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Aula de DIDÁTICA

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Didática
Aula 01
Vamos iniciar a disciplina trazendo o seguinte questionamento: Todo professor tem didática?
O questionamento se faz pertinente, pois é muito comum encontrarmos estudantes afirmando que certos professores não têm didática e, normalmente, isso ocorre porque o professor não apresenta características ou meios de ensino que correspondam às suas necessidades.
O fato é que, enquanto alguns alunos afirmam que os professores X, Y ou Z não possuem didática, outros não concordam, apontando outros professores que, em suas concepções, não possuem tal competência.
Mas, para respondermos ao questionamento inicial, se faz necessário problematizar o conceito de Didática, compreender o que vem a ser didática para, em seguida, afirmarmos se, de fato, está correto dizer que um professor não tem didática.
Talvez, o desafio esteja em apresentarmos a nossa própria resposta sobre a didática, sobre a docência, porém, tomando por base algumas referências. Com base nessa linha de pensamento, convidamos você a vivenciar uma aventura que se chama aprender.
É muito comum, ouvirmos de alunos de que nem todo professor tem didática. Será que essa afirmativa é verdadeira? O que está se entendendo por didática? O fato é que o conceito de Didática vem se modificando ao longo dos tempos.
Normalmente, os alunos, independente do nível de escolaridade, associam o conceito de Didática à capacidade do professor de transmitir um conhecimento com clareza, de modo que ele se faça entender, que o professor faça o aluno assimilar o conteúdo, ou seja, compreender a matéria.
Nesse sentido, as pessoas que compreendem a Didática como transmissão e assimilação de conteúdos tendem a concluir, sobre aqueles professores que não alcançam o objetivo de fazer com que o aluno compreenda os assuntos referentes às disciplinas, que eles não possuem didática.
Talvez, essa conclusão seja um pouco precipitada, pois o conceito de Didática não se resume apenas à mera transmissão e assimilação do saber.
Há muito mais a ser compreendido sobre esse conceito e é o que desejamos para você, aluno do curso de formação docente; que amplie os seus olhares acerca da Didática, rompendo com um pensamento reducionista que poderá comprometer o processo de aprendizagem, na medida em que não se reconhece outras ações e competências inerentes ao papel do professor.
Diante disso, esperamos despertar em você o sentido da Didática, o desejo de buscar novas respostas sobre ela, não se fechando em um único conceito, sob o risco de empobrecermos a relação pedagógica entre alunos e professores.
Conversa com os alunos: realidades e compreensões
A partir de um diálogo e questionamento sobre o conceito de Didática, com os alunos do curso de formação docente, nas modalidades presencial e a distância, nas salas de aula da Universidade Estácio de Sá, é comum escutarmos, lermos nos fóruns algumas compreensões.
Selecionamos algumas falas de alunos que poderão representar você, na medida em que poderá apresentar ideias semelhantes.
Bem, vamos às “deles”, “delas”, “nossas”, “suas” falas?
“A Didática é um conjunto de técnicas e estratégias ou normas de ensino; 
é a teoria do ensino”.
“É a forma como o professor transmite o conhecimento, visando à assimilação do mesmo pelo aluno; é passar conhecimento”.
“É o caminho que o professor traça para trabalhar o conteúdo, quando um professor domina um assunto e explica de forma fácil para que o aluno entenda e apresente bons resultados”
São os procedimentos de ensino adotados pelo professor. É a capacidade do professor de transmitir um assunto, fazer com que o aluno compreenda as explicações.
Responsabilidade do aluno no processo de aprendizagem
Pensando nas falas que acabamos de ver, podemos dizer que tratam-se de definições clássicas, na medida em que a responsabilidade pelo ensino recai, predominantemente, sobre o professor. Mas podemos também questionar: E por que não falar também sobre a responsabilidade de aprendizagem do aluno? Vejamos a charge a seguir:
A partir das falas, podemos dizer que o professor é considerado o centro do processo de ensino-aprendizagem e o aluno é aquele que tem a função de assimilar, de receber passivamente a informação; isto é, de reter o máximo de conteúdos em sua mente.
Esse é um modelo linear de ensino em que o conhecimento é transmitido de alguém para outra pessoa, do professor para o aluno, hierarquicamente e como verdade absoluta, em via de mão única.
A ênfase é no conhecimento que o professor apresenta, em sua prática de tornar compreensivo, explícito o que está ensinando.
Nessa perspectiva, o professor é o único detentor do saber e o aluno é considerado “sem luz” até que ele aprenda o que o professor tem para lhe ensinar.
Construindo conhecimento sobre o conceito de didática, problematizando-o
Podemos afirmar que Didática vai muito além do que essa definição clássica mencionada anteriormente, pois, talvez, os alunos também possam aprender com os seus próprios colegas e não apenas com o professor em sala de aula.
A propósito, talvez, possamos afirmar que o próprio professor também pode aprender com seus alunos.
Como se pode perceber, o assunto é polêmico; e construir um conceito de Didática dependerá de aprofundamento teórico, de estudarmos os fundamentos da Educação, o que faz pensar que não existe um único conceito, padrão, correto, pois, afinal, correto pra que e pra quem; não é mesmo?
Compreensão acerca do conceito de Didática à luz de alguns autores
Diante disso, que tal partirmos de algumas referências, de estudiosos que se dedicaram a essa área do conhecimento? Vamos ver o que dizem os especialistas nesse assunto:
Didática: É um dos ramos de estudo da Pedagogia [...] É uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais [...] se caracteriza como mediação entre as bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente [...] pode constituir-se em teoria do ensino [...] a Didática se baseia numa concepção de homem e sociedade (LIBANEO, 2013).
Curso De Didática Geral: A Didática é uma seção ou ramo específico da Pedagogia e se refere aos conteúdos do ensino e aos processos próprios para a construção do conhecimento [...] é definida como a ciência e a arte do ensino (HAIDT, 2006).
A Didática Em Questão: “Uma reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica” (CANDAU, 2004).
A Didática: A palavra didática tem sua origem na expressão grega techné didaktiké que significa ensino, instrução [...] de maneira mais abreviada é a arte de transmitir conhecimentos, trazendo o sentido da orientação, condução, guia [...] definição essa que data do século XIX, considerada tradicional, portanto, sendo ultrapassada por outras abordagens mais modernas e avançadas (CORDEIRO, 2007)
Didática Geral: É comum a associação da Didática com o como ensinar, ou seja, com métodos e técnicas, mas, ressalta sobre a importância da reflexão sobre os seus fundamentos, sobre as razões de seu emprego, pois, caso contrário, corre-se o risco de nos convertermos em escravos dos instrumentos (PILETTI, 2010).
REFLETINDO...
Diante do que vimos até aqui, você consegue responder de que formas podemos compreender a Didática?
Se compreendermos que Didática é o ato de transmitir algo a alguém, então, nossa concepção sobre seu conceito é linear e tradicional, pois, nesse caso, apenas o professor é o protagonista do processo de aprendizagem; ele detém o saber que é legitimado pelo mundo acadêmico, escolarizado.
Mas, podemos dizer, também, que se trata de uma prática, de uma ação do professor, do seu fazer pedagógico, do trabalho docente; do “estar aqui” tratando o conhecimento, dialogando com você, problematizando o conceito, a temática de estudo em questão e, aí, percebemos que o conceito começa a se tornar mais complexo.
Competências, saberes, característicasesperadas no professor no mundo atual
Além da apropriação crítica esperada no professor, bem como da autonomia nas ações pedagógicas, acrescentamos que a criatividade é uma característica fundamental ao professor para que ele crie, elabore sua prática com “mãos próprias” e não reproduza modelos pedagógicos/teóricos de outras pessoas.
Vejamos uma cena do filme
Sociedade dos Poetas Mortos 
DIDÁTICA 
Aula 02
Nesta aula, apresentaremos uma breve retrospectiva histórica da Didática, situando momentos históricos que tiveram uma importância significativa na construção da área, sobretudo, em seus princípios fundamentais. Apresentaremos a retrospectiva separando por etapas, facilitando a compreensão e apontando seus pensadores representantes, estrangeiros ou que ofereceram contribuições para o sistema educacional brasileiro.
Ressaltamos que é fundamental a leitura crítica acerca dos modelos pedagógicos/teóricos, uma vez que nos encontramos em outros contextos. E se desejamos contribuir para a formação emancipada das novas gerações, devemos nos emanciparmos como docentes, entretanto, conforme já mencionado na aula anterior, não é suficiente que essa informação seja passada de uma pessoa para a outra, logo, enfatiza-se que a apropriação crítica, acerca dos modelos que já estão postos, envolve aprofundamento teórico por parte do professor em formação, o que não significa que, após anos de experiência, o professor esteja isento de buscar novos conhecimentos, ficando evidente que a atualização é fundamental.
Acrescenta-se, também, que o fato de conhecermos novas referências não implica em abandonarmos as fontes iniciais, uma vez que, conforme já mencionado, representadas por seus pensadores, deixaram suas nobres contribuições.
Bons Estudos!
	
ANTIGUIDADE
Nesse período, podemos destacar Sócrates, Platão e Aristóteles, considerados os primeiros educadores, representando algumas expressões filosóficas.
Esses pensadores, no interior de seus tempos históricos, desenvolveram e difundiram concepções de educação do homem que ligam o desenvolvimento humano a finalidades colocadas em um modelo ideal de humanidade: de formação de caráter, de moral, de hábitos, do domínio das paixões, da justiça, do desenvolvimento religioso-intelectual, físico e artístico.
SÓCRATES
 Sócrates, apesar de ser uma referência tão antiga, parece muito atual, na medida em que, em praça pública, instigava o povo à reflexão, ao pensamento crítico, indagando, buscando respostas.
IDADE MEDIA 
Na idade média, a partir de influências religiosas da Igreja Católica, a educação enfatizou a formação do homem como ser incompleto em busca da perfeição. O homem deveria merecer a vida sobrenatural, desenvolver princípios cristãos a partir da salvação de sua alma e respeitar o dogma da Igreja como representante terrena da autoridade divina.
A Bíblia era o livro consagrado na pedagogia da escolástica, e os princípios fundamentais desse modelo de educação podem ser encontrados na obra de Santo Tomás de Aquino e na Ratio Studiorum dos jesuítas que foram os principais educadores de quase todo o período colonial.
Você deve estar se questionando: como era o processo de aprendizado? Veremos, a seguir.
O estudo era privado, em que o mestre prescrevia o método de estudo, a matéria e o horário; as aulas eram ministradas de forma expositiva, os exames eram orais e o discípulo deveria memorizar, repetir o que decorou. O enfoque está centrado em seu caráter meramente formal, tendo por base o intelecto, o domínio do conhecimento.
Nessa época, a educação era restrita à elite, aos filhos de brancos e colonos, padres, monges que enquanto estudavam, estavam isentos do trabalho; e enquanto os pobres trabalhavam, estavam excluídos da escola, cujo significado do termo se refere ao “lugar do ócio”.
IDADE MODERNA
Você sabia que Comenius (1592-1670) é considerado o Pai da Didática Magna?
Comenius criticou o dogmatismo da Igreja, a pedagogia da escolástica, afirmando que todos os jovens, independente do sexo, deveriam ter acesso à escola e propôs a reformulação do ensino e da cristandade.
O Tratado Universal da Didática Magna se referia à arte de ensinar tudo a todos, sem se desvincular totalmente das ideias religiosas, Comenius propõe que o aluno deveria ser instruído para os bons costumes, desenvolver virtudes para viver em sociedade, visando o progresso da nação.
Tal proposta pedagógica tinha como objetivo instrumentalizar o homem para o trabalho produtivo dirigido às finalidades de uma sociedade capitalista.
Assim, questiona-se: até que ponto é possível ensinar tudo a todos através de um método universal que, talvez, se aplique a todos e a ninguém ao mesmo tempo?
Comenius, devido as suas propostas de ensinar tudo a todos, de sistematizar o ensino, com ênfase na economia do tempo e da energia, bem como no individualismo, passou a ser reconhecido, mais tarde, por educadores, estudiosos contemporâneos como um dos representantes da pedagogia tradicional.
Martins (2012), ao se referir a Comenius, em sua obra, ressalta que para viabilizar o método único de ensinar tudo a todos proposto por Comenius no século XII, era preciso centralizar o ensino em um único professor e que atendesse a um grande número de alunos. O trabalho seria organizado na escola, de modo que o aluno obedecesse a uma hierarquia, sendo o professor considerado um “inspetor supremo”, o qual deveria com uma “habilidosa vigilância” controlar o desempenho da turma por meio de atuação direta dos seus auxiliares, “os chefes de turma”.
Comenius, citado por Martins afirmava:
“Não é necessário que o professor ouça sempre todos os alunos, nem que examine sempre os cadernos e os livros de todos, pois tendo como ajudantes os chefes de turma, estes estarão atentos a que os alunos, colocados sob sua responsabilidade, procedam como devem”.
Como se pode constatar, o processo de ensino aprendizagem é controlado pelo professor, esperando-se que o aluno se comporte, apresentando uma resposta ou uma conduta previamente determinada.
IDADE CONTEMPORANEA 
Herbart (1766-1841), foi considerado o Pai da Pedagogia Tradicional. Podemos dizer que Herbart e Comenius são os principais representantes do modelo tradicional de ensino.
Herbart propôs o método da transmissão-assimilação, tomando por base os estudos da Filosofia e da Psicologia.
Com o foco no desenvolvimento moral e intelectual da criança, formulou um esquema a ser seguido pelo professor na instrução que Martins (2012) apresenta em sua obra.
Mas em quê consistiu esse esquema?
Resposta:
O esquema consiste em cinco passos. São eles:
Preparação do aluno: que pode se dar com a recordação da lição anterior, o despertar do interesse, a proposição de linhas gerais dentro das quais se situa a matéria que vai ser apresentada; recordar os conhecimentos aprendidos; apresentar o novo conhecimento; 
Apresentação pelo professor do conteúdo a ser assimilado pelo aluno pela técnica da exposição (aulas expositivas);
 3. Assimilação pelo aluno do novo conteúdo por meio da comparação do conhecimento novo com o conhecimento ao velho, partindo sempre do mais simples para o mais complexo;
 4. Sistematizar o conhecimento visando à generalização;
 5. Aplicação através de exercícios.
No modelo tradicional de ensino, o professor tende a repassar o conteúdo como verdade absoluta, não se abre espaço para o questionamento na sala de aula; e o professor é o detentor do saber.
O aluno, por sua vez, é aquele que não tem luz, apenas, deve receber passivamente, absorvendo a massa de conteúdos que o professor lhe deposita em sua mente.
O ensino é centrado no professor que transmite o conhecimento verticalmente para o aluno, ficando claro o formato de um modelo linear de ensino, via de mão única.
E qual é a finalidade desse modelo de ensino?
A finalidade educacional é que o aluno se ajuste à sociedade, se desenvolvendo moral e intelectualmente. Segundo Herbart,o fim da educação é a moralidade, atingida através da instrução educativa [...] A principal tarefa da instrução é introduzir ideias corretas na mente dos alunos. O professor é um arquiteto da mente. Ele deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias que deseja que dominem em suas mentes (LIBANEO, 2013).
Normalmente, o professor que respalda a sua prática nessa concepção de ensino, tende a controlar o processo de aprendizagem, determinando as respostas que o aluno deverá apresentar nas avaliações, geralmente, testes e provas, através da memorização, da repetição, com ênfase no resultado, na quantificação e não no processo de aprendizagem.
Predomina a cultura do silêncio, a autoridade do mestre e a disciplina baseada no medo da punição. Podemos dizer que a docência, quando é respaldada nessa perspectiva, a ênfase se dá mais na informação e menos na formação integral, mais na reprodução e menos na transformação, mais no aluno como objeto e menos no aluno como sujeito, mais na linearidade e menos na dialética.
Diante desse quadro, questiona-se se: é possível, com essa prática tradicional, contribuir para que as novas gerações apresentem competências, tais como autonomia, visão crítica de mundo, capacidade de argumentação, de modo que correspondam às demandas do mundo atual?
De 1700 a 1900
De 1700 a 1900, aproximadamente, pensadores europeus e norte-americanos, também podem ser citados como referências de modelos teóricos que contribuíram e continuam contribuindo para o sistema educacional brasileiro, na medida em que se preocuparam com o desenvolvimento da criança e com a necessidade de um método de ensino em que o aluno fosse sujeito ativo e interativo.
Dentre os pensadores da época, podemos destacar:
Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) — “O homem é bom no seu estado natural”. O papel do educador: afastar a criança dos vícios da sociedade, permitindo-lhe desabrochar espontaneamente suas potencialidades inatas; não impor e sim desenvolver a curiosidade, a sabedoria.
Pestalozzi
Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) — Defendia a doutrina naturalista: que o homem nasce bom e que o seu caráter era formado pelo ambiente que o rodeia. Aplicou as ideias de Rousseau. “Para sua época, esta ideia era um tanto inovadora porque, na segunda metade do século XVIII, a concepção corrente era de que as transformações revolucionárias seriam o remédio que curaria todos os males sociais. Por isso, ao advogar a ideia de que a educação era um meio de regenerar a sociedade, ele estava introduzindo um elemento novo no ideário pedagógico de seu tempo” (HAIDT, 2000, p. 18).
Froebel
Friedrich Wilhelm August Froebel (1782-1852) — Criador do Jardim de Infância, em 1837, dizia que “as crianças são como as plantas, cujo desenvolvimento futuro é uma consequência do tratamento que recebem nos primeiros anos de vida. Por isso, elas devem crescer à luz da natureza, lançando raízes sobre a sua terra, alimentando-se do seu próprio ambiente”.
Dewey
John Dewey (1859-1952) — “Agir como uma meta é agir inteligentemente. Aprender fazendo”. Ação precede o conhecimento e o pensamento. “Antes de existir como um ser pensante, o homem é um ser que age”. “Sua pedagogia baseia-se nas noções de experiência e atividade. Pondo-se contra as proposições de Herbart, Dewey insiste em que só se pode realmente aprender aquilo que corresponde a um interesse verdadeiro e espontâneo, que conecta o indivíduo ao objeto do conhecimento” (CORDEIRO, 2007, p. 172-173).
Maria Montessori
Maria Montessori (1870-1952) — Em 1912 elaborou o método montessoriano (escola primária de sucesso internacional). Montessori dava importância à educação sensorial e recusava as técnicas didáticas fixas. Opunha-se à Pedagogia tradicional, católica. O método montessoriano é centrado na autoeducação por meio de brinquedos educativos (corrente vitalista). “A principal ideia que sustenta as ideias de Maria Montessori é a de que a criança tem que ser posta em primeiro lugar e considerada nas suas especificidades. Na sua concepção, a infância é uma idade própria, com características particulares, o que não permite reduzir a criança a um adulto em miniatura” (CORDEIRO, 2007, p. 175).
Decroly
Jean-Ovide Decroly (1871-1932) — A escola ideal: ambiente onde a criança pudesse observar, diariamente, os fenômenos da natureza e a manifestação de todos os seres humanos; além de conhecer o meio social em que vive.
Kilpatrick
Kilpatrick (1871–1965) — Organismo intervém em toda a atividade: o pensar, o sentir, os impulsos (o objetivo, a necessidade é que impulsiona o indivíduo), ação corporal, secreções glandulares.
Claparède
Édouard Claparède (1873-1940) — É a favor de uma educação funcional, de uma escola sob medida: pedagogia adaptada ao caráter individual do aluno. Em 1912, criou o Instituto Jean Jacques Rousseau, voltado para Psicologia Infantil. A educação ideal é aquela que cria, na criança, um comportamento que satisfaça as suas necessidades orgânicas e intelectuais.
Freinet
Célestin Freinet (1896-1966) — É a favor da não ruptura entre escola e meio social (vida e escola). O educador precisa tornar a escola uma continuidade da vida. O professor deve considerar os interesses de seus alunos, permitindo a livre expressão deles: conversas livres, composição de pequenos textos e desenhos livres. Exemplo: pedir ao aluno que desenhe ou narre oralmente acontecimentos de sua vida, assim como observações e experiências; encorajar o aluno a produzir textos e desenhos livres; levar o aluno a falar e a escrever melhor.
Piaget
Jean William Fritz Piaget (1896-1980) — Foi convidado por Claparède para assumir a direção dos estudos do Instituto Jean Jacques Rousseau em 1923. Em 1929, assumiu a diretoria do centro internacional de educação, órgão que passou a ser filiado à UNESCO. Escola: oferecer ensinamentos sobre a educação moral, social, cívica. É considerado interacionista e conhecido pelos seus estudos sobre os estágios cognitivos/estágios de desenvolvimento intelectual da criança.
Surgimento da Educação a Distância
Nesse contexto, ressalta-se também o surgimento do ensino a distância que, com o advento das novas tecnologias (leia-se Informática), surge um potencial de mensagem. Nada mais é fixo, estático, tratando-se das multimídias, do hipertexto (conjunto de textos, imagens, sons, enfim, estímulos) como se fosse um caleidoscópio, conforme nos ensina Pierre Levy (1994).
Dessa forma, o espaço cibernético está se tornando um lugar essencial para construção do saber, uma vez que abre infinitas possibilidades. Surge, então, uma nova cultura de aprendizagem com a emergência de uma nova inteligência, a inteligência coletiva (LEVY, 1994) — tudo isso graças a essa nova forma de cooperação e coordenação em tempo real.
AULA 03 CORRENTES PEDAGOGICAS LIBERAIS
Nesta aula, apresentaremos as tendências pedagógicas liberais que se dividem em tradicional, escola nova e tecnicismo, sendo importante compreender porque esses três modelos foram agrupados dentro da perspectiva liberal de ensino.
Além disso, destacaremos para cada uma dessas tendências, a função da escola, como a ela se organiza, o papel do professor e do aluno, a relação aluno-professor, os pressupostos da aprendizagem, os objetivos educacionais, a metodologia e a avaliação escolar.
 Correntes pedagógicas liberais: tradicional, escola nova e tecnicismo
Para início de conversa, é importante mencionar o porquê do termo liberal e, aí, nos reportamos a Dermeval Saviani (2008) que oferece a seguinte explicação:
O termo liberal veio para justificar a nossa sociedade capitalista que é caracterizada pelo individualismo, pelo imediatismo, competitividade e o consumo. E é sob essas bases que as tendências pedagógicas em questão se alicerçam.
Sobre as tendências pedagógicas que poderão respaldar a nossa prática, vale dizer que elas não se excluem, se complementam e se nos perguntarem em que ou quem fundamentamos a nossa prática, talvez tenhamos dificuldades para responder,pois, ora podemos respaldar a prática em uma teoria, ora, em outra.
Atenção!
Talvez possamos constatar o que está predominando nas ações dos profissionais da educação. Em outras palavras, queremos dizer que, ao observarmos uma aula de um determinado professor, podemos constatar como ele está trabalhando o conhecimento, assim como podemos verificar como esse professor se relaciona com seus alunos e os avalia; a propósito, como ele constrói suas questões de prova, por exemplo, e, a partir daí, ensaiar algumas considerações a respeito de sua prática docente.
Para facilitarmos a aprendizagem sobre as tendências pedagógicas, optamos por sistematizá-las, apontando suas características, discutindo sobre os reflexos no espaço de sala de aula, lembrando, mais uma vez, que são apenas referências da prática e nunca solução definitiva sobre como ser professor.
Você já imaginou se deparando com um “problema” no cotidiano escolar tal como a apatia dos alunos na sala de aula e, aí, procurar no manual, na letra a de apatia, para saber como lidar com essa situação?
Pois é, as teorias oferecem um norte, iluminam a nossa prática, porém, não são redentoras, cabendo ao professor comparar dialeticamente a sua realidade, a sua prática às teorias estudadas e apresentar sua própria prática que não será uma prática qualquer, mas fundamentada porque estudada, consciente e refletida.
Vamos, então, às tendências pedagógicas liberais que poderão respaldar as nossas ações?
MODELO TRADICIONAL
Esse modelo tem como representantes principais Comenius (Pai da Didática Magna) e Herbart (Pai da Pedagogia Tradicional) e, conforme já deve ter sido mencionado em aulas anteriores, nesse caso, o professor é o centro do processo de aprendizagem; ele detém o poder do conhecimento.
De acordo com o que acabamos de ver no vídeo da sessão anterior, no modelo tradicional, o aluno é considerado “sem luz”. O conhecimento é transmitido vertical e hierarquicamente do professor para o aluno que recebe, passivamente, uma massa de informações para arquivar em sua mente.
Para Libâneo (2013), na Pedagogia tradicional, prepondera a ação de agentes externos na formação do aluno. A transmissão do saber é constituída na tradição e nas grandes verdades acumuladas pela humanidade. O ensino é compreendido como um repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno; os alunos devem compreender o que o professor transmite, mas apenas com a finalidade de reproduzir a matéria transmitida.
Com isso, a aprendizagem se torna mecânica, automática, não mobilizando a atividade mental, a reflexão e o pensamento independente e criativo dos alunos.
Talvez, aqui, possamos identificar um dos porquês dessa abordagem ser incluída nas pedagogias liberais de ensino, pois, como o aluno não pode questionar seu professor, ele não exercita a cidadania crítica; a ciência não é desvelada, desmistificada e o aluno, por sua vez, tem que aceitar o que está posto e se adaptar ao sistema, se desenvolvendo intelectual e moralmente.
Diante disso, quando o conhecimento é determinado como verdade absoluta, não se abre espaço para a discussão, para o debate, para a participação dos alunos. Como então formar esse aluno participativo na sociedade?
Vejamos a charge a seguir:
Diante da charge, podemos perceber que a escola tradicional está contribuindo, apenas, para reproduzir o sistema, a estrutura social vigente, pois esse aluno cidadão é condicionado a acreditar que os fatos são inexoráveis, imutáveis.
Escola Nova: denominada de ativa, progressiva ou progressivista, renovada
Esse modelo pedagógico tem como um dos representantes brasileiros Anísio Teixeira que foi aluno de J. Dewey e, por conta disso, Anísio teve uma formação respaldada na cultura americana, do aprender fazendo, do educar para a ação, do empreendedorismo, diríamos hoje.
De fato, foi uma evolução em relação ao modelo tradicional, pois o aluno passaria a estudar, a aprender “colocando a mão na massa”, vendo no plano concreto o conceito abstrato, generalizado. Por esse motivo, também podemos dizer que J. Piaget representa esse modelo, uma vez que trata dos estágios cognitivos que vão desde o plano concreto – quando a criança precisa ter o objeto “ao vivo e a cores” em suas mãos – até que desenvolva a representação mental do mesmo.
Afim de compreendermos melhor o que estudamos até aqui, vejamos uma cena do filme Uma professora muito maluquinha.
Note, no vídeo, que o professor passará a estreitar os vínculos com o aluno, se relacionando de forma mais amigável, centralizando o ensino no educando, permitindo, ao mesmo, mais espontaneidade, comportamento ativo de modo que o aluno não aprenderia mais, apenas, ouvindo seu professor dissertar?
O aluno poderia participar de aulas práticas, em laboratórios, experimentação, soluções de problemas, aulas passeio, na horta, aulas lúdicas, aprender fazendo, ou seja, constatando, na prática, o conceito estudado teoricamente. Em outras palavras, se debruçando sobre o objeto de estudos, em uma relação indivíduo-organismo/meio.
Um modelo bastante interessante para se trabalhar disciplinas de ciências naturais, fazendo experimentos.
Vejamos a charge a segui
Atenção!
Atenção! Isso não significa que tenhamos que aprovar todos os alunos, que essa atitude é esperada do professor, mas, que, talvez, prestássemos atenção em outros saberes, igualmente, formativos, relevantes na formação do sujeito, que vão além do domínio cognitivo (domínio das ciências).
	
O que adianta um aluno gabaritar uma prova de Biologia e não demonstrar consciência ecológica, nem o respeito pelos colegas?
Vamos avaliar o conhecimento, mas, ir além, incentivando a formação de valores.
Você percebeu a ironia da charge ao afirmar que o processo de avaliação seria justo?
Diante dessa necessidade de mudança no processo de avaliação, na Escola Nova, o professor, por sua vez, acompanha o ritmo cognitivo do aluno, volta-se para as potencialidades e as lacunas cognitivas. Observe que a ênfase ainda recai sobre o indivíduo e seu ritmo, mesmo que trabalhem em grupo e, quanto a isso, não houve alteração em relação ao modelo tradicional.
No modelo escolanovista, a ênfase recaía, então, sobre o indivíduo, mesmo que o professor incentivasse o trabalho em grupo em sala de aula. Os alunos que conseguissem se enquadrar nesse sistema por apresentar domínio do conhecimento científico seriam aprovados. Os demais seriam alvo de reprovação.
TECNICISMO
A Pedagogia Liberal Tecnicista surgiu nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, chegando ao Brasil entre as décadas de 1960 e 1970. Nessa concepção de ensino, o homem é considerado produto do meio, sendo resultado das consequências das forças existentes em seu ambiente.
O Tecnicismo acredita que a consciência do homem é formada pelas relações acidentais estabelecidas com o meio e devem ser controladas cientificamente através da Educação.
Tendência inspirada na Teoria Behaviorista, comportamental de Skinner, essa abordagem acabou sendo imposta às escolas pelos organismos oficiais por ser compatível com a orientação econômica, política e ideológica do regime militar vigente.
De acordo com a Pedagogia Liberal Tecnicista, a Educação deve atuar para o estabelecimento e a manutenção da ordem social vigente, se articulando diretamente com o sistema capitalista de produção.
Diante disso, é possível compreender porque a Pedagogia Tecnicista emprega a ciência da mudança do comportamento, se apoiando então, na concepção comportamentalista (estímulo/resposta) que privilegia resultados rápidos e sem espaço para reflexões críticas.
Segundo essa perspectiva educacional, o comportamento desejado é fixado pela recompensa. A instrução programada enfatiza a importância de uma definição precisa do que o aluno deverá aprender e a importância de estruturar cuidadosamente os materiais a serem utilizados (apostila) para o aluno aprender exatamente o que se quer que ele aprenda.
AULA 04 CORRENTEPEDAGOGICA PROGRESSISTA
Nesta aula, apresentaremos as tendências pedagógicas progressistas que se dividem em libertadora, libertária e crítico social dos conteúdos, sendo importante compreender porque esses três modelos foram agrupados dentro da perspectiva progressistas de ensino.
Além disso, destacaremos para cada uma dessas tendências, a função da escola, como a escola se organiza, o papel do professor e do aluno, a relação aluno-professor, os pressupostos da aprendizagem, os objetivos educacionais, a metodologia e a avaliação escolar.
Bons estudos!
Professores progressistas e tradicionais
O fato do professor se considerar progressista, crítico, não significa que não possa adotar uma prática mais tradicional, mas, apesar disso, você sabe qual é a diferença entre esses dois tipos de professores?
Vejamos:
PROFESSOR PESQUISADOR: O professor pesquisador aprendeu a ser autor do que faz, não reproduzindo modelos pedagógicos, não replicando conhecimentos, de modo que, ao adotar uma prática mais tradicional, ele terá consciência sobre o que está fazendo, conseguirá se responder sobre o sentido de sua prática e, em caso de ser questionado, argumentará com fundamento.
PROFESSOR REPRODUTOR: Eis, aí, a diferença entre o professor pesquisador, crítico, transformador em relação ao professor reprodutor que, se for perguntado sobre sua prática, sobre o porquê de trabalhar um determinado assunto, responderá que o motivo é porque está no livro, no programa, na ementa, no planejamento determinado pela escola.
Esse professor reprodutor, diferente do crítico, não interiorizou o conceito de pesquisador, de sujeito autônomo.
Tendências progressistas
A prática pedagógica reflexiva tem como pontos de partida e chegada a prática social, tendo como preocupação produzir mudanças qualitativas e, para isso, procura-se munir-se de um conhecimento crítico e aprofundado da realidade. Caracteriza-se como fonte e geradora de novos conhecimentos.
Dentro dessa perspectiva, expomos a seguir as três tendências progressistas:
Libertadora: Década de 1960
Esse modelo de Pedagogia tem Paulo Freire (1921-1997) como referência, considerado um dos maiores educadores brasileiros do século XX. Para esse pensador, a educação deve ser instrumento de libertação do estado de opressão.
Ele defende uma prática educativa transformadora, fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando. Nas condições de verdadeira aprendizagem, os alunos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente, sujeito do processo.
Nessa linha de pensamento, o professor deve incentivar a curiosidade, a liberdade de expressão, a criatividade, o pensamento crítico através da pesquisa; viver e aprender com o diferente, criar possibilidades e saber escutar.
Nesse modelo, o professor deve dialogar sobre a negação do próprio diálogo. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. A prática pedagógica deve ser problematizadora e dialógica; levar o sujeito à reflexão sobre o mundo, a reconstrução crítica do mundo. É um ato de criação que se estabelece entre aluno e professor. O diálogo deve ser autêntico.
Paulo Freire é adepto do método da conscientização, da humanização, da politização. Acredita que a educação é uma prática libertadora. Através da educação, o homem pode criar sua possibilidade de ser livre, de romper com o estabelecido, com a ordem atual.
Sem um trabalho pedagógico libertador, sem o reconhecimento do outro, encontramos homens oprimidos na luta para serem opressores e não para reverter uma situação histórica, de dominados e dominantes.
Exemplo de prática respaldada na pedagogia libertadora
Imaginemos a seguinte situação...
Os alunos estão estudando sobre alimentação, sobre a importância das frutas para o funcionamento do organismo, quando ocorre uma pergunta:
— “Professora, o que acontece se você comer manga e depois tomar leite?”
— “Minha mãe dizia que comer manga e depois tomar leite fazia mal. Ela até conheceu um rapaz que morreu por isso. Pode até ser que não faça mal, mas eu não arrisco”.
— “Mas o médico não fala que faz mal misturar leite com manga. Ele fala que depende do organismo de cada um. Então, como a gente fica? Essa ideia vem do tempo da escravidão. Para os escravos não comerem muito, os donos das fazendas falavam que comer manga com leite fazia mal. Eles colocavam medo nos escravos e isso chegou até nós” (professor).
Libertária: Década de 1980
O modelo da pedagogia libertária não se afasta muito do modelo libertador. Não é à toa que foi classificado também como progressista, na medida em que seus representantes criticam todas as formas de autoritarismo, impessoalidade, formalidade e distanciamento.
Na tendência libertária, há um sentido expressamente político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. Essa corrente foi pensada com a intenção de incentivar a participação grupal em assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações, grêmios, DCE, DA(s), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições externas, levará para a escola tudo o que aprendeu.
A ideia básica da pedagogia libertária é introduzir modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos que, em seguida, vão contaminando todo o sistema. Quanto aos conteúdos de ensino, eles estariam presentes a partir das disciplinas, mas, não seriam exigidos. Importante é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a vivência de mecanismos de participação crítica (LIBÂNEO, 1987).
Exemplo de prática respaldada no modelo pedagógico libertário
A modalidade de ensino a distância também pode ser um exemplo de prática libertária, pois o aluno é gestor do seu próprio conhecimento, escolhendo o seu próprio caminho.
Os conteúdos estão dispostos: aulas teletransmitidas, conteúdos onlines, textos, vídeos, fóruns, gabarito comentado, dúvidas comentadas, livro proprietário, avaliando aprendizado e os alunos da graduação acessam o que for de mais interesse; rompendo com a linearidade do processo.
Crítico social dos conteúdos
Na tendência crítico-social dos conteúdos (Saviani, Snyders, Makarenko, Libâneo, Luckesi), a ideia é difundir os conteúdos escolares concretos, porém, indissociáveis da realidade social do aluno. O conteúdo teórico deverá ser vinculado à prática, para que o aluno veja sentido no que está aprendendo, podendo lhe ser útil em sua prática imediata/social, útil em sua vida; e a partir daí, introduzir a possibilidade de uma reavaliação crítica frente aos conteúdos sistematizados e aprendidos.
Significa ligar o conteúdo à experiência concreta do aluno. Sugestão de aplicação dessa abordagem: iniciar a aula tratando de uma temática de ensino e articular a prática.
	
Exemplo de prática respaldada no modelo pedagógico crítico social dos conteúdos
Ao apresentar o assunto sobre avaliação escolar para uma turma de licenciandos, o professor solicita aos alunos do curso de formação docente que relatem situações vivenciadas em anos anteriores de escolaridade sobre provas, exames, avaliações sofridas/ocorridas.
A ideia é confrontar a experiência com a explicação teórica do professor sobre o assunto avaliação, neste caso. Isso significa ir da ação, do particular, da prática, à compreensão geral, teórica; e da compreensão geral, teórica à ação (do particular para o geral e do geral para o particular), unificando teoria e prática. Vejamos uma cena do filme Escritores da Liberdade que se relaciona com o conteúdo que estamos estudando:
Percebeu como o professor é o mediador entre o conhecimento científico e espontâneo?
Professor e aluno colaboram para fazer progredir essas trocas. O professor intervém para que o aluno acredite nas suas possibilidades de ir mais distante.
Assim, o professor está formando a consciência crítica face às realidades sociais,sendo aluno e professor, agentes ativos da transformação da sociedade e de si próprio.
AULA 05 PLANEJAMENTO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO
Nesta aula, trataremos do planejamento no campo da educação, ressaltando sua relevância, na medida em que permite ao profissional da educação organizar o processo formativo dos educandos.
Planejamento, portanto, é ato que visa ao futuro; é uma atividade que projeta, organiza e sistematiza o fazer, envolvendo um processo de construção de ideias para a tomada de decisões. Mas é importante lembrar que essas decisões não são infalíveis, podendo implicar em revisão e adaptações, o que faz ser dinâmico e não um produto estático.
Entretanto, isso vai depender dos princípios filosóficos, pedagógicos do ato de planejar, pois, talvez, outras pessoas compreendam o planejamento como um roteiro a ser seguido sem desvios. Além disso, trataremos o projeto político pedagógico da escola e as relações com o planejamento de ensino do professor, ressaltando que a autonomia docente é fundamental para a formação emancipada das novas gerações.
Ressaltaremos que um projeto aberto de escola que respeite a diversidade cultural, requer articulação entre o currículo disciplinar e o currículo real.
Planejamento no campo da educação: níveis de planejamento e seus fundamentos
Diferentes instâncias
Todo planejamento envolve definir metas; incluir parâmetros e refletir princípios educacionais que sejam capazes de orientar o processo de formação humana, ter relação com a sociedade e com que projeto de homem se pretende formar. Podemos dizer que planejar é estudar, é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema.
Diante de um problema devemos procurar refletir para decidir quais as melhores alternativas de ação possíveis para alcançar determinados objetivos a partir de certa realidade.
A reflexão, o pensar em torno da existência, é uma experiência essencialmente humana. Imaginar o futuro, antever o próximo passo, pensar antes de agir, é uma atividade que expressa a racionalidade humana. O planejamento se preocupa com “para onde ir” e quais as maneiras adequadas de se chegar lá, tendo em vista a situação presente e as possibilidades futuras.
Planejamento no campo educacional
No campo da educação, temos os seguintes níveis de planejamento: educacional, curricular e de ensino. Vamos compreender cada um desses níveis?
Planejamento Educacional
“Consiste na tomada de decisões sobre a educação no conjunto do desenvolvimento geral do país. A elaboração desse tipo de planejamento requer a proposição de objetivos a longo prazo que definam uma política da educação” (PILETTI, 2004, p.62).
Planejamento Curricular
Refere-se aos planos desenvolvidos por instituições educacionais que deverão tomar como base os órgãos governamentais para elaborar e executar suas propostas educacionais implicando na definição de conteúdos , carga horaria, tipos de atividades, e obedece as orientações das Diretrizes curriculares
Planejamento de Ensino
A importância do Planejamento
Parece que não há mais dúvidas quanto à importância do ato de planejar, independente da instância, porém, no que diz respeito ao planejamento de ensino, há que se dizer que muitos professores lidam com ele como se fosse apenas uma tarefa burocrática, não tomando essa tarefa como uma oportunidade de reflexão sobre o sentido da prática, de educar e do aprendizado. Normalmente, isso ocorre com professores que fazem de sua aula mera reprodução de conhecimentos; ficam aprisionados ao livro didático e tomam aqueles conteúdos como única possibilidade, repetindo o que foi construído por outra pessoa. Estando o material todo pronto, basta repassá-lo.
Então, pra que planejar?
•Qual é o papel do planejamento se já está tudo pronto e não se reconhece a possibilidade de se fazer diferente porque se acredita que não há mais nada a fazer?
•O que falta a esse professor para transformar o que está posto, para romper com o determinismo técnico?
•Que competências são necessárias ao professor para que sua prática seja transformadora?
Respostas
A importância do planejamento Segundo Paulo Freire, “para transformar é preciso um pé no sonho e outro na realidade e um bocado de ousadia louca”. Ele entendia que o ato educativo é uma atividade intencional, orientada por determinados interesses, visões e valores. Nesse sentido, envolve uma tomada de posição, é um ato político-ideológico. Pretende, a partir de uma realidade vivida construir a realidade desejada. Mas, sabemos que muitos professores ficam reféns dos planejamentos propostos pelas instituições de ensino, se submetendo a mera execução. Esse professor não interiorizou ainda o papel de pesquisador que é aquele que constata fatos, realidade, o que está posto e, apenas, a reproduz mecanicamente; não a transformando. Paulo Freire (1976, p. 43) diz que: “Uma das grandes, se não a maior tragédia do homem moderno, está em quem é hoje dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada, ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem saber, à sua capacidade de decidir [...] e, quando julga que se salva seguindo as prescrições, afoga-se no anonimato nivelador da massificação, sem esperança e sem fé, domesticado e acomodado... Já não é mais sujeito, rebaixa-se a puro objeto”. Menegolla e Sant’anna (1997, p.19) assinalam que “o ato de planejar sempre parte das necessidades e urgências que surgem a partir de uma sondagem sobre a realidade”. Ainda que iniciemos nossas aulas com uma proposta educativa, consistente, organizada, estudada, articulada ao projeto pedagógico da escola, há que se considerar que é através do conhecimento da realidade que se pode estabelecer o que deve ser focalizado. Sendo assim, o ato de planejar se faz e refaz ao caminhar. “O destino do viver faz parte da própria natureza, isto é, ele é determinado e dado pela natureza. Porém, o destino de como viver não é determinação exclusiva, mas, essencialmente, do 2 homem” (p.23). É necessário um planejamento que dimensione o processo educativo e reconstrutivo do homem. Aí está a possibilidade de uma educação criadora e libertadora que conscientize o homem diante do mundo.
O planejamento e o compromisso sócio-político
Diante do que vimos até aqui, você consegue responder por que o plano de ensino é tão importante para a prática pedagógica?
Gabarito
Ao construirmos nossos planos de ensino, planejamos o que temos a intenção de fazer. “Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível” (VEIGA, 2002, p.12).
Nessa linha de pensamento, o planejamento busca um rumo, é uma ação intencional com sentido explícito, com compromisso, porém, deve ser definido e (re) definido coletivamente. Deve estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político e de acordo com o interesse da população majoritária, ou seja, de todos os membros da comunidade escolar, dentre eles alunos, professores, direção, funcionários, de modo que ao participarem democraticamente de sua elaboração, se sintam retratados e responsáveis com as decisões educacionais. Conforme as palavras de Freitas (1991, p. 23) “tem que nascer no próprio chão da escola”. Para que o planejamento nasça no próprio chão da escola”, como vimos anteriormente, são necessárias mudanças na própria lógica das instâncias superiores, em sua cultura organizacional, refletindo em uma nova prática.
Na concepção de Veiga (2002) ao se construir um processo democrático de decisões, a preocupação deve voltar-se para a instauração de uma forma de organização do trabalho pedagógico que: supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentados da divisão de trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão (p.13-14). Na prática, significa abrir um espaço permanente de diálogo entre os profissionais da educação, os sujeitos da comunidadeescolar, visando à contextualização do ensino, a não dicotomia entre escola e sociedade, não trabalhando, exclusivamente, os conteúdos estabelecidos no currículo obrigatório determinado pelos órgãos superiores governamentais e consequentemente pela escola.
Autonomia docente na escola
Mas, como propor uma escola democrática e uma educação transformadora e emancipada aos alunos se o próprio professor não resgata a sua autonomia docente na escola, se o próprio professor não é autor de sua própria prática porque não interiorizou o conceito de autonomia docente?
Na visão de Vasconcellos (1995) o planejamento é um excelente caminho para melhoria da qualidade do ensino, pode ser uma estratégia política de lutas, de emancipação do professor, cumprindo um papel social de humanização, onde o aluno cresça como pessoa e como cidadão, e onde o professor tenha um trabalho menos alienado e alienante, que possa repensar sua prática, (re)significá-la e buscar novas alternativas junto com seus alunos. Há uma diferença substancial entre traçar nossos próprios caminhos e reproduzir mecanicamente a prática de “terceiros”, sem noção clara do que se está fazendo.
Lopes (1992), por sua vez, indica alguns pressupostos que consideram a dinamicidade do conhecimento escolar e sua articulação com a realidade histórica quando se trata de planejar o ensino. São eles: produzir conhecimentos tem o significado de processo, de reflexão permanente sobre os conteúdos aprendidos buscando analisá-los sob diferentes pontos de vista; significa desenvolver a atitude de curiosidade científica, de investigação da realidade, não aceitando como conhecimentos perfeitos e acabados os conteúdos transmitidos pela escola, ou seja, previstos no planejamento curricular.
O currículo e a cultura dos alunos
Para Sacristàn (1995), o currículo obrigatório oficial deve ser articulado à cultura vivida e, nesses termos, o autor propõe que o currículo se fundamente no multiculturalismo, no qual os interesses de todos sejam representados. Mas, para torná-lo possível, é necessária uma estrutura curricular diferente da dominante e uma mentalidade diversa por parte dos sujeitos envolvidos no processo educativo: alunos e professores reflexivos e culturalmente comprometidos, conforme sinaliza Canen (1997), além da direção e da comunidade. Essa mentalidade, essa estrutura e esse currículo têm de ser elaborados e desenvolvidos de modo que a escola seja considerada um projeto aberto, no qual caiba uma cultura que respeite a heterogeneidade e seja um espaço de diálogo e de comunicação entre grupos sociais diversos.
Trata-se de criar um contexto democrático de decisão sobre os conteúdos de ensino, configurando uma ideia mais ampla e real de escolarização. Na visão de Moreira e Santos (1995) os conteúdos têm de ser vistos como algo a ser questionado, analisado e negociado e não divorciado do significado humano.
Planejamento de ensino/didático 
Vejamos, a seguir, a perspectiva tradicional e crítica da educação:
Planejamento participativo
O planejamento participativo se propõe a romper a lógica hierarquizada e verticalizada de gestão. Ele emerge de estruturas mais horizontais que permitam a fluidez de informações entre todos os participantes, sem fomentar a tradicional separação entre “pensar” e “fazer”, “decidir” e “executar”.
Assume que a efetividade de um processo está na capacidade de entender que o poder emana da responsabilidade de cada um e não da posição hierárquica que ocupa na organização. Neste modelo, todos têm um nível de responsabilidade, que se transforma em corresponsabilidade na tomada e execução das decisões.
O planejamento participativo não implica em reunir todo mundo para planejar tudo, o tempo todo. Significa organizar as formas de participação e instâncias de tomadas de decisões.
Atenção!
Diferentes instâncias envolvem diferentes níveis/formas de participação dos agentes envolvidos no projeto educativo que se deseja planejar, seja em nível governamental ou na escola propriamente dita. Especialmente, tratando-se do planejamento participativo na escola, requer abrir espaço para que vozes sejam ouvidas; requer uma mentalidade diferente por parte de alunos, professores, pais, funcionários, comunidade, inclusive os agentes que confeccionam os materiais didáticos como as editoras.
O planejamento participativo não dispensa uma coordenação, ao contrário, seu papel será de fundamental importância visto que deverá ser capaz de articular e catalisar os diferentes interesses e perfis existentes no grupo. Seu desafio é estimular a participação construtiva de todos os sujeitos da comunidade escolar e para isso precisa ser incentivadora, dinamizadora e facilitadora do processo de construção coletiva para que as metas definidas sejam alcançadas.
Claro que a realização de um planejamento participativo não é uma tarefa fácil, pois exige um comprometimento maior de todos os sujeitos envolvidos com a formação das novas gerações. No entanto, podem existir resistências daqueles que perderão privilégios, medo e insegurança frente às situações desconhecidas. Daí a relevância de uma gestão democrática, com uma definição clara do que se pretende. Fundamental é estudar o contexto onde a escola está inserida, fazer um diagnóstico da realidade, um levantamento das necessidades da clientela.
Vejamos algumas especificidades do planejamento participativo:
Analisando o cotidiano escolar à luz das teorias no campo da educação:
Um professor do Ensino Fundamental, visando garantir a assimilação dos conteúdos e a aprendizagem dos alunos, resolveu trabalhar os conhecimentos referentes à disciplina de Ciências Biológicas copiando, no quadro, o que estava no livro didático e, posteriormente, fazendo a leitura dos conceitos.
O professor, na aula seguinte, solicitou à turma que quem dissertasse, “lá na frente”, o conteúdo da aula anterior, receberia 2 pontos na média; e apenas 1 aluno se levantou e apresentou a resposta desejada. Para facilitar o domínio da fundamentação teórica indispensável, o professor, orientado pela Coordenação Pedagógica, passou a incluir em seu planejamento de aula, vários meios, tais como o estudo dirigido com perguntas e respostas previamente estabelecidas, a instrução programada, uma técnica de ensino com base na teoria do reforço.
Diante do exposto: a qual tendência pedagógica esse professor respalda a sua prática? Ele mostrou autonomia em seu planejamento? Ele está contribuindo para formar que tipo de cidadão e sociedade?
Gabarito
O professor respaldou a prática na pedagogia tradicional e no modelo tecnicista na medida em que lança mão da teoria do reforço, recompensando aqueles que apresentassem a resposta desejada por ele; dissertar corretamente “lá na frente” os conteúdos; não mostrando autonomia em seu planejamento, na medida em que não questiona a orientação da coordenação pedagógica, contribuindo, apenas, para a reprodução do sistema, na medida em que não abre espaço para que se viva intensamente a cidadania crítica. O aluno é condicionado a apresentar as respostas previamente determinadas no estudo dirigido, sem compreender o sentido do aprendizado.
Aula 06, Planejamento Didático e os objetivos Educacionais.
Nesta aula, você reconhecerá o objetivo educacional como um dos elementos que constituem o planejamento didático e que se dividem em específicos e gerais. Paralelamente, abriremos um espaço para analisarmos a importância de encontrar um sentido mais amplo para a escola.
Bons estudos!
São os objetivos educacionais necessários?
Diferentes concepções de aprendizagem e de ensino vão dar diferentes valores aos objetivos educacionais.
Muitos educadores questionam a necessidade de se discriminar objetivos em educação. Alguns associam a uma concepção tecnicista de educação, decorrente da “influência dos educadores norte-americanos sobre a educação brasileira” (Gil, 2011).
Os professores creem que o planejamento e a formulação elaborada de objetivos estariam relacionados a uma perspectiva autoritária de ensino,tecnicista, em que os professores (detentores de poder) almejam controlar os processos pedagógicos e conformar o comportamento dos alunos segundo interesses do mercado, do sistema vigente, garantindo assim a reprodução, a manutenção do status quo. Outros consideram que as práticas educacionais estão acima da definição de objetivos. Elas acontecem e promovem aprendizagens independentemente das “vontades explícitas” dos sujeitos envolvidos e, assim, não há sentido em se gastar tempo com isto.
Delimitando objetivos
Vamos ilustrar o que acabamos de dizer?
Imagine um professor que delimita em seu roteiro de aula sobre a Europa o seguinte objetivo: identificar as capitais dos países europeus.
Os alunos deverão dar conta desse objetivo através da ação identificar; o que faz do objetivo ser considerado comportamental.
Durante a explanação do professor sobre os países europeus, um aluno apresenta um cartão postal da Torre Eiffel e o professor solicita ao estudante para guardar o cartão, pois não estaria tratando dos pontos turísticos em sua aula.
Note que, de fato, trata-se da aula do professor: “em sua aula”, pois, aprisionado ao determinismo técnico, não admite novas possibilidades, impondo uma ideologia dominante no sentido de que ele, o professor, é o “dono” da aula e, por conta disto, ele decide o que o outro deve aprender.
Reflita, era necessário uma postura como essa?
A postura autoritária está de acordo com os modelos liberais de ensino tradicional ou tecnicista, em que o aluno não tem o direito de questionar o que está posto, ou a construir uma nova ordem social, tendo que se enquadrar no sistema vigente e adaptar-se a este.
Com isso, questiona-se o papel da escola e a formação do sujeito, pois este não estaria sendo preparado, nessas perspectivas pedagógicas, para exercitar a cidadania crítica, para questionar os fatos e a realidade.
O aluno estaria sendo formado para aceitar os fatos como inexoráveis, garantindo assim a reprodução da estrutura social vigente.
Segundo essa lógica, se estamos inseridos em uma sociedade capitalista, marcada pela competitividade, pelo individualismo, pelo imediatismo, assim permaneceríamos; formados exclusivamente pela lógica do capital, do mercado.
Formação para o mercado de trabalho
Alguns podem perguntar: Não precisamos formar as novas gerações para o mercado de trabalho?
Sem dúvida nenhuma, responderíamos que sim; este é um dos objetivos da escola. Contudo, é preciso desenvolver, aqui, certa sensibilidade para compreender o que está por trás dos fatos e desenvolver uma visão crítica sobre o sentido da educação. Para isso, propomos a leitura de um texto, na íntegra, referente ao artigo intitulado: Trabalho, currículo e fazer docente: desafios para o novo século, escrito pelas professoras Ruth da Cunha Pereira e Therezinha de J. Conde Pinto, publicado em 2010 na Revista Dissertar da Estácio, ano 9, nos 18 e 19, páginas 56 a 62.
Retomando os objetivos educacionais
Precisamos cuidar da formação do sujeito, no sentido de não empobrecermos o papel da escola ao limitarmos a mesma exclusivamente à lógica do mercado de trabalho, de modo que o cidadão acredite que o capitalismo triunfou ou de modo que ele acredite ser o único responsável pelo seu sucesso ou fracasso escolar e na vida, como se não tivesse mais nada a fazer.
Sendo assim, o desafio imposto à docência está em irmos além da formação técnica; em ultrapassarmos o modelo reprodutivista.
Assim, contribuiremos para que os educandos se sintam capazes de construir um novo cenário social.
Mas, para que nos aproximemos desse objetivo educacional mais amplo, nós profissionais da educação devemos não superdimensionar os objetivos menores, específicos, comportamentais, imediatistas, com finalidades meramente utilitaristas.
O caminho do sucesso
Precisamos querer mais para as novas gerações, que se formem capazes de corresponder às demandas sociais atuais, mas que busquem a emancipação social, o protagonismo da história.
Isso também não significa que não tenhamos que perseguir os objetivos específicos, mas que não se percam de vista os objetivos mais nobres, ou seja, o “salto na qualidade”. Portanto, retomando o questionamento inicial, se os objetivos educacionais são necessários, parece que não há mais dúvidas quanto a isso, uma vez que oferecem ao professor um norte, uma direção. Entretanto, que não sejam delimitados em demasia, impedindo que novas construções, novos saberes e competências surjam no processo de aprendizagem até então não pensados pelo professor ao elaborar seu plano didático.
Detectar organizar realizar sucesso
Objetivos educacionais
Vamos ver o que pensam alguns autores sobre os objetivos educacionais, suas definições e classificações quanto ao nível de especificação e quanto ao domínio.
Nelson Piletti
É a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da nossa atividade [...] os objetivos educacionais são as metas e os valores mais amplos que a escola procura atingir (Piletti, 2004, p. 65).
Bloom
A formulação de objetivos tem por finalidade classificar para o professor, em sua própria mente, ou comunicar a outros as mudanças desejadas no aprendiz (Bloom, 1973).
O comportamento
O que Piletti e Bloom dizem são formulações explícitas das mudanças que se espera que ocorram nos alunos mediante o processo educacional, isto é, mudanças que ocorram no pensamento, no sentimento e nas ações dos alunos.
Em outras palavras, os objetivos de ensino devem se referir aos comportamentos que os alunos, e não o professor, devem apresentar.
Para fins de cumprimento burocrático, ao elaborarmos nosso plano didático, é comum listarmos os objetivos iniciando com uma ação, isto é, com um verbo no infinitivo, com as terminações ar, er, ir e or.
Plano didático burocratizado
Vamos imaginar uma aula intitulada DSTs – doenças sexualmente transmissíveis, cujos objetivos comportamentais são:
• Identificar as DSTs;
• Diferenciar formas de tratamento.
Ressalta-se que, se o professor respaldar a prática nos modelos tradicional e tecnicista, ele tenderá a perseguir apenas esses dois objetivos.
Plano didático contextualizado 
Já um professor que respalda a prática na pedagogia progressista admitirá que outros objetivos surjam no caminho, rompendo com a fragmentação e isolamento do conhecimento, sendo o conteúdo tratado de forma contextualizada.
Nesse caso, o aluno é levado em consideração e seus saberes são legitimados no processo de aprendizagem, ou seja, o currículo disciplinar é articulado ao currículo real, vivido.
Consciência do professor
Os objetivos de ensino devem estar relacionados e ser complementares, explícitos, significativos, relevantes, levando-se em conta o tempo e os recursos disponíveis.
Sobretudo, o professor deve ter a consciência sobre o que pretende para os alunos, por que pretende, que tipo de formação deseja para os alunos e que tipo de sociedade deseja ajudar a construir, o que se refletirá em seu fazer docente.
Objetivos educacionais intencional e sistemática
Sobre os objetivos educacionais, Libâneo (2013) assinala que a prática educacional se orienta, necessariamente, para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e sistemática.
1. Os objetivos educacionais expressam, portanto, propósitos definidos explícitos quanto ao desenvolvimento das qualidades humanas que todos os indivíduos precisam adquirir para se capacitarem para as lutas sociais de transformação da sociedade.
2. O caráter pedagógico da prática educativa está, precisamente, em explicitar fins e meios que orientam tarefas da escola e do professor para aquela direção.
3. A elaboração dos objetivos pressupõe, da parte do professor, uma avaliação crítica das referências que utiliza, balizada pelas suas opções em face dos determinantes sociopolíticos da prática educativa.
Assim, o professor precisa saber avaliar a pertinência dos objetivos e conteúdos propostos pelo sistema escolar oficial, verificando em que medida estes atendem a exigênciasde democratização política e social.
Deve também saber compatibilizar os conteúdos com necessidades, aspirações e expectativas da clientela escolar, bem como torná-los exequíveis face às condições socioculturais e de aprendizagem.
Quanto mais o professor tiver consciência sobre o seu papel diante da sociedade, mais capaz ele será de fazer correspondência entre os conteúdos que ensina e sua relevância social, frente às exigências de transformação da sociedade presente e diante das tarefas que cabe ao aluno desempenhar no âmbito social, profissional, político e cultural.
Os objetivos educacionais são, pois, uma exigência indispensável para o trabalho docente, requerendo um posicionamento ativo do professor em sua explicitação, seja no planejamento escolar, seja no desenvolvimento das aulas.
Classificação dos objetivos educacionais
Quanto ao nível de especificação/ abrangência:
Objetivos gerais
São mais amplos, alcançados em médio e longo prazo, mas abstratos, refletindo uma filosofia de educação; ou seja, consistem na nossa contribuição na formação do sujeito.
Objetivos específicos
São mais precisos, concretos, alcançados em curto prazo, imediatistas, operacionais, instrucionais.
Objetivos educacionais específicos e gerais
Sobre os objetivos educacionais específicos e gerais, ressalta-se que, normalmente, na aula em si, o professor dá conta dos objetivos específicos e, ao término do período letivo, alcança o objetivo geral.
Entretanto, sabemos que isso não é tão simples assim, pois o fato de o professor se preparar pedagogicamente não significa que conseguirá dar conta dos objetivos, sejam eles específicos ou gerais.
Outra questão a ser levantada é que, se o professor respaldar a prática na pedagogia progressista, ele perseguirá na aula os objetivos específicos, mas não perderá de vista o “salto na qualidade” a que já nos referimos nesta aula.
Ou seja, ele perseguirá os objetivos menores, específicos, mas levará seus alunos à reflexão sobre o sentido de aprender tal conteúdo.
Já o professor tradicional, tecnicista ficará aprisionado ao objetivo específico, cometendo exageros por este e, com isso, não contribuirá para uma formação mais crítica, ampla e consciente.
Quanto ao domínio
Quando o aluno apresenta o domínio da matéria, quando está em dia com os conteúdos de ensino. Para Piletti (2004, p. 32)
Abrange a aquisição de informações e conhecimentos. Pode ser uma simples informação sobre os fatos ou suas interpretações, com base em conceitos, princípios e teorias.
Saiba +
A aprendizagem das regras gramaticais, por exemplo, é cognitiva. Aprender os princípios e teorias educacionais também é uma aprendizagem cognitiva, assim como assimilar o conhecimento sobre as DSTs. A ênfase é na assimilação da matéria, do conteúdo, da disciplina. Quando o professor respalda a prática nas pedagogias liberais, ele tende a preparar o aluno para as provas, para a aprovação no final do período. Esse é o seu maior objetivo.
Já o professor crítico, progressista se questionaria: de que adianta, por exemplo, estar em dia com os conteúdos das ciências biológicas e não demonstrar consciência ecológica, cidadania planetária?
De que adianta um aprendiz de professor estar em dia com os Estágios de Piaget e com as tendências pedagógicas se não demonstrar atitude diante do outro, não souber fazer vínculos, não se envolver com o objeto de estudos, especialmente tratando-se da docência? Nesse sentido, o professor progressista tem objetivos que vão além do imediatismo e do aprendizado da matéria, visando à aprovação no final do período letivo.
Ele tem como objetivo fazer o aluno se capacitar cognitivamente, mas que a educação seja instrumento de transformação social, que a partir da educação, o educando exerça a cidadania crítica, emancipe-se como cidadão e desenvolva o senso de coletividade e de solidariedade frente ao mundo. O objetivo é despertar no aluno a inquietação frente aos fatos, à realidade, bem como o desejo de intervir e contribuir para a sociedade, ainda que dentro de limites, pois, afinal, o que ficamos fazendo anos sentados nos bancos escolares?
Será que se trata apenas de compreender a escola como um passaporte para a aprovação no final do período, aprovação em concursos e inserção no mercado de trabalho? Ou podemos vislumbrar objetivos mais amplos para ela, tal como formar pessoas melhores para o mundo?
Qual o sentido de apreciarmos uma obra de arte?
•Certamente há um forte sentido nessa ação, mas cabe ao professor de arte, por exemplo, desvelar isso para o aluno, deixando claro em que esse aprendizado poderá representá-lo na sociedade.
•Ocorre que os professores mais conservadores provavelmente não sabem se responder sobre o sentido do aprendizado porque não aprenderam os porquês; simplesmente reproduzem práticas da mesma forma que aprenderam ou porque consta no livro didático do professor que assim devam proceder.
•Desenvolver a afetividade sem dúvida nenhuma é louvável, pois contribuiríamos para que os alunos se relacionassem melhor entre si e com os professores e desenvolvessem o espírito de equipe, porém, há que se ressaltar que esse foco ainda se dá nos intramuros escolare.
• O olhar é para as relações interpessoais no espaço de sala de aula e na escola e, não, necessariamente, para o senso de coletividade que destacamos anteriormente ao falarmos do domínio cognitivo, no sentido de formarmos um cidadão mais comprometido com a sociedade.
• Entretanto, já um grande passo se conseguirmos alcançar, os objetivos afetivos no espaço escolar, contribuindo para o desenvolvimento de valores que poderão se estender e se refletir ao longo da vida dos seres humanos.
Quanto ao domínio
Consiste na aprendizagem de hábitos que incluem desde habilidades motoras, como aprender a andar e a dirigir um automóvel, por exemplo, até habilidades verbais e gráficas, ou seja, aprender a falar e a escrever (Piletti, 2004).
Sobre esse domínio, podemos acrescentar: aprender a dissecar um animal, fazer uma massa de pão, preparar uma horta, a manusear o computador etc. Aqui, surge um questionamento: será que estamos tratando do modelo escolanovista, do aprender fazendo, “colocando a mão na massa”? Será que estamos tratando do pragmatismo?
•Mais uma vez, insistimos que precisamos nos responder sobre o que desejamos para as novas gerações. Será que se trata de pararmos por aí, acenando apenas para os domínios cognitivos, afetivos e psicomotores, para objetivos intramuros escolares?
•Certamente o professor progressista cobraria dos professores liberais “tirar a poeira de cima”; desvelando-se a ciência, indo na essência da questão, relacionando os conteúdos escolares às questões sociais, apontando as contradições sociais entre o que se disserta academicamente e o que se vive, de fato. Afinal, qual o sentido da educação?
•Em aulas anteriores, já tivemos a oportunidade de refletir sobre as aulas práticas, o plantar feijão no algodão e não se discutir sobre a miséria, sobre a fome e a desigualdade social.
•Já tivemos a oportunidade de falar sobre as aulas de culinária, de prendas domésticas, do fazer o pão e não se discutir por que nem sempre temos direito a consumir esse pão; bem como não se discutir sobre o papel da mulher na sociedade.
•Aí, vale a pena nos reportamos a Paulo Freire, para finalizarmos esta aula, quando o filósofo e educador brasileiro sinaliza para os professores em formação permanente que, talvez, o desafio seja dialogarmos sobre a negação do próprio diálogo.
•A ideia é que os profissionais da educação se comprometam com uma educação além das ciências, além da certificação; em outras palavras, que a educação seja voltada para os aspectos sociais, políticos, culturais e históricos, e não apenas voltada para os domínios cognitivos, afetivos e psicomotores.
Aula 07 Planejamento Didático e os Conteúdos Escolares
Convidamos você, aluno do curso de formação docente, a refletir sobre a relevância de o professor ser íntimo do conteúdoministrado, porém, com a certeza de que também não se trata de dominarmos todo um conhecimento, um objeto de estudos.
Sempre encontraremos novas respostas sobre o assunto enquanto pesquisadores se dedicarem a ele.
Ressalta-se, então, o desafio imposto à docência quanto à necessidade da formação continuada e da curiosidade científica.
Ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional, os professores pesquisadores poderão ampliar sua visão sobre a estrutura da ciência a que se dedicam, com possibilidades de desmistificá-la, tornando os conceitos o conhecimento científico compreensível para os educandos, modo que estes se sintam representados no currículo escolar.
Bons estudos!
Planejamento de Ensino e os Conteúdos Escolares
Você já se questionou sobre os conteúdos escolares e a forma como ele é aplicado em sala de aula? Vamos iniciar nossa aula sobre esses conteúdos fazendo alguns questionamentos que poderão ser respondidos, ainda que parcial ou provisoriamente ao longo do processo de aprendizagem. Vamos descobrir quais são eles?
•A quem compete a seleção e organização dos conteúdos escolares? Eis um questionamento que precisamos fazer, pois se é o professor que trabalha de forma direta o conhecimento com seus alunos, será que se trata de outras pessoas pensarem o que deve ser feito em sala de aula, e na escola o professor ser apenas um mero executor de tarefas?
•Como devem ser tratados os conteúdos no espaço de sala de aula, virtual ou presencial? Cabe ao professor tratar o conhecimento de forma isolada e fragmentada ou se trata de estabelecermos relações entre os assuntos da disciplina?
•Que tipo de formação estamos oferecendo aos nossos alunos quando fragmentamos o saber e que tipo de formação oferecemos quando integramos os conteúdos e contextualizamos o ensino?
•Há diferenças no tipo de contribuição que o professor oferece aos seus alunos quando ele trata o conteúdo de forma articulada à sociedade e quando ele trata o conhecimento de forma abstrata, generalizada?
•Os alunos compreendem o sentido do aprendizado? Compreendem o porquê de estarem aprendendo determinado conteúdo? Eles conseguem fazer a “ponte” entre o que aprendem na escola e o que vivem em suas realidades?
•Afinal, qual o propósito do conteúdo? Há que se ter um fim em si mesmo ou há que ser um meio para se alcançar um fim?
•Esperamos, se não respondermos a todos esses questionamentos, que, no mínimo, despertemos em você a curiosidade do curso de formação de professores, para que continue buscando suas respostas, permitindo-se viver a aventura que se chama aprender.
Esperamos, se não respondermos a todos esses questionamentos, que, no mínimo, despertemos em você a curiosidade do curso de formação de professores, para que continue buscando suas respostas, permitindo-se viver a aventura que se chama aprender.
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Depois de gerar inquietações, vamos a algumas respostas, visando organizar melhor nosso pensamento a respeito dos conteúdos de ensino.
O que são Conteúdos Escolares ou Conteúdos de Ensino?
Trata-se do conhecimento científico que se ensina aos alunos para que desenvolvam as capacidades que lhe permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e conômicos. 
Vejamos a charge a seguir:
 
Os conteúdos não devem ter características de terminalidade e devem servir como ponto de partida para novos conhecimentos.
Entretanto, como apresentado na charge que acabamos de ver, quando o professor respalda a prática no modelo tradicional e tecnicista de ensino, o conteúdo estudado tem caráter de terminalização, isto é, como se o assunto subsequente não tivesse nenhuma relação com o assunto anterior.
Além disso, é trabalhado de forma fragmentada e isolada de um contexto.
Professor pesquisador
Para trabalharmos um conteúdo com mais desenvoltura e autonomia, precisamos no mínimo estudar mais referências, o que nos ajudará a ir construindo e consolidando o conhecimento, buscando nossas próprias respostas, apresentando novas sínteses e possibilidades.
Sobretudo quando o professor inclui o aluno no processo de aprendizagem, abrindo espaço para o diálogo, partindo da realidade dos educandos e devolvendo-o de forma científica. Neste caso, o professor legitima os saberes dos alunos, não considerando legítimo apenas o seu conhecimento.
Na verdade, no caso do professor, “único” detentor do saber, já estaríamos na dúvida quanto ao fato de o conhecimento ser mesmo dele ou dos autores que produziram e publicaram em livros, revistas ou sites e que ele reproduz como se fosse de sua autoria.
O fato é que o professor precisa ser um pesquisador. Não há como desenvolver uma visão crítica sobre o objeto de estudos em questão sem o aprofundamento do conhecimento. E quando o professor dialoga com seus alunos sobre os conteúdos de ensino, eis uma forma de estabelecer relações entre a escola e a sociedade.
A fim de compreendermos melhor o conteúdo tratado nesta seção, vejamos uma cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos:
O vídeo mstra que o professor não deve fragmentar o saber, e sim se contextualizá-lo, porque o saber deve partir da realidade, do saber do aluno, do óbvio, do senso comum, e se devolver de forma sistematizada, organizada e científica, sob o risco de submetermos os educandos à condição de opressão ao sonegarmos a ciência a eles.
Essa não é a proposta quando se compreende a educação como instrumento de libertação da condição de opressão, como instrumento de transformação de realidades sociais. O aluno precisa do conhecimento para se equipar cognitivamente e colocar a ciência a seu favor e da sociedade. Somente assim contribuiremos para a construção de um mundo melhor.
Por outro lado, sabemos que os professores muitas vezes se veem pressionados a cumprir todos os conteúdos de ensino previstos no livro didático ou impostos pelos órgãos governamentais e/ou pelas escolas.
Fragmentação e Isolamento do Conteúdo X Conhecimento Significativo
Vale acrescentar que todo conteúdo deve ter utilidade à vida do aluno, em consonância com as questões sociais.
Entretanto, mais uma vez, ressaltamos que, se o professor respaldar a prática no modelo tradicional de ensino, bem como no modelo tecnicista, ele tratará o conteúdo como verdade absoluta.
Assim, determina o que o aluno deverá aprender, tornando o assunto abstrato, generalizado, do tipo que se aplica a todos e a ninguém ao mesmo tempo.
Nesse caso, o professor não dialoga com o aluno sobre o objeto de estudos; não desmistifica a ciência; não estabelece relações entre a escola e a sociedade.
Em outras palavras, o aluno não é representado no currículo escolar, na medida em que seu saber não é valorizado e legitimado na escola e por ela.
Saiba +
Paulo Freire denominou o conteúdo transmitido como verdade absoluta de “Educação Bancária” ou “Enciclopedista”, considerando-o vazio de sentidos, “verbalização oca”, sem contexto e sem endereço.
Um saber ou conhecimento não é considerado legítimo quando é arbitrário, porque é propriedade de grupos distintos, que os selecionou ou produziu a partir das necessidades desses grupos. Logo, a validade universal desse saber é negada (Santos; Grumbach, 2005, p. 25).
Compreensão do sentido do conhecimento
O papel do professor, ao respaldar sua prática na perspectiva pedagógica crítica e progressista, é apresentar os conteúdos e as atividades de aprendizagem de forma que os alunos compreendam o porquê do que aprender.
Os alunos devem compreender o sentido do conhecimento e, assim, desenvolver expectativas positivas em relação à aprendizagem, e assim, sintam-se motivados para o trabalho escolar.
Ainda sobre os Conteúdos de Ensino na Visão de Nilda Alves
O mundo é cheio de conhecimentos de toda ordem, que nos aparecem de múltiplas formas. Nem todos eles estão na escola; quer dizer, alguém que têm o poder faz a escolha dos conhecimentos que vão estar na escola e que nela devem ser ensinados. Ou seja, há a seleção daqueles conhecimentos que na escola serão

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