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Resumo - Direito Penal I - Retirado da obra de Cláudio Brandão

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Prévia do material em texto

Faculdade Mineira de Direito – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Apostila de Direito Penal – Parte Geral – Arts. 1º. ao 120 – Neuler Junior
APOSTILA DE DIREITO PENAL
PARTE GERAL (ARTS. 1º. AO 120)
FACULDADE MINEIRA DE DIREITO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
NEULER JUNIOR – NEULERJUNIOR@HOTMAIL.COM
Apresentação
	Esta é uma apostila/compilação feita por Neuler Junior para complementação do estudo das disciplinas de Direito Penal I e II, da Faculdade Mineira de Direito – PUC MINAS.[2: O conteúdo da apostila é mera compilação e não conteúdo original.][3: Graduando da Faculdade Mineira de Direito – PUC Minas e monitor de Direito Penal no ano de 2018.]
	Pretende-se fazer a abordagem dos tópicos propostos nos planos de ensino das mencionadas disciplinas, com base nos ensinamentos de Cláudio Brandão, Cézar Roberto Bitencourt, Rogério Greco e Guilherme de Souza Nucci.[4: Brandão, Cláudio. Teoria jurídica do crime. 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2015.][5: Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 17. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012.][6: Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I. 19. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.][7: Nucci, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120 do Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017.]
	Alerta-se, com ênfase, o estudante, no sentido de que a apostila serve para apoiar o estudo da disciplina, mas não fornece a profundidade do estudo disposto nos livros dos grandes autores. Assim, espera-se que o estudante faça bom uso do conteúdo aqui disponível, mas que o ultrapasse, buscando a compreensão mais profunda do Direito Penal fornecida pelos bons manuais dos bons autores.
	Sobre os autores utilizados para embasar a elaboração desta apostila, temos que todos são grandes autores, indicados como bibliografia básica e complementar por nossa Faculdade, e alcançam todos o fim a que se propuseram: ensinar o Direito Penal. Por uma questão de preferência pessoal, no entanto, o esquema-geral desta apostila se disporá principalmente baseado livro de Cláudio Brandão, principalmente relativamente ao estudo da teoria do crime, professor do qual fui aluno quando cursando as disciplinas. Cabe a cada aluno buscar dentre os autores disponíveis (que não se limitam aos aqui mencionados, destaque-se) aquele cuja metodologia melhor lhe apetece, ou seja, aquele com o qual aprende mais facilmente determinado conteúdo.
1. Noções introdutórias
1.1. Conceito de Direito Penal
	Antes de qualquer coisa, o que é Direito Penal?
	Se em um tempo passado aqueles que detinham o controle do Estado usavam de sua força indiscriminadamente e arbitrariamente contra aqueles que quisessem, o desenvolvimento da civilização e da própria concepção de sociedade e Estado fez surgir regras para a regulamentação do uso dessa força. Essas regras que ditam as circunstâncias sob as quais poderá o Estado utilizar da violência formam o Direito Penal. 
Diz-nos Guilherme de Souza Nucci que Direito Penal é o “corpo de normas jurídicas voltado a fixação dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações penais e as sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação”.
	 Neste sentido, pode-se afirmar que o Direito Penal é a proteção do indivíduo contra o poder de violência do Estado. A legitimidade do uso da força estatal contra uma pessoa está diretamente condicionada a observância das regras que compõem o Direito Penal.
1.2. Código Penal brasileiro
	O Código Penal brasileiro é de 1940, com inúmeras modificações pontuais. A maior reforma por ele sofrida ocorreu por conta da Lei 7.209/84, cuidando da Parte Geral. Várias outras modificações introduziram crimes, bem como revogaram outros, considerados antiquados.
	O nosso atual Código é composto por duas partes: geral (arts. 1º ao 120) e especial (arts. 121 ao 361).
	Na segunda parte, a especial, estão previstos os crimes – também denominados na ciência penal como tipos penais ou figuras típicas. Na Parte Geral do Código estão dispostas normas gerais de interpretação e aplicação do Direito Penal quando ocorrer um crime previsto na Parte Especial.
	Na Faculdade Mineira de Direito – PUC Minas, estuda-se em Direito Penal I e II a Parte Geral do Código, em Direito Penal III e IV a Parte Especial e em Direito Penal V a legislação especial (crimes ambientais, Lei de Tóxicos, etc.).
	Isso posto, iniciemos o estudo da disciplina em si.
2. Início da Parte Geral, regras e princípios gerais
	Antes de adentrar ou fazer qualquer menção à estrutura ou conceito de crime, estão previstas regras gerais e princípios que nortearão a aplicação do Direito Penal. É o que passamos a abordar, pois.
2.1. Princípio da legalidade
	Não raro acontece de se ouvir dizer que o Direito Penal é o ramo do Direito em que a legalidade mais impera, no qual se aplica mais rigidamente a letra da lei. Tal afirmação é verdadeira.
	Conforme já abordado, o Direito Penal é a proteção do indivíduo contra o poder de punir do Estado – contra a possibilidade de o Estado usar sua força para tomar a liberdade do indivíduo. O é porque regulamenta as circunstâncias necessárias para que seja possível ao Estado fazê-lo.
	Neste sentido, é importante que se imponha àquele que interpreta e aplica a lei penal – aquele que determina o uso da força estatal – limitações seguras e sólidas, para afastar arbitrariedades. Tal limitação se dá principalmente pela letra da lei.
	É o primeiro artigo do Código Penal brasileiro que proclama:
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
	Dessa forma, a aplicação da sanção penal – da violência, privação de liberdade – em virtude do cometimento de um crime só pode ocorrer se aquele crime era previsto em lei como tal antes da conduta que se incrimina. Em termos práticos, se Mévio pratica a conduta X em 02/12/2017 e tal conduta passa a ser crime em 03/12/2017, não pode de forma alguma ser punido por tal conduta, uma vez que, no momento que a praticou, não era crime.
	Leciona Cézar Roberto Bitencourt que “pelo princípio da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida”.
2.2. Retroatividade da Lei Penal
	Conforme acabamos de abordar, é regra geral que lei penal nova não pode incriminar fato passado – nesse sentido, afirma-se que a Lei penal não pode retroagir, é o princípio da irretroatividade da Lei penal.
	No entanto, tal princípio vigora no sentido de proporcionar segurança ao indivíduo, de garantir sua liberdade. É aplicável, portanto, quando a lei nova prejudica o indivíduo objeto da lei penal.
	Se a nova lei penal, ao contrário, beneficia o indivíduo, ela há sim de retroagir, por força do art. 2 do Código Penal Brasileiro, vejamos:
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória; 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
	Destarte, utilizando o mesmo exemplo há pouco mencionado, se Mévio pratica a conduta X, que é crime, em 03/12/2017, mas no dia 04/12/2017 passa a vigorar uma nova lei que descriminaliza aquela conduta, esta nova lei há de retroagir para beneficiá-lo. Dessa forma, Mévio não seria punido pela conduta.
	Sobre o assunto, diz Bitencourt que “toda lei penal, seja de natureza processual, seja de natureza material, que, de alguma forma, amplie as garantias de liberdade do indivíduo, reduza as proibições e, por extensão, as consequências negativas do crime, seja ampliando o campo da licitude penal, sejaabolindo tipos penais, seja refletindo nas excludentes de criminalidade ou mesmo nas dirimentes de culpabilidade, é considerada lei mais benigna, digna de receber, quando for o caso, os atributos da retroatividade”.
2.3. Leis intermitentes
	Instituído está no artigo 3º do Código Penal que
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
	“Considera-se temporária a lei quando esta traz expressamente em seu texto o dia do início, bem como o do término de sua vigência”, é o que ensina Rogério Greco, citando como exemplo a Lei nº 12.663, de 5 de junho de 2012, que dispôs sobre as medidas relativas à Copa das Confederações, FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e aos eventos relacionados, que foram realizados no Brasil.
	Continua, dizendo que “excepcional é aquela editada em virtude de situações também excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da aludida situação que levou à edição do diploma legal”, apresentando como exemplo as leis editadas buscando regular fatos ocorridos durante o estado de guerra ou mesmo calamidade pública.
2.4. Tempo do crime
	Diante das normas abordadas nos subcapítulos anteriores, é importante que exista uma norma penal para regulamentar em que tempo se considera que o crime ocorreu. As teorias sobre o tempo do crime se dividem em (i) teoria da atividade, segundo a qual o momento do crime seria o da ação ou omissão; (ii) teoria do resultado, para a qual o tempo do crime seria o momento do resultado criminoso e (iii) teoria mista, segundo a qual o tempo do crime seria tanto o da ação quanto o do resultado. O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade, é o que se depreende da leitura do art. 4º:
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
	Exemplificativamente, se Mévio, no dia 23/11/2017 arma uma bomba programada para explodir no dia 01/12/2017, para que tivesse bastante tempo para fugir, considera-se que cometeu o crime em 23/11/2017, pois foi o momento da ação – apesar de ter sido outro o momento do resultado.
2.5. Lugar do crime e princípio da territorialidade
	Mais do que o tempo do crime, deve o estudante de Direito Penal compreender de que maneira se determina com precisão o lugar em que se considera cometido o crime. As teorias que disputam o tratamento do lugar do crime no Direito Penal brasileiro são (i) teoria da atividade, segundo a qual considera-se o lugar do crime o local em que a ação ou a omissão foi praticada; a (ii) teoria do resultado, segundo a qual o crime é cometido no local em que se dá seus resultados e (iii) teoria mista, que adota as duas posições anteriores, aduzindo que o lugar do crime será o da ação ou da omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir o resultado.
	Nosso Código Penal adotou a teoria mista, conforme se verifica no
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
	A adoção da teoria mista resolve o problema relacionado aos crimes à distância. Em exemplo, suponhamos que El Caio Hermano, cidadão argentino, enviasse uma carta bomba tendo como vítima Tício, cidadão brasileiro aqui residente.
	A carta bomba chega ao destino e, assim que Tício a abre, El Caio detona o seu mecanismo de funcionamento, explodindo-a. Se adotada no Brasil a teoria da atividade e na Argentina a teoria do resultado, El Caio Hermano ficaria impune. Neste sentido, a adoção da teoria mista resolve problemas de Direito Penal Internacional. Ensina Rogério Greco que “ela não se destina à definição de competência interna, mas, sim, à determinação da competência da Justiça brasileira”.
	 Sabendo como se dá a determinação do lugar do crime, passamos ao estudo do princípio da territorialidade. Segundo Bitencourt, “pelo princípio da territorialidade, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado. A lei brasileira adota essa diretriz como regra geral, ainda que de forma atenuada ou temperada, uma vez que ressalva a validade de convenções, tratados e regras internacionais”. É o conteúdo do art. 5º:
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
	São claros os adendos feitos pelos parágrafos primeiro e segundo do referido artigo, dispensando comentários.
2.6. Princípio da extraterritorialidade
	“Ao contrário do princípio da territorialidade, cuja regra geral é a aplicação da lei brasileira àqueles que praticarem infrações penais dentro do território nacional, incluídos aqui os casos considerados fictamente como sua extensão, o princípio da extraterritorialidade preocupa-se com a aplicação da lei brasileira às infrações penais cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros”, ensina Rogério Greco.
	Continua a lição, dividindo a extraterritorialidade em incondicionada e condicionada: “a extraterritorialidade incondicionada, indica o próprio nome, é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro, sem que, para tanto, seja necessário o concurso de qualquer condição”. São as hipóteses previstas no inciso I do art. 7º do Código Penal:
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
	Em qualquer das hipóteses acima constantes o agente será punido de acordo com o que determina a lei brasileira, independentemente de condenação ou absolvição estrangeira. Em caso de condenação, aplica-se a regra prevista no art. 8º do Código Penal:
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
 	Diz Rogério Greco que “no que diz respeito ao crime de genocídio, deve ser ressalvada, ainda, a jurisdição do Tribunal Penal Internacional”.
	A outra modalidade de extraterritorialidade, a condicionada, por sua vez, encontra-se disposta no inciso II do art. 7º, constando do § 2º as condições para aplicação da lei brasileira:
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
...
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autorizaa extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
	Ainda há o § 3º, que assim dispõe:
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Relativamente à eficácia da sentença estrangeira no Brasil, dispõe o art. 9º:
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;    
II - sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende:  
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.
	Compete ao Superior Tribunal de Justiça a homologação das sentenças estrangeiras.  
2.7. Contagem de prazo
	Sobre a contagem de prazo, estabelecido está no Código Penal que
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.
	O Código de Processo Penal, no entanto, estabelece que
Art. 798.  ...
§ 1o  Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
	Surge, destarte, conflito aparente de normas, uma vez que o Código Penal estabelece método de cômputo do prazo diverso do método previsto no Código de Processo Penal. Em razão deste conflito aparente surge a distinção entre o prazo penal e o prazo processual penal. Todos os prazos, como regra geral, que digam respeito ao normal andamento do processo deverão ter essa natureza, ou seja, considerados processuais, a exemplo do prazo concedido ao Ministério Público para oferecimento da denúncia, bem como aqueles destinados à resposta do réu, às alegações finais etc. 
Há prazos, contudo, que dizem respeito diretamente ao direito de liberdade dos cidadãos. Esses prazos, pela sua natureza, deverão ser considerados prazos penais, a exemplo da decadência (estudada em Direito Penal II – mais a frente nesta apostila), do período de sei meses, para apresentação da representação ou oferecimento da queixa em juízo, do cumprimento da pena, da prescrição etc.
2.8. Frações não computáveis da pena e legislação especial
	Para finalizarmos a abordagem dos artigos iniciais do Código Penal, que contêm regras e princípios gerais para aplicação da lei penal e iniciarmos o estudo do crime em sua estrutura, é suficiente leitura sucinta dos arts. 11 e 12 do Código Penal, que dispõem sobre a desconsideração das frações pequenas da pena e a aplicabilidade das regras gerais deste Código a crimes previstos em lei especial, respectivamente:
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.
3. Conceitos de crime
	A partir deste momento passamos a estudar o crime em sua estrutura. Estudaremos, portanto, introdutoriamente, os conceitos de crime, até chegarmos no conceito analítico de crime, o atualmente adotado no Direito Penal brasileiro, explorando seus elementos, nos dedicando a estudo minucioso de sua estruturação.
	Antes de qualquer coisa, por que é tão importante compreender o conceito de crime? Porque o crime é o objeto da nossa disciplina, o Direito Penal lida com crimes, os denominados “tipos penais”. É através dele que se legitima a aplicação, por parte do Estado, da sanção mais rigorosa possível: a pena. Destarte, o conceito de crime ditará o caminho a ser percorrido, a análise a ser feita, antes da aplicação da privação da liberdade de alguém.
3.1. Escola Positiva
	Da Escola Positiva, que se desenvolveu nos séculos XIX e XX, é que surgiram as primeiras definições de crime. Trataram-se, no entanto, de definições não pertencentes à ciência jurídica, mas sim à ciência criminológica, que estuda as causas do comportamento antissocial do homem, com base na psicologia e na sociologia. Assim, os estudiosos da Escola Positiva punham ênfase não à norma, mas nos dados colhidos pela observação controlada dos fatos.
	A Escola Positiva possuiu três expoentes: Lombroso, Garofalo e Ferri. Lombroso, criador da teoria do atavismo, desenvolveu estudos sobre o criminoso, mas não se preocupou com o estudo do crime em si.
3.1.1. Lombroso
	Na teoria do atavismo criminal, Lombroso, no anseio de buscar as motivações das práticas criminosas, concentrou-se no estudo da essência do criminoso, desenvolvendo uma extensa pesquisa empírica de trações físicos e mentais com indivíduos encarcerados, doentes mentais e soldados. Considerando tais elementos, a pesquisa de Lombroso estabeleceu esses traços em “estigmas” passíveis de determinação de um potencial delitivo. Ou seja, como conclusão de sua pesquisa, apontou traços físicos e psicológicos comuns nos criminosos, acreditando que pela verificação de tais traços seria possível saber quais indivíduos teriam tendência ao crime. 
Mais tarde verificou-se que os traços percebidos por Lombroso se davam em virtude de circunstâncias em comum enfrentadas pelos criminosos. Por exemplo, a palidez da pele se dava em razão de serem mantidos presos sem a exposição à luz solar, a disposição da cela os deixavam corcundas, etc. Dessa forma, a ciência criminológica se desenvolveu de forma a postular que não é possível traçar um “perfil criminoso”, que não é possível prever quem cometerá crimes.
3.1.2. Garofalo
	Garofalo, diferentemente, dedicou-se ao estudo do crime. Este chegou ao entendimento crime era o atentado aos sentimentos altruístas de piedade e probidade. O homicídio, por exemplo, seria um atentado ao sentimento de piedade, enquanto o roubo um atentado ao sentimento de probidade.
	É uma definição que tem grande valor histórico, mas não serve ao Direito Penal brasileiro. Afirma Cláudio Brandão que “Garofalo peca ao associar a ideia de crime à vaga noção de sentimento”, e nos lembra que, inclusive, há em nosso país muitos crimes que não são atentados aos sentimentos de piedade e probidade, citando como exemplo o crime de registrar como seu o filho de outrem.
3.1.2. Ferri
	Outra tentativa de definir o delito à luz da Escola Positiva foi desenvolvida por Ferri. Para ele, o crime seria uma ação movida por motivos egoísticos e antissociais que viola a moralidade média de um povo em um dado momento.
	Afirma Cláudio Brandão que o conceito de Ferri também é insustentável pela ambiguidade da expressão “moralidade média”, e aponta exemplo de crimes que não são movidos por motivos egoísticos ou antissociais, como o homicídio piedoso ou eutanásia, que é um crime que tem uma especial causa de diminuição de pena por ser uma ação cometida com relevante valor moral – o contrário de egoístico. Assim sendo, esta definição também não se adequa ao ordenamento jurídico brasileiro, apesar de sua importância histórica.
3.2. Conceitos material e formal de crime
	Os conceitos da Escola Positiva são, para nosso estudo, inadequados porque o método utilizado por seus autores não é o método do Direito Penal. O método de nossa disciplina deve buscar investigar o crime à luz das normas.
	A norma é composta por um preceito e um conteúdo. Preceito é o mesmo que determinação, que ordem. O conteúdo da norma é seu objeto, o bem jurídico tutelado: o que ela protege.
	No tipo penal do homicídio, por exemplo
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
	Preceito ou determinação é a conduta (matar alguém). O conteúdo é o bem jurídico vida (valortutelado).
	Podemos definir o crime dando ênfase ao preceito ou ao conteúdo da norma. O conceito de crime que dá ênfase ao conteúda da norma é chamado de conceito material; o que dá ênfase ao preceito é chamado de conceito formal de crime.
3.2.1. Conceito material de crime
	Materialmente, o crime é definido como violação ou exposição a perigo do bem jurídico.
	O bem jurídico é o conteúdo material do crime, traduzido no valor tutelado pelo direito.
3.2.2. Conceito formal de crime
	Mais complexo é o conceito formal de crime.
	O Código Penal evitou dar o conceito de crime, cabendo então à doutrina desenvolvê-lo – tarefa que não pode ser feita à margem da lei; deve-se desenvolvê-lo de acordo com os elementos presentes no Código.
	Formalmente, crime é uma conduta típica, antijurídica cometida por um agente culpável.
	Percebe-se, pelo conceito acima exposto, que três elementos compõem o conceito formal ou analítico de crime: tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.
	Como já dito, a definição de crime importa pois estabelecerá o método a ser seguido para se verificar se um crime foi ou não cometido. Primeiro se verifica se a conduta é típica, se não é, não há crime. Se é, buscará o aplicador da lei saber se a conduta é antijurídica: não o sendo, não há crime; sendo, deve investigar se o agente que a cometeu é culpável. O sendo, verificada está a ocorrência de um crime, levando a aplicação da pena a este cominada, nos moldes previstos pela legislação.
	Façamos uma rápida abordagem dos conceitos de cada um dos elementos que compõem a definição acima exposta, salientando que cada elemento será mais profundamente estudado conforme se avança do estudo da disciplina.
3.2.2.1. Conceito de tipicidade
	Conceitualmente, tipicidade é a adequação entre a ação humana e a conduta descrita como crime.
É o primeiro elemento geral do crime e deriva do Princípio da Legalidade. Se é necessário que uma conduta criminosa esteja prevista em lei, é também necessário que a ação humana esteja perfeitamente adequada ao modelo de comportamento descrito na lei. Essa adequação é chamada de tipicidade.
	Ou seja, a análise da adequação de uma conduta de uma determinada pessoa à conduta prevista na lei como crime, é a análise da tipicidade. 
	Imaginemos a ocorrência de uma confusão e Caio dispara seu revólver contra Tício com o intento de matá-lo, vindo a atingi-lo e este, em decorrência do tiro, vem a óbito. Neste caso, analisar-se-ia se a conduta de Caio se adequa a algum tipo penal, algum crime, previsto na Parte Especial do Código Penal. Com a análise, perceber-se-ia que a conduta de Caio se amolda àquela prevista no art. 121, qual seja, “matar alguém”. À adequação da conduta à norma penal, conforme já dito, dá-se o nome de tipicidade, primeiro elemento do crime.
Pode, porém, uma conduta típica não atentar contra o ordenamento jurídico, ou seja, não ser antijurídica. É o segundo elemento do crime, analisado depois da tipicidade.
3.2.2.2. Conceito de antijuridicidade
	A antijuridicidade é a qualificação de uma conduta típica como contrária ao Direito.
	Quando o Direito tipifica uma conduta humana é porque ele não quer que a mesma se realize – por isso se imputa uma pena à realização destas condutas. Portanto, toda ação típica é, em regra, contrária ao Direito – antijurídica. Porém, no Código Penal estão previstas hipóteses que justificarão a realização de uma conduta típica. Tais condutas não são, portanto, contrárias ao Direito (não são antijurídicas), apesar de típicas.
	Estas hipóteses serão estudadas com mais profundidade quando do estudo mais aprofundado da antijuridicidade, mas por hora, saibamos que a legítima defesa é uma hipótese de exclusão da antijuridicidade, e usemos o mesmo exemplo há pouco passado.
	Imaginemos que Caio disparou contra Tício no intento de matá-lo, mas não o atinge; que logo em seguida entram ambos em luta corporal e Tício, conseguindo com dificuldades manejar o revólver na mão de Caio, consegue disparar um tiro acertando Caio com próprio revólver, matando-o para salvar sua vida.
	A conduta de Tício é típica. O art. 121 do Código Penal prevê como crime a conduta de “matar alguém”, e Tício matou Caio. Porém, o fez em legítima defesa, o fez para salvar sua própria vida. A conduta de Caio não, desta forma, contrária ao Direito – todos têm o direito de se defender. Tício agiu em legítima defesa, que é uma causa de exclusão da antijuridicidade, conforme se estudará mais adiante. Sua conduta, apesar de ser típica, não é antijurídica. Não há, dessa forma, crime.
	Se o caso fosse diferente e da análise verificar-se que a conduta típica é também antijurídica, prossegue-se na análise do crime, passando para o juízo de culpabilidade do agente.
3.2.2.3. Conceito de culpabilidade
	Culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal, feito a um autor de um fato típico e antijurídico porque, podendo se comportar conforme o Direito, optou livremente por se comportar contrário ao Direito.
	Deste conceito, é possível fazer vários destaques. Primeiro, percebam que enquanto a tipicidade e a antijuridicidade são análises feitas sobre a conduta, a culpabilidade é uma análise feita sobre a pessoa que realizou uma conduta típica e antijurídica. A culpabilidade é um juízo de reprovação sobre a pessoa.
	A razão da reprovação se dá porque a pessoa, tendo condições físicas e psicológicas para se comportar conforme o Direito determina, escolheu livre e conscientemente violá-lo.
	Haverá casos, no entanto, em que a análise da culpabilidade não resulta em um juízo de reprovação, pois o agente, apesar de ter cometido uma ação típica e antijurídica, não podia se comportar conforme o Direito. 
Saibamos, em adiantamento para fins didáticos de compreensão do conceito de culpabilidade, que não são considerados culpáveis os menores de dezoito anos.
Imaginemos, então, que uma criança de 12 anos dispara um revólver contra outra pessoa, que vem a óbito. A conduta é típica, pois se adequa ao art. 121 (“matar alguém”) e é antijurídica pois não se trata de hipótese de exclusão de antijuridicidade. Porém, o agente não é culpável. Assim sendo, não há crime pois não se verificou a presença do terceiro elemento do conceito: a culpabilidade.
Para encerramento do capítulo, repitamos o conceito formal/analítico de crime para que fique bem fixado: crime é uma conduta típica e antijurídica cometida por um agente culpável.
3.2.2.4. Esquema
	Elaboraremos, gradativamente, conforme avança nosso estudo, um esquema que permite visualizar a estrutura do crime, esperando que isso contribua para a melhor visualização global da teoria do crime.
	Até então, o que vimos que para se constatar se houve ou não um crime, há um caminho a ser seguido, este ditado pelo conceito analítico de crime. Primeiro se analisa a tipicidade, em seguida a antijuridicidade e, por fim, a culpabilidade.Teoria do Crime. Análise da ocorrência ou não de um crime:
4. Classificação dos crimes
	Classificar significa a distribuição ou a divisão de algo em classes ou grupos, de acordo com um sistema ou um método próprio. Cremos necessária a classificação básica dos crimes, dentro de um método, que seja capaz de apontar os grupos de delitos e a razão pela qual, uma vez inseridos numa só pasta, pode-se compreender qual é o objeto tutelado, qual o sujeito ativo e/ou passivo, se e quando cabe a tentativa, se e quando cabe a prisão em flagrante, entre outros facilitadores da operacionalização do direito penal.
	Abordemos, pois, as classificações mais relevantes.
4.1. Crimes comuns e próprios
	Quanto ao sujeito ativo, aquele que comete o crime, são considerados comuns os delitos que podem ser cometidos por qualquer pessoa (p. ex, homicídio, roubo, falsificação); são próprios os crimes que exigem sujeito ativo especial ou qualificado, isto é, somente podem ser praticados por determinadas pessoas (p. ex., peculato, que só pode ser cometido por funcionário público).
4.1.1. Crimes de mão própria
	No universo dos crimes próprios encontram-se, ainda, os crimesde mão própria, que exigem sujeito ativo qualificado, devendo este cometer direta e pessoalmente a conduta típica. Assim, neste último caso, não admitem coautoria, mas somente participação. É o caso do falso testemunho: apenas a testemunha pode, diretamente, cometer o crime, apresentando-se ao juiz para depor e faltando com a verdade.
4.2. Crimes instantâneos e permanentes
	Quanto ao momento da consumação, pode o crime ser instantâneo, se sua consumação se dá com uma única conduta, não produzindo um resultado que se prolonga no tempo. Assim, ainda que a ação possa arrastar-se no tempo, o resultado é instantâneo (p. ex, homicídio, roubo, furto).
	Os delitos permanentes, diferentemente, são aqueles em que a situação antijurídica gerada se prolonga no tempo. Exemplo disso é o sequestro ou o cárcere privado. Com a ação de tirar a liberdade da vítima, o crime está consumado, embora enquanto esteja esta em cativeiro, por vontade do agente, continue o delito em franca realização.
	O delito permanente admite prisão em flagrante enquanto não cessar a sua realização, além de não ser contada a prescrição até que finde a permanência.
4.3. Crimes comissivos e omissivos (próprios e impróprios)
	Os delitos comissivos são aqueles em que no tipo penal (a descrição do crime na Parte Especial do Código) incrimina uma ação, p. ex. homicídio, estupro etc. Os omissivos, já indica a própria denominação, são aqueles cujo o tipo penal incrimina uma abstenção, como no caso do crime de omissão de socorro.
	Há hipóteses em que um agente determinado comete um crime comissivo por meio de uma omissão. Estudaremos tais hipóteses com calma quando do estudo do nexo de causalidade. Agora, nos basta saber que o crime comissivo cometido por omissão se denomina comissivo por omissão ou de omissão imprópria.
	Guilherme Nucci menciona a possibilidade de um agente cometer um crime omissivo através de uma ação, sustentando que existem crimes omissivos por comissão – cita como exemplo um caso em que um agente impede outrem, pelo emprego da força física, de socorrer pessoa ferida. 
Particularmente, tive dificuldade em vislumbrar tal possibilidade. O exemplo apresentado pelo autor parece mais próximo da ocorrência de constrangimento ilegal (“Art. 146 – Constranger alguém, mediante violência [...], a não fazer o que a lei permite”) do que uma omissão por comissão. Cláudio Brandão, Cézar Roberto Bitencourt e Rogério Greco não mencionam esta possibilidade que, dentre os autores usados para a elaboração desta apostila, só está presente na doutrina de Guilherme Nucci.[8: Quanto a esta hipótese, o autor sugere ao leitor consultar JUAREZ TAVARES (Teoria dos crimes omissivos).]
4.4. Crimes materiais, formais e de mera conduta
	Quanto à necessidade de um resultado criminoso que cause algum tipo de alteração no mundo exterior/naturalístico, os crimes poderão ser adotados conforme as nomenclaturas que aqui exporemos.
	Os crimes materiais ou de resultado são aqueles que somente se concretizam se atingirem um resultado naturalístico, isto é, uma efetiva modificação no mundo exterior. São exemplos os crimes de homicídio, roubo, dano, etc.
	Os crimes formais são aqueles que não exigem, para sua concretização, um resultado naturalístico – mas comportam essa possibilidade. Significa dizer que o resultado do crime formal não precisa necessariamente modificar o mundo exterior, mas pode ser que venha a fazê-lo. Um exemplo é o crime de prevaricação: o funcionário público deixa de praticar um ato que deveria para satisfazer interesse pessoal – não exige-se, para concretização do crime, um resultado naturalístico, mas pode ser que ele ocorra.
	Os crimes de mera conduta, por sua vez, não comportam a ocorrência de um resultado, tratando-se de crimes que pretendem punir o simples agir do agente. São exemplos os crimes de violação de correspondência, reingresso de estrangeiro expulso, etc.
4.5. Crimes de dano e de perigo
	Relativamente aos crimes à lesividade do crime, este pode ser classificado como de dano ou de perigo.
	É crime de dano se apresenta uma violação efetiva ao bem jurídico. O clássico exemplo é o homicídio que, para sua concretização, exige a produção da morte de um ser humano, logo, exige a violação do bem jurídico vida.
	Os crimes de perigo, por sua vez, estão numa fase logicamente anterior ao dano. Com efeito, o perigo é a probabilidade de dano, é a situação que se não for elidida traz o dano como consequência. Exemplo de crime de perigo é o art. 255:
Perigo de inundação
Art. 255 - Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
4.6. Crimes dolosos, culposos e preterdolosos
	Estas classificações dizem respeito à análise do crime concernente ao seu elemento subjetivo. Crime doloso é aquele onde o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; é regra que só exista a punição de uma conduta se ela for dolosa.
	Crime culposo é aquele que se verifica por imprudência, negligência ou imperícia; para que exista punição a título de culpa é necessária a expressa previsão legal. Na culpa, o agente não deseja o resultado nem assume o risco de produzi-lo, mas o Direito considera criminosa sua ação porque os meios que o agente elegeu para alcançar seus fins foram considerados reprováveis.
	Os crimes preterdolosos são um misto de dolo e culpa, há dolo no resultado antecedente e culpa no resultado consequente. É o que ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida de morte: o agente quer o primeiro resultado (lesão corporal – dolo) e, apesar de não querer o resultado consequente (morte), por ele é culpado em razão dos meios utilizados para a consecução dos seus fins.
4.7. Crimes consumados e crimes tentados
	Relativamente à realização do crime, podemos classificá-lo em consumado ou tentado. Crime consumado é aquele que reúne todos os elementos da sua definição legal (art. 14, I, do Código Penal). Por exemplo, o crime de homicídio só se consuma se houver a conduta hábil para matar e o resultado morte.
	Crime tentado é aquele em que se iniciou a execução, mas o delito não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, II, do Código Penal).
	Conhecida a conceituação de crime e algumas de suas principais classificações, prossigamos no estudo de sua estrutura.
5. A conduta humana
	As definições legais dos crimes possuem as mais diversas características e naturezas. Entretanto, existente uma base comum a todas elas, esta base é a conduta.
	A conduta é o alicerce da Teoria do Crime. A tipicidade é a adequação da conduta à norma; a antijuridicidade é o juízo de reprovação da conduta; e a culpabilidade é o juízo de reprovação sobre o autor da conduta.
	As modalidades de conduta humana são a ação e a omissão. Podemos adotar também, para ação, os termos comissão ou ação positiva, enquanto entendermos que a omissão se identifica com ação negativa.
5.1. Teoria causalista da ação
	A primeira construção que se perfez metodologicamente sobre a conduta no Direito Penal foi a Teoria Causalista da Ação, no século XIX. Para esta teoria a ação é o movimento corpóreo voluntário que causa modificação no mundo exterior. A teoria causalista limita a função da ação à atribuição de uma modificação no mundo exterior decorrente de uma volição.
	Para a teoria causalista, o conteúdo da vontade não deve ser analisado na ação, mas na culpabilidade. 
	A intenção dos causalistas era imputar todos os juízos objetivos à tipicidade e antijuridicidade e todos os juízos subjetivos à culpabilidade, como se pudesse haver uma separação perfeita entre o objetivo e o subjetivo. Neste sentido, a falha da teoria causalista da ação é que ela esvazia o conteúdo da vontade.
5.2. Teoria finalista da ação
	A teoria finalista parte da constatação de que não se pode formular o conceito de ação com base na lei de causalidade, isto é, como um mero movimento corpóreovoluntário. Para Hans Welzel, o criador desta teoria, a ação é uma atividade dirigida finalisticametne pelo homem, isto é, toda ação é dirigida a um fim. A finalidade, portanto, é presente em toda conduta humana.
	Quando se diz que a ação humana tem em sua estrutura a vontade dirigida a um fim, diz-se na verdade que o dolo reside na ação. Esta é a fundamental diferença entre a teoria causalista e a teoria finalista: aquela não reconhece que o dolo está na ação, devendo ser estudado na culpabilidade; já no finalismo, reconhece-se que o conteúdo da vontade, isto é, o dolo, é integrante da ação, descrita no tipo penal, ou seja, o dolo é elemento da tipicidade.
	Surge, todavia, uma importante indagação: se toda ação é dirigida a um fim, como se solucionar a problemática dos crimes culposos?
	Com efeito, sabe-se que no crime culposo a finalidade do agente não é contrária ao Direito. Ele não deseja cometer um crime. Sua vontade é dirigida a um fim, só que se trata de um fim lícito. A reprovação jurídica nos crimes culposos se dá em razão dos meios que o agente elegeu para a consecução do seu fim, sendo eles qualificados como imprudentes, negligentes ou imperitos.
	Assim, ressalte-se, na culpa o direito não reprova a finalidade do agente, mas sim os meios elegidos por ele para a consecução de seus fins.
	Para Cláudio Brandão, a teoria que melhor explica a essência da ação é a Teoria Finalista.
	Ensina que Aristóteles, já na Antiguidade grega, elencava entre as causas primeiras do ser a causa final. Por isso, quando o finalismo atribuiu a finalidade ao conceito de ação, ele compreendeu que a atividade humana tem um motor propulsor que, enfatize-se, é a finalidade.
5.3. Omissão
	Além da ação, outra forma de conduta humana, já sabemos, é a omissão. Através de uma simples olhada no Código Penal podemos constatar que as ações criminosas não se esgotam na forma de atividade positiva. A título de exemplo, analisemos o art. 269 do Código Penal, que dispõe: 
Omissão de notificação de doença
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
	Conforme se pode facilmente perceber, este tipo penal não incrimina uma atividade positiva, mas, ao contrário, incrimina uma abstenção, uma atividade negativa, que é chamada de omissão.
	As normas penais, portanto, tanto incriminam ações quanto omissões. Isto se dá porque a norma penal pode ser proibitiva ou imperativa. As normas proibitivas dão origem aos crimes de ação ou crimes comissivos. Por exemplo, o art. 155 do Código Penal, estabelece:
 Furto
        Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	A norma do furto é classificada como norma proibitiva, porque proíbe a ação de furtar. Vemos que a ação de furtar é proibida porque a norma comina à sua realização uma pena. A maioria das normas penais incriminadoras é proibitiva.
	Além das normas proibitivas, existem as normas imperativas. As normas imperativas impõem um dever de agir, como se depreende do art. 269 do Código Penal, omissão de notificação de doença, retrotranscrito. As normas imperativas dão origem aos chamados crimes omissivos.
	Por conseguinte, em termos de ciência penal, a omissão é uma violação a uma norma imperativa, a qual impõe um dever de agir.
5.4. Comissão por omissão (omissão imprópria)
	Determinados crimes comissivos, expressos através de normas proibitivas, são crimes realizados tanto por ação, quanto por omissão. O crime de homicídio (art. 121 do Código Penal) serve perfeitamente como exemplo: se uma mãe deixa de alimentar propositadamente seu filho de um ano de idade para que ele venha a falecer, indiscutivelmente estaremos diante de um homicídio. Todavia, este crime não foi praticado por uma ação, as através de uma omissão. Quando se viola uma norma proibitiva por omissão, o crime é dito comissivo por omissão ou omissivo impróprio. No Direito brasileiro os crimes comissivos por omissão só podem ser realizados nas hipóteses do § 2º do art. 13 do Código Penal, que dispõe:
Art. 13 - ...
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;  
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
	A comissão por omissão somente ocorre quando há um dever de agir originado de uma vinculação especial entre o sujeito e a vítima (hipóteses das alíneas a e b), ou entre o sujeito e a fonte produtora do perigo (hipótese da alínea c). Nessas hipóteses o sujeito tem o dever de garantir a não ocorrência do resultado, por estar na chamada posição de garantidor. É relevante salientar que a norma em questão apresenta um rol fechado, fora dela não existe comportamento juridicamente relevante.
	A primeira hipótese legal de garantir a não incidência do resultado de dano ao bem jurídico (alínea a) refere-se a quem tenha por lei dever de cuidado, proteção ou vigilância. A lei, tanto penal como a não penal, elenca situações que vinculam determinados sujeitos de modo a garantir a preservação de bens jurídicos de outros sujeitos: é o caso, por exemplo, do dever de alimentos entre ascendentes e descendentes, o dever do carcereiro alimentar o preso, o dever da mútua assistência entre os cônjuges, etc. O dever de agir deve estar fundamentado em uma lei; se a norma for infra legal, não será possível a incidência dessa regra.
	A segunda hipótese legal da posição do garantidor (alínea b) refere-se a quem assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Aqui não se trata de imposição legal de impedimento de resultado, logo deve haver uma assunção voluntária desta responsabilidade, que pode decorrer das mais variadas formas, como, por exemplo, através de um contrato. É o caso do salva-vidas de um clube que assume o dever de custódia dos sócios que se encontram na piscina.
	A terceira hipótese da norma (alínea c) refere-se à criação do risco de resultado. Sobre essa hipótese, imaginemos que um sujeito atropela um pedestre em um local completamente deserto. Após o infortúnio, vai socorrê-lo, mas reconhece na vítima um desafeto seu, por isso o abandona. A vítima veio a morrer porque não foi socorrida. Nesta hipótese, não houve omissão de socorro, mas sim homicídio doloso, porque com o atropelamento o sujeito causou um perigo para a vida da vítima, com a omissão dolosa permitiu que o perigo se transformasse em dano. Para que se configure esta terceira hipótese, não necessários os seguintes requisitos:
conduta precedente antijurídica;
criação de um perigo adequado e idôneo para a produção do resultado;
não sobrevir com a conduta o dano de imediato, porque neste caso o crime será comissivo.
5.5. Ausência de conduta
	Nos casos em que não existe a presença da vontade, mas somente uma modificação no mundo exterior, a conduta humana considera-se penalmente inexistente. São estas situações: a coação material irresistível, os movimentos reflexos e os estados de inconsciência.
	A coação material irresistível é um ato de violência física que provém do exterior e atua sobre o agente, anulando completamente a vontade e não deixando opção ao que a sofre. É chamada de vis absoluta.
	É relevante salientar que, se a violência física não é absoluta, tendo o sujeito capacidade de resistir, não existe a exclusão da conduta, podendo, eventualmente, haver a exclusão da culpabilidade, conforme estudaremos mais adiante nesta apostila.
	A coação física irresistível pode existir tanto na ação quanto na omissão. Se uma terceira pessoa amarra em uma árvore o funcionário da empresa ferroviária, que tem o dever jurídico de acionar a mudança de vias para evitar a colisão de três, de modo que este, irresistivelmente, não possa cumprir o seu dever, não há conduta omissiva por parte do funcionário,em virtude de coação material irresistível.
	Outro caso de exclusão da conduta são os movimentos reflexos. Se o sujeito, durante uma convulsão epiléptica, se debate provocando uma lesão em um terceiro, não responderá por crime de lesão corporal, por ausência de conduta, visto que no movimento reflexo não existe intervenção da vontade.
	Os estados de inconsciência também excluem a conduta. São exemplos deles os movimentos praticados durante o sonambulismo e o sono.
	Questão controvertida é a da hipnose. Não existe acordo entre os psiquiatras sobre a questão de se a pessoa hipnotizada tem que seguir ou não a sugestão do hipnotizador. Atualmente considera-se que a sugestão hipnótica criminosa somente pode ser irresistivelmente seguida se o sujeito hipnotizado é um psicótico ou neurótico com tendências criminais. Assim, em um indivíduo mentalmente são, a hipnose não tem o condão de excluir a conduta.
6. Nexo de causalidade
	O Código Penal não fornece nenhum conceito de crime, tampouco de conduta humana, e começa o título referente ao delito com a definição legal do Nexo de Causalidade. A causalidade, portanto, foi o instituto penal que o legislador elegeu para iniciar o tratamento normativo, o que demonstra a sua importância.
	A relação de causalidade tem por finalidade atribuir um resultado a alguém, isto é, tem por escopo determinar o autor do resultado, de que depende a existência de um crime.
	Significa dizer que, ao apontar alguém como autor de um crime diz-se que este alguém, por sua conduta, é responsável pelo resultado criminoso. É dizer que sua conduta causou o resultado. E é isso a causalidade: a ligação entre a conduta e o resultado, sendo aquela a causa deste.
	Se Mévio atirou contra Tício e o matou, há uma ligação entre a conduta (atirar) e o resultado (morte), pois tal resultado foi causado pela indicada conduta. A essa ligação, relação de causa e efeito, se dá o nome de nexo de causalidade.
	Se Mévio atirasse contra Tício mas, por ter péssima pontaria, o tiro passa bem longe, não o acertando, e logo em seguida um raio cai em Tício, matando-o, não há nexo de causalidade entre o tiro e o resultado morte, pois aquele não causou este.
	Nas exatas palavras de Cláudio Brandão, “nexo de causalidade é o liame ideal que possibilita a imputação de um resultado a alguém. A função do nexo de causalidade é, portanto, identificar quem deve ser considerado autor do resultado de dano ou de perigo ao bem jurídico, isto é, quem deve ser considerado autor do resultado penalmente relevante”.
	São encontrados na doutrina dois sistemas que regulam a relação de causalidade: a equivalência das condições, de um lado, e a causalidade adequada, de outro.
6.1. Teoria da Equivalência das Condições
	Para esta teoria, o resultado é produto de uma multiplicidade de causas e condições, sendo todas elas igualmente necessárias e equivalentes.
	A verificação da relação de causalidade é feita a partir da fórmula da conditio sine qua non (condição sem a qual não há), segundo a qual se deve buscar a causa a partir do resultado. Sabemos se um fato é causa do resultado através de um processo de eliminação mental: se, eliminando o fato, o resultado deixar de existir, este fato foi causa do resultado.
	Usemos o seguinte exemplo:
	Mévio quer matar Caio. Para isso compra a arma na loja X, vai até sua residência e toma um copo de água, sai, dirige-se ao local onde se encontra seu desafeto e dispara a arma, matando-o.
	Se Mévio não tivesse comprado a arma, o resultado morte de Caio não teria ocorrido, logo, a compra da arma é causa do resultado.
	Se Mévio não tivesse bebido água, o resultado Morte de caio teria ocorrido, logo beber água não é causa do resultado.
	Se Mévio não tivesse se dirigido ao Local onde estava Caio, o resultado morte não teria ocorrido, logo, este falo é causa do resultado.
	Se Mévio não tivesse disparado, o resultado morte não teria ocorrido, logo, o disparo é causa da morte.
	A crítica feita à Teoria da Equivalência das Condições é que a busca da causa pode levar a um regresso infinito. Se os pais de Mévio não houvessem o concebido, o resultado não teria ocorrido; logo, seria possível dizer também que a concepção de Mévio foi causa do resultado.
	Para evitar a busca da “causa da causa”, é necessário limitar a fórmula da conditio sine qua non. Com efeito, limita-se essa fórmula através do elemento subjetivo do crime – o dolo e a culpa. Assim, somente se buscará a causa do resultado da ação dolosa ou da ação culposa. No exemplo supra, a concepção de Mévio não pode se considerada como causa do resultado porque extrapola o âmbito do dolo ou da culpa.
 6.2. Teoria da causalidade adequada
	Segundo esta teoria somente é causa a conduta que possua uma tendência geral à provocação do resultado. As demais condições que não possuíssem essa tendência não poderiam ser consideradas causas do resultado.
	Um determinado fato é causa do resultado se for previsível ao sujeito a sua capacidade para a produção do referido resultado. Essa capacidade se dá com base no conhecimento experimental do ser humano, por isso uma ação será considerada adequada ao resultado quando este for objetivamente previsível. Nesta teoria, causa do resultado não é qualquer antecedente, mas somente o antecedente apto para produzi-lo, segundo um juízo de previsão.
6.3. Posição do direito brasileiro
	O Direito brasileiro regula o nexo de causalidade no art. 13 do Código Penal, o qual estabelece que
Relação de causalidade
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;  
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
	O Direito brasileiro adotou, conforme se depreende do caput do art. 13, a Teoria da Equivalência das Condições. Todo evento que concorre para o resultado é considerado causa dele.
6.4. Concausas
	Doutrinariamente, chama-se concausa ao fenômeno da confluência de mais de uma causa para o resultado.
	As concausas podem ser separadas, inicialmente, em relativamente independente e absolutamente independentes.
	As concausas absolutamente independentes são aquelas que inauguram novo nexo causal, causando o resultado por si só e independentemente da concausa anteriormente analisada.
	Imaginemos que Caio ministra um veneno em seu desafeto Paulo, mas antes que este veneno faça qualquer efeito, um avião cai na casa de Paulo, que morre.
	Na aplicação da fórmula sine qua non, excluída a conduta de Caio, o resultado morte de Paulo ainda ocorreria. Assim percebe-se que as concausas absolutamente independentes excluem o nexo causal, inaugurando outro completamente diverso, que não pode ser imputado de nenhuma forma ao agente.
	As concausas relativamente independentes diferem das absolutamente independentes, porque se excluirmos mentalmente a conduta do agente pela fórmula da conditio sine qua non o resultado também será excluído. Vejamos o seguinte exemplo: Caio fere gravemente Paulo, com vistas à produção de sua morte. A vítima é socorrida, sendo levada viva em uma ambulância para o hospital X. Contudo, a caminho do hospital, Simprônio, dirigindo imprudentemente um caminhão, colide com a ambulância, causando a morte de todos os seus ocupantes. Ora, sabemos que essa causa é relativamente independente porque, se excluíssemos a conduta de Caio, Paulo não estaria na ambulância e não teria morrido. Entretanto, Paulo morreu em decorrência do acidente,que por si só foi hábil para a produção do resultado.
	As concausas podem ser classificadas em: preexistentes, concomitantes ou supervenientes. As preexistentes são aquelas que acontecem antes da conduta do agente, as concomitantes ao mesmo tempo da conduta e as supervenientes são as que se realizam após a conduta do agente.
	As concausas absolutamente independentes, conforme vimos, exclui o nexo causal. As relativamente independentes, diferentemente, não o excluem.
	Se a concausa relativamente independente superveniente, isto é, que ocorre depois da ação do agente, provoca o resultado por si só, também restará excluído o nexo causal, respondendo o agente apenas pelos atos já praticados. 
 	É o que diz a regra do art. 13, § 1º:
Art. 13 - ...
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
	Voltemos ao exemplo em que Caio faz com que Paulo tenha de ir ao hospital, por ter tentado matá-lo, e este sofre um acidente no caminho, vindo a óbito em decorrência deste acidente.
	O acidente de trânsito é uma concausa que ocorre depois da ação de Caio – é, portanto, superveniente. É relativamente independente, como vimos. E foi uma concausa que por si só produziu o resultado.
	Destarte, pela regra do art. 13, § 1º, Caio não pode ser responsabilizado pela morte de Paulo, contudo, responderá pelos fatos anteriores. Não responderá, portanto, pelo crime de homicídio, mas sim pelo de tentativa de homicídio.
	As concausas relativamente independentes preexistentes e concomitantes não excluem o nexo causal.
6.5. Nexo de causalidade nos crimes culposos
	A relação de causalidade nos crimes culposos é derivada de um dever objetivo de cuidado. O agente tem um dito dever objetivo de cuidado ao eleger os meios que servirão para a consecução de seus fins.
	Assim, nos crimes culposos, a relação de causalidade se verifica quando o agente produz um resultado típico, que lhe era previsível, quando não o queria. Tal resultado é reconhecido como produto da ação daquele que, sem o querer, violou um dever objetivo de cuidado, quando lhe era possível evitar a produção do resultado típico.
	Importante salientar que a regra é que os crimes são todos dolosos. Quando a culpa for penalmente punível, ou seja, quando o crime tiver a modalidade culposa, isso deve estar expresso no tipo penal. Usemos como exemplo o homicídio: 
Art. 121. Matar alguém:
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos.
	A regra trazida no caput do art. 121 incrimina a conduta dolosa, ou seja, quando o agente deseja o resultado do crime. Não fosse a regra do § 3º, o crime de homicídio não teria a modalidade culposa, pois, ressalte-se, a regra é que o crime é doloso – quando houver a modalidade culposa deve constar expresso no tipo penal, como no exemplo acima colado.
6.6. Esquema
 	A análise do crime inicia-se na conduta. Primeiro verifica-se a ação, que pode ser uma ação positiva – comissão –, ou negativa – omissão. E o nexo de causalidade é o que liga essa conduta ao resultado criminoso.
7. Tipicidade 
	Como vimos, tipicidade é o primeiro elemento do conceito de crime, sendo definida como uma relação de adequação entre a conduta e a lei penal. Somente será típico o comportamento humano adequado ao modelo legal, assim, para que o comportamento humano ganhe relevância na esfera penal, é necessário que ele esteja revestido de tipicidade.
	Quando falamos em “tipo penal”, devemos entender tipo como sendo “o conjunto de elementos que descrevem um delito determinado”. Quando a lei penal prescreve um modelo de ação ou omissão, cominando a esta ação uma pena, chama-se este modelo de tipo penal.
	As condutas que não forem adequadas a um tipo são penalmente irrelevantes, por isso a tipicidade determina o âmbito da liberdade de ação: tudo o que não for descrito como crime por um tipo não pode ter como consequência uma sanção penal.
	O conceito de tipicidade foi formulado há cerca de um século, por Ernst von Beling. Para este autor, tipo penal é uma pura descrição objetiva, isenta de qualquer juízo de valor. O Direito Penal seria, pois, um catálogo de tipos, e tipicidade é a adequação a este catálogo.
	Sem deixar de reconhecer o mérito de Beling por ter criado o conceito de tipicidade, Cláudio Brandão afirma que seu posicionamento não pode subsistir, pelo menos não no Direito Penal brasileiro. Usa como exemplo o tipo penal do art. 130, § 1º, do Código Penal, que diz:
 Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	Independentemente de outros elementos subjetivos existentes, pode-se constatar no § 1º do art. 130 um elemento subjetivo expresso no tipo: a intenção. Consequentemente não se pode dizer que o tipo penal é uma pura descrição objetiva.
	De outro lado, existem também juízos de valor feitos no âmbito do tipo. Veja-se, por exemplo, o art. 330 do Código Penal, que estabelece:
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
	Para que se chegue à conclusão de ser a ordem legal ou não, é imprescindível um juízo de valor. Portanto, também não se pode dizer se o tipo é isento de juízo de valor.
	Beling sofreu duras criticas à sua proposta. Assim, uma segunda fase da doutrina da tipicidade aflora em 1915 a partir das modificações propostas por Max Erns Mayer, para quem a tipicidade é o meio através do qual se conhece a antijuridicidade. Afirmava o autor que a tipicidade é um indício da contrariedade de uma conduta com a ordem jurídica. Elas se comportam como fumaça e fogo, a tipicidade e a antijuridicidade, respectivamente.
	Na década de 1930 do século passado, uma nova interpretação no conceito de tipicidade foi proposta por Edmund Mezger, para quem as relações entre a tipicidade e a antijuricidade não podem ser explicadas pelo indício, como propôs Mayer. Isso se dá porque o tipo é o próprio portador do desvalor da antijuridicidade, tendo com aquela uma relação de essência, não de indício. Em outras palavras, é o tipo penal, a previsão de uma conduta como crime, é que torna esta conduta antijurídica. Assim, a conduta tipificada, prevista como crime, é, em sua essência, também antijurídica – só não o será se ocorrer a exclusão da antijuridicidade pelas causas legais previstas.
	Modernamente, esta teoria é aceita por alguns penalistas, dentre os quais o brasileiro Francisco de Assis Toledo.
	Cézar Roberto Bitencourt, Rogério Greco e Guilherme Nucci não se posicionaram sobre a teoria que acreditam ser a mais adequada. Cláudio Brandão, entretanto, afirma como categoria que a posição de Mezger não pode subsistir.
	Sustenta que “se dizemos que a relação entre tipicidade e antijuridicidade é uma relação de essência, estamos, em verdade, afirmando que elas são uma só coisa, e, se assim são, não existe sentido em diferenciá-las”.
	Prossegue: “ademais, [esta teoria] apregoa que as causas de justificação anulam a própria tipicidade da ação, sendo isto um grave equívoco”.
	Conclui, afirmando que “sem dúvida, a corrente que melhor expressa a tipicidade e sua função é a que apregoa ser a tipicidade um indício da antijuridicidade”.
7.1. Função de garantia da tipicidade
	A tipicidade tem duas funções. A primeira foi a agora estudada em sua evolução: a de ser indício da antijuridicidade. A outra função é chamada de função de garantia e relaciona-se com o princípio da legalidade.
	A legalidade é um dos pilares do ordenamento jurídico criminal brasileiro. A tipicidade é o cumprimento do próprio princípio da legalidade. Somente será possível imputar uma pena como consequência jurídicade uma conduta criminosa caso a mesma esteja prevista na lei; destarte, a necessidade de adequação da conduta à lei garante a não incriminação de todas as outras condutas que não sejam tipificadas.
7.2. Análise do tipo penal
	Antes de adentrarmos a estrutura do tipo penal, é relevante salientar a importância de não confundir tipo penal com tipicidade, nem com juízo de tipicidade.
	O tipo penal é um modelo abstrato de conduta, formulado através de descrições linguísticas, na lei. O juízo de tipicidade é a avaliação da adequação da conduta concreta, praticada no mundo real por alguém, àquele modelo abstrato de conduta, e a tipicidade é a consequência positiva dessa avaliação, ou seja, a constatação de que a conduta concreta se adequa ao modelo abstratamente previsto em lei, à descrição do crime.
	Conforme dita o já abordado conceito de tipicidade, esta é a adequação da conduta à norma penal incriminadora. A análise desta adequação perpassa três perspectivas:
a perspectiva valorativa, em que se estuda a conduta referentemente ao bem jurídico, de forma que se a conduta não violar o bem jurídico, tem a sua tipicidade excluída pelo princípio da insignificância. Este princípio e este plano valorativo devem ser estudados mais posteriormente;
a perspectiva linguística, considerando que a descrição da conduta é feita através de elementos linguísticos, que descrevem a conduta proibida;
e, por fim, a perspectiva da realidade, em que se estuda o conteúdo material do tipo, que é representado por diversos elementos do fato incriminado: sujeito ativo, sujeito passivo, objeto material, elementos objetivos e subjetivos da conduta.
São estes elementos que agora passamos a estudar.
7.2.1. Sujeito ativo
	Sujeito ativo é toda pessoa que tem sua conduta amoldada a um tipo penal. É, portanto, a pessoa que realiza a ação criminosa.
	Por vezes, o tipo penal traz expresso em seu preceito quem pode ser sujeito ativo do delito. É o caso, por exemplo, do art. 268 do Código Penal, que estabelece: “Art. 269. Deixar o médico de denunciar a autoridade pública doença cuja notificação seja compulsória”.
	Nesse caso, o tipo penal determina que somente o médico poderá ser sujeito ativo do delito. Se um enfermeiro deixar de fazer a denunciação da doença, cuja notificação seja compulsória, não existirá este crime. O tipo penal, enfatize-se, exige que o sujeito ativo seja um médico. Quando o tipo penal determina quais as pessoas que podem ser consideradas como sujeito ativo do delito, o crime é chamado de crime próprio.
	Entretanto, na maioria dos tipos penais, o sujeito ativo não está determinado no tipo, podendo qualquer pessoa o praticar. Veja-se, a título de exemplo, o que dispõe o art. 158 do Código Penal, que trata do delito de extorsão:
	Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.
	Como se pode observar, o tipo penal não determina quem pode ser o sujeito ativo. Assim, qualquer pessoa poderá praticar este crime. Nestes casos, denomina-se crime comum.
7.3.2. Sujeito passivo
Sujeito passivo é o titular do bem jurídico agredido. É, portanto, quem sofre a ação delituosa.
	Para alguns, o Estado sempre seria sujeito passivo dos crimes. Os que entendem dessa forma, dividem o polo passivo do crime em a) sujeito passivo formal, que seria o titular do interesse de punir (via de regra, o Estado); b) sujeito passivo material, que seria o titular do bem jurídico diretamente lesado pela conduta do agente. É o posicionamento de Cézar Roberto Bitencourt, Guilherme Nucci e Rogério Greco.
	Discorda deste posicionamento Cláudio Brandão, pontuando que “se é verdade que em alguns crimes o Estado é o titular do bem jurídico lesado, como, por exemplo, nos crimes contra a Administração Pública (arts. 312 ss do Código Penal), é verdade também que em outros delitos a titularidade do bem jurídico não pertence ao Estado, como, por exemplo, no crime de injúria (art. 140 do Código Penal). Deve-se ressaltar, portanto, que o Estado somente será sujeito passivo onde pertencer a ele a titularidade do bem jurídico”.
	A nosso juízo, com o devido respeito, a razão parece assistir a Cláudio Brandão. Aqueles que argumentam que o Estado seria sempre sujeito passivo dos crimes dizem que isso se dá, pois, o Estado “sofre toda vez que suas leis são desobedecidas”, pois tal desobediência causa um sentimento de instabilidade ou impunidade, que cabe ao Estado repelir, para a segurança da ordem jurídica. Neste sentido, afirmam que todos os crimes teriam como sujeito passivo o Estado. Todavia, como bem apontado por Cláudio Brandão, não é o que ocorre na prática, pois existem crimes de ação penal privada, conceito estudado mais adiante, em que o Estado não é considerado sujeito passivo e que o ônus da acusação cabe à vítima, através de advogado. Assim, apesar da desobediência da Lei e da instabilidade que isso causaria, o Estado atribui a responsabilidade de persecução daquele crime à vítima, o que leva a compreensão de que não se considera sujeito passivo daquele crime. [9: Palavras de Rogério Greco.]
Sobre a questão, conclui Cláudio Brandão dizendo que “o Estado somente será sujeito passivo nos crimes onde pertencer a ele a titularidade do bem jurídico”, como no exemplo citado dos crimes contra a Administração Pública.
	Em alguns casos, o sujeito passivo não é nem pessoa física nem pessoa jurídica, mas um ente desprovido de personalidade. Se analisarmos o art. 208 do Código penal, veremos que é crime vilipendiar publicamente objeto de culto religioso. Nesse crime o sujeito passivo é a coletividade, que, como sabido, não tem por si própria a personalidade jurídica. Quando sujeito passivo é um ente desprovido de personalidade jurídica o delito é chamado de crime vago.
	É relevante frisar, ainda, que o sujeito ativo do crime não pode ser ao mesmo tempo sujeito passivo. O art. 156 incrimina o furto de coisa comum. Se Tício, Paulo e Mévio são donos de um táxi e Tício muda-se com o taxi para outro estado, pretendendo dele se apoderar sozinho, incorrerá no crime e será sujeito ativo do crime, tendo o cometido, mas não será sujeito passivo, apesar de ser coproprietário do veículo, não tendo havido lesão em relação à sua quota-parte. 
7.3.3. Objeto material
	O objeto material do crime é a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a ação delituosa. Não se deve confundir o objeto material do crime com sujeito passivo do crime. Em alguns casos, há a identificação destes dois conceitos, como no crime de homicídio. Todavia- em alguns crimes pode-se notar claramente a diferença existente entre o sujeito passivo, que é o titular do bem jurídico, e o objeto material. No furto, por exemplo, o objeto material é a coisa móvel subtraída, enquanto no sujeito passivo é o titular do patrimônio.
7.3.4. Elementos do tipo penal
	Todo tipo penal possui elementos objetivos quanto elementos subjetivos. Os elementos objetivos são facilmente visualizáveis, porque o tipo é um modelo de conduta, logo o núcleo do tipo é um verbo, que é conceitualmente identificado com a ação. Além da ação, tudo o que se concretizar no mundo exterior é elemento objetivo.
	Os elementos subjetivos, por sua vez, também estão presentes em todos os tipos, eles se referem à consciência e à vontade. Conforme estudamos, foi mérito da teoria finalista da ação deslocar o dolo e a culpa da culpabilidade para a ação, e consequentemente, como o tipo penal é a descrição da ação, pode-se afirmar que o dolo e a culpa estão presentes no tipo.
	Alguns tipos penais, entretanto, possuem além dos elementos objetivos e dos elementos subjetivos, outros elementos, chamados de elementos normativos. São aqueles que dizem respeito a um juízo de valor. Um exemplo de um elemento normativo pode ser extraído do delito de abandono material:
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho,ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
	Como se vê, é elemento deste tipo a justa causa. Ora, como se determina o conceito de justa causa? A resposta é clara: através de um juízo de valor. Logo, o elemento justa causa é de natureza normativa, conforme explicado adiante.
7.4. Tipo comissivo doloso
	Diferentemente da maioria dos diplomas legais, o Código Penal brasileiro optou por dar a definição de dolo. Assim rege o art. 18:
Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
	Pela leitura do dispositivo se depreende que essa opção do legislador representou a positivação no ordenamento normativo de um conceito coerente com o sistema finalista do delito. Consoante a fórmula legal, o dolo é querer o resultado ou assumir o risco de produzi-lo.
	Conforme estudamos, toda ação tem em sua estrutura essencial a vontade dirigida a um fim; assim, toda ação é finalista. A vontade dirigida a um fim é precisamente querer o resultado. Assim, o dolo é um elemento integrante da conduta humana, pois só se quer o que se representa no plano mental com a consciência e no plano psíquico com volição.
	Existem, portanto, dois elementos no dolo, o primeiro elemento é de ordem intelectiva: a consciência; o segundo elemento é de ordem volitiva: a vontade.
	Assim, para que alguém tenha dolo de um resultado, primeiro, deve ter a consciência da possibilidade da ocorrência deste resultado; e segundo, a vontade de que esse resultado aconteça.
7.4.1. Teorias do dolo
	São três teorias clássicas que procuram explicar o dolo: a teoria da vontade, a teoria da representação e a teoria do consentimento.
	A teoria da vontade é a doutrina clássica do dolo; segundo ela a essência do dolo está na vontade de realizar o ato. Essa vontade se projeta até além do mero movimento corpóreo, porque a vontade de realizar o ato inclui a própria realização do resultado.
	A teoria da representação foi criada porque a vida prática do delito indicava que a teoria da vontade não esgotava todas as formas de dolo. Por esse motivo, a teoria da representação constrói um conceito de dolo que contém menos exigências subjetivas que a anterior, pois reconhece o dolo com a simples previsão do resultado, isto é, apenas com a consciência do evento que deriva da conduta do agente.
	A teoria do consentimento surge a partir das críticas feitas à teoria da representação. Segundo essa teoria, a mera representação intelectual não é suficiente para a configuração do dolo, mas deve-se analisar a atitude subjetiva do agente frente a essa representação: além da representação o sujeito deverá prestar um consentimento para a realização do resultado, mostrando uma atitude de indiferença frente à preservação do bem jurídico.
7.4.2. Normatização do dolo
	No Direito brasileiro, a regra é que só se pune um crime se ele for doloso; para que exista a punição por culpa, é necessária expressa previsão legal (art. 18, p. ún., do Código Penal).
	Conforme vimos há pouco, ficou também instituído no art. 18 o conceito de dolo
Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
	São apresentadas pelo referido artigo duas modalidades de dolo: na primeira, o agente quer o resultado; na segunda, o agente assume o risco de produzir o resultado.
	A primeira modalidade é chamada de dolo direto, consistente em querer o resultado. Ao instituir esta modalidade, adotou-se a Teoria da Vontade, porque se identifica o dolo com a intenção.
	A segunda modalidade de dolo é chamada de dolo indireto ou dolo eventual, consistindo na consciência e consentimento com a possibilidade de ocorrência do resultado, assumindo o agente o risco de causar o resultado. Nesta modalidade o legislador adota a teoria do consentimento.
7.4.3. Preterdolo
	Apesar de não estar expressamente previsto no art. 18 do nosso Código, podemos deduzir de alguns crimes constantes na parte especial o preterdolo. O prefixo preter significa além, logo, nesses crimes o resultado extrapola o dolo do agente. É o caso da já mencionada lesão corporal seguida de morte:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
	Nessa hipótese, vê-se que o dolo do agente é o de provocar o resultado lesão corporal; todavia, o resultado vai além de sua intenção e abrange a morte da vítima. O resultado morte deve ser imputado ao gente a título de culpa, isto é, o agente tem que ter a previsibilidade do resultado, causando-o por imprudência, negligência ou imperícia. Consequentemente, deduz-se que o crime preterdolosos é um misto de dolo e culpa: dolo no resultado antecedente e culpa no resultado consequente.
	Se existir dolo no resultado antecedente, mas não houver culpa no resultado subsequente, não existe crime preterdolosos.
	Deve-se salientar que, se não houver culpa, não há que se falar em crime preterdolosos; nesse sentido o Código Penal tem norma expressa; assim reza o art. 19:
Agravação pelo resultado
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.
7.5. Tipo comissivo culposo
	Conforme temos estudado, a culpa é uma forma excepcional de punição. Ela incide nos bens jurídicos que o Direito Penal elegeu como dignos de uma proteção mais intensa. Por isso, somente se pune a título de culpa se houver expressa previsão legal.
	O tipo penal de um determinado crime será o mesmo tanto para sua modalidade dolosa quanto para sua modalidade culposa. A diferença reside exclusivamente no plano subjetivo, isto é, o tipo subjetivo culposo exige que o agente não queira o resultado, tampouco assuma o risco de produzi-lo. No crime culposo, enfatize-se, a relevância penal está nos meios que o agente elegeu para conseguir realizar o seu fim, visto que eles violam um dever objetivo de cuidado (caracterizando a negligência, imperícia ou imprudência).
	O Código Penal conceitua o crime culposo no art. 18, II, que dispõe:
Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
	A definição do Código, todavia, não expressa a essência da culpa, não o define completamente. Nas exatas palavras de Cláudio Brandão, “o crime culposo é aquele onde há a falta de previsão do resultado, quando o Direito exigia do agente essa previsão ou é aquele no qual, havendo a efetiva previsão do resultado, o agente confia que ele não se configurará”. Do exposto pode-se concluir que no crime culposo há um defeito inescusável de zelo.
	O dano ou perigo de dano causado pelo defeito inescusável de zelo, referente aos meios pelo agente adotados, representa a violação de um dever objetivo de cuidado, pois supõe que tais meios vinculados à produção do resultado penalmente relevante.
	O tipo subjetivo culposo exige que o agente não queira o resultado, tampouco assuma o risco de produzi-lo, isto porque a estrutura do crime culposo compreende ações finalistas cujo fim é irrelevante para o tipo penal. No crime culposo, enfatize-se, a relevância penal está nos meios que o agente elegeu para conseguir realizar o seu fim, visto que eles violam um dever objetivo de cuidado.
	Ao longo da história do Direito Penal, várias teorias foram desenvolvidas para explicar a natureza da culpa, dentre as quais destacaremos a teoria do defeito intelectual, a teoria do vício da vontade e a

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