Buscar

Apostila Direito Penal III

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 67 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APOSTILAS DE 
DIREITO PENAL 
PARTE ESPECIAL 
ARTIGOS 121 A 183 DO CÓDIGO PENAL 
EDUARDO QUEIROZ DE MELLO 
Eduardo Queiroz de Mello 1 
 
SUMÁRIO 
 
Capítulo 1 – Introdução ao estudo da Parte Especial do Código Penal 
 
Capítulo 2 – O Homicídio 
 
Capítulo 3 - Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio 
 
Capítulo 4 – O Infanticídio 
 
Capítulo 5 – O Abortamento 
 
Capítulo 6 - Lesões corporais 
 
Capítulo 7 - Crimes de periclitação da vida e da saúde – Perigo de contágio venéreo; Perigo de 
contágio de moléstia grave; Perigo para a vida ou a saúde de outrem; Abandono de incapaz; 
Exposição ou abandono de recém-nascido; Omissão de socorro; Condicionamento de 
atendimento médico-hospitalar emergencial; Maus-tratos 
 
Capítulo 8 – Rixa 
 
Capítulo 9 - Crimes contra a honra 
 
Capítulo 10 - Crimes contra a liberdade individual – Constrangimento ilegal; Ameaça; 
Sequestro e cárcere privado; Redução a condição análoga à de escravo; Tráfico de pessoas 
 
Capítulo 11 - Violação de domicílio; Invasão de dispositivo informático 
 
Capítulo 12 - Crimes contra o patrimônio – Furto; Furto de coisa comum; Roubo; Extorsão; 
Extorsão mediante sequestro; Extorsão indireta 
 
Capítulo 13 – Crimes contra o patrimônio – Dano; Introdução ou abandono de animais em 
propriedade alheia; Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico; Alteração de 
local especialmente protegido 
 
Capítulo 14 – Crimes contra o patrimônio – Apropriação indébita 
 
Capítulo 15 – Crimes contra o patrimônio – Apropriação indébita previdenciária 
 
Capítulo 16 – Crimes contra o patrimônio – Estelionato; Duplicata simulada; Abuso de 
incapazes; Induzimento à especulação 
 
Capítulo 17 – Crimes contra o patrimônio – Receptação; Receptação de animal; Disposições 
gerais dos crimes contra o patrimônio 
 
Questionário 
 
Referências bibliográficas 
 
Eduardo Queiroz de Mello 2 
 
 CAPÍTULO 1 
 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PARTE ESPECIAL DO 
CÓDIGO PENAL 
 
O crime: Conceitua-se crime como sendo a ação típica, ilícita e culpável, tendo-se, 
portanto, como elementos estruturais do conceito a ação, a tipicidade, a ilicitude e a 
culpabilidade (há quem exclua a culpabilidade do conceito analítico, sob o argumento de 
que ela é inerente ao agente e não ao fato). 
 
A ação: Define-se ação como sendo o comportamento humano, manifestando vontade, 
direcionada a um fim previamente concebido. É o elemento nuclear do conceito analítico de 
crime. A omissão, de sua vez, não pode se diferenciar do conceito de ação, na medida em 
que nela também há uma manifestação de vontade dirigida a um fim, atuando o agente 
negativamente, ou seja, deixando de fazer. Assim, não há distinção conceitual entre ação e 
omissão. 
 
O tipo penal e a tipicidade: Define-se tipo penal como sendo a descrição do fato 
considerado criminoso na lei. Não há crime que não seja descrito por um tipo penal. Em 
síntese, tipo é a redação dada pelo legislador a um fato por ele considerado como crime. 
Tipicidade vem a ser a adequação de um fato a um tipo penal específico. Importante 
salientar da necessidade, para poder-se falar em crime, da tipicidade, ou seja, da subsunção 
do fato ao tipo penal. 
 
A ilicitude: Considera-se ilicitude ou antijuridicidade, como sendo a contrariedade do fato 
à norma. Ressalte-se, que é possível um fato ser típico e não ser ilícito, como nos casos em 
que o agente atua em defesa legítima, estado necessário, estrito cumprimento do dever legal 
e exercício regular de direito (causas legais de exclusão da ilicitude). 
 
Culpabilidade – reprovabilidade: Define-se culpabilidade, como sendo o juízo de 
reprovação que recai sobre o agente em face de sua conduta. Exterioriza-se este juízo de 
reprovação na imposição de uma sanção. Para que haja culpabilidade – reprovabilidade, 
necessário que se vejam atendidos determinados pressupostos: 1. Imputabilidade; 2. 
Consciência, ao menos potencial, da ilicitude do fato; 3. Exigibilidade de comportamento 
diverso. 
 
Elementos estruturais do tipo penal incriminador: 1. Elementos objetivos: verbo, objeto 
material, objeto jurídico, sujeito ativo, sujeito passivo, circunstâncias, etc.; 2. Elementos 
subjetivos: dolo (direto, eventual e específico) e culpa (consciente e inconsciente); 3. 
Elementos normativos: são os que necessitam de especial valoração por parte do intérprete, 
em face de serem compostos de expressões jurídicas ou extrajurídicas, como p. ex., o 
“estado puerperal”, no infanticídio (art. 123/CP). 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 3 
 
 CAPÍTULO 2 
 O HOMICÍDIO 
 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 
§ 1º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, 
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o 
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
§ 2º. Se o homicídio é cometido: 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II – por motivo fútil; 
III – com emprego de veneno fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou 
cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte 
ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; 
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino; 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, 
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício 
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente 
consanguíneo até o terceiro grau, em razão dessa condição: 
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
§ 2º-A. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime 
envolve: 
I – violência doméstica e familiar; 
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
§ 3º. Se o homicídio é culposo: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§ 4º. No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de 
inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de 
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou 
foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 
60 (sessenta) anos. 
§ 5º. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção 
se torne desnecessária. 
§ 6º. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por 
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio. 
§ 7º. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado: 
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; 
II – contra pessoa menor de 14 (quatorze), maior de 60 (sessenta) anos ou com 
deficiência; 
III – na presença de ascendente ou descendente da vítima. 
Eduardo Queiroz de Mello 4 
 
 
Conceito: Trata-se da extinção da vida humana dada por alguém (outro ser humano), 
podendo o crime ser praticado na forma dolosa (dolo direto ou eventual) ou culposa (art. 
121, § 3º). O crime tem por objeto jurídico a vida,e por objeto material o ser humano vivo. 
Tanto o sujeito ativo quanto o passivo podem ser quaisquer pessoas. 
 
O homicídio privilegiado – Art. 121, § 1º: São três as razões que motivam o chamado 
homicídio privilegiado, tecnicamente uma causa especial de diminuição de pena: 1. Motivo 
de relevante valor social – Justifica-se em razão do interesse coletivo, sendo o agente 
impulsionado pela satisfação de anseio social; 2. Motivo de relevante valor moral – 
Destaca-se a motivação nobre, aprovada pela moralidade média, correspondendo a interesse 
pessoal; 3. Estar o agente sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima – O agente se vê dominado por emoção violenta, que lhe perturba os 
sentidos, havendo tal emoção de ter sido provocada injustamente pela vítima, não se 
admitindo lapso temporal entre a provocação injusta e a ação do agente. 
 
O homicídio qualificado – Art. 121, § 2º: 1. Mediante paga ou promessa de 
recompensa ou por outro motivo torpe – Faz previsão do homicídio praticado por motivo 
ignóbil, repugnante, destacando-se a vileza do agente, tendo como exemplo o “homicídio 
mercenário”, havendo, no caso, o concurso de pessoas, vez que necessária a figura do 
“contratante” e o homicida “contratado”. Há divergência se a qualificadora alcança o 
“mandante”, mas o entendimento dominante (STJ) é no sentido de que todos os dados que 
compõem o tipo básico ou fundamental, são elementares do crime, enquanto o que integra o 
acessório, configurando os chamados tipos derivados (qualificadoras, causas especiais de 
aumento e diminuição de pena) são circunstâncias, sendo assim, o fato de ter sido o 
homicídio praticado com torpeza ou mediante contratação de mercenário, será circunstância 
de caráter pessoal, que pode até caracterizar o privilégio, p.ex., o motivo de relevante valor 
moral; 2. Por motivo fútil – É a quase ausência de motivação, insignificante, irrelevante, 
apresentando uma desproporção entre o crime e sua causa; 3. Com emprego de veneno, 
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa 
resultar perigo comum – Qualificadora de meios de execução, genérica (ou outro meio 
insidioso ou cruel), dependendo de perícia técnica, na medida em que, p.ex., o veneno pode 
ter enorme amplitude (o açúcar em determinada quantidade pode ser “veneno” para o 
diabético; uma substância que mau nenhum causa, mas que aliada com outra – p. ex., um 
medicamento usado – pode provocar a morte, podendo ser considerado, portanto, como 
“veneno”). O fogo e o explosivo são meios que, inequivocamente, resultam em perigo 
comum. Asfixia é impedir, por qualquer meio (mecânicos – afogamento, esganadura, etc.; 
químicos – inalação de gases) a respiração. A tortura demonstra excessiva crueldade do 
agente, somente qualificando o homicídio se o resultado pretendido é a morte da vítima, 
vez que, a tortura em si mesma, não desejando o agente matar a vítima, caracteriza o crime 
de tortura previsto na Lei 9.455/97, com majoração da pena no caso de ocorrer o resultado 
morte (preterdolo); 4. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro 
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido – Qualificadora de modo 
de execução (modus operandi); 5. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade 
ou vantagem de outro crime – Qualificadora de finalidade, implicando sempre ter o 
homicídio conexão com outro crime, seja teleológica – quando praticado como meio para 
executar outro crime, seja consequencial – quando praticado para ocultar a prática de outro 
Eduardo Queiroz de Mello 5 
 
crime ou assegurar a impunidade ou vantagem de outro crime. No primeiro caso, a 
qualificadora subsistirá ainda que o outro crime não venha a ser cometido; 6. Feminicídio – 
(Lei 13.104, de 09/03/2015) – Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, 
considerando-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: 
violência doméstica e familiar; menosprezo ou discriminação à condição de mulher (art. 
121, § 2º-A). Além de qualificar o homicídio, o feminicídio tem sua pena aumentada em 
1/3 (um terço) caso praticado durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; 
contra mulher menor de 14 ou maior de 60 anos, ou portadora de deficiência; na presença 
de ascendente ou descendente da vítima (art. 121, § 7º); 7. Contra autoridade ou agente 
descrito nos arts. 142 e 144 da CF, respectivamente, Forças Armadas – Exército, 
Marinha e Aeronáutica, e Polícias Judiciárias Federal e Civil, Rodoviária Federal, 
Militares e Corpo de Bombeiros militares, e ainda integrantes do sistema prisional e 
da Força Nacional de Segurança Pública, desde que no exercício da função ou em 
decorrência dela, ou contra cônjuge, companheiro(a) ou parente consanguíneo até o 3º grau, 
em razão dessa condição. (Lei 13.142, de 06/07/2015) 
 
Importa ressaltar que em relação ao homicídio doloso, tem-se a causa especial de aumento 
de pena acrescida pela Lei 12.720, de 27/09/2012, e prevista no parágrafo 6º, ou seja, 
quando o crime for cometido por “... milícia privada, sob o pretexto de prestação de 
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio”. Para que não haja dupla punição (bis in 
idem), essa causa especial de aumento só incide se não tiver havido também a 
responsabilização do agente pelo crime disposto no art. 288-A/CP, acrescentado pela 
mesma lei referida (“Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização 
paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer 
dos crimes previstos neste Código ...”). 
 
Pluralidade de qualificadoras: Quando estiverem caracterizadas duas ou mais 
qualificadoras, uma única qualifica o homicídio, deslocando o fato para o art. 121, § 2º do 
CP. Quanto às demais qualificadoras, serão consideradas como agravantes genéricas ou 
como circunstâncias judiciais do art. 59/CP, já que o art. 61 é expresso ao dizer das 
circunstâncias que sempre agravam a pena, excetuando quando constituem ou qualificam o 
crime. Essa segunda corrente vem ganhando adeptos, inclusive, no STF. 
 
Homicídio privilegiado e qualificado: É perfeitamente possível verificar-se o homicídio 
privilegiado e qualificado ao mesmo tempo, contudo, o entendimento majoritário é no 
sentido de que somente quando a causa de privilégio for de natureza subjetiva e a 
qualificadora for objetiva. 
 
O conceito de morte: Para a consumação do homicídio, é necessário que se vejam 
cessadas as funções cardíaca, respiratória e cerebral da pessoa humana (vítima), contudo, a 
Lei 9.434/97, autorizou o transplante de órgãos ocorrendo a chamada “morte encefálica” – 
“estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema 
e destruição dos tecidos encefálicos, apesar da atividade cardiopulmonar poder ser 
mantida por sistemas de suporte externos”. Para o Direito Penal não houve qualquer 
alteração no que tange ao conceito de morte com o advento da lei referida, na medida em 
que, havendo a “morte encefálica”, e não havendo interferência de métodos artificiais, 
fatalmente se verão cessadas as funções cardiorrespiratórias. 
Eduardo Queiroz de Mello 6 
 
 
Meios e modos de execução: 1. mecânicos - disparo de arma de fogo, uso de facas, 
machados, foices, martelos, etc., destacando-se ainda a asfixia, afogamento, 
estrangulamento; 2. químicos - é o uso de medicamentos ou drogas, destacando-se o 
envenenamento; 3. morais ou psíquicos - atuam através da produção de traumas 
psicológicos na vítima, normalmente agravando uma enfermidade preexistente. 
 
Instrumentos e feridas mais comuns no homicídio: Extrai-se dos estudos de Medicina 
Legal que os mais comuns são: 1. contundente – pérfuro-contundente (projétil de arma defogo); corto-contundente (atua no corpo pelo corte e pelo peso, como p. ex., o machado, a 
foice, que dão causa à decapitação, ablação, esgorjamento – ferida aberta); contundente-
habitual (limitam-se nas feridas ao ponto do traumatismo causado, como p. ex., o bastão, 
barra de ferro, martelo, etc.); 2. cortante – giletes e similares (que atuam somente pelo corte 
lateral); pérfuro-cortante (além de perfurar o organismo, atuam pela ação do corte lateral, 
como as facas, punhais, navalhas, canivetes, etc.); 3. perfurante – normalmente tem forma 
cilíndrica ou cilindro-cônica, como os pregos, agulhas, etc. (ZACHARIAS) 
 
Homicídio simples hediondo: O homicídio qualificado é tido pela Lei 8.072/90, como 
crime hediondo, portanto, com as conseqüências decorrentes. Contudo, a mesma lei 
considera o homicídio simples, art. 121, caput, também como crime hediondo, desde que 
praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que executado por um só 
agente. Segundo entendimento jurisprudencial, a capitulação da espécie pelo legislador 
tratou-se de momento de pouca reflexão, já que sempre se entendeu que a atividade de 
grupo de extermínio deve ser tida como motivação torpe, e, por conseguinte, homicídio 
qualificado. A atividade do “justiceiro”, que atua por conta própria, eliminando vidas, 
certamente age com desmedida indignidade, pelo que configurada a torpeza. 
 
Homicídio culposo – Art. 121, § 3º: Trata-se da figura típica prevista no caput do artigo 
121, contudo, com outro elemento subjetivo – a culpa – ao contrário das modalidades 
simples, privilegiada e qualificada, onde o elemento subjetivo é integrado pelo dolo (direto 
ou eventual). 
 
A culpa: Sabe-se que a culpa deriva sempre da imprudência, negligência ou imperícia. 
Imprudência: é o agir sem precaução, precipitadamente, violando regras de conduta 
ensinadas pela experiência. Negligência: é o abster-se de um dever de diligência, cuidado. 
O negligente deixa de tomar as cautelas que deveria. Imperícia: consiste na falta de 
conhecimentos técnicos e/ou habilitação para o exercício de determinada atividade. 
 
Homicídio culposo e causas de aumento de pena – Art. 121, § 4º: 1. inobservância de 
regra técnica de profissão, arte ou ofício – possui o agente conhecimentos técnicos para o 
exercício de atividade, deixando de aplicá-los, ou sendo negligente ou imprudente no 
exercício da profissão; 2. deixar o agente de prestar imediato socorro à vítima – consiste 
na omissão de socorro, que deve ser imediato. Se terceiro presta socorro, até por estar 
melhor preparado, sendo esta a vontade do agente, não há a causa de aumento; 3. não 
procurar o agente diminuir as consequências de seu ato – é na verdade seqüência da 
segunda causa de aumento, distinguindo-se tão somente pelo fato de que aqui, o agente, não 
tendo como prestar socorro, não busca auxílio de terceiros. Na parte final do parágrafo 4º 
Eduardo Queiroz de Mello 7 
 
do art. 121, é dito que “... Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime 
é cometido contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos”. Parece-nos uma incongruência, 
na medida em que, no caso, são tratadas das causas especiais de aumento de pena do 
homicídio culposo, dispondo o legislador, por força da Lei 10.741/2003, do aumento em se 
tratando do homicídio doloso. 
 
Homicídio culposo e perdão judicial – Art. 121, § 5º: Trata-se da clemência estatal, 
caracterizando-se como causa extintiva da punibilidade, art. 107/CP, sendo a decisão 
judicial meramente declaratória, não absolvendo, nem condenando. Pode ser, p. ex., o caso 
do cidadão que depois de ter tido sua casa invadida inúmeras vezes, se arma, e determinado 
dia vê um vulto entrando, disparando um tiro apenas para “assustar”, mas constatando em 
seguida que matou o próprio filho que chegava em casa vindo de uma festa. 
 
Homicídio no trânsito: Regulado pela Lei 9.503, de 23/09/1997, dispõe em seu art. 302: 
 
Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
Penas – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
§ 1º. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: 
I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; 
II – Praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; 
III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do 
acidente; 
IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte 
de passageiros. 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 8 
 
 CAPÍTULO 3 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO E AUXÍLIO AO SUICÍDIO 
 
 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 
(um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
Parágrafo único. A pena é duplicada: 
I – se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de 
resistência. 
 
Conceito de suicídio: É a morte voluntária resultante de um ato positivo ou negativo, 
realizado pela própria vítima, chamando-se também “autocídio”. Deve o suicida não apenas 
querer, mas saber de que seu ato resultará sua morte. No Brasil não se pune o suicídio, 
tampouco sua tentativa, por motivos estritamente humanitários, assim como não se pune, p. 
ex., a autolesão e o exercício da prostituição. 
 
Verbos regentes: Induzir – significa criar a ideia suicida a quem não a possui; instigar – 
estimular uma ideia preexistente; prestar auxílio – cooperar materialmente, oferecendo 
auxílio na prática suicida. 
 
O auxílio por omissão: Trata-se de questão controvertida tanto na doutrina quanto na 
jurisprudência, havendo duas correntes: 1. Não se admite, vez que a expressão contida no 
tipo é “prestar auxílio”, implicando, portanto, em ação positiva; 2. Admite-se, desde que o 
agente tenha o dever jurídico (legal) de impedir o resultado, como no caso do pai ou mãe, 
que tendo o pátrio poder sobre filho, e sabendo das intenções suicidas deste, nada fazem 
para impedir o resultado; ou a enfermeira ou cuidadora que, tomando conhecimento da 
pretensão suicida do paciente, e tendo o dever legal de impedir o resultado, em razão da 
função ou contrato de prestação de serviços, se omite por completo. 
 
Sujeitos do delito e elemento subjetivo: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, 
enquanto o sujeito passivo há de ter discernimento, consciência, na medida em que não 
havendo, o crime será o de homicídio. O elemento subjetivo é sempre o dolo (direto ou 
eventual), não se admitindo a forma culposa. 
 
Causas especiais de aumento de pena – Art. 122, § único: 1. o motivo egoístico – 
configura-se o excessivo apego a si mesmo e ao que se tem (bens materiais), evidenciando 
um desprezo pelo semelhante. Pratica-se o crime com vistas ao auferimento de algum 
benefício concreto; 2. a menoridade da vítima – trata-se daquela que menor estando na 
faixa etária entre os 14 e 18 anos, vez que o menor de 14 anos, se não tem capacidade nem 
mesmo de consentir num ato sexual, certamente não a terá para a eliminação da própria 
vida. No caso, o crime será o de homicídio; 3. resistência diminuída – configura-se nos 
casos em que a vítima encontra-se mais suscetível à sugestão suicida, seja por conta de 
doenças graves (físicas ou mentais), senilidade, alcoolismo, etc. Tal pessoa, em regra, não 
tem a menor condição de resistir à idéia suicida que lhe foi passada, em razão da situação 
Eduardo Queiroz de Mello 9em que se encontra. Ressalte-se que a majorante especial fala de diminuição da capacidade 
de resistência, de modo que, se não houver como resistir, o crime que se configura é o de 
homicídio. 
 
O pacto de morte: O chamado suicídio conjunto ou pacto de morte deve ser encarado da 
seguinte maneira: 1. duas pessoas, pactuando o suicídio, cada qual com seu revólver, 
disparam conjuntamente, mas uma delas sobrevivendo – responde o sobrevivente por 
induzimento, instigação, auxílio ao suicídio; 2. duas pessoas pactuando o suicídio, mas 
com um único revólver, não tendo uma delas força suficiente para apertar o gatilho, no que 
é auxiliada pelo outro, que em seguida dispara contra si mesmo, contudo, sobrevivendo – 
responde por homicídio. 
Eduardo Queiroz de Mello 10 
 
 
 CAPÍTULO 4 
 O INFANTICÍDIO 
 
Art. 123. Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou 
logo após: 
Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
 
Conceito: Trata-se do homicídio praticado pela mãe contra o próprio filho, seja nascente ou 
recém-nascido, sob influência do estado puerperal. Caracteriza-se como espécie de 
homicídio privilegiado, onde por circunstâncias peculiares e especiais, o legislador 
entendeu por dar tratamento diferenciado, cominando pena mais branda. É possível a 
tentativa. 
 
Sujeitos do delito: Quanto ao sujeito ativo só pode ser a mãe, enquanto o passivo é o ser 
nascente ou recém-nascido. É crime próprio. Por força do que previsto no art. 30/CP, a 
circunstância de caráter pessoal (ser o sujeito ativo a mãe), elementar do crime, se 
comunica aos demais concorrentes, de modo que aquele terceiro que coopera no crime há 
de responder por infanticídio, o mesmo se dando no caso da mulher puerpera que auxilia 
terceiro na morte do filho. 
 
Distinção entre infanticídio e abortamento: O tipo penal diz que o crime pode ser 
cometido durante o parto ou logo após. No último caso, não há dúvida: não há abortamento, 
vez que neste, a morte há de ser dada intrauterinamente. No primeiro caso, entretanto, tem-
se a questão: qual o momento exato em que aquele que concebido deixa o estado fetal para 
considerar-se nascente? O processo de parto tem início com o rompimento da bolsa das 
águas (parte da membrana do ovo em correspondência com o orifício uterino), entendendo-
se, portanto, que a partir daí, o feto se torna acessível às ações humanas externas. Assim, 
iniciado o parto, o ser vivo pode ser objeto do crime de infanticídio. 
 
Critérios adotados em relação ao infanticídio: 1. honoris causa - causa de honra, que era 
previsto no CP de 1890, onde a mãe se via punida com pena diminuída se matasse o filho 
durante ou logo após o parto para ocultar desonra própria; 2. fisiopsicológico - adotado pelo 
CP vigente, onde se exige que a morte dada pela mãe ao filho, durante ou logo após o parto, 
deve dar-se com aquela sob influência do estado puerperal. 
 
O estado puerperal: Trata-se de elemento normativo do tipo penal, na medida em que 
necessita de especial valoração por parte do intérprete, buscando-se a definição em outra 
ciência (medicina). Caracteriza-se pelo estado que envolve a parturiente durante a expulsão 
da criança de seu ventre. Há alterações de ordem psíquica e física, que podem dar causa a 
transtornos mentais. Sua origem pode decorrer de sentimentos de medo, dor, rejeição, etc., 
dando causa a depressões, que fazem com que a mãe não tenha plena consciência do que 
faz. Pode, portanto, ser considerada uma forma de semi-imputabilidade. Não se pode 
confundir o estado puerperal com a predisposição da mulher a certas psicoses, que se 
agravam com aquele estado. 
 
Eduardo Queiroz de Mello 11 
 
A circunstância de tempo do crime: Caracteriza-se pelo fato de ter o crime que ser 
praticado “durante o parto ou logo após”. A perícia se mostra então necessária. O estado 
puerperal pode estender-se no tempo por algumas horas, ou mesmo por alguns poucos dias, 
presumindo-se, portanto, que os transtornos mentais vão desaparecendo. O mais correto, já 
que o Código não delimita, é que o estado puerperal e as alterações psíquicas dele derivadas 
podem durar do momento em que iniciado o parto até aquele em que a mulher retorna às 
condições pré-gravidez. Contudo, se a morte do recém-nascido ocorrer passados alguns 
dias, cabe à defesa demonstrar que os problemas decorrentes do estado puerperal 
persistiram no tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 12 
 
 CAPÍTULO 5 
 O ABORTAMENTO 
 
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. 
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 
(quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante 
fraude, grave ameaça ou violência. 
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, 
se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante 
sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, 
lhe sobrevém a morte. 
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: 
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante 
ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
Conceito: Consiste na interrupção da gravidez, com a conseqüente destruição do produto 
da concepção. A vida deve ser interrompida intrauterinamente. Esta interrupção pode dar-se 
em qualquer das fases da gravidez (ovular – 3 primeiras semanas; embrionária – 3 
primeiros meses; fetal – a partir do 3º mês). O objeto jurídico é a vida, protegendo-se o 
produto da concepção. Questão curiosa é a do embrião mantido fora do útero, em 
laboratório. Há polêmica a respeito, vez que, em tese, sua eliminação não configura 
abortamento, na medida em que não se trata de vida intrauterina. Tampouco se pode 
afirmar do cometimento de homicídio, vez que o embrião, afirmam alguns, não é 
considerado como pessoa humana. Menos ainda se pode afirmar de crime de dano, art. 
163/CP, pois não se trata o embrião de “coisa alheia”. Portanto, é possível afirmar que o 
fato é, em princípio, atípico. Sobre o assunto, recomenda-se um didático artigo no endereço 
https://jus.com.br/artigos/31148/o-embriao-humano-diante-do-ordenamento-juridico. 
 
Meios e modos idôneos a dar causa ao abortamento: 1. químicos – normalmente 
substâncias ingeridas, que atuam através da intoxicação; 2. psíquicos – são meios de 
natureza psicológica, como p. ex., o susto, a sugestão abortiva insistente, etc.; 3. físicos ou 
mecânicos – constituem-se nos meios mais comuns, como p. ex., a curetagem (raspagem 
da cavidade uterina, com auxílio da “cureta”, para remoção do feto), que pode, em vários 
casos, despedaçar o feto na retirada, ou ainda, através de choques elétricos ou térmicos 
(bolsas de água quente ou gelada no ventre). 
 
O auto-abortamento – Art. 124/CP: Caracteriza-se por práticas abortivas feitas pela 
própria gestante, com vistas à eliminação da vida intrauterina. Trata-se no caso de crime 
próprio. Pode haver concurso de pessoas, na modalidade participação, como no caso do 
terceiro que fornece o meio abortivo, ou que induz a gestante à práticaabortiva. 
Eduardo Queiroz de Mello 13 
 
O abortamento consentido – Art. 126/CP: Apresenta-se a hipótese da prática abortiva ser 
feita por terceiro, tendo-se o consentimento da gestante. O sujeito ativo pode ser qualquer 
pessoa. Mesmo que a gestante auxilie o terceiro nas manobras abortivas, responderá pelo 
crime previsto no art. 124/CP. A terceira pessoa que realiza a manobra abortiva na gestante, 
responde pela figura tipificada no art. 126/CP. Aquele que induz a mulher a consentir que 
outrem lho provoque o abortamento, haverá de responder como partícipe (art. 124/CP). 
Para que se caracterize a figura do abortamento consentido é necessário que o 
consentimento seja válido, do contrário, a hipótese será a do art. 125/CP. Consistem 
hipóteses de consentimento inválido as que dispostas no parágrafo único do art. 126/CP. 
 
Abortamento sem o consentimento – Art. 125/CP: Caracteriza-se na modalidade mais 
grave (pena de reclusão de 3 a 10 anos). As hipóteses do art. 126, parágrafo único, 
equiparam-se à ausência de consentimento (emprego de fraude, violência ou grave ameaça, 
ou se a gestante não é maior de 14 anos ou é alienada ou débil mental – inimputável). 
 
O abortamento legal – Art. 128/CP: 1. abortamento necessário ou terapêutico: quando 
não há outro modo de salvar a vida da gestante. Desnecessário o deferimento judicial, mas 
recomendável parecer de junta médica; 2. abortamento sentimental ou humanitário: 
quando a gravidez resulta de estupro (art. 213/CP), e a prática abortiva é precedida de 
consentimento da gestante, ou quando incapaz, de seu representante legal. Não pode o 
Estado obrigar a mulher a gerar um filho fruto de uma relação sexual violenta ou 
psicologicamente perturbadora. No caso do abortamento sentimental é necessário prova do 
estupro (laudo pericial, sentença judicial, ou mesmo, em último caso, boletim de ocorrência 
policial); 3. abortamento eugênico: É o que se realiza com vistas a impedir que o produto 
da concepção nasça com deformidade ou enfermidade incurável, não sendo permitido por 
lei. Contudo, tendo-se de prova cabal da deformidade ou enfermidade, bem como de sua 
incurabilidade, o Poder Judiciário tem autorizado o abortamento sob o pálio da eximente de 
culpabilidade denominada inexigibilidade de outra conduta, tanto para a gestante quanto 
para o médico, levando-se em consideração a lesão psicológica causada à gestante em razão 
de gravidez cujo produto da concepção dificilmente sobreviverá. 
 
Causa de aumento de pena – Art. 127/CP: Tanto no aborto com o consentimento, quanto 
no aborto sem o consentimento, as penas são aumentadas de 1/3, ou duplicadas, se em 
consequência do abortamento ou dos meios utilizados para provocá-lo, a gestante vem a 
sofrer, respectivamente, lesão corporal de natureza grave ou morte. Embora o legislador 
tenha denominado o dispositivo como qualificadoras do aborto, pela redação verifica-se 
que se trata de causa especial de aumento de pena (a majoração é fracionária, não havendo 
a imposição de pena abstrata diferenciada das que previstas nos art. 125 e 126/CP). 
 
Consumação e tentativa e elemento subjetivo: Como crime material, onde a consumação 
se dá com a extinção da vida intrauterina, é perfeitamente possível a tentativa. Há quem 
diga da impunibilidade do auto-abortamento tentado, com razões na Política Criminal, vez 
que entre nós não se pune a auto lesão. No tocante ao elemento subjetivo, só pode ser o 
dolo (direto ou eventual), não se admitindo a forma culposa. 
Eduardo Queiroz de Mello 14 
 
 CAPÍTULO 6 
 LESÕES CORPORAIS 
 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
§ 1º. Se resulta: 
I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias; 
II – perigo de vida; 
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV – aceleração de parto. 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 
§ 2º. Se resulta: 
I – incapacidade permanente para o trabalho; 
II – enfermidade incurável; 
III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
IV – deformidade permanente; 
V – aborto. 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. 
§ 3º. Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, 
nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
§ 4º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral 
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o 
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
§ 5º. O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de 
multa: 
I – se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II – se as lesões são recíprocas. 
§ 6º. Se a lesão é culposa: 
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. 
§ 7º. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 
6º do art. 121 deste Código. 
§ 8º. Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. 
§ 9º. Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o 
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10º. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as 
indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11º. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for 
cometido contra pessoa portadora de deficiência. 
§ 12º. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de 
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu 
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição, a pena é aumentada de um a dois terços. 
Eduardo Queiroz de Mello 15 
 
Conceito: Consiste o crime na ofensa à integridade física ou à saúde (funcional ou mental) 
de outrem. Tem por bem jurídico a incolumidade do indivíduo, na perspectiva de sua saúde 
física, ou seja, funcional de qualquer membro, sentido ou função, bem como sua saúde 
mental. Os sujeitos do delito podem ser quaisquer pessoas, contudo, deverá ser mulher 
grávida nas qualificadoras do parágrafo 1º, inciso IV, e parágrafo 2º, inciso V. 
 
Classificação: A lesão corporal pode ser simples (art. 129, caput); grave (art. 129, § 1º) e 
gravíssima (art. 129, § 2º). A identificação da lesão simples faz-se por exclusão, ou seja, 
será qualquer uma, desde que não enquadrada nas hipóteses que a tornam grave. 
 
Lesão corporal – vias de fato – injúria real: Não se pode confundir a lesão corporal de 
natureza leve com a contravenção penal de vias de fato (art. 21 da LCP). Nas vias de fato, 
não há danos sensíveis no corpo, como p. ex., no pequeno empurrão. Tampouco se pode 
confundir a lesão corporal simples com a injúria real, pois nesta última o agente usa de 
violência com vistas a ultrajar a vítima, humilhando-a na dignidade ou decoro (p. ex., um 
“tapa” dado levemente). 
 
O consentimento do ofendido: Nas lesões corporais, ganha espaço a tese do 
consentimento do ofendido como causa supralegal excludente da ilicitude. É o caso das 
práticas esportivas (p. ex., pugilismo, MMA, UFC), as tatuagens, etc. 
 
A lesão corporal grave – Art. 129, § 1º: 1. Incapacidade para as ocupações habituais 
por mais de 30 dias: refere-se às ocupações laborais e cotidianas, incluindo as de lazer; 
ocupação deve ser lícita; período de incapacidade não se confundecom a duração da lesão; 
necessário exame pericial complementar esgotados os 30 dias; 2. Perigo de vida: 
necessidade de perigo concreto e não abstrato; demonstração através de exame pericial; 3. 
Debilidade permanente de membro, sentido ou função: redução da capacidade 
funcional; não necessariamente perpétua, mas duradoura; não importa correção através de 
procedimentos cirúrgicos; se o sentido ou função manifestar-se através de órgãos duplos, a 
perda de um caracteriza a qualificadora; 4. Aceleração de parto: antecipação do momento 
do parto; necessário que o agente saiba que a vítima esteja grávida. 
 
A lesão corporal gravíssima – Art. 129, § 2º: 1. Incapacidade permanente para o 
trabalho: refere-se à atividade laborativa; incapacidade deve ser duradoura, não perpétua; 
necessita de exame pericial; 2. Enfermidade incurável: doença física ou mental não 
sanável e evolutiva; não se exige certeza da incurabilidade; necessário perícia; recusa da 
vítima a tratamento arriscado e incerto não afasta a qualificadora; 3. Perda ou inutilização 
de membro, sentido ou função: é a ablação ou inutilização para funcionamento; o uso de 
prótese não afasta a qualificadora; 4. Deformidade permanente: dano estético de certa 
gravidade, permanente; visível, causando impressão vexatória e desconforto a terceiros; uso 
de próteses não afasta a qualificadora; não está a vítima obrigada a cirurgias, contudo, se 
feita com sucesso a qualificadora é afastada; 5. Abortamento: comportamento do agente é 
dirigido à lesão, havendo o preterdolo; deve o agente saber que a vítima está grávida. 
 
A lesão corporal seguida de morte e a substituição de pena – Art. 129, §§ 3º e 5º: A 
hipótese, no caso, é o preterdolo. O resultado mais grave não é desejado, tampouco se 
assume o risco. A culpa de que se fala há de ser a consciente (com previsão). Se não há 
Eduardo Queiroz de Mello 16 
 
previsão, ou se a morte decorre de caso fortuito, o agente responde tão só por lesões 
corporais. O juiz pode substituir a pena de detenção nas lesões leves por multa nos 
seguintes casos – lesão privilegiada; lesões recíprocas (não se sabe ao certo quem deu início 
às lesões, tampouco se provou estar um dos agentes em legítima defesa). Art. 129, § 4º: É 
causa especial de diminuição de pena (lesão corporal privilegiada), se o crime é cometido 
por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo 
após injusta provocação da vítima. 
 
A consumação e a tentativa: Nas lesões corporais, a consumação se dá no momento da 
ofensa à integridade da vítima. É controversa a possibilidade de tentativa, contudo, 
acredita-se ser possível, só havendo dificuldade na aferição da lesão pretendida pelo agente 
(leve, grave ou gravíssima). Não há, entretanto, possibilidade de tentativa na lesão seguida 
de morte e na lesão culposa. 
 
Observações: 1. O elemento subjetivo é o dolo (direto ou eventual), admitindo a forma 
culposa, art. 129, § 6º; 2. É possível o chamado perdão judicial, causa extintiva da 
punibilidade, com justificativa na Política Criminal, art. 129, § 8º; 3. Com o advento da Lei 
9.099/95, a lesão leve e a culposa passaram a ser de ação penal pública condicionada; 4. 
Pelo princípio da insignificância, pequenas lesões (simples), que não acarretam maiores 
ofensas, tais como beliscões, tapas ou palmadas leves, etc., têm sido consideradas como 
bagatelas, portanto, atípicas; 5. A Lei 10.886, de 17/6/2004, acresceu o parágrafo 9º ao 
art. 129, versando sobre a violência doméstica, que é a lesão praticada contra “... 
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente de relações domésticas, coabitação ou 
hospitalidade”, punindo com pena de detenção de 03 meses a 03 anos (Lei 11.340/2006); 
6. Lesão corporal e tortura – A Lei 9.455, de 07/04/97 prevê o crime de tortura, entretanto, 
com fins específicos ou mesmo em condições ou situações definidas expressamente. Se da 
tortura resulta lesão corporal no mínimo grave, há qualificação do crime de tortura; 7. 
Também em relação à violência doméstica, se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de 
morte, ou ainda se praticada contra pessoa portadora de deficiência, a pena é aumentada em 
1/3 (art. 129, § 10º); 8. Aumenta-se a pena de um a dois terços (art. 129, § 12º), se o crime 
é cometido contra as mesmas vítimas previstas no parágrafo 2º, inc. VII do art. 121/CP. 
 
Lesão corporal no trânsito: Regulada pela Lei 9.503, de 23/09/1997, dispõe em seu art. 
303: 
 
Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: 
Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se obter a 
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das 
hipóteses do § 1º do art. 302. 
 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 17 
 
 CAPÍTULO 7 
 CRIMES DE PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
 
Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a 
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
§ 1º. Se é intenção do agente transmitir a moléstia: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 2º. Somente se procede mediante representação. 
Art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de está contaminado, 
ato capaz de produzir o contágio: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se a exposição 
da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a 
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as 
normas legais. 
Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, 
e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. 
§ 1º. Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 
§ 2º. Se resulta morte: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
Art. 134. Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 
§ 1º. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§ 2º. Se resulta morte: 
Pena – detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em 
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de 
natureza grave, e triplicada, se resulta morte. 
Art. 135-A. Exigir cheque caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o 
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o 
atendimento médico-hospitalar emergencial: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta 
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 18 
 
Art. 136. Expor a perigo a vida o a saúde de pessoasob sua autoridade, guarda ou 
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de 
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou 
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: 
Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
§ 1º. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
§ 2º. Se resulta morte: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
§ 3º. Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) anos. 
 
Crimes de perigo: No capítulo, o CP contempla os chamados crimes de perigo, onde 
inexiste um resultado lesivo a terceiro, mas sim, a potencialidade de ver-se aferido um 
resultado com a simples exposição a perigo de alguma coisa em face da conduta do agente. 
Assim, a consumação destes crimes se dá tão só com a mera exposição ao perigo. 
 
O elemento subjetivo: No tocante aos crimes de perigo, o elemento subjetivo será sempre 
o chamado dolo de perigo (direto ou eventual), caracterizado pela vontade de criar situação 
de risco para a vítima. 
 
Os Artigos 130, 131 e 132/CP: 1. Art. 130: Modo de execução – relações sexuais ou atos 
libidinosos; moléstia venérea – norma penal em branco; necessário contato físico entre os 
agentes; a exposição a perigo deve ser analisada caso a caso, posto que inexistirá crime, p. 
ex., se o sujeito passivo for imune a doença; elementos subjetivos – dolo direto de perigo 
(“... de que sabe”), dolo eventual (“... ou deve saber que está contaminado”) e o dolo 
direto de dano (§ 1º); a tentativa é possível, p. ex., no caso do sujeito que, portador de 
doença venérea, não iniciada a “penetração”, tem interrompida a prática. 2. Art. 131: Modo 
de execução – qualquer ato capaz de produzir o contágio, inclusive, a relação sexual e/ou 
atos libidinosos; moléstia grave – norma penal em branco; não é necessário o contato físico 
entre os agentes; elemento subjetivo – dolo direto de perigo; a tentativa é possível, vez que 
se trata de crime plurissubsistente, portanto, podendo ser fracionada a execução. 3. Art. 
132: Trata-se de tipo penal genérico de perigo, válido para todas as formas de exposição da 
vida ou da saúde de terceiros a perigo de dano, sendo, portanto, crime subsidiário; 
caracteriza a conduta na exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo direto ou 
iminente, devendo ser a vítima pessoa certa e determinada, havendo o risco de ser concreto, 
e podendo o crime ser praticado omissivamente; o elemento subjetivo é o dolo direto de 
perigo; consuma-se no momento em que por ação ou omissão o agente expor a vítima a 
risco concreto, direto e iminente quanto a sua vida ou saúde, sendo admissível a tentativa 
desde que seja possível fracionar os atos de execução; na causa de aumento de pena visou-
se punir mais gravemente aqueles que fazem transporte de trabalhadores para prestação de 
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, sem garantir-lhes a segurança 
necessária. 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 19 
 
Os Artigos 133 e 134/CP: 1. Art. 133: Consiste o crime em largar a vítima à própria sorte 
em local onde a mesma se vê desprotegida; os sujeitos do delito são próprios, posto que 
necessário que o sujeito passivo esteja sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade do 
sujeito ativo; a incapacidade da vítima não é jurídica, mas real; necessário a prova concreta 
do perigo, sendo possível a tentativa desde que praticado o crime em vários atos; o 
elemento subjetivo é o dolo direto de perigo. 2. Art. 134: Consiste em expor ou abandonar 
recém-nascido, criando-se situação de perigo concreto; trata-se de crime próprio, pois 
praticado pela mãe que, p. ex., concebeu o filho fora do matrimônio, vez que a intenção é 
ocultar a própria desonra. Admite-se que o pai adulterino ou incestuoso possa ser sujeito 
ativo; o elemento subjetivo é o dolo direto de perigo; consuma-se o crime na exposição ou 
abandono do recém-nascido, sendo a tentativa possível na conduta omissiva. 
 
A omissão de socorro – Art. 135/ CP: Trata-se de crime omissivo próprio, consistindo em 
deixar o agente de prestar assistência quando possível, desde que não havendo risco 
pessoal, ou não pedir o socorro à autoridade competente, quando estiver diante de criança 
extraviada ou abandonada, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente 
perigo. Justifica-se a criminalização, face os deveres de solidariedade e humanidade que a 
todos alcança. 
 
Condutas: Cuida-se, no caso, de omitir-se na prestação de assistência imediata, desde que 
possível sem risco pessoal. Havendo risco, deve o agente pedir socorro à autoridade 
competente, sob pena de não o fazendo, responder pelo crime. 
 
O risco pessoal: Ninguém está obrigado a enfrentar o perigo, atuando heroicamente, posto 
que, sendo a situação de risco elementar do crime, é ela excludente da tipicidade. O risco 
pessoal há de ser aferido diante do caso concreto, sendo certo, entretanto, que havendo 
aludido risco, excluída a tipicidade em qualquer das formas de conduta. 
 
Sujeitos do delito: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, contudo, o sujeito passivo há 
que estar enquadrado nas situações previstas no tipo penal. 
 
Elemento subjetivo: É o dolo direto ou eventual de perigo, devendo o agente ter a vontade 
dirigida a não prestação do socorro ou não solicitação do mesmo à autoridade, havendo 
necessidade da consciência da situação da vítima. O dolo eventual pode caracterizar-se pela 
dúvida quanto à situação da vítima, e conseqüente assunção do risco na não prestação do 
socorro ou não solicitação do mesmo. 
 
Consumação e tentativa e concurso de pessoas: Consuma-se no momento exato da 
abstenção do comportamento devido, não havendo possibilidade de tentativa, vez que 
praticado o crime em ato único. É possível o concurso de agentes, seja sob a égide da 
coautoria, seja da participação (por instigação). 
 
Causas de aumento de pena: A pena aumenta-se, se da omissão resulta lesão corporal 
grave ou morte. No caso, o elemento subjetivo é o preterdolo (dolo no que se refere à 
omissão, e culpa no que respeita ao resultado mais gravoso). 
 
Eduardo Queiroz de Mello 20 
 
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial – Art. 135-A/CP – 
(Lei 12.653, de 28/05/2012): Caracteriza o crime o “exigir” (obrigar, determinar, impor) 
qualquer garantia (cheque-caução, nota promissória, ou qualquer documento que implique 
em reconhecimento de uma dívida que possa ser cobrada adiante – elementos normativos 
do tipo), ou preenchimento de formulários, como condição prévia para atendimento 
médico-hospitalar de emergência. O que se pune, é fazer tal exigência antes do devido 
atendimento de urgência, não significando que hospitais, casas de saúde e similares não 
possam, no seu devido tempo, cobrar regularmente por tais serviços. O sujeito ativo, 
evidentemente, será aquele que determina tal exigência (diretor, gerente, etc.), enquanto o 
sujeito passivo, obviamente, é o paciente necessitado de atendimento emergencial. 
Elemento subjetivo é o dolo genérico, não havendo um fim especial de agir, consumando-
se o crime no momento em que é feita a exigência, não sendo possível, a princípio, a 
tentativa. 
 
Maus-tratos – Art. 136/CP: Constitui o crime na exposição a perigo da vida ou saúde de 
pessoa que se encontra sob a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo, para fins de 
educação, ensino, tratamento ou custódia, privando-se o sujeito passivo seja de 
alimentação, seja de cuidados indispensáveis, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou 
inadequado, ou abusando dos meios de correção ou disciplina.Sujeitos do delito: Pela redação típica, deve o sujeito passivo encontrar-se sob a 
autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo para fins de 1. Educação – É a atividade 
com o fim de aperfeiçoamento intelectual, moral, profissional, etc.. É, portanto, o caso de 
pais, tutores, curadores, professores do ensino médio ou superior); 2. Ensino – Onde são 
ministrados conhecimentos na formação da personalidade. Assim, os pais, tutores, 
curadores, professores do ensino básico e fundamental); 3. Tratamento – Abrange não só a 
busca da cura para doenças, como também a continuidade na assistência. É o caso dos 
médicos, enfermeiros, cuidadores, pais, etc.; 4. Custódia – Refere-se exclusivamente à 
“detenção” no sentido amplo da palavra, desde que autorizado por lei, como p. ex., 
delegados e carcereiros em relação a presos. Inexistindo a relação, não haverá crime. A 
mulher não pode ser sujeito passivo em relação ao marido, exceto se estiver sob os 
cuidados dele na seqüência, p. ex., de tratamento médico em face de enfermidade. 
 
Modos de execução do crime: 1. privação de alimentação – conduta omissiva, bastando 
que a privação seja relativa (deixar de dar comida em quantidade necessária e condizente); 
2. privação de cuidados necessários – conduta omissiva, negando-se os cuidados 
indispensáveis, como p. ex., negativa de assistência médica, de condições mínimas de 
higiene, etc.; 3. sujeição a trabalho excessivo ou inadequado – será trabalho excessivo 
aquele que supera os limites do sujeito passivo, levando-o ao cansaço extremo. Inadequado 
é o trabalho incompatível com as condições pessoais da vítima (idade, sexo, 
desenvolvimento físico ou mental); 4. abuso dos meios de correção ou disciplina – 
consiste na pouca ou nenhuma moderação no uso de meios corretivos ou para imposição de 
disciplina. 
 
Elemento subjetivo: É o dolo direto de perigo, agindo o agente de modo a maltratar a 
vítima expondo-a a perigo sua integridade física ou mental, devendo o agente ter 
consciência dos abusos praticados. 
Eduardo Queiroz de Mello 21 
 
Consumação e tentativa: Consuma-se com a prática pelo agente dos atos descritos na 
redação típica, pondo em risco a vida ou a saúde da vítima, sendo o crime de perigo 
concreto, pelo que o risco há de ser provado. A tentativa é inadmissível nas formas 
omissivas. 
 
Qualificadoras e causa de aumento de pena – Art. 136, §§ 1º, 2º e 3º: Caracterizam-se as 
qualificadoras pelo resultado mais grave, sendo o elemento subjetivo o preterdolo (dolo no 
antecedente – maltratar, culpa no conseqüente – lesão grave ou morte). A causa especial de 
aumento de pena é relativa à menoridade de 14 anos da vítima. 
Eduardo Queiroz de Mello 22 
 
 CAPÍTULO 8 
 O CRIME DE RIXA 
 
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa. 
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo 
fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 
 
Conceito: Caracteriza-se pelo confronto generalizado envolvendo três ou mais pessoas, não 
havendo necessidade do contato físico entre os rixosos, sendo crime plurissubjetivo. “A 
rixa, popularmente chamada de sarrilho, furdunço, baderna, rolo, banzé, fuzuê, barulho, é 
a briga desordenada, o conflito generalizado, o tumulto de imprevisíveis conseqüências, na 
qual se envolvem, segundo a maioria dos tratadistas, três ou mais pessoas”. (PIRES) 
 
Sujeitos do delito: Podem ser quaisquer pessoas, onde todos são ao mesmo tempo sujeitos 
ativos e passivos. Os rixosos serão todos coautores, desde que envolvidos na refrega, 
podendo haver participação, no caso daquele que, não se envolvendo no confronto, o atiça, 
criando, p. ex., animosidades. 
 
O elemento subjetivo, consumação e a tentativa: O elemento subjetivo é caracterizado 
pelo dolo (animus rixandi), consistente na vontade livre e consciente de tomar parte no 
conflito. Consuma-se o crime no momento em que iniciado o confronto. Não há rixa, se o 
conflito se formou em virtude de agressão levada a efeito por um grupo contra outro, isto 
porque perfeitamente identificados os autores da agressão. A possibilidade de tentativa é 
duvidosa, entretanto, alguns acreditam ser possível no caso, p. ex., da rixa planejada, vez 
que os grupos rivais ao se dirigirem para o local do conflito podem ser impedidos. 
 
Rixa qualificada – Art. 137, § único: Dá-se no caso de haver morte ou lesão corporal 
grave em virtude da rixa. 1. Identificado o autor da lesão ou morte – responde pela lesão ou 
morte em concurso material de crimes com a rixa qualificada. Os demais respondem pela 
rixa qualificada, inclusive a vítima das lesões; 2. Não identificado o autor da lesão ou morte 
– todos os rixosos respondem pela rixa qualificada, inclusive a vítima das lesões; 3. Na 
hipótese de haver quando da rixa, mera tentativa de homicídio, seu autor responde pelo 
crime tentado em concurso com a rixa simples, enquanto os demais rixosos respondem 
somente pela rixa simples. 
Eduardo Queiroz de Mello 23 
 
 CAPÍTULO 9 
 CRIMES CONTRA A HONRA 
 
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
§ 1º. Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. 
§ 2º. É punível a calúnia contra os mortos. 
§ 3º. Admite-se a prova da verdade, salvo: 
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação penal privada, o ofendido não foi 
condenado por sentença irrecorrível; 
II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141; 
III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por 
sentença irrecorrível. 
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário 
público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. 
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. 
§ 1º. O juiz pode deixar de aplicar a pena: 
I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; 
II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. 
§ 2º. Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo 
meio empregado, se considerem aviltantes: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena correspondente à 
violência. 
§ 3º. Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, 
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos 
crimes é cometido: 
I – contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro; 
II – contra funcionário público, em razão de suas funções; 
III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da 
difamação ou da injúria: 
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no 
caso de injúria. 
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, 
aplica-se a pena em dobro. 
 
 
 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 24 
 
Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível: 
I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; 
II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica,salvo quando 
inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; 
III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou 
informação que preste no cumprimento de dever do ofício. 
Parágrafo único. Nos casos dos n. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem 
lhe dá publicidade. 
Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da 
difamação, fica isento de pena. 
Parágrafo único. Nos caso em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação 
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o 
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa. 
Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, 
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las 
ou, a critério do juiz, não a dá satisfatórias, responde pela ofensa. 
Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo 
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal. 
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do 
inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso 
do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código. 
 
Conceito de honra: É o conjunto de atributos morais, éticos, de honestidade, 
respeitabilidade, que tornam alguém bem conceituado socialmente. Honra objetiva é o 
julgamento que a sociedade faz do cidadão, ou seja, a imagem que ele desfruta no meio 
social. Honra subjetiva é o conceito que o cidadão tem de si mesmo, ou seja, é um 
sentimento de autoestima, de autoimagem. Honra comum é aquela inerente a todo cidadão, 
enquanto honra especial é a relativa a certos grupos sociais ou a determinados indivíduos, 
relacionada às atividades exercidas. Chamar por exemplo, um médico-cirurgião de 
“açougueiro” é atentar contra a honra especial, enquanto chamar alguém de “burro”, é 
ofender a honra comum. 
 
A calúnia – Art. 138/CP: Constitui-se na atribuição falsa a alguém de um fato definido 
como crime. Ofende a honra objetiva, pois fere a honorabilidade da pessoa perante a 
comunidade. Não é exigido rigor técnico na imputação, contudo, dizer que alguém é 
“ladrão” ou “estelionatário” caracteriza-se em injúria e não calúnia, assim como atribuir a 
alguém a prática de uma contravenção penal é difamação. 
 
Sujeitos do delito: Os sujeitos do delito podem ser quaisquer pessoas, havendo inclusive a 
possibilidade dos mortos serem sujeitos passivos, porquanto se leva em consideração a 
memória e o respeito devido aos mesmos. Também as pessoas “desonradas” podem figurar 
no pólo passivo do crime, vez que, em princípio, não existem pessoas totalmente 
desonradas, portanto, num determinado contexto, aqueles que desonrados podem ser 
sujeitos passivos da calúnia. 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 25 
 
A pessoa jurídica: Discute-se se pode a pessoa jurídica ser sujeito passivo do crime de 
calúnia. A princípio, impossível a hipótese, muito embora exista corrente defendendo da 
possibilidade, face entendimento onde admitida a responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
Diferente no caso de difamação, onde a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo. 
 
A falsidade da imputação e o elemento subjetivo: Na redação típica, necessário que o 
fato criminoso imputado seja falso, havendo o agente que ter consciência dessa falsidade, 
contudo, autores acreditam que estando o agente na dúvida quando a falsidade, o crime 
pode ser caracterizado (HUNGRIA). Quanto ao elemento subjetivo, a corrente majoritária é 
no sentido de exigir o dolo específico, ou seja, a vontade livre, consciente e especial de 
macular a honra alheia, atribuindo-lhe fato criminoso, o chamado animus caluniandi. O 
denominado animus jocandi, ou seja, a brincadeira de péssimo gosto no dizer da pessoa 
alheia, para a corrente majoritária, não caracteriza o crime. 
 
A classificação e a consumação: Trata-se a calúnia de crime comum, comissivo, 
caracterizado numa ação positiva, sendo admitida a tentativa se praticado em dois ou mais 
atos. Pune-se ainda a calúnia, se ela é propalada, divulgada. A consumação ocorre quando 
terceiro toma conhecimento da imputação, portanto, bastará que uma única pessoa tome 
conhecimento da imputação, daí, ferir a honra objetiva. 
 
A exceção da verdade: Trata-se de incidente processual, merecendo, portanto, solução 
antes da decisão da causa ser proferida. Caracteriza-se em forma de defesa indireta, através 
da qual o agente demonstra sua pretensão de provar a veracidade da imputação. 
 
Vedações à exceptio veritatis – Art. 138, § 3º: Não pode o querelado ou réu intentar a 
exceção da verdade quando o fato imputado à vítima (querelante) constitua crime cuja ação 
penal é de iniciativa privada. Tome-se o exemplo: João imputa a Joaquim ter chamado 
Manoel de “ladrão, vigarista” e “corno”. Manoel entende por não processar Joaquim por 
injúria. No caso, Joaquim processando João por calúnia, não pode este último pretender a 
exceção da verdade. Também não se admite a exceção, quando a calúnia envolve o 
Presidente da República ou chefe de Governo estrangeiro. Visa-se aqui, não a proteção da 
pessoa do Presidente, mais sim, do cargo. Finalmente, não pode haver exceção da verdade, 
quando pelo crime imputado, de ação penal pública, já houve absolvição em sentença 
irrecorrível. Por exemplo: O mesmo João agora atribui a Joaquim a prática de um 
homicídio anos atrás, contudo, levado a julgamento na época, Joaquim foi absolvido, tendo 
a sentença transitada em julgado. Não pode João pretender a exceção da verdade caso seja 
processado por calúnia por Joaquim. 
 
A difamação – Art. 139/CP: Consiste a difamação na atribuição a alguém de fato ofensivo 
à reputação. É crime que atenta contra a honra objetiva, pois fere a respeitabilidade 
desfrutada pela vítima perante o meio social. Diferentemente da calúnia, aqui o fato 
imputado não se caracteriza como criminoso, tampouco necessário que seja falso, bastando 
que seja ofensivo à reputação. 
 
 
 
 
Eduardo Queiroz de Mello 26 
 
Sujeitos do delito: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, contudo, o sujeito passivo há 
de ser pessoa determinada, na medida em que o fato ofensivo imputado deve ser concreto, 
determinado. Em princípio, os menores e doentes mentais podem ser sujeitos passivos da 
difamação, assim também a pessoa jurídica, vez que possui reputação, que pode ser 
denegrida ante a imputação de fatos desabonadores. 
 
Elemento subjetivo: Caracteriza-se na vontade livre e consciente de atentar contra a 
reputação alheia, atribuindo-lhe fato desabonador. É o chamado dolo específico, ou seja, o 
animus diffamandi, exigindo-se, portanto, um fim especial de agir. Não há crime, se o 
agente atua p. ex., com animus jocandi, ou mesmo, se o agente age em estado de exaltação 
emocional ou durante discussão verbal. 
 
Consumação e tentativa: Consuma-se o crime no momento em que terceiro toma 
conhecimento da imputação, e por conta disso, fere a chamada honra objetiva. Não há 
possibilidade de tentativa, se perpetrada a difamação pela forma oral, vez que não há como 
ser a ação fracionada, contudo, se por escrito, é perfeitamente possível, bastando imaginar o 
agente que prepara folhetos difamatórios contra alguém, estando prestes a fazer a 
distribuição ou quando vai erguer um cartaz ofensivo, sendo então interceptado ou 
impedido. Por certo, houve início da realização do tipo penal, que não se integralizou por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 
A exceção da verdade – Art. 139, § único: Por não importar na difamação que o fato 
imputado sejafalso ou verdadeiro, não se admite em regra a exceptio veritatis, contudo, ela 
se apresenta possível quando a ofensa for contra funcionário público, desde que a ofensa 
guarde relação direta com a atividade funcional do ofendido. 
 
A injúria – Art. 140/CP: Ao contrário da calúnia e da difamação, onde a ofensa constitui-
se na imputação de fato (criminoso ou ofensivo à reputação, respectivamente), na injúria 
tem-se uma adjetivação, ou mesmo uma atitude, caracterizadas pela manifestação de 
menosprezo do agente em relação à vítima. Atenta contra a denominada honra subjetiva. 
 
Modos de injuriar: 1. imediata – quando proferida pelo próprio agente; 2. mediata – 
quando usada uma terceira pessoa para ofender (p. ex., uma criança); 3. direta – quando 
atenta contra o próprio ofendido; 4. oblíqua ou reflexa – quando além do ofendido atinge-se 
terceiro; 5. simbólica – quando, no ofender, usa-se de objetos, como no caso de dar-se o 
nome de alguém a um animal, ou quando, p. ex., se despreza ou ignora um gesto amistoso 
(deixar alguém com o braço estendido, recusando o aperto de mão). 
 
Dignidade e decoro: Embora não tendo maior importância, há diferença entre dignidade e 
decoro, sendo a primeira, o sentimento de respeitabilidade ou amor próprio, enquanto o 
segundo diz respeito ao mesmo sentimento de respeitabilidade, contudo, vinculado aos 
atributos morais, de postura. 
 
Sujeitos do delito: Os sujeitos do delito da injúria podem ser quaisquer pessoas, contudo, 
exige-se do sujeito passivo capacidade de compreensão da adjetivação vilipendiosa ou do 
desrespeito ofensivo, de modo que é importante se aferir no caso concreto se, p. ex., os 
doentes mentais e as crianças podem ser sujeitos passivos do crime. 
Eduardo Queiroz de Mello 27 
 
Elemento subjetivo: Tal qual na calúnia e na difamação, também na injúria o elemento 
subjetivo há de ser o dolo específico, consistente na vontade livre, consciente e especial de 
macular a honra alheia, o chamado animus injuriandi. Se o agente age com animus jocandi 
ou narrandi, não há crime. 
 
Consumação e tentativa: A injúria consuma-se quando o ofendido toma conhecimento da 
ofensa, sendo irrelevante que venha a se sentir ofendido, bastando ter a ofensa idoneidade 
para macular a honorabilidade. Não precisando ser praticada na frente do ofendido, basta 
que chegue ao seu conhecimento para efeitos da consumação. Admite tentativa somente na 
forma escrita, onde poderá haver um fracionamento da ação. 
 
O perdão judicial na injúria – Art. 140, § 1º: Pode o juiz deixar de aplicar a pena, 
concedendo o perdão judicial, causa extintiva da punibilidade, nos casos de: 1. provocação 
reprovável da vítima, e, 2. retorsão imediata que consista em outra injúria. No 
primeiro caso, assemelha-se à violenta emoção, seguida de injusta provocação da vítima. A 
provocação pode consistir num fato criminoso ou inadequado, não revestido de tipicidade e 
ilicitude. A retorsão imediata caracteriza-se pela troca mútua de insultos, justificando-se o 
perdão pelo ditado “chumbo trocado não dói”. 
 
A injúria qualificada – Art. 140, §§ 2º e 3º: 1. violência ou vias de fato – Pode a injúria 
consistir em violência ou vias de fato, que por sua natureza ou pelo meio empregado são 
considerados aviltantes. No caso, o agente no intuito de infamar, humilhar excessivamente 
a vítima, emprega de violência (bofetada no rosto), ou vias de fato (puxões de orelha, 
cabelo, cusparada, leves tapas em certas partes do corpo). Se da violência derivar lesões 
corporais, responde o agente pelo resultado mais grave em concurso com injúria real. Se 
forem apenas vias de fato, esta é absorvida pela injúria qualificada; 2. injúria racial – Com 
redação determinada pela Lei 10.741, de 01/10/2003, caracteriza-se em injúria qualificada o 
dirigir-se a alguém com argumentos ou palavras de conteúdo pejorativo atinentes a raça, 
cor, etnia, religião ou origem. Visou-se punir aqueles que ofendem outros com insultos de 
forte conteúdo discriminatório. É diferente, portanto, dos crimes resultantes de preconceitos 
de raça e de cor (Lei 7.716, de 05/01/1989), como no caso, p. ex., de racismo, onde o 
objetivo do agente é sempre a segregação; 3. injúria contra idoso e deficiente - 
Caracteriza injúria qualificada a ofensa praticada contra pessoa idosa ou portadora de 
deficiência. 
 
Exclusão do crime – Art. 142/CP: Não constitui injúria ou difamação quando – 1. A 
ofensa for irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou procuradores. Tem-
se aqui a chamada imunidade judiciária, prevista na Constituição Federal e no Estatuto da 
Advocacia e da OAB. Necessário, entretanto, que a ofensa se dê em juízo (alegações orais 
ou escritas, audiência, etc.), devendo ter nexo com a discussão da causa, e que seja 
proferida pelas partes (litigantes, membro do Ministério Público, ao entendimento de que 
parte processual) ou pelos procuradores. O entendimento majoritário é de que a ofensa a 
juiz não é alcançada pela imunidade. 2. Também não constitui injúria ou difamação a 
opinião desfavorável de crítica literária, artística ou científica. Ancora-se a eximente na 
liberdade de expressão (imunidade crítica) e no risco de sujeitar-se à crítica todo aquele que 
expõe seu trabalho. Entretanto, necessário que não haja a inequívoca intenção de injuriar ou 
difamar, podendo a crítica ser dura, ferina. “Não comete crime se o crítico diz que o livro 
Eduardo Queiroz de Mello 28 
 
revela a “ignorância” do autor, contudo, há crime se diz que a obra mostra ‘um notório 
plagiário’” (HUNGRIA). 3. Também não há crime de injúria ou de difamação em face 
da imunidade funcional, caracterizada pelo conceito desfavorável de funcionário 
público no cumprimento do dever de ofício. Ao funcionário público é permitido emitir 
parecer onde extravasada opinião negativa a respeito de alguém. Não fosse essa imunidade, 
não poderia, p. ex., o delegado de polícia, no relatório que encerra o inquérito policial, 
manifestar-se desfavoravelmente sobre os antecedentes do indiciado. 
 
Retratação e ação penal nos crimes contra a honra – Art. 143, § único e Art. 145/CP: 
Na calúnia e na difamação é possível a retratação, desde que feita antes da sentença. É 
causa extintiva da punibilidade expressa no art. 107/CP. Entretanto, para ser válida, tem 
que ser “cabal”, ou seja, irrestrita, de forma a restituir a honra ofendida ao estado anterior à 
ofensa. Sua validade independe da aceitação do ofendido. Se praticado os crimes através de 
meios de comunicação, a retratação se dará, se for a vontade do ofendido, pelos mesmos 
meios em que se praticou a ofensa. No tocante à ação penal, em regra nos crimes contra a 
honra, ela é de iniciativa privada. Contudo, na injúria qualificada onde da violência 
empregada resulta lesão corporal tem-se das seguintes hipóteses: 1. se lesões graves ou 
gravíssimas, a ação penal é pública incondicionada; se lesões leves, a ação penal é pública 
condicionada à representação; 2. dependerá a ação penal de requisição do Ministro da 
Justiça, se os crimes forem praticados contra o Presidente da República ou chefe de 
Governo estrangeiro, e de representação do ofendido, se praticados contra funcionário 
público no exercício de suas funções; 3. também será condicionada à representação a 
injúria consistente em elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem, e contra 
idoso ou portador de deficiência. 
 
Do pedido de explicações – Art. 144/CP: Nos crimes contra a honra, é prevista a chamada 
interpelação judicial, onde o ofendido pode solicitar sejam dadas explicações em Juízo 
acerca das ofensas. Não é uma preliminar para o efeito de ajuizar-se a ação penal, pois pode 
esta ser interposta independentemente da interpelação. Ocorre que,

Continue navegando