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FACULDADE FARIAS BRITO DAVI SOBRAL MARQUES JORDANA DE MORAES SOUSA NICOLE FERREIRA VIANA PRISCILA FERNANDES CORDEIRO PESQUISA BIBLIOGRÁFICA GESTÃO DE PODER EM MAQUIAVEL FORTALEZA 2016 1 Davi Sobral Marques Jordana de Moraes Sousa Nicole Ferreira Viana Priscila Fernandes Cordeiro PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Gestão de Poder em Maquiavel Trabalho apresentado ao professor doutor Alexandre Carneiro como requisito avaliativo na cadeira de Ciência Política e Teoria do Estado. FORTALEZA 2016 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 03 1. MAQUIAVEL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO .......................................... 05 2. TERMO “MAQUIAVÉLICO” COMO UMA VISÃO NEGATIVA .................... 06 3. PODER POLÍTICO POSITIVO EM MAQUIAVEL ........................................ 09 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................16 3 INTRODUÇÃO A gestão do poder em Maquiavel é individual e conhecida. Autor de grandes obras que abordam assuntos governamentais e militares tais como, O Príncipe, Sete Livros sobre a Arte da Guerra e Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Nicolau Maquiavel evidencia as fortes atitudes que o príncipe deve tomar para se tornar um forte governante e usar o poder ao seu favor de forma que nenhum outro autor falara antes. Através dos ensinamentos tidos como injustos e desonestos sua popularidade é em muitos aspectos negativa. Em Sete Livros Sobre a Arte da Guerra o autor reflete a época que a Itália estava vivendo por volta de 1520, onde o país se encontrava com uma política e economia enfraquecida, sendo necessária a presença de um Estado unificado com centralização do poder nas mãos do governante aliado a uma força militar para eliminar as invasões estrangeiras.1 Já em sua obra-prima O Príncipe, Maquiavel se preocupa principalmente com as atitudes que o príncipe deve tomar para se manter no poder, mesmo que, para isso, faça uso da força, uso do poder e o uso das armas do Estado. O método utilizado pelo autor para fazer tais escritos se dá através de exemplos de governantes da Itália e de outros países. A gestão do poder em O Príncipe se daria através de principados novos, que atuassem de maneira eficaz para alcançar os benefícios para o povo.2 1A Arte da guerra foi escrito entre 1519 e 1520, num período em que a Itália necessitava de um forte líder militar e político que conseguisse criar um Estado unificado no norte do país, para eliminar as forças estrangeiras do território italiano. Maquiavel institui conceitos novos, que até então não existiam na guerra medieval, como a organização do exército, a hierarquia de comando, a formação de soldados, o Estado-Maior e os códigos de leis militares. A seguinte frase ilustra bem o princípio do livro: “minha intenção decerto não foi mostrar-vos como a antiga milícia era organizada, mas como nossos dias se poderiam ordenar uma milícia com mais virtù do que as de hoje“. Disponível em: <http://www.nicolaumaquiavel.com.br/a-arte-da-guerra>. 2Na obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel, o autor apresenta ao príncipe as formas de conquistar e se manter no Estado, sendo estes dois os grandes objetivos do príncipe de acordo com Maquiavel, superando as condições adversas que se apresentam no caminho do principado. Para Maquiavel, o príncipe deve se valer do uso da força, o uso do poder e o uso das armas do Estado em favor do próprio povo, sendo este para quem o príncipe governa e faz valer sua posição. Os escritos de Maquiavel exortam ao príncipe, sobretudo considerando o contexto conturbado da Itália do século XVI, a conquistar a estabilidade do governo fundamentado no conhecimento da historia dos homens virtuosos, ou seja, a história dos homens que venceram! Disponível em: <http://www.portalalexandria.com/index.php/filosofia/116-analise-da-obra-o-principe-de-nicolau- maquiavel>. 4 Na presente pesquisa serão abordadas de forma simples duas versões opostas sobre a gestão do poder em Maquiavel, uma que relaciona o adjetivo maquiavélico a algo negativo e outra dando a devida importância ao pensamento clássico e marcante de Nicolau. “Maquiavélico e maquiavelismo são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia.” (WEFFORT, Francisco, 2003:13) “O centro do Estado é, assim, o príncipe governante, daí decorrendo, como critério político, o seu próprio engrandecimento.” (PAUPÉRIO. 1997:43) Em Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Maquiavel possui uma preocupação com o encadeamento dos fatos que a Itália presencia, por esta passar por um momento fragilizado, que o Estado se encontrava problemático, a economia atrasada, o poder descentralizado, custando assim, vários grupos com poderes ilimitados, onde não teria um que se preocupasse em reestabelecer o país. Utilizando desta sequência de eventos, ele demonstra que cursos de ações deverão ser seguidos e as normas como auxílio para uma unificação da Itália. Sendo um pensamento político, o livro possui semelhanças com a outra obra do autor, O Príncipe. Maquiavel retoma o tempo todo o pensamento de que a participação política é o fato mais importante para a guarda da liberdade e que o conflito apesar de ser um ponto negativo, é uma das bases para se chegar à liberdade, pois sem ele, as pessoas não fariam leis e sem leis, não haveria uma organização social regras de conduta e controle. 3 3 Maquiavel não se limita a constatar que a participação política é imprescindível para a guarda da liberdade e seu potencial conflituoso inerente. Afirma ainda que as boas leis, ou seja, as leis que garantem a liberdade, surgem exatamente desse conflito, dos tumultos, não podendo suprimi- los sem que seja suprimida a liberdade. O conflito passa a ser, assim, um elemento constitutivo fundamental a uma comunidade política que queira realizar a liberdade. Supressão do conflito gera supressão da liberdade, segundo sua visão. A partir desse pressuposto, há que se criar formas institucionais que consigam dar vazão aos conflitos sem que a comunidade política seja posta em risco, permitindo a ampla participação popular. 5 1. MAQUIAVEL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO Em 1513 a Europa vivia um momento de transição. As mudanças excediam o âmbito sócio-econômico e adentravam as formas de pensamentos referentes a maneira de como o povo e o gestor devem agir para a sociedade ser desenvolvida da melhor forma. Esse período é conhecido como Renascimento, advindo do reaparecimento de valores da Antiguidade perdidos na Idade Média. É nesse momento que o florentino Nicolau Maquiavel escreve O Príncipe. Após a Revolução das Comunas é inevitável a decadência da Itália, que acaba sendo fragmentado em pequenos Estados e ainda sofre invasões da Espanha e França. Os escritos de Maquiavel orientavam como deveria agir o soberano para reerguer a grande potência européia, de forma que seria necessária a instauração de um Estado moderno e unitário. A superação do sistema feudalpara a instalação de um Estado Moderno era, para Edipro a forma da sociedade deparar-se com novos conceitos e padrões. “A vida de Maquiavel corresponde a um tempo de indefinições estruturais: a ordem feudal fora devastada pelo crescimento das cidades e pelo fortalecimento crescente de atividades mercantis, artesanais e financeiras, que a cada dia se incompatibilizavam mais e mais com a economia agrária, então baseada no feudo auto-suficiente e na exploração servil do trabalho. Embora o feudalismo resistisse, como tentou continuar ainda nos séculos seguintes, era forçado a abrir um espaço cada vez maior para novos conceitos e padrões.” (EDIPRO, 1995:14) De acordo com Nicolau Maquiavel se fazia necessária a superação dos métodos feudais na condução da política interna, porque este percebendo as boas oportunidades do comércio para a economia italiana haveria o incentivo a competitividade tanto por parte dos aristocratas quanto do povo, resultando dessa forma, na concretização do novo modelo político italiano. A falta de unificação da Itália representava um impasse para o seu reerguimento e desenvolvimento, pois o soberano não deve ter seu poder ameaçado por outras organizações políticas que porventura apareciam ao fragmentar o Estado. “Quando Maquiavel nasceu, e ao longo de sua vida, a península italiana era um verdadeiro quebra-cabeças político, composto por Estados soberanos 6 de dimensões territoriais, regimes políticos e diversos estágios de desenvolvimento. Os principais eram o Reino de Nápoles, controlado pela família Aragão; os Estados pontifícios, que estavam nas mãos da Igreja; o Estado florentino, por muito tempo controlado pela família Mediei; o Ducado de Milão e a República de Veneza.” (EDIPRO, 1995:16) No período em que o pensador nasceu a realidade política da Itália era frágil e dispersa. A multipolaridade do poder era um dos principais problemas do governo, por ter a presença de vários políticos desfrutando do mesmo domínio do território. A ausência de um Estado central e a crescente ampliação do poder da igreja gerava uma situação conflituosa, pois era essencial um gestor competente que estabilizasse o país. “Quando o florentino Niccolò di Bernardo Machiavelli nasceu, em maio de 1469, sua Itália estava desfigurada. Dividida e dominada por potências estrangeiras, a Itália não existia como Estado nacional. Como uma colcha de retalhos, estava dividida em verdadeiros feudos dominados pelo Papa, pelos Médicis, pelos Aragão e invadida por Carlos VIII da França. O pensamento político de Maquiavel.” (JÚNIOR Antonio de Freitas, 2007:205) A Itália por estar fracassada diante de revoltas internas, mas também por invasões estrangeiras, preocupava o povo que tanto sofria por ter suas terras tomadas por países de fora e temerosas sobre o futuro. A solução seria um Estado capaz de coordenar a força, o vigor, a destreza do povo italiano, liderando-os na defesa do país contra os estrangeiros. Esse Estado é em Maquiavel personificado pela figura do príncipe, apresentando forma de gestão rígida e eficaz, promotora da fortificação italiana. 2. TERMO “MAQUIAVÉLICO” COMO UMA VISÃO NEGATIVA A genialidade do grande autor Nicolau Maquiavel é facilmente evidenciada após a adjetivação do seu nome. Ser “maquiavélico” ou tomar decisões “maquiavélicas” representa há muito tempo uma concepção ruim, as vezes até cruel. Em seu livro OS CLÁSSICOS DA POLÍTICA, Francisco C. Weffort revela que independente do ambiente em que é falado o termo relacionado a maquiavélico, seja ele político público ou em reações privadas, se referem ao mesmo sentido: 7 “Em qualquer uma de suas acepções, porém, o maquiavelismo está associado a idéia perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro.” (WEFFORT, Francisco, 2003:13). Francisco Weffort ao adjetivar Maquiavel revela o caráter tirânico em busca da apropriação do poder a qualquer custo. Tais palavras tornam-se críticas às técnicas utilizadas pelo percursor do termo ‘maquiavélico’. Passou-se cinco séculos depois da elaboração da obra “O Príncipe”, no entanto, a praticidade usada para determinar as formas de como um governante deve agir para ser um soberano efetivo, surpreende até hoje seus leitores, tais como: assegurar-se contra os inimigos, adquirir amigos, vencer ou pela força ou pela fraude, fazer-se amar e temer pelo povo, seguir e reverenciar pelos soldados, eliminar aqueles que podem ou têm razões para ofender, ordenar por novos modos as instituições antigas, ser severo e grato, magnânimo e liberal, extinguir a milícia infiel, criar uma nova, manter a amizade dos reis e dos príncipes, de modo que beneficiem de boa vontade ou ofendam com temor. (MAQUIAVEL, 1513:32). Do destacado depreende-se que, para Maquiavel, o poder político administrado pelo soberano deve ser usado de tal forma que não haja meio termo, ou seja, suas decisões devem ser absolutas. Conforme Weffort, a resistência à aceitação da radicalidade de suas proposições é seguramente o que dá origem ao ‘maquiavélico’. (WEFFORT, Francisco, 2003:24). Dessa forma, a tomada de decisões radicais para alcance de um objetivo pré-determinado é por vezes denominado de maquiavélico. Outro contexto associado ao termo é encontrado ao fazer crer algo sem ser essa a intenção, é o caso quando a ação parece ser boa, no entanto, o objetivo final não é de bem comum, mas de mostrar poder de promovê-lo sempre que o fizer necessário. “Dissimular, prosperar... Maquiavel, com o duplo regozijo do cínico em desnudar a natureza humana, e do artista em sentir-se absolto senhor da matéria, dá então os supremos e mais sábios retoques a seu retrato do príncipe. Pinta a virtude do parecer, do fazer crer, da hipocrisia, pinta a onipotência do resultado.” (CHEVALLIER, 1900:38) 8 Em seu livro AS GRANDES OBRAS POLÍTICAS DE MAQUIAVEL A NOSSOS DIAS, Jean-Jacques Chevallier interpreta o que Maquiavel escreveu sobre agir como raposa. Para o autor, os príncipes que melhor souberam agir como raposas foram os que mais prosperaram. Sob uma condição, no entanto, a de bem disfarçarem tal natureza de raposas, de possuírem perfeitamente a arte de simular e de dissimular. (CHEVALLIER, 1900:39). A ideia de Maquiavel de fazer parecer o que não é faz com que muitas vezes o autor seja associado a desonesto e injusto, como falou em seu livro TEORIA DEMOCRÁTICA DA SOBERANIA, Arthur M. Paupério: “A política maquiavélica é uma técnica do bom êxito, sem nenhuma preocupação com a justiça ou a injustiça dos meios empregados. É tão independente da lei ética quanto dos princípios da igreja.” (PAUPÉRIO, Arthur Machado, 1997:43). Ser maquiavélico pode ser associado também a influenciar a sociedade a tomar atitudes violentas em busca de um bem desejado pelo gestor. Como são culpados os príncipes e as repúblicas que não tem exército próprio. (BATH, 1994:83). Segundo Maquiavel, em Discursos Sobre Tito Lívio, em relação ao desempenho militar, os príncipes e as repúblicas precisam de soldados próprios, tendo que preparar seus cidadãos a lutarem numa guerra, caso esta seja necessária e honrarem o seu país. É ressaltado que não há cidade forte sem o povo, pois estes ao amarem seu país de origem, irão defendê-lo de inimigos, eliminando o pensamento de aceitar ajuda de soldados de outros países, por não serem dessa pátria e por elas não nutrir nenhum sentimento de proteção, não se preocuparão em ter êxito total. Apesar de bem explicado como o príncipe deveria agir, esse indivíduo se trata de um elemento utópico, ou seja, resultado muito difícil de ser adquirido, haja vista a capacidade intrínsecae fatores externos que deveriam atuar em consonância para admitir tal feito. Gramsci em NOTES SUR MACHIAVEL, SUR LA POLITIQUE ET SUR LE PRINCE MODERNE sintetiza: “O caráter utópico do príncipe reside no fato de que o príncipe não existia na realidade histórica não é apresentada ao povo italiano com caracteres 9 imediatismo objetivos, mas era pura abstração doutrinária, o símbolo chefe do condottiere ideal. ” (GRAMSCI). 3. PODER POLÍTICO POSITIVO EM MAQUIAVEL Em meio a um contexto político marcado por enfraquecimento econômico e político, aliado a uma forte influência da igreja no governo que em muito o prejudicava, a obra O Príncipe de Maquiavel abriu os olhos não só daqueles que se tornariam novos governantes, mas de toda a sociedade. Em sua obra DO CONTRATO SOCIAL, Rosseau diz: “Maquiavel, fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo”. (ROSSEAU, 1762 aput CHEVALLIER,1900:47) Percebe-se hoje, que através dos ensinamentos de Maquiavel em relação à união do povo que consiste em projetos coletivos e causas mais amplas resultam em um melhor convívio social. Maquiavel mostrou a sociedade através de suas lições, a importância que esta exerce sobre o governante e sua legitimidade, fatores que são muito presentes na sociedade atual. É comum na contemporaneidade recorrer de manifestações públicas para mudar aquilo que não visa o bem da maioria. Para Maquiavel, o príncipe deve sempre agradar ao povo, haja vista o poder da união dos seus súditos perante o Estado. Caso a maioria, que pertence à classe mais inferior se volte contra o governante, fizer uma revolução poderá fazer o gestor perder sua autoridade. Além disso, sem injúria aos outros, não se pode honestamente satisfazer os grandes, mas sim pode-se fazer bem ao povo, eis que o objetivo deste é mais honesto daquele dos poderosos, querendo estes oprimir enquanto aquele apenas quer não ser oprimido. (MAQUIAVEL, 1513:39). Também em Discursos sobre Tito Lívio é possível observar a confiança digna do povo, além disso, os discursos retratavam o conceito de liberdade e virtude cívica. A obra que falava sobre a primeira década de Tito Lívio foi escrita pelo poeta e diplomata Nicolau Maquiavel em 1517, porém só publicada em 1531. Tito Lívio era um filósofo e escritor que presenciou até o final da sua vida guerras internas, no qual 10 a partir disso, fez a criação da obra: Desde a fundação da cidade, que narra a trajetória de Roma desde o início e as histórias na época de Júlio César.4 “A quem se pode confiar com mais segurança a defesa da liberdade: os aristocratas ou o povo? Quais são os que têm mais motivos para instigar desordens: os que querem adquirir ou os que querem conservar?” (BATH, 1994:33). Para Maquiavel, a classe mais baixa representada pelo povo, é digna de confiança, por não almejarem benefícios próprios, querendo apenas a garantia de alimentação, segurança e trabalho. As desordens são mais prováveis serem feitas pelos aristocratas, por ser um grupo que não aceita desfazer-se dos luxos conquistados pelo dinheiro e almeja sempre o poder igual do governante ou ainda maior. Outro ponto positivo da gestão do poder em Maquiavel é o estudo anterior dos governantes dos Estados europeus, dando a devida importância de evidenciar os méritos, para serem copiados e os erros para não serem repetidos. “Guiado pela busca da ‘verdade efetiva’, Maquiavel estuda a história e reavalia sua experiência como funcionário do Estado”. (WEFFORT, Francisco, 2003:19) Estrategista e observador, Maquiavel se utiliza de exemplos de grandes nomes de governantes, que obtiveram os maiores feitos, buscando que os leitores das suas obras, reproduzam as ações e tenham sucesso. Para tal, um príncipe fraco pode se manter no poder, caso seja sucessor de um príncipe forte e apto, pois colherá os frutos do seu antecessor e conseguirá continuar com as vitórias antigas, mas o Estado não conseguirá se sustentar, quando um príncipe fraco for seguido por outro do mesmo jeito, porque não terá aproveitamento de conquistas, nem sabedoria por parte de nenhum dos dois, resultando no fracasso imediato de um reinado desorganizado. E por último, se dois príncipes aptos e sábios se sucederem, 4 Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio é uma obra escrita por Nicolau Maquiavel em 1517, publicada postumamente em 1531. Tito Lívio foi um filósofo e escritor que cresceu em meio às guerras civis que assolavam a Itália na época de Júlio César. Dedicou seus últimos quarenta anos de vida à obra “Desde a fundação da cidade”, que consiste em uma narrativa da história de Roma, dividida em 142 livros, dos quais 35 são conhecidos. O tamanho e abrangência da obra tornaram “Desde a fundação da cidade” um clássico que influenciou grandes personagens históricos, entre eles, Alexis de Tocqueville, Montesquieu e Maquiavel. Disponível em: < http://www.nicolaumaquiavel.com.br/discursos-sobre-a-primeira-decada-de-tito-livio>. 11 vão ser senhores de grandes obras e erguerão o Estado por portarem grandes qualidades. “Quando se considera as qualidades e o comportamento de Rômulo, de Numa e de Tulo, os três primeiros monarcas romanos, não se pode deixar de admirar como foi feliz aquela cidade, que teve primeiro um rei belicoso e cheio de ousadia; depois, um príncipe pacífico e religioso; e um terceiro soberano, de coragem a de Rômulo, mais inclinado aos perigos da guerra do que as benesse da paz. ” (BATH, 1994:79). Maquiavel acredita que o Estado deve ter poder absoluto representado pelo Príncipe, este deve ser escolhido pelo povo e imediatamente receber autoridade necessária para solucionar todo e qualquer problema que surgir em seu território. Quando a nação encontra-se ameaçada de deterioração, quando a corrupção alastrou-se, é necessário um governo forte, que crie e coloque seus instrumentos de poder para inibir a vitalidade das forças desagregadoras e centrífugas. (WEFFORT, 2003:20). Esse poder garante segurança ao povo, pois, caso houvesse um poder equivalente ao do soberano, iria ser falho, por exemplo, o poder militar, já que este não está preparado para administrar, pois não possui valores intrínsecos como sabedoria e aptidão e é incapaz de visar o bem comum. “É por assim dizer uma regra geral de que as repúblicas e os reinos que não receberam as suas leis de um único legislador, ao serem fundados ou durante alguma reforma fundamental que se tenha feito não possam ser bem organizados. É necessário que um só homem imprima a forma e o espírito do qual depende a organização do Estado.” (BATH, 1994:49). Nicolau faz semelhanças a obra O Príncipe, quando na Primeira Década de Tito Lívio, ressalta a importância de um governo centralizado, que será necessário tanto em repúblicas como em monarquias, visto que um governo com o poder descentralizado, não passará autoridade para o povo e não terá firmeza na elaboração de leis, tornando um Estado Caótico. Arthur Machado Paupério interpreta diante a obra O Príncipe de Maquiavel, que o centro do Estado está diretamente ligado ao governante, no qual quanto maior seu desenvolvimento, maior será o engrandecimento da sociedade. Personificado no príncipe, vem de Maquiavel o que se convencionou chamar a razão do Estado. (PAUPÉRIO. 1997:43). 12 Para Gramsci foi importante o modelo de príncipe ideal para os futuros monarcas, pois este mostrava características que o gestor precisaria ter para uma melhor organização social e controle efetivo do Estado: “Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma ilustração histórica do "mito" soreliano, isto é,uma ideologia política que se apresenta não como uma utopia fria ou uma argumentação doutrinária, mas como a criação de uma imaginação concreta que opera sobre um povo disperso e pulverizados para criar e existem para organizar uma vontade coletiva.” (GRAMSCI, 1931-1933:03) Dos homens pode-se dizer, geralmente, são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho, assim falou Nicolau Maquiavel sobre a necessidade de controle do homem, visto que, sem obrigações e modelos de conduta a sociedade se tornaria caótica e, portanto, não sobreviveria sem o Estado instituindo poder político. “O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria ‘malignidade’ que é intrínseca à natureza humana. Além disso, o poder aparece como a única possibilidade de enfrentar o conflito, ainda que qualquer forma de ‘domesticação’ seja precária e transitória”. (WEFFORT, Francisco, 2003:20). Maquiavel possui uma visão pessimista sobre os homens, acha-os ambiciosos, invejosos e mentirosos, acredita que mesmo o governante sendo bom e misericordioso com estes, será traído, por se aproveitarem de tais virtudes, para conquistar prestígio e se for tirano demais, será julgado por atos exagerados, tendo que buscar sempre a harmonia de ambas as partes, caso não seja possível os dois, que prefira ser temido, pois assim será respeitado e terá um governo estável e duradouro. Então em meio a um caráter duvidoso, o Estado deverá possuir um poder sobre a sociedade, para além de uma organização, ter o controle social, estimulando-os por regras a uma conduta considerada certa e justa. “O decenvirato nos fornece um exemplo da facilidade com que os homens se deixam corromper; da presteza com que o seu caráter se transforma, ainda quando naturalmente bom e cultivado pela educação. ’’ (BATH, 1994:139). Tendo em vista a necessidade do controle do Estado perante o homem, que possui caráter tão duvidoso e que está o tempo todo utilizando da competição para 13 obter lucros e benefícios, é fundamental que na política recente haja leis e formas de comando que comprovem a autoridade do Estado. Outro ponto positivo ressaltado por Maquiavel em O Príncipe é a competência dos ministros, que deveriam ser justos, não buscando benefícios- próprios para assim, ajudarem o monarca sempre que for preciso, guiando o gestor a fazer escolhas boas. Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros. (MAQUIAVEL, 1513:91). Em relação aos juízes, este diz que são necessários muitos, porque se houver poucos, irão ser tomadas decisões que desagradam à maioria, portanto quanto mais juízes julgando, maior será a efetivação da justiça.5 A Arte da Guerra foi outra obra de Maquiavel que tratava sobre assuntos de administração de poder, João Carlos Brum Torres, em auxílio ao livro A Arte da Guerra com Tradução e notas de Eugênio Vinci de Moraes refletiu sobre a obra ser direcionada também aos cidadãos de Florença, cidade italiana de Maquiavel, esses cidadãos não se conformam com a decadência e impotência italiana perante as potências Espanha e França6. “Muito embora a grandeza e o prestígio incomparável de Maquiavel se derivem em grande e decisiva medidade seu inédito modo de isolar o fenômeno do poder e de analisá-lo imanentemente, sem as distorções que a associação das questões de poder às questões éticas não pode deixar de acarretar, não é menos verdade que a obra do florentino é também,em uma outra dimensão, a obra do patriota.” (TORRES, 2007:17). Os príncipes e as repúblicas que querem impedir a corrupção do Estado devem sobretudo manter sem alterações os ritos religiosos e o respeito que inspiram. ’’(BATH, 1994:61). As religiões possuem como base uma instituição que as 5 Algumas características devem estar presentes para que o povo funcione efetivamente como guardião: a instância última de julgamento de uma cidade, ao menos em relação à violação ou não de sua liberdade, deve ser o próprio povo, e não algum magistrado investido de poderes pessoais. Os juízes devem ser muitos nesses casos, pois os poucos tendem sempre a julgar em favor dos poucos. Disponível em: < http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/33/artigo243075-2.asp>. ²Quer dizer: é também a obra do cidadão de Florença que não se conforma com a ¹impotência e a decadência italianas, com a ausência de um Estado nacional e com as humilhações que daí decorrem: mais do que tudo, a submissão repetida das questões italianas à influência e à vontade das grandes potências, notadamente Espanha e França. Referência a A Arte da Guerra. (A Arte da GuerraTradução e notas de Eugênio Vinci de Moraes, 2007, p.17). 14 coordenam, como estas já estão presentes desde o início das civilizações e é um costume do ser humano apegar-se a elas, não poderá ser interferida, porque para o autor o respeito e a conservação será importante para manter o equilíbrio. Tendo o exemplo do livro, a Igreja Romana exerce uma forte influência sobre o modo de vida das pessoas e desafiá-las geraria um confronto desnecessário, sendo melhor manter a aliança, porém não a garantindo poder ilimitado, para não ter um abuso deste. 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta pesquisa exploramos algumas das principais características da gestão política em Maquiavel. Apresentamos livros escritos pelo autor e livros comentados por diferentes pensadores ao decorrer da evolução social. As citações foram voltadas principalmente para a forma de como Nicolau Maquiavel entendia sobre um governo eficaz, que possuía como características: centralização do poder, aptidão e sabedoria do gestor e escolha de assessores capacitados para que pudéssemos, posteriormente, obter uma analogia da forma de administração do Estado em que Maquiavel conviveu com a sociedade política atual. Mostramos alguns nomes de grandes monarcas e republicanos que se mantiveram no poder em razão de competência, não de sorte, caso de Rômulo, Numa e Tulo e abordamos sua trajetória no contexto histórico, evidenciando o significado político de suas obras no mundo atual. Ao realizarmos este trabalho obtivemos uma compreensão da necessidade da política seja como ciência de forma teórica ou como sistema de organização de forma prática, assim resultando no entendimento dos fundamentos da formação política da sociedade moderna tal como o homem político-moderno. É possível, dessa forma, entender o motivo pelo qual Nicolau Maquiavel tornou-se um ícone tão singular na Ciência Política se tornando cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e das decisões a respeito de eficiência governamental. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALUNOS ONLINE. Disponível em: <http://alunosonline.uol.com.br/historia/nicolau- maquiavel-sua-principal-obra-principe.html>. Acessado em: 18 de novembro de 2016. CHEVALLIER, Jean-Jacques. As Grandes Obras Políticas de Maquiavel aos Nossos Dias, Rio de Janeiro, 1900; EBIOGRAFIA. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/nicolau_maquiavel/>. Acessado em 13 de outubro de 2016; EDIPRO. Escritos Políticos. Tradução Lívio Xavier. Bauru, 1995; GRAMSCI, Antonio. Notes sur Machiavel, surla politique et surle Prince moderne, 1931; JÚNIOR, Antonio de Freitas. O pensamento político de Maquiavel. Brasília a. 44 n. 174 abr./jun. 2007. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/141333/R17410.pdf?sequence =4>. Acessado em 18 de novembro de 2016. MAQUIAVEL, Nicolau.Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. Trad. De Sérgio Bath, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1994, 3ª edição. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe, Paris, 1513; MORAES, Eugênio Vinci de. A Arte Da Guerra Tradução e notas de Eugênio Vinci de Moraes. Introdução de João Carlos Brum Torres, 2007; NICOLAU MAQUIAVEL. Página online que consta a história, importância, principais obras e influências de Nicolau Maquiavel na sociedade. Biografia resumida e clara. Disponível em <http://www.nicolaumaquiavel.com.br/a-arte-da-guerra>, acessado em 15 de outubro de 2016; NICOLAU MAQUIAVEL. Página online que consta a história, importância, principais obras e influências de Nicolau Maquiavel na sociedade. Biografia resumida e clara. Disponível em: <http://www.nicolaumaquiavel.com.br/discursos-sobre-a-primeira- decada-de-tito-livio>, acessado em 24 de outubro de 2016; 17 PAUPÉRIO, Arthur Machado. Teoria Democrática da Soberania, 1997; PORTAL ALEXANDRIA. Projeto desenvolvido em maio de 2009 na faculdade de História na Universidade Metropolitana de São Paulo (UNIMESP). Tem como foco principal as áreas de humanas e Artes. Compartilha com seus leitores o esforço em compreender os caminhos da sociedade, a audácia de provocar reflexões e o amor pelas artes. Tudo de forma profissional, mas sem perder o estilo autoral e a proximidade com os leitores. Disponível em <http://www.portalalexandria.com/index.php/filosofia/116-analise-da-obra-o-principe- de-nicolau-maquiavel>. Acessado em 18 de outubro de 2016. REVISTA FILOSOFIA. Site desenvolvido pela Editora Escala. Divulga pesquisas filosóficas de diversos momentos históricos, as pesquisas são comentadas por professores da área. Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia- sabedoria/33/artigo243075-2.asp>. Acessado em 25/10/2016 WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política, São Paulo-SP, 2003.
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