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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL - DESSO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL MARIA DO SOCORRO DAVID DE ANDRADE ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE ÀS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) Natal/RN 2016 1 MARIA DO SOCORRO DAVID DE ANDRADE ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE ÀS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Graduação de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ms. Mônica Maria Calixto de Farias Alves Natal/RN 2016 2 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Andrade, Maria do Socorro David de. Atuação dos assistentes sociais frente às condicionalidades do programa bolsa família no centro de referência de assistência social/ Maria do Socorro David de Andrade. - Natal, RN, 2016. 95f. Orientadora: Profa. Me. Mônica Maria Calixto de Farias Alves. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço social. 3 4 Dedico este trabalho com muito amor e carinho a Deus, que me proporcionou essa oportunidade; aos meus pais, Severina Maria dos Santos Andrade e André David de Andrade (Ambos, In Memorian), às minhas irmãs Luzia David de Andrade, Maria Santana David de Andrade e Andreza David de Andrade e ao meu irmão Orlando David de Andrade. 5 AGRADECIMENTO Ao meu Deus, pelas forças necessárias para enfrentar todos os obstáculos. Agradeço aos meus pais André David de Andrade e Severina Maria dos Santos Andrade (Ambos, In Memorian), que não se encontram presentes fisicamente, mas sei o quanto ficariam felizes por essa vitória. Seus olhos e suas vozes eram sempre cheios de orgulhos em falar para seus amigos e familiares às vitorias de seus filhos. Mesmo com poucos estudos e com poucas condições financeiras sempre deu seu melhor para os seus filhos. As minhas amigas irmãs Daniele, Lécia, Lígia, Pâmela, Jussara e Gabi. As minhas irmãs Luzia, Santana e Andreza e meu irmão Orlando, que são minha família que tanto amo e quero cuidar sempre. A minha família, em especial minha tia Adriana, que dentre todos os valores ensinados, me expôs a fé e ao amor. Ao meu esposo, que mesmo sem entender o que tanto estudo, compreende meu empenho. Aos professores da UFRN, aos profissionais e usuários do campo de estágio e os entrevistados por toda disponibilidade e colaboração. A minha orientadora professora Mônica, que é um anjo que Deus colocou em minha vida. Mesmo eu vivenciado momentos tão difíceis, sempre me compreende. Chorou o meu luto, quando eu não tinha um colo de uma mãe para chorar, e quanto a perca de meu pai, ela estava ali. 6 Mudar é difícil Mas é possível. (PAULO FREIRE, 1970) 7 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise sobre a atuação dos profissionais assistentes sociais frente às condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Elba Valentim da Rocha na cidade de Montanhas, o CRAS Centro e o CRAS Frei Damião na cidade de Nova Cruz, assim como possibilitar uma reflexão acerca das perspectivas dos usuários frente a essa temática. O Programa Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do Brasil, mas para permanecer no grupo as famílias devem cumprir as condicionalidades através das parcerias entre as políticas de saúde, educação e assistência social. Diante da estrutura do PBF, as condicionalidades são alvo de muitos debates, em que o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome enxerga como uma oportunidade das famílias a inserção às diferentes políticas, assim como elevar a qualidade de vida das pessoas. Mas para muitas famílias entrevistadas, as condicionalidades não passam de condições que as mesmas devem cumprir para poder permanecer e não ter seu benefício cancelado. Conforme os profissionais entrevistados, alguns enfatizam o trabalho na perspectiva da linha governamental, mas em algumas falas pode-se verificar que argumentam sobre a importância de um trabalho planejado a partir das necessidades dos usuários. Entende-se que as condicionalidades devem ser uma estratégia positiva para as pessoas, mas para isso, as famílias necessitam se sentirem estimuladas a conhecer a sua própria realidade e seus direitos. O trabalho utilizou-se de alguns momentos para realização das entrevistas e acompanhamento nos grupos dos CRAS em que houve a coleta de dados de forma flexível em que tanto os profissionais quanto os usuários analisaram sua própria conjuntura. Esse trabalho é de grande relevância pessoal, pois possibilita contar um pouco da história pessoal e acadêmica. Palavras-Chave: Assistência Social. Programa Bolsa Família (PBF). Serviço Social. Condicionalidades. 8 ABSTRACT This study aims to conduct analysis of the work of professional social workers face the conditionalities of the Programa Bolsa Família (PBF) in CRAS Elba Valentine da Rocha in the city Montanhas, the center CRAS and the CRAS Frei Damião in the city of Nova Cruz as well as enable a reflection on the perspective of users facing this is sue. The Programa Bolsa Família is Brazil's largest cash transfer program, but to stay in the group families must do the conditionalities through associations between health policy, education and assistance. Given the PBF structure, conditionalities are subject to much discussion, where the Ministério Social and Combate à Fome see it as a family‟s opportunity to enter the various policies and improve the quality of life. But for many families interviewed, conditionalities are only conditions that they must to accomplish in order to stay and not have your canceled benefit. According to professionals interviewed, some empha size the work from the perspective of the government line, but some speeches argue the important of a planned work based on the needs of users. It is unders tood that conditionalities should be a positive strategy for people, but for this, families need to feel encouraged to know their own reality and their rights. It‟s understood that conditionalities should be a positive strategy for the people, but to find it, families need to feel encouraged to know their own reality and their rights. The work was based in a few moments to do interview and accompaniment of the CRAS groups where the data were collected, on a flexible way, in which both professionals and users analyzed their own situation. This study is of great personal significance, because it enable to tell a little personal and academic history. KeyWords: Social Assistence. Programa Bolsa Família (PBF). Social Service. Conditionalities. 9 LISTA DE SIGLAS ASG – Agente de Serviços Gerais BJV – Benefício Variável Vinculado ao Adolescente BPC – Benefício de Prestação Continuada CADUNICO – Cadastro Único para Programas Sociais CF – Constituição Federal CE – Código de Ética CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social CRAS – Centro de Referência de Assistência Social CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social DF – Distrito Federal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS – Instituto Nacional do Seguro Social LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC – Ministério da Educação MS – Ministério da Saúde NOB-AS – Norma Operacional Básica da Assistência Social NOB-RH SUAS – Norma de Operação Básica de Recursos Humanos do Sistema PAIF – Programa de Atenção à Família PBF – Programa Bolsa Família PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PNAS – Programa Nacional de Assistência Social PT – Partido dos Trabalhadores SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social SUAS – Sistema Único de Assistência Social TCC – Trabalho de Conclusão de Curso 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 10 2 ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS .................................................................... 16 2.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS: ESPAÇO DE SOCIALIZAÇÃO DE DIREITOS ........................................... 17 2.2 A IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PARA AS FAMÍLIAS BENEFICIADAS ........................................................................................ 18 2.3 O PERFIL DOS MUNICÍPIOS: NA ESTRUTURA DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS ................................. 36 2.3.1 O Município de Montanhas (RN) ............................................................. 36 2.3.2 O CRAS Elba Valentim da Rocha ........................................................... 37 2.3.3 O Município de Nova Cruz (RN) .............................................................. 42 2.3.4 O CRAS Centro e o CRAS Frei Damião .................................................. 43 3 AS CONDICIONALIDADES DO PBF: UMA AMPLIAÇÃO OU RESTRIÇÃO DE DIREITOS? ................................................................... 47 3.1 A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NOS GRUPOS DO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS: ESPAÇO DE DISCUSSÕES DE DIREITOS .................................................................. 48 3.2 AS ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ..................................................................................................... 54 3.3 AS DIFERENTES PERSPECTIVAS FRENTE ÀS CONDICIONALIDADES DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ............................................................ 59 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 78 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 81 APENDICE .............................................................................................. 84 ANEXO ..................................................................................................... 89 11 1 INTRODUÇÃO A pobreza apresenta-se como um dos perversos problemas a ser enfrentado em nossa sociedade, resultante de uma combinação de fatores sociais, políticos e econômicos. Nesse contexto de desigualdade social, surge no Brasil às políticas públicas de transferência de renda para uma parcela da população, caracterizada em situação de pobreza e vulnerabilidade social. Surgem vários programas de transferência de renda, dentre eles, o maior programa de transferência de Renda da história do Brasil, o Programa Bolsa Família (doravante, PBF), do Governo Federal. O programa é introduzido, segundo a intenção governamental, com o objetivo de enfrentar um grande desafio que é o combate à fome e à miséria, mediando à promoção e à emancipação das famílias mais pobres do Brasil. No entanto, o PBF se apresenta de forma seletista, através da realização de análises sociais e econômicas das famílias como condição para o acesso ao benefício para aquelas que a eles recorrem. O PBF é estruturado através das condicionalidades, as quais permitem que os usuários sejam contemplados por outras políticas, como de Saúde e Educação, além da Assistência Social. As condicionalidades, também, são visualizadas como norma as quais as famílias devem obedecer para permanecer beneficiária do Programa Bolsa Família. O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que tem como tema a atuação dos assistentes sociais frente às condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF), direciona uma discussão para a atuação dos profissionais assistentes sociais frente às condicionalidades do PBF nos CRAS Elba Valentim da Rocha, da cidade de Montanhas (RN) e os CRAS Centro e o CRAS Frei Damião, na cidade de Nova Cruz (RN). O trabalho tem como objetivo geral refletir como acontece a atuação dos profissionais assistentes sociais diante das controvérsias das condicionalidades do Programa Bolsa Família. A partir daí, particularizou-se alguns aspectos como o enfrentamento destes em situações que muitas vezes contradizem os objetivos profissionais. Associada aos objetivos buscou-se analisar a percepção dos usuários através do PBF. 12 Diante da perspectiva de atuação nas condicionalidades do Programa Bolsa Família, a pesquisa apresenta a seguinte questão: como acontecem as atuações das assistentes sociais dos CRAS Elba Valetim da Rocha, da cidade de Montanhas (RN) no CRAS Centro e o CRAS Frei Damião da cidade de Nova Cruz RN nas condicionalidades do PBF? A pesquisa foi desenvolvida no CRAS Elba Valentim da Rocha, na cidade de Montanhas (RN) no CRAS Centro e o no CRAS Frei Damião da cidade de Nova Cruz (RN), tem como metodologia o desenvolvimento de uma pesquisa de caráter exploratório, em que foi realizado entrevistas a 3 (três) assistentes sociais e 4 (quatro) usuários do PBF que estavam com seus benefícios bloqueados, no intuito de compreender, como, tanto os profissionais, quanto os usuários enxergam as condicionalidades do programa. Assim DENCKER (1998, p.156), enfatiza que “os estudos exploratórios compreendem, além do levantamento das fontes secundárias, estudos de casos selecionados e a observação informal” e que a pesquisa pode se dar através de “uma série de técnicas de levantamentos de dados, como questionário”. A coleta dos dados foi construída de forma flexível na tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais pelos entrevistados, assim, oportunizando momentos de diálogos sobre a temática do PBF, pois as realidades dos CRAS assim como do programa são originadas de situações subjetivas que ultrapassam a coleta de dados de forma numérica. Segundo Neto, Gomes e Minayo (1994, p.26) esse processo acontece através de “um momento relacional e prático de fundamental importância exploratório, de confirmação ou refutação de hipóteses e construção de teorias”. Além da entrevista foi necessário realizar um levantamentode dados nos Prontuários do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), assim como nos livros de anotações de visitas além dos planejamentos das profissionais para execução das tarefas dos grupos. Nessa perspectiva, abordam-se algumas categorias que alicerçam as temáticas como: pobreza, desigualdade social, programas de transferências de renda, PBF e as condicionalidades do maior programa do país. Alguns documentos do Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do CFESS assim como os pesquisadores como Sposati (1992), Iamamoto (2007) e Yazbek (2006), deram 13 suporte ao trabalho, conduzindo uma discussão muito importante para entender a estrutura e a efetivação do PBF. A estrutura e a lei que regulamentam o Programa Bolsa Família são algumas das documentações necessárias que o profissional que atua no PBF deve conhecer para construir estratégia coerente com seus conhecimentos e necessidades dos usuários. A atuação do assistente social no início da profissão surge como forma de apaziguar as relações sociais que advinham de conflitos sociais, políticos e, principalmente, econômico. Com a Constituição Federal de 1988 e com a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) de 1993, de fato, contribuiu-se para diferenciar a profissão de Serviço Social, nesse contexto social a profissão busca articulação no intuito da efetivação de direitos. O assistente social deve estar capacitado teoricamente com aprofundamento nas balizas da profissão para assumir atribuições e competências e, assim, realizar funções coerentes com o Código de Ética com a Lei de Regulamentação e o Projeto Ético Político, para assim atuar em quaisquer instituição e serviço. O Centro de Referência de Assistência Social (doravante, CRAS) é uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social responsável pela organização e oferta dos serviços socioassistenciais da Proteção Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que favorece a oferta de serviços e programas nas áreas de vulnerabilidade e risco social. Na instituição CRAS são realizadas diversos atendimentos, nos quais não deve haver violação de direitos. O espaço trabalha com projetos, e vários programas. Mas o PBF é o programa mais solicitado pela população. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) através do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) enfatiza a importância do papel da Política de Assistência Social como caminho e oportunidades para os interesses e direitos dos usuários. As motivações para realização da pesquisa na temática de Assistência Social, com ênfase nas condicionalidades do PBF surgiram em razão das indagações que ocorreram no período do estágio obrigatório, assim como na construção no Projeto de Intervenção. O qual foi realizado com o “Grupo das condicionalidades do PBF” no CRAS Elba Valentim da Rocha na cidade de 14 Montanhas (RN) tendo como intuito analisar e intervir na realidade de mulheres que não se percebiam como sujeitos de direitos. O Projeto de Intervenção tinha como objetivo realizar um trabalho com o Grupo em Descumprimento das Condicionalidades do Programa Bolsa Família do CRAS Elba Valentim da Rocha, na cidade de Montanhas, diante dos encontros no grupo, percebe-se o descontentamento das mulheres em ser rotuladas como pessoas que descumpriram as condicionalidades do programa. A pesquisa tem grande importância acadêmica, pois possibilita o aprofundamento teórico acerca da Política de Assistência Social e uma análise nas condicionalidades do PBF. O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é estruturado em dois capítulos. No primeiro capítulo, é apresentada a atuação dos assistentes sociais na materialização do Serviço Social, realizando uma análise sobre a importância PBF na instituição do CRAS. No último capítulo, aponta-se a caracterização de cada CRAS, uma análise das questões acerca da atuação dos profissionais assistentes sociais nas condicionalidades do Programa Bolsa Família, e aspectos teóricos realizados neste estudo, expressando as indagações e os resultados alcançados referentes à atuação das assistentes sociais no acompanhamento das condicionalidades do PBF. Foram realizados encontros quinzenalmente. O primeiro encontro foi realizado na cidade de Nova Cruz (RN) com as assistentes sociais, em que foi enfatizada a importância da pesquisa, aplicando-se a primeira entrevista. Nesse primeiro momento, abordou-se o histórico das instituições; as principais demandas que chegam aos CRAS; os perfis dos usuários do PBF; o atendimento dos assistentes sociais através do acolhimento, do atendimento individual em grupo; como constrói os planejamentos e estratégias na assistência social do município; qual a percepção dos profissionais e como acontece as Buscas Ativas.1 1 A busca ativa é uma estratégia do Plano Brasil Sem Miséria e significa levar o Estado ao cidadão, sem esperar que as pessoas mais pobres cheguem até o poder público. A Busca Ativa se desdobra em três estratégias: 1)Busca Ativa para inclusão no Cadastro Único: trata-se de localizar as famílias extremamente pobres, incluí-las no cadastro e manter suas informações sempre atualizadas; 2) Busca Ativa para Acessar Benefício: incluir no Bolsa Família, no Bolsa Verde, no fomento a atividades produtivas, no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e no Beneficio de Prestação Continuada todas as famílias que atendem os critérios de elegibilidade; 3)Busca Ativa para Acessar Serviços: nesse caso, o Estado assegura que as famílias extremamente pobres tenham acesso aos serviços sociais básicos de saúde, saneamento, educação, assistência social, trabalho e segurança alimentar e nutricional, entre outros. (mds.gov.br/assuntos/busca-ativa). 15 No segundo momento da pesquisa, realizou-se na cidade de Montanhas (RN), de início, com a assistente social e, posteriormente, com o dialogo com alguns profissionais do PBF, em que os respectivos entrevistados serão nomeados por números, por exemplo, a assistente social da cidade mencionada será classificada por Assistente Social I, a profissional do CRAS Centro, será Assistente Social II e a do CRAS Frei Damião nomeada por Assistente Social III. Como já havia operacionalizado o Projeto de Intervenção no grupo, houve uma abertura maior dos participantes em dialogar sobre o tema da pesquisa. Foram coletados os dados tanto dos usuários quanto da assistente social - sobre o que acham do serviço do PBF; o que mudaria no atendimento da instituição; se os usuários gostam do grupo que participam e se gostariam de permanecerem no grupo por mais tempo. O terceiro encontro efetivou-se no Cadastro do Programa Bolsa Família2 (CADÚNICO). Nesse momento, realizou-se uma conversa individual com dois usuários que estavam com os benefícios bloqueados, sendo questionado o motivo que os levou a procurarem a gestão do PBF; o que achava do PBF; se conheciam as condicionalidades do programa; se já participaram de algum grupo por descumprimento das condicionalidades do PBF. O quarto encontro utilizou-se o questionário realizado anteriormente no CRAS de Montanhas (RN), aplicando-se às assistentes sociais no município de Nova Cruz (RN). No quinto e sexto momento realizou-se uma observação e também participação no grupo “Descumprimento das Condicionalidades do Programa Bolsa Famílias” em ambos os CRAS, no sentido de construir momentos de aproximação com os usuários. No sétimo e oitavo momento realizou-se questionários com as assistentes sociais de Nova Cruz (RN) e Montanhas (RN) buscando coletar informações acerca da atuaçãoprofissional e dos serviços das instituições. O décimo momento, efetuou-se a coleta de dados dos documentos3 da instituição como: Prontuários do SUAS, Livro de Acompanhamento, Livro de Vistas e 2 O Responsável Familiar – RF deve procurar o setor responsável pelo Cadastro Único ou pelo Programa Bolsa Família na cidade em que mora. Se não souber onde fica o local de cadastramento, pode buscar essa orientação no Centro de Referência no Centro de Assistência Social (CRAS) mais próximo de sua casa. Em muitas localidades, o próprio CRAS realiza o cadastramento das famílias. (mds.gov.br; assuntos/cadasro-único) 3 Para executar um bom serviço na instituição CRAS, é necessário conhecer os documentos o MDS utilizados como referencias para construir o GESUAS – Formulário Prontuário SUAS; Tipificação 16 Sistema do Programa Bolsa Família. A coleta desses dados é fundamental para entender quais demandas e a forma de atuação dos profissionais dos CRAS. Espera-se, então, que o presente estudo possa contribuir para a compreensão e análise das condicionalidades do maior programa de transferência de renda que é o Programa Bolsa Família. Nacional dos Serviços Socioassistenciais; NOB/SUAS 2012 – Norma Operacional do Sistema Único da Assistência Social; SUAS e População em Situação de Rua; Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – Orientação Técnicas; Orientação Técnicas para operacionalização dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Orientação Técnicas para os Centros de Referências Especializados de Assistência Social – CREAS; Manual censo CRAS; LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social; Política Nacional da Assistência Social e entre outros documentos. (www.gesuas.com.br) 17 2 ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS Este capítulo objetiva realizar uma discussão sobre os programas de transferência de renda e também sobre as condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) que se tornou um grande mediador no enfrentamento das desigualdades sociais através das políticas sociais no Brasil. O capitulo visa compreender como acontece a participação dos usuários na Política de Assistência Social; como se estrutura o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e como se sucede a atuação dos profissionais assistentes sociais nesses espaços. Recorrerá a documentos como a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a Constituição Federal e outros, assim como a reflexão teórica a partir de autores que abordam a temática como Martins (2009), Yazbek (2006), Iamamoto (2009), dentre outros. Entende-se que a contribuição e implementação das Políticas Sociais são muito importantes na participação dos usuários como sujeitos de direitos que têm a liberdade e autonomia de opinar e refletir sobre a sua realidade para, assim, acontecer um trabalho participativo e democrático. Um profissional consciente de suas competências, que, reconhece o usuário como um sujeito que tem seu espaço na política, compreende que seu trabalho se efetiva quando existe dialogo nas atividades, através da comunicação entre profissionais, usuários e serviços. A instituição CRAS é um local que deve oferecer abertura para a participação dos usuários, por ser espaço que enfatiza a conquista de direitos. Através do CRAS existem muitos programas que constroem junto com as famílias momentos de reflexões sobre diversas temáticas. Nessa direção, será abordado de forma especial o PBF, dando ênfase em sua estrutura e como as famílias beneficiárias participam da execução desse programa que é desenvolvido na instituição do CRAS. Em seguida será relatada a importância do Programa Bolsa Família para as famílias beneficiárias, configurando a questão econômica do país e as construções dos programas de transferências de rendas, com ênfase no PBF. Em seguida será abordado a consolidação da pesquisa, de forma inicial, através da caracterização 18 dos municípios de Montanas (RN) e Nova Cruz (RN) e seus respectivos CRAS – Elba Valentin da Rocha e os CRAS Centro e Frei Damião. 2.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS: ESPAÇO DE SOCIALIZAÇÃO DE DIREITOS O Brasil é um país que ainda vivencia uma profunda desigualdade social, política e econômica. Enquanto muitas pessoas desfrutam de um montante de riqueza, de oportunidades, ainda existem muitas pessoas que sobrevivem com tão pouco. Que são submetidas a várias situações de humilhação, descaso e desrespeito que se expressam em uma profunda pobreza. A pobreza é uma das expressões da questão social que destrói nas pessoas seus direitos à liberdade, à informação, à educação, à saúde, à assistência entre tantos outros direitos que lhes são negados. As consequências dessas expressões são visualizadas por muitas pessoas usuárias do PBF como infindáveis e naturais. Em que sempre existirá uma classe dominante e uma subordinada, que por diversas necessidades precisará ser submetida e, possivelmente, a comprovações vexatórias de suas condições para conquistar o mínimo para sua vida. As expressões da pobreza só irão retrair e inexistir quando os direitos dos indivíduos forem assegurados. Durante os momentos com os usuários e os profissionais surgiram algumas inquietações e questionamentos – o que fazem as pessoas se perceberem em situação de pobreza e desigualdade social e como lidam com essas situações. Diante das conversas percebe-se que muitas pessoas constroem conceitos expressos em uma situação naturalizada, através de vivencias de sua cultura, acredita-se que porque seus pais passam (ou passaram) por essa realidade é normal vivenciarem essas etapas da vida. A pobreza não é um destino, não é falta de competências dos pobres nem tão pouco, preguiça de lutar por condições melhores como ressaltam Jovchelovitch e Werthein (2003, p.29) “a pobreza não pode ser defendida como um padrão de vida: ela é, simultaneamente, a causa e o efeito da sonegação, total ou parcial, dos direitos humanos”. 19 Da mesma forma, Martins (2009, p.14) contribui com sua afirmação: “A pobreza constitui-se em um dos maiores problemas a ser enfrentado em nossa sociedade. É o resultado de uma combinação de fatores socioeconômicos e políticos diversos, sendo, portanto a característica mais marcante de nossa civilização”. Os beneficiários do PBF que se colocam nesses locais de exclusão, não é por gostarem de se sentir inferiores ou pobres, mas a própria sociedade constrói e reproduz um conceito de „habitat‟ para cada classe social. Que a pobreza é expressão e uma consolidação socialmente construída através das relações sociais, assim Yazbek (2006, p. 22 - 23) afirma que: É produto dessas relações que, na sociedade brasileira, produzem a pobreza enquanto tal quer no plano socioeconômico, quer no plano político, constituído múltiplos mecanismos que „fixam‟ os „pobres‟ em seu lugar na sociedade. Diante dos entraves sociais, políticos e econômicos que se expressam através da desigualdade social e da negação de direito que constrangem muitas pessoas, mas, e, ao mesmo tempo despertam seres humanos que se questionam e indagam a sua própria realidade. Não aceitam as condições impostas por um sistema que objetiva ditar e delimita as regras da sociedade. Nesse cenário, surgem os interesses da classe dominante, que detém o poder de persuadir, principalmente, sobre a vidadas pessoas menos abastadas social e economicamente. A efetivação das ações do assistente social surgem com intenção de intervir e realizar as mediações de conflitos, como preparar a grande massa operária para os interesses do capitalismo industrial e conduzir essa população para o sistema sócio – econômico – político da época. Em contrapartida, o trabalhador que não aceitava continuar vivendo em condições de exploração, começa a incomodar o sossego da classe capitalista através das reivindicações em busca dos seus direitos, como por exemplo, melhores condições de vida. Através do contexto de fracasso econômico e crescimento no nível de pauperização da população surge o interesse do governo em construir estratégias como diversos programas, que buscam atender o mínimo das necessidades das pessoas que sempre foram enxergadas como seres inferiores. Assim, diante de muitas reivindicações dos diversos segmentos sociais organizados e representados, o poder público reconhece a Assistência Social, 20 dentro da Seguridade Social, como um direito do cidadão e não mais um favor do Estado ou das entidades filantrópicas. A Constituição Federal de 1988 se consolidou como peça fundamental para a organização e implementação dos direitos e garantias dos cidadãos. Assim os assistentes sociais utilizam o documento como instrumento para identificar a dinâmica do cotidiano social e contribuir para a transformação das condições de vida e de trabalho da população. Afirmando a Constituição Federal de 1988 como um documento muito importante para direcionar a temática dos direitos, Couto (2004, p.16) expressa: “A Política de Assistência Social é concebida como Política Pública no Brasil a partir da Constituição Federal de 1988, compondo, com a Política de Saúde e Previdência Social Brasileira”. É, através da Constituição Federal que os cidadãos se apegam para verem seus direitos assegurados, reivindicados o direito à igualdade. Como cita o artigo 5° “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade” (BRASIL, 1988, p. 5), e, no artigo 6º, que descreve sobre os direitos as diversas áreas que as pessoas necessitam usufruir, como: “educação, a saúde, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção, à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma da constituição”. Neste sentido Mestrine (2005, p. 44) apresenta a profissão de serviço social4 como possibilidade de efetivação dos direitos sociais. Enfatiza também o papel da sociedade na construção e efetivação de seus direitos. “Ampliar a participação da sociedade civil não significa descobrir o Estado e esvaziá-lo das suas competências, mas antes permitir-lhe maior alcance, maior diversidade de atenção”. 4 O Serviço Social como profissão, em sete décadas de existência no Brasil e no mundo, ampliou e vem ampliando o seu raio ocupacional para todos os espaços e recantos onde a questão social explode com repercussões no campo dos direitos, no universo da família, do trabalho e do “não trabalho”, da saúde, a educação, dos/as idosos/as, da criança e dos/as, da criança e dos/as adolescentes, de grupos étnicos que enfrentam a investida avassaladora do preconceito, da expropriação da terra, das questões ambientais resultantes da socialização do ônus do setor produtivo, da discriminação de gênero, raça, etnia, entre outras formas de violação dos direitos (PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2011, P.11) 21 A partir desse marco conjuntural a população passou a ser assegurada por leis que concretizam os direitos que antes não existiam, mesmo diante de muitas conquistas, o dia a dia demonstra que a luta ainda continua. Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuições à seguridade social, e tem por objetivo. I – A proteção à família, a maternidade, á infância, a adolescência e à velhice; II – O amparo a criança e adolescente carente; III – A promoção de sua integração à vida comunitária; V – Garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, p. 34). Mesmo sabendo que o Brasil ainda é um país de muitas desigualdades sociais e elevados índices de pobreza, a política de assistência foi construída para apenas uma parcela de pessoas que são submetidas a um filtro social, chamada também de entrevista social, que delimitam suas condições sociais e políticas, tornando assim, parte de um perfil de população que serão beneficiadas pela Política de Assistência Social. Nesse sentido, Yazbek (2006 p. 54-55) assegura: Historicamente, a assistência social pública é o mais importante mecanismo pelo qual são estendidos aos segmentos mais pauperizados de uma classe serviços e recursos como creches, programas de profissionalização, programa de geração de renda, de moradia, de atendimento os direitos da criança, do adolescente, da maternidade, do idoso, do portador de deficiência, do homem de rua e de muitos outros. A Política de Assistência abarca muitas pessoas para serem inseridas no Cadastro Único (CADÚNICO) e assim avaliadas pelo Ministério Social de Desenvolvimento e Combate à Fome (MDS). Mas, com tantos momentos de constrangimentos que as famílias são submetidas a passar, é necessário que no mínimo existam profissionais comprometidos com a efetivação de direitos. A expansão da política de assistência social vem demandando cada vez mais a inserção de assistentes sociais comprometidos/as com a consolidação do Estado democrático dos direitos, a universalização da seguridade social e das políticas públicas e o fortalecimento de uma intervenção profissional crítica, autônoma, ética e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e com as organizações populares de defesa de direitos. (PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2011, p.3). 22 A política de Assistência Social, assim como as demais políticas é consequência de muitas conquistas e lutas sociais, há necessidade de se integrar com as demais políticas sociais para assim articularem seus serviços e benefícios aos direitos assegurados pelas demais políticas sociais5. A Política de Assistência Social tem um papel fundamental em um país com enormes desigualdades e concentração de riquezas. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) vem reiterar que não se pode permitir o retrocesso, ou seja, que os direitos conquistados e reafirmados na Política de Assistência sejam visualizados como uma afirmação de assistencialismo. Não podemos permitir a consolidação do que vem sendo denominado por alguns autores como „assistencialização das políticas sociais‟, sob o risco de termos um retorno das perspectivas profissionais que foram superadas pela história, pela conjuntura e pela organização política dos/as assistentes sociais. (CFESS, 2011, p. 18). Outro documento, também, que realizou grandes inovações, ao propor o controle da sociedade na formulação, gestão e execução das políticas assistências foi a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), indicando caminhos e oportunidades para os interesses e direitos dos usuários. Mas, esse acesso ao usuário em intervir em sua própria realidade se concretiza, quando se viabiliza o acesso ao direito à informação. Muitas pessoas aindanão são conhecedoras de seus direitos e, principalmente, desse poder de penetrar na própria política e construir com os profissionais e outras pessoas a sua realidade através da Política de Assistência6. 5 Isso significa que a complexificação e diferenciação das necessidades sociais, conforme apontado no SUAS e na PNAS, e que atribui à Assistência Social as funções de proteção básica e especial, com foco de atuação na “matricialidade sóciofamiliar”, não deve restringir a intervenção profissional, sobretudo a do/a assistente social, às abordagens que tratam as necessidades sociais como problemas e responsabilidades individuais e grupais. Isso porque todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a mesma estrutura e histórica na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradias, transporte, distribuição de renda, entre outras formas de expressão da questão social (Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social, 2011, p.7). 6 O Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) é o espaço perfeito para dialogar sobre as realidades do município através dos interesses do coletivo - dos usuários, profissionais e representantes do governo. 23 Yazbek (2006, p.40) argumenta que é de suma importância à participação do usuário7 nas Políticas Sociais, porém, torna-se uma luta e exercícios contraditórios, pois são reivindicações que permeiam tanto os interesses da acumulação quanto a busca de legitimidade. Assim argumenta, “é nesse sentido que se afirma que as políticas sociais reproduzem a luta política mais geral da sociedade e as contradições e ambiguidades que permeiam os diversos interesses em contraposição”. Diante desse contexto, a autora defende a necessidade da ampliação da fatia dos investimentos na redução dos efeitos perversos da exploração do capital sobre o trabalho. Todo espaço em que o capitalismo8 atua transforma-se em locais de poder e contradições, e a arrecadação de impostos para a efetivação das políticas sociais, também não são executadas de forma diferenciada. É de crucial importância a intervenção do Assistente Social na execução das políticas. Nessa direção, Sposati (1992, p.39) vem reafirmar que a atuação do Assistente Social: “é uma expressão especializada da prática social e se insere da dinâmica contraditória das relações sociais”. O profissional Assistente Social atua, nessa perspectiva, ao mesmo tempo em que em sua formação busca compreender e mediar direitos para os sujeitos sociais. Percebe-se a materialização desse confronto interno e externo do profissional, quando o Assistente Social executa seu trabalho9 em instituição que tem normas em sua política, por exemplo, o Centro de Referência de Assistência Social mencionado anteriormente é um dos espaços de atuação do assistente social que o objetivo é assegurar direitos, mas ao mesmo tempo, o profissional segue regras do espaço, como realizar bloqueios e cancelamentos de benefícios de pessoas que necessitam muito dos programas de transferência de renda. 7 Bravo (s/a, p.3)o controle social enquanto direito conquistado pela Constituição Federal de 1988, mais precisamente do principio “participação popular”, pretende ampliar a democracia representativa para a democracia participativa, de base. Estão previstas duas instancias de participação nas políticas sociais: os conselhos e as conferencias. 8 Iamamoto (2010, p.53) O capital, em seu movimento de valorização, produz a sua invisibilidade do trabalho e a banalização do humano, condizente com a indiferença ante a esfera das necessidades dos valores de uso. 9 O assistente social tem como atribuições e competências para realizar um atendimento coerente com as balizas de sua profissão exposto em seu Código de Ética de Lei Federal 8.662/93, a Lei de Regulamentação e entre outros documentos que norteiam a profissão. 24 Conforme suas funções o CRAS10 se organiza através dos Serviços de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) com objetivo de trabalhar com as famílias e seus membros a garantia de direitos. Juntamente ao PAIF o CRAS executa suas ações através dos diversos serviços, programas, projetos, reuniões e atendimentos. O CRAS tem o dever de funcionar, no mínimo, de 40 (quarenta) horas semanais, durante 8 (oito) horas por dia, o horário pode ser flexível, podendo ser alterado dependendo da necessidade e realidade das famílias referenciadas, é necessário o funcionamento nos horários que a própria população já conheça. A instituição é um dos instrumentos da Política de Assistência Social, que tem como necessidade ser instalado em locais de maior concentração de famílias em situação de vulnerabilidade, aproximando os serviços aos usuários. Em municípios de pequeno porte I e II, a instituição poderá ser instalada em áreas centrais, de maior convergência da população, sendo um fator positivo para favorecer a população uma comodidade. Segundo o módulo I, Orientações Técnicas de Desenvolvimento dos CRAS (2011, p. 26) – no período de 2010/2011, o serviço deve favorecer reflexão sobre temas de interesses e necessidades das famílias. Processo de problematização e reflexão crítica de questões muitas vezes cristalizadas, naturalizadas e individualizadas, possibilitando o atendimento de que os problemas vivenciados particularmente ou por uma família são problemas que atingem outros indivíduos e outras famílias; e assegura a reflexão sobre direitos sociais, possibilitando uma nova compreensão e interação com a realidade vivida, negando-se a condição de passividade, favorecendo processos de mudanças e de desenvolvimento do protagonismo e da autonomia e prevenção à ocorrência de situação de risco social [...] constituem, assim, uma ação socioeducativa, na medida em que contribuem para a construção de novos conhecimentos; favorecem o diálogo e o convívio com as diferenças de risco e vulnerabilidade no território, estimula à capacidade de participação, comunicação, negociação, tomada de decisões, estabelecem espaços de difusão de informação e reconhecem o papel de transformação social dos sujeitos. 10 Por meio do CRAS, as famílias em situação de extrema pobreza passam a ter acesso a serviço como cadastramento e acompanhamento em programas de transferência de renda. O País conta, atualmente, 7.669 unidades distribuídas pelo território nacional. O principal serviço do CRAS é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. Dentre os objetivos desses serviços estão a prevenção da ruptura dos vínculos familiares e comunitários, a promoção de ganhos sociais e materiais das famílias e o acesso a benefícios, programas de referência de renda e serviços socioassistenciais. As ações são todas implementadas por meio de trabalho de assistências social. (www.brasil.gov.br) 25 O atendimento de forma individual ou coletivo deve proporcionar reflexões às famílias acerca de temas que muitas vezes são naturalizadas, vistas por muitos profissionais como normais e consequentemente proibidos de trabalhar com as famílias para não serem conhecedoras de seus direitos. Para acontecer a implantação do CRAS é preciso que o gestor municipal realize uma análise das condições sociais do município proporcionando a instalação em local de maior vulnerabilidade e risco social. Segundo a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único da Assistência da Saúde – NOB– RH/SUAS, até 2.500 famílias referenciadas fazem parte do porte I sendo preciso 2 (dois) técnicos de nível superior – Assistente Social, um Psicólogo, e 2 (dois) de nível médio. Já O CRAS de porte II atende até 3.500 famílias, sendo três técnicos superiores, dois Assistentes Sociais e um Psicólogo e três profissionais de nível médio. O porte médio, grande metropolitano, abarca a cada 5.000 famílias, com uma quantificação de quatro técnicos de nível superior, dois Assistente Social, um Psicólogo, um profissional do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e quatro técnicos de nível médio. É necessário que a equipe esteja completa para atender as demandas. Sendo assim, o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2005) relatam sobre a importância das atribuições e instrumentalidades dos profissionais de nível superior dentro do CRAS. 26 Acolhida, oferta de informações e realização de encaminhamentos às famílias usuárias do CRAS; Planejamento e implementação do PAIF, de acordo com as características do território de abrangência do CRAS; Mediação de grupos de famílias dos PAIF; Realização de atendimento particularizado e visitas domiciliares às famílias referenciadas ao CRAS; Desenvolvimento de atividades coletivas e comunitárias no território; Apoio técnico continuado aos profissionais responsáveis pelo(s) serviço(s) de convivência e fortalecimento de vínculos desenvolvidos no território ou no CRAS; Acompanhamento de famílias encaminhadas pelos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos ofertados no território ou no CRAS; Realização da busca ativa no território de abrangência do CRAS e desenvolvimento de projetos que visam prevenir aumento de incidência de situações de risco; Acompanhamento das famílias em descumprimento de condicionalidades; Alimentação de sistema de informação, registro das ações desenvolvidas e planejamento do trabalho de forma coletiva; Articulação de ações que potencializem as boas experiências no território de abrangência; Realização de encaminhamento, com acompanhamento, para a rede socioassistencial; Realização de encaminhamentos para serviços setoriais; Participação das reuniões preparatórias ao planejamento municipal ou do DF; Participação de reuniões sistemáticas no CRAS, para planejamento das ações semanais a serem desenvolvidas, definição de fluxos, instituição de rotina de atendimento e acolhimento dos usuários; organização dos encaminhamentos, fluxos de informações com outros setores, procedimentos, estratégias de resposta às demandas e de fortalecimento das potencialidades do território. A primeira atribuição do assistente social é o acolhimento, pois é o início de qualquer atendimento. O usuário ao chegar à instituição é de crucial importância ser bem acolhido com respostas para as suas indagações. Some-se a essa competência do profissional o dever de construir estratégias planejadas, para assim garantir um atendimento de qualidade nos programas, projetos e grupos do CRAS. Outro aspecto, que, afeta muito a relação dos profissionais com os usuários e a própria a instituição, é a burocratização das execuções dos serviços, muitas pessoas ao se depararem com tantos empecilhos, desacreditam da credibilidade do atendimento, receando voltar à instituição. Para realizar estratégias que não distanciem das balizas11 da profissão, o assistente social necessita obter conhecimentos teóricos, e também a sua inserção com a prática, como o contato com a política da instituição, com os usuários e com os demais funcionários. É esse cotidiano que o profissional deve atuar e refletir 11 O profissional deve estar capacitado teoricamente, com aprofundamento nas balizas da profissão para assumir suas atribuições e competências, assim como a profissão exige. 27 sobre as suas ações, para não se tornar pessoas que executem ações de forma mecânica e que terminam por naturalizar as situações vivenciadas. É através da conjuntura nos espaços de atuação, que o profissional constrói estratégias para contribuir com as diversas demandas com as quais trabalha. Yazbek (2006, p. 10) afirma que “o real, o cotidiano do assistente social não é mera derivação da teoria. É muito mais complexo e surpreendente”. Iamamoto (2007, p. 64), também, enfatiza a importância do atendimento do profissional do Assistente Social: É um sujeito profissional que tem competências para propor, para negociar com a instituição dos seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes possíveis de serem impulsionadas pelo profissional. O trabalho do Assistente Social se concretiza com eficiência quando existe uma parceria com outros profissionais e com a rede de apoio nas execuções das atividades. O exercício da profissão acontece de forma coletiva, ou seja, através de um trabalho em redes. Em um CRAS, por exemplo, quando a equipe estar desfalcada, faltando profissionais, a instituição consequentemente não realiza suas funções de forma eficaz. O profissional fica sobrecarregado em funções que, na maioria das vezes, não são de sua competência. Porém, o mais penalizado na inexistência de algum profissional é o próprio usuário. Muitas famílias deixam de usufruir alguns de seus direitos, porque na instituição não consegue resolver, pela falta de profissionais. A comunicação entre redes é muito significativa, pois quando as profissionais entre os serviços não dialogam, logo acontece um bloqueio e até inexistências das informações. Nesse sentido, recorrendo a Iamamoto (2007, p.64), reforça que “o Assistente social não realiza seu trabalho isoladamente, mas como parte de um trabalho combinado ou de um trabalho coletivo que forma uma grande equipe de trabalho”. Os Parâmetros para a Atuação de Serviço Social (2011, p.14) relatam a importância da atuação profissional do Assistente Social através dos compromissos: 28 Ético, político e profissional dos/as [...], reconhecimento da liberdade, autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; defesa intransigente dos direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo; na ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos direitos das classes trabalhadora; na defesa da radicalização da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; no posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegurem universalidade de acesso os bens e serviços, bem como sua gestão democrática e no empenho para a eliminação de todas as formas de preconceitos. Conforme mencionam Barroco e Terra (2012, p. 121) os Princípios Fundamentais do Código de Ética, tem como objetivo “representar o alicerce do conjunto do regramento estabelecido, que é o fundamento da concepção do projeto ético-político adotado pelo Código”. I – Reconhecimento da liberdade como valor ético e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais. O assistente social deve obter conhecimento e apropriação dos documentos que permeiam sua profissão, para assim conseguir realizar suas atribuições e competências, sempre alicerçadas nas reflexões críticas12. Exemplo dessa atuação é quando o profissional consegue perceber o usuário como sujeito de direitos que merece respeito a sua cultura, liberdade e escolhas e assim seja assegurada a universalização de acesso aos bens e serviços. Nessa liberdadede escolha Barroco e Terra (2012, p. 121) relata: O assistente social na sua prática profissional, na relação que estabelece com os usuários do Serviço Social, com outros profissionais e com qualquer pessoa, deve pautar sua conduta no reconhecimento da liberdade e de suas possibilidades, eis que esse é valor ético central. Qualquer conduta que viole esse princípio estará sujeita ao enquadramento no Código de Ética e sua apuração. Esse atendimento norteado pelos princípios da profissão deve ser realizado em qualquer espaço de atuação do assistente social, seja em uma grande empresa ou em um CRAS no interior de uma cidade. O atendimento deve obter a mesma qualidade e o objetivo de mediar e efetivar direitos 12 Katálysis (2006, p.145) A reflexão crítica do Serviço Social (ou a busca de um Serviço Social crítico) sustenha-se nas teorias críticas (aquelas que buscam a verdade a partir do reflexo teórico apropriado da realidade sobre a estrutura e as dinâmicas sociais. É contra esta reflexão (crítica) que se desenvolve uma crítica, com sentido de rechaço, censura, juízo de valor. É nesse último sentido que textos/autores “contestadores” serão referidos, não como críticos, mas como críticas 29 É necessário que a atuação profissional seja no cenário de lutas a favor do direito para a classe que sofre o descaso e abandono social. Sendo assim, sua atuação deve assegurar e efetivar direitos através de mediações de diferentes interesses, em contrapartida, o Estado tem o dever de desenvolver ações que viabilizem esses direitos. 2.2 A IMPORTÂNCIA DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA PARA AS FAMÍLIAS BENEFICIADAS No Brasil, as questões econômicas e seus efeitos sociais têm sido muito marcantes no campo das políticas públicas com o objetivo de propiciar às famílias que são privadas do direito ao trabalho e à renda, uma alternativa de sobrevivência. Este tópico objetiva analisar a estrutura do Programa Bolsa Família e suas consequências para a vida das famílias beneficiadas. O país vivencia um cenário de discussões acerca das transformações econômicas, sociais, políticas e a restrição dos trabalhos impostos pelo sistema capitalista. Com base nessa realidade, o Estado constrói estratégias de implementações dos programas de transferência de renda para a solução dos problemas de desemprego. Como estratégia foi instituída a primeira forma de transferência de renda direta do país de abrangência nacional; com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi regulamentada com a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em 1993. O benefício é destinado a pessoas com deficiência severa, de qualquer idade, e idosos maiores de 65 anos. Com a Constituição Federal de 1988, os Programas de Transferência de Renda continuam fazendo parte do cenário social e da agenda pública. O senador Eduardo Matarazzo Suplicy, em 1991, constrói o Projeto de Lei de n° 80/1991 que tem como objetivo propor o Programa de Garantia de Renda Mínima (PGRM) que beneficia a pessoa adulta com idade superior a 25 anos, beneficiada com rendimentos brutos inferiores a R$ 45,00. Em 1996, com a Portaria do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome GM/MDS n° 458, de outubro de 2001 é criado o Programa de 30 Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) iniciado través das primeiras experiências do Governo Federal. Construído para famílias de crianças e adolescentes que trabalham de forma irregular com objetivo de erradicar todas as formas de trabalho infantil 13do País. Em 24 de julho de 2001, foi assinado o Decreto n° 3.877, através do qual criou-se pelo Governo Federal o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo (CADÚNICO), com ênfase em cadastrar as famílias extremamente pobres e possibilitar o acesso às políticas de transferência de renda, o governo unificou os cartões magnéticos criando o cartão cidadão. Em 2001, é criado o Programa Bolsa Alimentação14 através do Decreto n° 3.934/2001 para melhoria da alimentação e das condições de saúde e nutrição das famílias. Mesmo diante dos avanços através dos Programas de Transferência, não foram suficientes como estratégias de combate à fome e à pobreza, devido às ações pontuais e seletivas em que alguns grupos recebem vários benefícios. Unificaram-se os programas de transferência de renda, instituindo-se o Programa Bolsa Família (PBF)15 durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A unificação dos Programas Nacionais de Transferência de Renda se deu através do (Bolsa Escola, Cartão Alimentação, Auxílio-Gás e Bolsa Alimentação), destinado às famílias pobres (com renda mensal de R$70,00 a R$140,00) e extremamente pobres (com renda mensal por pessoa de até R$70). Nascimento (2012, p. 51) discorre sobre os objetivos do PBF: “Combater a fome, a pobreza e as desigualdades socais por meio da transferência de um 13 O trabalho infantil é toda forma de trabalho exercido por crianças e adolescentes, abaixo da idade mínima legal permitida para o trabalho, conforme a legislação de cada país. O trabalho infantil no Brasil é um grande problema social. Milhares de crianças ainda deixam de ir à escola e ter seus direitos preservados. Em torno de 4,8 de crianças e de adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo PNAD 2007. (br.guiainfantil.com/direitos). O trabalho infantil diminuiu 13,44% no país entre 200 e 2010, segundo dados do censo divulgados nesta terça-feira (12), Dia contra o Trabalho Infantil. “mas, ao analisar as distintas faixas etárias, observa-se um aumento no grupo mais frágil: o trabalho infantil na faixa entre 10 e 13 anos voltou a subir em 1,56%, diz o estudo pelo fórum. Em 2010, foram registrados 10.946 casos de trabalho infantil a mais do que em 2000”. (g1.globo.com/brasil) 14 O Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à Saúde: “Bolsa-Alimentação instituído pela Medida Provisória n.º 2.206-1 de 6 de setembro de 2001, é um instrumento de participação financeira da União na complementação da renda familiar para a melhoria da alimentação e destina-se à promoção da melhoria das condições de saúde e nutrição.(Brasil, 2002, p.1) 15 O Programa Bolsa Família estar previsto em lei – Lei Federal n° 10.836, de 9 de janeiro de 2004 – e é regulamentado pelo Decreto n° 5.209, de 17 de setembro de 2004. A gestão é descentralizada, ou seja, tano a União, quanto os estados, o Distrito Federal e os municípios têm atribuições em sua execução. (mds.gov.br/assuntos/bolsa-família). 31 benefício financeiro associado à garantia do acesso a direitos sociais básicos – saúde, educação, assistência social e segurança alimentar”. Também vai argumentar que o benefício contribui para promover: “a inclusão social, contribuindo para a emancipação das famílias beneficiárias, construindo meios e condições para que elas possam sair da situação de vulnerabilidade em que se encontram”. Estevão (2006, p. 59), assim como Nascimento realiza uma análise acerca das precárias condições sociais e econômicas dos beneficiários do PBF, percebendo que os usuários necessitam lutar pelos seus direitos, que vão além de condições impostas por uma vida árdua de desigualdade social, e afirma “o brasileiro pobre é aquele que quando vai a qualquer instituição pública exerce seus direitos, sempre pensa e não se coloca na posição de quem vai pedir um favor e depende da boa vontade daquela pessoa que o atende”. Quando o usuário chega à instituição na perspectiva de favor, apadrinhamento e clientelismo não são por sua condição, mas por condições que lhes são impostas. Elas não tiverame nem têm, comumente, o favorecimento de condições educacionais, particularmente, que favoreçam a construção do senso crítico e de tomada de decisões. A falta de informação é a maior negação de direito que se pode subtrair das pessoas. Entretanto, a renda não é suficiente para qualificar a pobreza. Esse fenômeno engloba muitas dimensões da vulnerabilidade social, como o acesso à saúde, à habitação, à educação etc. No Brasil, conforme prevê a Constituição Federal de 1988, o enfrentamento à pobreza e à desigualdade social é de responsabilidade do Estado em construir estratégias para o seu enfrentamento, em ampliar e consolidar a cobertura das políticas sociais, somando com estratégias de redistribuição de renda. O PBF é construído por três tipos de benefícios: O Benefício Básico, o Variável e o Variável Vinculado ao adolescente. A Lei n° 10.836, de 9 de janeiro de 2004, no artigo 2° prescreve os benefícios financeiros do Programa. “I – o benefício básico, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de extrema pobreza; II – o benefício variável, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza e extrema pobreza”. E que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças entre 0 (zero) e 12 (doze) anos ou adolescente até 15 (quinze) anos. 32 O valor do benefício mensal do inciso I será de R$ 50, 00 (cinquenta reais) e concedido às famílias com renda per capita de até R$ 50,00 (cinquenta reais), no inciso II, o valor do benefício mensal de R$ 15,00 (quinze reais) por beneficiário, até o limite de R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) por famílias beneficiadas e será concedido às famílias com renda per capta de até R$ 100.00 (cem reais). Com a Medida Provisória n° 411, de 28 de dezembro de 2007, houve alterações nos dois benefícios. A Lei 10.836, de janeiro de 2004 passa a vigorar com as seguintes redações: No art. 2° e inciso II enfatiza sobre o benefício variável: “Destinado a unidades familiares que se encontram em situação de pobreza e extrema pobreza e que tenham em sua composição crianças entre zero e doze anos ou adolescentes até quinze anos, sendo pago até o limite de três benefícios por famílias”. No inciso III, fala-se do benefício variável que é vinculado: Ao adolescente destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescente com idade entre dezesseis e dezessete anos, nesse benefício pode ser pago até o limite de dois benefícios. Com essa medida também foi alterado os valores dos benefícios. O benefício básico ficou no valor de R$58,00 (cinquenta e oito reais) por mês, concedido a famílias com renda mensal per capita de até R$ 60,00 (sessenta reais). Para as famílias com renda mensal per capita de até R$ 120,00 (cento e vinte reais) será concedido, dependendo de sua composição. O benefício variável no valor de R$ 18,00 (dezoito reais); e o benefício variável vinculado ao adolescente no valor de R$ 30,00 (trinta reais). Os benefícios a que se referem tanto o básico quanto a variável, serão pagos mensalmente, por meio de cartão magnético bancário, disponibilizado pela Caixa Econômica Federal, através da identificação do responsável pelo benefício, mediante o Número de Identificação Social – NIS, utilizado pelo Governo Federal. Segundo a Caixa Econômica em todo o Brasil, mais de 13,9 de famílias são atendidas pelo Programa Bolsa Famílias. Mesmo sabendo que assegurar direitos às famílias perpassa a esse mínimo de renda que o governo oferece aos beneficiários do PBF. 33 Diante do contexto de implantação dos programas de transparência de renda, Mesquita (2006, p.13) afirmar que “os programas têm se colocado no cenário público contemporâneo como um dos instrumentos de redução da desigualdade e de alívio imediato da pobreza”. O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2016) MDS e a Caixa Econômica relatam as alterações e a atualização dos benefícios como: Benefício Básico: concedido às famílias em situação de extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 77,00 por pessoa). O auxílio é de R$ 77,00 mensais. Benefício Variável: para as famílias pobres e extremamente pobres, que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que amamentam), crianças e adolescentes de 0 a 16 anos incompletos. O valor de cada benefício é de R$ 35,00 e cada família pode acumular até 5 benefícios por mês, chegando a R$ 175,00. Benefício Variável de 0 a 15 anos: Destinado a famílias que tenham em sua composição, crianças e adolescentes de zero a 15 anos de idade. O valor de benefício é de R$ 35,00. Benefício Variável Gestante: Destinado às famílias que tenham em sua composição gestante. Podem ser pagas até nove parcelas consecutivas a contar da data do início do pagamento do benefício, desde que a gestante tenha sido identificada até nono mês. O valor do benefício é de R$ 35,00. Benefício Variável Nutriz: Destinado às famílias que tenham em sua composição crianças com idade entre 0 e 6 meses. Podem ser pagas até seis parcelas mensais consecutivas a contar da data do início do pagamento do benefício, desde a criança tenha sido identificada no Cadastro Único até o sexto mês de vida. O valor do benefícios, ou seja, R$ 35,00. Benefício Variável Jovem: Destinado às famílias que se encontram em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescentes entre 16 e 17 anos. O valor do benefício é de R$ 42,00 por mês e cada família pode acumular até dois benefícios, ou seja R$ 84,00. Benefício para Superação da Extrema Pobreza: Destinado às famílias que se encontram que se encontrem em situação de extrema pobreza. Cada família pode receber um benefício por mês. O valor do benefício varia em razão do cálculo realizado a partir da renda por pessoa da família e do benefício já no Programa Bolsa Família. As famílias em situação de extrema pobreza podem acumular o benefício Básico, Variável e o Variável Jovem, até o máximo de R$ 336,00 por mês. Como também podem acumular 1 (um) benefício para Superação da Extrema da Extrema Pobreza. Entretanto, as famílias ao se candidata ao programa, e ao serem analisadas pelo o MDS necessitam estar inscritas no Cadastro Único dos programas sociais do Governo Federal, com seus dados atualizados há menos de dois anos. O cadastramento faz parte do processo do programa, mas não assegura entrada imediata, nem o recebimento do benefício. Na verdade, é realizada uma 34 triagem, uma análise pelo MDS na qual serão selecionadas aquelas famílias que serão inclusas no programa. Para as famílias saberem se foram inclusas no programa é necessário procurar o gestor no PBF para realizar uma averiguação no sistema, assim como atualizar as mudanças sociais e econômicas ocorrida como nascimento, morte, casamento, separação, adoção e entre outras mudanças. Um dos pontos mais complexos a ser enfrentado pelo PBF é a elaboração de critérios e mecanismo de seleção, delimitando perfis de inclusão e exclusão, nas quais as famílias são selecionadas com base nas informações inseridas no Cadastro Único para os Programas Sociais do Governo. O órgão responsável pela avaliação das famílias inseridas ao PBF é o próprio MDS, assim impossibilitando ações de apadrinhamento e clientelismo. Estratégias muito utilizadas para algumas funções clientelistas16. Jovchelovitch e Werthein (2003, p. 58) afirmam que o Estado constrói estratégias para tratar a temática da desigualdade, através de dois princípios norteadores da ação do ministério da Assistência Social: “De um lado, a diretriz de substituir o caráter clientelista tradicional por uma ação governamentalproativa, que transforme o usuário da ação protetora em sujeito de direito com avista de capacitá- lo para o exercício da cidadania”. Os autores reafirmam a ideologia que o Estado através do Programa Bolsa Família constrói as estratégias baseada na Política Nacional de Assistência Social com intuito de conhecer em profundidade as famílias. O Estado executa suas ações direcionadas pelas perspectivas do exercício da competitividade individual e risco para as políticas sociais. Uma das características do PBF são as condicionalidades17 que devem ser cumpridas pelas famílias beneficiadas através das condições nas áreas da saúde, educação e assistência social. O cumprimento de condicionalidade deve ser 16 Historicamente, a assistência social tem sido vista como uma tradicionalmente paternalista e cientista do poder público, associado às primeiras Damas, com caráter de “benesse”, transformando o usuário na condição de “assistido”, “favorecido” e nunca como cidadão, usuário de um serviço a que tem direito. Da mesma forma confundia-se a assistência social com a caridade da igreja, com a ajuda aos pobres e necessitados. Assim, tradicionalmente a assistência social era reconhecida como assistencialista. (www.cresspr.org.br). 17 As famílias devem cumprir alguns compromissos (condicionalidades) que têm como objetivo reforçar o acesso à educação, à saúde e à assistência social. As condicionalidades não têm uma lógica de punição; e, sim, de garantia de que direitos sociais básicos cheguem à população de pobreza e extrema pobreza. Por isso, o poder público, em todos os níveis, também tem um compromisso: assegurar a oferta de tais serviços. (Mds.gov.br/assuntos/bolsa-família). 35 entendido como um compromisso assumido pelas famílias e pelo poder público. Castanha (2009, p.9) afirma: As responsabilidades das famílias em relação ao cumprimento de uma agenda de atendimento nas áreas da saúde e da educação, voltada à melhoria das condições para que as crianças e jovens de famílias beneficiárias desfrutem de maior bem estar no futuro. Essa agenda, na área de educação, é a matricula e a frequência escolar mínima de 85 % das crianças e dos adolescentes entre seis e 15 anos e de 75% para jovens de 16 e 17 aos integrantes das famílias beneficiárias. Na área de saúde, a agenda é o acompanhamento da vacinação e do crescimento e desenvolvimento das crianças até seis anos de idade e, ainda, da gravidez, parto e puerpério das mulheres. Além disto, também deve ser assegurado o compromisso da família de que as crianças não serão expostas ao trabalho infantil. É competência dos gestores acompanharem as condicionalidades e darem condições para que este acompanhamento ocorra, com atribuições especificas para cada nível de gestão. O acesso aos serviços de saúde e educação é a condição básica fundamental para permitir o mínimo de rompimento do ciclo de pobreza das famílias. Na área da Saúde as gestantes devem realizar acompanhamento de pré- natal, ir às consultas no posto mais próximo de sua casa e para as puérperas, devem levar o cartão de vacinação de acordo com o calendário de vacinação estabelecido pelo Ministério da Saúde. Os responsáveis por crianças menores de sete anos devem levá-las aos locais de campanhas de vacinação e fazer o acompanhamento do seu crescimento e desenvolvimento entre outras ações conforme calendário. A família é enxergada no programa como: “Unidade nuclear, eventualmente ampliada por pessoas que com ela possuem laços de parentesco ou afinidade, que forma um grupo doméstico e assim viva sob o mesmo teto, mantendo-se pela contribuição de seus membros” (BRASIL, 2004, p.10) Assim, o atendimento ao núcleo familiar tem o dever de ser realizado de forma integral, proporcionando o acesso nas diversas políticas. O programa vem sugerir a intersetoralidade para reafirmar o que está em evidencia na Constituição Federal de 1988, em que relata que as três esferas de governo têm a responsabilidade com o combate à pobreza e à desigualdade social, para garantirem direitos e reduzir a ocorrência de riscos social. 36 Os programas de transferência de renda, assim como todas as políticas de Estado voltado para a área social, é uma conquista da sociedade, porém, ainda existem muitas limitações que necessitam ser organizadas No caso do PBF é uma conquista dentro de uma rede de proteção e promoção social. Telles (1998, p. 38) enfatizar que “colocar os direitos da ótica dos sujeitos que os pronunciam significa, de partida, recusa a ideia corrente de que esses direitos não são mais do que a resposta a um suposto mundo das necessidades e das carências”. O PBF é o principal programa efetivado na instituição do CRAS, contempla uma das maiores demandas. O programa refere-se à transferência direta de renda com condicionalidades destinadas às famílias que atendam aos critérios de elegibilidade preconizada pelo referido programa. Ao mesmo tempo, em que assegura direitos às diversas políticas, também desenvolve um processo de exclusão, com as seleções e as regras. 2.3 O PERFIL DOS MUNICÍPIOS: NA ESTRUTURA DO CENTRO DE REFERÊNCIADE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS 2.3.1 O Município de Montanhas (RN) O município de Montanhas (RN) teve sua origem no lugar chamado Lagoa das Queimadas, situado às margens do rio Curimataú, em que o Padre José Afonso foi presenteado. No século XIX, o local passou a ser chamado Lagoa de Montanhas, em virtude de sua localidade, entre montanhas que lhe proporcionam um clima ameno e aprazível, razão em que o poeta Cícero Moura sugeriu chamá-la de “Suíça do Agreste”. O desenvolvimento econômico foi proporcionado pelo plantio de cereais em suas terras férteis, e pela ligação à capital do Estado. O Distrito foi criado com a denominação de Montanhas, pelo decreto estadual n° 603, de 31 de outubro de 1938, subordinado ao município de Pedro Velho (RN). A emancipação política com a 37 denominação de Montanhas (RN) ocorreu através do decreto estadual n° 2727, de 08 de janeiro de 1962, desmembrando de Pedro Velho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a área territorial de Montanhas (RN) é de 82,214 km², com 11.413 população residente, sendo 5.665 homens residentes e 5.748 residentes mulheres. Do total destes, possui apenas 7.420 pessoas residentes alfabetizadas. Ainda de acordo com o IBGE, o valor do rendimento nominal mediano per capita dos domiciliados particulares permanentes – Rural é de R$ 133, 3 e o valor do rendimento nominal mensal per capita dos domicílios particulares permanentes – Urbanos é de R$222, 0. Características que deixam evidentes o grande índice de pessoas analfabetas e que ainda vivem em condições de pobrezas. É notória a precária situação econômica de uma parcela da população, que ainda sobrevive com um rendimento mínimo extraído de alguns benefícios de transferência de renda. Diante de muitos contrastes sociais, políticos e econômicos é que muitas pessoas ainda buscam os serviços do CRAS para efetivar necessidades por informações, cadastro nos programas e resoluções de diversas problemáticas. 2.3.2 O CRAS Elba Valentim da Rocha O CRAS Elba Valentim da Rocha fica localizado na Rua Praça Costa e Silva, n°51, no centro da cidade. E acessível a grande parte da população por ser referenciado no centro no município. O CRAS foi implantado no município na data de 02 de junho de 2006, porém não existem muitos relatos sobre o histórico da instituição, pesquisou-se em busca de um algum documento através da Prefeitura, da Câmara
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