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Roteiro de IED DIREITO MORAL EQUIDADE E JUSTIÇA

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Professor Antônio Guerra
Apostila de Introdução ao estudo do Direito
Roteiro de IED
O problema da Ética: Direito e Moral, Equidade e Justiça.
Direito e Moral
Muitas teorias tentaram explicar as diferenças entre a Moral e o Direito. A distinção entre moral e o direito somente foi maturada quando a sociedade já havia alcançado um estágio de evolução significativo. A título de informação vale lembrar que os Egípcios, os babilônios, os gregos e no mundo oriental a civilização chinesa, não faziam essa distinção. De acordo com o pensamento reinante na antiguidade era que o direito se confundia com os valores morais e os próprios costumes sociais.
Paulo Dourado de Gusmão� enaltecendo Ruubier, enfatiza que “ o direito nesse tempo ainda não havia adquirido autonomia, talvez porque, como nota Rubier, “nas sociedades antigas a severidade dos costumes e a coação religiosa permitiram obter espontaneamente o que o direito só conseguiu mais tarde, com muita coerção.”
A importância da civilização Romana, considerados os primeiros cientistas que tentaram produzir uma sistematização do direito, não obstante, nesse campo sofreram uma destacada influência da civilização grega. Como nos dá notícia as escritas, os romanos consideravam o direito como ars boni et eaqui, ou seja: a arte do bem e do justo. 
Também na civilização romana costuma-se atribuir a o Jurisconsulto Paulo famosa expressão, segundo a qual “non omne quod licet honestun est”� que até hoje é capaz de identificar, em um primeiro momento, uma distinção elementar entre o direito e a moral. De acordo com essa premissa é possível afirmar que nem tudo que é permitido pelo direito está conforme moral.
 
É importante destacar, todavia, que a distinção entre a Moral e o Direito somente foi concebida pela ciência jurídica por Thamasius em 1713, quando pela primeira vez se sedimentou os fragmentos da ideologia de que o direito tem a coercibilidade como suficiente e capaz de determinar a realização de atos atribuídos a todos em que de alguma forma estejam vinculados ao seu controle social e jurídico. Sublinhe-se que essa ideologia foi amplamente defendida por Kant posteriormente. Essa concepção deu origem a chamada teoria da separação entre o Direito e a Moral estudada a seguir. 
Na verdade, o Direito não é algo absolutamente distinto da Moral. Evidente que há inúmeras situações de manifestação do Direito que não se equivale a Moral, pelo menos do ponto de vista da Moral ideal. Todavia, quer nos parecer que a diferença reside no campo da aplicabilidade ou da introspecção que é inerente a Moral, embora sirva de fundamento ao mundo exterior do Direito, sendo capaz de legitimar a manifestação concreta do Direito. Embora nem sempre seja possível. Enquanto a Moral se limita a introspecção humana o Direito aplica-se à manifestação fática dos indivíduos com força de exigibilidade. Sim porque o Direito se externa como conjunto de prescrições tendentes a regular a vida em sociedade, estabelecendo diretrizes exigíveis. Não obstante a Moral fundamentar a própria formação do direito, ela revela-se limitada ao âmago da individualidade humana. 
Cumpre dizer que no estudo das generalidades entre Moral e Direito, destacou-se Giorgio Del Vecchio um italiano proeminente filósofo legal do princípio do século XX, segundo ele a Moral e o Direito “são conceitos que distinguem, mas que não se separam.”� 
Teorias que tentam estabelecer aproximações e distanciamentos entre o Direito e a Moral:
Como afirma Miguel Reale Júnior, ha inúmeros preceitos jurídicos, cujo conteúdo é de ordem meramente técnico, sem nenhuma ligação com a moral. Como há inúmeros exemplos de atos jurídicos lícitos que não são moralmente legítimos. �
Pois bem, com base nessas premissas, torna-se inteiramente possível visualizar algumas dinâmicas representadas por círculos concêntricos e secantes, de acordo com a visão adotada por cada teoria desenvolvida pela evolução da própria sociedade estatizada.
A Teoria da Separação entre o Direito e a Moral.
Coube a Christian Thomasius (1655-1728)� elaborar a teoria da separação entre o Direito a a Moral. Esse representante do iluminismo alemão afirmava que não há ponto de ligação entre a moral e o direito. A Moral é um conjunto de regras que regula a esfera íntima dos seres humanos, sendo aplicável apenas no nível da consciência. O Direito é um conjunto de regras tendentes a regular o comportamento externo dos seres humanos.
Critica-se a teoria por não explica satisfatoriamente as regras da chamada moral social, que são os costumes, as etiqueta, etc. que não obstantes serem regras morais da conduta se referem a comportamentos externos, sem grandes preocupações com a esfera íntima. 
Por outro lado não se deve esquecer que o direito também se preocupa com a esfera íntima das pessoas, como no caso da verificação de dolo ou culpa na prática de um crime (é necessário saber se o autor teve ou não a intenção de praticá-lo). Assim, não parece ser um critério adequado para justificar a separação entre os campos.
Teoria dos círculos concêntricos (Atribuída a Jeremy Bentham�)
Direito = Moral 
Miguel Reale nos dá noticia da teoria do Mínimo Ético, exposta pelo filósofo inglês Jeremy Benthan e posteriormente desenvolvida pelo Alemão Georg Jellinek. De acordo com essa teoria do Mínimo Ético, o Direito representa apenas o mínimo de Moral declarado e obrigatório para que a sociedade possa sobreviver.� A moral que de um modo geral é cumprida de modo espontâneo pode eventualmente ser descumprida, quando isso ocorre implicando um risco a paz social, torna-se indispensável que a sua aplicabilidade se exteriorize por normas cogentes, a fim de disciplinar externamente a conduta humana, dotada de coercibilidade e sanções, materializando-se destarte no Direito. 
É assente na doutrina a representação dessa concepção do Mínimo Ético, representada através de dois círculos concêntricos, sendo o círculo maior representado pela Moral, e o circulo menor simbolizado como o Direito. Com razão afirma Miguel Realle, que a imagem simbólica da teoria do mínimo ético é equivocada, posto que a imagem conflui para a conclusão de que “tudo que é jurídico é moral, mas nem tudo que é moral é jurídico”.� Todavia, há inúmeras normas jurídicas que não são normas morais nem sequer delas derivam, posto que são apenas normas técnicas, como sói acontecer com aquelas que estabelecem prazos recursais. 
Como afirma Laís da Silva Loureiro Filho: 
“tem-se absoluta coincidência entre ambos os círculos, estando o Direito contido no amplo círculo da Moral. É o caso das sociedades primitivas ou estagnadas, as fundamentalistas religiosas, nas quais todo o direito é regulamentado pela Moral, não havendo espaço nem liberdade para a existência de diferenças.”
Segunda situação: Direito≠ Moral 
Aqui se deve considerar plenamente possível a imposição de uma ordem jurídica a uma determinada sociedade, cujos valores morais estejam inteiramente ofuscados, como sói acontecer durante um período de anexação de um Estado por outro, mormente se as culturas, entre eles, são antagônicas e, não obstante, prevalecesse a dominação imposta pela força do Direito. Evidente que numa situação dessas, restaria aniquilado todos os valores morais da sociedade quando anexada pelo estado dominante.
Prelecionando sobre o tema observou com autoridade Lair da Silva Loureiro Filho:
“Na segunda situação, tem-se a separação total entre as duas esferas, o que dificilmente ocorrerá por muito tempo, pois o Direito precisa e deve ter forte base na eficácia moral social. Sob pena de se tornar letra morta, ineficaz.” 
Nesse aspecto a representação gráfica seria então: D ≠ M 
 
 Teoria dos círculos secantes (Atribuída a Claude Du Pasquier) 
De acordo com essa concepção, Direito e Moral possuem pontos de intersecções inseparáveis, ou uma faixa de competência comum que estão umbilicalmente interligadas, como demonstra o gráfico dos círculos secantes.Todavia, há entre eles áreas que não se encontram. Realmente, há inúmeras situações que são moralmente legítimas e, necessariamente, obrigatórias pela força coercitiva do direito. Basta que percebamos as diversas situações relacionadas com as questões sociais, como o amparo entre parentes, a assistência obrigatória aos desamparados no campo da justiça distributiva, inseridas no rol dos direitos fundamentais, com elevada carga moral, é certo. Por outro lado, não se deve negar a existência de inúmeras situações de alto relevo moral não necessariamente reguladas pelo direito, como a título ilustrativo revela-se a atitude da gratidão a um benfeitor.� 
Anote-se, em ultima análise, que também há normas jurídicas estranhas a moral, cuja natureza eminentemente técnica afasta a mínima carga moral. São exemplos destas situações aquelas normas que estabelecem prazos processuais para atos das partes no direito processual, bem como, as normas que delimitam as competências da jurisdição do estado, etc. 
Critérios científicos para distinguir a Moral e o Direito.
Na verdade, como afirmar Paulo Dourado de Gusmão, a Moral tem traços distintivos inconfundíveis com o Direito. A Moral é autônoma, unilateral e incoercível. O Direito é heterônomo, bilateral e coercível. � Vale então uma abordagem didática a respeito desses critérios amplamente difundidos pela doutrina 
A inexigibilidade da Moral e a exigibilidade do Direito
A coercibilidade é atributo presente no Direito e ausente na Moral. Ser coercível é uma característica presente na norma jurídica que lhe garante a obrigatoriedade. A ordem jurídica para se fazer impor pode socorrer-se da força. O Direito como resultado da organização estatal para se fazer impor pode, eventualmente, se utilizar do uso da força obrigando a sua observância compulsória, bastando que seus preceitos sejam eventualmente descumpridos pelos destinatários. Aliás, a utilização da coerção somente deve ser acionada nos casos em que houver desobediência nociva ao comando normativo, até porque o cumprimento da norma positiva é o normal, sendo a exceção o seu descumprimento. A Moral se traduz em deveres cuja exigibilidade é introspectiva, posto que resume ao plano da voluntariedade, ou seja, para ser cumprida depende da razão humana, manifestada pelo grau de ética que se faz presente no indivíduo. 
Portanto, quanto mais ético for à personalidade do individuo mais se fará presente o cumprimento espontâneo da conduta de acordo com a moral. Por outro lado, quanto mais desprezível for à personalidade do homem mais se afastará do cumprimento das regras morais. Portanto, podemos afirmar que o Direito quando não voluntariamente observado poderá fazer-se exigir pela força coercitiva do Estado, enquanto as normas de ordem morais, uma vez descumpridas, ficam apenas no plano da reprovabilidade social, que dependendo da conduta poderá ser criticada com menos ou mais intensidade. Como afirma Silvio de Salvo Venosa� “os princípios Ético-Moral são subjetivos e, dependendo do nível ético da pessoa, a coação moral ser-lhe-á mais premente do que a coatividade jurídica. 
Essa cobrança reflexa presente na sociedade a exigir o cumprimento da conduta de acordo com os preceitos morais nos levam a concluir que, tanto as normas morais como as normas jurídicas são dotadas de imperatividade, pelo menos de um determinado ponto de vista, ou seja, a imperatividade representa um ponto de intersecção entre a moral e o direito. Contudo a coação na moral revela-se no constrangimento de uma pessoa a outra, a fim de influir em seu ânimo para que ela faça, deixe de fazer ou tolere alguma coisa a qual, em linha de princípio, ela não estaria obrigada em face da lei. Já no plano da coerção do direito, Por sua vez, prevalece a coerção que se traduz no ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo, podendo até se utilizado o uso da força para fazer-se prevalecer os ditames da norma legal positivada, quando a mera ameaça não for o suficiente ao convencimento do obrigado. Portanto, parece incontestável que a diferença entre a moral o e direito reside na coercibilidade presente no primeiro e ausente na moral. 
 Heteronomia do Direito e a Autonomia da Moral
Da ausência de coercibilidade das normas morais nasce a sua característica de autonomia. Neste aspecto é importante pontuar que quando se afirma que a Moral é autônoma porque não há obrigação imposta pela organização estatal para que se cumpram seus preceitos, ou seja, ela decorre de um procedimento de autonomia, consoante o qual somente quem pode avaliar o sentido de dever cumprido é a consciência do individuo. O Direito é heterônomo porque sua observância resulta da imposição de uma autoridade investida de legitimidade externa pelo o organismo estatal, o que lhe garante o cumprimento não obstante a falta de colaboração dos seus destinatários. 
Portanto, a heteronomia presente no direito reside exatamente na possibilidade de acaso não sendo os seus preceitos respeitados de modo voluntário, poderá sê-lo pela incisiva intervenção dos aparelhos estatais materializados nos órgãos judiciários e policiais.� Ao contrário do direito a moral exige apenas a observância voluntária de seus mandamentos nucleares, se passando, sobretudo, pela honestidade da conduta de seus pares.
Bilateralidade do Direito e Unilateralidade da Moral
 
A cada direito corresponde a um dever. Essa correlação dialética e lógica se apresenta visível no Direito, tendo em vista o seu apanágio de ser notadamente bilateral. Isso decorre da imperatividade-atributividade presente no Direito na medida em que ao impor uma obrigação atribui um dever respectivo a outrem. A Moral é unilateral porque só impõe dever apenas. Como afirma Paulo Nader� “perante a Moral a ninguém é dado o poder de exigir uma conduta do outrem. Fica-se apenas na expectativa de o próximo aderir às normas. Assim, enquanto o Direito é bilateral a Moral é unilateral.”
Direito e Equidade
O estudo da equidade remota a antiguidade com acepções filosóficas de Aristóteles no campo da ética. De acordo com Aristóteles a equidade seria “o meio de corrigir a lei”, aplicando-a com justiça ao caso concreto.� 
Na verdade, a equidade viveu seu apogeu na era do Império Romano, cujas decisões dos Pretores se pautava pelo senso comum do que mais se aproxima do justo. É bem por isso que no Direito Romano a equidade se identifica com o Direito Natural.
Interessante concepção de Equidade foi concebida pelo Jurista Piero Calamandrei�, segundo o autor “o legislador permite ao juiz aplicar a norma com equidade, ou seja, temperar seu rigor naqueles casos em que a aplicação da mesma (no caso, "a mesma" seria "a lei") levaria ao sacrifício de interesses individuais que o legislador não pôde explicitamente proteger em sua norma”� 
No sentido proposto pela pesquisa sobre a equidade, pode-se afirmar, sem qualquer ressalva, que a rigor, a equidade se equipara a uma técnica de decidir com senso de justiça, dando a cada um o que é seu. Seria uma técnica de integração do Direito. 
Agir com equidade é solucionar o caso concreto com apelo a razão. É tomar uma decisão com convicção de que se está fazendo o certo em consonância com a moral, com a justiça, com a razão. Essa razão embora fundada em elementos externos incutida na consciência do julgador, como processo educacional que o mesmo foi submetido quando em contato com o mundo externo, recebe uma carga de experiência adquirida pela arte da vivência, a qual de forma lapidar foi aprimorando o senso de justiça da autoridade julgadora. Mas convém fixar que a equidade é decisão justa do caso concreto, ou seja, a sua maior característica reside na possibilidade de adaptar a vontade da lei no caso concreto, bem por isso que Paulo Nader sintetizou: “a equidade é a justiça do caso concreto” �
Ao decidir um caso concreto com equidade é permitido ao julgador afastar uma interpretação literal da lei que regula o fato em alusão apenas por considerar que naquele sentido literal a aplicaçãoda lei poderá eventualmente distanciar-se da concepção racional de justiça. 
A título ilustrativo, poderíamos conceber que o nosso código penal ainda considerasse o adultério como crime e que diante de um caso concreto, cuja adúltera tivesse razões inelutáveis para se envolver numa relação extraconjugal, quando a mesma fosse submetida a um julgamento penal o Juiz resolvesse absorvê-la por entender que na sociedade atual o seu comportamento não seria capaz de autorizar uma punição estatal. Essa decisão estaria pautada por critérios eminentemente de equidade, por entender o julgador que a lei em pertinência encontrava-se em desuso. O julgador teria afastado uma condenação penal que aos seus olhos seria profundamente injusta, não obstante prevista pelo ordenamento jurídico em vigor. 
Na verdade, a lei n.º nº 11.106, de 28 de março de 2005, em seu art. 5º, revogou o art. 240 do Código Penal, cujo teor tipificava o crime de adultério. Desse modo, ocorreu o que em Direito Penal é conhecido como o fenômeno do Abolitio Criminis, ou seja, tal conduta deixou de ser crime. Sendo assim, para o direito positivo em vigor, o adultério como crime, que já era tido em desuso, foi descriminalizado, ocorrendo o fenômeno da “abolitio criminis”.
Todavia, do ponto de vista moral, ou seja, enquanto norma de conduta moral, da ética, evidentemente que cometer adultério possui uma carga axiológica de reprovabilidade social, capaz, inclusive, de autorizar o cônjuge traído amparo a intentar uma ação de indenização civil pelo dano moral que lhe fora causado.
A equidade pode ser secundum leges, quando a se concretiza de acordo com a lei em vigor, que apenas lhe serve de fundamento. Será contra leges quando contrária a norma em vigor, embora consolidada em idéias de justiça inteiramente aceitáveis se distancia da lei que regula o caso concreto notadamente nos casos de leis desprovidas de eficácia social, embora ainda com eficácia jurídica. Nas lacunas é comum a utilização da equidade como técnica de solução de conflitos na ausência de normas técnicas adequadas ao caso concreto. Na utilização da equidade em caso de lacunas do ordenamento jurídico o julgador deverá observar o que mais se aproxima do ideal de justiça, ocasião que ela será fonte do Direito. Nessa acepção a equidade será praeter leges.
Equidade no Direito positivo brasileiro.
É bastante difundido tanto no âmbito do Direito do trabalho como no Direito Internacional a utilização da equidade na técnica de solução dos conflitos por equidade. Entre nós a lei n.º 9.307 de 1996, prevê o juízo arbitral para solução de conflitos de interesses por um arbitro escolhido pelas partes de comum acordo. Como afirma Paulo Dourado de Gusmão� “essa forma de solução de litígios tem a rapidez que o procedimento judiciário não pode alcançar.” 
No Direito do trabalho a equidade encontra-se prevista no artigo 8º da CLT, de acordo com o qual, “Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.” De acordo com Sérgio Pinto Martins, “o magistrado terá antes de decidir pela jurisprudência ou por analogia. Se não houver essas hipóteses é que poderá decidir por equidade.�” 
O código de Processo Civil, em seu artigo 127, dispõe que: “o Juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.” Essa premissa positivada em nossa lei adjetiva civil, nos permiti concluir que, a rigor, no nosso ordenamento jurídico a equidade somente poderá ser utilizada se e quando a lei permitir. � 
O código civil de 2002, lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, alude a utilização da equidade no artigo 944, parágrafo único: “Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”no mesmo sentido o artigo 953, parágrafo único do código civil, cujo teor autoriza o Juiz fixar o valor da indenização, equitativamente, quando a vítima não puder comprovar prejuízo material.
O artigo 15 da lei n.º 5.478/68 – lei de alimentos, regulando a fixação do quantum da pensão alimentícia através do critério equitativo, e o artigo 20, §4º, do CPC, autorizando o Juiz a também se utilizar da equidade na fixação da verba honorária devida pelo vencido na ação.� 
Há outros exemplos de previsão legal no direito positivo pátrio para aplicação da equidade. Paulo Nader lembra a previsão dos artigos 6º e 25 da lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995 (juizados especiais) e do artigo 109 do Código de Processo Civil, que permite ao Juiz “adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna”, frente às situações de jurisdição voluntária, ou seja, na ausência de lide, como sói acontecer nos divórcios consensuais (antigas separações judiciais).
Direito e Justiça
A palavra justiça deriva de uma Deusa Grega Justita. Essa concepção teve origem seguramente no termo ius derivado de iussum, particípio passado do verbo iubere, que quer dizer "mandar", "ordenar", da raiz sânscrita� ju, "ligar". Já na era Romana, ou seja, quando roma dominou a Grécia Antiga, o termo directum passou a ser mais utilizado para sintetizar o direito. Como dito alhures, a expressão directum vem do verbo dirigere que, por sua vez, tem origem em regere, "reger", "governar", conectivos dos termos latinos rex, regula e outros. O latim clássico ius influenciou o português trazendo o sentido aos termos "justo", "justiça", "jurídico", "juiz" e muitos outros. �
Do ponto de vista histórico, que ainda hoje é aceita pela civilização ocidental, a Justiça foi concebida no pensamento de Platão e Aristóteles. De acordo com Platão “a Justiça é a virtude suprema.” Paulo Nader �revela que o Jurisconsulto Ulpiano, com base nas lições de Aristóteles e Platão, formulou a seguinte definição Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi (Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu). Como afirma Nader a definição dar a cada um o que é seu revele-se sempre atual, válida para todas as épocas e lugares, por ser uma definição eminentemente formal, posto que o conteúdo do seu de cada pessoa é de difícil definição. Na verdade o que sofre modificação com a evolução da cultura, dos próprios sistemas políticos, são os valores, de modo que continua sendo o que deve ser atribuído a cada um.
Como lembra Tércio Sampaio Ferraz�, fazendo referência a Ilmar Tammello (Franfurt, 1971), “a conformidade ou não com critérios sobre o que e a quem é devido é o problema do aspecto material da Justiça.” 
Mas foi o Aristóteles, discípulo de Platão, quem teve o mérito de formular uma concepção segura e científica para a Justiça. Secundo Aristóteles “a justiça reúne quatro termos: duas são as pessoas para quem ele é de fato justo, e duas são as coisas em que se manifestam os objetos distribuídos”�
Portanto, a justiça deve ser entendida, em última análise, como a perpetua necessidade e busca de dar a cada um o que é seu, bem como, de não causar dano injusto aos nossos co-cidadãos, sendo este considerado como nosso semelhante e não como meio de satisfação de nosso interesses �
 Distinção entre Direito e justiça
O problema da confusão que se faz entre Justiça e Direito reside mais no campo filosófico do que material. Como dito alhures o Direito é um conjunto de normas voltadas para a pacificação social, ou pelo menos a redução dos conflitos a números toleráveis. Nesse sentido, o que se espera do Direito é a busca pela Justiça. A justiça é idéia imanente da pessoa no sentido de que existe sempre é se revela inseparável dele. A Justiça se perfaz na harmonia plena, no equilíbrio da balança,cujo entendimento revela-se na formação da personalidade da pessoa, não se trata de uma concepção inata, mas adquirida juntamente com a percepção do que é propriedade e do que cabe a cada um dentro de um contexto relacional.
Portanto, como ensina Paulo Dourado de Gusmão�, a diferença reside que o Direito é (ou deve ser) o veículo para a realização da Justiça, que é (ou deve ser) a meta da ordem jurídica. 
Ora, sendo a justiça a visão primeira do equilibro e harmonia nas relações sociais, de modo que o justo se equipara a distribuição e comutação do igual, da garantia de respeito ao direito do outrem, às vezes não necessariamente igual, mas atrelado a conformação da individualidade de cada ser, certo é que pelo menos em linha de principio incumbe ao Direito a perseguição desse valor supremo. Essa relação do Direito com a Justiça envolve uma compactuação coordenada de idéias e posições políticas dos respeitos à moral, a ética, e, sobretudo, ao honesto. Cumpre ao Direito, enquanto técnica de racionalização de conflitos a busca permanente pelo equilíbrio dessa dimensão retórica. 
Justiça Absoluta ou Justiça Relativa
É corrente na doutrina a discussão sobre o caráter absoluto ou relativo da justiça. 
Justiça relativa seria algo subjetivo, de modo que o seu centro gravitacional, compreendido como ideal de justiça para o conflito concreto, pode variar de sociedade para sociedade, ou até de grupos sociais para grupos sociais. Essa concepção de justiça relativa foi amplamente defendida por Hans Kelsen�, representante dos autores que seguem uma diretriz mais positivista. A compreensão do justo, na visão relativista, tem sustentação naquilo que o Direito regula em determinado corpo jurídico, ou seja, depende da visão do legislador ao criar a norma jurídica. 
Justiça Absoluta é defendida pela corrente jusnaturalista. Essa concepção traduz a idéia de que a mediada do justo tem origem no Direito Natural, que é eterno, imutável e universal. Portanto, sendo a justiça um valor supremo, evidentemente que seria concebida pelo um valor absoluto, o qual não se subordina a mudanças e variáveis, fugazes, decorrentes de critérios vulneráveis dos valores atribuídos a razão cambiante dos homens. 
Classificação da Justiça
Importante destacar que a classificação hodierna da justiça ainda decorre da concepção aristotélica entre justiça distributiva e corretiva. Paulo Nader� esclarece que Santo Tomás acrescentou a essa divisão a Justiça Geral, que seria a forma de justiça consistente na contribuição dos membros da comunidade para o bem comum. Revelada no pagamento dos impostos, prestação do serviço militar, etc.
Justiça Distributiva: personificada pela idéia da presença do Estado, posto que representa o Estado como agente responsável pela repartição dos bens e dos encargos ao conjunto da sociedade. São exemplos as prestações de serviços públicos efetuadas pelo Estado, tais como: Ensino gratuito, Saúde Pública, Previdência Social. Nesse sentido se afirma que a Justiça Penal está contida neste critério de justiça distributiva, na medida em que há a participação do Estado nesta relação jurídica impondo penalidades aos malfeitores sociais e reprimindo o crime no seio da sociedade. Portanto, a justiça distributiva depende da entidade estatal, que tem como mister a distribuição dos bens, das prestações sociais, e, sobretudo, do monopólio da jurisdição para aplicar o justo ao caso concreto. 
Justiça Comutativa (corretiva, igualadora ou sinalagmática): Reside na relação de troca entre os particulares. Traz ínsita a concepção de uma sinalagma�, ou seja, correspondência entre uma relação jurídica, de modo que a parte de um deve corresponder proporcionalmente à parte ou quinhão do outrem. Seu âmbito de aplicação reside, sobretudo, no Direito Privado. São exemplos os contratos de compra e venda, de modo que o comprador paga o preço e recebe o seu equivalente que se haure no objeto pago ou pretendido.
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 69.
� Não tudo que é lícito honesto é!
� Apud: NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 26ª edição, Rio de Janeiro, 2002, editora Forense. Pagina 36.
� Normas de Direito instrumental que estabelecem prazo para a prática de atos processuais, são, na maioria das vezes, desprovidas de fundo ético. Como também há inúmeras regras com eficácia plena que se distanciam do sentido da moral e da justiça. Como a regra previdenciária que em busca de equalizar as finanças do instituto previdenciário prolonga excessivamente o tempo de serviço para a aposentadoria do idoso. 
� Christian Thomasius (1655 a 1728) foi um � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Jurisconsulto" \o "Jurisconsulto" �jurista� e � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofo" \o "Filósofo" �filósofo� � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha" \o "Alemanha" �alemão�. É considerado o precursor do � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo" \o "Iluminismo" �iluminismo� na � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha" \o "Alemanha" �Alemanha�. Thomasius contribuiu significativamente com seu � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_penal" \o "Direito penal" �direito penal� humanitário.
� Filósofo e jurista inglês, (1748/1832). Autor da moral demonstrada pela aritmética dos prazeres e das dores, dando origem ao utilitarismo, que terminou servindo de base ideológica para o radicalismo político inglês. 
� REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27ª edição, 9ª tiragem, 2010, editora Saraiva. Página 42.
� REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27ª edição, 9ª tiragem, 2010, editora Saraiva. Página 42.
� Exemplo colhido na excelente obra de: LOREIRO FILHO,Lair da Silva; Introdução ao Direito, Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2009. Página 96. 
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 72. 
� VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao Estudo do Direito. 3ª edição, São Paulo, 2010, editora Atlas. Página 186.
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 71.
� NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 26ª edição, Rio de Janeiro, 2002, editora Forense. Pagina 41.
� Apud: GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 72. 
� http://pt.wikipedia.org/wiki/Equidade#cite_note-1
� CALAMANDREI, Piero. Estudios sobre el processo civil. Tradução de Alexandre Corrêa. Buenos Aires: Editora Bibliográfica Argentina, 1961.
� NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 26ª edição, Rio de Janeiro, 2006, editora Forense, página 114. 
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 73. 
� MARTINS, Sérgio Pinto. CLT Comentada, 9ª edição, editora Atlas, São Paulo, 2005, página 58.
� Com o mesmo pensamento DE FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Direito Civil – Teoria Geral- 7ª edição, editora Lumem Juris, Rio de Janeiro, 2008. P. 60. 
� DE FARIAS, Cristiano Chaves e ROSENVALD, Nelson. Direito Civil – Teoria Geral- 7ª edição, editora Lumem Juris, Rio de Janeiro, 2008. P. 61.
� Com relação à sua origem, a língua sânscrita é uma das � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_indo-europ%C3%A9ias" \o "Línguas indo-européias" �línguas indo-européias�, pertencendo, portanto, ao mesmo tronco lingüístico de grande parte dos idiomas falados na � HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa" �Europa�, todavia, fontes históricas indicam que a lingua foi falada na India e no Iran antigo, sendo um dos idiomas mais antigos do mundo civilizado.
� Sítio da enciclopédia livre Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito#Etimologia.
� NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 26ª edição, Rio de Janeiro, 2006, editora Forense, página 105.� FERRAZ, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito, 6ª edição, Editora Atlas, São Paulo, 2010, página 308.
� Aristóteles, Ética a Nicômaco, Os Pensadores, Livro V, Abril Cultural, São Paulo, 1973, P. 325. Apud: NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 26ª edição, Rio de Janeiro, 2006, editora Forense, página 106.
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 74.
� GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito, 44ª edição, São Paulo, editora Forense, 2011. Página 73. 
� KELSEN, Hans. Qué Es La Justicia?, Universidade Nacional de Córdoba, 1966, Paginas 77,78 e 86. Apud: NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 26ª edição, Rio de Janeiro, 2006, editora Forense, página 106.
� NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 26ª edição, Rio de Janeiro, 2006, editora Forense, página 110.
� Sinalagma tem origem na expressão grega Synállagma que representa um contrato, cujo vínculo de reciprocidade que une as obrigações nascem de forma uniforme para ambas as partes. �
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