Buscar

Aula 03.temp.doc

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DISCIPLINA: LITERATURA BRASILEIRA II
Conteudistas: Luiz Fernando Medeiros de Carvalho e Marcélia Guimarães 
Paiva
Aula 3 - Romantismo e liberdade em Castro Alves
Meta
Apresentar uma reflexão a respeito da poesia romântica brasileira condoreira a partir 
da interpretação de um poema de Castro Alves.
Objetivos:
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Contextualizar a poesia de Castro Alves na sociedade brasileira do século XIX;
2. avaliar a importância de Castro Alves na poesia política;
3. refletir sobre a importância da questão da liberdade e da justiça social – tema da 
poesia de Castro Alves – na literatura e na sociedade brasileiras atuais.
1. INTRODUÇÃO
O Brasil do século XIX conheceu a instabilidade política com a disputa de 
liberais e conservadores pelo poder após a abdicação ao trono de Pedro II. A 
economia, ancorada na produção escravista e exportadora, recebia pressão do 
mundo capitalista pela abolição do trabalho escravo. A população brasileira livre 
também pressionava para que houvesse valorização do trabalho e parcelas mais 
liberais da sociedade engajavam-se pela fim da escravidão, influenciadas por 
valores europeus. Pode-se observar no Brasil reflexos da Revolução Industrial e da 
criação do trabalho livre, que foram determinantes de uma lógica econômica com 
interesse pelo aumento, tanto do número de consumidores como da mão de obra 
disponível. 
Havia uma crise do Brasil puramente rural ao passo que surgia uma 
sociedade urbana. Com o fim do tráfico negreiro em 1850, o investimento do capital 
é diversificado e direcionado às atividades urbanas. Ao fim da guerra do Paraguai, 
aumentaram os questionamentos a respeito da escravidão, visto que negros 
alforriados formavam o contingente do exército brasileiro. Em paralelo, as ideias 
republicanas se disseminavam. 
Mas a história da abolição da escravidão caminhou muito devagar no Brasil. 
Atitudes para retardar seu fim foram tomadas, como a Lei do Ventre Livre, de 1871, 
2
e a Lei dos Sexagenários, de 1885. Por fim, foi assinada a Lei Áurea, já com a 
imigração recebendo incentivos governamentais. 
É nessa sociedade profundamente desigual e injusta que se desenvolve o 
Romantismo na literatura brasileira com a preocupação de valorizar uma cultura que 
se diferenciasse da metrópole e destacasse as características da ex-colônia. É 
também no século XIX que aparece um público leitor no Brasil. Este fato contribuiu 
para a criação do caráter sistêmico da literatura brasileira e para o crescimento da 
cultura urbana. 
O Romantismo é classificado em três fases, especialmente, na poesia 
romântica a partir de 1836, ano de publicação da primeira obra considerada do 
Romantismo brasileiro, Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. 
A primeira fase é a nacionalista, indianista e religiosa; a segunda valoriza a morte, o 
pessimismo e tem uma estética macabra.
Devido à educação de caráter europeu dada aos jovens de famílias mais 
abastadas, a produção literária acompanhava as respostas que a “[...] inteligência 
europeia dava a seus conflitos” (BOSI, 2006, p. 92). Essa literatura aspirava fundar, 
como na obra de Gonçalves Dias e José Alencar, uma nobreza brasileira em um 
passado mítico. Nesse esquema não cabia a figura do escravo ou do negro. Mas, na 
segunda metade do século XIX, as “nostalgias aristocráticas” já não têm função na 
dinâmica social, quando os ideais de progresso das “classes médias avançadas” se 
adensam, conforme escreve Alfredo Bosi (2006, p. 93). É nessa época que se 
desenvolve a terceira fase do Romantismo – a do grupo condoreiro –, que cria uma 
poesia comprometida com as lutas sociais e políticas. Em meio aos movimentos 
abolicionista e republicano, surge o poeta como porta-voz das novas aspirações 
sociopolíticas da nascente sociedade democrática. É nesse grupo que se encontra 
Castro Alves, poeta baiano nascido em 1847 e morto em 1871. 
3
Figura 3.1: Fotografia de Castro Alves.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Castro_Alves.jpg
A poesia de Castro Alves tem um forte cunho social, mas é também épica, 
erótica e lírica. Suas descrições da natureza sempre exuberante, como convém à 
estética romântica, são acompanhadas por autêntica solidariedade aos mais fracos 
socialmente. Seu canto a favor da libertação dos escravos resulta de um 
sentimento feito de “[...] imagens grandiosas que tomam à natureza, à divindade, à 
história personalizada o material para metáforas e comparações” (BOSI, 2006, p. 
121).
Castro Alves publicou em vida apenas Espumas flutuantes. Sua obra é 
grande e de temas variados. Também publicava em jornais e declamava suas obras 
em lugares públicos, saraus e sacadas. 
Dois dos poemas mais famosos de Castro Alves, “O navio negreiro” e “Vozes 
d’África”, são exemplos dessa poesia para ser ouvida. Ambos foram compostos em 
1868, bem depois do último desembarque clandestino de escravos, em 1855, no 
Brasil. Assim, são “fragmentos épicos” e não “poesia política didática, de intenção 
circunstancial imediata” (ZAGURY, 1971, p. 39). Os poemas foram publicados em 
1883, no livro Os escravos, inteiramente inseridos na campanha abolicionista.
A respeito dos poemas “Vozes d’África” e “O navio negreiro”, Bosi (1996, p. 
249), comenta que “O protesto e a denúncia expressos nos dois poemas são reais e 
4
vividos, e a sua eloquência mana da mais pura indignação”. A seguir, veremos em 
“O navio negreiro” como Castro Alves utiliza o texto para denunciar a escravidão. 
BOXE DE CURIOSIDADE
Antes de continuarmos, veja um exemplo da popularidade de Castro Alves: 
seu nome já foi uma marca de cigarros.
Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=21611
5
FIM DO BOXE DE CURIOSIDADE
2. O POEMA “O NAVIO NEGREIRO”
O poema é organizado em seis partes. Como tem um ritmo musical, pode-se 
considerar que são seis cantos nos quais o poeta muda de tema e de ritmo, 
determinado pela posição das sílabas tônicas e pelo número de sílabas nos versos. 
A primeira parte é constituída por nove quadras de versos decassílabos. Esse 
detalhe dá um caráter popular como se o poeta quisesse que o leitor se entregasse 
descuidadamente à descrição de uma natureza exuberante e alegre, na qual luar e 
ondas brincam como crianças. Poeta e leitor têm uma visão distanciada, 
panorâmica, ampla, como indicam as reticências. A descrição é de uma cena 
sagrada e harmoniosa ao ponto de ser possível a fusão das figuras do mar e do 
firmamento:
‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar – dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam 
Como turba de infantes inquieta.
‘Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro... (ALVES, 2013, p. 60)
 
Bosi (2006, p. 123) chama a atenção para a preferência de Castro Alves por 
aspectos da natureza que, como nessas estrofes, dão ideia de imensidade e 
infinitude nos poemas. No início de “O navio negreiro”, há uma cena grandiosa 
contendo movimentos leves e orquestrados. O navio do tipo brigue que aparece é 
rápido, como um pássaro ou um corcel.
Depois de usar a primeira pessoa do plural para mostrar-se plenamente 
identificado com o objeto do poema e envolver o leitor com o intuito de persuadi-lo a 
abraçar uma causa, na sexta estrofe o eu lírico marca a importância de sua 
presença no cenário. Daí para frente, sem desequilibrar a cena, o poeta é o sujeitofeliz que se dirige aos marinheiros para beber a “selvagem, livre poesia” e é 
responsável pela narração ao leitor. A voz no poema é sempre a do poeta. É ele 
quem se dirige ao navio, aos marujos, aos elementos da natureza, a Deus e a si 
mesmo. 
6
É nessa primeira parte que aparece o poeta romântico, assim descrito por 
Eliane Zagury (1971, p. 14): “[...] ar distante, quase mediúnico, semblante 
melancólico; súbito êxtase e palavras de fogo para revelar o mundo e o homem, face 
iluminada, momento de pública e coletiva transcendência”. 
Para surpresa do leitor, no poema “O navio negreiro”, o eu lírico afirma estar 
aterrorizado na penúltima estrofe da primeira parte. Depois de uma longuíssima 
reticência, estão suspensas a descrição da natureza e a invocação dos marinheiros. 
O eu lírico também está surpreso e pede ajuda àquele que está acima de todos, 
capaz de ver de longe e através do véu que engana, o poeta condor:
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar – doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas. (ALVES, 2013, p. 62)
Sobrepondo-se ao eu lírico atemorizado, surge o poeta como um ser 
mitológico, poderoso, monumental como a natureza, qualificado como “albatroz”, 
“águia”, “Leviathan”. Ao dizer que o pássaro dorme “entre as gazas” das nuvens, o 
poeta parece se comparar ao sol, isolando-se. No entanto, tem o propósito de 
aproximar-se cada vez mais da cena, como se pode perceber nas partes seguintes.
ATIVIDADE 2 (Atende ao objetivo 1)
Vamos nos deter mais nessa figura do albatroz. Leia o poema “L’albatros” de 
Charles Baudelaire, publicado em 1857, e sua tradução:
L'albatros
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.
A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.
7
Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid!
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait!
Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.
Fonte: BAUDELAIRE, Charles. Les fleurs du mal. In: BAUDELAIRE, Charles. 
Oeuvres complètes. Paris: Robert Laffond, 1980.
O albatroz
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado. 
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo, 
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impedem-no de andar.
Fonte: BAUDELAIRE, Charles. O albatroz. Tradução de Guilherme de Almeida. In: 
MAGALHÃES JÚNIOR, R. Antologia de poetas franceses do século XV ao século 
XX. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1950.
Observe o que há de comum e diferente entre as imagens do albatroz nos 
dois poemas “O albatroz” e “O navio negreiro” e redija um texto a respeito.
DEIXAR 15 LINHAS
Resposta comentada: 
8
Espera-se que o aluno destaque, a partir da leitura dos dois poemas, a respeito da 
figura do albatroz: 1) representa o poeta; 2) é a imagem de um ser majestoso; 3) 
está em tensão com a figura dos homens do navio; 4) representa o poeta em uma 
missão de beleza ou justiça, em “O navio negreiro”, conforme escreve Antonio 
Candido no livro Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880.
A respeito dos dois poemas, espera-se que o aluno destaque que: 1) a 
presença do mar sugere imensidade, profundidade, abismo; 2) enquanto “O 
albatroz” rompe com o mito do poeta com aura, “O navio negreiro” ressalta o lugar 
elevado do poeta; 3) os poemas são criação de dois poetas contemporâneos; mas 
enquanto Castro Alves é considerado um autor romântico, Charles Baudelaire é 
considerado um dos precursores do Simbolismo e fundador da tradição moderna em 
poesia.
FIM DA ATIVIDADE
Na parte II do poema “O navio negreiro”, o eu lírico interpela os marinheiros 
do navio e os descreve referindo-se às glórias de cada nação de sua origem. Além 
de possuir nobreza, os marinheiros são amantes da poesia, cantam como 
personagens que vêm à frente do palco. Sua presença valoriza a cena e denota uma 
comunhão entre a natureza e os seres humanos.
A terceira parte é constituída por apenas uma estrofe na qual o poeta incita o 
albatroz a aproximar-se mais:
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! 
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano 
Como o teu mergulhar no brigue voador! 
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! 
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! (ALVES, 2013, 
p. 64)
A surpresa do eu lírico torna-se maior. Ele sente necessidade de aproximar-
se mais devido à sua natureza humana. Em “O navio negreiro”, Casto Alves 
mostra como se afasta, em sua obra, dos ideais do condoreirismo devido ao 
reconhecimento de sua humanidade que leva o albatroz ao tombadilho. No entanto, 
reforça a importância da influência de Victor Hugo em sua obra com o uso de versos 
alexandrinos franceses, ou seja, versos de doze sílabas com acento na sexta e na 
décima segunda sílabas. 
9
O uso do “eu” dá ao poeta o status de testemunha por excelência da 
verdadeira cena até então não percebida. Nessa estrofe percebe-se a ‘missão do 
vate’ como conceitua Antonio Candido (2007, p. 344):
A contribuição típica do Romantismo para a caracterização literária do 
escritor é o conceito de missão. Os poetas se sentiram sempre, mais numas 
fases que noutras, portadores de verdades ou sentimentos superiores aos 
dos outros homens; daí o furor poético, a inspiração divina, o transe, 
alegados como fonte de poesia. [...] O poeta romântico não apenas retoma 
em grande estilo as explicações transcendentes do mecanismo da criação, 
como lhes acrescenta a ideia de que a sua atividade corresponde a uma 
missão de beleza, ou de justiça, graças à qual participa duma certa 
categoria de divindade. Missão puramente espiritual, para uns, missão 
social, para outros – para todos, a nítida representação de um destino 
superior, regido por uma vocação superior. É o bardo, o profeta, o guia.
Pousada no navio, a “águia do oceano” denuncia que não se trata de um jogo, 
de uma brincadeira agradável entre elementos naturais, mas de uma cena “infame e 
vil” ao som de um “canto funeral”. Imagine-se a surpresa da plateia ou do leitor. De 
início, apresenta-se uma natureza pujante que se revela “[...] pano de fundo de 
cenas que a mancham” (BOSI, 1996, p. 247) como descrito na parte IV do poema:
Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar... (ALVES, 2013, p. 64)
Esse contrasteentre as imagens agradáveis e a cena real remete ao 
contraste entre a situação do país e o mundo civilizado (BOSI, 1996, p. 247). 
Entretanto, o poeta deu pistas de que havia algo por trás da natureza harmoniosa 
em que estão gloriosos marujos ou, do mesmo modo, de que havia um outro poema 
por atrás do lido. É interessante notar o uso de palavras e expressões que dão 
uma sensação de desconforto ou dificuldade, nas estrofes da primeira parte, como 
“turba”, “abraço insano”, “quente arfar”, “saara”, “canto ardente”, “procela”, “pélagos 
profundos”, “mar que ruge”.
A parte IV do poema “O navio negreiro” mostra um movimento frenético, mas 
orquestrado como o movimento da natureza descrito no início do poema. Esse 
frenesi é alimentado pelo uso de dois decassílabos e um hexassílabo 
alternadamente nas estrofes. A descrição da cena dos homens dançando é 
carregada de sensações visuais fortes, com a alusão às cores vermelha e preta, e 
auditivas, com o uso dos verbos tinir e estalar e do adjetivo “estridente”. O mesmo 
se dá na estrofe seguinte dedicada às mulheres na qual as referências ao sangue e 
10
às cores se repetem. Há um tom fantástico no movimento, com um “turbilhão de 
espectros” e uma “ronda fantástica”:
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais... (ALVES, 2013, p. 64)
O movimento dos personagens torna-se o movimento da serpente, de 
maneira ascendente para abarcar todo o mundo: homens, mulheres, crianças, 
jovens e velhos. A parte IV é sumarizada por sua sexta estrofe. Repetem-se as 
referências ao inferno e à serpente:
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!... (ALVES, 2013, p. 65)
A imagem inicial suavizada do inferno como um “sonho dantesco” é 
substituída por “Satanás” em um “[...] fecho retórico grandiloquente que permite, por 
contraste, a apóstrofe famosa, seguida imediatamente da animização da natureza – 
panteísta ou não, não vem ao caso” (ZAGURY, 1971, p. 43) que ocorre na parte V:
Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?... 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! (ALVES, 2013, p. 65-66)
Nessa primeira estrofe, o poeta provoca Deus, mas também o público e a 
natureza. Ao evocar Deus, o poeta não tem intenção religiosa, mas não é pura 
retórica, segundo o entendimento de Zagury (1971). Essa e a outra apóstrofe 
famosa do poema “Vozes d’África” (“Deus! ó Deus! onde estás que não 
respondes?”) “[...] fazem parte do megalo-mundo que o poeta cria: a quem se irá 
dirigir um continente que se personifica? Aos homens – átomos de si próprio?” 
(ZAGURY, 1971, p. 39-40).
No poema, o deus convocado deveria solidarizar-se com os desgraçados, 
mas é o eu lírico que terá essa atitude ao responder à pergunta, na estrofe 
seguinte, dirigida ao poeta condor. São destacadas suas qualidades – severidade, 
11
liberdade e audácia –, que estão de acordo com a ideia citada de poeta romântico 
expressada por Candido (2007). O eu lírico se põe como porta-voz desses 
desgraçados, porquanto nem Deus nem a natureza ouvem os gemidos. O poeta 
convoca a si mesmo para observar mais detidamente os homens e mulheres e faz 
uma descrição de outra natureza majestosa e hostil na qual um deserto continua o 
outro. Em paralelo às qualidades do poeta condor, são ressaltadas a pureza, a 
ousadia e a coragem dos homens e a beleza, a juventude e a inocência das 
mulheres. 
Mas um destino cruel é destinado às mulheres tão desgraçadas quanto o 
personagem bíblico Agar. Ao aproximar a figura das mulheres à figura de Agar, 
Castro Alves dá uma origem bíblica ao povo africano. E, mais: tendo uma mãe 
escrava, esse povo está condenado à danação hereditária:
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael. (ALVES, 2013, p. 66)
No Gênesis, Agar é a serva egípcia de Sara, esposa de Abraão. Agar gerou 
um herdeiro para Abraão por determinação de Sara que era estéril. Na nova 
situação, Sara foi humilhada por Agar. No entanto, Deus estabelece uma aliança 
com Abraão e lhe promete que essa aliança será perpétua e se estenderá a seu 
filho, e de Sara, e a sua descendência. Posteriormente, Sara teve um filho chamado 
Isaque. O texto bíblico reforça que a aliança divina será feita com o filho de Sara, e 
não com Ismael, o filho de Agar. Ismael caçoava de Isaque, o que irritou Sara. Sara 
disse a Abraão: “Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não 
será herdeiro com Isaque, meu filho” (Gênesis, 21, 10). A seguir, Abraão expulsou 
Agar e o menino para o deserto. Ao acabar a água de seu odre, a mãe chora e seu 
pranto comove Deus que os salva. 
Além de escrava, Agar é a mulher expulsa duas vezes de sua comunidade. 
Quando são cortados seus laços com a família de Abraão e Sara, o objetivo não é 
livrá-la da escravidão. Agar e Ismael tornaram-se apátridas, renegados. Ismael é o 
primogênito sacrificado realmente para que haja uma aliança. Seu sacrifício 
12
antecede o sacrifício simbólico do primogênito Isaque com quem Deus faria a 
verdadeira aliança. Os dois filhos são como gêmeos: um deve ser morto para que o 
outro tenha vida eterna. 
BOXE DE CURIOSIDADE
Compare as figuras de Agar e de Sara na tela do pintor Julius Schnorr von 
Carolsfeld (1794–1872) cujo tema é o momento em que Abraão despede-se de Agar 
e seu filho.
Disponível em:
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6b/Schnorr_von_Carolsfeld_
Bibel_in_Bildern_1860_027.png/737px-
Schnorr_von_Carolsfeld_Bibel_in_Bildern_1860_027.png
13
FIM DO BOXE DE CURIOSIDADE
Assim são as mulheres do poema “O navio negreiro”: sedentas, 
excomungadas, eliminadas quando não têm mais utilidade. Seus filhos são 
deserdados não por uma lei, mas pelo próprio pai em vida. O eu lírico nomeia todos 
esses filhos como “Ismael” ao enfatizar que, de modo diferente de Agar, as mulheres 
do poema são incapazes de chorar. Como Ismael, seus filhos são escravos e não 
partícipes da aliança entre Deus e os filhos da mulher livre, Sara.
Ainda há uma reiteração da ideia do destino do qual não se escapa quando, 
na estrofe seguinte, o poema faz menção ao desamparo de crianças e jovens 
expostos aos caprichos de uma caravana. 
O movimento entre ontem e hoje na descrição do espaço revela uma inversão 
em relação ao espaço descrito no início do poema e aumenta a estridência do 
contraste:
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...(ALVES, 2013, p. 68-69)
A estridência não é só do poema, mas também do poeta. Essa é uma arma 
para conquistar a plateia. Em um jogo de ironia com essa plateia, o eu lírico salienta 
que aqueles que dançam zombam da morte. Essa “zombaria” levao poeta a duvidar 
de sua sanidade, perguntando se é ele que delira na estrofe seguinte. Novamente é 
reiterado o desafio a Deus e à natureza, coniventes com essa insanidade. 
O tom de surpresa e sofrimento do eu lírico aumenta a cada verso até chegar 
à sexta parte em que ele assume que a solução deve ser política. A pátria, tema caro 
aos românticos, não aparece louvada, mas desafiada numa atitude reivindicatória, 
igualmente uma característica do Romantismo. A nação brasileira é questionada 
tendo em vista o progresso que teria representado o sucesso na guerra do Paraguai. 
Em uma provocação direta, o eu lírico entende que as nações devem fazer 
pressão política pela Abolição, e a República, aludida pela evocação ao Patriarca da 
Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, será a solução final. O poeta 
14
não é um dos heróis dessa nova situação. Sua função é questionar o mito da 
América como o paraíso da liberdade (BOSI, 1996, p. 246). Também é aquele que 
chora em solidariedade à bandeira perdida em uma situação contraditória: a 
bandeira “encerra” – traz em si ou termina com – as “promessas divinas da 
esperança”. 
“O navio negreiro” é todo feito dessas imagens paradoxais, permanentemente 
em choque. A partir do momento em que o poeta se aproxima do navio, o poema 
passa a utilizar um vocabulário igual ou próximo ao das primeira e segunda partes 
em um sentido antitético de imagens contrastando. Há oposição entre o veleiro que 
voa como as andorinhas e os acorrentados que “voam mais e mais” ou “as sombras 
voam”; entre o canto da natureza e dos marujos e “Outro [...] cantando, geme e ri!”; 
entre a imagem dos marinheiros como crianças acalentadas e “Magras crianças” 
com a boca regada pelo sangue das mães; entre “Saudosa bandeira acena” e 
“Adeus, ó choça do monte” ou “impudente na gávea tripudia”. 
O azul e o dourado sobressaem na primeira parte enquanto se destacam as 
referências ao sangue e ao vermelho na parte IV. Existe um paralelo entre as 
imagens de turba em “turba de infantes inquieta” e turba que ri e “excita a fúria do 
algoz”, e entre as imagens da orquestra, cujos músicos rugem ou assobiam, e a 
orquestra que ri, “irônica, estridente”. 
O poeta também faz uma interessante aproximação entre a representação do 
mar com a do deserto: no início, o mar é um saara e, depois, um “oceano de pó”. 
Nas duas metáforas, a imensidão e a hostilidade do espaço são destacadas. Entre 
uma e outra característica espacial, há a atuação do vate que denuncia que uma 
imagem é reflexo da outra.
A esterilidade do deserto estende-se ao cosmos onde Deus e a natureza não 
respondem como em “Vozes d’África” (BOSI, 1996, p. 264). O poeta também 
desloca a imagem bíblica do deserto para o oceano em que acontece a travessia:
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer. (ALVES, 2013, p. 67)
15
O futuro são “Desertos... desertos só...”. A danação é total. A travessia não 
significa chegada à terra prometida, mas à morte ou ao inferno, nas figuras da 
serpente e de Satanás. O poema refere-se ao destino de amaldiçoados pelo pecado 
original que tira dos personagens a esperança e a liberdade (BOSI, 1996, p. 264). 
A imagem do deserto também remete ao processo de despovoamento do 
continente africano. O poema trata do aniquilamento e da não existência de um povo 
que apenas o vate é capaz de enxergar. 
A reiteração das alusões ao deserto, ao inferno e à serpente tem um paralelo 
no poema “Vozes d’África”. Em “O navio negreiro” também existe um tempo mítico 
como no outro poema. Segundo Bosi (1996, p. 259), em “Vozes d’África” não há 
possibilidade de salvação, pois o tempo histórico não pode penetrar no tempo 
mítico. No entanto, em “O navio negreiro”, Castro Alves aponta a instituição da 
República não como salvação do povo africano, mas, pelo menos, como uma 
medida para dar fim à escravidão.
CONCLUSÃO
Castro Alves ousou tocar em uma situação social iníqua que já não era 
tolerada por muitos na sociedade que se tornava mais liberal e democrática. No 
entanto, a confiança na República expressa no poema “O navio negreiro” mostrou-
se um engodo. As consequências da escravidão ainda hoje estão presentes na 
sociedade brasileira. 
ATIVIDADE FINAL 
(Atende aos objetivos 1, 2 e 3)
1. Castro Alves morreu antes de ver o Treze de Maio. Segundo Alfredo Bosi (1996, 
p. 266), “[...] no dia seguinte à Lei Áurea, os escravos foram lançados à própria 
sorte”. 
Comente uma das obras de autores diferentes de Castro Alves citadas no texto 
intitulado “Sob o signo de Cam”, ou outra do mesmo período, confrontando com a 
esperança expressa na última estrofe de “O navio negreiro”.
DEIXAR 20 LINHAS
16
2. Leia atentamente o poema “África” do poeta moçambicano José Craveirinha 
publicado no livro Xigubo, em 1964:
África
Em meus lábios grossos fermenta
a farinha do sarcasmo que coloniza minha Mãe África
e meus ouvidos não levam ao coração seco
misturada com o sal dos pensamentos
a sintaxe anglo-latina de novas palavras.
Amam-me com a única verdade dos seus evangelhos
a mística das suas missangas e da sua pólvora
a lógica das suas rajadas de metralhadora
e enchem-me de sons que não sinto
das canções das suas terras
que não conheço.
E dão-me
a única permitida grandeza dos seus heróis
a glória dos seus monumentos de pedra
a sedução dos seus pornográficos Rols-Royce
e a dádiva quotidiana das suas casas de passe.
Ajoelham-me aos pés dos seus deuses de cabelos lisos
e na minha boca diluem o abstracto
sabor da carne de hóstias em milionésimas
circunferências hipóteses católicas de pão.
E em vez dos meus amuletos de garras de leopardo
vendem-me a sua desinfectante benção
a vergonha de uma certidão de filho de pai incógnito
uma educativa sessão de “strip-tease” e meio litro
de vinho tinto com graduação de álcool de branco
exacta só para negro
um gramofone de magaíza
um filme de heróis de carabina ao vencer traiçoeiros
selvagens armados de penas e flechas
e o ósculo das suas balas e dos seus gases lacrimogéneos
civiliza o mau casto impudor africano.
Efígies de Cristo suspendem ao meu pescoço
em rodelas de latão em vez dos meus autênticos
mutovanas da chuva e da fecundidade das virgens
do ciúme e da colheita de amendoim novo.
E aprendo que os homens que inventaram
a confortável cadeira eléctrica
17
a técnica de Buchenwald e as bombas V2
acenderam fogos de artifício nas pupilas
de ex-meninos vivos de Varsóvia
criaram Al Capone, Hollywood, Harlem
a seita Ku-Klux-Klan, Cato Mannor e Sharpeville
e emprenharam o pássaro que fez o choco
sobre o ninhos mornos de Hiroshima e Nagasaki
conheciam o segredo das parábolas de Charlie Chaplin
leem Platão, Marx, Gandhi, Einstein e Jean-Paul Sartre
e sabem que Garcia Lorca não morreu mas foi assassinado
são os filhos dos santos que descobriram a Inquisição
perverteram de labaredas a crucificada nudez
da sua Joana D’Arc e agora vêm
arar os meus campos com charruas “made in Germany”
mas já não ouvem a subtil voz das árvores
nos ouvidos surdos do espasmo das turbinas
não leem nos meus livros de nuvens
o sinal das cheias e das secas
e nos seus olhos ofuscados pelos clarões metalúrgicos
extinguiu-se a eloquente epidérmica beleza de todas
as cores das flores do universo
e já não entendem o gorjeio romântico das aves de casta
instintos de asas em bando nas pistas do éter
infalíveis e simultâneos bicos trespassando sôfregosa infinita côdea impalpável de um céu que não existe.
E no colo macio das ondas não adivinham os vermelhos
sulcos das quilhas negreiras e não sentem
como eu sinto o prenúncio mágico sob os transatlânticos
da cólera das catanas de ossos nos batuques do mar.
E no coração deles a grandeza do sentimento
é do tamanho cow-boy do nimbo dos átomos
desfolhados no duplo rodeo aéreo do Japão.
Mas nos verdes caminhos oníricos do nosso desespero
perdoo-lhes a sua bela civilização à custa do sangue
ouro, marfim, améns
e bíceps do meu povo.
E ao som másculo dos tantãs tribais o eros
do meu grito fecunda o húmus dos navios negreiros...
E ergo no equinócio da minha Terra
o moçambicano rubi do mais belo canto xi-ronga
e na insólita brancura dos rins da plena Madrugada
a necessária carícia dos meus dedos selvagens
é a tácita harmonia de azagaias no cio das raças
belas como altivos falos de ouro
erectos no ventre nervoso da noite africana.
Fonte: CRAVEIRINHA, José. Xigubo. 2. ed. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 15-17.
18
Redija um texto comparando os poemas “África” de José Craveirinha e “O 
navio negreiro” de Castro Alves. Cite os versos dos dois poemas para ilustrar seus 
argumentos. 
DEIXAR 20 LINHAS 
Respostas comentadas: 
1. Espera-se que o aluno redija um texto abordando uma das obras de Lima Barreto 
ou Cruz e Sousa citadas no texto (Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações 
do escrivão Isaías Caminha, Os bruzundangas e Clara dos Anjos de Lima Barreto e 
“Emparedado” de Cruz e Sousa) enfocando as críticas presentes às instituições 
como a República e o Exército, aos intelectuais negros, aos ideais republicanos e ao 
nacionalismo ufanista, entre outras. O aluno deve citar trechos desses textos para 
exemplificar a crítica contida no romance ou poema escolhido.
2. Espera-se que o aluno redija um texto citando versos dos poemas e 
contemplando os seguintes pontos: 1) a valorização da natureza e de suas forças 
telúricas nos dois poemas; 2) a visão da África como a de um conjunto, um cosmo. A 
figura da África também é a figura da mãe, da nação que protege e dá vida. Nos dois 
poemas, não há países distinguidos, com exceção do verso “o moçambicano rubi do 
mais belo canto xi-ronga”, do poema “África”, em que o eu lírico valoriza um lugar 
determinado, Moçambique; 3) a atuação política e o julgamento ético feito pelos dois 
poetas expressos nos poemas interpretados; 4) a presença forte e poética do mar: 
caminho da escravidão, segundo o poema de Castro Alves, ou caminho da 
escravidão e da libertação, segundo o poema de José Craveirinha; 5) o vocabulário 
usado nos poemas como expressão da cultura, do tempo e do lugar em que os 
poetas viveram; 6) temática negra como novidade na poesia brasileira do século XIX 
e na poesia que se rebelou contra o domínio português nos países africanos.
19
RESUMO 
Segundo Alfredo Bosi, Castro Alves é um dos maiores poetas brasileiros. Sua 
poesia participante representa o que há de melhor em crítica social além de 
contribuir para a existência de outros gestos abolicionistas.
O poema “O navio negreiro” visto aqui ressalta as qualidades de um poeta 
romântico comprometido com as questões políticas e sociais. O poema também põe 
em relevo o estilo vibrante de Castro Alves, sua maestria em usar as metáforas, 
hipérboles e antíteses e sua opção em usar uma natureza magnificada para reforçar 
sua mensagem. 
A interpretação do poema “Vozes d’África” feita por Alfredo Bosi (1996), no 
texto citado “Sob o signo de Cam”, esmiúça as várias referências feitas pelo poema 
que indicam a erudição do jovem Castro Alves. É interessante ler o texto e 
completar com pesquisa a respeito dessas referências.
REFERÊNCIAS
ALVES, Antônio Frederico de Castro. Os escravos. Disponível em: 
<www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2013.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43. ed. São Paulo: Cultrix, 
2006.
___________. Sob o signo de Cam. In: ___________. Dialética da colonização. 3. 
ed., 1. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 246-272.
CANDIDO, Antonio. O Romantismo como posição do espírito e da sensibilidade. In: 
____________. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880. 
11. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2007. p. 341-352.
CASTRO Alves – retrato falado do poeta. Direção: Silvio Tendler. Intérpretes: Bruno 
Garcia; Tereza Freire; Dira Paes e outros. Roteiro: André Luis de Oliveira, Silvio 
Tendler e Tânia Fusco. Rio de Janeiro: Caliban, 1999. 1 DVD (70 min), fullscreen, 
color.
CRAVEIRINHA, José. Xigubo. 2. ed. Lisboa: Edições 70, 1980. 
SECCO, Carmen Lucia Tindó Ribeiro. Craveirinha e Malangatana: cumplicidade e 
correspondência entre as artes. Scripta, Belo Horizonte, v.6, n.12, p. 350-367, jan. 
2003. 
20
ZAGURY, Eliane. Castro Alves de todos nós. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
	O Brasil do século XIX conheceu a instabilidade política com a disputa de liberais e conservadores pelo poder após a abdicação ao trono de Pedro II. A economia, ancorada na produção escravista e exportadora, recebia pressão do mundo capitalista pela abolição do trabalho escravo. A população brasileira livre também pressionava para que houvesse valorização do trabalho e parcelas mais liberais da sociedade engajavam-se pela fim da escravidão, influenciadas por valores europeus. Pode-se observar no Brasil reflexos da Revolução Industrial e da criação do trabalho livre, que foram determinantes de uma lógica econômica com interesse pelo aumento, tanto do número de consumidores como da mão de obra disponível.
	Havia uma crise do Brasil puramente rural ao passo que surgia uma sociedade urbana. Com o fim do tráfico negreiro em 1850, o investimento do capital é diversificado e direcionado às atividades urbanas. Ao fim da guerra do Paraguai, aumentaram os questionamentos a respeito da escravidão, visto que negros alforriados formavam o contingente do exército brasileiro. Em paralelo, as ideias republicanas se disseminavam.
	Mas a história da abolição da escravidão caminhou muito devagar no Brasil. Atitudes para retardar seu fim foram tomadas, como a Lei do Ventre Livre, de 1871, e a Lei dos Sexagenários, de 1885. Por fim, foi assinada a Lei Áurea, já com a imigração recebendo incentivos governamentais.
	É nessa sociedade profundamente desigual e injusta que se desenvolve o Romantismo na literatura brasileira com a preocupação de valorizar uma cultura que se diferenciasse da metrópole e destacasse as características da ex-colônia. É também no século XIX que aparece um público leitor no Brasil. Este fato contribuiu para a criação do caráter sistêmico da literatura brasileira e para o crescimento da cultura urbana.
	O Romantismo é classificado em três fases, especialmente, na poesia romântica a partir de 1836, ano de publicação da primeira obra considerada do Romantismo brasileiro, Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. A primeira fase é a nacionalista, indianista e religiosa; a segunda valoriza a morte, o pessimismo e tem uma estética macabra.
	þÿ
	Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Castro_Alves.jpg
	A poesia de Castro Alves tem um forte cunho social, mas é também épica, erótica e lírica. Suas descrições da natureza sempre exuberante, como convém à estética romântica, são acompanhadas por autêntica solidariedade aos mais fracos socialmente. Seu canto a favor da libertação dos escravos resulta de um sentimento feito de “[...] imagens grandiosas que tomam à natureza, à divindade, à história personalizada o material para metáforas e comparações” (BOSI, 2006, p. 121).
	2. Leia atentamente o poema “África” do poeta moçambicano José Craveirinha publicado no livro Xigubo, em 1964:
	ALVES, Antônio Frederico de Castro. Os escravos. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.Acesso em: 20 dez. 2013.

Outros materiais