa que a Lógica se ocupa da demonstração normativa e das leis formais do pensamento, considerado em si mesmo, independentemente de conteúdos específicos. Aristóteles percebeu a necessidade da observação de certos parâmetros para a ratificação de umconhecimento rigoroso, chamado de princípios da demonstração (também conhecidos como princípios lógicos, verdades lógicas, princípios básicos da razão). Clique em cada um dos princípios para conhecer mais detalhes. Princípio da Identidade Princípio da não contradição Princípio de terço- excluso Pitágoras assegura que o número é a arché que possibilita a harmonia de todas as coisas. Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Não é correto afirmar que “Sócrates é filósofo e não filósofo.” As duas afirmações não podem ser ambas verdadeiras, já que os dois atributos são conflitantes. Ou do terceiro excluído: uma coisa ou um objeto é ou não é, não havendo uma terceira possibilidade: dada uma determinada proposição, dela se pode dizer que é ou que não é, pois ela não pode ser simultaneamente verdadeira e falsa. Para Aristóteles, o princípio fundamental da demonstração é o princípio da não contradição, que contém os demais; por sua natureza, ele é o princípio de todos os axiomas. Um axioma é uma verdade que não precisa ser demonstrada, é uma proposição evidente por si mesma. Ex.: “Todo homem é mortal.” Outro ponto de interesse das investigações aristotélicas vem a ser o estudo estrutural do pensamento, o modo pelo qual o pensamento é formado, estabelecendo regras e condições que tornam possível a clareza do discurso. Na formulação do pensamento são utilizadas palavras, que formam frases, expressando o que se pretende demonstrar. Com efeito, Aristóteles procede a uma espécie de “dissecação” do ato de pensar, explicitando as operações intelectuais da mente: o conceito, o juízo e o raciocínio (também chamados respectivamente: termo, proposição e argumento). Conceito Juízo Raciocínio É a ideia mental que nos faz reconhecer o objeto; é a representação intelectual de algo. O pensamento é inseparável da linguagem e será sempre constituído por palavras, por signos linguísticos. Dessa forma, o conceito não deve se remeter à imagem, a qual capta apenas os aspectos particulares e concretos de um determinado objeto. Por exemplo: o conceito de cadeira é abrangente e se refere a qualquer cadeira, de um modo amplo e geral, não importando seu modelo. É o ato pelo qual se faz um julgamento a respeito de alguma coisa, tendo por característica básica a afirmação ou negação acerca de algo. Exemplos: “Sócrates é mortal.” / “Pedro é alto.” / “João não é estudante.” / “O mercúrio é um metal.”. Também chamado de inferência, é o encadeamento lógico de juízos a partir dos quais se chega a uma conclusão – constituindo a síntese das operações anteriores (conceito e juízo), conforme examinaremos, em detalhes, na próxima aula. Vamos conhecer um pouco mais sobre os juízos. Os juízos podem ser afirmativos ou negativos, apresentando-se também sob a forma de necessidade (quando algo é, necessariamente) ou de contingência (quando um dado pode ser ou não ser). A teoria do raciocínio elaborada por Aristóteles supõe a inferência, isto é, o processo pelo qual chegamos a uma conclusão por meio de proposições antecedentes e que apresentam implicação lógica. O juízo é a forma completa mais simples do pensamento, pois se apresenta a partir de uma determinada conexão, que lhe empresta unidade; e é uma reunião de conceitos, os quais constituem suas partes elementares. Ainda sobre os juízos: eles podem também ser simples (atômicos) ou compostos (moleculares). São simples, ou atômicos, quando o juízo (ou proposição) é formado com um só atributo para o sujeito. Exemplo: “Sócrates é grego.” A proposição será composta,ou molecular, se o sujeito tiver mais de um atributo, isto é, mais de um predicado a ser incorporado a ele. Exemplos: “Sócrates é grego e filósofo.” / “João é um aluno inteligente.” Devemos ressaltar que embora para a construção do juízo geralmente sejam necessários dois termos – o sujeito e o predicado – unidos por um verbo, existem casos especiais. Por exemplo: “Chove.” / “Anoitece.” / “Faz frio.” De modo bem sucinto, pode-se dizer que de acordo com a quantidade os juízos podem ser universais ou singulares. Dessa maneira, um juízo universal refere-se a sua amplitude, quando são usados os ‘quantificadores’ todo, nenhum... Exemplos: “Todo homem é mortal.” / “Nenhum metal dilata sem calor.” Já o juízo singular está relacionado com algo específico, próprio de um só objeto. Exemplos: “Esta aluna é inteligente.” / “Joaquim é advogado.” Vídeo Para saber mais sobre o processo de organização do raciocínio lógico, assista agora ao vídeo: O pensamento lógico. Clique na imagem para visualizar o vídeo. https://player.vimeo.com/video/344182423?badge=0&autopause=0&player_id=0&app_id=58479 Tema 2 O raciocínio lógico Qual a diferença entre raciocínio dedutivo e raciocínio indutivo? De um ou mais juízos ligados entre si pode-se derivar outro, que é consequência dos anteriores; passa-se de algo que se conhece (os juízos precedentes) para algo que ainda não é conhecido (o juízo consequente, a conclusão). Exemplo: “Se A = B e se B = C, conclui-se que A = C.” Os raciocínios lógicos podem ser dedutivos ou indutivos. São dedutivos quando se parte de um juízo universal e se conclui por um juízo individual; de uma situação geral, chega-se a uma conclusão singular. Parte-se de um princípio geral, já conhecido, para inferir uma consequência individual ou singular. Trata-se do que, em Lógica, é chamado de silogismo. Saiba Mais Raciocinar é passar de uma coisa intelectualmente apreendida a uma outra coisa intelectualmente apreendida graças à primeira, e progredir deste modo de proposição em proposição a fim de conhecer a verdade inteligível. [...]. Pelo raciocínio, o espírito vai do conhecido ao desconhecido, adquire algo de novo, quer descobrindo uma verdade de que até então não suspeitava [...], quer estabelecendo ou estabilizando como certa uma verdade já descoberta, mas que ele só possuía imperfeitamente [...].(MARITAIN, 1994, p. 109) "Todo estudante sabe ler." "José é estudante." (Logo) "José sabe ler" Segundo Aristóteles, o silogismo é a mais perfeita forma de raciocínio dedutivo: “é um argumento em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta necessariamente.” O silogismo é formado por três proposições – premissa maior, premissa menor e conclusão –, nas quais existem três termos correspondentes. Observemos, também, o célebre exemplo aristotélico: "Todo homem é mortal." "Sócrates é homem." (Logo) "Sócrates é mortal." Nesse caso, homem é o termo médio; Sócrates é o termo menor, individual; e mortal é o termo maior, pois abarca os anteriores. Note-se que, seguindo a regra básica do silogismo clássico, este tipo de raciocínio só pode ter três termos, agrupados convenientemente. Cabe destacar que o silogismo é o ponto central da lógica para Aristóteles e supõe a presença das três proposições mencionadas. O raciocínio lógico é indutivo quando construído a partir da enumeração de juízos particulares para chegar a um juízo universal. Ou seja: após a observação de situações empíricas, pode ser possível formular uma lei geral. "O ouro, a prata, o bronze, o ferro, o cobre... são metais." "O ouro, a prata, o bronze, o ferro, o cobre... dilatam com o calor." (Logo) "Todo metal dilata com o calor." O raciocínio indutivo, embora quase sempre legítimo, comporta um grau de probabilidade, pois, caso não se verifique o exame completo dos dados, esse raciocínio pode ser invalidado. Por isso, Aristóteles afirmava que o processo indutivo deve constituir uma enumeração perfeita, abrangendo todas as propriedades dos fatos. Para refletir Mostrar como uma conclusão deriva de verdades universais já conhecidas [...] é proceder por via dedutiva ou silogística. Mostrar como uma conclusão é tirada da experiência sensível [...] é proceder por via indutiva. Pelo silogismo, nós nos mantemos no plano do inteligível; movemo-nos de um ponto para outro deste plano, como um submarino que navega horizontalmente à tona; pela indução, chegamos ao plano inteligível, movemo-nos do plano sensível ao plano inteligível, como um submarino que navega verticalmente de baixo para cima. (MARITAIN, 1994, p. 283- 284). É importante, agora, considerar algumas construções errôneas que podem ser confundidas com raciocínios válidos, pois, muitas vezes, a formulação incorreta dos silogismos e de seus termos pode resultar em falácias, raciocínios que contêm erros ou falhas na formulação argumentativa; a intenção do uso desses argumentos falaciosos é confundir e enganar um determinado público por meio de raciocínios ilusórios. A formulação destes argumentos, aparentemente verdadeiros, produz apenas simulacros. Devemos ressaltar, no entanto, que, tecnicamente, um raciocínio só é considerado falacioso quando construído com a intenção de enganar, caso contrário será chamado de paralogismo. Ao explicar a constituição do raciocínio vicioso, Aristóteles problematiza a utilização dos argumentos capciosos, criticando com veemência estas construções: “[...] para certa gente é mais proveitoso parecer que são sábios do que sê-lo realmente sem o parecer [...].” (ARISTÓTELES, 1978, p. 155). Daí sua preocupação em ocupar-se com o esclarecimento das falácias, enumerando-as e apontando os equívocos de cada uma. Talvez possam nos parecer distantes e abstratas estas explicações, mas a cada momento somos bombardeados com discursos dúbios e enganadores transmitidos pela mídia, vindos da publicidade, dos governos, dos políticos, de todos, enfim, que pretendam enquadrar nossas ideias e pensamentos a partir de simulacros da realidade. Falácia Lógica Além de suas pesquisas no campo da Lógica, Aristóteles investigou também a retórica – a arte da formulação de discursos persuasivos, que busca a adesão do outro (do ouvinte, de um auditório). Note-se que, na Grécia Clássica, o estudo da retórica constituía um importante instrumento de participação política. O uso das técnicas retóricas ultrapassa o modelo formal da Lógica, pois valoriza o apelo à emoção, aos sentimentos. Ou seja, o discurso retórico se apoia em três elementos fundamentais: o ethos, o pathos e o logos, que se referem respectivamente ao comportamento, à paixão e à razão. Observação A Retórica é útil, porque o verdadeiro e o justo são, por natureza, melhores que seus contrários. [...] Vê-se, pois, que a Retórica não se enquadra num gênero particular e definido, mas que se assemelha à Dialética. Igualmente manifesta é sua utilidade. Sua tarefa não consiste em persuadir, mas em discernir os meios de persuadir a propósito de cada questão, como sucede com todas as demais artes. Além disso, é manifesto que o papel da Retórica se cifra em distinguir o que é verdadeiramente suscetível de persuadir do que só o é na aparência [...]. (ARISTÓTELES, s/d, p. 31) Do ponto de vista histórico, a herança aristotélica permaneceu inalterada até o período medieval. No entanto, com o intenso desenvolvimento das ciências modernas, a Lógica passa a assumir um novo papel, com uma função mais instrumental e ligada a cálculos matemáticos Se, em Aristóteles, o que importava era a estrutura formal, sem colocar em relevo o conteúdo propriamente linguístico, a Lógica Moderna (ou Simbólica, ou Logística) vai abolir totalmente os termos da linguagem natural, a fim de formular raciocínios artificiais e libertos de qualquer recurso às ambiguidadesda linguagem corrente. A Lógica Simbólica procura, então, chegar a um grau inquestionável de abstração, a noções de verdade ou falsidade, com a intenção de logicizar matematicamente o pensamento, a fim de possibilitar o pleno desenvolvimento da razão. Resumindo, na formulação do pensamento existe toda uma estrutura organizadora dando forma e coerência ao ato de pensar, num processo que envolve a construção do conhecimento e, consequentemente, dos mais variados saberes. Saiba Mais Sobre o desenvolvimento da Lógica pós-aristotélica, do período medieval aos dias atuais, é interessante verificar as páginas 192-201 do livro de Marilena Chauí, mencionado na bibliografia deste roteiro. Tema 3 Condições de conhecimento De que modo podemos estabelecer a relação entre o conhecimento concreto e o conhecimento abstrato? A busca pelo conhecimento é intrínseca ao ser humano. Já em sua Metafísica (Livro I), Aristóteles afirmava que “todos os homens, por natureza, desejam conhecer”, e o conhecimento se desenvolve, gradativamente, em vários níveis. Os sentidos, que podem ser análogos aos dos animais irracionais, seriam o grau de conhecimento mais básico; em seguida, na escala ascendente, viria a memória, depois a experiência, a arte (entendida como techné), a ciência (investigação dos princípios e causas) e, por último, “a sabedoria das causas primeiras”, que é a filosofia. Aristóteles O conhecimento consiste na apreensão intelectual de um objeto e pode ser considerado a partir de três etapas fundamentais, cada uma delas com suas variações, mostradas no gráfico abaixo. Clique em cada uma das etapas e nas variações para conhecer mais detalhes sobre cada uma delas. Para que exista conhecimento, sempre será necessária a relação entre dois elementos básicos: um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa mente) e um objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos). Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir apreender o objeto, isto é, conseguir representá-lo mentalmente. (COTRIM, 1999, p. 70) Por conseguinte, o ato de conhecer pressupõe a existência destas duas partes inseparáveis, pois sem o vínculo entre sujeito e objeto não há possibilidade de conhecimento. Observação No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência e o objeto, o sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes dois elementos, que nela permanecem eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e objeto pertence à essência do conhecimento. A relação entre os dois elementos é ao mesmo tempo uma correlação. O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto só é objeto para um sujeito. Ambos só são o que são enquanto o são para o outro. (HESSEN, 1987, p. 26) A extensão dá a ideia de espaço, de externalidade, e a compreensão dá a ideia de intensidade, de internalidade. Segundo a extensão, a ideia específica está dentro da ideia geral; segundo a compreensão, a ideia geral é que está dentro da específica. (ALVES, 2002, p. 84) Devemos ainda destacar que o conhecimento pode realizar-se de diferentes modos, que variam conforme a atitude do sujeito em sua relação com o mundo. Assim, a capacidade de conhecer do ser humano pode dar-se desde a maneira mais simples e irrefletida até um modo mais racional e complexo. O pensamento de Nietzsche revoluciona os modelos clássicos da filosofia, desde sua exacerbada crítica à metafísica e a Sócrates até a tentativa de “implosão” aos valores vigentes de sua época. Para ele, existiriam dois elementos distintos: o espírito apolíneo (da forma, da ordem da razão) e o espírito dionisíaco (do deus Dioniso, representando a paixão, o delírio, a emoção), os quais deveriam se manifestar igualitariamente, mas que a sociedade procurava sufocar no que tange aos apelos dionisíacos. Também o mito é uma forma de conhecimento, ainda passivo e inquestionável como o senso comum, estando vinculado às crenças religiosas que nos são repassadas como verdades únicas e absolutas, já que não se pode questionar o sagrado. Saiba Mais Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O mito, portanto, é um ingrediente vital da civilização humana [...]. MALINOWSKI, B., apud ELIADE, 1963, p. 23) Já no conhecimento teológico, busca-se um conjunto de verdades reveladas pela fé, estabelecido a partir da aceitação de dogmas ligados às divindades. Estes modelos que tomamos de exemplo situam- se na esfera das relações cotidianas e costumeiras que fazem parte da cultura de cada sociedade, em que a aceitação das normas tradicionais não costuma ser questionada, por estar diretamente vinculada aos modelos ancestrais, que determinam o comportamento ideal de cada indivíduo, bem como seus valores e suas crenças religiosas ou supersticiosas. Ao contrário, quando buscamos o conhecimento de forma mais rigorosa, como no caso do conhecimento pela ciência e pela filosofia, as condições de conhecer assumem características elaboradas, pois procuram o conhecimento das causas que originaram os fatos ou fenômenos. O conhecimento da ciência visa a conhecer o objeto de maneira objetiva e lógica, com a intenção de comprovar as causas, as reações e os efeitos possíveis do ato de conhecer, analisando rigorosamente seu objeto de pesquisa. Já o ato de conhecer pela filosofia procura um entendimento mais amplo e consistente da realidade como um todo; não há, portanto, um recorte do problema – investigado em toda sua abrangência, numa relação que envolve os aspectos que possibilitaram sua existência. A filosofia, diferentemente das ciências, não tem um objeto único de estudo, pois qualquer problema pode ser examinado à luz da reflexão filosófica. Encerramento Qual a importância da Lógica para um bom entendimento dos discursos? A Lógica possibilita a elaboração de argumentos estruturados de modo correto, permitindo que se possa perceber a veracidade, ou não, dos raciocínios apresentados e, consequentemente, dos discursos válidos. Qual a diferença entre raciocínio dedutivo e raciocínio indutivo? No raciocínio dedutivo, partimos de uma proposição geral (um conhecimento amplo) para chegarmos a uma proposição específica. Exemplo: Todo peixe nada. / O badejo é um peixe. / (Logo) O badejo nada. O raciocínio indutivo nos leva por um caminho inverso: depois de enumerarmos várias situações particulares, construímos uma proposição geral. Exemplo: O pardal, o beija- flor, a andorinha... são pássaros. / O pardal, o beija-flor, a andorinha... voam. / (Logo) Todo pássaro voa. De que modo podemos estabelecer a relação entre o conhecimento concreto e o conhecimento abstrato? O conhecimento concreto deriva da observação de um objeto específico (prático), enquanto o conhecimento abstrato procura atingir a essência fundamental do objeto (teórico); por isso, a relação entre eles resulta do vínculo indissociável que deve existir entre prática e teoria para a apreensão do conhecimento verdadeiro. Resumo da Unidade Vimos que, para Aristóteles, a Lógica é um instrumento que permite separar os discursos válidos dos discursos falaciosos. Em seguida, vimos também que os estudos lógicos procuram identificar a coerência das formulações discursivas, sendo, portanto, primordiais para dar sentido às investigações filosóficas, na busca do conhecimento.
Compartilhar