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4 REVELIA NCPC

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REVELIA ART. 344 A 346 NCPC
Vimos até aqui as várias formas de resposta que o réu pode apresentar. Agora, serão examinadas as consequências da omissão do réu em oferece-las.
Desde que citado, o réu passou a integrar a relação processual. A citação não serve apenas para lhe dar ciência do processo, mas para dar-lhe oportunidade de se defender.
O réu tem o ônus de se defender. Não está obrigado a fazê-lo, pois pode optar por permanecer em silêncio. O juiz não o forçará a apresentar contestação, se não o desejar. Mas a falta dela poderá trazer consequências gravosas, contrárias aos seus interesses. Por isso, quando citado, ele é advertido das consequências que advirão da sua omissão.
Ao apresentar a petição inicial, o autor dará a sua versão dos fatos, que embasam a pretensão. O juiz não os conhece e dará oportunidade ao réu para apresentar a versão dele. Em sua resposta, poderá negar os fatos alegados pelo autor (defesa direta) ou admiti-los, apresentando fatos modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor. Nesse último caso, este terá chance de se manifestar novamente, a respeito dos fatos alegados (réplica).
Há necessidade de que o juiz ouça ambas as partes, dando-lhes igual atenção. Se os fatos tornam-se controvertidos, e houver necessidade de provas, ele determinará a instrução.
Haverá revelia se o réu, citado, não apresentar contestação. O revel é aquele que permaneceu inerte, ou então aquele que ofereceu contestação, mas fora de prazo. Ou ainda aquele que apresenta contestação, mas sem impugnar os fatos narrados na petição inicial pelo autor. 
Não será revel o réu que, citado, deixa de oferecer contestação, mas apresenta reconvenção, cujos fundamentos não sejam compatíveis com os da pretensão inicial. 
Efeitos da revelia
A revelia é a condição do réu que não apresentou resposta. Dela pode advir duas consequências de grande importância: a presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicial e a desnecessidade de sua intimação para os demais atos do processo.
Por isso, contestar no prazo, e impugnar especificamente os fatos que fundamentam a pretensão inicial, é um ônus do réu. O seu descumprimento poderá leva-lo a suportar consequências processuais gravosas.
Importante: Não se pode confundir a revelia, isto é, o estado processual daquele que não apresentou resposta, com os efeitos dela decorrentes, porque há casos em que a própria lei exime o revel das consequências.
Os dispositivos legais que tratam das consequências da revelia são os arts. 341 e 344 do NCPC, relacionados à presunção de veracidade, e o art. 346, à desnecessidade de intimação para os demais atos do processo.
 Presunção de veracidade dos fatos
Na petição inicial, o autor exporá os fatos em que se fundamenta o pedido. A descrição dos fatos é indispensável, pois constituirá o elemento principal da causa de pedir e servirá para identificar a ação.
Cumpre ao réu contrapor-se a eles, manifestando-se precisamente. Não basta que o faça de maneira genérica. O ônus do réu é de que impugne especificamente, precisamente, os fatos narrados na petição inicial. Os que não forem impugnados presumir-se-ão verdadeiros.
Se o réu é revel, não apresentou contestação válida, o juiz, em princípio, há de presumir verdadeiros todos os fatos narrados na petição inicial, e, se estes forem suficientes para o acolhimento do pedido, estará autorizado a julgar de imediato, conforme art. 355, II, do NCPC. O art. 344 NCPC estabelece que, “Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor”.
É preciso que os fatos sejam verossímeis, e possam merecer a credibilidade do juiz. Ele não poderá, ao formar sua convicção, dar por verdadeiros os que contrariam o senso comum, ou que são inverossímeis.
Em síntese, só dará por verdadeiros os fatos que não contrariarem a sua convicção, como expressamente dispõe o art. 20, da Lei n. 9.099/95, que pode ser aplicado aos processos em geral.
Além disso, embora o réu não tenha apresentado contestação, pode ter, de alguma outra maneira, tornado controvertidos os fatos. É possível que tenha reconvindo, com fundamentos incompatíveis com os da petição inicial. 
Se, em caso de revelia, o juiz deixar de considerar verdadeiros um ou alguns dos fatos, deverá expor as razões de sua convicção, de forma fundamentada.
Hipóteses de exclusão legal da presunção de veracidade
Além de relativa a presunção, há hipóteses — nos arts. 341 e 345, do NCPC — em que a lei a afasta expressamente.
“Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se:
I– não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato;
III – estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.
Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial”.
“Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I – havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
II – o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato;
IV – as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos”.
I- Pluralidade de réus, quando um deles contesta a ação
Essa causa de exclusão está prevista no art. 345, I, do NCPC. A redação do dispositivo poderia levar à falsa impressão de que, em qualquer espécie de litisconsórcio, a contestação apresentada por um dos réus poderia ser aproveitada pelos demais. Mas não é assim. Há dois regimes de litisconsórcio:
- no litisconsórcio simples, em que o julgamento pode ser diferente para os vários réus, o regime é o da independência, e a contestação de um não aproveitará aos demais; 
- no litisconsórcio no unitário, o regime é o da vinculação, e basta que um conteste para que todos sejam beneficiados. 
II- Litígio que versa sobre interesse indisponível
 A hipótese vem tratada no art. 345, II, do NCPC.
Não há vedação a que, em processos que versem sobre litígios dessa natureza, o réu seja revel. A restrição é no tocante aos efeitos da revelia, ou seja, à presunção de veracidade dos fatos, decorrente da revelia.
São indisponíveis, em regra, os direitos extrapatrimoniais ou públicos, sobre os quais não se admite confissão. E são disponíveis os direitos patrimoniais e privados, sobre os quais se pode transigir.
III- A petição inicial desacompanhada de instrumento público que a lei considere indispensável à prova do ato
A hipótese vem mencionada no art. 345, III e no art. 341, II, do NCPC. O juiz não poderá presumir verdadeiros atos jurídicos que só podem ser provados por documentos, como, entre outros, os contratos de venda de bens imóveis, que dependem de escritura pública, da própria substância do negócio. 
Entes que não têm o ônus da impugnação especificada
Art. 341. “Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial”.
No CPC de 2015, são excluídos do ônus da impugnação especificada o defensor público, o advogado dativo e o curador especial.
Esses entes poderão apresentar contestação por negativa geral, o que será suficiente para afastar a presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial.
A razão para o benefício é a dificuldade que eles poderiam enfrentar, se obrigados à impugnação específica. O curador especial, nomeado em favor do réu revel citado fictamente, por exemplo, dificilmente terá condições de conhecer os fatos, já que, em regra, não tem contato com o réu. Na mesma situação podem estar o defensor dativo e o Ministério Público que, ademais, age em favor de interesses públicos.
Desnecessidade de intimação do revel
Darevelia decorrem dois efeitos principais: a presunção de veracidade, examinada nos itens anteriores, e a desnecessidade de intimação do revel.
Prevê o art. 346 do NCPC que “Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão oficial”.O parágrafo único acrescenta que “O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar”.
Para que a intimação seja desnecessária, não basta a revelia do réu, sendo imprescindível que ele não tenha patrono nos autos. Pode ocorrer que ele tenha constituído advogado que não tenha apresentado contestação, ou o tenha feito fora do prazo. Haverá revelia, mas o réu continuará sendo intimado, por meio do seu advogado, dos demais atos do processo.
Pela mesma razão, se o réu constituir advogado posteriormente, a partir de então passará a ser intimado.
Mas, sendo revel e não tendo advogado constituído, os prazos correrão para ele independentemente de intimação, pois demonstrou desinteresse pelo processo. 
Esse dispositivo assume ainda maior importância, diante da instituição do chamado “processo sincrético”, em que as fases de conhecimento e de execução constituem partes de um único todo. Não haverá necessidade de que o executado seja novamente intimado, na fase executiva. Tendo permanecido revel na fase de conhecimento, sem advogado, não será intimado dos atos processuais nem na de conhecimento, nem na de execução.
Mas poderá a qualquer tempo ingressar no processo, e participar dos atos processuais que se realizem daí em diante, passando a ser intimado desde que constitua advogado. A dispensa de intimação decorrente da revelia não é definitiva, podendo o réu, a qualquer tempo, participar.
“Art. 346. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar”.
Essa é a razão da súmula 231, do Supremo Tribunal Federal: “O revel, em processo cível, pode produzir provas, desde que compareça em tempo oportuno”.
Revelia e processo de execução e cautelar
No processo de execução não se pode falar em revelia, porque o réu não é citado para apresentar contestação, controvertendo os fatos narrados na inicial, mas para pagar, entregar alguma coisa, fazer ou deixar de fazer algo. O juiz, na execução, não proferirá sentença de mérito, mas, verificando que há título executivo, determinará as providências executivas postuladas, contra as quais o devedor poderá opor-se, por meio da ação autônoma de embargos.
No processo cautelar, o réu será revel se não contestar, e disso advirão as mesmas consequências que no processo de conhecimento. É o que diz o art. 307, do NCPC: “Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias".

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