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Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Economia Departamento de Administração FINANCIAMENTO COM RECURSOS PRÓPRIOS 2018 1. Introdução Recursos podem ser definidos como meios de se obter algo pretendido. Dentro de uma empresa, mais recursos significa maior capacidade de cumprimento de metas e compromissos, assim como maior possibilidade de crescimento, se estes recursos forem bem administrados. Este trabalho não tem intenção de hierarquizar os recursos necessários a empresa, mas foca nos recursos financeiros. Os recursos financeiros são recursos monetários que, para uma organização, se classificam como ativos que possuem um certo grau de liquidez - dinheiro, crédito em bancos, ações e bônus são exemplos. Se faz necessário também a definição do termo financiamento, o qual pode ser descrito como os recursos monetários destinados a uma determinada atividade ou projeto econômico. O uso de recursos financeiros é indispensável desde o início de um negócio à sua manutenção e sobrevivência. Esses recursos podem ser captados de duas fontes: recursos próprios (aqueles pertencentes aos sócios da empresa) e recursos de terceiros (aqueles incorporados ao capital da empresa por meio de empréstimos ou bônus). Em seguida trataremos de abordagens específicas que contribuem no entendimento sobre a utilização dos recursos financeiros próprios dentro das empresas. 2.Vantagens De acordo com André Saito, mestre em Administração de Empresas pela FGV- SP e PhD in Knowledge Science pelo Japan Advanced Institute of Science and Technology, a maior vantagem em utilizar capital próprio para se financiar é que o administrador “tem controle total do negócio, tem autonomia para tomar decisões. Pode decidir como e quando crescer, quem contratar, onde investir, como gastar”. Essa vantagem relacionada ao controle da empresa é importante para casos em que o empreendedor tenha dificuldade em dividir as decisões da empresa com outras pessoas, e prefira ter autonomia para gerir o seu negócio. Esse perfil de empreendedor é considerado mais tradicional, visto que o administrador deseja centralizar todas as decisões e se responsabiliza por elas. Ultimamente, esse perfil tem caído em desuso. Porém, o empresário pode contar com sócios que irão disponibilizar seus recursos próprios para investir na empresa, o que pode aumentar as experiências e ser benéfico para o negócio, ao passo que cada sócio pode contribuir com técnicas, estratégias, parceiros e clientes que irão auxiliar a expansão da empresa. Em casos de falência, a empresa financiada com capital próprio não terá dívidas referentes à financiamento e será mais fácil extinguir o negócio, visto que as decisões se tornam mais fáceis de serem tomadas e não precisam passar pelo aval de várias pessoas. O possível risco de falência da empresa pode fazer com que os credores, no caso de uma empresa financiada com capital externo, pressionem a gerência da empresa a decretar falência com receio de que suas dívidas não sejam quitadas. Outra vantagem importante é que todo capital próprio investido será fluxo de caixa, e não irá gerar dívidas de financiamento para a empresa, dívidas que na maioria das vezes são acrescidas de altos juros. Esse fato é positivo para que o negócio não se inicie já com altas dívidas e possibilita um leque maior de investimentos a serem feitos com esses valores, podendo ser utilizado em prol da continuidade do negócio. 3. Desvantagens O financiamento com recursos próprios também possui suas desvantagens. Enquanto o financiamento com recursos de terceiros permite uma expansão, que vai além do capital atual da empresa, ao financiar com recursos próprios, essa expansão fica limitada ao que o capital permite. Além disso, segundo Saito, o crescimento do negócio é mais orgânico, baseado apenas no reinvestimento do lucro total, ou de parte dele. Sendo assim, seu crescimento é mais lento do que seria com financiamento por recursos de terceiros. Outra desvantagem é o fato de o capital próprio não permitir tanta previsibilidade orçamentária. Isso porque não se tem total conhecimento do valor que será necessário obter ao longo do exercício. Ao contrário do que aconteceria com o capital de terceiros, por exemplo, pois nesse contexto, sabe-se o valor a ser pago aos fornecedores, ou o valor devido por conta dos empréstimos, por esses serem valores estabelecidos de forma contratual. Assim, com o financiamento por capital próprio, fica mais difícil de montar um orçamento. Tem, ainda, o fato de que os sócios dependem do sucesso operacional da empresa para serem bem remunerados. Sendo assim, o risco para eles é maior, o que faz com que a taxa de retorno exigida por eles seja, algumas vezes, mais alta do que a taxa de endividamento Em adição a tudo isso, há o risco de os gestores não se sentirem tão incentivados a serem eficientes, se possuírem pouco ou nenhum recurso de terceiro, pois a preocupação com dívidas será menor. Assim, corre-se o risco de tal gestor se acomodar com o mercado em que está inserido, ou com determinada forma de operação, não percebendo possíveis ameaças ao seu negócio. 4.Obrigações O uso de recursos próprios para financiamento deve observar algumas regras e estar de acordo com as responsabilidades do administrador. O parágrafo quarto do artigo 157 da lei 6404/76 determina que: “Os administradores da companhia aberta são obrigados a comunicar imediatamente à bolsa de valores e a divulgar pela imprensa qualquer deliberação da assembléia-geral ou dos órgãos de administração da companhia, ou fato relevante ocorrido nos seus negócios, que possa influir, de modo ponderável, na decisão dos investidores do mercado de vender ou comprar valores mobiliários emitidos pela companhia. A letra e do parágrafo primeiro do mesmo artigo também estipula que “O administrador de companhia aberta é obrigado a revelar à assembléia-geral ordinária, a pedido de acionistas que representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social, quaisquer atos ou fatos relevantes nas atividades da companhia.” Por fim, é importante observar o que diz o artigo 158 dessa lei a respeito da responsabilidade dos administradores: “O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo, ou com violação da lei ou do estatuto.” 5. Estrutura Ótima de Capital Em 1958 e 1963 Franco Modigliano e Merton H. Miller publicaram artigos sobre a estrutura de capital - a forma como a empresa compõe o seu capital, a partir das fontes de financiamento - que ficaram conhecidos na teoria de finanças como teoremas de MM. Os autores trabalharam com várias premissas no trabalho inicial, dentre elas a ausência de impostos para as empresas e pessoas físicas, ausência de custos de transações e ausência de possibilidades de inadimplência ou falência. No segundo trabalho admitiram a existência de impostos para as empresas. Suas conclusões podem ser sumarizadas da seguinte forma: MM sem impostos: a inclusão de capitais de terceiros na composição do capital da empresa não altera o valor da empresa, isto é, a composição do capital é irrelevante. MM com impostos: a inclusão de capitais de terceiros na composição do capital da empresa, admitindo-se a existência de impostos, valoriza a empresa devido à vantagem da dedutibilidadedas despesas financeiras da base de cálculo de impostos. Em 1997, Merton Miller apresentou um modelo que inclui impostos de pessoas físicas, o qual deduziu que as primeiras ideias, sobre a irrelevância da composição da estrutura de capital para o valor da empresa, estavam corretas. As conclusões apontam: a) o custo de capital não é afetado pela composição do capital; b) o valor da empresa não é alterado pelas diferentes proporções de capital de terceiros; c) as decisões de investimento podem ser feitas de forma independente das decisões de financiamentos. Contudo, a partir das conclusões de MM pode se inferir que essa teoria é válida para um conjunto específico de empresas, não podendo ser generalizada. Então, pode-se pensar numa estrutura ótima de capital para cada empresa. Damodaran, em seu livro Finanças Corporativas - Teoria e Prática, explicita cinco abordagens para escolha do mix de financiamentos: a) lucro antes dos juros e impostos - baseado na distribuição de probabilidades do lucro futuro e na definição da máxima possibilidade de inadimplência (default), estabelece o valor máximo de recursos de terceiros que pode ser usado; b) custo de capital – a proporção de capital de terceiros a ser usada é a que minimiza o custo de capital ou seja maximiza o valor da empresa; c) diferencial de retorno – a proporção de capital de terceiros a ser usada é a que minimiza a diferença entre o retorno sobre o capital próprio e o custo do capital próprio; d) valor presente ajustado – objetiva maximizar o valor da empresa que é visto como o valor da empresa sem recursos de terceiros mais o valor presente do benefício de impostos pelo uso de capitais de terceiros e menos o valor presente da expectativa de custos de falência. e) análise comparativa – objetiva atingir a proporção de capitais de terceiros usados por empresas similares. A utilização de determinado método de avaliação da composição do capital da empresa dependerá da proposta do avaliador e da estrutura da empresa, tanto financeira como organizacional, além de outros fatores intrínsecos a cada empresa ou organização. 6.Conclusão Ao realizarmos esse trabalho, conseguimos aprimorar nosso conhecimento sobre os recursos próprios, das vantagens e desvantagens de utilizá-los e também sobre suas obrigações. Os recursos próprios nada mais é do que o capital da própria atividade econômica, tais recursos vêm dos proprietários que são os acionistas e investidores da empresa, que buscam analisar juntamente com os administradores todas as informações possíveis para se obter a melhor decisão possível dentro do negócio, visto que são os seus investimentos que estão propícios ao risco de perda, caso não aja um estudo, um planejamento para um determinado momento. E no final das contas, é vantajoso usufruir dos recursos próprios? Depende, deve-se analisar cada caso e o objetivo da empresa, não é simplesmente dizer que o capital próprio é mais vantajoso. Os fatores são diversos para tal análise: se a empresa está disposta a passar por riscos, quanto está disposta a crescer e a rapidez para esse crescimento, se é o momento oportuno para utilizar seu capital, enfim, entre outras análises que devem ser feitas para a tomada dessa decisão, ou buscar um capital de terceiros, que são os empréstimos e financiamentos externos. Cabe a avaliação para escolher o mais adequado, pois uma escolha equivocada pode trazer prejuízos, como o aumento de custos desnecessários ou uma redução do interesse na empresa por parte dos clientes e até mesmo dos usuários internos. Um bom exemplo de recursos próprios: neste ano de eleição, é importante ressaltar que, o TSE liberou o autofinanciamento, quem utiliza os próprios recursos, de 100%. O jornal G1 publicou tal informação “ TSE define que candidatos poderão financiar toda a campanha com recursos próprios”. Antes o financiamento poderia ser feito por doações de empresas e pessoas físicas e não tinha um limite para tal financiamento, podendo assim, ser uma maneira mais fácil para a corrupção, como há casos de políticos na Lava Jato. Entretanto, depois dessa resolução do tribunal, os políticos utilizarão dos próprios recursos, doações apenas de pessoas físicas com limite de 10% do seu rendimento bruto e não podendo ultrapassar o limite estabelecido para o cargo que for concorrer. Essa medida reduzirá riscos de corrupção e o não envolvimento com dinheiro público. Portanto, a escolha do melhor recurso, não é apenas para pessoas jurídicas, sua utilização é também para pessoas físicas que através de estudos como das finanças que possibilitam o cálculo dos fluxos de caixa futuro, trazendo-os para o presente e desta forma comparando o que será mais vantajoso. 7. Referências ROZO, J. D. Novos Projetos: o que valoriza mais a empresa, recursos próprios ou de terceiros? Qual a proporção ótima? Revista Contabilidade e Finanças FIPECAFI – FEA – USP. São Paulo, FIPECAFI, v. 16, n. 27, p. 78 – 88. Setembro/Dezembro, 2001. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de balanços- Um Enfoque Econômico e Financeiro- 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2015. https://keillalopes.files.wordpress.com/2010/02/capital-proprio-ou-de-terceiros- andre.pdf Acesso em 16/03/2018. http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/o-beneficio-da-duvida-e-o- beneficio-da-divida-quando-e-vantagem-se-endividar/64784/ Acesso em 16/03/2018. http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/as-empresas-e-seus- recursos/49451/. Acesso em: 21/03/2018 Estrutura de Capital, disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1125270>. Acesso em: 20/03/2018. DAMODARAN, A. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. 796 p. Capital próprio vira opção para empresa se financiar, disponível em: <http://www.seteco.com.br/capital-proprio-vira-opcao-para-empresa-se-financiar-valor- economico>. Acesso em: 23/03/2018 Capital próprio X Capital de terceiros: qual a melhor opção?, disponível em: <https://www.google.com.br/amp/s/papodevalor.co/2015/05/10/capital-proprio-x-capital-de- terceiros-qual-a-melhor-opcao/amp/>. Acesso em: 22/03/2018 Eleições 2018, disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/tse-define-que- candidatos-poderao-financiar-as-campanhas-com-recursos-proprios.ghtml>. Acesso: 23/03/2018.
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