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Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Aula 4 Professor Frank Coelho de Alcântara CONVERSA INICIAL Chegamos ao magnetismo. Hora de comemorar! O eletromagnetismo está em todo o lugar, mas são os campos magnéticos que rodam motores e deslocam cargas. Sem o entendimento destes campos, jamais teríamos um motor elétrico, geladeiras, aspiradores de pó ou elevadores, por exemplo. Chegamos também às correntes elétricas. Cargas em movimento. Nesta aula estudaremos o trabalho de André-Marie Ampére e seu grupo de amigos que, em plena Revolução Francesa, com cabeças rolando diariamente, se dedicavam aos estudos – talvez, por proteção, mas, principalmente, por devoção. Seus trabalhos desenvolvidos em um grupo de pesquisa formado também por Jean-Baptiste Biot e Félix Savart fundamentaram o entendimento do campo magnético relacionando este a uma corrente elétrica. Nesta aula, ainda, entraremos no domínio das correntes contínuas. Correntes cuja amplitude e cujo sentido não variam no tempo – um limitador, é verdade, já que o eletromagnetismo só atinge seu real potencial no domínio das correntes alternadas, mas ainda assim suficiente para introduzir os conceitos que fundamentarão, no futuro, o entendimento das máquinas elétricas: transformador, motor e gerador. Todo mundo já viu o que acontece com limalhas de ferro expostas a um campo magnético proveniente de um imã. Nesta aula, você verá que campo magnéticos podem ser criados por correntes elétricas. O que será que acontece com limalhas de ferro colocadas próximas de um condutor onde passa uma corrente elétrica? Acesse a versão online da aula a assista ao vídeo. CONTEXTUALIZANDO Vimos as cargas elétricas, os campos criados por elas, o fluxo de um campo elétrico através de superfícies fechadas e, finalmente, estudaremos agora as cargas em movimento. Definiremos corrente elétrica, sua continuidade e veremos o comportamento de condutores e isolantes ou dielétricos. Como o elétron se comporta no átomo e como surge a corrente elétrica em resposta a uma excitação provocada por um campo elétrico. Agora entramos no domínio do magnetismo. Veremos que uma corrente no espaço gera um campo magnético. Faremos as relações necessárias entre a corrente e o campo de forma a caracterizar este campo no espaço. Você verá que a matemática é uma ferramenta que torna o entendimento possível e, uma vez que os conceitos estejam arraigados, verá como é fácil trabalhar com correntes elétricas e campos magnéticos. Veremos também dois potenciais magnéticos, equivalentes ao potencial elétrico: potencial magnético escalar, que terá aplicação no estudo dos materiais magnéticos; potencial magnético vetorial, que terá aplicação no estudo de antenas, transmissão e construção de placas de circuito. Mais importante. Ao final desta lição você terá abordado o navio do magnetismo. Faltará, apenas, tomar posse e controlar seu destino. Acesse a versão online da aula a assista ao vídeo. Tema 1 - Lei de Biot-Savart A esta altura da nossa disciplina você já deve estar confortável com o conceito de campo. Vimos, por exemplo, que uma carga elétrica estacionária produz um campo elétrico. Uma corrente elétrica, por outro lado produz um campo magnético. Começaremos a definição de campo elétrico nas condições ideais proporcionadas pelo espaço livre, ou vácuo. Uma corrente que circula por um fio condutor provoca no espaço um campo magnético cujas linhas de força têm o sentido determinado pela regra da mão direita, como pode ser visto na figura a seguir: Estas linhas de força podem ser percebidas, por exemplo, com a agulha de uma bússola. Percorrendo o espaço em torno do fio com uma bússola, a agulha irá apontar sempre para o Norte na direção tangencial à linha de força em cada ponto, de tal forma que a agulha estará sempre em uma direção perpendicular a uma linha radial, partindo do centro do condutor até o ponto onde a bússola está. Acompanhando a bússola em torno do fio, poderemos observar que o campo elétrico forma círculos fechados em torno do fio, como pode ser visto na figura ao lado. “A fonte de um campo elétrico estacionário pode ser um ímã permanente, um campo elétrico, variando linearmente no tempo ou uma corrente contínua” (HAYT e BUCK, 2012). Elementos infinitesimais Estudaremos nesta aula o campo produzido por correntes contínuas e, para que possamos entender o campo em qualquer condutor, precisamos considerar o condutor dado na forma de seus elementos infinitesimais – esta será a origem da Lei de Biot- Savart. Imagine um condutor filamentar (fio) como sendo um cilindro de raio muito pequeno e comprimento muito grande. No limite, cada elemento infinitesimal deste condutor é um cilindro de dimensões diferenciais, com raio tendendo a zero e comprimento dL por onde circula uma corrente I. Neste caso, a Lei de Biot-Savart determina que: “Em qualquer ponto P, a intensidade do campo magnético produzido por um elemento diferencial é proporcional ao produto da corrente pela magnitude do comprimento diferencial e pelo seno do ângulo que liga o filamento e a linha que o conecta o filamento ao ponto P, onde o campo é desejado” (HAYT e BUCK, 2012). Vetorialmente, a Lei de Biot-Savart indica que um elemento diferencial de corrente I dL gera uma intensidade incremental de campo magnético dH, cuja unidade é ampère por metro (A/m), de forma que este campo varia inversamente com o quadrado da distância entre o ponto e o elemento I dL, é independente do meio circunvizinho e possui direção e sentidos determinados pelo produto vetorial: I dL × ar. Para facilitar os cálculos, podemos observar a geometria apresentada na figura a seguir e substituir os índices de acordo para encontrar a forma vetorial da Lei de Biot-Savart em relação a dois pontos no espaço. Neste caso... Devemos lembrar que elementos infinitesimais de corrente não existem de forma autônoma no universo e que todos os elementos constituintes do filamento considerado contribuem para a criação do campo magnético. Esta consideração leva a forma integral da Lei de Biot-Savart: Esta integral de linha fechada indica que todos os elementos infinitesimais de corrente devem ser incluídos na definição do campo magnético total. Experimentalmente, só podemos verificar a forma integral da Lei de Biot-Savart, pois o elemento diferencial de corrente não pode ser isolado. Da mesma forma que temos distribuições de cargas diferentes, podemos ter distribuições de corrente diferente. Neste caso, a densidade superficial de corrente K (em ampères por metro) e a densidade volumétrica de corrente J (em ampères por metro quadrado) são mais úteis. Assim, teremos: Para distribuição linear de corrente: Para distribuição superficial de corrente: Para distribuição volumétrica de corrente: Aplicação da Lei de Biot-Savart Considere um filamento infinito, sobre o eixo z. Queremos encontrar o campo magnético total sobre um ponto P sobre o eixo y, cuja geometria está ilustrada na figura a seguir: Considere o sistema de coordenadas cilíndricas e observe que neste caso não há variação devida ao componente z ou ao componente ϕ. Oponto desejado se encontra sobre o eixo y e o vetor unitário será dado por: Sendo: Este é o ponto onde devemos considerar que, para aplicarmos a Lei de Biot-Savart precisaremos de um circuito fechado. Neste caso, podemos considerar que o filamento de retorno é paralelo ao filamento original, mas está deslocado para o infinito. Assim sua influência no ponto 2 é desprezível, mas ainda garante a aplicação da Lei de Biot-Savart. No nosso caso, em coordenadas cilíndricas: Como não temos componentes em temos: ou: Para cálculo do campo total no ponto 2 precisamos integrar. Observe que como a corrente é dirigida no sentido positivo do eixo z integraremos entre -∞ e ∞. Logo: Agora precisamos observar as condições de simetria como o campo não varia com relação ao componente ϕ seu vetor unitário é constante em relação a z e pode ser retirado da integral. Esta equação é muito importante e mostra que o campo elétrico não é função de ϕ ou z e que as linhas de fluxo magnético são circulares e ortogonais ao filamento. Muito importante: ainda que fuja um pouco do objetivo desta matéria é possível demonstrar que as linhas de campo magnético de uma linha infinita correspondem as linhas de equipotência do campo elétrico de uma distribuição de cargas linear igualmente infinita. De forma prática, e voltada para situações encontradas no cotidiano do engenheiro podemos ficar com a equação que calcula o campo magnético proveniente de uma um filamento finito, percorrido por uma corrente. Onde α2 e α1 são os ângulos formados entre os limites do filamento e o ponto desejado. Acese a versão online da aula e confira o vídeo do professor tratando deste assunto que estudamos e conheça mais. Tema 2 - A Lei Circuital de Ampère A Lei Circuital de Ampère ajuda a resolver problemas complexos relativos ao campo magnético estático, estabelecendo que a integral de linha fechada do campo magnético H, em qualquer percurso é exatamente igual a corrente I enlaçada pelo percurso. Geralmente conhecemos a corrente e usamos a Lei Circuital de Ampère para calcular o campo magnético, de forma muito similar ao uso da Lei de Gauss, para obter a distribuição de cargas. Contudo, para utilizarmos a Lei Circuital de Ampère, precisamos que exista um alto grau de simetria e que as condições a seguir sejam satisfeitas: a) Em cada ponto do circuito fechado, o campo H deve ser normal ou tangencial ao percurso; b) O campo H deverá ter o mesmo valor em todos os pontos do percurso onde H é tangencial; c) Definiremos como positiva a corrente cujo sentido avança na direção do avanço de um parafuso, na direção em que o circuito fechado for percorrido; d) Se a superfície que envolve o condutor envolver a corrente duas vezes em sentidos opostos a corrente envolvida será a soma algébrica destas correntes. Ou seja: zero. Considere agora que qualquer percurso fechado pode ser considerado como a soma integral de diversos percursos abertos. Observando a condição d), acima, poderemos escolher um conjunto de percursos tal que alguns dos percursos abertos envolvam a corrente duas vezes em sentidos opostos anulando sua contribuição para o percurso total. Ainda assim, o campo magnético ainda será determinado pela corrente total englobada. Este é um artifício que você pode usar, durante a determinação do percurso, para simplificar os cálculos. Escolha, sempre que possível, o caminho mais simples e tente se limitar a um plano. A aplicação da Lei da Gauss envolve a descoberta da carga englobada por uma superfície fechada e também envolve a descoberta da corrente envolvida por um percurso fechado (HAYT e BUCK, 2012). Aplicações da Lei de Ampère Filamento infinito de corrente Considere um filamento infinito conduzindo uma corrente I ao logo do eixo z em seu sentido positivo como pode ser visto na figura a seguir. Para determinar o valor do campo magnético H em um ponto P sobre o eixo y imaginamos um percurso fechado no plano x,y que cruze o ponto P. Este percurso sobre o qual aplicaremos a Lei Circuital de Ampère é conhecido como percurso amperiano, ou caminho amperiano. Trata-se da ferramenta da Lei Circuital de Ampère equivalente à superfície gaussiana que usamos na Lei de Gauss. Escolhemos um círculo, centrado na origem que mostra que H é constante se o raio ρ for constante. Como este percurso envolve toda a corrente I, de acordo com a Lei Circuital de Ampère, teremos: Ou, resolvendo: Como havíamos visto usando a Lei de Biot-Savart Plano infinito de corrente Consideramos agora um plano infinito de corrente sobre o eixo z, na origem. Se este plano tem uma densidade uniforme de corrente dada por: K = Kyay A/m, fluindo na direção do eixo y no sentido positivo. Como pode ser visto na figura a seguir. Escolhemos, para facilitar, um caminho retangular ortogonal ao plano de corrente, como também pode ser visto na figura. Só para lembrar, a Lei Circuital da Ampère garante que: Antes de integrar, precisamos avaliar as condições de simetria. A primeira observação é que a componente Hy será igual a zero já que a corrente está no eixo y e o campo magnético sempre será paralelo a corrente. Também podemos observar que H não pode variar com x ou y já que a fonte é não varia com x ou y. Em seguida, podemos imaginar este plano dividido em um número infinito de filamentos de corrente infinitesimais no plano x,y, como pode ser visto a seguir: Resta-nos analisar componente Hx. Tome por exemplo, dois pontos quaisquer sobre o eixo x, como pode ser visto na figura a seguir. E um ponto qualquer sobre a placa, em que o campo magnético resultante H será o resultado da soma vetorial dos campos devidos aos pontos j e k. A soma de todos os efeitos de todos os pontos produzirá o componente Hx ax. Ou seja, o campo resultante só possui a componente Hx e não varia com x ou y. Sendo assim, aplicando a Lei Circuital de Ampère no percurso 1 – 1’ – 2' –2 – 1, que pode ser visto na figura anterior, teremos: Fazendo as integrais de linha sobre o percurso, temos: Como o componente Hz = 0 temos: Como Hx não varia, com x temos: Ou, resolvendo: Poderíamos agora estender o percurso escolhido de forma a envolver os pontos 3 – 3' – 2' – 2 – 3 e resolver novamente a integral com as mesmas considerações e chegaríamos a: Ou, em bom português, o campo não depende da distância entre o ponto e a placa infinita de correntes. Ainda podemos observar que o campo para todos os valores de z > 0 será igual em módulo e com sentido oposto ao campo em todos os valores de z < 0. Neste caso diz-se que o campo é antissimétrico, ou seja: E, se considerarmos a forma vetorial, podemos definir o valor do campo H para todo e qualquer ponto em z se utilizarmos um vetor unitário normal ao plano, ou seja: Acesse a versão online da aula e confira o vídeo do professor tratando deste assunto que estudamos e conheça mais. Tema 3 - Rotacional e o Teorema de Strokes Definiremos o rotacional e o teorema de Strokes utilizando o campo magnético, seguindo a estrutura do nosso livro texto. (HAYT e BUCK, 2012). Mas, antes de começarmos vamos rever o conceito de rotacional. Definimos rotacional como sendo o resultado do produto vetorial entre o operador∇ e um campo vetorial F qualquer de tal forma que podemos calcular o rotacional por: Logo, Só para lembrar, circulação é a quantidade de força que atua ao longo de um percurso fechado dada, se preferir, pela integral de linha do percurso. Trata-se da força total percebida ao longo de um círculo, por exemplo. O rotacional é apenas a circulação por unidade de área, a densidade de circulação ou a taxa de rotação de um único ponto. O rotacional de um campo vetorial F, rot(F), resulta em outro campo vetorial cujos componentes x,y,z resultam na circulação desse campo vetorial por unidade de área respectivamente nos campos normais a esses componentes. Para saber mais, acesse o PDF a seguir: https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/3779579543935/[P26 ]%20Gradiente,%20Diverg%C3%AAncia%20e%20Rotacional%2 0(revisitados).pdf Estamos interessados em obter a forma pontual da Lei Circuital de Ampère. Desta forma analisaremos o campo magnético. De forma analítica, podemos entender o rotacional analisando a Figura 9, onde um campo vetorial A está envolvido por um percurso fechada C que envolve uma área plana diferencial ΔS e contém o ponto P. A Integral para a definição do rotacional será evoluída de tal forma a manter, durante todo o percurso o contorno da área limitada sempre a esquerda. Assim podemos utilizar a regra da mão direita para determinar a direção do vetor unitário an. Sendo assim, o rotacional do campo A será definido por: Em um sistema de coordenadas qualquer é possível especificar o rotacional para cada um dos componentes do sistema por meio dos seus vetores unitários. Sendo assim, por exemplo, no sistema cartesiano, tudo o que precisamos para definir o rotacional em relação a x é definir um caminho fechado no plano y,z, que englobe um ponto em um dos planos de x, e fazer a integral de linha, como pode ser visto na figura a seguir: Considere agora que o campo vetorial conservativo A é dado por: O vetor normal ao ponto P só possui o componente x. Fazendo a integral de linha teremos a soma da integral de cada percurso ou: Dividimos o resultado da integral de linha por Δy Δz e temos que o rotacional em relação ao eixo x será dado por: Se fizermos o mesmo raciocínio para todos os eixos chegaremos a mesma equação que encontramos usando os determinantes. Sem dúvida, podemos definir o rotacional para os sistemas cilíndrico e esférico. Rotacional no sistema cilíndrico Rotacional no sistema esférico Rotacional em campos magnéticos Agora que já definimos o rotacional, podemos observar estes mesmos conceitos aplicados a um campo magnético H dado por: Ainda em busca da Lei Circuital de Ampère em seu formato pontual, vamos escolher o sistema de coordenadas cartesianas e um pequeno percurso de lados Δx e Δy como pode ser visto a seguir: Avaliaremos um ponto exatamente no centro do percurso retangular que escolhemos onde o campo será H0, cujo componentes podem ser vistos nesta figura. Neste caso, a integral de linha ao longo do percurso será dada pela soma dos quatro valores de H ⋅ ΔL, se consideramos que estamos trabalhando com valores diferenciais, atendendo o a definição de rotacional com o limite da área englobada tendendo a zero. Escolhemos o caminho 1 – 2 – 3 – 4 – 1 e chegaremos para o componente z a: Se lembrarmos da Lei Circuital de Ampère, este resultado deve ser igual a corrente evolvida pelo percurso que determinamos. Precisamos agora considerar dois pontos importantes: primeiro que há uma densidade de corrente J; segundo que a corrente envolvida pode ser dada em relação a J e a área de tal forma que, em termos infinitesimais, . Logo: Ou: Depois de definirmos a Lei Circuital de Ampère, igualando uma integral de linha fechada de H a corrente evolvida pelo percurso, chegamos agora a integral de percurso fechada por unidade de área por unidade de área envolvida ou, densidade de corrente (HAYT e BUCK, 2012). Podemos expandir esta demonstração usando planos transversais aos eixos x e y, e chegaremos à definição de rotacional do campo H: As equações do rotacional do campo H em coordenadas cilíndricas e esféricas podem ser encontradas no livro do Hayt (HAYT e BUCK, 2012). Se, voltarmos ao início deste tema, podemos ver que a integral de linha de um percurso fechado representa a circulação, termo emprestado da mecânica dos fluidos. Sendo assim, a circulação de H é dada por ∮ H ⋅ dL. Nós podemos definir o rotacional como sendo a circulação por unidade de área. Se o percurso é infinitesimal e tende a zero, o rotacional está definido no ponto. O rotacional do campo E deve ser zero, já que não há trabalho para deslocar uma carga em torno de nenhum percurso fechado. Contudo, o rotacional de H não pode ser zero, se existir corrente criando o campo a circulação de H por unidade de área é, graças a Lei Circuital de Ampère, a densidade de corrente envolvida. Mais importante de tudo, é que chegamos a: Onde: É a segunda equação de Maxwell, que se aplica a condições que não variam no tempo, a terceira, também foi vista por nós e diz respeito ao rotacional do campo elétrico. Eu falei em Maxwell!!! Apesar do livro do Hayt já ter citado Maxwell umas duas ou três vezes. Só agora podemos fazer algum sentido da importância de suas quatro equações. Vamos chegar lá! Fique tranquilo. É mais fácil que parece. Teorema de Stokes O Teorema de Stokes mostra que a integral de linha do componente tangencial de um campo vetorial conservativo F, em torno do percurso L é igual a integral de superfície do componente normal do rotacional de F, sobre uma superfície S. Simples assim. Quase intuitivo. Em termos matemáticos: Agora, sem brincadeira. É isso mesmo, o teorema é assim mesmo. Contudo, não se preocupe ele só faz sentido se estudarmos um fenômeno. Então, vamos voltar ao livro texto e obter a forma integral da Lei Conservativa de Ampère a partir da forma pontual. Primeiramente, vamos considerar a superfície S vista na figura a seguir, e vamos observar os elementos diferenciais de área Δs que, para facilitar já afirmo que tenderão a zero no limite. Vamos aplicar a definição de rotacional a uma destas áreas infinitesimais para encontrar: Onde o índice N indica que o rotacional será normal a superfície S, obedecendo a regra da mão direita sobre o percurso escolhido. Indicado na equação pelo índice ΔS na derivada do contorno. Este percurso pode ser visto na figura anterior. Podemos também escrever esta mesma equação garantindo a direção e o sentido do rotacional por meio do vetor unitário normal. Ou seja: Ou, expandindo, temos: Se fizermos a integral de todos ΔS da superfície S teremos o cancelamento de todos os percursos internos já que cada lado de cada área será percorrido duas vezes. Exceto, e este exceto é importante, nos percursos que acompanham o contorno da superfície S. Logo: E temos o teorema de Stokes. Agora vamos voltar ao rotacional do campo H, como vimos: Tudo que precisamos é fazer o produto escalar de cada lado da equação pelo vetor infinitesimal dS e integrar os dois lados sobre a mesma superfície arbitrária S para podermos aplicar o Teorema de Stokes. Como a integral da densidade de corrente sobreuma superfície é igual a corrente total passando através desta superfície temos que: O Teorema de Stokes relaciona uma integral de superfície a uma integral de linha fechada. Podemos utilizar o teorema de Stokes, e o teorema da divergência para provar várias propriedades dos campos vetoriais. Você, se estiver curioso, pode ver algumas destas provas no livro do Hayt, fim do capítulo 7.4. Tema 4 - Fluxo Magnético O campo de intensidade magnética H depende apenas das cargas móveis e é independente do meio. O campo de forças associado a H é a densidade de fluxo magnético B que, no vácuo, é dada por: A densidade de fluxo magnético B é medida em Webers por metro quadrado (Wb/m2) ou, no Sistema Internacional de Unidades, em Teslas (T) de tal forma que: A constante μ_0, permeabilidade, por sua vez, é medida em henrys por metro (H/m) e tem o valor de para o vácuo. Definimos fluxo magnético, Φ, como sendo uma determinada intensidade de campo magnético que atravessa uma determinada área. Exatamente como fizemos com fluxo elétrico. Então se integramos ao longo da superfície relativa a esta área: O fluxo magnético é medido em webers (Wb). Poderíamos continuar a analogia com o campo elétrico e as cargas elétricas mas esbarraríamos em um problema. Até janeiro de 2014 não existia nada que pudesse ser comparado a carga elétrica, em termos de magnetismo. Existia, é claro, toda uma teoria quântica que indicava a possibilidade e, em alguns casos, a necessidade de um monopolo magnético. Em janeiro de 2014 foi possível, pela primeira vez sintetizar esta entidade em laboratório e hoje, estamos aprimorando alguns conceitos do eletromagnetismo. Para saber mais, acesse o link a seguir: https://www.london-nano.com/research-and- facilities/highlight/magnetic-monopoles-discovered-by-lcn- scientists Vamos ficar com a teoria tradicional onde o magnetismo nada mais é que o resultado de cargas em movimento sendo assim, sempre, relacionado a uma corrente. Sendo assim, revendo a análise do filamento infinito de corrente vemos que o campo H é formado de linhas concêntricas circulares em torno deste filamento como não há dimensionalidade em o campo densidade de fluxo magnético B, terá a mesma forma. As linhas de fluxo magnético são fechadas e não começam nem terminam. Logo, se aplicarmos a Lei de Gauss, teremos que: Esta equação é conhecida como lei da conservação do fluxo magnético. E, se aplicarmos o teorema da divergência encontraremos a quarta e última equação de Maxwell: Acesse a versão online da aula e confira o vídeo do professor tratando deste assunto que estudamos e conheça mais. Tema 5 - Potencial Magnético Em eletrostática trabalhamos com a noção de potencial. Este conceito é conveniente porquê, muitas vezes, é melhor achar o potencial e então calcular o campo elétrico E usando E = -∇V que pode ser lida como: o campo elétrico é dado pelo negativo do gradiente do potencial elétrico. Esta função escalar só é possível por causa da natureza conservativa do campo elétrico. Também vimos que o campo elétrico é um campo irrotacional. De tal forma que: rot(E) = 0. Para completar o cenário, vimos que a Lei Circuital de Ampère, determina que o campo magnético tem o rotacional diferente de zero. A última equação é importante para nosso raciocínio mas para que você perceba sua importância terei que buscar uma definição da álgebra vetorial: o rotacional de um gradiente é sempre zero. Ou seja, se existisse uma equação que associasse o campo magnético a uma função escalar por meio de um gradiente violaríamos a Lei Conservativa de Ampére para qualquer região do espaço onde uma corrente esteja presente. Vamos chamar esta equação de potencial magnético escalar de Vm então: Como vimos, anteriormente, podemos encontrar o vetor densidade de corrente J a partir do campo magnético: Substituindo o campo magnético pelo gradiente do escalar potencial magnético temos: E voltamos ao rotacional do gradiente de um escalar: ∇ × (-∇Vm). Ou seja, para qualquer região do espaço onde exista um potencial escalar magnético não pode existir corrente elétrica já que a densidade de corrente será zero. Ainda assim, o potencial magnético escalar Vm pode ser útil e é medido em ampères. Vamos agora definir o potencial magnético vetorial que será útil no entendimento de antenas, linhas de transmissão e blindagem eletromagnética. Este potencial magnético vetorial pode ser utilizado em qualquer região do espaço independentemente da existência de corrente nesta região. Para tanto, nada nos impede de definir um campo vetorial A, de tal forma que: Assim, nós atendemos a quarta equação de Maxwell, ∇ ⋅ B = 0 já que a divergência de um rotacional é zero. Neste momento você precisa lembrar que um campo vetorial qualquer pode ser definido apenas pela divergência e rotacional. Ou, em bom português, a divergência da densidade de fluxo magnético deve ser zero. E o campo magnético H pode ser encontrado por: A densidade de corrente J, criadora deste campo pode, então, ser encontrada por: Esta última equação mostra que uma vez que conheçamos o campo vetorial A, podemos encontrar a densidade de corrente fazendo o rotacional do rotacional do campo A. Para lembrar: o campo vetorial é definido pela determinação do rotacional e da divergência. Como o campo B, é uma grandeza física, o rotacional do campo A, também o será. Contudo, a divergência do vetor potencial não tem significado físico. Temos a liberdade de especificar sua divergência de acordo com a nossa necessidade. Esta liberdade de escolher um vetor potencial magnético A cujo rotacional será B e cuja divergência pode ser escolhida é chamada de gauge. O gauge mais popular é conhecido como gauge de Coulomb, que pode ser utilizado em qualquer situação e é dado por: ∇ ⋅ A = 0. Da mesma forma que definimos uma integral para o potencial escalar elétrico em relação a carga, podemos definir equações para a determinação do potencial magnético vetorial para distribuições de corrente diferentes (SADIKU, 2014). Distribuição linear de corrente Distribuição superficial de corrente Distribuição volumétrica de corrente A demonstração destas equações pode ser obtida tanto no livro do Hayt (HAYT e BUCK, 2012) quanto no livro do Sadiku (SADIKU, 2014). Acesse a versão online da aula e confira a o vídeo do professor tratando deste assunto que estudamos e conheça mais. NA PRÁTICA As equações de Maxwell já foram enunciadas ao longo das nossas aulas. Mas, quem foi esse tal de Maxwell? Sua sugestão de pesquisa para esta rota e justamente responder esta pergunta. Faça uma pesquisa sobre o sr. Maxwell. Onde ele nasceu? Onde trabalhou? Com quantos anos desenvolveu estas equações? E, mais importante de tudo, por quê elas são tão importantes? SÍNTESE As correntes elétricas produzem, no espaço, um campo magnético que é perpendicular ao seu sentido, e obedece a regra da mão direita. Esta frase, de tão importante, deveria estar gravada em uma pedra de mármore na em cada aeroporto do planeta. Vimos como a geração do campo magnético ocorre e, para isso, fizemos nosso primeiro estudo de cargas em movimento. Durante sua vida profissional terá que trabalhar com correntes elétricas e campos, com vetores de potencial elétrico e magnético e, sempre será levado a consideraro sentido da corrente, da carga positiva para a carga negativa, e a regra da mão direita. No começo desta aula eu pedi que você considerasse o que aconteceria se uma correte atravessa-se um pouco de migalhas elétricas. Agora você já pode imaginar que estas migalhas serão orientadas e como elas serão orientadas. Se não, esta é uma boa oportunidade para rever a aula. A matemática ficou um pouco mais complicada. Rotacionais para cá, divergentes para lá. Nada que uma boa calculadora não resolva. Lembre-se sempre de que vocês serão engenheiros e que para nós a matemática é uma ferramenta. Aprenda a usar sua calculadora e tudo ficará mais simples. Nas próximas aulas veremos a aplicação do magnetismo, as forças e campos que fazem um motor rodar ou uma imagem de televisão ser transmitida pelo ar. Olhe para sua mão direita, retire os eixos x e y. É desta forma positiva que você está indo. Acesse a versão online da aula e assista à fala final do professor. Referências BAKSHI, U. A.; BAKSHI, A. V. Eletromagnetic Fields. Pune: Tchenical Publications Pune, 2000. CHISHOLM, H. Ohm, Georg Simon. In: ______ Encyclopædia Britannica Eleventh Edition. Cambridge: [s.n.], 1911. p. 34. EDMINISTER, J. A. Eletromagnetismo. [S.l.]: McGraw Hill, 1979. HAYT, W.; BUCK, J. A. Eletromagnetism. 8. ed. Nova Iorque: McGrawHill, 2012. JOHN D. KRAUS, K. R. C. Eletromagnetismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1990. OPENSTAX - RICE UNIVERSITY. College Physics. Houston: Rice University, 2013. SADIKU, M. Elements of Electromagnetics. London: Oxford University Press, 2014. TAFLOVE, A. Why Study Electromagnetics: The First Unit in an Undergraduate Electromagnetics Course. Evanston: 2002. WIKIPEDIA CONTRIBUTORS. André-Marie Ampère. Wikipedia, The Free Encyclopedia, 2016. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9- Marie_Amp%C3%A8re?oldformat=true>. Acesso em: 18 fev. 2016.
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