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Apostila Penal I

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Direito Penal I
Apostila
NOÇÕES GERAIS SOBRE O DIREITO PENAL
Desde o momento em que as pessoas passaram a viver em conjunto, surgiu a necessidade de imposição de regras para que esse convívio se tornasse o mais harmônico possível.
O Direito, que rege a vida dos homens, é formado por um complexo de normas jurídicas, ligadas a uma sanção cominada à sua violação.
No prisma extra penal, essa sanção assume formas múltiplas: nulidade do ato jurídico, reparação do dano, multa fiscal, demissão do funcionário público, etc.
No âmbito penal, o Estado reage com dois tipos de sanção: a pena e a medida de segurança.
A severidade das sanções criminais é a forma de que o Estado lança mão para a proteção dos direitos fundamentais ao convívio social.
Na elaboração da lei penal, o legislador deve ter em mente que o crime é o último grau do sistema jurídico, só se justificando a sua criação para a proteção dos direitos fundamentais (vida, liberdade, igualdade, segurança e patrimônio).
Ao se falar em Direito Penal, é falar, de alguma forma, de violência. No entanto, modernamente, sustenta-se que a criminalidade é um fenômeno social normal. Durkheim afirma que o delito não ocorre somente na maioria das sociedades de uma ou outra espécie, mas sim em todas as sociedades constituídas pelo ser humano. Indo mais além, afirmando que não somente é um fenômeno social normal, como também cumpre uma função importantíssima, qual seja, a de manter aberto o canal de transformações de que a sociedade precisa.
Em que pese a onda de criminalidade pela qual passa a nossa sociedade, a maioria das pessoas não delinqüe, e para que inicia o curso de Direito, incumbe-nos perguntar: Por qual razão alguns praticam crimes e por que a grande maioria das pessoas não vêm a delinqüir?
Podemos concluir que a grande parte das pessoas não delinqüem em razão de três formas de controle interligadas a saber:
O controle social, exercido primeiramente pela família, leva o indivídio a adotar os valores socialmente reconhecidos e os respeitar, independentemente da ação ameaçadora e repressiva do Direito Penal, que constitui uma esécie de controle social, mas de caráter formal e residual, pois só atua diante do fracasso dos instrumentos informais de controle.
A par da família, também atuam nessa forma de controle a escola, a igreja, o trabalho, pois atuam na tarefa de socializar o indivíduo.
Esse controle social nos é submetido desde criança, pois somos submetidos a um processo de socialização graças ao qual vamos paulatinamente aprendendo estes valores essenciais e formas de agir próprios do meio social em qeu vivemos, passando por um aprendizado constante que exige adaptação condutora à cnformidade com os padrões de comportamento reconhecidos como válidos e aprovados.
Esse processo de socialização nos absorve de tal forma que nos condiciona a adotar até mesmo a forma de nos exprssar corporalmente pelos gestos qe são característicos de determinado povo ou localidade.
Destarte, a família, a escola e o ambiente social imediato no qual vivemos, constituem a instância primária da socialização.
Resta contudo sem explicação, que pessoas em idêntica situação familiar e escolar tenham comportamentos diversos, pois igualmente acham-se contornadas por uma estrutura cultural que fixa objetivos inatingíveis pelos meios legítimos proporcionados pela estrutura social. A não satisfação dos desejos, diante da impossibilidade de alcance dos meos lícitos postos à disposição, é de ser aceita se houver por parte da pessoa o AUTO-CONTROLE, isto é, se omite a ação ilícita que tornaria possível a reaização do desejo, conformando-se em não ter tudo que pretende imediatamente, para não imperar a ditadura do tudo e do agora.
O auto-controle é facilitado ela criaçãu de uma imagem positiva d esi mesmo, de satisfação com o que se é. E a maior parte das pessoas orgulha-se do seu trabalho, desde o cientista satisfeitos com suas pesquisas ao sapateiro que julga realizar a melhor meia-sola do bairro.
Ter-se em consideração constitui uma fonte de auto-controle. 
Quando os controles sociais informais de vinculação com a sociedade convencional são insuficientes ou deixam de existir, ou qando há déficit de auto-controle, e põe-se acima de qualquer relação custo-benefício a vontade do indivíduo de satisfação imediata dos desejos, surge a possibilidade da prática delituosa, que fere os mais altos e relevantes interesses da sociedade. Busca esta então, impedir e depois reprimir a realização do crime por meo das instãncias formais de controle, ou seja, recorrendo à estatuição de normas cogentes, positivadoras e protetoras de valores sociais, qeu imponham sanções redutoras de dieitos àqueles que as infrinjam.
Adota-se a ameaça de restringir direitos, punir, com a intenção de asseguar a obediência às regras consagradoras dos interesses relevantes para a vida social, legitimando-s o uso da força para garantir a preservação de valores essenciais revelados pela história e reconhecidos pela coletividade.
Se não houvesse o Direito Penal, a sociedade sentir-se-ia desprotegida, pois incapacitada de responder por meio da ameaça de sanções aos atos lesivos que desestabilizam a convivência social.
Na ordem jurídica nacional, diversas são as leis que tratam de matéria penal, das quais destacamos:
Código Penal (CP) – Dec. Lei 2848/40, alterado pela Lei 7209/84;
Lei de Contravenções Penais (LCP) – Dec. Lei 3688/41;
Abuso de Autoridade – Lei 4898/65;
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECRIAD) – Lei 8069/90;
Estatuto do Desarmamento – Lei 10826/03;
Lei dos crimes Hediondos – Lei 8072/90;
Lei de Drogas – Lei 11343/06;
Violência doméstica – Lei 11340/06;
E diversas outras leis assim consideradas como Leis Penais Especiais ou extravagantes.
Nosso Código Penal é dividido em duas partes: geral (artigos 1º a 120) e especial (artigos 121 a 361).
A primeira parte (GERAL), cuida das regras de aplicação da lei penal – os ensinamentos introdutórios do Direito Penal, aplicáveis a todas as leis que tratam de matéria penal, ainda que fora do Código Penal.
Dessa forma, estabelece, entre outras, regras temporais e espaciais de aplicação da lei penal brasileira, da conduta do agente, do concurso de pessoas, das agravantes e atenuantes, das excludentes de ilicitude, casos de inimputabilidade, além de referir-se à ação penal, medidas de segurança e prazos prescricionais.
Por outro lado, a segunda parte (ESPECIAL), cuida de estabelecer os diversos delitos e suas penas respectivas. No entanto, contém também previsões de isençãode pena, de exclusão de ilicitude e artigos meramente explicativos.
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CONCEITO DE DIREITO PENAL
1 Conceito
Doutrinariamente se conceitua o Direito Penal como o conjunto de normas jurídicas que estabelecem as infrações penais, fixa sanções e regulam as relações daí derivadas.
A vida em sociedade é complexa e exige de todos a obediência a um conjunto de regras de comportamento, pois ninguém é absolutamente livre para fazer o que bem quiser, pois vivemos sob a égide de normas de condutas criadas por intermédio do Estado. A esse conjunto de normas estabelecidas chamamos de Direito Positivo.
Apresenta-se o direito, antes de tudo, como um ordenamento de limitações, determinando a cada cidadão: VOCÊ PODERÁ IR ATÉ AQUI, NÃO ALÉM. São comandos a serem obedecidos por todos os homens, pois demarcam o que é e o que não é lícito fazer, o permitido e o proibido, o certo e o errado.
2 Definição e funções
2.1 Definição
O Direito Penal, por ser uma das espécies do Direito, pode ser definido como o conjunto de normas que descrevem os crimes, cominando sanções pela sua infração.
Von Liszt definia o Direito Penal como: “o conjunto das prescrições emanadas do Estado, que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência”.
Mezger já dizia que “...é o conjunto das normas jurídicas que regulam o exercício do poder punitivo do Estado, associando ao delito, como pressuposto, a pena como conseqüência”.Francisco de Assis Toledo já dizia “...aquela parte do ordenamento jurídico que estabelece e define o fato crime, dispõe sobre quem deva por ele responder e, por fim, fixa as penas e medidas de segurança a serem aplicadas”.
Heleno Cláudio Fragoso já dizia “...o conjunto de normas jurídicas mediante as quais o Estado proíbe determinadas ações ou omissões, sob a ameaça da característica sanção penal”.
José Frederico Marques e Damásio Evangelista de Jesus: “Direito Penal é o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela d direito de liberdade em face do poder de punir do Estado”.
2.2 Funções
O Direito Penal possui duas funções básicas:
a) a proteção dos bens jurídicos, que são os valores ou interesses do indivíduo ou da coletividade reconhecidos pelo Direito, e;
b) a manutenção da paz social, que é a ordem que deve reinar na vida em comunidade.
Apenas os bens jurídicos vitais ao desenvolvimento equilibrado da vida comunitária devem merecer especial tutela do Direito Penal.
3 Caracteres do Direito Penal
O Direito Penal é ramo do Direito Público, valorativo, normativo, finalista e sancionador.
É pertencente ao ramo do Direito Público porque seu objeto refere-se primordialmente às relações do Estado com particulares em razão de seu poder soberano, atuando na tutela do bem-estar coletivo, visando à preservação das condições mínimas de subsistência do grupo social;
É valorativo porque estabelece através das normas, uma escala de valor dos bens jurídicos tutelados, sancionando, mais severamente, aqueles cuja proteção jurídica considera mais relevante;
É normativo porque se preocupa com o estudo da norma, da lei penal, como conjunto de preceitos indicativos de regras de conduta em sociedade;
É finalista porque tem como escopo, como finalidade, a proteção dos bens jurídicos eleitos pela sociedade como merecedores de maior proteção. BEM é tudo quanto pode satisfazer uma vontade humana, e INTERESSE é a relação que se estabelece entre o indivíduo e o bem;
E por fim é sancionador porque estabelece sanções em caso de agressão a bens jurídicos regidos pela legislação extra-penal (Civil, Comercial, Tributário, Administrativo, etc.).
4 Classificação doutrinária do Direito Penal
A doutrina costuma estabelecer diferenças em relação ao Direito Penal, classificando-o em objetivo e subjetivo, comum e especial.
4.1 Direito Penal objetivo e subjetivo
Objetivo é o conjunto de normas penais que definem as infrações penais e cominam sanções. 
É o ordenamento jurídico-penal.
Subjetivo é o poder de punir do Estado.
É o jus puniendi.
4.2 Direito Penal comum e especial
Comum é aquele que se aplica a todas as pessoas em geral.
Especial é aquele que se aplica a uma determinada classe de pessoas, em razão de uma qualidade especial,
A distinção entre o Direito Penal comum e o Direito Penal especial encontra-se, via de regra, no órgão incumbido de aplicar o direito objetivo. 
É o caso por exemplo, do Direito Penal Militar, que é aplicado apenas a uma determinada classe de pessoas (os militares) tendo como órgão jurisdicional aplicador a Justiça Militar.
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FONTES DE DIREITO PENAL
1 Introdução
As fontes do Direito ou origens das normas jurídicas se subdividem em fontes de produção ou materiais e em fontes de conhecimento ou formais. Aquelas indicam o órgão encarregado da produção do Direito Penal, estas, aquelas que nos dão por conhecer o Direito Penal.
1.1 Fontes de produção ou materiais
São também chamadas de fontes substanciais, pois dizem respeito à gênese, à elaboração, à criação do Direito Penal.
Nesse sentido, a única fonte material do Direito Penal é o Estado, órgão responsável pela sua criação, através da competência legislativa exclusiva atribuída à União pelo artigo 22, inciso I, da Constituição Federal�, já que compete à União legislar sobre Direito Penal, e excepcionalmente, de acordo com o parágrafo único do referido artigo, lei complementar federal poderá autorizar os Estados-membros a legislarem em matéria penal sobre questões específicas, meramente locais, que não interfiram ou alterem disposições fundamentais do Direito Penal.
1.2 Fontes de conhecimento ou formais
São também chamadas de fontes de cognição, pois dizem respeito à exteriorização, à forma pela qual o Direito Penal se faz conhecido.
As fontes de conhecimento, formais ou de cognição podem ser imediatas e mediatas.
1.2.1 Fonte formal imediata
São as leis penais.
As normas penais (leis penais) possuem uma técnica diferenciada, uma vez que o legislador não declara que uma ou outra conduta constitui crime. Na verdade, de regra, a norma penal descreve uma conduta e estabelece uma pena para aqueles que a realizam. Há , entretanto, algumas normas penais com descrição e finalidade diversas. Por isso, pode-se dizer que os dispositivos penais se classificam em normas penais incriminadoras e não incriminadoras.
Normas penais incriminadoras – são aquelas que definem as infrações e fixam as respectivas penas. As normas penais incriminadoras estão previstas na parte especial do Código Penal e também em leis especiais, são conhecidas como lei penal em sentido estrito.
Normas penais não incriminadoras – não descrevem crimes, nem cominam penas, são conhecidas como lei penal em sentido lato e dividem-se em normas penais permissivas e complementares ou explicativas.
Normas penais não incriminadoras permissivas – são as que prevêem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, apesar de estes se enquadrarem na descrição típica, ou seja, tornam lícitas determinadas condutas tipificadas em leis incriminadoras. Podem estar na arte geral, como nos artigos 20 a 25 do CP ou na própria parte especial, como nos artigos 128 e 142 do CP.
Normas penais não incriminadoras complementares ou explicativas – são as que esclarecem o significado de outras normas ou limitam o âmbito de sua aplicação, como nos artigos 1º e 2º e todos os demais da parte Geral, à exceção dos que tratam das causas de exclusão da ilicitude, ou mesmo na Parte Especial, como o artigo 327.
Os doutrinadores ainda costumam classificar as normas penais em:
Gerais ou Locais – segundo a extensão espacial de sua aplicação, sendo as últimas de exceção, determinadas por condições peculiares a certas regiões do estado.
Comuns ou Especiais – segundo a divisão do Direito Penal em comum ou especial.
Completas ou Incompletas – as primeiras são as que definem os crimes com todos os seus elementos; as segundas, denominadas normas penais em branco, são de definição legal incompleta.
1.2.2 Fonte Formal Mediata
Assim considerados pela maioria dos doutrinadores, são o costume e os princípios grais de Direito.
1.2.2.1 Costume
Conjunto de normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica.
O costume não revoga a lei, mas serve para integrá-la, uma vez que, em várias partes do Código Penal o legislador se utiliza de expressões que ensejam a invocação do costume para se chegar ao significado exato do texto legal.
O costume não cria delitos, em razão do princípio constitucional da reserva legal, segundo o qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
O costume possui dois elementos:
objetivo – a constância e uniformidade da prática de determinados atos;
subjetivo – o convencimento geral da necessidade jurídica da conduta repetida.
 Doutrinariamente, o costume pode ser classificado em:
contra legem – é o que contraria a lei. Se a despeito de aceito ela consciência social, a lei ainda incriminar o fato, o costume não pode ab-rogar a incriminação;
secundum legem – consistem em regras que auxiliam a esclarecer o conteúdo de certos elementos do tipo legal. É o chamado costume interpretativo,que, no direito Penal, assume importante missão na análise dos delitos contra os costumes ou o pudor público;
praeter legem – é o que supre a ausência ou lacuna da lei. E o chamado costume integrativo. O costume não pode ser usado para criar crimes e aplicar penas.
1.2.2.2 Princípios Gerais de Direito
São princípios que se fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo.
princípio da insignificância – estabelece serem penalmente irrelevantes os fatos que provoquem lesões insignificantes aos bens jurídicos, logo, danos de pouca monta dêem ser considerados fatos atípicos;
princípio da alteridade – proíbe a incriminação de atitude meramente subjetiva, que não ofenda a nenhum bem jurídico. A ação puramente pecaminosa ou imoral não apresenta a necessária lesividade que legitima a intervenção do Direito Penal;
princípio da confiança – uma pessoa não pode ser punida quando, agindo corretamente e na confiança de que o outro também assim se comportara, dá causa a um resultado não desejado. Baseia-s na confiança de que o comportamento das outras pessoas dar-se-á de acordo com o que normalmente acontece.
Princípio da adequação social – todo comportamento que, a despeito de ser considerado criminoso pela lei, não afrontar mais o sentimento social de justiça (aquilo que a sociedade tem por justo) não pode mais ser considerado como crime. Na adequação social, a conduta deixa de ser punida por não mais ser considerada injusta. Tal princípio não tem merecido acolhida da maioria da jurisprudência, uma vez que sua aceitação implicaria a conclusão de que os costumes teriam força para revogar lei penal, o que é inadmissível. Pondera-se ainda, que o Poder Judiciário não pode criar modalidade de revogação de lei inexistente, sob pena de afronta ao princípio da separação de poderes. (art. 2º da CF/88).
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INFRAÇÃO PENAL E ELEMENTOS DO CRIME
1 Infração penal
1.1 Ilícito penal e ilícito civil
Não há diferença na essência entre eles. A diferença é unicamente legal extrínseca, ou seja, quanto à natureza da sanção.
O ilícito civil provoca conseqüências típicas dessa área, quais sejam, obrigação de reparar o dano, anulação do ato, prisão coercitiva, etc.
O ilícito penal traz como conseqüência a pena ou a medida de segurança.
1.2 Espécies de infração penal
Infração penal é um gênero que, em nosso ordenamento jurídico, subdivide-se em duas espécies: crime e contravenção penal.
Há crime quando a infração penal for punida com reclusão ou detenção, acompanhada (alternativa ou cumulativamente) ou não de multa.
Fala-se em contravenção quando a infração penal for apenada com prisão simples, acompanhada (alternativa ou cumulativamente) ou não de multa ou, ainda, aquela sancionada exclusivamente com multa (dec. Lei 3688/41).
1.2.3 Diferença entre crime e contravenção penal
Os traços distintivos residem em suas conseqüências e em seu regime jurídico. Além da diferença apresentada no item 1.2.2, há outras a saber:
os crimes podem ser de ação penal pública, condicionada ou incondicionada, ou de ação penal privada; já as contravenções penais são sempre de ação penal pública incondicionada;
é punível a tentativa de crimes, o que não se dá nas contravenções;
os crimes podem ser dolosos ou culposos, nas contravenções, basta a conduta voluntária;
aos crimes aplicam-se os princípios do erro de tipo e de proibição, às contravenções, somente se aplica o erro de direito;
a lei penal brasileira se aplica tanto aos crimes praticados no Brasil, como àqueles cometidos no exterior; mas somente às contravenções cometidas em território nacional;
o limite de cumprimento das penas privativas de liberdade decorrentes de crime é de 30 anos; das contravenções é de 5 anos;
com relação aos crimes, a duração do sursis pode variar de 2 a 4 anos e, excepcionalmente, de 4 a 6 anos; para as contravenções, o limite é de 1 a 3 anos.
2 Elementos do crime
Por elementos do crime entendem-se os dados constitutivos específicos da figura típica, que se bipartem em elementares e circunstâncias.
Elementares – são os dados essenciais da figura típica, sem os quais não há crime, ou ainda, cuja ausência provoca o surgimento de outro delito.
Encontram-se no chamado “tipo fundamental” (o caput da norma penal incriminadora).
Circunstâncias – são dados acessórios da figura típica que, agregados ao tipo fundamental, influem na quantidade da pena, aumentado-a ou atenuando-a.
Tais elementos, sejam essenciais ou acessórios, podem ter natureza objetiva, subjetiva ou normativa.
elementos objetivos – dados de natureza concreta, perceptíveis sensorialmente (isto é, através de nossos sentidos); referências ao lugar do crime; ao momento do crime; ao modo de execução; e ao objeto material do delito;
elementos subjetivos – dados de natureza anímica ou psíquica. Referente-se à intenção do agente. Não são perceptíveis concretamente, mas apenas examinando o que se passa na mente do agente.
elementos normativos – esse dados da figura típica não são aferíveis nem no mundo concreto nem na psique do agente. Abrangem todas as expressões contidas no tipo penal que requerem um juízo de valor (que será feito pelo juiz). Tal juízo pode ser jurídico, como nas expressões “documento” (art. 297) ou “funcionário público” (art. 327), ou extra jurídico (moral, político, religioso, ético etc.), como nas expressões “decoro” e “dignidade” (art. 140), “ato obsceno” (art. 233), etc.
As circunstâncias, ademais, classificam-se em judiciais ou legais:
judiciais – encontram-se previstas no artigo 59, caput, do CP (culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do agente, circunstâncias, conseqüências e motivos do crime e comportamento da vítima);
legais – podem ser genéricas, quando previstas na Parte Geral do Código Penal (agravantes, atenuantes, causas de aumento e diminuição de pena) ou específicas, se estiverem na Parte Especial do Código Penal (qualificadoras e causas especiais de aumento e diminuição de pena).
3 Sujeito e objeto do crime
3.1 Sujeitos do crime
3.1.1 Sujeito ativo
É a pessoa que pratica a infração, que a comete (seu autor, co-autor ou partícipe). Em princípio, só pode ser sujeito ativo do crime o ser humano (não se fala em conduta punível no comportamento de animais), maior de 18 anos (CF, art. 228 e CP art. 27). Menores de 18 anos que cometem fatos definidos como crimes praticam atos inflacionais, sujeitando-se às medidas sócio-educativas da lei 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente.
3.1.1.1 Capacidade especial do sujeito ativo (crimes comuns, próprios e de mão-própria)
De regra, as infrações penais podem ser praticadas por quaisquer pessoas. Quando for assim, teremos um crime comum.
Casos há, no entanto, em que se exige do sujeito ativo uma capacidade especial, uma condição específica, sem a qual não há o delito. Exemplo disso é o crime de peculato – art. 312 do CO, que só pode ser praticado por funcionário público; o crime de infanticídio – art. 123 do CO, cujo sujeito ativo só pode ser a mãe; essa qualidade especial d sujeito ativo funciona como elementar do crime. Tais delitos são denominados crimes próprios.
Os crimes próprios não se confundem com os de mão própria (também chamados de crimes de atuação pessoal ou de conduta infungível). Estes correspondem aos que somente podem ser praticados por pessoas que ostentem a condição exigida em lei e, ademais, só admitem a modalidade de participação e nunca a co-autoria. Exemplo disso é o crime de falso testemunho (art. 342). Os crimes próprios admitem ambas as formas de concurso de pessoas.
3.1.1.2 Responsabilidade penal da pessoa jurídica
Tradicionalmente afirma-se que societas delinquere nom potest (a pessoa jurídica não pode delinqüir). Na atualidade, contudo, tem prevalecido o entendimento contrário, a despeito da resistência de parte da doutrina.
Diante do ordenamento jurídico pátrio, não há como negar a possibilidade da responsabilidade penal da pessoa jurídica, àluz dos artigos 173, § 5º e 225, § 3º, da CF/88 e, sobretudo, depois da lei 9605/98 (lei dos crimes ambientais).
Cabe destacar que a CF/88 passou a admitir a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes contra a ordem econômica e financeira, contra a economia popular e contra o meio ambiente, autorizando o legislador ordinário a cominar penas compatíveis com sua natureza, independentemente da responsabilidade individual do dirigentes. Cumpre, porém, registrar que uma parcela da doutrina entende que esses dispositivos constitucionais não autorizam a punição penal, e sim sanções administrativas e civis.
Tal argumento não procede quanto aos crimes contra o meio ambiente, pois, no que respeita a estes, a expressão “sanção penal” vem expressa no próprio texto constitucional. Aliás, a lei 9605/96 tipificou os crimes contra o meio ambiente, atribuindo responsabilidade penal à pessoa jurídica desde que haja os seguintes requisitos:
o delito tenha sido cometido por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado;
o delito tenha sido cometido no interesse ou em benefício da entidade.
Todavia, a responsabilidade da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas, autoras , co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
No tocante aos delitos contra a economia popular e a ordem econômica e financeira, ainda não sobreveio a lei definidora dos crimes da pessoa jurídica, inviabilizando a sua incriminação.
3.1.2 Sujeito passivo
É o titular do bem jurídico lesado ou exposta a perigo de lesão pela conduta criminosa. É pois, o titular do bem jurídico protegido pela norma penal violada.
3.1.2.1 Designações
O sujeito passivo pode ser:
geral – (também chamado de constante, genérico, formal), que é sempre o Estado, guardião da norma penal violada. Em todos os delitos, sem exceção, o Estado figura como sujeito passivo, pois a prática do crime lesa um interesse que lhe pertence, qual seja, o de não ser violado o preceito penal; e,
particular – (também chamado de eventual, material, acidental), que é o titular do bem jurídico especificamente protegido pela norma penal violada. Pode ser a pessoa física ou jurídica, o Estado e a coletividade, dependendo do crime.
3.1.2.2 Observações
1 – Civilmente incapaz: pode ser sujeito passivo de delitos, na medida em que pode ser titular de um bem jurídico tutelado por norma penal, como a vida e a integridade física, por exemplo;
2 – recém-nascido: também pode ser sujeito passivo de crime, como no infanticídio (art. 123);
3 – feto: também pode ser sujeito passivo de crime como no aborto (art. 124 a 127);
4 – cadáver: a pessoa morta não pode ser sujeito passivo do crime. No delito de vilipêndio a cadáveres (art. 212) o sujeito passivo é a coletividade, e no crime de calúnia conta os mortos (138, § 2º), sua família;
5 – entes sem personalidade jurídica: certas entidades desprovidas de personalidade jurídica, como a familial, apesar de não serem titulares de bens jurídicos, podem ser sujeito passivo de infrações penais. Esse é o entendimento majoritário da doutrina. Os crimes que possuam como sujeito passivo um ente sem personalidade jurídica são chamados de crimes vagos.
3.1.3 Prejudicado ou lesado pelo crime
Prejudicado é qualquer pessoa que, na esfera cível, tem direito à reparação do dano causado pelo crime. Não se confunde com o sujeito passivo, que é titular do bem jurídico, apesar de ambos terem direito de ação de reparação de dano na esfera civil.
Assim, num crime de homicídio, o sujeito passivo será a pessoa cuja vida foi destruída, enquanto os prejudicados serão seus familiares.
Se é verdade que todo delito possui um sujeito passivo, o mesmo não se pode dizer em relação ao prejudicado. Assim, no crime de posse de substância entorpecente, em que o sujeito passivo é a coletividade, não há nenhum prejudicado.
3.1.4 Sujeito passivo e objeto material
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do agente, ao passo que o sujeito passivo é o titular do bem jurídico que o crime ofendeu.
Às vezes, porém, confundem-se na mesma pessoa o sujeito passivo e o objeto material.
3.2 Capacidade penal
Denomina-se capacidade penal o conjunto das condições necessárias para que o sujeito seja titular de direitos e obrigações no campo penal.
Antigamente, costumavam afirmar os doutrinadores que somente o homem (ser humano) poderia ser sujeito ativo de uma infração penal, á que a pessoa jurídica é ficção criada por lei.
Atualmente porém, a própria Constituição Federal, em seus artigos 173, § 5º e 225, § 1º, admite a possibilidade de responsabilização penal das pessoas jurídicas. É o caso específico da lei 9605/98, que cuida dos crimes ambientais.
No que se refere à capacidade penal passiva, tanto a pessoa física quanto a jurídica, o Estado e a coletividade podem ser sujeitos passivos de infrações penais.
3.3 Objeto do crime
O objeto do crime pode ser jurídico ou material.
objeto jurídico – também conhecido como objetividade jurídica, é o bem ou interesse protegido pela norma penal;
objeto material – é o bem jurídico sobre o qual recai a conduta criminosa.
3.4 Punibilidade
A punibilidade é a conseqüência jurídica do crime. Com a violação da norma penal, surge para o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração.
A punibilidade não é requisito do crime.
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE DIREITO PENAL
1 Princípios de Direito Penal
Os princípios constitucionais devem atuar como balizas para a correta interpretação e o justo emprego das normas penais, não se podendo cogitar de uma aplicação meramente robotizada dos tipos incriminadores.
A Constituição é o alicerce do Estado e da Sociedade, é nela que estão insertas as normas básicas de organização estatal e os princípios fundamentais sobre os quais se assentam todas as relações entre os indivíduos.
Assim sendo, todas as demais normas do direito devem harmonizar-se com os princípios constitucionais, sob pena de se tornarem inválidas.
Todo o Direito Penal, igualmente, é construído com base em princípios inseridos na Constituição Federal, os quais norteiam sua construção e a sua vida, devendo, de conseqüência, ser respeitados.
1.1 Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF/88)
Trata-se de um dos mais importantes dos princípios penais e constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
O conteúdo do princípio diz respeito ao atributo imanente a todo ser humano e que justifica o exercício da sua liberdade e a perfeita realização de seu direito à existência plena e saudável. Decorre da elevação do ser humano ao patamar mais elevado das considerações, com a finalidade de impedir a sua degradação e a sua redução a um mero objeto de manipulação. Compreende a proteção e a promoção das condições fundamentais para uma vida adequada, o respeito a igualdade entre os indivíduos, a garantia da independência e da autonomia do ser humano, a coibição de qualquer obstáculo que o avilte ou que impeça o desenvolvimento do potencial de sua personalidade, bem como compreende a garantia e efetivação de seus direitos essenciais inalienáveis.
Considerado um escopo da Constituição brasileira, o princípio da dignidade humana vincula toda a dinâmica do sistema penal e nele deve se realizar concretamente. O sistema penal é, por isso, um dos ambientes de concretização desses escopos da Constituição e, especificamente, do princípio da dignidade da pessoa humana. É com fundamento nesse princípio que todo o sistema deve ser formulado. 
1.2 Princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX da CF/88)
É o mais importante dos princípios de Direito Penal, o pilar que sustenta toda a ordem jurídico-penal.
Significa que só a lei pode definir crimes e cominar penas.
O princípio da legalidade será objeto de estudo melhor aprofundado em aula específica.
1.3 Princípio da anterioridade da lei penal (art. 5º XL da CF/88 e art. 2º do CP)
A lei penal não retroagirá, salvopara beneficiar o réu.
O princípio da anterioridade da lei penal será objeto de estudo melhor aprofundado em aula específica.
1.4 Princípio da responsabilidade pessoal ou da personalidade da pena (art. 5º XLV da CF/88)
Somente o condenado pode sofrer a pena criminal. Tal princípio segue a máxima de que todo aquele que concorre para o crime deverá responder pelas penas a ele cominadas na medida de sua culpabilidade. 
Procura impedir que terceiros que não concorreram para o crime possam também ser punidos pela conduta do agente.
1.5 Princípio da extra-atividade da lei penal mais favorável (art. 5º XL da CF/88)
Princípio que deve ser entendido como: “A lei penal retroagirá para beneficiar o réu”.
A lei penal que for mais favorável ao acusado da prática do crime sempre será aplicada, em qualquer hipótese. Por isso diz-se que a lei mais benéfica é sempre extra-ativa: se ele é a lei posterior é e sempre será retroativa, se ela é a lei do tempo do fato, é e será sempre ultra-ativa.
1.6 Princípio da individualização da pena (art. 5º XLVI da CF/88)
Individualizar significa particularizar, adaptar a pena ao condenado. A cada indivíduo, uma pena, correspondente ao fato praticado.
Para particularizar a pena, a lei haverá, evidentemente, de balizar-se em parâmetros que, como não poderia deixar de ser, são o homem que violou a norma e o fato por ele praticado, cada qual, com suas particularidades, suas características próprias, subjetivas e objetivas, que os individualizam.
A individualização da pena faz-se em três etapas: cominação, aplicação e execução da pena, tópicos que serão melhor estudados no decorrer deste e do próximo período.
1.7 Princípio da limitação das penas (art. 5º XLVII da CF/88)
Essas penas foram banidas do ordenamento jurídico, porque não se coadunam com o estágio atual de desenvolvimento de nossa sociedade, uma vez que ferem a dignidade humana e violentam profundamente o princípio da humanidade e do interesse social, não apontando para a recuperação do condenado.
No Brasil, em obediência ao preceito, o artigo 75 do Código Penal estabelece que o tempo máximo de cumprimento das penas privativas de liberdade é, igualmente, de 30 anos e que o condenado a várias penas, cuja soma superar aquele limite, não cumprirá senão os 30 anos, a não ser por fato posterior ao início da execução da pena, a teor dos parágrafos 1º e 2º do mesmo artigo.
1.8 Princípio do respeito ao preso (art. 5º XLIX e L da CF/88)
O princípio abrange não apenas os condenados, mas também todos aqueles que estiverem presos, seja a prisão civil ou penal, processual ou definitiva.
O homem, apesar de condenado ou apenas preso, não deixa de ser homem, e continua com todos os seus direitos, com exceção apenas dos incompatíveis com a perda da liberdade. De conseqüência, deve ser protegido, enquanto ser humano e cidadão.
O artigo 88 da LEP estabelece que: “O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à pessoa humana; b) área mínima de seis metros quadrados” Infelizmente, o artigo 92 do mesmo diploma legal, permite o alojamento do condenado em compartimento coletivo, que atenda aos requisitos da alínea “a” do artigo 88: “O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os requisitos da letra a do parágrafo único do artigo 88 desta lei. Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências coletivas: a) a seleção adequada dos presos; b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena”.
Infelizmente, como é de correntia sabença, a nossa realidade prisional é absolutamente distinta do preconizado na norma. 
1.9 Princípio da presunção da inocência (art. 5º LVII da CF/88)
Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.
Também chamado de princípio do estado de inocência ou da não-culpabilidade, tal princípio projeta-se principalmente no campo do direito processual penal – por, entre outras conseqüências, impor o ônus da prova legal da ocorrência do fato e da culpabilidade do acusado ao acusador e permitir ao réu o direito ao silêncio, sem que possa o julgador interpreta-lo em seu desfavor – mas tem também importante reflexo no Direito Penal: nenhuma norma penal poderá estabelecer a responsabilidade com base em fatos presumidos, porque ninguém pode ser punido por presunções, mas apenas por fatos reais.
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DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
1 Características da lei penal
A lei penal reveste-se de características genéricas e específicas.
Em se tratando de características genéricas, temos aquelas que dizem respeito a toda e qualquer norma jurídica, sendo elas:
Imperatividade – A lei penal é imperativa no sentido de que, na sua violação, sobrevêm as conseqüências necessárias da pena. A prática de um fato típico, descrito na norma, acarreta a imposição de uma pena. Assim, essa imposição gera a relação jurídica punitiva, formada, de um lado, pelo concreto direito estatal de punir e, de outro, pela sujeição do agente à imposição da pena, impondo-se a todos, independentemente de sua vontade ou concordância;
Exclusividade – Falar no atributo da exclusividade da lei penal significa dizer que somente ela é a fonte criadora do Direito punitivo. Só a lei define infrações e determina sanções. Do estudo amplo dos demais ramos do Direito, resta-nos inequívoca e inexoravelmente a certeza de que nenhuma outra lei desfruta desse poder, qual seja, o de definir infrações e cominar sanções.
Generalidade – A norma penal é geral porque se dirige a todos os que vivem no território nacional ou aos que por ele venham transitar. É dirigida a todos, ou seja, tem eficácia erga omnes, dirigindo-se inclusive aos inimputáveis;
Impessoalidade – projeta-se a fatos futuros, sem indicar a punição a pessoas determinadas, ou seja, não endereça o seu mandamento proibitivo a um indivíduo definido;
Em se tratando de características específicas, temos aquelas que dizem respeito exclusivamente à norma penal, sendo elas:
anterioridade - é preciso que ao tempo da ação ou da omissão, haja lei escrita, prevendo a conduta como infração e uma punição preestabelecida para quem a violar.
irretroatividade - ela só tem aplicação futura, isto é, para os fatos que vierem a ocorrer depois de sua vigência.
restritividade - não se admite outra fonte do direito penal que não seja a lei. 
2 Lei Penal e Norma Penal
 A primeira designa o enunciado legislativo, ou seja, o fato descrito e a pena a ele cominada. A segunda refere-se ao comando normativo implícito na lei, isto é, a norma de conduta imposta a todos.
2.1 Espécies de norma penal
Existem duas espécies de norma penal, as normas penais incriminadoras e as não incriminadoras.
2.1.1 Normas penais incriminadoras - são aquelas que definem as infrações e fixam as respectivas penas. Compõe-se do preceito primário – descrição da conduta proibida, e da sanção ou preceito secundário – quantidade e qualidade das penas aplicáveis.
Seu comando normativo pode ser proibitivo ou mandamental. Nos crimes comissivos, a lei penal descreve e pune uma ação esperando que todos se abstenham de praticá-la; trata-se de norma proibitiva (ou seja, a ação prevista em lei é proibida, sob ameaça de pena). Nos crimes omissivos, a lei penal descreve uma omissão (um não fazer), porque espera de todos, naquela determinada situação, um comportamento ativo; trata-se de uma norma mandamental (a lei penal manda agir, sob pena de, omitindo-se, receber uma pena).
2.1.2 Normas penais não incriminadoras: Não descrevem crimes, nem cominam penas, são conhecidas como lei penal em sentido lato e dividem-se em normas penais permissivas e complementares ou explicativas. 
Normas penais não incriminadoras permissivas:são as que prevêem a licitude ou a impunidade de determinados comportamentos, apesar de estes se enquadrarem na descrição típica, ou seja, tornam lícitas determinadas condutas tipificadas em leis incriminadoras. 
Normas penais não incriminadoras complementares ou explicativas: são as que esclarecem o significado de outras normas ou limitam o âmbito de sua aplicação. 
Doutrinadores ainda classificam as normas penais em:
gerais ou locais: segundo a extensão espacial de sua aplicação, sendo as últimas de exceção, determinadas por condições peculiares a certas regiões do Estado.
comuns ou especiais: segundo a divisão do Direito Penal em Comum e Especial.
completas ou incompletas: as primeiras são as que definem os crimes com todos os seus elementos; as segundas, denominadas normas penais em branco, são as de definição legal incompleta. 
3 Lei Penal em branco
3.1 Conceito
Trata-se de lei cujo preceito primário (conteúdo/descrição da conduta) é incompleto, embora o preceito secundário (cominação da pena/sanção) seja determinado. Tal lei tem de ser completada por outra, já existente ou futura, da mesma hierarquia ou de hierarquia inferior.
Trata-se, portanto, de uma norma cuja descrição da conduta está incompleta, necessitando de complementação por outra disposição legal ou regulamentar.
3.2 Classificação
As normas penais em branco classificam-se em:
3.2.1 normas penais em branco em sentido lato ou homogêneas: quando o complemento se encontra descrito numa fonte formal da mesma hierarquia da norma incriminadora, ou seja, quando o complemento também está previsto numa lei ordinária. O órgão encarregado de formular o complemento é o mesmo órgão elaborador da norma penal em branco. 
3.2.2 normas penais em branco em sentido stricto ou heterogêneas: quando o complemento está descrito em fonte formal distinta daquela do tipo penal incriminador. Ou seja, o complemento provém de fonte formal diversa; a lei é complementada por ato normativo infralegal, como uma portaria ou um decreto. 
4 Lei Penal Incompleta
Dá-se o nome de lei penal incompleta ao fenômeno inverso da lei penal em branco, ou seja, àquela lei determinada no preceito e indeterminada na sanção. 
A descrição da conduta típica encontra-se perfeita no preceito primário, ao passo que a sanção não consta da lei, que faz remissão a outra. 
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DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
1 Enunciado
O primeiro dispositivo do Código Penal estabelece que: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” – Nullum crimen, nulla poena sine lege praevia. 
Tal princípio tem base constitucional (art. 5º, inciso XXXIX), sendo, inclusive, cláusula pétrea, isto é, faz parte do núcleo imutável da Constituição, não podendo ser modificado nem por emenda constitucional.
1.1 Origem
O princípio da legalidade sempre esteve presente na legislação brasileira, desde a época do Império. Para a maioria dos doutrinadores pátrios, tal princípio teve origem na Charta Magna Libertatum, no Bill of Rights e na Déclaration dês Droits de l´Homme et du Citoyen.
1.2 Conteúdo
O artigo 1º do Código Penal e o artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal contêm, na verdade, dois princípios: o da reserva legal (não há crime ou pena sem lei) e o da anterioridade (tal lei deve ser anterior ao fato).
1.3 Aspectos do princípio da legalidade
O princípio da legalidade possui dois aspectos:
Aspecto político – constitui importantíssima garantia constitucional do ser humano, impedindo venha a lei punir condutas pretéritas lícitas. Não haveria liberdade ou segurança jurídica se o juiz pudesse apenar amanhã quem praticou fatos hoje permitidos; 
Aspecto jurídico – o princípio, sob esse enfoque, impõe às leis penais que fixem previamente a conduta censurável com uma sanção penal, estabelecendo o exato alcance das normas punitivas. Assim, a subsunção do fato concreto com a norma abstrata há de ser perfeita. (como o encaixe de uma chave na fechadura).
1.4 Desdobramentos do princípio da legalidade
O princípio em apreço desdobra-se nos seguintes enunciados:
nullum crimen, nulla poena sine lege praevia – (anterioridade): a lei penal deve ser necessariamente anterior à conduta. Só se projeta a fatos futuros, a não ser que se mostre benéfica ao acusado;
nullum crimen, nulla poena sine lege scripta – (reserva legal): só a lei no sentido formal pode fundamentar ou agravar a punibilidade, sendo vedado ao direito consuetudinário fazê-lo;
nullum crimen, nulla poena sine lege stricta – (proibição da analogia em normas penais incriminadoras): não é possível o emprego da analogia para agravar ou fundamentar a punibilidade (analogia in malam partem). Admite-se, contudo, analogia in bonam partem.
Nullum crimen, nulla poena sine lege certa – (taxatividade): a lei penal deve ser determinada em seu conteúdo. Não se permite a construção de tipos penais excessivamente genéricos. Uma lei penal incriminadora que punisse abstratamente uma conduta vaga e indeterminada provocaria insegurança jurídica e acabaria por aniquilar a garantia constitucional em apreço. O indivíduo não teria como saber o que é certo ou errado se a lei não fosse clara o suficiente. O juiz é quem decidiria, em última análise, o que é ou não crime, segundo critérios vagos e imprecisos.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
A precisão que se exige da lei penal está no descrever condutas específicas, sem que se vede, entretanto, a inclusão no conteúdo descritivo de expressões de amplo alcance que aumentem o campo da norma incriminadora. Desde que a parte nuclear do “tipo” não deixe margem a dúvidas, as expressões que a ele se acrescentam podem depender de interpretação para aplicar-se a normas, e nem por isso se desnatura o caráter incriminador desta. Daí a constitucionalidade dos tipos penais abertos.
1.5 Conteúdo material do princípio da legalidade
Não basta que formalmente se respeite o princípio da legalidade na descrição e punição de condutas típicas. É preciso, ainda, que o fato punido abstratamente pela norma penal represente de alguma forma, um risco à sociedade. 
O legislador, portanto, não possui ampla liberdade na escolha de quais ações ou omissões pode punir criminalmente. 
Segundo Fernando Capez, “O Estado não é uma entidade absoluta que impõe arbitrariamente regras abstratas aos cidadãos, como se fossem escravos”.
A incriminação de condutas socialmente inofensivas colide com um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, qual seja, a dignidade da pessoa humana.
A conclusão no sentido da existência de um conteúdo material no princípio da legalidade conduz à aceitação de vários princípios penais, dentre os quais o da adequação social, o da insignificância, o da alteridade e o da ofensividade.
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DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL
1 Retroatividade da lei penal
Diz o artigo 2º do Código Penal: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”.
O princípio da retroatividade benéfica, assim como o da legalidade, tem sustentação constitucional (art. 5º, inciso XL) e ostenta a condição de cláusula pétrea.
1.1 Vigência e revogação da lei penal
A lei penal, como todas as demais leis do ordenamento jurídico, entra em vigor na data nela indicada. Se não houver indicação na própria lei, aplica-se o disposto no artigo 1º, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil, que estabelece o prazo de 45 dias, após a publicação oficial para que a lei entre em vigor no Brasil.
O período compreendido entre a publicação oficial da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis.
Segundo o princípio do tempus regit actum, desde que a lei entra em vigor até que cesse sua vigência, rege ela todos os fatos abrangidos pela suadestinação.
Em regra, a lei permanecerá em vigor até que outra a modifique ou revogue, segundo o disposto no artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil, a não ser que ela se destine a vigência temporária.
A lei penal também não se aplica a fatos anteriores à sua vigência, conforme salientado, sendo, portanto, irretroativa.
A regra estampada no artigo 2º Parágrafo único, do Código Penal, entretanto, permite à lei penal retroagir, quando for para beneficiar o réu, postulado que se encontra garantido no artigo 5º XL, da Constituição Federal.
As leis processuais penais, independentemente de serem ou não gravosas, aplicam-se imediatamente aos processos em andamento, respeitados os atos processuais iniciados sob a égide da lei anterior (art. 2º do CPP).
As leis mistas, ou seja, aquelas com aspectos penais e processuais obedecem ao regime da retroatividade benéfica, respeitando, porém, a coisa julgada (justamente nesse particular diferem da lei penal em matéria de retroatividade). 
1.2 Conflito de leis penais no tempo
Como conciliar, pois, a vigência e a revogação sucessivas de leis penais no ordenamento jurídico, cada qual tratando do crime de forma diversa? Quando várias leis penais que tratam do mesmo assunto de modo distinto se sucedem no tempo, como deve o operador do Direito atuar?
Para a solução dessa questão, temos dois princípios que regem os conflitos de direito intertemporal:
O princípio da irretroatividade da lei mais severa – segundo o qual a lei penal mais severa nunca retroage para prejudicar o réu; e,
O princípio da retroatividade da lei mais benigna – segundo o qual a lei penal mais benigna sempre retroage para beneficiar o réu.
1.2.1 Hipóteses de conflito de leis penais no tempo
Existem quatro hipóteses de conflito de leis penais no tempo:
Abolitio criminis – Pode ocorrer que uma lei que define certo fato como crime venha a ser revogada por outra lei, em atenção ao desejo da sociedade de não mais punir aquele comportamento humano. Desaparece, assim, do ordenamento penal aquela figura de crime;
Novatio legis incriminadora – Ocorre sempre que nova lei incrimina fatos antes considerados lícitos, ou seja, o fato era lícito e passa a ser considerado crime; 
Novatio legis in pejus – Pode ocorrer que uma lei posterior venha a dar tratamento mais rigoroso a um crime, por exemplo, aumentando o grau máximo da pena cominada, ou criando uma circunstância agravante, eliminando uma atenuante, enfim, agravando, de qualquer modo, o infrator da norma penal;
Novatio legis in mellius – Pode ocorrer que uma lei posterior venha a dar tratamento mais brando a um crime, por exemplo, diminuindo o grau máximo da pena cominada, ou criando uma circunstância atenuante, eliminando uma agravante, enfim, beneficiando, de qualquer modo, o infrator da norma penal.
Com relação à aplicação da novatio legis in mellius após o trânsito em julgado da sentença condenatória, a competência é do juízo das execuções criminais, conforme dispõe a Súmula 611 do Supremo Tribunal Federal. (Súmula 611: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das Execuções a aplicação da lei mais benigna). Nesse sentido, também, o artigo 66, inciso I da lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal).
	Hipótese prática
	Significado
	Solução
	Abolitio criminis
	Lei posterior descriminaliza conduta, tornando-as atípicas.
	Retroatividade
	Novatio legis incriminadora
	Lei posterior incrimina fato que era lícito (cria um novo crime)
	Irretroatividade
	Novatio legis in pejus
	Lei posterior, mantendo a incriminação do fato, torna mais grave a situação do réu.
	Irretroatividade
	Novatio legis in mellius
	Lei posterior, sem suprimir a incriminação do fato, beneficia de algum modo o agente.
	Retroatividade
1.2.2 Conceito de lei posterior
É a última a entrar em vigor, independentemente da data de sua promulgação ou publicação.
1.2.3 Combinação de leis
Dá-se quando o intérprete, verificando que uma nova lei favorece o agente num aspecto e prejudica-o noutro, apenas a aplica no aspecto benéfico, mantendo, no mais, a regra branda oriunda de lei anterior. Em favor da combinação de leis argumenta-se que se o juiz pode aplicar o todo, nada impede que aplique somente parte da lei, sobretudo porquanto buscaria uma solução justa.
Os opositores dessa tese objetam que o magistrado estaria agindo como legislador, criando uma nova lei. O STF já admitiu combinação de leis em se tratando de crime de associação criminosa para fins de tráfico ilícito de entorpecentes, cujo preceito primário consta da lei de tóxicos, mas a pena é aquela do artigo 8º da lei 8.072/90 (lei dos crimes hediondos).
1.2.4 Conflito de leis penais no tempo e crimes permanente e continuado
Configuram crimes permanentes aqueles cujo momento consumativo se prolonga no tempo, por exemplo, o seqüestro. Fala-se em crime continuado, por outro lado, quando vários crimes são praticados em continuidade delitiva.
Se durante a permanência ou a continuidade delitiva entrar em vigor nova lei, ainda que mais gravosa, ela se aplica a todo o evento, vale dizer, ao crime permanente e a todos os delitos cometidos em continuidade delitiva. Nesse sentido, prevalece a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
1.3 Ultra-atividade
Denomina-se ultra-atividade a aplicação de uma lei, que tem eficácia, mesmo depois de cessada a sua vigência.
Ocorre quando a lei nova, que revoga a anterior, passa a reger o fato de forma mais severa. A lei nova é mais severa e não pode abranger fato praticado durante a vigência da anterior, mais benigna. Assim, a anterior, mais benigna, mesmo revogada, é aplicada ao caso, ocorrendo a ultra-atividade. 
Portanto, a lei mais benigna (lex mitior) prevalece sobre a mais severa, prolongando sua eficácia além do instante de sua revogação (ultra-atividade), ou retroagindo ao tempo em que não tinha vigência (retroatividade).
A ultra-atividade e a retroatividade são qualidades que a lei mais benigna possui, qualidades estas que são denominadas extra-atividade.
2 Eficácia das leis penais temporárias e excepcionais
Determina o artigo 3º do Código Penal: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”.
Excepcional é a lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra calamidades, etc. Vigem enquanto durar a situação de anormalidade.
Temporária é aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo, ou seja, possuem vigência previamente fixada pelo legislador. Este determina que a lei tenha vigência até certa data.
As leis penais excepcionais e temporárias, que também são conhecidas como leis auto-revogáveis, não derrogam o princípio da reserva legal, pois não se aplicam a fatos ocorridos antes de sua vigência.
São, porém, ultra-ativas, no sentido de continuarem a ser aplicadas aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo depois de sua auto-revogação. Assim, mesmo que o fato praticado sob a vigência de uma lei temporária ou excepcional, seja julgado após a auto-revogação destas, já sob a vigência de uma lei comum mais benéfica que tenha recobrado sua eficácia, esta não poderá retroagir, haja vista o mandamento expresso do artigo 3º do Código Penal.
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DO TEMPO E DO LUGAR DO CRIME
1 Tempo do crime
A questão referente ao tempo do crime (em que momento se considera praticado o delito) apresenta particular interesse quando depois de realizada a atividade executiva e antes de produzido o resultado, entra em vigor nova lei, alterando os dispositivos sobre a conduta punível.
Qual a lei a ser aplicada ao criminoso: a do tempo da atividade ou aquelaem vigor por ocasião da produção do resultado?
Para a solução desse problema, existem três teorias a respeito sobre o momento consumativo do crime:
Teoria da atividade: segundo a qual se considera praticado o delito no momento da ação (conduta comissiva) ou omissão (conduta omissiva), aplicando-se ao fato a lei em vigor nessa oportunidade;
Teoria do resultado: segundo a qual se considera praticado o delito, no momento da produção do resultado, aplicando-se ao fato a lei em vigor nessa oportunidade;
Teoria mista ou da ubiqüidade: segundo a qual, o tempo do crime é indiferentemente o momento da ação ou do resultado, aplicando-se qualquer uma das leis em vigor nessas oportunidades.
O nosso Código Penal adotou a TEORIA DA ATIVIDADE. Como conseqüência principal, a imputabilidade do agente deve ser aferida no momento em que o crime é praticado, pouco importando a data em que o resultado venha a ocorrer, nos termos do artigo 4º do CP que diz: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”.
1.1 A questão do crime continuado
O agente pratica dois fatos quando menor de 18 anos e um terceiro quando maior todos em continuidade delitiva. A solução apontada deve ser a de que aos dois primeiros crimes se aplicará o ECRIAD, e ao último o Código Penal.
1.2 Prazo prescricional
O dispositivo não se aplica ao prazo prescricional, que, por força de regra própria (CP, artigo 111, inciso I), começa a ser contado, de regra, no momento da consumação do crime (e não ao tempo da ação ou omissão).
2 Lugar do crime
A perfeita caracterização do lugar do crime é necessária para a correta aplicação do princípio da territorialidade.
Três teorias procuram solucionar o problema:
Teoria da atividade: segundo a qual o local do crime é aquele onde é praticada a conduta criminosa (ação ou omissão);
Teoria do resultado: segundo a qual o local do crime é aquele onde ocorre o resultado;
Teoria da ubiqüidade ou mista: segundo a qual o local do crime é aquele onde ocorreu tanto a conduta quanto o resultado, ou seja, qualquer etapa do iter criminis.
O CP definiu no artigo 6º o lugar do crime, adotando a teoria da ubiqüidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado tanto no lugar da conduta quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
A preocupação do legislador foi estabelecer quais crimes podem ser considerados como ocorridos no Brasil e, por via de conseqüência, a quais delitos se aplicam à lei penal brasileira.
A regra em estudo só terá relevância nos chamados crimes a distância ou de espaço máximo, que são aqueles cuja execução se inicia no território de um país e a consumação se dá ou deveria dar-se em outro. Como dizia Nelson Hungria, basta que o crime tenha “tocado” o território nacional para que nossa lei seja aplicável.
2.1 Foro competente
Em se tratando de determinação de competência territorial (foro competente), deve-se observar a regra do artigo 70 do CPP que considera competente o foro do local em que o crime se consumou (ou, no caso da tentativa, o do local em que se deu o último ato executório).
3 Territorialidade da lei penal
Dá-se o fenômeno da territorialidade quando a lei penal se aplica ao fato cometido dentro do território nacional. Conforme dispõe o artigo 5º, caput, do Código Penal, que diz: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”.
O artigo 5º do Código Penal trata-se do princípio da territorialidade temperada ou mitigada, em contraposição ao princípio da territorialidade absoluta.
3.1 Território
Por território, no sentido jurídico, deve-se compreender todo o espaço em que o Brasil exerce sua soberania, que abrange:
os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais;
os limites do mar territorial brasileiro (faixa que compreende o espaço de doze milhas contadas da faixa litorânea média – art. 1º, da lei 8.617/93);
todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional (princípio da absoluta soberania do país subjacente – artigo 11 do Código Brasileiro de Aeronáutica e artigo 2º, da lei 8.617/93).
Também em sentido jurídico, devem ser entendidos como território nacional:
os navios e aeronaves públicas: (navios de guerra, em serviço militar ou em serviço oficial – postos a serviço de chefes de Estado ou representante diplomático). Onde quer que se encontrem são considerados parte do território nacional;
os navios e aeronaves privadas: (os mercantes ou de propriedade privada) Em mar territorial estrangeiro, submetem-se à lei do país correspondente, quando em alto-mar, submetem-se à lei do país cuja bandeira ostentam; quando em mar territorial brasileiro, a lei brasileira é a aplicável;
Há crimes que, embora praticados dentro do território nacional, não se sujeitam à lei brasileira (em função de ressalvas previstas em tratados ou convenções internacionais). Isso se dá nos casos de imunidade diplomática. De notar que a embaixada de um país no Brasil não é considerada território estrangeiro, de modo que, se um crime ali for praticado, a ele será aplicável a nossa lei, a não ser que ocorra um caso de imunidade diplomática.
3.2 Extraterritorialidade da lei penal
Extraterritorialidade é o fenômeno pelo qual a lei penal brasileira se aplica a fatos ocorridos fora do território nacional. Subdivide-se em extraterritorialidade condicionada e incondicionada. Nesta, a lei brasileira aplicar-se-á ao crime praticado no exterior, independentemente do preenchimento de qualquer requisito ou condição. Naquela, o fenômeno depende da conjugação de uma série de fatores.
Fala-se em extraterritorialidade incondicionada nas seguintes hipóteses:
crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
crime contra o patrimônio ou contra a fé pública da União, Distrito Federal, Estados, Municípios ou Territórios, ou suas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista ou fundações instituídas pelo Poder Público;
crime contra a administração pública brasileira por quem está a seu serviço;
crime de genocídio, se o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
Fala-se em extraterritorialidade condicionada nas seguintes hipóteses:
crimes previstos em tratado ou convenção internacional que o Brasil se obrigou a reprimir;
crimes praticados por estrangeiro, contra brasileiro, fora do nosso território (se não foi pedida ou se foi negada a extradição e se houve requisição do Ministro da Justiça);
crimes praticados por brasileiro;
crimes praticados a bordo de navio ou aeronave brasileiros privados, quando praticados no exterior e ali não forem julgados.
A doutrina costuma apontar uma série de princípios que inspiraram o legislador a eleger os casos em que a lei de um país deve ser aplicada a fatos que se deram no estrangeiro:
Princípio da justiça penal universal ou princípio da justiça cosmopolita: segundo o qual o agente deve ser punido onde se encontre, segundo a lei do país onde esteja, independentemente de sua nacionalidade, do local ou da nacionalidade do bem jurídico lesado. Foi adotado nas letras “d” da extraterritorialidade incondicionada e “a” da condicionada;
Princípio real, da proteção ou da defesa: segundo o qual justifica a aplicação da lei penal brasileira sempre que no exterior se der a ofensa a um bem jurídico nacional de origem pública. Foi adotado nas letras “a”, “b” e “c” da extraterritorialidade incondicionada;
Princípio da personalidade ou nacionalidade ativa: como cada país tem interesse em punir seus nacionais, a lei penal de um país é aplicável ao seu cidadão, independentemente de onde o crime tenha sido praticado. Foi adotado na letra “c” da extraterritorialidade condicionada;
Princípio da personalidade ou nacionalidade passiva: se a vítima for brasileira, nosso país terá interesse em punir o autor do crime. Foi adotado na letra “b” da extraterritorialidadecondicionada;
Princípio da representação ou da bandeira: segundo o qual o crime praticado no estrangeiro deve ser punido por determinado país, quando cometido em embarcações e aeronaves privadas de sua nacionalidade, desde que não tenha sido punido no país onde se encontrava. Foi adotado na letra “d” da extraterritorialidade condicionada.
3.2.1 Condições aplicáveis aos casos de extraterritorialidade condicionada
São as seguintes:
a entrada do agente no território nacional (condição de procedibilidade);
ser o fato punível também no país em que cometido;
estar o crime dentre aqueles a que a lei brasileira admite a extradição;
não ter sido o agente absolvido ou não ter cumprido pena no estrangeiro;
não ter sido perdoado e não se tiver extinguido sua punibilidade, segundo a lei mais favorável.
3.2.2 Princípio do “non bis in idem”
Nas hipóteses de extraterritorialidade incondicionada é possível, em tese, que o agente responda por dois processos pelo mesmo fato, um no exterior, outro no Brasil, sobrevindo duas condenações. Se isso ocorrer, aplica-se o artigo 8º, que se funda no princípio do non bis in idem (o qual proíbe seja alguém condenado duas vezes pelo mesmo fato). Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro:
atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas; ou,
nela é computada, quando idênticas.
4 Eficácia da lei penal em relação a determinadas pessoas
O artigo 5º, do Código Penal, ao adotar o princípio da territorialidade, ressalvou as convenções, tratados e regras de direito internacional.
Nesse aspecto, temos as imunidades diplomáticas e as imunidades parlamentares.
As imunidades diplomáticas têm fundamento na Convenção de Viena, de 18 de abril de 1961, aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 103 de 1964, ratificada em 23 de fevereiro de 1965.
Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros (diplomatas, embaixadores, núncios e ministros plenipotenciários), estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções. Trata-se de imunidade absoluta, ou seja, aplica-se a qualquer delito. Entende-se: 
por diplomata – o representante de um Estado junto a outro;
por embaixador – a mais alta categoria de representante diplomático de um Estado junto a outro Estado u de organismo internacional;
por núncio – mensageiro ou embaixador da Santa Sé junto a um governo;
por plenipotenciário – com plenos poderes. 
A imunidade diplomática não é um privilégio à pessoa física do representante estrangeiro, mas de acatamento à soberania da nação que ele representa, convindo lembrar que as imunidades estendem-se aos membros da família do representante estrangeiro, que vivam em sua companhia, e a todo o pessoal efetivamente oficial da respectiva missão. Os cônsules não gozam de tais imunidades, visto que estes exercem funções meramente administrativas.
Hoje, não mais perdura a ficção de que a sede da embaixada é considerada parte do território do país do sujeito ativo do delito. Neste sentido, Magalhães Noronha afirma que: “sua inviolabilidade decorre da imunidade do representante. Conseqüentemente, um crime praticado aí, por pessoa que não goze de imunidade, fica sujeito à lei do país onde aquela sede se situa.”
Não há ofensa ao princípio da isonomia porque o privilégio é concedido em razão do exercício da função, pública ou internacional, e não da pessoa.
Assim, os representantes diplomáticos de governos estrangeiros gozam de imunidade penal, não lhes sendo aplicável a lei brasileira em relação às infrações penais cometidas no Brasil.
As imunidades parlamentares vêm reguladas pelo artigo 53 da CF, e podem ser:
Imunidades parlamentares absolutas: previstas, nos artigo 53, caput, da CF, que são inerentes ao mandato e irrenunciáveis e referem-se aos delitos de opinião; entende-se por crime de opinião os delitos contra a honra: (calúnia, difamação e injúria) de incitação ao crime (art. 286 do CP), de apologia de crime ou criminoso (art. 287 do CP).
Imunidades parlamentares relativas: previstas no artigo 53, § 1º, da CF, que se referem aos demais delitos.
Também aos deputados estaduais as imunidades parlamentares são automaticamente deferidas por força do disposto no artigo 27, § 1º, da CF.
Com relação aos vereadores, está garantida a inviolabilidade “por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município”, conforme o disposto no artigo 29, VIII, da CF.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Inviolabilidade do advogado: O art. 133 da CF/88 estatui que “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.
A lei 8.906/94 Estatuto da OAB dispõe que: “o advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele”.
4.1 Extradição
É o instrumento jurídico pelo qual um Estado soberano envia uma pessoa que se encontra em seu território a outro Estado soberano, a fim de que, neste, seja julgada ou receba a imposição de uma pena já aplicada.
4.2 Princípio da não-extradição de nacionais
Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes (artigo 5º, inciso LI, da CF).
4.3 Princípio da exclusão de crimes não comuns
Estrangeiro não poderá ser extraditado por crime político ou de opinião (artigo 5º, inciso LII da CF).
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DISPOSIÇÕES GERAIS
1 Eficácia da sentença estrangeira
O artigo 9º do Código Penal estabelece as hipóteses em que a sentença penal estrangeira precisa ser homologada (pelo STJ, nos termos do artigo 105, inciso I, alínea “i”, da Constituição Federal) para que produza efeitos no Brasil.
A execução de pena é ato de soberania de um país, razão pela qual, no Brasil, somente pode ser admitida a sentença estrangeira:
para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis, desde que haja requerimento do interessado e que nossa lei preveja os mesmos efeitos na situação abordada pela sentença estrangeira;
para sujeitar o condenado a medida de segurança, desde que, nesse caso, a lei brasileira preveja os mesmos efeitos para a hipótese tratada e exista tratado de extradição com o país de origem ou requisição do Ministro da Justiça.
A sentença estrangeira não depende de homologação para produzir reincidência, impedir a obtenção de sursis ou para aumentar o período para concessão de livramento condicional.
Em suma: 
gerar reincidência – homologação desnecessária;
obrigação de reparar o dano e sujeição no Brasil à medida de segurança aplicada no exterior – homologação necessária.
2 Contagem de prazos penais
O início do prazo denomina-se dies a quo ou termo inicial. Seu término denomina-se dies ad quem ou termo final. Em se tratando de prazo penais (tempo de pena, prazo prescricional, decadencial, etc.), vigora a seguinte regra: inclui-se na contagem o termo inicial, excluindo-se o termo final. 
Além disso, os dias, meses e anos se contam pelo calendário comum, segundo o disposto no artigo 10 do Código Penal. Não interessa a que horas do dia o prazo começou a correr, conta-se o dia todo pra efeito de contagem de prazo. Assim, se a pena começou a ser cumprida às 23:50 horas, os 10 minutos são contados como um dia inteiro. Do mesmo modo, não importa se o prazo começou em domingo ou feriado, computando-se um ou outro como primeiro dia.
Já os prazos processuais são contados sem a inclusão do dia do começo, segundo o teor do artigo 798, § 1º, do Código de Processo Penal. E, se o dia do começo for domingo ou feriado, o primeiro dia do prazo será o dia útil imediatamente subseqüente.
OBSERVAÇÃO 1:
Na contagem de mês e ano, são contados como períodos que compreendem um número determinado de dias, pouco importando quantos sejam osdias de cada mês, sendo irrelevante se o ano é bissexto ou se tem 365 dias.
Ex.: 6 meses a partir de 05 de abril, terminará em 04 de outubro, não importando se o mês tem 30 ou 31 dias.
Ex.: 5 anos depois de janeiro de 2000 será janeiro de 2005.
OBSERVAÇÃO 2:
Prazos fatais e improrrogáveis. Os prazos de natureza penal são fatais e improrrogáveis, mesmo que terminem em domingos e feriados.
QUESTÃO: O agente começa a cumprir pena às 19:27 horas do dia 05/ago/90. Tem 06 (seis) anos, 09 (nove) meses e 23 (vinte e três) dias de pena a cumprir. Calcular a data do término.
1º passo: dividir em colunas o dia o mês e o ano.
	Dia
	Mês
	ano
	05
	Ago
	90
2º passo: Adicionar o quantum a ser cumprido = 1.990 + 6 anos = 1.996
	Dia
	Mês
	ano
	05
	Ago
	96
3º passo: depois de somar o nº de anos, somar os meses = ago/96 + 9 meses = mai/97
	Dia
	Mês
	ano
	05
	Mai
	97
4º passo: somar os dias = 05 + 23 = 28
	Dia
	mês
	ano
	28
	mai
	97
Dessa forma, a pena de 6 anos, 9 meses e 23 dias, cujo cumprimento começou em 5/ago/90, pela soma deve terminar em 28/mai/97, mas pela regra, deve-se ainda subtrair o dia do final, desse modo a pena terminará em 27/mai/97.
3 Frações não computáveis da pena
O artigo 11 do Código Penal estabelece duas regras básicas referentes às frações de pena que derivam da atividade julgadora.
De acordo com a primeira regra, nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devem ser desprezadas as frações de dia, ou seja, não devem ser computadas as horas.
Nos termos da segunda regra, na pena de multa devem ser desprezadas as frações de cruzeiro (moeda da época), ou seja, não devem ser computados os centavos. Essa regra aplica-se até os dias atuais, mesmo com as modificações da moeda.
4 Princípio da especialidade
Existem outras infrações penais descritas em leis extravagantes, as quais integram a chamada legislação penal especial. 
O princípio da especialidade dispõe que as regras gerais do Código Penal se aplicam à legislação especial, salvo se esta dispuser de modo contrário, segundo o brocardo – lex especialis derrogat lex generalis.
São exemplos de aplicação do artigo 12 do Código Penal:
Súmula 171 do STJ: estipula que a multa vicariante do Código Penal (artigo 44, § 2º) não se aplica à legislação especial com regras próprias sobre pena de multa, afastando, portanto, de sua incidência os crimes definidos na lei de tóxicos;
Artigo 44 do Código Penal e lei 8.072/90: o STF e o STJ definiram não ser cabível a substituição de pena privativa de liberdade por penas alternativas nos crimes hediondos e assemelhados, por conta da regra especial determinando o cumprimento da pena em regime integralmente fechado.
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DO CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS
Introdução
Um mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais, sob pena de afronta ao princípio do non bis in idem (ou ne bis in idem). Portanto, se aparentemente ocorrer a incidência de mais de um tipo penal a um mesmo fato, caberá ao intérprete, socorrendo-se dos princípios da especialidade, subsidiariedade, consunção ou alternatividade, resolver o conflito, apontando o correto enquadramento jurídico.
Muito embora não exista dispositivo legal tratando do tema ou consenso doutrinário acerca do assunto (salvo no tocante ao princípio da especialidade), admitem-se comumente os princípios acima apontados.
O conflito aparente de normas é o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas tal conflito é aparente porque, efetivamente, somente uma delas acaba sendo aplicada à hipótese.
Importante acentuar que só haverá conflito aparente de normas se houver um só fato ao qual aparentemente se apliquem várias normas penais incriminadoras (todas vigentes). Na hipótess de serem vários os fatos, ter-se-á concurso de crimes.
1 PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE – Lex specialis derogat lex generalis
Dá-se quando existir, entre as duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo fato, uma relação de gênero e espécie. Será especial e portanto prevalecerá, a norma que contiver todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns, de natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes, que trazem um minus ou um plus de severidade.
Toda ação que realiza o tipo do delito especial realiza também necessariamente, e ao mesmo tempo, o tipo do geral, enquanto que o inverso não é verdadeiro.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:
Na relação de especialidade é indiferente se a norma especial é mais ou menos grave. 
2 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – Lex primaria derogat legi subsidiariae
A existência da relação de subsidiariedade pressupõe que haja entre as normas aparentemente aplicáveis uma relação de conteúdo a continente. Há uma norma mais ampla (norma primária), porque descreve um grau maior de violação ao bem jurídico, e uma norma menos ampla (norma subsidiária ou famulativa), pois descreve um grau inferior de violação a esse mesmo bem.
A norma subsidiária atua como “soldado de reserva”, pois, se a primária não tiver aplicação por algum motivo, aplica-se a subsidiária. Em suma, subsidiária é a norma que descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito autônomo, encontra-se também compreendido em outro tipo como fase normal de execução de crime mais grave. 
A norma aplicável será sempre a que previr o maior grau de violação (lei primária). 
A subsidiariedade pode ser implícita ou explícita, dependendo do tipo.
2.1 Espécies de subsidiariedade:
Expressa ou explícita: a própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. (a norma expressamente se autoproclama “soldado de reserva”). 
Tácita ou implícita: verifica-se quando o crime definido por uma norma é elemento ou circunstância legal de outro crime. As elementares de uma norma penal estão contidas em outra, seja como elementares, seja como circunstâncias. 
O SUBSIDIÁRIO É MENOR QUE O PRINCIPAL
3 PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – Lex consumens derogat legi consumptae
Consunção é o princípio segundo o qual um fato mais amplo e mais grave consome, isto é, ABSORVE OUTROS FATOS MENOS AMPLOS E GRAVES, QUE FUNCIONAM COMO FASE NORMAL DE PREPARAÇÃO OU EXECUÇÃO OU COMO MERO EXAURIMENTO. Em suma, o crime previsto pela norma consuntiva representa a etapa mais avançada na efetuação do malefício, e em assim sendo o crime maior absorve o menor.
Segundo Jimenez de Asúa, citado por Damásio de Jesus, a consunção se dá:
quando as disposições se relacionam de imperfeição a perfeição (atos preparatórios puníveis, tentativa para consumação);
de auxílio a conduta direta (partícipe para autor);
de minus a plus (crimes progressivos);
de meio a fim (crimes complexos);
de parte a todo (progressão criminosa), antefactum e postfactum impuníveis;
3.1 Hipóteses em que se verifica a consunção:
3.1.1 Crime progressivo: ocorre quando o agente, objetivando, desde o início, produzir o resultado mais grave, pratica, por meio de atos sucessivos, crescentes violações ao bem jurídico. Há uma única conduta comandada por uma só vontade, mas compreendida por diversos atos. O último ato, causador do resultado inicialmente pretendido, absorve todos os anteriores, que acarretaram violações em menor grau. 
Elementos:
unidade de elemento subjetivo (há uma única vontade)
unidade de fato (há um só crime, comandado por uma só vontade)
pluralidade de atos (se houvesse um único ato, não haveria que falar em absorção)
progressividade na lesão ao bem jurídico (os atos violam de forma cada vez mais intensa o bem jurídico, ficando os anteriores absorvidos pelo mais grave)
3.1.2 Crime complexo: é o que resulta da fusão de dois ou mais crimes autônomos, que passam a funcionar como elementares

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