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Defeitos do negócio jurídico

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 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 1 
 
 
 
 
 
Defeitos do negócio jurídico 
 
→ Neste tópico, serão passados em revista os 
vícios que impedem seja à vontade 
declarada livre e de boa-fé, prejudicando, por 
conseguinte, a validade do negócio 
jurídico. 
 
→ Trata-se dos defeitos dos negócios 
jurídicos, que se classificam em vícios de 
consentimento — aqueles em que a vontade 
não é expressada de maneira 
absolutamente livre — e vícios sociais — em 
que a vontade manifestada não 
tem, na realidade, a intenção pura e de boa-fé 
que enuncia. 
 
 
Erro ou ignorância 
 
→ Embora a lei não estabeleça distinções, o erro é 
um estado de espírito positivo, qual seja, a falsa 
percepção da realidade, ao passo que a ignorância 
é um estado de espírito negativo, o total 
desconhecimento do declarante a respeito das 
circunstâncias do negócio. (tratados igualmente) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
→ O erro, entretanto, só é considerado 
como causa de anulabilidade do negócio 
jurídico se for: 
a) essencial (substancial); 
b) escusável (perdoável). Stolze diz que 
precisa, mas Tartuce diz que não, e cita o Em. 
12 da I Jornada. 
 
→ Nesse sentido, dispõe nossa Lei Codificada: 
“Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, 
quando as declarações de vontade emanarem 
de erro substancial que poderia ser percebido 
por pessoa de diligência normal, em face das 
circunstâncias do negócio”. 
 
→ Substancial é o erro que incide sobre a 
essência (substância) do ato que se pratica, 
sem o qual este não se teria realizado. É o 
caso do colecionador que, pretendendo 
adquirir uma estátua de marfim, compra, por 
engano, uma peça feita de material sintético. 
 
→ O Código Civil de 2002 enumerou as 
seguintes hipóteses de erro substancial, 
em seu art. 139: 
a) quando interessa à natureza do negócio, ao 
objeto principal da declaração, ou a alguma 
das qualidades a ele essenciais; 
 
b) quando concerne à identidade ou à 
qualidade essencial da pessoa a quem se refira 
a declaração de vontade, desde que tenha 
influído nesta de modo relevante; 
 
c) sendo de direito e não implicando recusa à 
aplicação da lei, for o motivo único ou 
principal do negócio jurídico. 
 
→ Vê-se, portanto, que o erro poderá incidir 
no negócio, no objeto ou na pessoa. 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO 
JURÍDICO 
RODRIGO DE AMORIM MELLO 
 
 Rodrigo de Amorim Mello  [Digite o nome da empresa]  [Escolha a data] 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 2 
 
 
→ Como se observa, como novidade, o 
Código Civil de 2002 reconhece a 
possibilidade de o erro de direito anular um 
determinado negócio, desde que preenchidos 
os requisitos apontados. Repise-se que a regra 
do art. 139, III, do CC, constitui exceção ao 
princípio da obrigatoriedade da lei, retirado 
do art. 3.º da Lei de Introdução, pelo qual 
ninguém pode deixar de cumprir a lei 
alegando não a conhecer. 
 
→ Sabe-se que o erro acidental diz respeito 
aos elementos secundários, e não essenciais 
do negócio jurídico. O erro acidental não gera 
a anulabilidade do negócio, não atingindo o 
plano de sua validade. Ao contrário do erro 
essencial, no erro acidental o contrato é 
celebrado mesmo sendo conhecido pelos 
contratantes. 
 
→ De acordo com o art. 141 do CC, “a 
transmissão errônea da vontade por meios 
interpostos é anulável nos mesmos casos em 
que o é a declaração direta.” 
 
→ O art. 143 do CC trata de uma hipótese de 
erro material retificável, sendo certo que o erro 
de cálculo não anula o negócio, mas apenas 
autoriza a possibilidade de retificação da 
declaração de vontade, hipótese de 
convalidação prévia. Cabe apenas a correção 
do cálculo mal elaborado, o que está de 
acordo com o princípio da conservação dos 
negócios jurídicos. 
 
→ Prevê o art. 144 da atual norma codificada 
que o erro não prejudica a validade do 
negócio jurídico quando a pessoa, a quem a 
manifestação de vontade se dirige, oferecer-se 
para executá-la na conformidade da vontade 
real do manifestante. 
 
→ Por fim, esclareça-se que o prazo para 
anular o negócio jurídico eivado de erro é 
decadencial de quatro anos, contados da 
celebração do negócio jurídico (art. 178, II, do 
CC). 
 
Dolo 
 
→ costuma-se afirmar que o dolo é o erro 
provocado por terceiro, e não pelo próprio 
sujeito enganado. 
 
 
→ O dolo pode ser conceituado como sendo 
o artifício ardiloso empregado para enganar 
alguém, com intuito de benefício próprio. O 
dolo é a arma do estelionatário, como diziam os 
antigos civilistas. 
 
→ De acordo com o art. 145 do CC, o 
negócio praticado com dolo é anulável, no 
caso de ser este a sua causa. 
 
→ Não se deve confundir esta espécie de 
dolo com o chamado dolus bonus, expressão 
consagrada desde o Direito Romano. Quando 
o vendedor elogia exageradamente o seu 
produto, realçando em demasia suas 
qualidades, não atua maliciosamente. Para 
tanto, exige-se do adquirente grau mediano de 
diligência para que possa perceber as criativas 
técnicas de marketing. 
 
→ Também não se deve identificar o dolo 
com a fraude. Nesta, quase sempre, busca-se 
violar a lei ou prejudicar a um número 
indeterminado de pessoas; a atuação dolosa, 
por sua vez, dirige-se especificamente à outra 
parte do negócio. 
 
→ O dolo não se presume das circunstâncias 
de fato, devendo ser provado por quem o 
alega. Quanto à extensão dos seus efeitos no 
negócio jurídico, o dolo poderá ser: 
a) principal (essencial, determinante ou 
causal); 
b) acidental. 
 
→ dolo, para invalidar o ato, deve ser 
principal — atacando a causa do negócio 
em si —, uma vez que o acidental, aquele que 
não impediria a realização do negócio, só gera 
a obrigação de indenizar. 
 
→ O Código Civil de 2002, em seu art. 145, 
após referir que os negócios jurídicos só são 
anuláveis quando o dolo for a sua causa 
(principal), ressalva, no artigo seguinte, que o 
dolo acidental só obriga à satisfação das 
perdas e danos. É acidental, prossegue o 
legislador, quando, a seu despeito, o negócio 
seria realizado, embora por outro modo. 
 
 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 3 
 
→ Quanto à atuação do agente, o dolo 
poderá ser: 
a) positivo; 
b) negativo (omissivo). 
 
→ O primeiro decorre de uma atuação 
comissiva, a exemplo do expediente ardiloso 
do vendedor que engana o adquirente quanto 
à natureza do produto colocado no mercado. 
O segundo, fruto de uma omissão, traduz uma 
abstenção maliciosa juridicamente relevante. É 
o caso do silêncio intencional de uma das 
partes, levando a outra a celebrar negócio 
jurídico diverso do que pretendia realizar. 
 
→ Admite-se, ainda, que o negócio jurídico 
seja anulado por dolo de terceiro. 
 
→ Se a parte a quem aproveita o dolo não 
sabia, nem tinha como saber do expediente 
astucioso, subsiste o negócio, embora o 
terceiro responda civilmente perante a parte 
ludibriada. 
 
→ Não há que se confundir, outrossim, o 
dolo de terceiro com a hipótese de dolo do 
representante de uma das partes. 
 
→ Em se tratando de representação legal — 
tutela ou curatela, por exemplo —, o 
representado só responderá civilmente até a 
importância do proveito que obteve. Se a 
representação for convencional — efetivada 
por meio do contrato de mandato —, ambas 
as partes (representante e representado), 
além da obrigatoriedade de devolver aquilo 
que indevidamente receberam, responderão 
solidariamente por perdas e danos (art. 149 
do CC/2002). 
 
→ Se ambas as partes do negócio procederamcom dolo, pelo princípio que veda a alegação 
da própria torpeza em juízo, a lei proíbe que 
se possa anular o negócio ou pleitear 
indenização (art. 150 do CC/2002). 
 
→ De toda sorte, se os dolos de ambos os 
negociantes causarem prejuízos de valores 
diferentes, pode ocorrer uma compensação 
parcial das condutas. 
 
 
 
Coação 
 
→ Enquanto o dolo manifesta-se pelo ardil, a 
coação traduz violência. Entende-se como 
coação capaz de viciar o consentimento toda 
violência psicológica apta a influenciar a vítima 
a realizar negócio jurídico que a sua vontade 
interna não deseja efetuar. 
 
→ São dois os tipos de coação: 
a) física (“vis absoluta”); 
b) moral (“vis compulsiva”). 
 
→ A coação física (“vis absoluta”) é aquela 
que age diretamente sobre o corpo da vítima. 
A doutrina entende que este tipo de coação 
neutraliza completamente a manifestação de 
vontade, tornando o negócio jurídico 
inexistente, e não simplesmente anulável. 
Imagine a hipótese de um lutador de sumô 
pegar a mão de uma velhinha analfabeta, à 
força, para apor a sua impressão digital em um 
instrumento de contrato que ela não quer 
assinar. 
 
→ A coação moral (“vis compulsiva”), por sua 
vez, é aquela que incute na vítima um temor 
constante e capaz de perturbar seu espírito, 
fazendo com que ela manifeste seu 
consentimento de maneira viciada. 
Nesta hipótese, a vontade do coagido não está 
completamente neutralizada, mas, sim, 
embaraçada, turbada, viciada pela ameaça que 
lhe é dirigida pelo coator. 
 
→ Por não tolher completamente a liberdade 
volitiva, é causa de invalidade (anulabilidade) 
do negócio jurídico, e não de inexistência 
 
→ Segundo dispõe o art. 151 do Código Civil 
de 2002, a coação vicia o ato nas seguintes 
circunstâncias: 
“Art. 151. A coação, para viciar a declaração da 
vontade, há de ser tal que incuta ao paciente 
fundado temor de dano iminente e considerável à 
sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”. 
 
 
 
 
 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 4 
 
→ Interessante que a Lei Codificada cuidou de 
admitir o reconhecimento da coação quando a 
ameaça dirigir-se a pessoa não pertencente à 
família do paciente (um amigo, por exemplo), 
cabendo ao juiz avaliar as circunstâncias do 
caso, e decidir a respeito da invalidade do 
negócio (art. 151, parágrafo único, do 
CC/2002). 
 
→ No apreciar a coação deve o juiz atentar 
para as circunstâncias do fato e condições 
pessoais da vítima. 
“Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em 
conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o 
temperamento do paciente e todas as demais 
circunstâncias que possam influir na gravidade 
dela”. 
 
→ Não se considera coação, outrossim, a 
ameaça do exercício normal de um direito, 
nem o simples temor reverencial. (ex: 
cobrança) 
 
→ Da mesma forma, não caracteriza violência 
psicológica apta a anular o negócio o simples 
temor reverencial. O respeito pela autoridade 
paterna ou eclesiástica não deve ser, em 
princípio, justificativa para se anular o ato 
praticado. Entretanto, se esta força moral se 
fizer acompanhar de ameaça ou intimidação, o 
vício poderá se configurar. 
 
→ Para hipnose, será imprescindível 
comprovar a absoluta ausência de 
manifestação de vontade para da declaração 
de inexistência do negócio jurídico. 
 
→ E o que dizer da coação exercida por 
terceiro? 
 
O Código Civil de 2002 dispõe: 
“Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação 
exercida por terceiro, se dela tivesse ou 
devesse ter conhecimento a parte a que 
aproveite, e esta responderá solidariamente 
com aquele por perdas e danos” (grifamos). 
 
→ Adotou-se fórmula semelhante àquela 
prevista para o dolo exercido por 
terceiro, consoante se depreende da leitura 
do art. 148 do CC/2002. 
 
 
→ Com a atual disciplina, só se admite a 
anulação do negócio se o beneficiário soube 
ou devesse saber da coação, respondendo 
solidariamente com o terceiro pelas perdas e 
danos. 
 
Lesão 
 
→ Pode-se conceituar a lesão como o 
prejuízo resultante da desproporção existente 
entre as prestações de um determinado 
negócio jurídico, em face do abuso da 
inexperiência, necessidade econômica ou 
leviandade de um dos declarantes. 
→ Traduz, muitas vezes, o abuso do poder 
econômico de uma das partes, em detrimento 
da outra, hipossuficiente na relação jurídica. 
 
→ Note-se que, na sistemática do CDC, a 
recusa de modificação dos termos do 
contrato determinará não a simples anulação, 
mas a nulidade absoluta e de pleno direito da 
cláusula contratual considerada abusiva, por se 
reconhecer violação a superiores princípios de 
ordem pública. É bom que se diga, neste 
ponto, que a lesão prevista no Código de 
Defesa do Consumidor (lesão consumerista) 
exige, para a sua caracterização e 
reconhecimento, apenas a desvantagem 
obrigacional exagerada (desproporção entre 
as prestações), em detrimento do 
consumidor, prescindindo de qualquer 
elemento subjetivo, inclusive o dolo de 
aproveitamento por parte do fornecedor do 
produto ou serviço. 
 
→ E como se poderia, genericamente, 
caracterizar o instituto jurídico da lesão? 
Tradicionalmente, tem-se entendido que a 
lesão se compõe de dois requisitos básicos, a 
saber: 
a) objetivo ou material — desproporção das 
prestações avençadas; 
b) subjetivo, imaterial ou anímico — a 
premente necessidade, a inexperiência ou a 
leviandade (da parte lesada) e o dolo de 
aproveitamento da parte beneficiada 
(característica ressaltada pela concepção 
tradicional do instituto, mas que, como 
veremos, não foi exigida na vigente 
codificação). 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 5 
 
→ O Código Civil de 2002 prevê, em seu art. 
157, que: 
“Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, 
sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação 
manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação oposta. 
§ 1º Aprecia-se a desproporção das 
prestações segundo os valores vigentes ao 
tempo em que foi celebrado o negócio 
jurídico. 
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, 
se for oferecido suplemento suficiente, ou se a 
parte favorecida concordar com a redução do 
proveito”. 
 
→ Além de não se exigir o dolo de 
aproveitamento para a sua configuração (isto 
é, a intenção de auferir vantagem exagerada às 
expensas de outrem), a norma cuidou de 
estabelecer o momento para análise da 
desproporção das prestações, e, bem assim, 
admitiu a conservação do negócio em caso de 
revisão contratual. 
 
→ É preciso que se diga que a constatação da 
premente necessidade ou da inexperiência 
deve levar em conta as condições pessoais do 
lesado, assim como se dá na apreciação da 
coação. Se a desvantagem contratual decorre 
exclusivamente da desídia de quem contratou, 
inserindo-se na própria álea contratual, não há 
falar-se em invalidação do negócio, em 
respeito ao princípio da segurança jurídica. 
 
→ Pode-se concluir ter havido uma 
verdadeira mudança axiológica no Código 
Civil de 2002, prevendo este vício de 
consentimento como uma verdadeira 
limitação à autonomia individual da vontade, 
não mais se admitindo o chamado “negócio da 
china”, uma vez que não se aceitará mais 
passivamente a ocorrência de negócios 
jurídicos com prestações manifestamente 
desproporcionais. 
 
 
 
Estado de Perigo 
 
→ De acordo com o art. 156 do CC, haverá 
estado de perigo toda vez que o próprio 
negociante, pessoa de sua família ou pessoa 
próxima estiver em perigo, conhecido da 
outra parte, sendo este a únicacausa para a 
celebração do negócio. Tratando-se de pessoa 
não pertencente à família do contratante, o 
juiz decidirá segundo as circunstâncias fáticas e 
regras da razão (art. 156, parágrafo único, do 
CC). 
 
→ No estado de perigo, o negociante 
temeroso de grave dano ou prejuízo acaba 
celebrando o negócio, mediante uma 
prestação exorbitante, presente a onerosidade 
excessiva (elemento objetivo). Para que tal vício 
esteja presente, é necessário que a outra 
parte tenha conhecimento da situação de 
risco que atinge o primeiro, elemento subjetivo 
que diferencia o estado de perigo da coação 
propriamente dita e da lesão. 
 
→ A sanção a ser aplicada ao ato eivado de 
estado de perigo é a sua anulação – arts. 171, 
II, e 178, II, do CC. O último dispositivo 
consagra prazo decadencial de quatro anos, a 
contar da data da celebração do ato, para o 
ingresso da ação anulatória. 
 
→ Para afastar a anulação do negócio e a 
correspondente extinção, poderá o juiz 
utilizar-se da revisão do negócio. Desse modo, 
filiamo-nos ao entendimento de aplicação 
analógica do art. 157, § 2.º, do CC, também 
para os casos de estado de perigo. 
 
 
 
 
 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 6 
 
SIMULAÇÃO 
 
→ É uma declaração falsa, enganosa, da 
vontade, visando “aparentar” um negócio 
diverso do efetivamente desejado. 
(GONÇALVES, 2011) 
 
→ Consiste num “desacordo intencional” 
entre a vontade interna e a declarada para 
criar, aparentemente, um ato negocial 
que inexiste, ou para ocultar, sob “determinada 
aparência”, o negócio quando, enganando 
terceiro, acarreta a nulidade do negócio. 
 
→ Negócio simulado é, assim, o que tem 
“aparência” contrária à realidade. (SILVA, 
2008) 
 
→ É um vício social porque 
objetiva iludir terceiros e fraudar a lei. 
 
→ Pelo regime do Código Civil, 
a simulação (absoluta ou relativa) acarreta 
a nulidade do negócio simulado. 
 
→ Se a simulação for relativa, subsistirá o 
negócio dissimulado, se válido for na forma e 
substância (art. 167, caput - CC). 
 
→ Ressalvam-se os direitos de terceiros de 
boa-fé em face dos contraentes do negócio 
jurídico simulado (art. 167, §2º - CC) 
 
 A simulação pode ser: 
 
Simulação Absoluta – na simulação absoluta, as 
partes na realidade não realizam nenhum 
negócio. Apenas fingem, para criar uma 
aparência, uma ilusão externa, sem que na 
verdade desejem o ato. 
 
→ Em geral, a simulação absoluta destina-se a 
prejudicar terceiro, subtraindo os bens do 
devedor à execução ou partilha. 
 
 
 
 
 
 Simulação Relativa – na simulação relativa, as 
partes pretendem realizar determinado 
negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à 
lei. Para escondê-lo ou dar-lhe aparência 
diversa, realizam outro negócio. 
 
→ Compõe, pois, de dois negócios: um deles 
é o simulado, aparente, destinado a enganar; 
o outro é o dissimulado, oculto, mas 
verdadeiramente desejado. O negócio 
aparente, simulado, serve apenas para 
“ocultar” a efetiva intenção dos contratantes, 
ou seja, o negócio real. 
 
→ Portanto, a simulação relativa resulta no 
intencional desacordo entre a vontade interna 
e a declarada. Ocorre sempre que alguém, sob 
a aparência de um negócio fictício, realizar 
outro que é overdadeiro, diverso, no todo ou 
em parte, do primeiro, com o escopo de 
prejudicar terceiro. Apresentam-se dois 
contratos: um real (dissimulado) e outro apa-
rente (simulado). Os contratantes visam 
ocultar de terceiros o contrato real, que é o 
querido por eles. 
 
 → Tendo em vista a dificuldade para se 
provar o ardil, expediente astucioso, admite-
se a prova da simulação 
por indícios e presunções (arts. 332 e 335 
– CPC). 
 
Fraude contra credores 
 
→ A fraude contra credores, também 
considerada vício social, consiste no ato de 
alienação ou oneração de bens, assim como 
de remissão de dívida, praticado pelo devedor 
insolvente, ou à beira da insolvência, com o 
propósito de prejudicar credor preexistente, 
em virtude da diminuição experimentada pelo 
seu patrimônio. 
 
→ Na fraude contra credores, não há um 
necessário disfarce, como na simulação. O ato 
praticado, por si só, já é lesivo ao direito do 
credor, e deve ter a sua ineficácia 
judicialmente declarada. 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 7 
 
→ Dois elementos compõem a fraude, o 
primeiro, de natureza subjetiva, e o segundo 
objetiva: 
a) consilium fraudis (o conluio fraudulento); 
b) eventus damni (o prejuízo causado ao 
credor). 
 
→ Discute-se se o consilium fraudis não é 
elemento essencial deste vício social, de 
maneira que o estado de insolvência aliado ao 
prejuízo causado ao credor seria suficiente 
para a caracterização da fraude. Entendemos 
que, tratando-se de atos gratuitos de alienação 
praticados em fraude contra credores (doação 
feita por devedor reduzido à insolvência, v. g.), 
o requisito subjetivo representado pelo 
consilium fraudis (má-fé) é presumido. 
 
→ A anulação do ato praticado em fraude 
contra credores dá-se por meio de uma 
ação revocatória, denominada “ação pauliana”. 
 
→ Os fundamentos da referida ação (causas 
de pedir), à luz do Código Civil de 
2002, são as seguintes: 
a) negócios de transmissão gratuita de bens — 
art. 158, caput (doação, v. g.); 
b) remissão de dívidas — art. 158, caput (o 
devedor insolvente perdoa dívida de terceiro, 
v. g.); 
c) contratos onerosos do devedor insolvente, 
em duas hipóteses (art. 159): 
— quando a insolvência for notória; 
— quando houver motivo para ser conhecida 
do outro contratante (a pessoa que adquire o 
bem do devedor é um parente próximo, que 
deveria presumir o seu estado de insolvência); 
d) antecipação de pagamento feita a um dos 
credores quirografários, em detrimento dos 
demais — art. 162 (neste caso, a ação é 
proposta também contra o beneficiário do 
pagamento da dívida não vencida, que fica 
obrigado a repor, em proveito do acervo 
sobre que se tenha de efetuar o concurso de 
credores, aquilo que recebeu); 
e) outorga de garantia de dívida dada a um dos 
credores, em detrimento dos demais — 
art. 163 (firma-se, aqui, uma “presunção de 
fraude”. É o caso da constituição de hipoteca 
sobre bem do devedor insolvente, em 
benefício de um dos credores). 
 
 
 
→ Anulado o negócio fraudulento, a vantagem 
resultante reverterá em proveito do acervo 
sobre que se tenha de efetuar o concurso de 
credores. Se o negócio fraudulento tinha o 
único objetivo de atribuir direito real de 
garantia, a anulação atingirá apenas a 
preferência ajustada (art. 165 do CC/2002). 
 
→ O Código Civil de 2002 preferiu seguir a 
teo ria tradicional, considerando de natureza 
anulatória o provimento jurisdicional final na 
ação pauliana (art. 165 do CC/2002), como 
regra genérica. 
 
→ Não se deve confundir, finalmente, a fraude 
contra credores com a fraude de execução. 
 
→ Enquanto na fraude contra credores, o 
devedor insolvente antecipa-se, alienando ou 
onerando bens em detrimento dos seus 
credores, antes que estes intentem qualquer 
espécie de ação; na fraude de execução, mais 
grave por violar normas de ordem pública, o 
devedor já tem contra si processo judicial, 
capaz de reduzi-lo à insolvência, e, ainda assim, 
atua ilicitamente, alienando ou onerando o seu 
patrimônio, em prejuízo não apenas dos seus 
credores, mas do próprio processo, 
caracterizando reprovável atitude de 
desrespeito à Justiça. 
 
 VÍCOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 Página 8

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