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AS CONTRIBUICOES DO CENTRO DE REFERENCIA FRANCISCA CLOTILDE PARA O PROCESSO DE RUPTURA DA VIOLENCIA

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ 
FACULDADE CEARENSE - FAC 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
FRANCIANA RODRIGUES DA CUNHA 
 
 
 
 
 
AS CONTRIBUIÇÕES DO CENTRO DE REFERÊNCIA FRANCISCA CLOTILDE 
PARA O PROCESSO DE RUPTURA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM 
FORTALEZA: OLHARES E CONCEPÇÕES DOS/AS PROFISSIONAIS. 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2014 
FRANCIANA RODRIGUES DA CUNHA 
 
 
 
 
 
AS CONTRIBUIÇÕES DO CENTRO DE REFERÊNCIA FRANCISCA CLOTILDE 
PARA O PROCESSO DE RUPTURA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM 
FORTALEZA: OLHARES E CONCEPÇÕES DOS/AS PROFISSIONAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de graduação 
em Serviço Social do Centro de Ensino 
Superior do Ceará, como requisito parcial para 
a obtenção do grau de Bacharel em Serviço 
Social. 
 
Orientadora: Profª. Ms Socorro Letícia 
Fernandes Peixoto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274 
 
 
C972c Cunha, Franciana Rodrigues da 
 As contribuições do Centro de Referência Francisca Clotilde para o 
processo de ruptura da violência doméstica em Fortaleza: olhares e 
concepções dos/as profissionais / Franciana Rodrigues da Cunha. Fortaleza – 
2014. 
 87f. 
 Orientador: Profª. Ms. Socorro Letícia Fernandes Peixoto. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso 
de Serviço Social, 2014. 
1. Gênero. 2. Violência contra a mulher. 3. Políticas públicas. I. Peixoto, 
Socorro Letícia Fernandes. II. Título 
 CDU 364 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco 
Pereira (Valdir) e Ana Maria, meus irmãos, e 
ao meu esposo, amigo e companheiro, Sílvio 
da Silva. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Senhora, por estarem sempre presentes nos 
momentos em que mais preciso, dando-me força e conforto, mesmo que seja por intermédio 
de muitos “anjos” que sempre apareceram com palavras de carinho e incentivo. 
 
Aos meus pais, Francisco Pereira (Valdir) e Ana Maria, minhas razões de viver, que sempre 
me apoiaram e me incentivaram em meus estudos. Agradeço por essa tão valiosa herança, que 
foram os meus estudos e minha formação como pessoa. 
 
Aos meus irmãos, Daniel, Adriana e Rafael, pelo apoio e pelas cobranças. Amo muito cada 
um de vocês! 
 
Ao meu esposo, grande amigo, homem da minha vida, Sílvio, que me deu apoio todas as 
vezes que precisei e que enxugou minhas lágrimas todas às vezes em que achava que não iria 
conseguir. Amo muito você! Obrigada por confiar em mim. 
 
A minha tia, Francisca Heronildes, por ser um exemplo para minha formação, para me fazer 
querer sempre buscar conhecimento e, com isso, ser uma pessoa ainda melhor. 
 
As minhas avós, Maria Patrício e Josefina Gonçalves (Macêda – In memorian), pelo grande 
exemplo e ensinamentos. 
 
A minha orientadora, Professora Ms. Socorro Letícia Fernandes Peixoto, pelo 
acompanhamento, companheirismo, dedicação, paciência - principalmente com relação ao 
não cumprimento com os prazos para a entrega do material. Obrigada pelas leituras 
concedidas e por ter confiado e não ter desistido de mim. 
 
A professora Kelma, que me acolheu e compreendeu minha angústia em um dos momentos 
que mais precisei. Obrigada, Professora! 
 
As minhas amigas lindas (As amarelas): Natália Andrade, Mikaella Lopes, Kézia Kelly e 
Janielle Souza, pela amizade e companheirismo de vocês, fundamental para minha formação. 
Obrigada pelo apoio e por acreditarem em mim. A vocês o meu mais sincero obrigada! Amo 
muito cada uma de vocês. A Chirlene, uma amiga que ganhei no decorrer do curso e que o 
carinho e incentivo foram muito importantes. Muito obrigada! Vocês são um presente de 
Deus em minha vida. 
 
A todos os colegas de turma, pois cada um teve uma importância em minha formação, e por 
cada um tenho um carinho enorme. Sucesso a todos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria da Penha 
Alcione 
Comigo não, violão 
Na cara que mamãe beijou 
"Zé Ruela" nenhum bota a mão 
Se tentar me bater 
Vai se arrepender 
Eu tenho cabelo na venta 
Sou brasileira, guerreira 
Não tô de bobeira 
Não pague pra ver 
Porque vai ficar quente a chapa 
Você não vai ter sossego na vida, seu moço 
Se me der um tapa 
Da dona "Maria da Penha" 
Você não escapa 
O bicho pegou, não tem mais a banca 
De dar cesta básica, amor 
Vacilou, tá na tranca 
Respeito, afinal, é bom e eu gosto 
Saia do meu pé 
Ou eu te mando a lei na lata, seu mané 
Bater em mulher é onda de otário 
Não gosta do artigo, meu bem 
Sai logo do armário 
Não vem que eu não sou 
Mulher de ficar escutando esculacho 
Aqui o buraco é mais embaixo 
A nossa paixão já foi tarde 
Cantou pra subir, Deus a tenha 
Se der mais um passo 
Eu te passo a "Maria da Penha" 
Você quer voltar pro meu mundo 
Mas eu já troquei minha senha 
Dá linha, malandro 
Que eu te mando a "Maria da Penha" 
Não quer se dar mal, se contenha 
Sou fogo onde você é lenha 
Não manda o meu casco 
Que eu te tasco a "Maria da Penha" 
Se quer um conselho, não venha 
Com essa arrogância ferrenha 
Vai dar com a cara 
Bem na mão da "Maria da Penha" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A ferida sara, os ossos quebrados se 
recuperam, o sangue seca, mas a perda da 
autoestima, o sentimento de menos valia a 
depressão; essas são feridas que não saram”. 
 
Maria Berenice Dias 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente estudo tem como objetivo conhecer as concepções das profissionais do Centro de 
Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência Francisca Clotilde sobre as 
contribuições deste serviço para o processo de ruptura da violência doméstica das mulheres. 
Dentre os objetivos específicos desse estudo, destacamos: compreender os significados 
atribuídos pelas profissionais ao fenômeno da violência doméstica contra as mulheres; 
conhecer quais as visões das profissionais sobre as atitudes das mulheres usuárias do serviço, 
diante das agressões sofridas; apreender as opiniões das profissionais sobre a política de 
enfrentamento a violência contra as mulheres em Fortaleza. Dialogamos com as seguintes 
categorias: gênero, violência doméstica contra as mulheres e políticas públicas. A 
metodologia utilizada na elaboração deste trabalho pautou-se na pesquisa qualitativa. A 
técnica principal para a obtenção das informações foi a entrevista semiestruturada. Como 
forma complementar, utilizamos a pesquisa bibliográfica e documental e o banco de dados do 
Observatório do CRM. Dentre os resultados alcançados, percebemos que as profissionais 
acreditam que o Centro de Referência contribui para o rompimento do ciclo de violência das 
mulheres atendidas, sobretudo, por conta do atendimento das principais demandas das 
mulheres atendidas, como a solicitação por medidas protetivas, a orientação jurídica, o 
suporte psicológico e a preocupação com o “sustento” financeiro dos filhos. O atendimento 
ocorre mediante acompanhamentos sistemáticos da equipe do CRM, bem como a realização 
de encaminhamentos à rede de enfrentamentoà violência contra as mulheres. 
 
Palavras–chave: Gênero. Violência doméstica contra as mulheres. Políticas públicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aims to identify the concepts of professional Reference Center and Assistance to 
Women in Domestic Violence and Sexual Situation Francisca Clotilde on the contributions of 
this service to the process of disruption of domestic violence women. The specific goals of 
this study are that: understand the meanings attributed by the professional to the phenomenon 
of domestic violence against women; know what the views of professionals on the attitudes of 
women users of the service in the face of these abuses; grasp the views of professionals on the 
face of political violence against women in Fortaleza. Dialogued with the following 
categories: gender, domestic violence against women and public policy. The methodology 
used in the preparation of this work was guided in qualitative research. The main technique 
for obtaining information was the semi-structured interview. As a complementary way, we 
use the bibliographic and documentary research and the CRM Observatory database. Among 
the results achieved, we realize that the professionals believe that the Reference Center 
contributes to the breaking of the cycle of violence of women seen mainly due to the care of 
the main demands of the women seen as a request for protective measures, the legal advice , 
psychological support and concern for the "meat" of the financial children. The service takes 
place through systematic follow-ups of the CRM team as well as the realization of referrals to 
coping network to violence against women. 
 
Keywords: Gender. Domestic violence against women. Public policies. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS 
 
 
§ - Parágrafo 
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas 
ADVOCACI - Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos 
APAVV - Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência 
B.O - Boletim de Ocorrência 
CEDAW - Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a 
Mulher 
CEJIL - Centro para a Justiça e o Direito Internacional 
CF - Constituição Federal 
CIDH - Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
CNDM - Conselho Nacional dos Direitos da Mulher 
CNJ - Conselho Nacional de Justiça 
COMDIM - Conselho Municipal dos Direitos da Mulher 
CP - Código Penal 
CPM - Centro Popular da Mulher 
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social 
CREAS - Centro de Referência Especializados de Assistência Social 
CRM - Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência Francisca 
Clotilde 
CSSF - Comissão de Seguridade Social e Familiar 
DEAMS - Delegacia Especial de Atendimento à Mulher 
HDGM - Hospital Distrital Gonzaga Mota 
HMF - Hospital da Mulher de Fortaleza 
IML - Instituto de Medicina Legal 
IMP - Instituto Maria da Penha 
JECRIMS - Juizado Especial Criminal 
LGBT - Gay, Lésbica, Bissexual e Travesti 
LMP - Lei Maria da Penha 
MTE - Ministério de Trabalho e Emprego 
OEA - Organização dos Estados Americanos 
OG‟s - Organizações Governamentais 
OIT - Organização Internacional de Trabalho 
OMS - Organização Mundial de Saúde 
ONG‟s - Organizações Não Governamentais 
ONU - Organização das Nações Unidas 
OP - Orçamento Participativo 
PAIF - Serviço de Atendimento Integral à Família 
PNAS - Política Nacional de Assistência Social 
PNDH - Programa Nacional de Direitos Humanos 
PNPM - Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
SMCDH - Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos 
SPM - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres 
UMC - União das Mulheres Cearenses 
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância 
TCO - Termo Circunstanciado de Ocorrência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES, DE TABELAS E DE GRÁFICOS 
 
 
 
Figura 1 - Ciclo da Violência ................................................................................................... 23 
Figura 2 - Pesquisa que apresenta o quantitativo de mulheres que denunciam agressões 
sofridas ..................................................................................................................................... 24 
Figura 3 - Eixos Estruturantes da Política Nacional de Enfrentamento á Violência contra as 
Mulheres ................................................................................................................................... 35 
Figura 4 - Mortalidade de mulheres antes e após a vigência da Lei Maria da Penha............... 43 
Figura 5 - Fluxograma de atendimento do CRM ...................................................................... 46 
 
Gráfico 1 - Equipamentos existentes no estado do Ceará em defesa da Mulher ...................... 39 
 
Tabela 1 - Dados de atendimentos do CRM ............................................................................. 60 
Tabela 2 - Tipos de Violência................................................................................................... 61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13 
2 CAPÍTULO I: RELAÇÕES DE GÊNERO E VIOLÊNCIA ............................................... 16 
2.1 Conceituando as relações de gênero .......................................................................... 16 
2.2 A violência contra as mulheres: contextos e especificidades .................................... 19 
3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA 
CONTRA AS MULHERES ................................................................................................ 27 
3.1 Movimento Feminista: as lutas das mulheres ao longo da História .......................... 27 
3.2 Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres ....................... 32 
3.3 Violência doméstica e familiar contra as mulheres em Fortaleza e no Ceará: entre 
conquistas e desafios ............................................................................................................. 37 
3.4 Lei Maria da Penha e os instrumentos normativos que tratam da violência doméstica 
contra as mulheres ................................................................................................................ 40 
4 CAPITULO III: PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE SOBRE O CENTRO DE 
REFERÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FRANCISCA 
CLOTILDE .......................................................................................................................... 44 
4.1 Apresentação do Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de 
Violência Francisca Clotilde (CRM) .................................................................................... 44 
4.2 Percurso metodológico da pesquisa ........................................................................... 46 
4.3 Perfil das entrevistadas .............................................................................................. 50 
4.4 Resultado das Entrevistas .......................................................................................... 50 
4.5 Os dados do Observatório: demandas das mulheres atendidas (retornos e 
atendimentos de primeira vez) ..............................................................................................59 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 62 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 65 
APÊNDICES ............................................................................................................................ 70 
ANEXOS .................................................................................................................................. 74 
 
 
 
13 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A presente monografia consiste no trabalho de conclusão de curso de Serviço 
Social e tem por pretensão tratar da violência contra as mulheres no âmbito doméstico, tema 
bastante debatido principalmente após a aprovação da Lei Maria da Penha. Sabemos que há 
diferentes formas de compreensão do que vem a ser violência contra as mulheres, dentre elas 
estão: a violência de gênero que, segundo Saffioti (2004), é aquela que decorre da construção 
social do masculino e do feminino. A violência conjugal, que ocorre a partir de 
relacionamentos conjugais, ou seja, entre casais e a violência doméstica que se dá no âmbito 
da convivência familiar. 
O interesse em pesquisar sobre as diferentes condições das mulheres diante de 
violências sofridas teve origem nas observações registradas durante o meu estágio curricular 
do curso de Técnica de Enfermagem, realizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra 
do Ceará (HDGM-BC), nos anos 2000 e 2001. Durante o estágio, foi constatada a elevada 
incidência de mulheres que eram agredidas fisicamente por seus companheiros e aquilo 
chamou a minha atenção. Outro fator que também instiga a realização de tal pesquisa é o fato 
de ter amigas que se submeteram ou se submetem a esse tipo de agressão por seus 
companheiros e ainda não conseguiram se desvencilhar destas relações. 
A violência doméstica é um tema atual e instigante, sendo esta uma expressão da 
questão social que atinge pessoas de ambos os sexos e não obedece à classe social, geração, 
raça, etnia, orientação sexual, dentre outras. No presente contexto, falaremos sobre a violência 
doméstica contra as mulheres, a qual os agressores, comumente são os maridos e 
companheiros. Estes, por sua vez, constroem vínculos familiares e afetivos com essas 
mulheres, conhecem seus modos de vida, tem “livre acesso” a elas, e o mais crítico, muitas 
vezes, compreendem aspectos de suas subjetividades. 
De acordo que a violência contra as mulheres continua sendo percebida 
socialmente como um fenômeno naturalizado, de forma que as pessoas pensam que seja 
somente uma crise de casal e que “as briguinhas são normais”. Porém, quando a violência se 
manifesta de forma muito agressiva, a sociedade tende a culpabilizar as mulheres, a partir de 
falas expressas do senso comum que enfatizam que “mulher gosta de apanhar” ou que “é 
vagabunda por aceitar estar naquela situação”. 
Em Fortaleza, existem equipamentos públicos que compõem a Rede de 
Atendimento às mulheres em situação de violência, dentre eles encontram-se: Casa Abrigo, 
14 
 
Centros de Referência, Delegacias e Defensorias de Defesa das Mulheres, Juizados Especiais 
da Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres, Centros de Referência de Assistência 
Social (CRAS), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), Centro 
de Reabilitação e Educação do Agressor e serviços de saúde especializados no atendimento à 
violência sexual. 
Esta pesquisa foi realizada com as profissionais do Centro de Referência e 
Atendimento à Mulher em Situação de Violência Francisca Clotilde (CRM) em Fortaleza. 
Nesse sentido, partimos da seguinte indagação: Qual a concepção das profissionais do CRM 
sobre as contribuições deste serviço para o processo de ruptura da violência doméstica das 
mulheres? 
A partir dessa pergunta de partida podemos citar outros questionamentos 
pertinentes ao tema: O que as profissionais entendem por violência doméstica contra a 
mulher? Na visão das profissionais, quais são as principais demandas que as mulheres 
usuárias apresentam para o CRM? Qual a concepção das profissionais sobre as atitudes das 
mulheres usuárias do serviço diante das agressões sofridas? Como elas acham que o CRM 
tem contribuído para o processo de rompimento das situações de violência vivenciadas pelas 
mulheres usuárias do serviço? Qual a opinião das técnicas sobre a política de enfrentamento a 
violência contra as mulheres em Fortaleza? 
Os questionamentos descritos nesse trabalho buscam a obtenção de novos 
conhecimentos sobre o fenômeno da violência doméstica contra as mulheres, com o propósito 
de discutir seus resultados tanto no âmbito acadêmico, quanto no exercício profissional. 
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo geral conhecer a concepção 
das profissionais do CRM sobre as contribuições deste serviço para o processo de ruptura da 
violência doméstica das mulheres. Dentre os objetivos específicos, destacamos: compreender 
o entendimento das profissionais sobre o significado do fenômeno da violência doméstica 
contra as mulheres; saber qual a concepção das profissionais sobre as atitudes das mulheres 
usuárias do serviço diante das agressões sofridas; apreender a opinião das profissionais sobre 
a política de enfrentamento a violência contra as mulheres em Fortaleza. 
A metodologia utilizada na elaboração deste trabalho pautou-se na pesquisa 
qualitativa. A técnica principal para a obtenção das informações foi a entrevista 
semiestruturada, em vista de apreender os significados atribuídos pelas profissionais do CRM 
ao processo de rompimento do ciclo da violência doméstica pelas usuárias às quais atendem. 
Como forma complementar, utilizamos a pesquisa bibliográfica e documental, mediante a 
utilização de livros e textos pertinentes ao tema, bem como de artigos de periódicos, jornais e 
15 
 
revistas e demais documentos de órgãos governamentais e não governamentais. Recorremos 
ainda aos dados quantitativos advindos de pesquisas que tratam do fenômeno estudado. 
Ressaltamos que as categorias utilizadas para a realização deste estudo foram: 
gênero, violência doméstica contra as mulheres e políticas públicas. Portanto, a monografia 
foi dividida em três capítulos: O primeiro capítulo abordou o tema das relações sociais de 
gênero e violência contra as mulheres, o qual contextualizou o cenário histórico da violência 
contra as mulheres, a partir das categorias de violência e gênero. Para essa discussão 
fundamentamo-nos principalmente em Scott (1990), Saffioti (2004), Osterne (2008) e 
Giddens (2001). 
As Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência contra as mulheres foram 
apresentadas no segundo capítulo, a partir da relação histórica com o movimento de mulheres 
e feministas. Destacamos também a Lei Maria da Penha, como um dispositivo legal de 
proteção as “vítimas” de violência. 
Por fim, o terceiro capítulo tratou das informações referentes à pesquisa de 
campo, no qual abordamos com mais precisão os procedimentos metodológicos de 
investigação, as dificuldades enfrentadas na coleta das informações, a contextualização do 
lugar, tipo e natureza da pesquisa, os sujeitos e as falas das profissionais do CRM. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
2 CAPÍTULO I: RELAÇÕES DE GÊNERO E VIOLÊNCIA 
 
No primeiro capítulo abordaremos o tema Relações de Gênero e Violência, 
contextualizando o cenário histórico da violência contra a mulher. Discutiremos, ainda, as 
categorias gênero e violência, bem como será apresentado um breve histórico da violência 
contra as mulheres. 
 
2.1 Conceituandoas relações de gênero 
 
Segundo Giddens (2001), o gênero está associado às noções socialmente 
construídas de masculinidade e feminilidade, não sendo, necessariamente, um produto direto 
do sexo biológico de um indivíduo. A distinção entre sexo e gênero é fundamental, pois 
muitas diferenças entre homens e mulheres não são de origem biológica. 
 
O que é ser-se um homem? O que é ser-se uma mulher? Pode pensar-se que ser-se 
um homem ou uma mulher é algo associado em última instância com o sexo do 
corpo em que nascemos. Mas, a semelhança das inúmeras questões que suscitam o 
interesse dos sociólogos, a natureza da feminilidade e da masculinidade não é assim 
tão fácil de classificar. Algumas pessoas acreditam, por exemplo, ter nascido no 
corpo errado e procuram «endireitar as coisas» mudando de gênero ao longo da vida. 
(GIDDENS, 2001, p. 108) 
 
Para melhor compreensão dos papéis culturais distintos entre homens e mulheres, 
torna-se necessário destacar as análises de Giddens (2001), nas quais, culturalmente, ambos 
exercem atribuições variadas, além de destacar que a natureza dos corpos masculinos e 
femininos pode não estar diretamente vinculada aos papéis que exercem. 
No entanto, aprimoramos nosso olhar para uma discussão pautada nos papéis 
desempenhados por homens e mulheres, em relações heterossexuais, diante de uma sociedade 
ocidental de tradição e valores patriarcais ainda sólidos. Nesse contexto, afirmamos que os 
homens, em geral, são mais valorizados que as mulheres, bem como as relações de poder 
entre ambos admitem hierarquias que os privilegiam. Às mulheres é “dada”, culturalmente, a 
responsabilidade de educar os filhos e de se ocupar das atividades domésticas, enquanto aos 
homens é “imposta” a responsabilidade de sustentar a família, apesar de alguns cenários de 
mudanças. Desse modo, a divisão de trabalho entre sexos os levou a assumirem posições 
desiguais em termos de poder, prestígio e riqueza. 
Ainda na infância, as crianças são ensinadas sobre o que é “ser homem” e o que é 
“ser mulher”, sendo elas educadas conforme modelos sociais bem delineados do masculino e 
17 
 
do feminino. Os brinquedos são distintos e direcionados para meninos e para as meninas, e, 
além disso, são ditadas regras de comportamento e de postura igualmente diferenciadas. 
Também são estabelecidos padrões estéticos de vestimentas, postura e apresentação. 
Geralmente, os meninos espelham-se nos modelos dos homens adultos, enquanto as meninas 
nos modelos das mulheres adultas. Desse modo, são impostos paradigmas de beleza, 
docilidade, comportamento e fragilidade para as mulheres, e virilidade, coragem e poder para 
os homens. 
Para entendermos a violência contra as mulheres, partiremos do conceito das 
relações sociais de gênero concomitante ao conceito de patriarcado. Gênero, conforme o 
dicionário Aurélio (2010), é uma categoria que indica, por meio de desinência, uma divisão 
dos nomes baseada em critérios, tais como sexo e associações psicológicas, e, ainda segundo 
este dicionário, há gêneros masculino, feminino e neutro. 
Segundo Scott (1990), gênero diz respeito a uma categoria útil para análise 
histórica, sendo que o uso deste conceito vem sendo bastante discutido, destacando-se com 
frequência no campo das Ciências Sociais, Sociologia, Psicanálise e Antropologia. Seu 
fortalecimento ocorreu com as produções acadêmicas referentes ao sexo feminino, realizadas 
por feministas na década de 1970. Dessa forma, ao longo dos séculos, 
 
[...] as pessoas utilizaram de forma figurada os termos gramaticais para evocar traços 
de caráter ou traços sexuais [...], as feministas começaram a utilizar a palavra 
“gênero” mais seriamente, no sentido mais literal, como uma maneira de referir-se à 
organização social da relação entre os sexos [...]. Em vários idiomas indo-europeus 
existe uma terceira categoria – o sexo indefinido ou neutro. (SCOTT, 1990, p. 73) 
 
Scott (1990) diz ainda que gênero é um termo proposto pelas pesquisadoras 
feministas que trabalhavam com estudos sobre mulheres, e que este conceito adotado por elas 
transformaria os paradigmas no seio de cada disciplina. 
 
“Gênero” é sinônimo de “mulheres” [...]. O uso do termo “gênero” visa indicar a 
erudição e a seriedade de um trabalho, pois “gênero” tem uma conotação mais 
objetiva e neutra do que “mulheres” [...]. O gênero é, segundo essa definição, uma 
categoria social imposta sobre um corpo sexuado. (SCOTT, 1990, p. 75) 
 
Assim, a incorporação do gênero por parte das ciências sociais visa fortalecer o 
caráter social das relações entre os sexos e desmistificar o determinismo biológico dos termos 
sexo e diferenças sexuais. 
18 
 
Saffioti (2004) também discorre sobre o conceito de patriarcado, que expressa a 
dominação-exploração das mulheres pelos homens, de forma que elas são vistas apenas como 
reprodutoras de trabalho, de filhos e de satisfação sexual para os homens. 
Os códigos de gênero, por meio do poder simbólico, contribuem para ratificação 
de determinadas estruturas sociais, conforme afirma Bourdieu (1998, p. 15), admitindo-se, 
assim, o uso de seu conceito de dominação simbólica: 
 
A força da ordem masculina pode ser aferida pelo fato de que ela não precisa de 
justificação: a visão androcêntrica se impõe como neutra e não tem necessidade de 
se enunciar, visando sua legitimação. A ordem social funciona como uma imensa 
máquina simbólica, tendendo a ratificar a dominação masculina na qual se funda: é a 
divisão social do trabalho, distribuição muito restrita das atividades atribuídas a cada 
um dos dois sexos, de seu lugar, seu momento, seus instrumentos [...]. 
 
Ainda segundo Bourdieu (1998, p. 41), a dominação propriamente dita já constitui 
uma violência: 
 
A violência simbólica institui-se por meio da adesão que o dominado não pode 
deixar de conceder ao dominador (logo, à dominação), uma vez que ele não dispõe 
para pensá-lo ou pensar a si próprio, ou melhor, para pensar sua relação com ele, 
senão de instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo 
senão a forma incorporada da relação de dominação, mostram esta relação como 
natural; ou, em outros termos, que os esquemas que ele mobiliza para se perceber e 
se avaliar ou para perceber e avaliar o dominador são o produto da incorporação de 
classificações, assim naturalizadas, das quais seu ser social é o produto. 
 
Torna-se relevante ainda, trazer à tona o debate sobre o conceito de poder 
apresentado por Michel Foucault (1979), o qual expressa que o poder em si não existe, mas 
sim relações de poder. De acordo com o referido autor, o poder é como um instrumento de 
diálogo entre os indivíduos de uma sociedade, sendo este relacional. A noção de poder 
onisciente, onipotente e onipresente não tem sentido nesta versão, pois tal visão somente 
serviria para alimentar uma concepção negativa do poder. 
 
[...] o indivíduo é um dos primeiros efeitos do poder, e não o outro do poder. Em 
síntese: “o indivíduo é o efeito do poder e, simultaneamente, ou pelo próprio fato de 
ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que 
ele constituiu”. (FOUCAULT, 1989, p. 183-184) 
 
Percebemos assim, que embora haja uma relação de hierarquia entre homens e 
mulheres, estas podem manifestar sinais de resistência às agressões masculinas. Portanto, o 
autor cita que “(...) lá onde há poder, há resistência e, no entanto, ou melhor, por isso mesmo, 
19 
 
esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder.” (FOUCAULT, 
1988, p. 91). 
No tópico seguinte, faremos um breve histórico da violência contra as mulheres, 
bem como falaremos sobre a categoria violência e suasespecificidades no que tange às 
relações de gênero, por meio de algumas definições sugeridas por autores que discutem tal 
tema. 
 
2.2 A violência contra as mulheres: contextos e especificidades 
 
Os termos sexo e gênero foram utilizados durante muito tempo como tendo o 
mesmo significado, que seriam de traços que diferenciariam homens e mulheres. A 
historiadora norte-americana Joan Scott (1990) cita que esse novo uso da palavra gênero 
expressa um elemento de relações sociais fundadas sobre as diferenças naturalmente 
percebidas entre os sexos, sendo assim uma construção social e histórica dos sexos. 
O movimento de mulheres surge a partir da organização coletiva de algumas 
destas que questionavam os lugares atribuídos a elas socialmente. Segundo Peixoto (2007), o 
movimento de mulheres pode ser considerado como toda forma de organização de mulheres 
que lutam para conquistar seus objetivos: seja um grupo de mulheres que lutam por melhorias 
em sua comunidade; seja o movimento de uma determinada categoria profissional; seja o 
movimento de mulheres negras. 
Além da busca pela igualdade de gênero e igualdade de direitos, as mulheres 
reivindicavam a conquista dos seus direitos em igualdade com os homens. Dentre as 
conquistas que as mulheres tiveram, destacam-se: a implantação das delegacias especializadas 
de defesa das mulheres e o reconhecimento legal da violência doméstica como uma violação 
dos direitos humanos, a citar, por exemplo, a Lei Maria da Penha. 
As feministas afirmam que essa luta não tem como objetivos a destruição ou a 
“desestruturação” das famílias, mas sim mostrar à sociedade e às autoridades que “lugar de 
mulher não é em casa e nem no fogão”. Sendo assim, o objetivo, segundo elas, é acabar com a 
dominação masculina e a com a estrutura patriarcal. 
A violência é um tema característico da vida em sociedade, principalmente devido 
às relações sociais entre os sexos. Popularmente, Saffioti (2004, p. 17) denomina que 
“violência doméstica trata-se da ruptura de qualquer forma de integridade da vítima: 
integridade física, psíquica, sexual, moral.”. 
20 
 
Conforme afirma a citada autora, a violência contra as mulheres pode ser 
cometida não apenas por parentes, como também por pessoas de confiança ou do convívio do 
domicílio, mesmo que não haja nenhum vínculo. Já a violência doméstica é aquela que é 
praticada por parentes da “vítima”, ou que vivem na mesma residência e mantêm laços 
afetivos, podendo ser parentes, esposos, tios, etc. “Assim, o poder „dado‟ aos homens é como 
uma autorização social para fazer o que quiser com as vítimas” (SAFFIOTI, 2004, p. 18). 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 1981, violência como “a 
imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis” (MINAYO & SOUZA, 
1993, p. 71). Dessa forma, a violência é considerada epidemia, tanto pelo número de 
“vítimas”, como pela seriedade das sequelas que produz na saúde física e mental das pessoas. 
Ainda segundo Minayo e Souza (1993), a violência foi identificada como 
criminalidade, quase que objeto exclusivo das Ciências Jurídicas, sendo, recentemente, 
inserida mais intensamente em outras áreas do conhecimento. 
Teles e Melo (2002, p. 15), definem violência como: 
 
Violência [...] quer dizer uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar 
outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a 
liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua 
vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, 
lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem ao seu domínio; é 
uma violação dos direitos essenciais do ser humano. 
 
 Osterne (2008) nos diz que a violência doméstica contra as mulheres é o reflexo 
da violência de gênero e que teve sua origem no patriarcado, na forma de estruturalização 
social do gênero. Para que ocorra o enfrentamento da violência doméstica, é necessário que 
haja a intervenção de agentes externos, principalmente de equipes multiprofissionais e de uma 
rede de equipamentos de proteção a essas mulheres. 
Saffioti (2004) relata que dificilmente uma mulher conseguirá se desligar de um 
homem violento sem a intervenção externa, e conclui afirmando que até que ocorra o 
desvencilhamento da relação, as mulheres reagem à violência através de variadas estratégias. 
“(...) a violência de gênero, inclusive em suas modalidades familiar e doméstica, não ocorre 
aleatoriamente, mas deriva de uma organização social de gênero, que privilegia o masculino” 
(SAFFIOTI 2004, p. 81). 
De acordo com os autores acima citados, violência doméstica contra as mulheres é 
entendida a partir das relações de poder pautadas na dominação masculina, sendo que 
culturalmente, a violência é naturalizada nas relações sociais. 
21 
 
De acordo com a Lei nº 11.340/2006, que trata da criação dos mecanismos para 
reprimir a violência contra a mulher, mais conhecida como Lei Maria da Penha, são formas de 
violência doméstica e familiar contra as mulheres aquelas que são praticadas no interior do 
ambiente familiar, em relações interpessoais, em relações homoafetivas, em locais onde o 
agressor tenha ou teve convívio com a mulher no mesmo domicílio, podendo abranger a 
violência sexual, psicológica, moral, patrimonial, etc. 
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher (1994), conhecida como Convenção de Belém do Pará, remete à violência, em seu 
artigo 1º como: “violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, 
que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito 
público como no privado” (BRASIL, 1994, p. 86). 
Para a Organização Mundial da Saúde (apud TELES; MELO, 2003, p. 12): 
 
[...] a violência doméstica contra a mulher no âmbito doméstico tem sido 
documentada em todos os países e ambientes socioeconômicos; e as evidências 
existentes indicam que seu alcance é muito maior do que se supunha. 
 
Destacamos que a violência cometida contra as mulheres se manifesta de várias 
formas, resultando em lesões corporais, em agressões que prejudicam a autoestima e as 
relações da pessoa agredida, além de traumas psicológicos e/ou mortes. 
Apesar de as mulheres estarem obtendo conquistas tanto no campo profissional, 
quanto no político e social, ainda precisam avançar no campo privado das relações pessoais, 
no âmbito doméstico e familiar. As mulheres, muitas vezes, ainda são vistas como inferiores e 
vítimas dos preconceitos, em consequência do machismo que insiste em imperar nas famílias 
e na sociedade. 
Conforme divulgação das estatísticas do Mapa da Violência (2012), realizado pelo 
Instituto Sangari, no decorrer de 1980 a 2010, foram assassinadas no país mais de 92 mil 
mulheres, sendo que 43,7 mil aconteceram somente na última década. Esses dados 
representam um aumento de 230%, ou seja, os índices passaram de 1,353 para 4,465. 
 Segundo o artigo 7º, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), são formas de 
violência doméstica e familiar contra a mulher: 
I - a violência física é compreendida como aquela na qual o agressor ofende a integridade ou 
saúde corporal; 
II - a violência psicológica é compreendida como qualquer conduta que cause diminuição da 
autoestima e danos emocionais ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que 
22 
 
vise degradação ou controle de suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante 
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito 
de ir e vir ou qualquer outromeio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; 
III - a violência sexual é entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a 
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação 
ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua 
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao 
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou 
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial é entendida como qualquer conduta que configure retenção, 
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos 
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer 
suas necessidades; 
V - a violência moral é entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação 
ou injúria. 
As agressões se iniciam com ameaças, empurrões, tapas, xingamentos, violência 
na presença da vítima (como esmurrar a parede ou uma mesa), e/ou danos a animais ou 
objetos. A agressão pode incluir abuso sexual, empurrões e/ou jogar a vítima ao chão, 
esfaqueamento, mordidas, pontapés, chegando a representar ameaça à vida, com a utilização 
de armas. 
O ciclo da violência contra as mulheres divide-se em três fases. A primeira é a 
fase da tensão, onde ocorrem insultos menores, que se manifestam por meio de atritos, 
ameaças, crises de ciúmes, onde a mulher tenta acalmar o agressor, sendo prestativa, dócil, e 
acaba achando que realmente a culpa pode ser sua. Em seguida, vem a segunda fase, que é a 
da explosão, do descontrole, sendo marcada por agressões mais graves. Por fim, vem a 
terceira e última fase, que é a do arrependimento, da “lua de mel”, da reconciliação, na qual 
há pedidos de perdão, demonstrações de remorso, promessas de mudança de comportamento. 
O agressor mostra medo de perder a companheira, promete que tudo que aconteceu não vai se 
repetir; é a fase na qual ele promete qualquer coisa, implora por perdão e compra presentes. A 
imagem a seguir ilustra um pouco de como essas fases acontecem. 
 
23 
 
 
Figura 1 - Ciclo da Violência 
Fonte: WALKER, L.
1
, 2002. 
 
 
Para “preservar a integridade do lar” e com medo de “desagradar o agressor” e 
iniciar um novo processo de violência, as mulheres assumem um papel de discrição e de 
silêncio, sem deixar transparecer a violação da qual são vítimas. 
 
 
1
 BRASIL. Ministério da Saúde. Violência Intrafamiliar: Orientação para a prática em serviço. Caderno de 
Atenção Básica. n. .8. Brasília, 2002. 
 
24 
 
A partir de uma pesquisa realizada pelo Senado Federal (2013), foi possível 
identificar que muitas mulheres agredidas não denunciam os fatos às autoridades, dificultando 
os dados reais da violência sofrida pelas “vítimas”. 
 
 
Figura 2 - Pesquisa que apresenta o quantitativo de mulheres que denunciam agressões sofridas 
Fonte: <www.senado.gov.br/noticias/datasenado>, 2013. 
 
A violência contra as mulheres é praticada nos mais diversos espaços, mas a que 
ocorre no âmbito doméstico acaba sendo mais complexa, pois se entrelaça de sentimentos 
relacionados ao prazer, amor, medo vergonha e poder. O Mapa da Violência (2012) relata que 
após a implementação da Lei Maria da Penha, a proteção às mulheres melhorou, porém, a 
partir de 2008, os índices de violência retornaram aos números anteriores. 
Nesse sentido, mesmo com a implantação dessa legislação, há ainda questões 
reais de ordem cultural que reforçam a subordinação das mulheres com os homens, como nos 
fala o conhecido ditado popular: “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Isto 
acaba dificultando as denúncias por vizinhos, parentes e amigos, afinal, a casa é considerada 
como um espaço sagrado e “ninguém pode se intrometer na intimidade do casal”. Percebemos 
25 
 
que a violência permeia o dia a dia das pessoas, e diante de uma agressão, ainda há falas que 
se omitem, chegando a dizer: “essa é mais uma briguinha de casal”. 
Em 2008, o Brasil assistiu ao vivo o assassinato de uma adolescente de 15 anos, a 
jovem Eloá Cristina Pimentel, por um ex-namorado inconformado com o fim do 
relacionamento, este terminado por ele mesmo por ciúmes, e que a vítima não quis reatar. 
Eloá e uma amiga permaneceram em cárcere privado durante 100 horas. Nesse período, ele 
bateu, acusou, coagiu e, por fim, martirizou o seu corpo com um tiro na cabeça e na virilha, 
sendo a amiga também ferida com um tiro no rosto. O femicídio é um crime de ódio, 
realizado sempre com muita crueldade. 
Outros casos semelhantes foram os de Mizael
2
 e do goleiro Bruno
3
.
 
Nos dois 
episódios há exemplos covardes de violência contra a mulher, que ganharam grande espaço na 
mídia, chamando a atenção da população e das autoridades para um problema que não é novo, 
pois desde o período colonial a mulher é “coisificada”, sendo considerada propriedade do 
homem e este sempre se sentiu no direito de realizar tal ação, inferiorizando o sexo feminino. 
Foram crimes hediondos, nos quais nenhuma das duas mulheres tiveram como se defender 
das situações. 
A violência contra as mulheres não escolhe idade, beleza, cor ou classe social, e é 
caracterizada por ser uma forma de violação dos direitos humanos das mulheres, impedindo-
as de desfrutar de direitos e das liberdades fundamentais, conforme explicita a Constituição 
Federal de 1988, ferindo, assim, sua dignidade e autoestima. 
Segundo o artigo 5º, parágrafo IX, da Constituição Federal: 
 
 
2
O policial reformado e advogado Mizael Bispo de Souza foi condenado nesta quinta-feira (14) a 20 anos de 
prisão pelo assassinato da ex-namorada, a advogada Mércia Nakashima, ocorrido em 23 de maio de 2010. O 
corpo e o carro da advogada foram encontrados em uma represa na cidade de Nazaré Paulista, na Grande São 
Paulo. Mércia foi morta aos 28 anos. 
Na leitura da sentença, o juiz Leandro Bittencourt Cano descreveu os três agravantes aceitos pelo Conselho de 
Sentença ao analisar se o réu era inocente ou culpado. 
Sobre o agravante de crime torpe, por exemplo - segundo a acusação, Mizael se sentia humilhado pelo fim do 
relacionamento -, o magistrado definiu: "muitos crimes são cometidos em nome do amor, mas que tipo de amor é 
esse?", indagou, para completar: "Quando é amor o que se sente, não há o mínimo desejo de se livrar da pessoa 
amada. O sentimento amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, esse faz sofrer", disse. 
Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/03/14/apos-tres-anos-mizael-bispo-e-
condenado-pela-morte-da-ex-namorada-mercia-nakashima.htm>. 
3
 O goleiro Bruno foi condenado por júri popular em Contagem (MG) a 22 anos e 3 meses em regime fechado (em 
prisão de segurança média ou máxima) pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza e também pelo sequestro e 
cárcere privado do filho Bruninho. Ele está preso desde julho de 2010 na Penitenciária Nelson Hungria. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/noticia/2013/06/supremo-nega-
liberdade-goleiro-bruno.html>. 
26 
 
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm o direito, sem discriminação alguma, 
a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deve proibir qualquer forma de 
discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer 
tipo de discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião políticaou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou 
qualquer outra situação. (BRASIL, 1988) 
 
Entretanto, algumas mudanças ocorreram do ponto de vista legal, como por 
exemplo, no novo Código Civil (2002), no qual as mulheres passaram a ser vistas como 
cidadãs, com direitos e deveres. Agora, as mulheres ao casar não apenas assumem “a 
condição de companheira, consorte e colaboradora do marido nos encargos de família” 
(Código Civil, 2002, Art. 1.565), mas passa a exercer direitos e deveres baseados na 
comunhão plena de vida e na igualdade entre os cônjuges. 
É necessário que os poderes públicos se sensibilizem, em especial o judiciário, e 
que a população tenha conhecimento desse tipo de violência. É preciso um processo contínuo 
de conscientização, por meio das escolas, de políticas públicas e da realização de campanhas 
educativas, além da mídia e das redes sociais, que são instrumentos em potencial para a 
realização de trabalhos educativos. Enfim, a sociedade precisa tomar ciência dos instrumentos 
nacionais e internacionais de proteção aos direitos humanos, em especial, os relacionados aos 
direitos das mulheres. 
No capítulo seguinte buscamos tecer considerações sobre o movimento feminista 
e as políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
3 CAPÍTULO II: POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA 
CONTRA AS MULHERES 
 
Neste capítulo discorreremos sobre as lutas e conquistas históricas das mulheres, 
sobretudo do movimento feminista. Abordaremos ainda, o tema das políticas públicas de 
enfrentamento à violência contra as mulheres, onde citaremos também, alguns dispositivos 
normativos, tais como: Lei Maria da Penha (2006), Política Nacional de Enfrentamento à 
Violência contra as Mulheres (2001) e Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-
2015). 
 
3.1 Movimento Feminista: as lutas das mulheres ao longo da História 
 
A palavra “feminismo” provém do francês femme e do latim femina. O feminismo 
é um movimento político e social que luta pela igualdade de direitos, de condições e de 
oportunidades entre mulheres e homens. O movimento feminista, portanto, é contrário à 
ideologia patriarcal e busca entender as causas da discriminação das mulheres. 
Lobo (1991) nos fala que o início das conquistas das mulheres ocorreu pela 
emancipação destas como cidadãs. Com este propósito, lutaram para conquistar seus direitos 
mais amplos, como o voto, a igualdade na educação e a igualdade civil. 
O movimento feminista, segundo Goldenberg (1992, p. 17) é conceituado como 
sendo uma “ação organizada de caráter coletivo que visa mudar a situação da mulher na 
sociedade, eliminando as discriminações a que ela está sujeita”. Esse movimento surgiu nos 
Estados Unidos e na Inglaterra, em meados dos séculos XVIII e XIX, e sofreu influência das 
revoluções Francesa e Industrial. 
De acordo com Simone de Beauvoir (1970, p. 85): 
 
O que elas reivindicam hoje é serem reconhecidas como existentes ao mesmo título 
que os homens e não de sujeitar a existência à vida, o homem à sua animalidade. 
Uma perspectiva existencial permitiu-nos, pois, compreender como a situação 
biológica e econômica das hordas primitivas devia acarretar a supremacia dos 
machos. 
 
Nesse contexto, Scott (2002) ressalta que as feministas passaram a questionar as 
contradições no discurso político e filosófico que, por meio da “diferença sexual”, 
delimitavam a universalidade dos direitos individuais. Elas acusaram a Revolução Francesa e 
as três primeiras repúblicas da França de trair os princípios universais de igualdade, liberdade 
e fraternidade, ao recusarem o direito à cidadania para as mulheres. 
28 
 
As feministas francesas, de acordo com Frota & Santos (2012), formularam 
discursos para reivindicar direitos iguais para mulheres e homens, dentre os quais podemos 
citar: Olympe de Gouges, que ao exigir direitos iguais aos dos homens elaborou a Declaração 
dos Direitos da Mulher e da Cidadã em 1791; Jeanne Deroin, que concorreu para cargo 
legislativo em 1849, desafiando a Constituição da Segunda República; Hubertine Auclert, que 
foi a primeira a reclamar pelo direito do voto feminino; e Madeleine Pelletier, que elaborou 
um documento emancipatório para a mulher, considerando dentre outras questões, o direito ao 
voto, além do direito à descriminalização do aborto, sendo este considerado como um direito 
sobre o próprio corpo. 
Nesse sentido, Olympe de Gouges, em 1791, ao publicar a Declaração dos 
Direitos das Mulheres e das Cidadãs, fez uma denúncia à exclusão das mulheres, ao 
questionar o conceito de igualdade contido na Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, na França, em 26 de agosto de 1789. Para ela, a diferença sexual não deve justificar 
o poder e a cidadania política. 
No tocante ao movimento feminista, podemos apontar didaticamente três fases: a 
primeira ocorreu durante o período do Iluminismo à Revolução Francesa; a segunda é 
característica do feminismo dos séculos XIX e XX; e a terceira etapa ocorreu nos séculos XX 
e XXI. 
 
É possível dividir o feminismo em três ondas ou momentos, sendo que o primeiro 
momento ocorre no período que compreende a Revolução Francesa até o final da 
Primeira Grande Guerra, o segundo momento marca o período do seu ressurgimento 
em 1960 e o terceiro emerge na década de 1990. (LUCENA (s/d), p. 02) 
 
O primeiro momento do feminismo foi entre o período de 1850 a 1940, em que as 
mulheres da elite lutaram por direitos mais amplos, como direito à educação, ao emprego e ao 
voto. Nessa época, a alfabetização para as mulheres era vista como prejudicial, pois interferia 
no desenvolvimento dos papéis de esposa e mãe. Com relação ao voto, as mulheres só 
adquiriram efetivamente o direito em 1932, graças à ação política do Partido Republicano 
Feminino, criado em 1910, no qual o voto era restrito às mulheres casadas que tivessem 
autorização dos maridos e a algumas solteiras ou viúvas com renda própria. No entanto, em 
1946, foi instituída a obrigatoriedade plena do voto feminino (BRASIL, 2002). 
Apesar de sempre ter sido possível encontrarmos vozes do feminismo, este só 
passou a se formar como movimento organizado após a Revolução Francesa, ganhando força 
durante o século XIX, com o movimento sufragista. O primeiro grupo de mulheres foi 
29 
 
inspirado após a Revolução Francesa, e é apontado por Guimarães (2005, p.78) como sendo 
uma 
 
[...] ação organizada de caráter coletivo, que tem como objetivo combater a 
particular situação de subordinação das mulheres, tendo surgido no meio das 
mudanças que marcaram a história da Europa ocidental a partir do século XVIII. 
Vinculou-se ao desenvolvimento da democracia e a uma quantidade de fatos 
históricos da época da ilustração, da Revolução Americana e da Revolução 
Francesa. Tendo raízes anteriores a esse período. 
 
Essa primeira fase do feminismo foi chamada de “feminismo igualitário”, que 
tinha vertente liberal ou marxista. A preocupação era identificar as causas da discriminação 
das mulheres e a reivindicação por igualdade entre os sexos. 
 
Ao longo da história sempre houve mulheres que reivindicaram sua condição, que 
lutaram por liberdade e que, inúmeras vezes, pagaram com a própria vida. A 
primeira fase do feminismo ocorreu a partir das ultimas décadas do século XIX, que 
foi quando as mulheres organizaram-se e lutaram por seus direitos, onde o primeiro 
a ser popularizado foi o direito ao voto. No Brasil, também se manifestou 
publicamente através da luta pelo voto. (PINTO, 2009, p. 16) 
 
Conforme descrito acima, o direitoao voto feminino ocorreu em 1932 e nesse 
momento foi promulgado o Novo Código Eleitoral brasileiro, assinado pelo então presidente 
Getúlio Vargas. As mulheres conquistaram também o direito de serem votadas para cargos do 
Executivo e Legislativo. Em 1933, durante as eleições para a Assembleia Constituinte, foram 
eleitos 214 deputados e uma única mulher, a paulista Carlota Pereira de Queiroz. 
Entre 1930 e 1960, houve o surgimento de um livro que marcou profundamente a 
condição das mulheres e que foi fundamental para a nova “onda” feminista, O segundo sexo 
(1949), da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir. Para Lucena (s/d), Beauvoir 
denominou-se como uma voz solitária no contexto das atividades do movimento de 
mulheres
4
. Pinto (2009) afirma que a autora estabelece uma das máximas do feminismo: “não 
se nasce mulher, se torna mulher” e denuncia as raízes da desigualdade sexual. 
 
No livro O Segundo Sexo (1949) de Simone de Beauvoir, a autora nos fala sobre a 
mulher na sociedade, o livro foi publicado numa época em que mulher estava 
começando a se libertar da dominação masculina, mas que ainda encontrava 
 
4
 Movimento de Mulheres é considerado como toda forma de organização de mulheres que lutam para conquistar 
seus objetivos, seja um grupo de mulheres que luta por melhoria na sua comunidade, seja o movimento de uma 
determinada categoria profissional, seja o movimento de mulheres negras. Já o Movimento Feminista também 
faz parte do movimento de mulheres, é um movimento político que tem como objetivo a luta pela igualdade 
entre homens e mulheres. O feminismo investe na cidadania das mulheres e tem como projeto a auto-
organização das mulheres. No feminismo, as mulheres são o sujeito dessa luta (PEIXOTO, 2007). 
30 
 
diversos obstáculos. Beauvoir faz uma análise, histórica, social, psicológica e 
biológica sobre a mulher na sociedade, contrapondo-se completamente a ideias e 
estudos que tratem de uma condição feminina. O livro é rico em informações e 
análises profundas, é muito bem fundamentado, numa tentativa de salientar que o 
"ser mulher" é algo construído histórica e socialmente, tanto quanto a submissão 
dela em relação ao outro sexo. A autora nega a ideia de que foi a "natureza inferior" 
da mulher que instituiu o quesito de segundo sexo, mas sim 
sua invisibilidade histórica. Já que não importa se a mulher é mãe, esposa, moça ou 
prostituta, ela sempre se determinou por sua função em relação ao homem, 
simbolizando aquilo que ela chamou de "Outro". Diz ainda que somente através da 
formação de um conhecimento autônomo e da emancipação econômica que a mulher 
poderia ser livre e ter plena autonomia sobre seu corpo e seu destino
5
. 
 
O segundo momento do feminismo teve origem no final dos anos de 1960, 
período esse que coincide com o aumento das atividades feministas nos Estados Unidos e em 
diversos países europeus. Nessa fase, as mulheres buscavam inspiração nos movimentos pelos 
direitos civis, organizavam passeatas, demonstração pública, pressionavam políticos e 
formavam organizações de mulheres. Elas defendiam direitos iguais aos dos homens na 
educação e no trabalho, bem como tornaram público o fenômeno da violência contra as 
mulheres, sendo, assim, um problema que deveria sair do âmbito privado. No tocante à saúde, 
levantou-se a bandeira em prol do direito à saúde reprodutiva e sexual. 
Essa segunda fase do movimento feminista coincidiu com o período da ditadura 
militar instaurada no Brasil entre 1964 e 1985. As mulheres protagonistas dessa “onda” eram 
de classe média, tinham grau de escolaridade elevado e algumas estavam inseridas 
profissionalmente em universidades e nos cursos de pós-graduação. Muitas delas eram ou 
foram militantes de organizações políticas de esquerda e haviam sido perseguidas pelo regime 
político ditatorial e, por essa razão, haviam ido para o exílio. É válido ressaltar que o 
movimento feminista participou intensamente do processo de reconstrução democrática do 
país. 
Nesse período também surgiu à pílula anticoncepcional, primeiro nos Estados 
Unidos e em seguida na Alemanha. Na música, era vivida a revolução dos Beatles e dos 
Rolling Stones. No ano de 1963, Betty Friedan lança um livro que seria uma espécie de 
“bíblia” do novo feminismo: A mística feminina. 
O Ano Internacional da Mulher foi comemorado em 1975, ano em que também 
foi realizada a I Conferência Mundial da Mulher, devido às demandas do movimento 
feminista que favoreceram a discussão sobre as condições das mulheres, em cenário 
 
5
 Resenha escrita por REIS, Lane. 
Disponível em: <http://oficinasociologica.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html#.U_JW7fldVqU>. 
31 
 
internacional. A Conferência foi promovida, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e, 
a partir daí, instituiu-se a Década da Mulher. 
Em 1979, realizou-se a primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, dessa vez 
no México, aprovada pelas Nações Unidas, e que foi denominada Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). Esta constituiu 
um documento que daria alicerce para o surgimento de outros instrumentos internacionais 
direcionados à eliminação da discriminação contra a mulher. 
De acordo com Pinto (2009), no ano de 1980, durante a redemocratização, o 
feminismo lutou com grande efervescência pelos direitos das mulheres. Surgiram diversos 
grupos, alguns organizados em comunidades e bairros mais pobres, onde se tratavam de temas 
como: violência, sexualidade, direito ao trabalho, igualdade no casamento, direito a terra, 
direito à saúde materno-infantil, luta contra o racismo e o sexismo, melhorias na habitação e 
saúde. Esses movimentos foram influenciados fortemente pelas Comunidades Eclesiais de 
Base da Igreja Católica. 
A criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM) foi uma das 
grandes vitórias do feminismo brasileiro em 1984, afirma Pinto (2009), pois o surgimento 
deste órgão foi importante para a inclusão dos direitos das mulheres na Carta Constitucional 
de 1988. É válido salientar que a Carta Magna é uma das que mais assegura os direitos para a 
mulher no mundo. Apesar disso, durante os governos de Fernando Collor de Mello e 
Fernando Henrique Cardoso, o CNDM perdeu totalmente a importância. Porém, no primeiro 
mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi criada a Secretaria Especial de Políticas 
para as Mulheres, sendo o Conselho recriado. 
Em 1985, foi criada a primeira Delegacia Policial de Defesa da Mulher (DPDM) 
em São Paulo, e também surgiu o Centro de Orientação Jurídica e Encaminhamento 
Psicológico (COJE). Rapidamente, várias outras delegacias foram implantadas em outros 
Estados brasileiros, como, por exemplo, aconteceu no estado Ceará em 1986. 
Em Fortaleza, conforme afirma Magalhães (2009), no ano de 1980 foi eleita a 
primeira prefeita do Brasil, Maria Luiza Fontenele. Nesse período, Maria Luiza apoiou e 
participou do movimento de mulheres e com outras mulheres, como Rosa da Fonseca e Zélia 
Zanetti, que lideraram as lutas de enfrentamento à violência sexista, principalmente durante os 
anos de 1980 e 1990. 
Nessa época, algumas organizações de mulheres no Ceará foram sendo criadas 
como o Centro Popular da Mulher (CPM) e a União das Mulheres Cearenses (UMC), voltadas 
ao enfrentamento da violência contra as mulheres (MAGALHÃES, 2009). 
32 
 
O terceiro momento do movimento feminista indaga com mais intensidade as 
questões em torno da igualdade e da diferença, procurando apontar as falhas nas discussões 
das feministas da segunda “onda”, tendo surgido nofinal dos 1980 e se consolidado a partir 
da década de 1990. 
Scavone (2008) relata as relações científicas e políticas dos estudos sobre as 
mulheres e de gênero com o feminismo. A autora faz um resgate histórico desse diálogo e 
pontua o surgimento de novos conceitos, sobretudo, nas Ciências Sociais. 
Nos anos de 1990, conforme nos afirma Peixoto (2007), houve uma ampliação 
significante do movimento social de mulheres e o surgimento de várias organizações não 
governamentais (ONGs) feministas no Brasil. Durante esse período, existiu uma atenção 
especial por parte dos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas 
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), voltadas 
para o impacto das políticas sobre a vida das mulheres. 
Ainda segundo Peixoto (2007), a I Conferência Nacional de Políticas para as 
Mulheres em Brasília ocorreu em 2004, coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para 
as Mulheres, com o apoio das ONGs e dos movimentos de mulheres e feministas. No ano de 
2006 foi aprovada a Lei Maria da Penha, fruto da organização e reivindicação das mulheres. 
No tópico seguinte, falaremos sobre as políticas públicas de enfrentamento à 
violência contra as mulheres, contextualizando-as mediante as definições sugeridas por alguns 
autores. 
 
3.2 Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres 
 
Segundo Alves (2008), entende-se que as políticas públicas são respostas do 
Estado, através de programas e ações diante das demandas que a sociedade expõe através de 
suas necessidades. As políticas públicas são frutos da relação entre Estado e sociedade civil e 
correspondem aos direitos conquistados pelos sujeitos políticos. 
Conforme descrito anteriormente, no ano de 1979 foi realizada a Convenção para 
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, pela Assembleia Geral 
das Nações Unidas. Em 1981, surgiu no Rio de Janeiro o SOS Mulher, com o objetivo de 
atender às mulheres vítimas de violência, além de ser um lugar de reflexões e mudanças na 
vida destas. O SOS Mulher não é limitado somente ao Rio de Janeiro, mas também foi 
adotado por São Paulo e Porto Alegre. 
33 
 
A luta das mulheres resultou, em 1983, na formação do Conselho Estadual da 
Condição Feminina. No ano de 1985, foi implantado o Conselho Nacional dos Direitos da 
Mulher (CNDM), ligado ao Ministério da Justiça por meio da Lei nº 7.353/85, e ainda 
inaugurada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DEAM). No ano seguinte, criou-se a 
primeira Casa-abrigo para mulheres em situação de risco de morte do país (SILVEIRA, 
2006), pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Essas três conquistas foram 
resultado das lutas empreendidas pelas mulheres, tornando-se marcos da atuação do Estado no 
enfrentamento da violência contra as mulheres. 
Depois da criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, foram 
estabelecidos os Conselhos Estaduais, entre eles o Conselho Cearense dos Direitos da Mulher 
(CCDM), vinculado à Secretaria da Justiça do Estado do Ceará (SEJUS), através da Lei nº 
11.170, de 02 de abril de 1986. 
De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento à Violência (2011), durante 
o período de 1985 a 2002, a criação das DEAM‟s e de Casas-abrigo foram o eixo principal da 
política de enfrentamento à violência praticada contra as mulheres. Em 1998 tivemos mais um 
marco no avanço das políticas públicas para as mulheres, com a criação da Norma Técnica 
para Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual, pelo Ministério 
da Saúde. Essa legislação determinava a garantia do atendimento nos serviços de saúde às 
mulheres que fossem vítimas de violência sexual, como uma das medidas a serem adotadas 
para a redução dos agravos desinentes deste tipo de violência. Com a oferta desses serviços, 
as adolescentes e mulheres tiveram o acesso imediato aos cuidados de doenças sexualmente 
transmissíveis e a gravidez indesejada. Cinco anos depois foi promulgada a Lei nº 10.778/03, 
que trata da Notificação Compulsória para os casos de violência praticados contra as mulheres 
(BRASIL, 2011, p.16). 
Conforme o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015), uma 
pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no período de 2006 a 2010, 
apontou que o Brasil esteve entre os dez países com maior incidência de homicídios 
femininos, sendo que a maior parte deles é cometida por homens com quem à vítima possuía 
relações afetivas, utilizando objetos cortantes ou arma de fogo. 
Ainda de acordo com o atual Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013), 
que vigorará no período de 2013 a 2015, o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência 
contra as Mulheres passou por modificações, as quais muitas das ações da PNPM já estão 
sendo executadas. Em 2012, por exemplo, a Secretaria de Políticas para as Mulheres 
conveniou-se com o Ministério da Previdência Social, com a finalidade de que as mulheres 
34 
 
tenham o direito de entrar com ações em casos de aposentadorias ou pensões causadas por 
violência doméstica. Com isso, a responsabilidade com o custeio da violência passa a ser do 
agressor e não mais do Estado (BRASIL, 2013, p. 42). 
Atualmente, tivemos um aumento na quantidade de delegacias: em 2006 eram 394 
em todo o País; hoje contamos com 475 Delegacias ou Postos Especializados de Atendimento 
à Mulher
6
. O número de delegacias ainda é considerado insuficiente para atender a todas as 
mulheres que são vitimadas, porém, é importante reconhecer seu fortalecimento e ampliação. 
A criação da Secretaria de Políticas para Mulheres, no início do governo Lula, em 
2003, possibilitou um maior investimento para ações de enfrentamento à violência, bem como 
surgiram novos serviços especializados, como os Centros de Referência de Atendimento às 
Mulheres, as Defensorias da Mulher, os Serviços de Responsabilização e Educação do 
Agressor, e as Promotorias Especializadas, culminando, assim, na construção de Redes de 
Atendimento às mulheres em situação de violência. Em agosto de 2007, foi oficialmente 
lançado o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, sendo 
consolidada a importância do desenvolvimento de políticas públicas de enfrentamento à 
violência contra as mulheres (BRASIL, 2011). 
De acordo com a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as 
Mulheres (2011), 
 
[...] enfrentamento é definido como uma execução de políticas amplas e flexíveis, 
que proporcionam a execução da complexidade da violência contra as mulheres em 
todos os seus aspectos. O enfrentamento exige a ação conjunta por parte dos setores 
abrangidos com a questão (assistência social, educação, justiça, saúde, segurança 
pública, entre outros), propondo ações que desconstruam e contestem as 
discriminações de gênero e violência contra as mulheres; interferindo nos 
paradigmas sexistas / machistas ainda existentes na sociedade brasileira; 
promovendo o empoderamento das mulheres; e garantindo atendimento qualificado 
e humanizado às que se encontram em situação de violência. (BRASIL, 2011, p. 25) 
 
Portanto, a noção de enfrentamento não se reduz à questão do combate, pois este 
abrange também os aspectos da prevenção, assistência e garantia de direitos das mulheres, os 
quais são compostos pelos Eixos Estruturantes da Política Nacional de Enfrentamento à 
Violência contra as Mulheres. 
 
6
 Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres (DEAM‟s), 
2010. 
35 
 
 
Figura3 - Eixos Estruturantes da Política Nacional de Enfrentamento á Violência contra as Mulheres 
Fonte: Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, 2011. 
 
Esta Política tem como finalidade instituir princípios, conceitos, diretrizes e ações 
de prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres. Dessa maneira, assegurar 
direitos de acordo com as normas e instrumentos internacionais, da legislação nacional e 
direitos humanos. Esse dispositivo jurídico está organizado a partir do Plano Nacional de 
Políticas para Mulheres (PNPM), que foi produzido tendo como base a I Conferência 
Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em 2004 pelo Conselho Nacional dos 
Direitos da Mulher (CNDM) e pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM). 
A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (2011) tem 
como diretrizes: 
 A garantia do cumprimento dos princípios, acordos e convenções internacionais, firmados 
e sancionados pelo Estado Brasileiro, inerentes ao enfrentamento da violência contra as 
mulheres. 
 O reconhecimento da violência de gênero, raça e etnia como sendo uma violência 
estrutural e histórica, expressada pela opressão das mulheres e que precisa de tratamento 
como questão da assistência social, educação, justiça, saúde pública e segurança. 
 Agir no combate as diversas formas de apoderamento e exploração de mulheres, como a 
exploração sexual e o tráfico de pessoas. 
 Atuar na execução de medidas preventivas nas políticas públicas, em conjunto com as 
áreas de assistência, comunicação, cultura, direitos humanos, educação, justiça, saúde e 
turismo. Incentivar a capacitação e formação de profissionais de saúde para o enfrentamento à 
violência contra as mulheres. 
36 
 
 Organizar as Redes de Atendimento à mulher em situação de violência nos Estados, 
Municípios e Distrito Federal. 
Outra ação implementada no âmbito das políticas públicas, foi o Pacto Nacional 
pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (2011), que se deu por meio de uma ação 
do Governo Federal, com a finalidade de prevenir e enfrentar todas as formas de violência 
contra a mulher, tendo como base a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as 
Mulheres. 
O Pacto compreende dimensões de assistência, garantia dos direitos, prevenção e 
proteção daquelas que se encontram em situação de violência, como também o combate à 
impunidade dos agressores. 
As ações propostas no Pacto (2011) apoiam-se em três premissas: 
a) a transversalidade de gênero; 
b) a intersetorialidade; 
c) a capilaridade. 
É válido ressaltar que a Rede de Enfrentamento à violência contra as mulheres é 
composta por uma ação articulada entre as instituições / serviços governamentais, não 
governamentais e a comunidade, que almejam o desenvolvimento de técnicas de prevenção, a 
garantia da construção da autonomia das mulheres e a responsabilização dos agressores, além 
de assistência capacitada às mulheres em situação de violência. (BRASIL, 2011). 
Já a Rede de Atendimento é o conjunto de ações e serviços de diversos setores 
(assistência social, justiça, segurança pública e saúde), que juntos fazem a qualidade do 
atendimento, a identificação, o acompanhamento das mulheres em situação de violência e a 
humanização do atendimento. Dessa maneira, podemos afirmar que a Rede de Atendimento 
às mulheres em situação de violência faz parte da Rede de Enfrentamento à violência contra 
as mulheres (BRASIL, 2011). 
De acordo com o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015), 
aumentaram a quantidade de ligações para a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180)
7
. 
Dentre suas ações, uma merece maior destaque, que é a ampliação de seu funcionamento para 
uma competência internacional, a fim de abranger brasileiras que residam no exterior e que 
 
7
 A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) é um serviço de atendimento telefônico da Secretaria de 
Políticas para as Mulheres da Presidência da República, criado com o objetivo de disponibilizar um espaço para 
que a população brasileira, e principalmente as mulheres, possa se manifestar acerca da violência de gênero, em 
suas diversas formas. O serviço presta seu atendimento com foco no acolhimento, orientação e encaminhamento 
para os diversos serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres em todo o Brasil. Disponível 
em: <http://www.spm.gov.br/ouvidoria/central-de-atendimento-a-mulher>. 
37 
 
sofrem diversas formas de violência, entre as quais o tráfico de pessoas. O Supremo Tribunal 
Federal decidiu pelo aumento do Ligue 180, transformando-o em uma central de denúncias. 
No tópico seguinte serão abordadas as políticas públicas de enfrentamento à 
violência contra as mulheres em Fortaleza. 
 
3.3 Violência doméstica e familiar contra as mulheres em Fortaleza e no Ceará: entre 
conquistas e desafios 
 
Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e o 
Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Fortaleza possui uma Rede 
de Atendimento às mulheres em situação de violência, composta de serviços da área jurídica e 
de gestão das áreas municipal e estadual. A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e o 
Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher compõem a esfera jurídica. Desde 
1986, a DDM já estava atuante, sendo o órgão competente responsável pela investigação, 
apuração e tipificação de crimes. 
 
A DDM é responsável também pelos registros dos boletins de ocorrência (B.O), 
solicitação das Medidas Protetivas de Urgência, representação criminal e 
encaminhamento da guia do exame de corpo de delito ao Instituto Médico Legal. 
Outro órgão que faz parte da rede no setor judiciário é o Juizado de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher, que foi criado a partir da Lei Maria da Penha, 
e possui competência cível e criminal, sendo responsável por processar, julgar e 
executar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a 
mulher. Ainda, desde 2004, tem-se o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a 
Mulher da Defensoria Pública do Estado do Ceará (NUDEM), instituição que presta 
assistência jurídica e gratuita e atua nas áreas cíveis, criminais e de família. [...] foi 
inaugurado em Fortaleza, em 2011, o Núcleo de Gênero Pró-Mulher, do Ministério 
Público do Estado do Ceará. Este núcleo tem o objetivo de atuar na garantia da 
transversalidade de gênero nas ações do Ministério Público, na formulação e 
implementação de políticas públicas, na adequada aplicação das leis, em 
capacitações e campanhas educativas referentes à violência contra as mulheres. [...] 
na esfera estadual, tem-se o Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher 
(CERAM), que funciona desde 2004. Este centro presta atendimento 
interdisciplinar, com uma equipe de médicos ginecologistas, psicólogas, assistentes 
sociais e enfermeiras. Sua estrutura física fica no mesmo local em que funciona o 
NUDEM. Há ainda um abrigo estadual, denominado de Casa do Caminho, que 
acolhe as mulheres em situação de risco eminente, tanto da cidade de Fortaleza, 
como das demais cidades do Estado do Ceará. A Casa do Caminho é um abrigo para 
mulheres em situação de violência doméstica, com endereço em sigilo. 
(CAVALCANTE, 2012, p. 117) 
 
Em Fortaleza, de acordo com Alves (2008), durante a gestão da Prefeita Luizianne 
Lins, foi criada a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, em 
desempenho de atividades desde o início de seu governo em 2005; porém, somente em 2007 
teve sua oficialização. Dessa forma, foi reconhecida a importância da implantação de políticas

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