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HELOISA HELENA APARECIDA CHAVES DUARTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O OLHAR FILOSÓFICO DE PAULO FREIRE SOBRE A 
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LONDRINA 
2012 
HELOISA HELENA APARECIDA CHAVES DUARTE 
 
 
 
 
 
 
 
 O OLHAR FILOSÓFICO DE PAULO FREIRE SOBRE A 
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Departamento de Educação da Universidade 
Estadual de Londrina. 
 
Orientador: Profª. Drª. Rosa de Lourdes Aguilar 
Verastegui. 
 
 
 
 
 
 
 
LONDRINA 
2012 
HELOISA HELENA APARECIDA CHAVES DUARTE 
 
 
 
 O OLHAR FILOSÓFICO DE PAULO FREIRE SOBRE A 
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao Departamento de Educação da Universidade 
Estadual de Londrina. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
____________________________________ 
Profª. Drª. Rosa de Lourdes Aguilar Verastegui 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
____________________________________ 
Prof. Ms. Gilmar Aparecido Altran 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
____________________________________ 
 Profª. Drª. Leoni Maria Padilha Henning 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
Londrina, ___ de____________ de 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Especialmente... 
 
Ao meu esposo, 
Ananias Lopes Bezerra 
 
Às minhas filhas, 
Vanessa Helena Duarte Bezerra e 
Isabelly Duarte Bezerra 
 
Ao meu pai, 
Benjamim Souza Duarte 
 
À minha mãe, 
Ivani Nascimento Duarte 
 
À minha sogra, 
Neuza de Almeida Bezerra 
 
Os quais amo profundamente e sempre 
estiveram ao meu lado diante de tantas 
dificuldades e desafios. 
 
Aos demais familiares e amigos que, de 
alguma forma, contribuíram para minha 
formação. 
 
Aos professores que direta ou 
indiretamente foram instrumentos de 
inspiração para minha vida e que 
contribuíram para meu desenvolvimento 
intelectual e profissional.
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus, autor e consumador da minha vida e fé, à minha 
orientadora Rosa de Lourdes Aguilar Verástegui, não só pela constante orientação 
neste trabalho, mas sobretudo por sua amizade, carinho e confiança. 
Ao professor Gilmar Aparecido Altran, por ter me inserido no mundo 
possível dos sonhos, da compreensão do educador/educando e de como podemos ser 
humanos em uma sociedade tão desumana. 
A minhas amigas da Universidade, em especial Andreza dos Anjos de 
Pádua Monteiro e Priscila Vanessa Piccinin que em muitos momentos foram capazes 
de me animar e incentivar para prosseguir no caminho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A educação não transforma o mundo. 
Educação muda pessoas. 
Pessoas transformam o mundo." 
 
(PAULO FREIRE) 
DUARTE, H.H.A.C. O Olhar Filosófico de Paulo Freire sobre Alfabetização de 
Jovens e Adultos, 2012. 47 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Pedagogia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012. 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem como objetivo apresentar o olhar filosófico de Paulo Freire sobre 
alfabetização de jovens e adultos. Abordaremos alguns temas importantes na 
construção desse processo, a partir dos contextos que envolviam cada pessoa e 
principalmente em uma sociedade com grandes desigualdades sociais.Freire tinha 
como objetivo socializar também os diferentes conhecimentos e, para alcançar 
resultados positivos, se utilizou de um novo conceito pedagógico estabelecido de 
diferentes maneiras,possíveis também de se realizar nos diferentes contextos de 
nossos dias.O diálogo era o principal instrumento para despertar a consciência dos 
sujeitos envolvidos no processo de alfabetização. A preocupação de Freire era a 
construção de uma escola democrática que oportunizava aos participantes obter uma 
consciência crítica, capaz de despertar cada educando envolvido para as tomadas de 
decisões,preocupação também de educadores no século XXI.Neste processo, a 
educação deve sempre ser humanizadora, capaz de compreender os diferentes 
contextos sociais e suas culturas.Havia também, a importância e o valor da alegria e 
esperança diante das dificuldades apresentadas na vida dos educandos que, em sua 
maioria, eram marginalizados, excluidos e sempre submetidos à sociedade 
dominadora. A Alfabetização, para Freire, não se consistia apenas em ensinar a ler e a 
escrever, mas tinha um significado maior de ampliar seu mundo por meio do 
conhecimento e de sua participação social no contexto em que está inserido.Para 
alcançar esse objetivo,o educador na pessoa de Paulo Freire se utiliza do “círculo de 
cultura”, que constitui o universo cultural de cada sujeito. Aquilo que cada indivíduo 
sabe por meio de suas experiências na sociedade e por meio de seus conhecimentos 
culturais. A intencionalidade de Freire era dar condições para cada educando 
ressignificar seu mundo, tranformando suas histórias sem temer a liberdade, pois a 
conscientização lhes proporcionariam, por meio das tomadas de decisões, um novo 
âmbito social, sem oprimir e submeter seus iguais.Para Freire, a educação é um direito 
fundamental, na qual o educador tem como ação principal assegurar os direitos de seus 
educandos, possibilitando-os irem em direção de seus outros direitos. 
 
Palavras-chave: Alfabetização. Educação. Praxis. Consciência. Político. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08 
 
1 EDUCAÇÃO, EXISTÊNCIA E ESPERANÇA ................................................... 10 
1.1 ALFABETIZAÇÃO E LIBERDADE .............................................................................. 15 
 
2 A EXPERIÊNCIA DA ALFABETIZAÇÃO......................................................... 20 
2.1 COMO EDUCAR, COMO ALFABETIZAR? .................................................................. 22 
 
3 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS............................................................. 28 
3.1 DIREITO DA EDUCAÇÃO PARA OS ADULTOS ............................................................ 31 
3.2 O SIGNIFICADO POLÍTICO DA ALFABETIZAÇÃO ........................................................ 34 
3.3 A IMPORTÂNCIA DAS BIBLIOTECAS POPULARES ...................................................... 42 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 45 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Os resultados obtidos neste trabalho surgiram a partir da realização de 
pesquisas bibliográficas sobre os conceitos como conscientização, democracia, 
liberdade, direitos humanos e outros sobre o pensamento de Paulo Freire. 
Pensamentos esses que tive oportunidade de conhecer por meio de minha participação 
no projeto de pesquisa e ensino sobre o pensamento freireano1. 
Surgindo, assim, um maior interesse pelos conceitos de educação e 
alfabetização desenvolvidos por Freire. Pelas razões anteriormente apresentadas, a 
presente pesquisa tem como objetivo principal apresentar a alfabetização de jovens e 
adultos e seus principais significados filosófico políticos. Esta pesquisa observa a 
alfabetização de jovens e adultos e analisa sua importância no processo de 
transformadora social. Também observamos que a alfabetização estáligada à 
integração social, à construção da democracia e à reconstrução da dignidade humana. 
Este trabalho, para mim, constitui um passo a frente no meu 
compromisso com a educação. Além de ser uma porta de entrada para a realização de 
outras pesquisas que me permitam avançar na vida acadêmica. Acredito também que 
ele poderá servir a outros envolvidos no processo de alfabetização, unindo reflexões e 
esforços para fazer da alfabetização uma prática com compromisso social. 
O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos. Inicialmente, 
vemos no capítulo um “A educação, a existência e a esperança”, A educação permite 
valorizar a existência humana devendo dar esperança ao ser humano e á sociedade. 
Para isso procuramos entender a importância da alfabetização e da liberdade. 
No segundo capítulo abordaremos “a experiência da alfabetização”, 
seja ela desde a infância ou até mesmo quando adulto. Veremos que a educação e a 
alfabetização podem converter os homens em sujeitos de direitos. Essa educação tem 
 
1
 Projeto de Pesquisa em Ensino sobre o pensamento freireano ocorrido entre os anos de 2009 e 2011, 
coordenado pelo Prof. Ms. Gilmar Aparecido Altran. 
9 
 
que romper com a denominada educação bancária, por meio do processo de 
desalienação. 
No capítulo três, tratamos “a educação como direito humano”, 
observamos os desafios que assumem os educadores. Abordamos o direito da 
educação para os adultos, o significado político da alfabetização porque a educação 
permite o compromisso e a autonomia. E, para finalizar, tratamos da importância das 
bibliotecas populares e no processo de educação e crescimento. 
Além do grande desafio que significou realizar a pesquisa ela me 
comprometeu com minha futura prática pedagógica. Agora vejo com novo olhar os 
desafios que me esperam, acredito, com a esperança de Freire, no futuro do país e vejo 
na educação uma aliada fundamental para o desenvolvimento da humanidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
1 EDUCAÇÃO, EXISTÊNCIA E ESPERANÇA 
 
 
Paulo Freire ressalta a importância da dignidade ligada à existência 
humana, acreditamos que esse pode ser o ponto de partida para nossa reflexão sobre o 
significado filosófico da alfabetização que está ligado a ética e ao sonho coletivo. 
 
A existência humana é que permite, portanto, denúncia e anúncio, 
indignação e amor, conflito e consenso, diálogo ou sua negação com a 
verticalidade de poder. Grandeza ética se antagonizando com as 
mazelas antiéticas. É exatamente a partir dessas contradições que 
nascem os sonhos coletivamente sonhados, que temos as 
possibilidades de superação das condições de vida a que estamos 
submetidos como simples objetos para tornar-nos todos e todas seres 
mais (FREIRE, 2001, p.14). 
 
A conscientização permite a possibilidade de escolher e decidir por si 
mesmo, assim como lutar pelos sonhos para que se tornem realidade. Aquele que 
antes era excluído, marginalizado, pode converter-se num sujeito de direitos, podendo 
sentir-se gente e não coisa. 
 Assim comenta Ana Lúcia Souza de Freitas sobre Freire como 
testemunha de novas possibilidades 
 
Paulo Freire é testemunho dessa possibilidade ao exercer uma prática 
fundada na necessária abertura ao outro: prática em que o diálogo se 
faz exigência epistemológica para uma vivência socialmente 
comprometida, cuja reflexão coletivamente partilhada faz se geradora de 
múltiplas autorias (FREIRE, 2001, p. 27). 
 
É importante uma prática educativa com diálogo e reflexão. Assim, o 
ser humano poderá refletir e compartilhar sua reflexão. A relação no diálogo possibilita 
o crescimento e o enriquecimento por meio da participação de diferentes 
conhecimentos, levando sempre em consideração o saber do outro. Porque se 
11 
 
queremos melhorar o mundo temos que transformá–lo, não unicamente adaptar-nos a 
ele 
 
Em minha visão “SER” no mundo significa transformar e re-transformar o 
mundo, e não adaptar-se a ele. Como ser humano, não resta dúvida de 
que nossas principais responsabilidades consistem em intervir na 
realidade e manter nossa esperança (FREIRE, 2001, p. 37). 
 
 A educação é o instrumento principal para tornar os indivíduos em 
seres humanos políticos, com senso crítico. Para Paulo Freire o diálogo permite que 
cada qual com seu conhecimento e visão de mundo realize transformações nos eventos 
sociais. “[...] estou interessado em explorar possibilidades que tornem claro que estar 
nas ruas não é um evento natural, mas sim um evento social, histórico, político, 
econômico [...]” (FREIRE, 2001. p. 37). A comunicação é fundamental para a 
transformação do mundo e da realidade histórica. E o mundo e a leitura que fazemos 
dele é o ponto de partida para as transformações 
 
Mas para mim, desde o inicio, nunca foi possível separar a leitura das 
palavras da leitura do mundo. Segundo, também não era possível 
separar a leitura do mundo da escrita do mundo. Ou seja, linguagem 
(FREIRE, 2001, p. 56). 
 
 O mundo está cheio de significados que precisam ser 
compreendidos como as transformações que ocorrem na natureza, nas sociedades, as 
guerras as revoltas e principalmente as transformações que ocorrem sobre a terra, 
logos. E alfabetizar será compreender o significado da leitura do mundo. Não se pode 
integrar ao mundo aquele que não entende seus símbolos, códigos e palavras. E para 
integrar as pessoas ao mundo, elas precisam ser ouvidas: 
 
É preciso saber ouvir, ou seja, saber como ouvir uma criança negra com 
a linguagem específica dele ou dela, com a sintaxe específica dele ou 
dela, saber como ouvir o camponês negro analfabeto, saber como ouvir 
12 
 
um aluno rico, saber como ouvir os assim chamados representantes de 
minorias que são basicamente oprimidas (FREIRE, 2001, p. 58). 
 
Paulo Freire via a importância de se conversar com as diversas 
culturas, pois o diálogo implica passar por diversos saberes de maneira democrática e 
respeitosa, para que o educador aprenda novas culturas e o educando também. Assim, 
ambos ampliam suas vivências e se educam juntos. 
Mesmo tendo passado em sua vida por muitas dificuldades e 
sofrimentos, Freire sabia valorizar a conversa, a cultura a presença do outro em sua 
práxis. Buscava, por meio de sua alegria, transmitir esperança diante da fome do não 
saber ler e escrever e de tantas dificuldades que ele mesmo percebia que cada 
educando, que dele se aproximava, expressava. Freire fazia questão de expressar a 
presença de sua alegria e esperança e de dias melhores, de uma educação 
humanizada e da esperança que renovava suas forças e as transmitia aos seus 
educandos: 
 
O meu envolvimento com a prática educativa, sabidamente política, 
moral, gnosiológica, jamais deixou de ser feito com alegria, o que não 
significa dizer que não tenha invariavelmente podido criá-la nos 
educandos. Mas preocupado com ela, enquanto clima ou atmosfera do 
espaço pedagógico, nunca deixei de estar (FREIRE, 1996, p. 43). 
 
A esperança e alegria faziam-se necessárias para que houvesse 
perseverança, cada pessoa deveria ter certa teimosia para conseguir alcançar seu 
objetivo. Além do dia a dia de cada pessoa, exigia-se “teimosia” (FREIRE, 1996, p.44) 
para aprender, exatamente porque na maioria dos casos os alunos ali presentes 
vinham de seus trabalhos já cansados, esgotados, desejando somente um jantar e uma 
cama para repousar do dia difícil que tiveram, mas o desejo de aprender, de obter 
compreensão para a transformação era maior. O desafio do educador é transmitir essa 
paixão pelo aprender para que ela se transforme maior que seu cansaço, maior que 
suasdores e seus temores, para isso, o educador também deveria exercer sua teimosia 
13 
 
e demonstrar que seus alunos de fato são capazes. 
Por meio da curiosidade de cada vez mais aprender, Freire em seu 
relato da caminhada com seu amigo, o educador Danilson Pinto, diz estar com sua 
alma aberta ao mundo e, consequentemente, ao aprendizado, pois mesmo diante de 
tantos sofrimentos e pobreza visualizados por eles, ainda era possível aprender 
 
Caminhávamos, Danilson Pinto e eu, com alma aberta ao mundo, 
curiosos, receptivos, pelas trilhas de uma favela onde cedo se aprende 
que só a custo de muita teimosia se consegue tecer a vida com sua 
quase ausência ou negação, com carência, com ameaça, com 
desespero, com ofensa e dor (FREIRE, 1996, p. 44). 
 
Mesmo na adversidade e diante do desespero, Freire via esperança 
para pessoas excluídas e marginalizadas. Encontrar uma saída era algo novo em sua 
experiência de vida e a sensibilidade desse autor permite que a educação seja uma 
alternativa para esta condição 
 
Enquanto andávamos pelas ruas daquele mundo maltratado e ofendido 
eu ia me lembrando de experiências de minha juventude em outras 
favelas de Olinda ou do Recife, dos meus diálogos com favelados e 
favelados de alma rasgada. Tropeçando na dor humana, nós nos 
perguntávamos em torno de um sem número de problemas. Que fazer, 
enquanto educadores, trabalhando num contexto assim? Há mesmo o 
que fazer? Como fazer o que fazer? (FREIRE, 1996, p. 44). 
 
Diante da injustiça social e miséria, o discurso político nos acostumou a 
escutar reivindicações unicamente econômicas e governamentais, mas o aguçado olhar 
político e social de Paulo Freire assinala um desafio para a educação. A mudança é 
possível, o conhecimento traz consigo novas possibilidades de mudanças, nem sempre 
cem por cento, mas uma forma satisfatória para aquele que se apossa dele. Isso, como 
anteriormente Freire afirmou, por meio da teimosia de se apossar do conhecimento, 
mesmo quando inclusos em uma sociedade excludente, preconceituosa, elitizada, na 
qual o que pode mais chora menos, ou pelo menos não presencia seus filhos chorarem 
14 
 
por um copo de leite. As pessoas referenciadas por Freire precisam intervir em sua 
própria realidade 
Realidades marcadas pela traição a nosso direito de ser, pretende que 
sua presença se vá tornando convivência, que seu estar no contexto vá 
virando estar com ele, é o saber do futuro como problema não como 
inexorabilidade. É o saber da História como possibilidade e não como 
determinação. O mundo não é. O mundo está sendo. O conhecimento 
sobre os terremotos desenvolveu toda uma engenharia que nos ajuda a 
sobreviver a eles. Não podemos eliminá-los, mas podemos diminuir os 
danos que nos causam. (FREIRE, 1996. p. 45) 
 
 Se os próprios fenômenos naturais podem ser amenizados para 
que terremotos, secas e problemas ambientais não nos afetem tanto, a própria injustiça 
social deve ser modificada de tal maneira que os homens mudem a sua história, lutem 
contra a pobreza e a ignorância e construam um futuro com dignidade. 
Para Freire, a mudança acontecerá por meio do exercício dialético, 
pelas denúncias de cada situação desumanizadora, declarando, assim, a superação 
dos sujeitos marginalizados, um sonho de muitos e conquistas de poucos. Afinal, 
devido à falta de conscientização, nem todos são capazes de exercer seus direitos de 
cidadãos inclusos em uma sociedade na qual eles deveriam ser privilegiados, 
independente de sua classe social, gênero ou raça: 
 
É a partir de este saber fundamental: mudar é difícil, mas é possível, que 
vamos programar nossa ação político - pedagógica, não importa se o 
projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos 
ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de 
formação de mão - de - obra técnica (FREIRE, 1996, p. 47). 
 
Claramente Freire responsabiliza a sociedade, educadores e todos os 
sujeitos conscientes por lutar por justiça social, esse compromisso é de todos e se inicia 
pela alfabetização. De fato, o significado de alfabetizar não é unicamente ensinar a ler, 
ele tem um significado social, político e filosófico importantíssimo. 
O profissional precisa se posicionar, pois não podemos estar no mundo 
15 
 
e não ter uma posição política. Todos temos um compromisso que devemos assumir 
 
Constatando, nos tornamos capazes de intervir na realidade, tarefa 
incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que 
simplesmente a de nos adaptar a ela. É por isso também que não me 
parece possível nem aceitável a posição ingênua ou, pior, astutamente 
neutra de quem estuda, seja o físico, o biólogo, o sociólogo, o 
matemático, ou o pensador da educação. Ninguém pode estar no 
mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar 
no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em 
mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, 
intervenção na realidade (FREIRE, 1996, p. 46). 
 
Para Freire, alfabetizar e educar implica um compromisso social, 
porque não existe conhecimento neutro, isto é, sem compromisso político: Ou está a 
favor ou contra a ordem social estabelecida. Quem não faz nada para combater a 
injustiça social, a miséria e a exploração se torna cumplice, não existe posição ingênua 
ou fora da realidade, transformar a injustiça social é tarefa de todos, tanto dos 
educandos como dos educadores. 
 
 
1.1 ALFABETIZAÇÃO E LIBERDADE 
 
 
Literalmente, segundo o dicionário (Aurélio, 2010), alfabetizar é ensinar 
a ler. Mas a preocupação de Paulo Freire ia além de simplesmente ensinar a ler, ele via 
a importância e o significado desse ato. Nesse sentido, o esforço deste trabalho é fazer 
uma análise filosófica sobre o significado de alfabetizar. 
Freire é considerado um educador humanista, porque coloca o ser 
humano como centro de todas as transformações, sociais, políticas e econômicas. O 
16 
 
ser humano é capaz de intervir, modificar e transformar seu entorno social, de tal 
maneira que o ser humano consciente é capaz de sair de sua situação 
 
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se” 
dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o, 
transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua 
própria criação; um ser que está sendo no tempo que é o seu, um ser 
histórico, somente este é capaz, por tudo isto, de comprometer-se 
(FREIRE, 1983, p.17). 
 
O ser comprometido é o indivíduo consciente de seu papel na 
sociedade. Para chegar a isso é preciso obter consciência. Na (Pedagogia do Oprimido 
2005), Freire enfatiza a importância da conscientização dos indivíduos sobre sua 
situação e sobre as injustiças e disparidades do mundo. O indivíduo consciente abre os 
olhos, acorda para o mundo e, ciente de sua realidade social, é capaz de iniciar sua 
transformação. 
Freire, com sua característica e sensibilidade social, observa que a 
alfabetização está ligada à conscientização. A alfabetização permitirá a conscientização 
necessária para a modificação do contexto social. Isso acontecerá pelo despertar da 
consciência de cada pessoa. Para Freire, para que ocorra o reconhecimento da 
existência dos sujeitos e a participação dos mesmos no mundo, na construção dele, 
bem como na ruptura da alienação é preciso conscientizar o homem. 
Assim afirma Hernani Maria Fiori, quando comenta sobre a 
Alfabetização em Freire 
 
[Freire] Considera a alfabetização como a principal tarefa capaz de 
trazer para si mesmo e para os outros, um novo significado: 
Possivelmente seja este o sentido mais exato da alfabetização: 
Aprender a escrever sua vida, como autor e como testemunha de suahistória, isto é, biografar-se existenciar-se, historizar-se (FREIRE, 2005, 
p. 8). 
 
17 
 
A alfabetizar implica conscientizar, dar valor e significado aos símbolos 
que representam seu mundo, conquistando, assim, o universo das letras, palavras e 
posteriormente das frases que passam a constituir seu novo universo. Para isso, Freire 
utiliza o “círculo de cultura”, que constitui o universo cultural de cada sujeito. Essa 
experiência tinha como proposta substituir algo maçante, isto é, aquela aula na qual os 
educandos estão presentes nas carteiras apenas como depositários e não tem 
autonomia. O círculo de cultura proporciona a cada educando, por meio do diálogo, a 
recriação de seu mundo e de sua história. Tornando, assim, cada pessoa um sujeito de 
sua construção histórica, levando em consideração sempre a própria experiência 
(vivências). 
A alfabetização está ligada à construção do próprio mundo, como 
comenta Hernani Maria Fiori, no prefácio da Pedagogia do oprimido: 
 
O Alfabetizador já sabe que a língua também é cultura, que o homem é 
sujeito: sente-se desafiado a desvelar os segredos de sua constituição; 
a partir da construção de suas próprias Palavras também construção de 
seu mundo (FREIRE, 2005, p. 11). 
 
A alfabetização não só ensina uma língua escrita, senão que também 
ensina a valorizar a cultura, a condição humana e a liberdade. A alfabetização permite 
superar “o estado de coisificação bem como a opressão desumanizadora, os sujeitos 
não podem temer à liberdade” (FREIRE, 2005. p. 38), pois para Freire esses mesmos 
sujeitos oprimidos preferem a adaptação a um mundo opressor com falta de liberdade a 
lutar para crescer e serem livres. 
O temor à liberdade e a falta dela é resultado da falta de consciência. 
Sem a conscientização dos indivíduos fica impossível a liberdade, ou até mesmo sair da 
opressão porque prevalece o temor de “Ser Livre”. Esse medo à liberdade evita que os 
indivíduos obtenham sua autonomia, a possibilidade de transformar seu mundo, seu 
contexto social e histórico. Porque não basta declarar a liberdade é necessário seu 
exercício. “Dizer que os homens são pessoas e, como pessoas, são livres, e nada 
18 
 
concretamente fazer para que esta afirmação se objetive, é uma farsa” (FREIRE, 2005. 
p. 40). A liberdade não é unicamente um conceito, ela tem que ser uma realidade. 
A situação na qual a alfabetização se encontrava, junto com a situação 
de miséria dos trabalhadores, permitiu a Paulo Freire observar as necessidades do 
povo (FREIRE, 2000). Esse pensador, sensibilizado com a situação de injustiça dos 
analfabetos, propõe mudanças radicais na educação. De tal maneira que a educação 
deve ajudar para combater a miséria e trazer dignidade. Surge assim a alfabetização 
como o resgate dos conceitos de cidadania, de direitos humanos e, sobretudo, de 
liberdade. 
A alfabetização não é unicamente aprender a ler, é aprender a refletir e 
ter consciência, assim, essa educação traz mudanças que posteriormente se 
transformarão em ações. As verdadeiras mudanças no indivíduo levam à superação. 
Essa ação consciente pode ser considerada a práxis ou, como diz Freire, “A práxis, 
porém é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela é 
impossível a superação da contradição opressor-oprimido”. (FREIRE, 2005. p. 42). A 
práxis rejeita a consciência mecânica, na qual os conteúdos vão sendo depositados, a 
práxis requer a participação consciente dos indivíduos. Mas essa superação da 
condição opressor/oprimido se dará a partir da inserção dos sujeitos oprimidos na 
realidade de seus respectivos opressores, inserção consciente, crítica, reflexiva, para 
que os limites postos sejam rompidos por meio da nova dimensão de sua liberdade. 
Nesse novo cenário torna-se necessária a entrada do agir dialógico dos 
envolvidos, participantes do processo de construção do desenvolvimento libertário, aos 
quais estão submetidos por seus opressores. O diálogo será a ferramenta fundamental 
para as futuras transformações sociais das grandes massas, foco principal da 
pedagogia do oprimido (FREIRE, 2005). Por meio desse mesmo diálogo haverá uma 
maior abertura para a compreensão e, a partir daí, a conscientização. É necessário ter 
identidade para ter visão de mundo coerente com sua realidade, ou seja, cada pessoa 
se vê no mundo, por meio de seu contexto sociocultural. 
Reconhecidamente os que realizam a prática da opressão são os 
mesmos que amam a si mesmos e não aos outros (FREIRE, 2005.p.47). Os egoístas e 
19 
 
individualistas em excesso são capazes de esquecer os outros, suas necessidades e 
condição humana, os opressores também são inconscientes e alienados. Afinal, os que 
negam aos outros a liberdade, oprimem e humilham não são os que tiveram a sua 
humanidade negada, mas os que se dizem superiores, desmoralizando e injustiçando 
os outros. 
Por isso, a alfabetização entendida como o ponto de partida da 
educação deve ser reconhecida como ferramenta, instrumento pelo qual o indivíduo 
terá condições de se posicionar na sociedade, e no meio em que vive. Sem a 
alfabetização o homem não consegue se reconhecer, não tem identidade. A educação 
fará com que as pessoas desenvolvam a capacidade de pensar e interagir, ter valores, 
enfim, do ser sujeito histórico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
2 A EXPERIÊNCIA DA ALFABETIZAÇÃO 
 
 
Evidentemente é perceptível que a maior influência na vida de Freire, 
em relação à sua alfabetização, foram seus pais, que bem cedo iniciaram sua educação 
no quintal de sua casa. Assim recorda carinhosamente (FREIRE, 2006, p. 43) como foi 
sua alfabetização. “[...] Eu aprendi a ler a sombra das árvores, o meu quadro negro era 
o chão, meu lápis um graveto de pau [...]”. 
Para que seja possível a alfabetização, o educando precisa ter um 
ambiente familiar agradável que transmita segurança. Talvez seja esse um dos motivos 
ou motivação da criação do círculo de cultura, buscando, assim, uma familiarização 
com a forma de como fora alfabetizado, partindo dos possíveis diálogos realizados 
entre ele e seus pais, seus primeiros professores, e posteriormente com os outros que 
assumiram esse papel. 
Essa vivência em sua infância trouxe-lhe a consciência do valor das 
experiências vivenciadas, constantemente valorizadas e sempre afirmadas por Freire 
em seu processo de educar as diversas pessoas que passaram em sua vida enquanto 
educador. Outra experiência de Freire que pode ter influenciado em sua forma de 
ensinar, principalmente a população dos excluídos e oprimidos, talvez seja sua difícil 
infância, quando passou pela experiência de extrema pobreza, como relata: 
 
“[...] O cerco da pobreza estava sendo impossível de ser rompido. [...] O 
real problema que nos afligiu durante grande parte de minha infância e 
adolescência –[foi] o da fome. Fome real, concreta sem data marcada 
para partir... [que] foi chegando sem pedir licença, a que se instalou e 
vai ficando sem tempo para se despedir (FREIRE, 2006, p. 44-5). 
 
Aqui nos fica claro, por meio de sua fala, a experiência do sofrimento, 
das perdas e frustações, passando pela perda de sua mãe, estando ele ainda no exílio 
sem ter a possibilidade de se despedir pela última vez. Situações essas parecidas com 
21 
 
as mesmas situações dos sujeitos que ele encontraria posteriormente em sua vida. 
No entanto, tantas mudanças vivenciadas por Freire acabaram por lhe 
proporcionar outras possibilidades e oportunidades que lhes foram fundamentais em 
sua vida. Como comenta Ana Maria Araújo Freire 
 
Freire“[...] Cresceu sem rancor, sem lamuriar-se, sem deixar que o 
menino empobrecido prevalecesse sobre o menino que se fazia feliz. 
Permitiu que este prevalecesse na sua existência de adulto e superou a 
vivência do menino sofrido[...]” (FREIRE, 2006, p. 47). 
 
Freire também sonhou, nesse caso imaginou ser professor de língua 
portuguesa, mas, enquanto sonhava, aproveitou a presença de seus amigos que 
ficaram para sempre em sua vida, fortalecendo sua imaginação até que as 
possibilidades de seus sonhos se cumprissem. Nessa caminhada Freire também 
aprendeu. Como anota Ana Maria Araújo Freire, foi também em Jaboatão que Freire 
aprendeu: 
 
Foi lá que aprendeu a cantar, a assobiar, coisa esta que até hoje tanto 
gosto de fazer, para se aliviar do cansaço de pensar e das tensões da 
vida do dia a dia aprendeu a dialogar na “roda de amigos” e a valorizar 
sexualmente, a namorar e a amar as mulheres e por fim foi lá em 
Jaboatão que aprendeu a tomar para si, com paixão, os estudos das 
sintaxes popular e erudita da língua portuguesa (FREIRE, 2006, p. 48). 
 
Assim se percebe toda a práxis de Freire, sua prática pedagógica fora 
por ele anteriormente vivenciada, experimentada, assim como os diálogos com seus 
amigos na roda de conversa. Dessa forma, se explica sua facilidade de compreensão 
de cada contexto e estrutura social nas quais os seres humanos estão inseridos. Para 
Freire, nada é tão difícil que não possa se concretizar, pois ele trazia consigo as 
possibilidades, a crença de que daria certo e que todo sofrer pode cessar, e nada é tão 
difícil quando já experimentado, portanto, a práxis eficaz e positiva foi por ele mesmo 
realizada. 
22 
 
2.1 COMO EDUCAR, COMO ALFABETIZAR? 
 
 
Para alfabetizar com consciência, temos que partir de um conceito de 
educar novo, que se afasta da prática comum de educar, denominada educação 
bancária. A concepção bancária a que Paulo Freire se refere é uma concepção 
tradicional, autoritária, que utiliza a memorização mecânica dos conteúdos ensinados 
pelos educadores, pois os educandos vão repetindo esses mesmos conteúdos sem 
saberem seu real significado. 
A educação bancária é um processo alienador, porque considera o 
processo educativo como uma forma de depositar as informações transmitidas pelo 
educador. Nessa ação o educando não realiza qualquer reflexão crítica, simplesmente 
arquiva as informações. Freire define essa forma de educar 
 
Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar em que os 
educandos são os depositários e o educador depositantes. Em lugar de 
comunicar-se o educador faz “comunicados” e depósitos que os 
educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e 
repetem. Eis ai a concepção “bancária” da educação em que a única 
margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os 
depósitos, guardá-los e arquivá-los (FREIRE, 2005, p. 66). 
 
Para Freire só existe saber na capacidade que cada pessoa tem de 
recriar, a partir das informações aprendidas. Na educação bancária, o educador é 
aquele que detém o poder, enquanto o educando se torna alienado, repetidor, sem 
iniciativa transformadora. A crítica realizada por Freire à Educação bancária tem como 
intuito chamar a atenção dos verdadeiros humanistas para o fato de que “[...] Eles não 
podem, na busca da libertação, servir-se da concepção “bancária’’ sob pena de se 
contradizerem em sua busca”. [...] Exatamente pela força desumanizadora que a 
concepção bancária produz, fica evidente que a conscientização e a libertação dos 
homens estão excluídas nesse processo, pois, para que elas sejam possíveis é 
23 
 
necessária uma práxis que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para 
transformá-lo”. (FREIRE, 2005, p.76). 
 A educação libertadora torna os indivíduos capazes de superarem suas 
dificuldades, enquanto a educação bancária continua sempre a serviço da dominação, 
sem novas possibilidades. A educação libertadora é problematizadora, ela propicia a 
comunicação e, nesse processo, surge o diálogo. Diante desse processo de 
transformação, o argumento do educador autoritário já não é mais possível, pois para 
Freire: 
 
O educador já não é mais o que educa, mas o que, enquanto educa, é 
educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também 
educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem 
juntos (FREIRE, 2005, p.79). 
 
A obra de Paulo Freire fortalece o diálogo na educação, com o objetivo 
de permitir a conscientização emancipadora dos indivíduos. Paulo Freire construiu 
novos conceitos no âmbito do ensino, de modo a desenvolver métodos que 
propiciassem uma educação crítica e questionadora da realidade. Freire concebe a 
educação como reflexão sobre a realidade existencial, sendo necessário o agir nas 
realidades vividas no dia a dia de cada indivíduo. Exatamente nessa situação de 
experiências do humano. A ferramenta utilizada por Freire era o círculo de cultura, onde 
cada um pode contribuir no aprendizado do grupo com o que já sabe ou aprendeu por 
meio de sua cultura e práticas sociais, realizando, assim, a releitura do mundo, no qual 
as transformações são sempre possíveis. 
Os padrões de comportamento vão se construindo em meio a suas 
manifestações culturais e conforme (FREIRE, 2000, p.150) “[...] A democratização da 
cultura, tem que partir do que somos e do que fazemos como povo [...].” Partindo do 
diálogo haverá um clarear das consciências e a partir dessa conscientização haverá a 
humanização do ser enquanto sujeito, os quais aqueles que se consideram estar 
envolvidos nesse processo compreenderão que são seres que possuem direitos e 
consequentemente iniciarão uma busca desses direitos antes desconhecidos. 
24 
 
 Freire fora influenciado, conforme Altran (2004), por várias 
correntes filosóficas, que possibilitavam entender a educação como arte, ciência e 
política. Isto faz reconhecer a importância da alfabetização e da criticidade dos 
indivíduos para o reconhecimento do homem como sujeito de direitos, além disso, 
entender também que possui a capacidade de resignificar seu mundo e seu contexto 
social e histórico. E que o homem é capaz de transformar suas mazelas e dores em 
novidade de vida, construída a partir da identificação de sua situação e estado de 
coisificação. A partir da tomada de decisão, as mudanças e transformações necessárias 
vão se dando em suas lutas travadas no campo social, pessoal e principalmente 
individual. 
 Houve também a influência da filosofia existencialista na vida de 
Freire, segundo (ALTRAN, 2004) uma orientação humanista, pela qual o homem fosse 
capaz de ser levado à reflexão sobre qual seria sua concreta situação no mundo, 
conduzindo-o à liberdade de si mesmo e de seus dominadores, chegar-se-ia a esse 
resultado por meio do diálogo e da participação de cada indivíduo em seu processo 
histórico de humanização e do ser como sujeito de direitos. 
 No processo histórico da humanidade cada ser está sendo 
construído em seu processo de formação, os seres humanos estão adquirindo 
conhecimento, compreendendo o mundo e sua existência nele, sua opção política, 
mesmo dizendo serem apolíticos, mas reconhecendo podados em seus direitos, suas 
diversidades, gêneros, raças e classes sociais. Para Freire a Educação pode trabalhar 
os indivíduos em sua construção histórica: 
 
Uma outra maneira de entender a História é de submetê-la aos 
caprichos da vontade individual. O indivíduo ,de quem o ser social 
depende, é o sujeito da História. Sua consciência é a fazedora arbitrária 
da História. Por isso, quanto melhor a educação trabalhar os indivíduos, 
quanto melhor fizer seu coração um coração sadio, amoroso, tanto mais 
o indivíduo, cheio deboniteza, fará o mundo feio virar bonito (FREIRE 
2001, p. 19). 
 
Sendo assim, a história para Freire é tempo de possibilidades, das 
25 
 
quais as transformações também podem ser reais, para que se adquira liberdade da 
dominação, da exploração e do poder da elite excludente e discriminadora. As pessoas 
envolvidas neste processo trarão de suas realidades a possibilidade da transformação, 
do enfrentamento diante a tantos desafios, de saber reconhecer que cada decisão 
também é um ato político. A alfabetização trará o esclarecimento, o abrir dos olhos 
clareando assim toda nebulosidade que poderia ofuscar sua visão racional de exercer o 
pensar para decidir. 
 Freire possuía a mente libertadora, capaz de identificar a dominação 
imposta aos sujeitos. Esses indivíduos são submetidos aos que tratavam o humano 
como objetos, na sociedade. É necessária a conscientização de cada indivíduo, tomar 
consciência das possibilidades libertadoras que estavam ao alcance de suas decisões. 
Nesse contexto, a educação e a dialogicidade são fundamentais: 
 
É testemunha dessa possibilidade, ao exercer uma prática fundada na 
necessária abertura ao outro: prática em que o diálogo se faz exigência 
epistemologia para uma vivência socialmente comprometida, cuja 
reflexão, coletivamente partilhada, faz se geradora de múltiplas autorias 
(FREIRE, 2001a, p. 27). 
 
A educação dialógica implica liberdade e democracia. Assim, a 
intencionalidade de Freire para a educação é “a libertação e não a domesticação” 
(FREIRE, 1983. p.3), para isso, o educando precisa ter senso crítico. O diálogo se torna 
a linguagem de compreensão e aprendizado mais significativo nesse processo de 
alfabetização. A educação alfabetizadora humaniza e permite crescer em comunidade, 
pois, segundo Freire (1983, p. 5), “[...] somos educados em comunidade a partir da 
reflexão da práxis da vida de cada educando [...]”. 
 A educação cria novas possibilidades para o sujeito da educação. Este 
procura transformações, já não aceitando mais sua condição social, estará sempre em 
busca de novos conhecimentos. O que também se torna necessário esclarecer aos 
educadores e educandos é a importância de desenvolver sua autonomia, por meio do 
diálogo deve-se questionar interrogar, perguntar e esclarecer dúvidas e certezas sobre 
26 
 
o saber. A questão a ser resolvida será alcançar resultados positivos em relação à 
aprendizagem dos educandos: eles aprenderam a resignificar seu mundo? Se a 
resposta for positiva, então o trabalho foi eficaz. 
Pois, conforme Altran (2004), a intencionalidade da educação é 
preparar as pessoas para a vida no enfrentamento dos desafios apresentados no 
mundo, pois não se trata de uma educação dissociada da realidade. Portanto, os 
alunos trarão consigo o que já sabem e conhecem da vida e relacionarão com o que 
lhes serão apresentados como conteúdos no círculo de cultura, engajando assim a 
educação, o diálogo e as discussões no ambiente de aprendizagem, assim buscando 
sempre a transformação das situações e dificuldades vividas por seus próprios 
educandos, tanto dentro como fora de seu contexto educacional. 
Dessa forma, também se torna necessária uma aproximação dos 
educadores com os educandos, pelo diálogo, pela valorização do conhecimento que 
eles já possuem, bem como na troca de afetividade que nos parece a ação mais eficaz 
no relacionamento educador/educando. 
 Portanto logo se perceberá o aumento da autoestima dos educandos 
que estão sendo incluídos no processo de educação. Freire afirma que “A educação é 
um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer ao debate “[...] não pode 
fugir á discussão criadora, sob pena de ser uma farsa [...]” (FREIRE, 2000. p. 96-7). A 
educação, antes de ser alfabetizadora, é um processo que precisa da transmissão de 
sentimento, de valores a serem seguidos, dos quais podemos apostar em resultados 
significativos para a construção da identidade de muitos jovens, até mesmo dos 
adultos. 
A educação transforma, permite crescer dando um novo sentido à vida, 
porque “ninguém nasce feito, vamos nos fazendo aos poucos na prática social de que 
nos tornamos parte” (FREIRE, 2001, p.43). Na realidade, é na sociedade e com a 
sociedade que crescemos ninguém cresce isolado. 
A educação é um projeto social que deve abranger incluir a todos os 
que fazem parte da sociedade. Para Paulo Freire a História é feita pelos sujeitos: “Não 
27 
 
sou apenas objeto da História, mas sou sujeito igualmente. No mundo da História, da 
cultura e da política constato não para me adaptar, mas para mudar”. (FREIRE, 2000, p. 
79). Neste sentido todos somos sujeitos históricos, não unicamente aqueles nomes 
citados nos livros de história. E dessa maneira todos têm a importante tarefa de 
construir a história, que é a história da humanidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
3 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS 
 
 
Freire não realiza rodeios ao tratar da educação e direitos humanos 
quando diz que existem diferenças quando um professor elitista ensina a respeito de 
Direitos Humanos, sendo diferente a forma que o professor progressista ensina sobre o 
mesmo assunto; enquanto o professor elitista ensina de forma a frear seus educandos 
em relação ao seu crescimento, o professor progressista considera como Direitos 
Humanos tratar especificamente dos direitos de homens e mulheres de conhecerem e 
exercerem seus direitos 
 
Enquanto para um professor elitista, por exemplo, a Educação em 
Direitos Humanos tem a ver com o tratamento fidalgo do conhecimento, 
isto é, tratar o ato de conhecer fidalgamente, para um professor 
progressista a discussão sobre o ato de conhecer se apresenta como 
um direito dos homens e mulheres das classes populares, que vêm 
sendo proibidos e proibidas de exercer este direito, o direito de conhecer 
melhor o que já conhecem, porque praticam, e o direito de participar da 
produção de conhecimento que ainda não existe (FREIRE, 2001, p. 97). 
 
O maior desafio em relação aos direitos humanos e seu cumprimento é 
a importante e significativa transformação social na qual estão imersos os educandos e 
também educadores. Toda ação depende de como cada um deles se veem no mundo 
politicamente, a serviço de quem estão e como se posicionarão em relação às 
transformações necessárias em prol dos menos favorecidos. Sob a ótica dos direitos 
humanos, a educação é um direito fundamental e inalienável, cabendo ao educador 
ressaltar o poder da educação para a realização dos outros direitos. Freire afirma que 
 
O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou 
não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, 
quando pode; é reconhecer os limites que sua prática impõe. É perceber 
que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática social de 
que ele faz parte. É reconhecer que a educação, não sendo a chave, a 
29 
 
alavanca da transformação social, como tanto se vem afirmando, é, 
porém, indispensável à transformação social. É reconhecer que há 
espaços possíveis que são políticos, há espaços institucionais e extras 
institucionais a serem ocupados pelas educadoras e pelos educadores 
cujo sonho é transformar a realidade injusta que aí está, para que os 
direitos possam começar a ser conquistados e não doados” (FREIRE, 
2001, p. 98-9). 
 
 O maior desafio dos educadores é ressaltar a importância da 
educação, observar suas dificuldades e desafios, para que todos os envolvidos no 
processo educativo sejam conscientes disso. Afinal, cabe aos envolvidos quebrar as 
próprias limitações, impor-se novos desafios e avaliar suas ações. 
A participaçãodos grupos populares se torna o diferencial na luta 
contra o poder dominante em favor do crescimento e desenvolvimento educacional sem 
manipulação que busca reinventar o mundo por meio do poder. A educação ligada aos 
direitos humanos precisa necessariamente passar pelos contextos populares 
socialmente constituídos. Assim se dará a educação libertadora, que liberta de dentro 
para fora, com o ato conscientizador. Freire compreende o forte vínculo que existe entre 
educação e direitos humanos 
 
Por isso é que a educação ligada aos direitos humanos, nesta 
perspectiva que passa pela compreensão das classes sociais, tem que 
ver com educação e libertação e não com liberdade apenas. Tem a ver 
com libertação precisamente porque não há liberdade; e a libertação é 
exatamente a briga para restaurar ou instaurar a gostosura de ser livre 
que nunca finda, que nunca termina e sempre começa (FREIRE, 2001, 
p. 100). 
 
Para Freire, direitos humanos falam de realidades e educação 
transforma realidades. Se quisermos transformar a injustiça social devemos partir das 
ações conscientizadoras, porque a educação permite que indivíduos educados 
(conscientes) sejam sujeitos de sua própria libertação. Assim, só compreende libertação 
aquele que de alguma forma já esteve ou se sentiu preso, física e psicologicamente. Só 
compreende a liberdade aquele que lutou para romper os grilhões da ignorância e da 
30 
 
opressão social. Aquele que se libertou graças à ação educativa não poderá 
futuramente ser um opressor, porque a conscientização se for verdadeira, evitará isto. 
De tal maneira que não agirá injustamente com outros como agiram com ele em sua 
luta de libertação. Freire defende uma perspectiva de educação e direitos humanos 
 
Portanto a perspectiva da Educação em Direitos Humanos que 
defendemos, é esta, de uma sociedade menos injusta para, aos poucos, 
ficar mais justa. Uma sociedade reinventando-se sempre com uma nova 
compreensão do poder, passando para uma nova compreensão da 
produção. Uma sociedade em que a gente tenha gosto de viver, de 
sonhar, de namorar, de amar, de querer bem. Esta tem que ser uma 
educação corajosa, curiosa, despertadora, da curiosidade, mantenedora 
da curiosidade, por isso mesmo uma educação que, tanto quanto 
possível, vai preservando a menina que você foi sem deixar que a 
maturidade a mate (FREIRE, 2001, p. 101). 
 
Definitivamente, educação para Freire é viver de forma feliz, 
valorizando o aprendizado da vida, desde sua infância até sua atual idade, seja ela qual 
for, sem medo de amar, sem medo de se entregar, visualizando sempre a beleza do 
momento por ele experimentado. A educação não deixa o mundo feio, pesado, capaz 
de oprimir seus envolvidos. O conceito de justiça social está ligado à educação e para 
Freire implica uma sociedade feliz: algumas implicações que exigem liberdade, 
educação e direitos humanos: 
 
Essa Educação para a liberdade, essa educação ligada aos direitos 
humanos nesta perspectiva, tem que ser abrangente totalizante; ela tem 
que ver com o conhecimento crítico do real e com a alegria de viver. E 
não apenas com a rigorosidade da análise de como a sociedade se 
move, se mexe, caminha, mas ela tem a ver também com a festa que é 
a vida mesma. Mas é preciso fazer isso de forma crítica e não de forma 
ingênua. Nem aceitar o todo-poderosismo ingênuo de uma educação 
que faz tudo, nem aceitar a negação da educação como algo que nada 
faz, mas assumir a educação nas suas limitações e, portanto, fazer o 
que é possível, historicamente, ser feito com e através, também, da 
educação (FREIRE, 2001, p. 102). 
 
Freire compreendia a educação sem sofrimento, sem pessimismo, 
31 
 
confiando no outro, tendo prazer no aprender, mas também no ensinar. Acreditava no 
humano sendo cuidadoso em suas práticas e ao mesmo tempo feliz. Esse processo é 
complexo, porque conseguir harmonizar o rigor científico, a metodologia dentro de um 
processo ético e agradável exige grande esforço na sala de aula. Não é simplesmente 
copiar o que Freire fez, mas inovar, como ele mesmo disse recriar o que por ele foi 
feito. 
 
 
3.1 DIREITO DA EDUCAÇÃO PARA OS ADULTOS 
 
 
Por meio das constantes transformações sociais ocorridas nos 
contextos sociais nos quais Freire participava, nesse caso transformando a educação 
de jovens e adultos, houve um importante movimento em relação ao contexto popular, 
por exemplo, as exigências ocorridas para aqueles que desempenhavam o papel de 
educador em relação às suas competências científicas: 
 
O Conceito de Alfabetização de jovens e adultos vai se movendo em 
direção da educação popular na medida em que a realidade começa a 
fazer alguma exigência à sensibilidade e à competência científica dos 
educadores e educadoras. Uma destas exigências tem que ver com a 
compreensão crítica dos educadores do que vem ocorrendo na 
cotidianidade do meio popular (FREIRE, 2001, p. 16). 
 
A alfabetização de jovens e adultos tem características especiais que a 
diferenciam da educação infantil. Freire ressalta o grau de dificuldade que o cientista 
não familiarizado com esse novo fenômeno social atravessa. Para salvar essas 
dificuldades ele precisa de capacidade científica, senso crítico e familiaridade com o 
meio no qual vai trabalhar. Para tanto, havia algumas especificidades para a realização 
dos programas populares propostos na época, exigindo, assim, mais abrangência ou 
32 
 
ampliação do trabalho, pois tratar educação de jovens e adultos requer disponibilidade 
para envolvimento com os sujeitos neles inseridos, considerando sempre suas 
vivências sociais. 
Para Freire, a educação de jovens e adultos tinha como preocupação o 
analfabetismo e, para ele, o pior analfabeto é aquele que não sabe ler o mundo, pois 
saber ler e escrever é um desafio possível, mas saber ler e escrever para compreender 
o mundo tem outro sentido: 
 
A educação de adultos, virando educação popular, se tornou mais 
abrangente. Certos programas com alfabetização, educação de base em 
profissionalização, ou em saúde primária são apenas uma parte do 
trabalho mais amplo que se sugere quando se fala em educação popular 
(FREIRE, 2001, p. 16). 
 
Novamente, pode-se considerar a reflexão um importante processo na 
mobilização para o alcance dos objetivos desejados na prática educativa e política de 
cada educador, tanto com os conteúdos a serem ensinados, como na conscientização 
de cada sujeito envolvido no processo da alfabetização: 
 
Educadores e grupos populares descobriram que educação popular é, 
sobretudo, o processo permanente de refletir a militância; refletir; 
portanto a sua capacidade de mobilizar em direção a objetivos próprios. 
A prática educativa, reconhecendo-se como prática política, se recusa a 
deixar-se aprisionar na estreiteza burocrática de procedimentos 
escolarizantes. Lidando com o processo de conhecer, a prática 
educativa é tão interessada em possibilitar o ensino de conteúdos às 
pessoas quanto em sua conscientização (FREIRE, 2001, p. 16). 
 
Quando falamos de educação popular o fator político é fundamental, de 
tal maneira que, não podemos desconhecer a situação politica e social de nossos 
alunos, nem manter-nos alheios e ignorantes a está condição. Educar se torna 
conscientizar sobre o papel político de cada indivíduo. Educar não é memorizar e 
repetir o livro, é saber compreender e questionar. Existe uma diferença no exercício da 
33 
 
educação para além da sala de aula, relacionando todo o contexto de opressão sem o 
exercício da democracia. Em Freire, ser cidadão é poder gozar de seus direitos 
políticos, de sua condição de cidadão, por meio da alfabetização formam-se cidadãos e 
democratas. 
A grande chavepara a alfabetização, em situações consideradas 
marginais por Freire, antes de qualquer outra ação, é a humanização de cada 
educando envolvido nessa ação. Pois a humanização capacitará ou dará a cada 
educando condições de exercer sua consciência social e cultural, de forma a combater 
cada ação dominadora sobre suas escolhas, sua vida social e seu processo de 
construção histórico: 
 
A alfabetização, por exemplo, numa área de miséria, só ganha sentido 
na dimensão humana se, com ela, se realiza uma espécie de psicanálise 
histórico-político-social de que vá resultando a extrojeção da culpa 
indevida. A isto corresponde a "expulsão" do opressor de "dentro" do 
oprimido, enquanto sombra invasora. Sombra que, expulsa pelo 
oprimido, precisa de ser substituída por sua autonomia e sua 
responsabilidade (FREIRE, 1996, p.50). 
 
A transcendência filosófica da alfabetização significa que ela é um meio 
para conseguir a liberdade e a autonomia. O professor não liberta se cada um não 
buscar sua liberdade. Cada indivíduo tira as correntes da ignorância, da exclusão e da 
opressão e coloca no lugar liberdade, dignidade e responsabilidade. 
Por meio dessa nova conquista e da expulsão das sombras invasoras, 
cada pessoa trará para si a responsabilidade de administrar suas novas conquistas. 
Cada indivíduo trará a responsabilidade de realizar escolhas e decidir conscientemente 
em relação a tudo que se relacionar consigo, com seu trabalho, com sua família, com 
as mudanças sociais, com as quais também estará envolvido: 
 
Quando falo em educação como intervenção me refiro tanto à que aspira 
a mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das 
relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à 
34 
 
educação, à saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente 
pretende imobilizar a História e manter a ordem injusta (FREIRE, 1996, 
p. 68). 
 
Acreditar que a educação é unicamente conhecimento teórico é pouco. 
A educação é o elo do indivíduo com o mundo, com todas as manifestações da 
realidade. A educação abre novas janelas para a explorar horizontes desconhecidos, 
conquistar espaços, desenvolver nossas atitudes. Conhecer não só implica saber, 
implica fazer. 
 
 
3.2 A LEITURA E O MUNDO 
 
 
É exatamente a clara compreensão do valor do diálogo feito por Freire 
e das experiências ganhas desde sua infância que permitiu desenvolver sua 
sensibilidade de educador. Esse entendimento permitiu a Freire, em primeiro lugar, 
aprender a ouvir, aprender a entender, aprender a compreender, aprender com suas 
dores; enfim, esses aprendizados trouxeram para sua vida adulta e para sua prática 
docente capacidades e saberes que lhes são peculiares. Porque “O educador que 
escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao 
aluno, em uma fala com ele” (FREIRE, 1996, p. 71). Devido à sua existência e 
participação no Mundo, Freire aprendeu a ser livre em sua forma de pensar e se 
expressar, mas também de ensinar, sem isso não poderia ter contribuído para a 
educação. Assim, entendemos quando ele comenta sobre discordar: 
 
A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de 
exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo 
contrário, é escutando bem que me preparo para melhor me colocar, ou 
melhor, me situar do ponto de vista das ideias. Como sujeito que se dá 
ao discurso do outro, sem preconceitos, o bom escutador fala e diz de 
35 
 
sua posição com desenvoltura. Precisamente porque escuta, sua fala 
discordante, em sendo afirmativa, porque escuta, jamais é autoritária 
(FREIRE ,1996, p. 75). 
 
Paulo Freire nos ensina a aprender e a compreender a realidade que 
não significa aceitar e repetir. Podemos compreender e discordar, se este é o caso 
temos que atuar com respeito, cuidado e segurança, isto é, se temos que discordar 
temos que ser claros sem preconceitos e firmes. 
A arte de ensinar vai além da memorização e tem relação com a arte de 
desejar ensinar e de desejar aprender com seu educando. Essas possibilidades estão 
distantes do conceito trazido pela educação bancária, criticada por Freire, porque 
considera a visão de mundo que cada educando já traz consigo, mesmo que sejam 
pensamentos e posições diferentes daqueles a maioria tem, constitui-se também um 
saber, diferente, mas um saber. 
 
É por isso, repito, que ensinar não é transferir conteúdo a ninguém, 
assim como aprender não é memorizar o perfil do conteúdo transferido 
no discurso vertical do professor. Ensinar e aprender tem que ver com o 
esforço metodicamente crítico do professor de desvelar a compreensão 
de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando 
como sujeito em aprendizagem, no processo de desvelamento que o 
professor ou professora deve deflagrar. Isso não tem nada que ver com 
a transferência de conteúdo e fala da dificuldade, mas, ao mesmo 
tempo, da boniteza da docência e da discência. O desrespeito à leitura 
de mundo do educando revela o gosto elitista, portanto antidemocrático, 
do educador que, desta forma, não escutando o educando, com ele não 
fala. Nele deposita seus comunicados (FREIRE, 1996, p. 74-7). 
 
Ensinar precisa de uma posição honesta, sincera da parte do educador 
,ele deve permitir que o educando aprenda, compreenda e critique, de tal maneira que 
desenvolva seu senso crítico, e sua capacidade de discordar. Para que esse processo 
seja levado a cabo, é necessário que exista um diálogo, no qual o educador escute o 
educando e o educando escute o educador, de maneira respeitosa e democrática, 
porque o ensino de democracia inicia-se na sala de aula. 
36 
 
Freire ao se referir à leitura de mundo antes da leitura da palavra, está 
relacionando a leitura de mundo em cada linha de tempo que cada pessoa vivencia, 
iniciando na infância e nos diversos e diferentes contextos sociais nos quais todos 
estão inseridos e completamente envolvidos. Portanto, aprender a ler e a escrever 
significa compreender o mundo onde se está inserido e como suas possíveis 
transformações realizadas pelas ações politicas/sociais de cada contexto poderão 
significativamente transformar sua existência: 
 
A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo. E aprender 
a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o 
mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica 
de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e 
realidade. Ademais, a aprendizagem da leitura e a alfabetização são 
atos de educação e educação é um ato fundamentalmente político 
(FREIRE, 1889, p. 7). 
 
A preocupação pela realidade é constante na leitura de Freire. Educar 
não é um ato isolado, nem teórico, nem mecânico. Educam-se seres no mundo, com 
contexto social e político, que estão fortemente influenciados por sua realidade. 
Alfabetizar-se é aprender a decodificar o mundo que nos rodeia, isto é, aprender não só 
a ler palavras, mas também a compreender o significado dos objetos que estão em 
nossa volta, essa compreensão do mundo não pode ser mecânica, imposta, ela deve 
ser uma decodificação com senso critico. O sujeito deve conhecer o valor dos objetos, 
mas nunca deve fazer um objeto mais valioso que o ser humano. 
As recordações de suas memórias faziam com que Freire fosse capaz 
de criar e recriar seu mundo e sua participação no mesmo, considerando amplas 
possibilidades de novas construções de diferentes saberes. A cultura de Freire era 
vasta e refinada, apesar de não fazer parte da elite dominadora. A apurada cultura de 
Freire provém da sua vontade por conhecer, respeitando as experiências dos mais 
velhos, e de sua imensa curiosidade pela cultura do povode seus genitores, que 
também traziam consigo preciosos saberes e novos significados. Como diz Freire, a 
cultura popular é rica porque traz condições de se fazer o novo, mesmo não sabendo 
37 
 
fazer: 
Daquele contexto - o do meu mundo imediato - fazia parte, por outro 
lado, o universo da linguagem dos mais velhos, expressando as suas 
crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso 
ligado a contextos mais amplos que o do meu mundo imediato e de cuja 
existência eu não podia sequer suspeitar. No esforço de re-tomar a 
infância distante, a que já me referi, buscando a compreensão do meu 
ato de ler o mundo particular em que me movia, permitam-me repetir, re-
crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em 
que ainda não lia a palavra (FREIRE,1889, p. 10). 
 
Paulo Freire ressalta a importância do outro através do diálogo no 
processo de aprendizagem. Nesse caso, os mais velhos nos enriquecem com suas 
culturas, com seus valores, ampliam nosso mundo e nos permitem recriar nossas 
experiências. A cultura popular é um patrimônio da humanidade uma riqueza do povo, 
da qual todos têm direito a usufruir. 
Está claro que, desde menino, Freire aprendeu como vencer seus 
temores, como enfrentar os fantasmas que surgiam em sua vida e externar seu pensar 
por meio do saber, do aprender, além de dominar o desconhecido que, no caso, eram 
as palavras. Conseguiu compreender principalmente os motivos de suas lutas, por que 
tinha que se posicionar e que não poderia ser neutro em suas decisões e práticas 
pedagógicas: 
 
Na medida, porém, em que me fui tomando íntimo do meu mundo, em 
que melhor o percebia e o entendia na "leitura" que dele ia fazendo, os 
meus temores iam diminuindo (FREIRE, 1889, p.11). 
 
Freire nos confessa que seus temores foram diminuindo na medida em 
que conhecia seu mundo. Quanto mais conhecemos nosso ambiente, mais nos 
conhecemos e, dessa maneira, podemos conhecer nossas fraquezas, nossos medos, 
nossas dores, para que assim possamos superar nossas limitações, temores e traumas. 
É certo que cada um vence seus limites, mas sempre com a ajuda de outros, ninguém 
atua isoladamente todos crescemos juntos. 
38 
 
Por isso a importância de ensinar aos alunos a também vencerem seus 
medos, a enfrentarem o desconhecido, além de mostrar que de fato eles são capazes 
de aprender, não pela memorização mecânica, como é ensinado na Educação 
bancária, mas pela compreensão dos significados dos conteúdos ensinados. Nesse 
caso, os alunos aprendem por meio do que lhes já era conhecido, por sua própria 
vivência do dia a dia, no trabalho, em casa, com os amigos, por meio dos variados 
diálogos, nas ruas, no portão de casa, no mercado. Enfim, em todo o tempo de sua 
existência social: 
 
Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do 
objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a 
seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A 
memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em 
conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado 
como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, 
nem é real leitura, nem dela, portanto resulta o conhecimento do objeto 
de que o texto fala (FREIRE, 1889, p. 12). 
 
A memorização mecânica para Freire é prejudicial, cria vícios no 
educando, oculta os verdadeiros saberes, aqueles chamados de significação profunda. 
Os saberes devem ser procurados por trás da aparência e da memorização, porque 
esses são artificiais e alheios. Os saberes profundos fazem parte de nossa vivência, 
são os saberes dos quais nos apropriamos e fazemos nossos, recriando-os e 
convertendo-os em reais. 
A crítica de Freire vai além, em relação aos textos trabalhados não 
existe a aprendizagem significativa, com apropriação profunda, se os alunos envolvidos 
não conseguirem compreender o texto lido. Se tão somente memorizarem os 
conteúdos, posteriormente poderão não mais se lembrar dos mesmos. A ação de 
aprender e compreender retendo os conteúdos para o exercício da vida vai além da 
memorização mecânica: 
 
Insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos 
textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, 
39 
 
revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser 
superada (FREIRE, 1889, p.12). 
 
Aprender a ler não se avalia pela quantidade de textos “[...] lidos se não 
pela capacidade de penetrar no texto, circular pelas entrelinhas, isto é, compreender a 
mensagem [...]”. Para alcançar essa situação, o exercício mecânico não basta, é 
preciso despertar no aluno a importância e o prazer de descobrir a mensagem do texto. 
Porque somente assim a leitura se tornará parte dele. 
A Educação e alfabetização de jovens e adultos têm incorporado em si 
uma tomada de decisão. Após todo trabalho com os alunos e durante esse processo, 
eles estão aptos, ou deveriam estar, a ressignificar suas vidas e transformar seu 
contexto histórico social. Só ficarão apáticos aqueles que não forem corajosos, pois 
eles sabem que têm condições de transformação, tanto de vida como de aprendizagem, 
mas ele se mantém a margem: 
 
Inicialmente me parece interessante reafirmar que sempre vi a 
alfabetização de adultos como um ato político e um ato de 
conhecimento, por isso mesmo, como um ato criador. Para mim seria 
impossível engajar-me num trabalho de memorização mecânica dos ba-
be-bi-bo-bu, dos la-le-li-lo-lu. Daí que também não pudesse reduzir a 
alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras 
(FREIRE, 1889, p. 13). 
 
Freire enfatiza a importância política da alfabetização. Esse ato tem 
uma relevância filosófica para o autor, porque, para ele, alfabetizar não é aprender a ler 
palavras, isso é muito pouco, é um ato político de conscientização, de crescimento 
pessoal, de tomada de consciência, que inicia com a leitura de palavras. 
No caso daqueles que estão sendo alfabetizados, suas expressões 
orais darão conta de seu aprendizado, por meio de sua fala ele aprenderá a escrever. 
Inicialmente escreverá como se fala, ou seja, o aluno escreverá da mesma forma que 
ele ouve, assim se dará a compreensão de sua fala e posteriormente sua escrita, além 
da correção das mesmas conforme suas práticas, tanto da fala, como da escrita e da 
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leitura: 
 
 Como eu, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta 
e de dizer caneta. Eu, porém, sou capaz de não apenas sentir a caneta, 
de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta 
e, consequentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a 
montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não 
pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele 
um momento de sua tarefa criadora (FREIRE, 1889, p.13). 
 
Paulo Freire enfatiza que a escrita e a leitura trazem mais opções para 
perceber o mundo. Essas novas possibilidades são a escrita e a leitura, que são 
manifestações pessoais de cada indivíduo, assim como a visão é própria de cada 
sujeito, bem como cada um possui a sua voz para falar, desta maneira, cada indivíduo 
deve recriar, como tarefa criadora, sua forma de escrever e ler o mundo. O educador 
não pode impor sua forma de escrever, só pode proporcionar as regras a seguir 
(gramática), das quais cada educando fará o melhor uso. 
O resultado de todo o trabalho de alfabetização de Freire por meio da 
conscientização, do exercício da autonomia, traz consigo as várias oportunidades de 
libertação democrática para todos os envolvidos, mas essa tal liberdade se dará por 
meio das conquistas conscientes feitas pelos menos favorecidos, do reconhecimentode 
suas capacidades e das formas possíveis de alcançarem suas conquistas e objetivos, 
libertando-se das estruturas autoritárias e dominantes: 
 
Quem pensa, por outro lado, que a classe trabalhadora é demasiado 
inculta e incapaz, necessitando, por isso, de ser libertada de cima para 
baixo, não tem realmente nada que ver com libertação nem democracia, 
Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou 
inconscientemente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias 
(FREIRE, 1889, p. 17). 
 
Para o autor, a liberdade não é vertical e sim horizontal, implica 
democracia, respeito a todos, assim como consciência, não de alguns, mas de todos. 
41 
 
Se a classe trabalhadora precisa crescer e ser alfabetizada, não será pela imposição 
que isso se dará, mas pelas condições democráticas, isto é, com educação e respeito 
que levem em conta sua própria cultura. 
A chave para a concretização do aprendizado dos educandos jovens e 
adultos inicia-se considerando o que cada educando já sabe por meio das experiências 
em seu bairro, em sua cidade, em sua família e pelas histórias que trazem consigo. A 
imposição de conteúdos e de saberes de vida do educador poderá criar barreiras, 
dificultando a participação dos educandos, talvez intimidando e impedindo assim seu 
aprendizado 
Temos de respeitar os níveis de compreensão que os educandos -não 
importa quem sejam - estão tendo de sua própria realidade. Impor a eles 
a nossa compreensão em nome de sua libertação é aceitar soluções 
autoritárias como caminhos de liberdade (FREIRE, 1889, p. 17). 
 
Para que o processo de ensino e aprendizagem seja produtivo, os 
educadores precisam atuar com respeito, ter o cuidado de perceber as necessidades 
dos alunos e não impor seus métodos nem níveis de compreensão. Não podem fazer 
do ato de aprender um ato burocrático, que siga cegamente um padrão curricular ou 
normas de ensino. 
Logo, aquilo que cada educando já sabe de seu mundo proporcionará 
sua alfabetização, possibilitando ao aluno ser criativo em sua construção do 
conhecimento. O educando deve ser crítico, democrático, realizando suas escolhas 
como sujeito de direito, por meio de sua leitura de mundo e da criação das palavras 
com o auxílio das palavras geradoras, grávidas do mundo de criatividades e novas 
possibilidades: 
 
Do ponto de vista crítico e democrático como ficou mais ou menos claro 
nas análises anteriores, o alfabetizando, e não o analfabeto se insere 
num processo criador, de que ele é também sujeito. Desde o começo, 
na prática democrática e crítica, leitura do mundo e a leitura da palavra 
estão dinamicamente juntas. O comando da leitura e da escrita se dá a 
partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos 
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alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à 
experiência do educador (FREIRE, 1889, p. 18). 
 
No processo de alfabetização o educando realiza o papel principal, ele 
se insere no mundo, ele procura os temas significativos e ele permite que o educador 
seja democrático, quando exige respeito, oportunidade e direito a recriar os temas 
aprendidos. 
Evidentemente, o educando, após o envolvimento e esforços realizados 
por ele juntamente com seu educador, criará em si e nos demais envolvidos a ação 
criadora de novas palavras, cada qual com seu significado intrínseco. O educando 
desvendará o significado das palavras e a importância na sua vida. O sujeito 
transformador faz do ato de conhecer um ato de libertação, que lhe trará outra forma de 
ver sua própria vida e, consequentemente, seu contexto social e sua participação nele 
 
Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma 
autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra, palavra doada 
pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente 
oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito mais do que 
desvelavam a realidade, agora, pelo contrário, a alfabetização como ato 
de conhecimento, como ato criador e como ato político é um esforço de 
leitura do mundo e da palavra (FREIRE, 1889, p.19). 
 
Freire destaca que a alfabetização e o autoritarismo são opostos. 
Aprender a ler é aprender a desvelar o mundo, compreender seu papel social, 
conscientizar-se e se tornar um cidadão produtivo, político e comprometido. É 
compreender que o mundo é um mundo político. 
 
 
3.3 A IMPORTÂNCIA DAS BIBLIOTECAS POPULARES 
 
 
43 
 
Após todo o processo de alfabetização, aprendizagem e compreensão, 
também por meio do auxílio dos educadores, os educandos estarão aptos a 
escreverem seus próprios textos, formando, assim, suas próprias palavras e seus 
significados. Com sua linguagem e, a partir, daí poderão formar sua particular 
biblioteca, com suas próprias escritas. Tornando relevante a presença da biblioteca 
popular nos diversos contextos de cada comunidade 
 
Se antes raramente os grupos populares eram estimulados a escrever 
seus textos, agora é fundamental fazê-lo, desde o começo mesmo da 
alfabetização para que, na pós-alfabetização, se vá tentando a formação 
do que poderá vir a ser uma pequena biblioteca popular, com inclusão 
de páginas escritas pelos próprios educandos (FREIRE, 1889, p. 19). 
 
A importância da produção textual é destacada nesta citação de tal 
maneira que o autor deseja que todos os alfabetizados frequentem bibliotecas 
populares, para que tenham acesso a cultura científica e ampla e não parem de 
crescer. Não só é necessária a contínua e constante leitura, mas também o início da 
produção de pequenos textos. Posteriormente à produção de textos, Freire destaca a 
importância de ir aumentando a biblioteca com textos dos próprios sujeitos 
alfabetizados. 
A presença de uma biblioteca popular é importante, ela se torna o 
centro cultural no local onde estará inserida, não é simplesmente um local para se 
despejarem os livros criados ou recriados pelos educandos já alfabetizados. A função 
das bibliotecas é orientar os que virão posteriormente para esse processo de 
alfabetização consciente e democrático. Por isso é necessário valorizar a leitura de 
mundo, a leitura dos contextos sociais de cada educando; valorizando suas produções 
e ações enquanto educando, sejam elas individuais ou coletivas: 
 
Portanto da relação entre “leitura” do mundo e leitura da palavra, a 
biblioteca popular, como centro cultural e não como um depósito 
silencioso de livros, é vista como fator fundamental para o 
aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto 
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em relação com o contexto. Daí a necessidade que tem uma biblioteca 
popular centrada nesta linha de estimular a criação de horas de trabalho 
em grupo, em que se façam verdadeiros seminários de leitura, ora 
buscando o adentramento crítico no texto, procurando apreender a sua 
significação mais profunda, ora propondo aos leitores uma experiência 
estética, de que a linguagem popular é intensamente rica (FREIRE, 
1889, p. 20). 
 
Os livros não são para serem repetidos, nem memorizados. Eles devem 
criar em nós novas experiências, despertar nossas qualidades, ajudar-nos a crescer. O 
livro é o alimento da alma, por isso uma biblioteca não pode faltar em toda comunidade. 
Nessa elaboração e construção dos acervos da biblioteca também 
haverá uma intenção política, voltada aos menos favorecidos. Nada poderá ser 
realizado por meio da neutralidade, o povo fala a partir de suas vivências, de sua 
posição econômica, dos locais onde moram, de sua situação social e das possibilidades 
que lhes são negadas a cada dia. As experiências escritas comentam sobre a luta, a 
busca de transformação, o aprender para decidir e conquistar, o romper com a 
dominação da elite, não esperando daqueles