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Carl Rogers A prática de atitudes

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ROGERS, Carl; KINGET, Marian. Psicoterapia e Relações Humanas: Teoria e Prática 
da Terapia Não-diretiva. Vol. 2. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. 
 
 
A PRÁTICA DE ATITUDES 
Supondo que o terapeuta possua as atitudes desejadas. Como procederá para transmiti-las? 
Sabemos que expressa-las de forma direta, explícita, não produz, geralmente efeito algum. É 
necessário, pois que o terapeuta saiba comunicar suas atitudes de forma indireta, incorporada ao que 
exprime em resposta às palavras do cliente. 
A forma concreta como isto se realiza ou como deixamos de realizar será objeto de estudo de 
nossas próximas duas aulas. 
Todas as respostas que damos ao cliente te, implicitamente, uma atenção ou atitude subjacente. 
De um forma geral, podemos classifica-las em cinco grandes categorias, definidas da seguinte 
forma: 
1. Estimativa – Resposta que expressa uma certa opinião relativa ao mérito, à utilidade, à 
exatidão, ao fundamento, etc. daquilo que disse o cliente. De uma maneira ou de outra – mais ou 
menos delicada, ou mais ou menos franca – ela indica como poderia ou deveria agir o cliente. 
2. Interpretativa – Resposta do que visa de algum modo instruir o cliente a seu próprio respeito, a 
fazê-lo tomar consciência de alguma coisa, a demonstrar-lhe uma coisa ou outra. De uma 
maneira direta ou indireta, ela visa indicar como o cliente poderia ou deveria representar para 
si mesmo a situação. 
3. Tranqüilizadora – Resposta que visa tranqüilizar o cliente, aliviar a sua angústia, apazigua-lo. 
De uma forma ou de outra, ela pressupõe que o sentimento do cliente não é justificado, que o 
problema não existe ou que não é tão sério como ele o vê. 
4. Exploradora – Resposta que visa obter dados suplementares, verificar ou aprofundar a 
discussão. O terapeuta sugere que o cliente poderia ou deveria examinar mais de perto um 
ou outro aspecto do problema (isto é, ele explica que o problema é mais complexo do que o 
cliente imagina). 
5. Compreensiva – Resposta que visa a compreensão do interior, a apreender o tom afetivo, 
pessoal da comunicação; que revela a preocupação do terapeuta em compreender corretamente 
a significação vivida, o que o cliente lhe diz e a natureza do sentimento que verdadeiramente 
experimenta. (Esta categoria corresponde, pois, à empatia). 
A resposta compreensiva corresponde, portanto, a que melhor expressa a intenção do terapeuta 
centrado na pessoa. Através dela oportunizamos um sentimento de liberdade, de segurança e de confiança 
em si, necessárias à atualização das capacidades, manifestas ou latentes, de self-help, isto é, da tomada 
de consciência e de direção, autônomos de si. As demais respostas tendem a produzir um maior ou menor 
sentimento de ameaça interno, o que naturalmente vai contra as forças do crescimento e da aprendizagem 
autônomo. Ou ainda, tendem a modificar a ótica do cliente ou substituí-la por uma ótica mais ou menos 
alheia. Por isso elas impedem o interessado de se dar plenamente conta do problema tal como ele o 
experimenta, naquele instante em questão. 
O que levamos em conta em nossas intervenções? 
*O sentimento – não os fatos 
Para que uma resposta seja terapêutica, isto é, para favorecer seja a relação, seja a tomada de 
consciência – é necessário que a resposta seja dirigida ao sentimento que sustenta os fatos e 
acontecimentos que formam a trama do relato. 
A noção de sentimento aqui empregada, engloba não somente experiências de natureza emocional 
ou afetiva – angústia, vergonha, inveja, ódio, amor, desejo, inquietação, arrependimento, prazer, etc. 
Abrange tudo o que tende a revelar o ângulo perceptual – pessoal, subjetivo – da experiência, bem 
particularmente da experiência relativa à imagem do eu. As intenções, impressões, crenças, atitudes, 
classificam-se todas, portanto, na noção de sentimento. Por outro lado, a noção de fator refere-se aos 
elementos mais ou menos secundários, materiais ou sociais, que servem de veículo ou de contexto ao 
sentimento. 
Através de nossas intervenções buscamos apreender então, a realidade subjetiva e não objetiva. 
* A pessoa - não o problema 
A resposta que se dirige à pessoa imediatamente comprometida na interação é terapeuticamente 
superior à que se dirige a um ou outro aspecto do problema, relativamente independente do indivíduo. A 
mudança terapêutica, como já vimos, se relaciona, essencialmente, com a noção ou a imagem que o 
indivíduo faz de seu "eu". Conclui-se, pois, que toda resposta que se dirige ao sentimento imediatamente 
experimentado atua sobre elementos vivos, reais, portanto sobre o material por excelência da terapia. 
Se o terapeuta dirige sua resposta aos sentimentos e à pessoa do cliente, favorecerá uma 
expressão mais completa do sentimento. Se esta expressão for total, segue-se geralmente uma modificação 
da atitude. É como se a economia afetiva fosse regulada por uma espécie de mecanismo automático de 
estabilização: Quando a expressão emocional atinge um ponto de saturação, manifesta uma tendência a se 
orientar no sentido oposto. 
 
* A consideração não a perspicácia 
As respostas do terapeuta centrado na pessoa tendem a proteger o eu do cliente contra qualquer 
ameaça. 
Por mais perspicaz que seja a resposta do terapeuta, se ela não for formulada com a mais completa 
consideração pelo "eu" do cliente, irá, como resultado, não somente prejudicar a relação, mas aumentar a 
lacuna entre o que cliente experimenta e o que expressa. Tal resposta corre o risco, portanto, de ser 
antiterapêutica. 
(Texto extraído do Cap. II do livro Psicoterapia e Relações Humanas - de Rogers e Kinget, vol. II).

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