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Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 2 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Sumário 1- Considerações Iniciais ..................................................................... 4 2- Conceito de Pessoa .......................................................................... 6 3- Pessoal Natural ............................................................................... 7 3.1- Conceito de pessoa natural ............................................................. 7 3.2- Capacidade de Direito X Capacidade de Fato ..................................... 7 3.3- Capacidade x Legitimação ............................................................ 11 3.4- Incapacidade absoluta e relativa ................................................... 12 3.4.1- Incapacidade Absoluta ............................................................ 13 3.4.2- Incapacidade Relativa ............................................................ 15 3.5- Capacidade civil do índio .............................................................. 16 3.6- CURATELA X TUTELA ................................................................... 17 3.7- Cessação da Incapacidade ............................................................ 18 3.8- Extinção da personalidade ............................................................ 19 3.8.1- Morte presumida sem decretação de ausência ........................... 20 3.8.2- Morte presumida com decretação de ausência ........................... 21 3.8.3- Comoriência .......................................................................... 24 3.9- Registro e averbação ................................................................... 26 3.10- Direitos de personalidade ........................................................... 26 3.10.1- Direito à integridade física .................................................... 30 3.10.2- Integridade moral: Nome ...................................................... 33 3.10.3- Proteção à imagem e à transmissão da palavra ....................... 34 3.10.4- Proteção à intimidade ........................................................... 35 3.10.5- Estado ................................................................................ 38 4- Pessoas Jurídicas ........................................................................... 39 4.1- Conceito de Pessoa Jurídica .......................................................... 39 4.2- Classificação das pessoas jurídicas ................................................ 39 4.3- Começo da existência legal das pessoas jurídicas ............................ 43 4.4- Fim da existência legal das pessoas jurídicas .................................. 45 4.5- Associações ................................................................................ 46 4.6- Sociedades ................................................................................. 49 4.7- Das fundações ............................................................................ 50 4.8- Partidos políticos ......................................................................... 53 4.9- Organizações religiosas ................................................................ 53 Aula 01 – Das Pessoas Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 3 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 4.10- EIRELI: empresa individual de responsabilidade limitada ................ 53 4.11- Desconsideração da personalidade jurídica ................................... 54 4.12- Grupos despersonalizados ou despersonificados ............................ 56 4.13- Representação e responsabilidade da pessoa jurídica ..................... 57 5- Domicílio Civil ................................................................................ 59 5.1- Domicílio da Pessoa Natural .......................................................... 60 5.2- Domicílio da Pessoa Jurídica ......................................................... 63 6- Questões Propostas ....................................................................... 66 7- Lista de exercícios ......................................................................... 98 8- Gabarito ...................................................................................... 114 Ficamos muito felizes por você ter depositado a confiança em nosso trabalho e esperamos, sinceramente, corresponder às suas melhores expectativas com esse curso. A aula de hoje é um pouco extensa, pois não quisemos quebrar o assunto no meio para fazer duas aulas. Sendo assim, dedique especial atenção às “novidades”, ou seja, alterações na legislação que ocorreram em 2015 e 2016. Fique tranquilo ou tranquila que a próxima aula será menor. Bons estudos! "Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realizações". Vincent Van Gogh Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 4 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 1- Considerações Iniciais Que bom que você confiou em nosso trabalho e estamos juntos nessa jornada!!! Bem, na aula anterior estudamos a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Vimos que tal dispositivo legal não é parte integrante do Código Civil. Dessa forma, hoje iremos iniciar o estudo do Código Civil, principal lei que rege as relações de direito privado do nosso ordenamento jurídico. Trata-se de uma lei muito extensa que possui 2.046 artigos divididos em duas grandes partes (geral e especial) e subdivididos em livros, conforme o esquema a seguir: Você deve estar pensando: mas professor, isso é muita coisa para estudar! Concordo perfeitamente com esse pensamento. Entretanto, se você quer passar em um concurso de primeiro nível para ter um salário satisfatório, o caminho a ser percorrido possui vários desafios e esse é um deles. Para enfrentar este desafio eu vou lhe ajudar.Para tal, irei abordar o que costuma ser cobrado em provas de concursos de modo a encurtar o seu caminho. Ou seja, existem diversas teorias no Direito Civil, mas se elas não costumam ser cobradas em provas da área fiscal, então eu não pretendo abordá-las em nosso curso, pois sei que você tem muita coisa para estudar. Código Civil PARTE GERAL Das pessoas Dos bens Dos fatos jurídicos PARTE ESPECIAL Do direito das Obrigações Do direito de empresa Do direito das coisas Do direito de família Do direito das sucessões Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 5 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Inicialmente quero ressaltar que a parte correspondente ao Direito de Empresa é estudada em outro ramo do direito, o Direito Empresarial, e, por isso, não iremos estudá-la. Para esta parte, caso seja cobrada no seu concurso, indico o curso do Prof. Wangney Ilco, aqui do Exponencial Concursos. Feita esta breve introdução, vamos iniciar os trabalhos do dia. Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 6 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 2- Conceito de Pessoa No sentido jurídico, a palavra pessoa representa o titular de direitos e obrigações. Duas são as espécies de pessoas: O titular de direitos e obrigações é aquele que pode figurar em uma relação jurídica, conforme esquema a seguir: A todo direito subjetivo de alguém corresponde um dever de outra pessoa. Há, na relação jurídica, pelo menos dois sujeitos: o ativo, que tem o direito, e o passivo, que tem o dever, além de uma prestação (dar, fazer e não fazer) cujo objeto representa o bem jurídico e funciona como elo na relação. Ou seja, aqueles que podem figurar como sujeito ativo ou sujeito passivo em uma relação jurídica são a pessoa natural (ou física) e a pessoa jurídica (ou moral). Imagine que eu vá a uma clínica odontológica e, após o dentista que lá trabalha realizar o procedimento necessário, eu passe a ter a obrigação de pagar o preço do serviço realizado. Nessa relação jurídica, eu (pessoa natural) sou o sujeito passivo; a clínica (pessoa jurídica) é o sujeito ativo; e o valor a ser pago é o objeto da prestação. Pessoa Natural (ou física) Ser humano Jurídica (ou moral) Organização que visa a realização de um certo interesse Sujeito Passivo Relação Jurídica Sujeito Ativo (direito) Prestação (bem jurídico) Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 7 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3- Pessoal Natural 3.1- Conceito de pessoa natural A pessoa natural, sinônimo de pessoa física, é o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações. Para ser uma pessoa, basta existir, basta nascer com vida, adquirindo personalidade jurídica. 1. (CESPE - Agente de Proteção - TJRR/RR - 2012) A respeito da pessoa natural, julgue os itens a seguir. O conceito de pessoa natural não abrange animais, seres inanimados, entidades místicas e metafísicas. Comentários O item está Certo. A pessoa natural (ou pessoa física) é o próprio ser humano, sujeito de direitos e obrigações. Portanto, no conceito de pessoa natural não estão abrangidos seres que não sejam humanos, como animais, seres inanimados, entidades místicas e metafísicas. 3.2- Capacidade de Direito X Capacidade de Fato O Código Civil em seus artigos 1o e 2o nos apresenta diversos conceitos importantes. Vejamos: Dessa forma, a pessoa natural, ao nascer com vida, adquire personalidade jurídica e passa a ser titular de direitos e deveres na ordem civil. Ou seja, a personalidade adquirida ao nascer representa o conjunto de capacidades (aptidões) referentes a uma pessoa. Duas são as espécies de capacidade: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida os direitos do nascituro mas a lei põe a salvo, desde a concepção Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 8 de 114 www.exponencialconcursos.com.br - Capacidade de Direito ou de Gozo: é adquirida junto com a personalidade e representa a aptidão para ser titular de direitos e deveres na ordem civil, conforme dispõe o art. 1o do CC. A capacidade de Direito ou de Gozo é adquirida através do nascimento com vida. - Capacidade de Fato ou de Exercício: é a aptidão para alguém exercer por si só (sozinho) os atos da vida civil. Ou seja, representa a capacidade de praticar pessoalmente os atos da vida civil, independente de assistência ou representação. Em regra, é adquirida ao completar dezoito anos de idade. Então, esquematizando, temos que: Conclui-se que todas as pessoas possuem capacidade de direito ou de gozo, mas nem todas possuem a capacidade de fato ou de exercício. Esta, em regra, é adquirida ao completar 18 anos, mas também pode ser adquirida através da emancipação ou do levantamento da interdição que serão estudados mais adiante. CONCLUSÃO: Para possuir capacidade plena, a pessoa precisa possuir capacidade de direito e capacidade de fato. Capacidade de gozo ou de direito começa do nascimento com vida de fato ou de exercício precisa ter condições de exercer seus direitos por conta própria C. de FATO C. de DIREITO CapacidadePLENA Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 9 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Tendo em vista que todos possuem capacidade de direito ou de gozo, podemos dizer que ela é ilimitada. Por outro lado, a capacidade de fato ou de exercício é limitada, pois nem todos a possuem. Apesar de não possuir capacidade de fato ou de exercício, uma pessoa pode ser titular de direitos. Como exemplo, temos a possibilidade de uma criança de dois anos ser proprietária de um apartamento, pois ela tem capacidade de direito ou de gozo. Entretanto, por ainda não ter condições de discernir sobre a prática dos atos da vida civil, tal criança possui uma deficiência jurídica. Vejamos o gráfico esquemático para que depois eu explique melhor o que vem a ser essa “deficiência jurídica”. No art. 2o do CC, o legislador colocou a salvo os direitos do nascituro (aquele que está para nascer). Art. 2o do CC - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Concluímos então que o nascituro poderá figurar em algumas relações jurídicas, tais como os dispositivos legais exemplificados a seguir: O nascituro tem direito a receber doação (art. 542 do CC) Art. 542 do CC - A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. O nascituro tem direito a participar da sucessão hereditária (art. 1.798 do CC) Nascimento com vida Maioridade (18 anos) Capacidade de Direito ou de Gozo- ILIMITADA Capacidade de Fato ou de Exercício LIMITADA Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 10 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Art. 1.798 do CC - Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. Assim, percebe-se que a doação feita a uma pessoa, mesmo antes dela nascer, é válida. O mesmo acontece durante a sucessão hereditária, pois, se um homem morre e deixa a sua esposa grávida, o feto que ela carrega em seu ventre também participará da sucessão. Os direitos do nascituro, entretanto, estão condicionados ao nascimento com vida, ou seja, se nascer morto, os direitos eventuais que viria a ter estarão frustrados. Ressalta-se que a má redação do artigo 2o do CC deu origem a três teorias que buscam explicar o momento de início da personalidade civil: 1) NATALISTA: a personalidade civil se inicia com o nascimento com vida – antes não existiria a personalidade. Porém, possui expectativa de direito – ao nascer, seus interesses retroagem ao momento da concepção. É a teoria tradicional (majoritária) fundada na interpretação literal do art. 2º do CC. Se nada for mencionado numa questão de prova, então estaremos nos referindo à teoria natalista, beleza? 2) PERSONALIDADE CONDICIONAL: existe uma condição suspensiva => nascimento com vida, para que os direitos sejam adquiridos. O nascituro é uma pessoa condicional. A personalidade civil tem início com o nascimento com vida. 3) CONCEPCIONISTA: a personalidade civil existe a partir da concepção. É uma teoria moderna, pela qual a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro. Assim, a personalidade se divide em duas partes: a personalidade jurídica formal (adquirida a partir da concepção) e a personalidade jurídica material (adquirida a partir do nascimento com vida). Portanto, o nascituro só tem direito patrimonial ao nascer com vida, mas a personalidade não abrange os direitos patrimoniais, mas somente os de personalidade (direito à vida ou gestação saudável). Neste sentido, diz o Enunciado nº 1 da I Jornada de Direito Civil: “Art. 2.º A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”. Em resumo, as três teorias acima acerca da aquisição da personalidade civil da pessoa natural pode ser esquematiza com abaixo: Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 11 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.3- Capacidade x Legitimação A legitimação (legitimidade civil) é a posição favorável de uma pessoa em relação a certos bens ou interesses, habilitando-a à prática de determinados atos ou negócios jurídicos. Ou seja, a legitimidade é a exigência legal de que o agente ostente determinadas condições jurídicas para praticar determinados atos. A falta de legitimação acarreta um impedimento específico para a prática de certos atos ou negócios jurídicos. A legitimação difere da capacidade de direito ou de gozo, pois, esta todas as pessoas possuem, ao passo que aquela é característica de apenas alguns. Como exemplo temos o art. 1.749, I do CC: Art. 1.749 do CC - Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade: I - adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor; [...]. Ou seja, pelo dispositivo legal acima, o tutor possui capacidade de direito ou de gozo, assim como a capacidade de fato ou de exercício, entretanto, não possui legitimidade para adquirir bens móveis ou imóveis do menor que ele representa. Obs.: Outro exemplo de legitimidade será estudado dentro do tópico direitos da personalidade. Natalista A partir do nascimento com vida Concepcionista Personalidade Condicional Direitos do nascituro sob condição suspensiva A partir da concepção: personalidade jurídica FORMAL. A partir do nascimento com vida: personalidade jurídica MATERIAL. Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a ou c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 12 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.4- Incapacidade absoluta e relativa Como vimos, as pessoas que possuem os dois tipos de capacidade (de direito/gozo e de fato/exercício) têm a chamada capacidade plena, e aqueles que não possuem a capacidade de fato ou de exercício são chamados incapazes, sendo portadores de uma “deficiência jurídica”. Justamente por existir tal deficiência é que os incapazes precisam ser representados ou assistidos. Assim, a incapacidade é a restrição a determinados atos da vida civil. Conforme ensinamentos da Prof.ª Maria Helena Diniz, a regra é a capacidade e a incapacidade é a exceção! A incapacidade pode ser de dois tipos: absoluta ou relativa. Vamos estudar a seguir os tipos de incapacidade. Mas, em resumo, o absolutamente incapaz não pode praticar o ato civil, então deve ser representado, enquanto que o relativamente incapaz pode praticar o ato, desde que assistido. Portanto, será absoluta quando houver total restrição ao exercício do direito. Ou seja, a pessoa tem capacidade de direito, mas há proibição total de exercer o direito (não há capacidade de fato). Para que possam praticar os atos civis, os absolutamente incapazes devem estar representados. Os atos praticados sem representação serão considerados nulos (nulidade absoluta). A seu turno, a incapacidade será relativa quando for necessária assistência para a prática de determinados atos. Portanto, a pessoa poderá praticar certos atos, desde que assistida por representantes legais. Os atos praticados sem assistência (quando for necessária) serão considerados anuláveis (nulidade relativa). Incapacidade absoluta Representação relativa Assistência Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 13 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Macete: RIA! Após saber os tipos de incapacidade, creio que você deva estar se perguntando: quem é considerado incapaz? Absolutamente Incapaz Relativamente Incapaz Idade Menor de 16 anos 16 a 18 anos Pessoas Ébrios habituais, viciados em tóxicos, pródigos, aquele que não puder exprimir sua vontade (por causa transitória ou permanente). Obs.: O quadro acima está conforme a nova redação dos arts. 3º e 4º do CC, dada pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Observemos que não existe mais pessoa absolutamente incapaz que seja maior de idade. Em suma, todas as pessoas com deficiência, das quais tratava o comando antigo, passam a ser, em regra, plenamente capazes para o Direito Civil, o que visa a sua plena inclusão social, em prol de sua dignidade. Vejamos com mais detalhes cada tipo de incapacidade. 3.4.1- Incapacidade Absoluta Os absolutamente incapazes estão definidos no artigo 3° do Código Civil, conforme recente redação da Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência): Relativamente Incapaz Assistido Representado Incapaz Absolutamente Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 14 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Importante destacar que a redação anterior incluía: REDAÇÃO ANTIGA Art. 3o do CC - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Então, atualmente, de acordo com a redação dada pela Lei n° 13.146, de 2015, apenas os menores de 16 anos são considerados como absolutamente incapazes. São conhecidos por menores impúberes. 2. (CESPE - Analista Administrativo - ANAC - 2012) Com base no Código Civil, julgue os itens a seguir, a respeito de personalidade civil, capacidade jurídica e direitos da personalidade. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de dezoito anos de idade. Comentários O item está Errado. Conforme artigo 3° do Código Civil, são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Portanto, não são absolutamente incapazes os menores de 18 anos, e sim os menores de 16 anos. São absolutamente incapazes os menores de 16 anos de exercer pessoalmente os atos da vida civil Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 15 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.4.2- Incapacidade Relativa Os relativamente incapazes estão definidos no artigo 4° do Código Civil: Portanto, o art. 4º do CC também foi modificado de forma considerável pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. O seu inciso II não faz mais referência às pessoas com discernimento reduzido, que não são mais consideradas relativamente incapazes, como antes estava regulamentado. Apenas foram mantidas no diploma as menções aos ébrios habituais (entendidos como os alcoólatras) e aos viciados em tóxicos, que continuam dependendo de um processo de interdição relativa, com sentença judicial, para que sua incapacidade seja reconhecida. Vejamos com mais detalhes cada hipótese de incapacidade relativa: Os maiores de 16 e menores de 18 anos são chamados de menores púberes e, apesar de serem relativamente incapazes, podem praticar determinados atos sem a assistência, tal como: aceitar mandato, ser testemunha, fazer testamento, etc. Os ébrios (alcoólatras) habituais e os viciados em tóxicos (toxicômanos), quando o efeito das respectivas substâncias (álcool e entorpecente) provocar uma redução na capacidadede entendimento, não poderão praticar os atos da vida civil sem assistência de um curador, desde que interditos. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade contempla todos que, por enfermidade ou deficiência, tenham discernimento simplesmente reduzido, ou mesmo os que não tenham discernimento nenhum. Os pródigos são gastadores que dissipam o próprio patrimônio de forma desvairada. Trata-se de um desvio de personalidade e não, propriamente, de um estado de alienação mental. No entanto, o pródigo só ficará privado de praticar atos que extravasam a mera administração e implicam no comprometimento de seu patrimônio, como emprestar, alienar, hipotecar, etc. (art. 1.782 do CC). Precisa de interdição. São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: os maiores de 16 e menores de 18 anos os ébrios habituais e os viciados em tóxico aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade pródigos Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 16 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Art. 1.782 do CC - A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. Observação: Existem algumas situações excepcionais em que os relativamente incapazes podem praticar atos sozinhos, ou seja, sem a necessidade de assistência, como por exemplo: 3.5- Capacidade civil do índio Nos termos do art. 4º, § único do CC, a capacidade dos indígenas deve ser regulada por lei especial. Tal diploma legal é a Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio). Art. 4º, Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. O Estatuto do Índio dispõe que todo ato praticado por silvícola, sem a assistência da FUNAI, é nulo. O próprio Estatuto, no entanto, dispõe que o juiz poderá considerar válido o ato se constatar que o silvícola tinha plena consciência do que estava fazendo e que o ato não foi prejudicial a ele. Ou seja, dependendo do grau de integração com a sociedade, o índio pode ser considerado absolutamente incapaz, relativamente incapaz ou plenamente capaz. 1. Fazer um testamento; Art. 1.860. Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos. 2. Aceitar mandato para praticar negócios; Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. 3. Ser testemunha a partir de 16 anos, etc. Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas: I - os menores de dezesseis anos; Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 17 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.6- CURATELA X TUTELA A curatela é um instituto que visa a proteção da pessoa e o regimento ou administração de seus bens. Incide tal instituto sobre aqueles que não possuem capacidade para fazer a referida administração sozinhos, em razão de ausência, moléstia, ou até mesmo dos que ainda nem nasceram. A tutela visa os cuidados com a pessoa do menor ante a ausência dos pais (ex: menor órfão de pai e mãe), já a curatela visa o amparo de maiores em condições específicas onde estes, não tendo capacidade em virtude de problemas mentais, sejam ébrios habituais ou dependentes toxicológicos ou todos os que não tem condições de exprimir a sua vontade por estas ou outras causas também tem direito a um curador. Assim, para a determinação de curador para o incapaz, necessário que se faça o reconhecimento judicial da incapacidade, onde logo será declarada a interdição e estabelecida a curatela, onde o curador ficará responsável pelo interdito e administração de seus bens. O assunto tutela e curatela é tratado no Direito de Família, dessa forma, vejamos rapidamente os principais dispositivos legais sobre o assunto. O art. 1.728 do CC trata do instituto da tutela. Art. 1.728 do CC -. Os filhos menores são postos em tutela: I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes; II - em caso de os pais decaírem do poder familiar. Já o rol do art. 1.767 do CC, também alterado pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, enumera aqueles que estão sujeitos à interdição e, consequentemente, à curatela. Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; II - (Revogado); III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; IV - (Revogado); V - os pródigos. TUTELA amparo de menores CURATELA amparo de maiores com “problemas” Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 18 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.7- Cessação da Incapacidade O término da incapacidade pode se dar de 3 (três) formas: 1. Maioridade - ao completar 18 (dezoito) anos; 2. Levantamento da interdição – pode verificar-se se cessar a causa que determinou o respectivo decretamento, quer mediante requerimento do próprio interdito, quer por quem tinha legitimidade para requerer o decretamento da interdição. (Ex.: o vício em tóxico deixa de existir); e 3. Emancipação – aquisição da capacidade civil plena antes de completar 18 (dezoito) anos, ou seja, representa a antecipação da capacidade civil plena. Também pode ser de 3 (três) tipos: voluntária, judicial e legal. Neste sentido, o artigo 5° do Código Civil estabelece que “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil”. Portanto, se o motivo da capacidade ser relativa for a idade, aos 18 anos se atingiria a capacidadeplena. No entanto, existem hipóteses nas quais a incapacidade pode cessar antes de atingida a maioridade aos 18 anos. É o que chamamos de EMANCIPAÇÃO DO MENOR. É importante frisar que a emancipação não é causa de maioridade, mas sim de antecipação da capacidade de fato ou de exercício. Estão previstas no parágrafo único do artigo 5° do Código Civil: Emancipação Voluntária - Concessão de ambos os pais; ou - Concessão de um deles na falta do outro; - Por instrumento público; - Não depende de homologação judicial; -Menor com 16 anos completos. Judicial - Quando os pais divergirem; ou - Quando sob tutela; - Por decisão judicial; - Ouve-se o tutor; - Menor com 16 anos completos. Legal - Pelo casamento; - Pelo exercício de emprego público efetivo; - Pela colação de grau em ensino superior; - Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou relação de emprego, 16 anos completos e economia própria Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 19 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Tanto pela maioridade atingida aos 18 anos completos quanto pela emancipação nos casos acima, o poder familiar ou parental fica extinto em relação àquele que atingiu a maioridade ou que foi emancipado (art. 1.635, CC). Ainda, são características da emancipação: Irrevogabilidade Não pode ser revogada pelos pais do menor. Perpetuidade Se o casamento for desfeito a emancipação continua. Pura e simples Não admite termo ou condição. Assim, uma das características da emancipação é a irrevogabilidade, entretanto, revogar (desfazimento de um ato válido) é diferente de anular (cancelamento de um ato inválido). Imagine uma emancipação concedida através de um documento fraudulento. É perfeitamente possível a anulação do ato. Obs.: No campo dos fatos jurídicos e da invalidade dos negócios jurídicos, o menor, entre dezesseis e dezoito anos de idade, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior (art. 180, CC). Obs.: Enunciado nº 397 da Jornada de Direito Civil: “A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita a desconstituição por vício de vontade". Os vícios de vontade são: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. Obs.: Conforme o art. 9º do CC, a emancipação por outorga dos pais (voluntária) e a judicial são registrados em registro público, só produzindo efeitos a partir de então. 3.8- Extinção da personalidade A extinção da pessoa natural ocorre com a morte, cessando assim seus direitos e obrigações, conforme disposto no artigo 6° do Código Civil: A existência da pessoa natural termina com a morte presume-se esta, quanto aos ausentes nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 20 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Logo, a morte representa o fim da personalidade jurídica. Pode ser de três tipos: real, civil e presumida. Em relação à morte civil, trata-se de um resquício do CC de 1.916 e, alguns autores, dizem que está prevista no art. 1.816 do Código Civil, só produzindo efeitos com relação à herança. Entretanto, há quem diga que não existe mais a morte civil no ordenamento jurídico. Art. 1.816 do CC - São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão. Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. Já a morte presumida é tratada nos arts. 6º e 7º do CC. 3.8.1- Morte presumida sem decretação de ausência O CC prevê que o juiz poderá declarar a morte de alguém de forma presumida quando é extremamente provável sua morte, conforme o artigo 7°: Ressalta-se que, de acordo com o parágrafo único desse artigo, a declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. A declaração de morte presumida deverá ser registrada no Registro Público, assim como o óbito (art. 9º). M O R T E REAL Pressupõe a existência de um cadáver para comprovar o óbito CIVIL Quando uma pessoa, embora viva, é tratada como morta, perdendo os seus direitos civis. PRESUMIDA Quando não há um cadáver para provar efetivamente a morte. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 21 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 3.8.2- Morte presumida com decretação de ausência Também é possível que a morte presumida seja declarada quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (art. 6º, CC). Ausente é aquela pessoa que desaparece de seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens (art. 22, CC). Também é considerado ausente, aquele que deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. Assim, o CC estabeleceu regras em relação à proteção do patrimônio do ausente. Entretanto, há algumas fases que deverão ser observadas em relação ao ausente: Portanto, somente com a abertura da sucessão definitiva é que o ausente é considerado morto. Pois bem, desta forma, o JUIZ, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, mandará arrecadar os bens do ausentee nomeará o curador. Agora, vejamos cada uma dessas fases com mais detalhes: Ainda nesta fase de curadoria dos bens do ausente, conforme o art. 745 do Novo CPC, realizada a arrecadação, o juiz mandará publicar editais na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 1 (um) ano, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, durante 1 (um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, 1ª FASE: Curadoria dos bens do ausente - PRAZO: 1 ANO 2ª FASE: Sucessão provisória - herdeiros se imitem na posse dos bens do ausente. PRAZO: 10 ANOS 3ª FASE: Sucessão definitiva - decretação de morte presumida. Herdeiros adquirem a propriedade dos bens do ausente. CURADORIA Poderes e obrigações fixados pelo JUIZ Cônjuge do ausente - é o legítmo curador, se não estiver separado judicialmente ou de fato por mais de 2 anos Na falta do cônjuge - o curador será na ordem: os pais, os descendentes, começando pelo mais próximo, e alguém escolhido pelo juiz Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 22 de 114 www.exponencialconcursos.com.br anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens. Então, após um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória. São interessados na sucessão provisória: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. Excetuando-se os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. Esta é mais uma proteção aos bens do ausente, que ainda poderá aparecer. Por fim, ainda na fase de sucessão provisória, provando-se a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo. Porém, se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono. SUCESSÃO PROVISÓRIA Inicia-se os procedimentos para resguardar os interesses dos herdeiros e demais interessados, pois a morte do ausente passa a ser mais provável com o passar do tempo; Apos o prazo de um ano ou de 3 anos, conforme o caso, não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente; Prazo de 180 dias: para que a sentença da sucessão provisória produza efeitos depois de publicada. Trata- se de mais um prazo para que o ausente apareça. A partir daí ocorre o trânsito em julgado da sentença de sucessão provisória. Prazo de 30 dias: aos interessados, para requerer a abertura do inventário e a partilha de bens. Caso não apareçam, torna-se herança jacente (sem testamento nem herdeiros legítimos). Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 23 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Então, após todo esse processo relacionado à decretação de ausência, passando pela curadoria dos bens do ausente e pela sucessão provisória, tem início a fase de SUCESSÃO DEFINITIVA, que é aberta nas seguintes hipóteses: Aberta a sucessão definitiva, fica caracterizada a morte presumida do ausente. No mais, vale destacar que, regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. Isso significa dizer que somente após 10 anos da abertura da sucessão definitiva é que os sucessores terão a plenitude da propriedade dos bens do ausente, não cabendo mais qualquer direito sobre os bens ao ausente que regressou. Então, esse prazo de 10 anos é considerado decadencial. Logo, podemos perceber que, em regra, não é possível um intervalo de tempo menor que onze anos (1 + 10) entre a curadoria dos bens e a sucessão definitiva, pois deve-se publicar editais durante um ano e aguardar dez anos da sucessão provisória até a sucessão definitiva. Imagine um homem que sai de casa dizendo que vai comprar um maço de cigarros e nunca mais volta. Resumidamente teremos o seguinte: SUCESSÃO DEFINITIVA APÓS 10 anos do trânsito em julgado da sentença que abrir a sucessão provisória PROVANDO-SE que o ausente possui 80 anos de idade e que há 5 anos datam as últimas notícias dele Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 24 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Por fim, se nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal. 3.8.3- Comoriência Ainda sobre o tema de extinção da pessoa natural, é importante saber o que é comoriência. Quando duas (ou mais) pessoas morrem em uma mesma ocasião e não se consegue determinar quem faleceu em qual ordem, o que seria necessário para aplicação das regras do direito sucessório, presume-se a morte simultânea. Comoriência é o nome dado a essa presunção de morte simultânea, quando não se pode determinar a ordem dos falecimentos. O artigo 8° do CódigoCivil trata essa situação, conforme esquematizamos a seguir. CURADORIA DOS BENS Duração: 1 ano (sem procurador) ou 3 anos (com procurador) Ocorre a arrecadação dos bens do ausente e a entrega a um administrador. Não havendo procurador, deve-se obedecer a ordem estipulada pelo art. 25: 1º cônjuge, 2º pais, 3º descendente, 4º curador dativo. SUCESSÃO PROVISÓRIA Duração: em regra 10 anos Os herdeiros prestam caução e se imitem na posse dos bens. Os herdeiros necessários (ascendente, descendente e cônjuge) não precisam prestar caução. Os bens do ausente só podem ser vendidos por ordem judicial para evitar- lhes a ruína. SUCESSÃO DEFINITIVA O ausente é declarado morto. Os herdeiros passam a ter a propriedade dos bens. Nos 10 primeiros anos a propriedade é resolúvel, pois, se o ausente reaparecer, terá direito aos bens que ainda restarem. Se o ausente já tiver 80 anos de idade e a ausência durar, pelo menos, 5 anos, poderá ocorrer a sucessão definitiva, pois não é necessário que esperemos 3 anos (curadoria dos bens) + 10 anos (sucessão provisória) em decorrência da idade avançada apresentada. Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 25 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Exemplo: Um casal sem descendentes e ascendentes falece em um acidente de carro. O Marido possui como único herdeiro um primo. A esposa possui como única herdeira uma irmã. 1) Se ficar provado que o marido morreu primeiro (antes da esposa), este transmite sua herança para a esposa que, consequentemente, transmite para a irmã. O primo fica sem nada. 2) Se ficar provado que a esposa morreu primeiro (antes do marido), esta transmite sua herança para o marido que, consequentemente, transmite para o primo. A irmã fica sem nada. 3) Se não puder se provar quem morreu primeiro, presume-se a comoriência, ou seja, a herança do marido será transmitida ao primo e a herança da esposa será transmitida para a irmã. 3. (CESPE - Analista Judiciário - Área Judiciária - TJCE/CE - 2014) Uma família viajava de navio do Brasil para a Europa e, no curso da viagem, o navio naufragou, tendo morrido os quatro integrantes dessa família. Não foi possível identificar o integrante da família que morreu primeiro. Robson era o mais velho, Marcos, o mais novo, e João, maior de sessenta e cinco anos de idade. Rogério estava doente, em estágio terminal de sua vida. Nessa situação hipotética, com base no disposto no Código Civil, dada a impossibilidade de constatar quem morreu primeiro, presume-se que a) Rogério morreu primeiro, por estar em estágio terminal da vida. b) João morreu primeiro, por ser maior de sessenta e cinco anos de idade. c) Robson morreu primeiro, por ser o mais velho. d) todos morreram simultaneamente. e) Marcos morreu primeiro. Comentários Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião presumir-se-ão simultaneamente mortos não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 26 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Letra “d”. Conforme artigo 8o do Código Civil, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. 3.9- Registro e averbação É importante distinguir as situações que exigem que sejam registrados em registro público (artigo 9° do CC) e os casos em que far-se-á averbação em registro público (artigo 10 do CC). 4. (CESPE - Analista Judiciário - Área Judiciária - STF - 2013) Acerca das pessoas naturais, julgue os próximos itens. A sentença que declara a ausência da pessoa natural deve ser submetida a registro público. Comentários O item está Certo. Entre as hipóteses de situações que exigem que sejam registrados em registro público, temos o inciso IV do artigo 9º do Código Civil, que dispõe que a sentença declaratória de ausência e de morte presumida deve ser registrada em registro público. 3.10- Direitos de personalidade Na conceituação da Profª. Maria Helena Diniz, “os direitos da personalidade são direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade Registro • nascimentos, casamentos e óbitos • emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz • interdição por incapacidade absoluta ou relativa • sentença declaratória de ausência e de morte presumida Averbação • sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal • atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 27 de 114 www.exponencialconcursos.com.br moral (honra, recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social)”. Em razão da matéria tratar de assunto bastante complexo e de significação ética essencial, o legislador preferiu enunciar no Código Civil poucas normas dotadas de rigor e clareza, cujos objetivos permitem o desenvolvimento da doutrina e da jurisprudência. Não só a pessoa natural possui tais direitos, mas também a pessoa jurídica nas situações que cabem à sua natureza (art. 52 do CC). Dessa forma, a pessoa jurídica pode titularizar os direitos personalidade no que tange à honra, à imagem e ao nome. Art. 52 do CC - Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Os direitos da personalidade são aplicáveis, no que couber, às pessoas jurídicas. Os direitosde personalidade são oponíveis “erga omnes”, ou seja, possuem eficácia contra todos, e, conforme disposto no artigo 11 do Código Civil: Assim, nunca caberá afastamento volitivo (pela vontade do agente) de tais direitos, como daquele atleta que se expõe a uma situação de risco e renuncia expressamente a qualquer indenização futura decorrente de lesão ou ameaça a tais direitos. Tal declaração não valerá. Mas sem dúvidas que o valor da indenização deve ser reduzido, diante de culpa concorrente da própria vítima, nos moldes dos art. 945 do CC. Art. 945 do CC - Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. A intransmissibilidade dos direitos da personalidade não é absoluta, pois pode ocorrer em casos excepcionais, como naqueles envolvendo os direitos Com exceção dos casos previstos em lei os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 28 de 114 www.exponencialconcursos.com.br patrimoniais do autor, exemplo sempre invocado pela doutrina. De qualquer forma, não cabe limitação permanente e geral de direito da personalidade, como cessão de imagem vitalícia, conforme reconhece o Enunciado nº 4 da Jornada de Direito Civil: "O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral". Também, vejamos o teor do Enunciado nº 139: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes”. Logo, a regra do art. 11 do CC é válida, mas sujeita a limitações. Para exemplificar a regra acima, caso fosse celebrado em nosso País, não teria validade o contrato do jogador de futebol Ronaldo com a empresa esportiva Nike, pois, nesse negócio, pelo menos de forma aparente, há uma cessão vitalícia de direitos de imagem, o que representa uma limitação permanente do direito de imagem. Desta forma, a doutrina enumera as seguintes características dos direitos da personalidade: Intransmissibilidade e irrenunciabilidade: são as características mencionadas no art. 11 do CC. Entretanto, ressalta-se que alguns atributos da personalidade admitem a cessão de seu uso, tal como a imagem que pode ser explorada economicamente, mediante uma retribuição em dinheiro. Absolutismo: o caráter absoluto decorre da oponibilidade erga omnes, ou seja, todas as pessoas devem respeitar os direitos da personalidade de outra, sem exceção. Não limitação: o Código Civil enumera um rol meramente exemplificativo de direitos da personalidade, pois é impossível imaginar uma lista taxativa de tais direitos. Conclui-se que eles são ilimitados. Imprescritibilidade: os direitos da personalidade não se extinguem pelo não uso ou pelo decurso de tempo. Impenhorabilidade: são direitos inerentes à pessoa humana e dela inseparáveis, e por essa razão, indisponíveis, ou seja, não podem ser penhorados. Não sujeição à desapropriação: pelo fato dos direitos da personalidade se ligarem à pessoa de modo indestacável, não podem ser retirados contra a sua vontade. Vitaliciedade: os direitos da personalidade são inatos (adquiridos no momento da concepção) e acompanham a pessoa até a sua morte. Entretanto, alguns direitos ultrapassam o momento da morte, tal como o respeito ao morto, à sua honra, à sua memória, ao seu direito de autor, etc. Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 29 de 114 www.exponencialconcursos.com.br No mais, a proteção aos direitos de personalidade encontra respaldo no artigo 12 do Código Civil, que estabelece que “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei”. Representa o princípio da prevenção e da reparação integral nos casos de lesão a direitos da personalidade. Além disso, o parágrafo único acrescenta quem terá legitimação para requerer a medida prevista, no caso de se tratar de morto: Ressalta-se que os legitimados acima agem em “nome próprio”, por direito próprio, visto que as lesões direcionadas ao falecido seriam sentidas por eles. São os denominados lesados indiretos, que sofrem muitas vezes um dano reflexo, indireto, comumente denominado dano em ricochete (maiores detalhes na aula que tratará da responsabilidade civil). O Enunciado nº 400 da V Jornada de Direito Civil assim aduz: “Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único: Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito próprio, aos parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada post mortem”. Além disso, as medidas previstas podem ser invocadas por qualquer legitimado de forma concorrente ou autônoma. Obs.: Importa destacar que os direitos da personalidade podem ser divididos em duas categorias: inatos e adquiridos. Em se tratando de morto, terá legitimação cônjuge sobrevivente qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau Inatos • Direito à vida; •Direito à integridade física; •Direito à integridade moral. Adquiridos •Direito autoral; •Demais direitos conferidos pelo Direito Positivo. Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 30 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 5. (FCC - Técnico Judiciário - Área Administrativa - TJPE/PE - 2012) Marcelo, solteiro, faleceu em um acidente de carro. De acordo com o Código Civil brasileiro, terá legitimidade para exigir que cesse ameaça, ou lesão, a direito da personalidade de Marcelo e reclamar perdas e danos qualquer parente em linha retaa) ou colateral até o segundo grau. b) ou colateral até o terceiro grau. c) ou colateral até o quarto grau. d) até o quarto grau, apenas. e) até o terceiro grau, apenas. Comentários Letra “c”. Conforme artigo 12 do Código Civil, pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. E, conforme parágrafo único desse artigo, em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. 3.10.1- Direito à integridade física O direito à integridade física relaciona-se à própria vida humana, abrangendo sua tutela jurídica e do corpo humano, mesmo após a morte. Ainda alcança o direito de disposição do próprio corpo, que é tratada nos artigos 13 e 14 do Código Civil. O artigo 13 dispõe que: ATENÇÃO!!! “Defeso” quer dizer “proibido”, “vedado” ok? Fiquem atentos! Portanto, a regra é a proibição do ato de disposição do próprio corpo nos dois casos acima: diminuição permanente da integridade física ou contrário aos bons costumes. A exceção fica por conta da exigência médica. Neste caso, por exemplo, é autorizada as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil, conforme Salvo por exigência médica é defeso o ato de disposição do próprio corpo quando importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes proibido Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 31 de 114 www.exponencialconcursos.com.br entendimento do Conselho da Justiça Federal (Enunciado nº 276 da Jornada de Direito Civil). Esse ato, previsto nesse artigo, será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial, conforme parágrafo único. Neste sentido, o artigo 14 dispõe que: Pela regra acima, podemos concluir que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares. Ou seja, é outra exceção ao princípio da indisponibilidade do corpo humano. Notemos, também, que a exploração econômica em relação à doação de órgãos é claramente vedada. A questão é ainda regulamentada pela legislação específica, particularmente pela Lei nº 9.437/97, que em seu art. 9º dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Art. 9o da Lei 9.434/97 - É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. Ainda sobre a doação para a retirada de órgãos e tecidos post mortem que é disciplinada no art. 14 do CC ressalta-se que tal doação só é válida se o objetivo for científico (para fins de pesquisa) ou altruístico (para fins de transplante) e pode ser feita pela própria pessoa antes de morrer, dando origem ao “princípio do consenso afirmativo”, ou pelo cônjuge do morto. Por fim, o ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo, conforme parágrafo único desse artigo. É valida a disposição gratuita do próprio corpo com objetivo científico altruístico no todo ou em parte para depois da morte OU Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 32 de 114 www.exponencialconcursos.com.br 6. (CESPE - Técnico Judiciário - Área Administrativa/Judiciária - TJSE/SE - 2014) Acerca da personalidade, julgue o item abaixo. É válida a disposição onerosa do próprio corpo, no todo ou em parte, com objetivo científico, para depois da morte. Comentários O item está Errado. Conforme artigo 14 do Código Civil, é válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Portanto, é válida a disposição gratuita (e não onerosa) do próprio corpo, no todo ou em parte, com objetivo científico, ou altruístico, para depois da morte. Temos, ainda, o artigo 15 do Código Civil, que dispõe que: De acordo com o dispositivo legal em questão, ninguém pode ser constrangido a tratamento médico ou intervenção cirúrgica que implique em risco de vida. Logicamente, se a pessoa está necessitando de uma cirurgia, à beira da morte, deve ocorrer a intervenção, sob pena de responsabilização do profissional de saúde. Também, a disposição acima pode ser estendida aos casos que envolvem aspectos relacionados ao Direito à inviolabilidade de consciência e de crença previstos no art. 5º, VI, da Constituição Federal. Ou seja, por exemplo, a pessoa não pode ser obrigada à transfusão de sangue em razão de crença religiosa, mesmo com risco de vida. No entanto, para que ocorra a referida recusa à tratamento médico, 3 requisitos são necessários, conforme dispõe o Enunciado nº 403 da V Jornada de Direito Civil, apesar das críticas: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida a tratamento médico intervenção cirúrgica Có pi a re gi st ra da p ar a Ca rlo s Ed ua rd o M ar qu es S ev er in o M ar qu es (C PF : 2 77 .15 6.1 08 -52 ) D ire ito s au to ra is re se rv ad os (L ei 96 10 /98 ). P roi bid a a re pro du çã o, ve nd a o u c om pa rtil ha me nto de ste ar qu ivo . U so in div idu al. Curso de Direito Civil TRTs (AJAJ) Teoria e Questões comentadas Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri – Aula 01 Profs. Wangney Ilco e Dicler Forestieri 33 de 114 www.exponencialconcursos.com.br Observemos, portanto, que há a necessidade de que o paciente esteja na plenitude de sua capacidade civil e de suas faculdades mentais. Assim, verifica- se um importante e inovador prestígio à livre vontade e à autodeterminação