Buscar

apelao. desclassificacao. lesao corporal leve. dosimetria errada. pena de multa errada

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Folha � PAGE �14� de � NUMPAGES �15�
	
	4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE TERESINA
EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA 4ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TERESINA
Autos n. 20569XXX	
Apelante: Ministério Público do Estado do Piauí
Apelado: XXXXX
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ, através de membro abaixo assinado, e usando das atribuições que lhe são conferidas pela Constituição Federal e Leis extravagantes, vem, perante V. Exª, para apresentar 
APELAÇÃO CRIMINAL
ante sua irresignação quanto aos fundamentos apresentados na sentença acostada às fls. 69/72 dos autos em epígrafe.
Requer, destarte, que depois de recebido o presente recurso e atendidas as formalidades de estilo, se digne este juízo de determinar a remessa dos autos para a apreciação do Egrégio Tribunal de Justiça, com as razões já inclusas, observando a tempestividade do recurso conforme a Súmula 310 do STF.
São os termos em que pede deferimento.
Teresina, 07 de maio de 2010.
Luzijones Felipe de Carvalho Façanha
Promotora de Justiça 
Juliano José Sousa dos Anjos
Técnico Ministerial
�
RAZÕES EM APELAÇÃO CRIMINAL
Apelante: Ministério Público do Estado do Piauí 	
Apelado: XXXXX
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ
COLENDA TURMA CRIMINAL,
HABEAS CORPUS. PENAL. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE. ART. 59 DO CÓDIGO PENAL. FIXAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.
INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO CONCRETA. ELEMENTARES DO TIPO.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PARA RESTRITIVA DE DIREITOS. ÓBICE LEGAL. CRIME COMETIDO COM VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA.
[...]
3. A teor do art. 44, inciso I, do Código Penal, é vedada a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos quando se tratar de condenação superior a quatro anos de reclusão, ou por crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
[...]
STJ - (HC 97.333/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 20/04/2009)
(grifamos)
I – BREVE RELATO DOS FATOS
O apelado XXXXX foi denunciado na data de 03.02.2005 por prática de crime de LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE, previsto no art. 129, §1º, I, do Código Penal, contra a vítima XXXXXX
A respectiva denúncia fora ofertada pelo representante do Ministério Público baseada no fato de que o apelado atingiu, por duas vezes, o corpo da vítima com uma barra de ferro cilíndrica, de aproximadamente 1m de comprimento, quebrando seu braço e lhe incapacitando para as ocupações habituais por mais de 30 dias. 
Realizada a instrução do feito e provado nos autos a gravidade das lesões proferidas na vítima, a magistrada de 1º grau procedeu com error in judicando quando:
indevidamente promoveu a desclassificação do delito para mera lesão corporal de natureza leve;
fixou a dosimetria da pena de forma viciada;
substituiu a pena privativa de liberdade por 10 dias-multa, contrariamente ao óbice legal do art. 44, I, do CP e, não bastasse;
estabeleceu pena de multa sem, ao menos, determinar o valor de cada dia-multa.
Em resumo, embora provados cristalinamente a autoria, a materialidade e a culpabilidade do acusado quanto ao delito de LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE, sua condenação restringiu-se a apenas 10 dias-multa, sem que fosse estabelecido sequer o valor de cada dia-multa, omissão injustificável que conduz à absoluta ineficácia do provimento jurisdicional.
Destarte, a decisão afronta diretamente os art. 129, §1º, inciso I, art. 44, I, art. 59 e 68, todos do Código Penal, razão pela qual o Ministério Público desde já pugna pela reforma da decisão.
II – DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
Para o conhecimento da presente apelação, ressalte-se a mesma está prevista no art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal. O Ministério Público Estadual é parte legítima para interpô-la (vez que vencido no presente feito) e foi apresentado dentro do prazo legal, na forma da Súmula 310 do STF.
Assim, em vista de preencher todas as condições de admissibilidade e também os pressupostos recursais, o Ministério Público pugna pelo seu conhecimento.
III – DO MÉRITO RECURSAL
III.1 DA INDEVIDA DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA LESÃO CORPORAL DE NATUREZA LEVE. SUPRIMENTO DA PROVA PERICIAL PELA TESTEMUNHAL
Como já mencionado, o apelado foi denunciado como incurso na prática de crime de LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE, senão vejamos os termos da peça acusatória:
“Consta dos referidos autos que, no dia 31.12.2004, por volta das 16:20 horas, o denunciado fazendo uso de uma barra de ferro, de aproximadamente um metro de comprimento de formado cilíndrico, investiu por duas vezes contra a pessoa da vítima ERISMAR NASCIMENTO DE OLIVEIRA, atingindo-o no braço vindo a quebrá-lo. Causando-lhe lesões corporais de natureza grave, eis que ficou incapacitada para as ocupações habituais por mais de trinta dias, conforme descreve o AUTO DE EXAME DE CORPO DE DELITO de fls. 25
A conduta do denunciado configura o delito de Lesão Corporal de Natureza Grave, eis que a vítima ficou incapacitada por mais de 30 dias para as ocupações habituais, com deformidade permanente, enfermidade incurável, como descreve o Laudo de Exame de Corpo de Delito n. 0065-2005. ‘Na falta de exame complementar quanto à natureza grave da lesão, a prova testemunhal, desde que consistente, faz prova da gravidade’ (TJMS –RT 652/318)”.
(grifo nosso).
	
Uma vez examinado pelos peritos médico-legais, a situação clínica da vítima XXXXXX foi assim definida, fls. 28 dos autos:
“Periciando vítima de agressão física, apresentando segundo laudo médido assistente CID S.52., e devendo permanecer em repouso por 90 dias. Ao exame: O periciando faz uso de aparelho gessado compreendendo mão direita, antebraço direito e terço proximal e médio do braço direito.
3º) Resultou ou ou pode resultar incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias? R- SIM.
Conforme se vê, as lesões provocadas pelo apelado de longe se aproximam de meras lesões leves, restando injustificável, pois, a desclassificação do delito imputado na denúncia pela MM. Juíza de 1º grau. A fim de fundamentar sua decisão, a mesma aduziu (fls. 70):
“Compulsando os autos, não vejo porque condenar o acusado, pelo delito de lesão corporal grave, haja vista a insuficiência de provas ensejadoras de um juízo condenatório neste sentido, isto porque apesar de o acusado ter atingido Erismar com a barra cilíndrica, não restou comprovado que houve lesão corporal de natureza grave, uma vez que a elementar, ‘incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias’, não passou pelo crivo de um exame complementar”.
(grifo conforme original)
 
Ora, Excelências, embora não realizado o exame complementar, há outras provas nos autos que suprem tal ausência, não restando razoável a conclusão da magistrada a quo em beneficiar o apelado à reprimenda tão insignificante verificada no final da r. decisão. 
A dicção legal do art. 168, §3º, do Código de Processo Penal é clara:
Art. 168.  Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 3o  A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
É evidente, por expressa disposição legal neste sentido, que a prova pericial pode ser suprida pela prova testemunhal. Como tal, esta pode ser vista no depoimento de testemunha arrolada pela própria defesa do réu, fls. 49:
“que chegou ao local poucos minutos depois e ainda deu para ver a vítima com o braço quebrado e sendo conduzido ao hospital, sendo medicado. Que a vítima não ficou internado, porém passou mais de dois meses sem poder trabalhar”.
(grifamos)
Tal tese é corroborada pelo próprio Superior Tribunal de Justiça, pacificada no seguinte julgado e precedentes, conforme se vê a seguir:“HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. LESÃO CORPORAL GRAVE. AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO. EXISTÊNCIA NOS AUTOS DE OUTRO ELEMENTO DE PROVA (PROVA TESTEMUNHAL) CAPAZ DE SUPRIR A REFERIDA AUSÊNCIA.NULIDADE. INOCORRÊNCIA.
A ausência de laudo pericial assinado por dois peritos não impede que seja reconhecida a materialidade das lesões. Isso porque o art. 158 do CPP prevê, além do exame de corpo de delito direto, o indireto, que pode ser, entre outros, exame da ficha clínica do hospital que atendeu a vítima, fotografias, filmes, atestados.
Nos delitos materiais, a ausência do exame de corpo de delito pode ser suprida por outros meios de prova (confissão, prova testemunhal etc). Precedentes.
Ordem denegada.
(HC 37.760/RJ, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2004, DJ 16/11/2004 p. 312)”.
A fundamentação utilizada pelo juízo a quo, inclusive fazendo remissão à julgado do STF, resta totalmente defasada, basta ver que o acórdão do Pretório Excelso data de 1977, quando, àquela época, o Supremo também enfrentava matéria infraconstitucional.
Ainda que se queira forçosamente utilizar tal decisão, a magistrada pecou em sua escolha, pois tal entendimento jurisprudencial só favorece à acusação, pois há elementos de prova, fls. 28 dos autos a indicar a existência de lesões graves, vejamos:
“LESÕES CORPORAIS DE NATUREZA LEVE. E OBRIGATORIO O EXAME COMPLEMENTAR PARA PRECISAR A CLASSIFICAÇÃO DA LESÃO CORPORAL NO ART. 129, PAR. 1, N I, DO C. PENAL. NÃO EFETUADO O EXAME COMPLEMENTAR, A LEI PROCESSUAL ADMITE SEJA ELE SUPRIMIDO MEDIANTE PROVA TESTEMUNHAL (CPP, ART. 168,PAR. 2 E 3). AUSÊNCIA, NO CASO, QUER DE EXAME COMPLEMENTAR, QUER DE PROVA TESTEMUNHAL, COMPROVATORIOS DE TER OCORRIDO INCAPACIDADE DA VÍTIMA PARA AS SUAS OCUPAÇÕES HABITUAIS, POR MAIS DE TRINTA DIAS. OMISSAO NÃO SUPRIDA PELO PROGNOSTICO DO LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO, EFETUADO LOGO APÓS O CRIME. IMPROCEDENCIA DA CLASSIFICAÇÃO DE DELITO COMO LESÃO CORPORAL GRAVE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÕES CORPORAIS LEVES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO.
(RE 86398, Relator(a):  Min. LEITAO DE ABREU, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/09/1977, DJ 02-12-1977 PP-***** RTJ VOL-00084-02 PP-00658)” 
De qualquer forma, como amplamente sabido, vige no processo penal o princípio da VERDADE REAL, que conduz ao julgador a missão de sempre empreender na busca pelos fatos como eles realmente aconteceram, não apenas jungindo-se ao mero aspecto “daquilo que consta dos autos”.
Neste sentido, a própria testemunha arrolada pela DEFESA, Maria da Conceição Mendes, depôs de forma IDÔNEA E ISENTA, narrando o que de fato viu, aduzindo que a as lesões praticadas pelo acusado foram tão intensas ao ponto de deixar a vítima incapaz para as ocupações habituais por mais de 02 meses, muito além dos 30 dias contidos como elementar do art. 129, §1º, inciso I do Código Penal. 
Assim, muito embora não realizado o exame complementar após 30 dias da data do crime, nada impediria o juízo de condenar o apelado ao crime que lhe foi imputado, cuja pena é de detenção de 03 meses a 01 ano.
Observe-se a lição de Fernando Capez�:
“Quanto à prova testemunhal, de acordo com o art. 168, §3º, do CPP, a mesma é meio idôneo a suprir a ausência de exame complementar”.
É de se ver, apenas por argumentação, que somente se pode exigir a elaboração de perícia complementar quando, no laudo confeccionado logo após a infração, não for possível constatar a gravidade da lesão. 
Em outras linhas, mostra-se totalmente dispensável e ineficaz ao provimento jurisdicional a eventual confecção de laudo complementar, pois já está evidenciada a gravidade através dos exames acostados (prévio e definitivo, fls. 15 e 28).
Assim, o Ministério Público Estadual pugna desde já pela qualificação do delito conforme o imputado na denúncia, devendo a sentença ser reformada na forma dos argumentos supra para condenar o apelado às sanções do art. 129, §1º, inciso I, do Código Penal. 
III.2 – DO BIS IN IDEM NA DOSIMETRIA DA PENA 
Conforme dito, eminentes Julgadores, resta a sentença de fls. 69/72 viciada desde a classificação do delito. Não bastasse, vícios também podem ser vistos na dosimetria da pena (2º momento da sentença criminal), haja vista que mesma não fora abordada conforme a lei, influindo de modo ilegal na DIMINUIÇÃO DE PENA ao apelado.
Uma rápida leitura nas fls. 72 já denota que o juízo se utilizou de suposta “injusta provocação da vítima” para atenuar a pena do réu nas 3 fases da dosimetria, isto mesmo: tal circunstância fora empregada para abrandar a conduta criminosa do réu. 
Analisando o teor da sentença, o juízo a quo procedeu com relação ao acusado da seguinte forma:
 Considerou as circunstâncias judiciais, aferiu o grau de culpabilidade do acusado assim dizendo: “Logo, sobre a culpabilidade do acusado, esta é de grau de reprovação mínimo, haja vista que dos autos depreende-se que o mesmo apenas reagiu a injusta provocação da vítima”, fls. 72;
 Ainda na 1ª fase da dosimetria, veja-se o bis in idem quanto aos motivos do crime: “os motivos do crime foram originados de injusta provocação, sendo reação a essa provocação da vítima”;
 Mais uma vez, há bis in idem quanto às circunstâncias: “quanto às circunstâncias, estas foram demonstradas nos autos, e demonstraram que a vítima agiu embriagada provocando o acusado que não mais suportou as ofensas e lhe agrediu”
 Partindo para o terceiro momento do método trifásico, vejamos a seguinte causa de diminuição, novamente em bis in idem: “(...) há uma causa de diminuição pois, o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima”.
Tudo isto está evidenciado às fls. 72.
O erro nos autos se verifica Excelências, quando se tem em mente que o art. 68 do Código Penal dispõe categoricamente que, após a fixação da pena-base, serão consideradas as circunstâncias agravantes e atenuantes para, somente após, implementar causas de aumento e diminuição de pena. 
Não pode o magistrado recorrer à conduta ilícita do bis in idem na dosimetria da pena, seja para aumentar ou para diminuir a reprimenda, conforme claramente visto na sentença retro.
Ademais, vale salientar que a r. sentença está eivada de subjetivismos, sendo marcante, com a máxima vênia, a falta de rigor técnico no provimento exarado pela magistrada, mais uma razão pela qual merece reforma. 
As expressões “pai de família”, “não suportou mais”, “sempre tratou as pessoas com urbanidade”, “a vítima agiu embriagada” e “ provocando o acusado que não suportou mais as ofensas”, não estão provadas nos autos, sendo altamente reprovável o comportamento do juiz que não conduz o processo de maneira estritamente imparcial. 
Ora, não há laudo de embriaguez que ateste a condição da vítima nem depoimentos que corroborem tal fundamentação, o mesmo quanto aos outros termos utilizados pela magistrada de 1º grau.
Diante do exposto, é dever constitucional do Parquet, por sua vez, zelar para que a mesma se amolde perfeitamente ao ordenamento jurídico. Veja-se o que diz o Superior Tribunal de Justiça:
TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. NECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO ISOLADA PARA CADA CRIME E CADA RÉU. OBSERVÂNCIA DO EXAME DE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS E DE CADA CIRCUNSTÂNCIA DAS DEMAIS FASES. MAJORANTE PELA ASSOCIAÇÃO EVENTUAL. RETROATIVIDADE BENÉFICA DA LEI NOVA. REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1-A individualização da pena decorre de preceito constitucional e deve ser feita em relação a cada delito e a cada réu, sob pena de nulidade da dosimetria.
2- Todas as circunstâncias judiciais devem ser cuidadosamente sopesadas, assim como as demais das duas outras fases da dosimetria.
[...]
(HC 75.120/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), QUINTA TURMA, julgado em 07/08/2007, DJ 03/09/2007 p. 201)
 
(grifamos).
III.3 DO ÓBICE LEGAL À CONVERSÃO DEPENA RESTRITIVA DE LIBERDADE POR PENA DE MULTA
Excelências, a próxima irresignação do Parquet se dá pelo fato de que o juízo não poderia ter convertido a pena restritiva de liberdade por restritiva de direitos, dada a expressa vedação contida no art. 44, inciso I, do Código Penal. 
Analisando os fatos narrados na denúncia e provados em juízo, o apelado se utilizou de barra de ferro em formato cilíndrico, de aproximadamente 1m de comprimento, para lesionar a vítima. 
Ora, no caso concreto está mais do que evidente a violência empregada, basta ver as descrições periciais de fls. 28:
“Periciando vítima de agressão física, apresentando segundo laudo médido assistente CID S.52., e devendo permanecer em repouso por 90 dias. Ao exame: O periciando faz uso de aparelho gessado compreendendo mão direita, antebraço direito e terço proximal e médio do braço direito.
3º) Resultou ou ou pode resultar incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias? R- SIM.
Conforme se vê, as lesões provocadas pelo apelado de longe se aproximam de meras lesões leves, restando injustificável, pois, a desclassificação do delito imputado na denúncia pela MM. Juíza de 1º grau.
Não vale recorrer à permissão legal contida no art. 129, §5º do CP “O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa”, pois já há óbice legal no inciso I do mesmo parágrafo: “I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior”, fazendo remissão ao art. 129, §1º, inciso I, do CP.
Como já enfaticamente visto, o delito cometido é o de Lesão Corporal de Natureza Grave. Tal benécie legal só tem cabimento para o crime de lesão corporal de natureza leve, o que, definitivamente, não é o caso dos presentes autos.
Destarte, não poderia o juízo de 1º grau ter se valido desta substituição de pena especial contida no art. 129, recaindo, portanto, caso fosse possível ser aplicada, nas substituições genéricas do art. 44, CP, o que também não se afigura possível, pois o crime foi cometido com violência.
Nestes termos, é clarividente que a conversão da pena restritiva de liberdade para restritiva de direitos se mostra totalmente incompatível com a situação apelado, pois a mesma só pode ser deferida em crimes sem violência e/ou grave ameaça à pessoa, senão vejamos:
  Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
        I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; 
        II – o réu não for reincidente em crime doloso; 
        III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
	Corroborando nossa tese, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu:
CRIMINAL. HC. TENTATIVA DE ROUBO QUALIFICADO. CONDENAÇÃO BASEADA EM DEPOIMENTOS DE TESTEMUNHAS NÃO COMPROMISSADAS. NÃO- OCORRÊNCIA. SENTENÇA LASTREADA EM DEPOIMENTOS DE CO-RÉUS E EM CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA NÃO RECONHECIDA. CONDUTA DO RÉU ESSENCIAL À PRÁTICA DO DELITO. AUSÊNCIA DE QUANTIFICAÇÃO DA PENA DE MULTA NÃO VERIFICADA. REGIME INICIAL FECHADO FIXADO EM RAZÃO DA PERICULOSIDADE DO PACIENTE E DA GRAVIDADE DO DELITO. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS FAVORAVELMENTE VALORADAS. PENA-BASE ARBITRADA NO MÍNIMO LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO DE CONVERSÃO DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM RESTRITIVA DE DIREITOS. CRIME PRATICADO MEDIANTE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
[...]
O pleito de substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direito encontra óbice no art. 44 do Código Penal, porquanto o crime foi praticado mediante grave ameaça ou violência à pessoa.
Ordem parcialmente concedida, nos termos do voto do Ministro Relator.
(HC 55.799/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 18/05/2006, DJ 19/06/2006 p. 172)
III.4 DA OMISSÃO NO ESTABELECIMENTO DO VALOR DA PENA DE MULTA
Mesmo substituindo a pena restritiva de liberdade apenas por multa, o que já se demonstrou incabível à situação processual do apelado, note-se que a r. sentença ainda se encontra omissa no tocante ao quantum referente a cada dia-multa. 
Com efeito, o juízo de 1º grau condenou o réu a apenas 10 dias-multa, revestindo-se tal valor ao FUNPEN. Ocorre, porém, a seguinte pergunta às partes do processo: Quanto custa 1 dia-multa?
É evidente a omissão e o cabimento de embargos declaratórios para saná-la.
Conforme visto, sequer o juízo fixou na conformidade da lei tal penalidade e, mesmo que cabível ao apelado (o que já se demonstrou que não, pois o crime foi cometido com violência), a magistrada não fixou seu valor com base no limite mínimo de 1/30 até 5 salários mínimos vigentes à época do delito. 
Relevante vício fragiliza ainda mais a decisão de primeiro grau, devendo este Egrégio Tribunal reformá-la na medida de se restabelecer a pena privativa de liberdade ao apelado pelo crime de Lesão Corporal de natureza grave, desconsiderando por total a pena de multa imposta ao acusado em face de substituição de pena operada contrariamente ao direito (art. 44, I, CP).
IV – DO PEDIDO
Isto posto, requer que Egrégio Tribunal de Justiça conheça do presente recurso e lhe dê provimento, reformando a r. sentença de fls. 69/72 dos autos para condenar o apelado à reprimenda prevista para o delito de LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE, previsto no art. 129, §1º, inciso I, do CP, restabelecendo sua pena restritiva de liberdade, anulando-se também qualquer espécie de substituição de pena, vez que incabível pela violência inerente ao delito. 
São os termos em que pede deferimento.
Teresina, 7 de maio de 2010.
Luzijones Felipe de Carvalho Façanha
Promotora de Justiça 
Juliano José Sousa dos Anjos
Técnico Ministerial
� CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – parte especial. Vol. 2, 8ed. São Paulo, Saraiva, p. 153-154.
�PAGE �

Continue navegando