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Arte e Direito – AULA 31/07 Introdução da matéria: O que é a arte? Arte é uma maneira de representação da vida, com o objetivo de gerar catarse, ou seja, um estado de euforia; purificação pessoal. O que é direito? Direito é uma ferramenta de regulação da vida social e da própria relação do ser humano para com a natureza. Relacionamento entre arte e direito: - Os dois possuem como foco o tratamento da vida humana, apesar de abordar outros temas. - O direito por muitas vezes tem como papel regulador da arte, seja protegendo ou censurando uma obra/artista, como ocorreu em ditaduras por exemplo. - Além disso, o direito sempre foi um tema central tratado pela arte. - Os dois necessitam da interpretação para ganhar sentido, porém o direito é mais ‘’exato’’, pois exige a certeza no fim das contas, enquanto que na arte isso pode ser deixado de lado, estabelecendo um aspecto mais subjetivo. - Finalmente, tanto o direito quanto a arte fazem uso de narrativas para apresentar seus conteúdos. Aula 14/08 TEMA: POÉTICA ARISTOTÉLICA Introdução: não é o primeiro a falar sobre isso (Platão), mas é quem melhor sintetiza. Para Aristóteles, o conceito de arte é o de imitação da vida (conceito mimético de arte). Poesia X História: nessa explicação, ele diferencia a arte da realidade. Enquanto a história trata daquilo que aconteceu, do real; a poesia trata daquilo que pode acontecer, possível. Portanto, enquanto a história trata do O QUE É a poesia trata do O QUE PODE SER. A arte configura um outro mundo, e é nesse mundo que se deve analisar as possibilidades. Ou seja, as possibilidades são analisadas dentro das pressuposições deste novo mundo. Por exemplo, de acordo com o ponto de vista artístico, é impossível que Jesus possua um irmão mais velho (Maria era virgem ao engravidar). Por isso, até mesmo a arte não é de liberdade plena. A esse limite do possível chamamos de verossimilhança. Enquanto o historiador trata dos fatos conhecidos do passado, o artista não tem essa limitação; pode vislumbrar as possibilidades abertas pelo mundo. Conceito de Poética: MYTHOS = organização dos fatos. Para Aristóteles, a verossimilhança é a sucessão segundo o necessário (aquilo que deve acontecer) ou o provável. Tanto na arte quanto na realidade, analisa-se a verossimilhança verificando a possibilidade que algo ocorra de acordo como o mundo foi apresentado. Toda narrativa possui um problema fundamental: quando vai começar e quando vai terminar (organização do tempo). MÍMESIS = representação da realidade. Existe o fingimento artístico (sem intenção de enganar), onde todos sabem que você está fingindo, e o fingimento com intenção de enganar. O problema nessa relação ocorre quando não se consegue diferenciar a representação da própria realidade. Na arte, o momento da nova representação é um momento criativo, onde o interprete atribui elementos pessoais naquela obra. Porém, a arte existe antes dessa experiência. KATHARSIS = purificação. A ideia de katharsis é de provocar um sentimento no público. O propósito da arte é de causar esse sentimento, gerando uma ‘’purificação espiritual’’. Esses sentimentos podem ser, principalmente, de compaixão ou temor (tragédia), e de simpatia ou riso (comédia). *HUBRIS: o herói trágico, sabendo que pode muito, acha que pode tudo, e age de maneira desmedida, ocasionando a tragédia. RECONHECIMENTO: descoberta de um fato, que pode desencadear a peripécia. *PERIPÉCIA: reviravolta da trama. *PATÉTICO: sofrimento. Ex: História de Jesus. Momento de peripécia: traição de Judas; Momento de patético: a caminhada rumo a crucificação e a crucificação propriamente. Modos de Imitação (Northop Frye): MODO MÍTICO = destinado aos deuses. Os personagens têm poderes superiores em natureza e grau aos homens e ambiente. Ex: Odin. MODO MARAVILHOSO = abaixo dos deuses, mas existem homem com poderes superiores em natureza e grau ao dos outros homens. Ex: Hércules; super-heróis como Wolwerine, Homem-Aranha. MODO MIMÉTICO ALTO = narrativa de personagens com poderes superiores somente em grau e não natureza aos homens comuns. Ex: Jon Snow; Batman; Ragnar. MODO MIMÉTICO BAIXO = mesmo nível dos homens comuns. Ex: figurante que se fode na guerra. MODO IRÔNICO = abaixo dos homens comuns. AULA 21/08 TEMA 03 – O DIREIRO NA ARTE Introdução – Como algumas obras de arte clássicas representavam o direito? Contar a lei – Fançois Ost, através de contos bíblicos relacionados a Moises, trata da lei usando entidades divinas. Ele elabora uma espécie de contrato social, entre hebreus e Deus, e dessa relação tem-se direito. Moises recebe um ‘’contrato de adesão’’ da divindade, impondo obrigações para o povo hebreu perante Deus, enquanto que Deus também tinha a obrigação de conceder a Terra Prometida para os Hebreus. O direito é subjetivo e analisado observando-se vários aspectos. A bíblia é um exemplo perfeito de indeterminação, pois como é passada por vários países, sendo filtrada por diversas traduções, é interpretada de diversas maneiras. A luta pelo direito Rudolph Von Ihering trabalha com conceitos como direito objetivo e subjetivo, e afirma que além do direito subjetivo depender do objetivo, é necessário que exista o mínimo de eficácia social para que as normas preservem sua validade. É a postura do cidadão de luta pelo próprio direito que serve não só como um compromisso pessoal, mas para com toda a comunidade. A metáfora bélica – Imaginam-se dois exércitos em combate. Um exército luta pelo direito, e o outro contra o direito. Se nessa luta, alguns soldados que lutam pelo direito desertam, não importa. Mas se vários desertam, dificulta, e a situação daqueles que lutam pelo direito se torna complicada, e assim os que restam passam a lutar por todos pondo em cheque interesses pessoais, como o de sobrevivência. Os exemplos na arte: O mercador de Veneza – é o símbolo da relação entre juiz e lei. Escrito por Shakespeare. Nessa história, um jovem italiano pobre, queria se casar com uma jovem rica por quem estava apaixonado. Naquela época, era comum a pratica do dote (normalmente a família da noiva oferece ao noivo, mas as vezes, o noivo que é obrigado a pagar dote a família da noiva, que era o caso). Bassanio então recorre a um amigo mercador, Antônio, para lhe emprestar o dinheiro. Antônio, sem dinheiro, recorre por sua vez a um agiota judeu, Shylock. Importante observar que por seu judeu, Shylock era perseguido na sua cidade. Shylock propõe que caso Antônio não pague, ele tem o direito de retirar uma libra de carne do seu peito. Antônio concorda. Antônio não consegue pagar, e Shylock procura a justiça para cobrar seu direito. Shylock argumenta que caso não seja honrado o contrato, a credibilidade de Veneza é questionada. Após casado, Bassanio então procura Shylock para pagar a dívida reminiscente, oferecendo mais até, mas Shylock não aceita. O soberano de Veneza então convoca um juiz formado para que ele dê o veredito. Um recém-formado por esse juiz que chega para decidir. Ele enxerga que é direito de Shylock tirar uma libra de carne do peito de Antônio, no entanto, interpretando o contrato, Shylock não pode retirar nem uma medida a mais nem a menos, e além disso não pode derramar sequer uma gota de sangue. E caso isso seja violado, Shylock terá os bens confiscados e sujeito a pena de morte. Shylock então desiste. Ainda assim, o Juiz decide que a pena anterior seja aplicada, pelo fato do Shylock ter ameaçado a vida de um cidadão de Veneza, perdendo os bens. Ainda, sua pena de morte é anulada contanto que ele se converta ao cristianismo, e assim o faz. O Mercador de Veneza serve como referência para que na interpretação da lei o valor de justiça seja preservado acima do direito positivado aplicado literalmente. Ao estar diante de uma literalidade absurda, como a retratada em Shakespeare, em alguns casos contorna-se a lei interpretando além do que está escrito.Essa pratica de interpretação com total liberdade atualmente é chamada de ativismo jurídico. Michael Kolhlaas – um cidadão, Michael, teve a mulher violentada e morta e o patrimônio destruído por um lorde da área, sendo que ele é um vassalo dos mais baixos. Nisso, procura diversos suseranos, até chegar ao rei para que se faça justiça. Quando desesperançado, entra em um espiral de vingança, e começa a perseguir todos que lhe negaram justiça no passado, a tal ponto que passa a ser caçado pelo rei. Ele acaba preso, e quando estava a ser executado, fala que finalmente lhe foi aplicado o direito, como homicida, ao ser aplicada a pena de morte. Assim, encontra finalmente paz consigo mesmo. Essa história exemplifica a frustação diante da luta pelo direito, que leva até o homem até a loucura. AS DUAS HISTORIAS EXEMPLIFICAM QUE A LUTA PELO DIREITO É SOCIALMENTE UTIL PARA PRESERVACAO DO VALIDADE, POR MAIS INJUSTA QUE LHE PAREÇA, MESMO QUE SO SEJA FEITA PARA SATISFAZER UM DESEJO DE VINGANÇA. AULA 28/08 Tema 04 – Conceitos de ação e verdade Introdução: - Ação e verdade são termos muitos usados, mas que não recebem a devida atenção para que a vida seja melhor compreendida. - (Conceito mais basilar) Verdade: aquilo que corresponde aos fatos, uma relação entre discurso e realidade. - (Conceito filosófico) Ação: comportamento humano voluntário. Principal âmbito de incidência do direito. Conceitos de ação e verdade (Habermas) - Aristóteles fala sobre a base teleológica da ação, onde as ações voluntarias possuem sempre a finalidade de produzir um resultado. - Aspecto interno da ação: Vontade > Definição da finalidade > Uso do conhecimento > Escolha dos meios > Plano de ação. - Aspecto externo da ação: Execução do plano > Produção de efeitos > Alcance (ou não) de finalidade. Ação Estratégica: segundo Habermas, aquela que busca SOMENTE a satisfação dos próprios interesses. A partir da escolha dos meios, visa-se a eficiência, desconsiderando quaisquer outros aspectos, como a moral por exemplo. Ex: colar em prova, caso não haja fiscalização. É através de uma visão de mundo objetiva, estabelece-se a relação entre verdade e correspondência. Ação Normativa: busca-se o meio licito, correto, para atingir a finalidade. Vise-se também a eficiência, porém excluindo a ilicitude. Ainda, faz-se o certo porque é certo, e não devido ao medo da sanção. Ex: escolher qualquer que seja a metodologia de estudo para passar em prova, contanto que não cole. Através de uma visão de mundo intersubjetiva, estabelece-se relação entre verdade e correção. Ação Dramatúrgica: é seguido aquilo quer melhor realiza a potencialidade individual, a melhor representação de si mesmo no palco da vida. Tenta-se passar credibilidade na ação. Ex: performance de artista em show. Leva-se em conta uma ideia de mundo subjetivo e de verdade e credibilidade. Ação Comunicativa: busca integrar os três outros sentidos de ação, e é a que mais tem consciência do meu comportamento sobre o outro, e o do comportamento do outro sobre o meu. Busca-se um entendimento coordenador entre as ações. Ex: em prova, aluno responde de maneira que melhor atenda aos requisitos do avaliador. Através de uma visão de mundo da vida, estabelece-se relação entre verdade e consenso. A Tripla Mimesis (Ricover) - Para passar da ação vivida que a arte representa até a compreensão do leitor representada pela arte, passa-se pela tripla mimesis. Prefiguração: a tradição ou vida prefigura. A vida já nos dá esquemas narrativos, ou seja, anterior as interpretações já são estabelecidas pressupostos; preconceitos. Ex: a pré-compreensão de que serviços públicos não prestam, e logo como são pagos, os privados serão sempre melhores. Isso pode afetar a leitura de um texto, por exemplo, que retrate a vida de um médico inserido em um hospital público. Configuração: o texto configura. A organização dos elementos em uma história coerente. Se delimita aquilo que vai ser compreendido pelo público, aquilo que foi isolado no texto. A fronteira do texto é a fronteira da compreensão. Refiguração: o leitor refigura. A partir da fusão de prefiguração e configuração, é estabelecida uma nova compreensão. AULA 11/09 TEMA 05 – A narrativa e a ficção jurídica Introdução: ideia de estrutura é de algo que tem a função de dar sustentação a uma narrativa. Já o estruturalismo é uma corrente filosófica que se apega a várias ciências humanas, não só a literatura. Se propõe a estudar as formas estruturais que dão esse suporte necessário as narrativas, buscando identificar elementos comuns a todas as estruturas existentes, isso principalmente no campo da arte. Estruturas narrativas Em um universo ficcional – Universo ficcional é um universo criado pelo autor em que a obra se situa. Ex: universo dos romances de 007 (Ian Fleming). Nos filmes posteriores ao primeiro, Cassino Royale, são introduzidos novos elementos que não existiam na primeira obra. O universo desenvolve-se e com isso são introduzidos elementos criados posteriormente a obra original. É um universo primariamente realista. A partir de James Bond identifica-se a relação do mesmo com três elementos: O Inimigo; O Comando; O Par Romântico. Os Inimigos de Bond nos romances de Fleming é a ameaça comunista, e nos filmes atuais os terroristas. Nota-se então que se faz uma representação da ameaça ocidental temporal para representar o antagonismo a Bond, sendo que existe um traço racista étnico forte. Ainda, Bond é quase invulnerável ao inimigo. O Comando tem uma relação de fidelidade quase absoluta com Bond, pois o espião em nome de um bem maior desobedece ao próprio Comando, que é hierarquicamente superior. O Par Romântico ocasional de Bond quase sempre se fode, pois é usado como objeto, com exceção de Vesper Lynd, a única com quem Bond se entrega emocionalmente. Ou seja, Bond é quase insensível. Quando ele se apaixona, é ele quem se dá mal. Em um gênero – Todorov, por exemplo, identifica que toda narrativa policial tem duas histórias: a história do inquérito, da qual surge a história do crime. Sherlock Holmes, em suas histórias, resolve crimes ‘’estranhos’’ através de explicações racionais, isso no auge do movimento racionalista na Inglaterra. Universais – Toda narrativa, do ponto de vista do modelo de Todorov da Intriga Mínima, se inicia a partir de um equilíbrio é degradado e passa a estar em desequilíbrio, e posteriormente melhora restaurando o equilíbrio. Já no modelo de quinário de Router, a narrativa parte de um estado inicial que sofre com uma força perturbadora, e através de dinâmica com participação de uma outra força, equilibradora, atinge-se o estado final. Estado final esse que pode resultar em equilíbrio ou desequilíbrio. O equilíbrio é a conclusão clara de uma história, enquanto que o desequilíbrio se define como a não conclusão. Equilíbrio não significa explicação, mas simplesmente fechamento. Esses modelos descrevem a estrutura mínima de uma narrativa. A Narrativa jurídica As ficções jurídicas Por construção legal Por desenvolvimento judicial
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