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Apostila PROCESSO CIVIL CAUTELAR

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
30 
 
1 GENERALIDADES SOBRE A TUTELA CAUTELAR E TUTELA ANTECIPADA 
 
1.1 Introdução 
 
Sabe-se que, diante da pretensão deduzida em juízo pelo autor, o Estado deverá 
entregar a tutela jurisdicional, compondo o litígio, a qual poderá ser cognitiva ou de 
certificação (pretende-se o reconhecimento, o acertamento, a cognição do direito pelo juiz), 
executiva (busca-se a realização, a concreção, a satisfação de um direito já reconhecido em 
um título executivo, seja judicial ou extrajudicial) ou cautelar (visa-se providências judiciais 
que protejam, acautelem coisas, pessoas e até provas, objetos de futuro ou pendente processo 
de conhecimento ou de execução, que porventura estejam, objetiva ou subjetivamente, sob a 
ameaça de perecimento ou perda). 
O direito processual civil clássico sempre identificou as ações e, por conseqüência, 
classificou o processo em processo de conhecimento, de execução e cautelar a depender da 
tutela jurisdicional pretendida pelo autor, ou seja, do pedido imediato. 
Acontece que a necessidade de um processo de resultados, efetivo e justo, levou o 
legislador, ao longo dos anos, a empreender diversas mudanças na legislação processual 
pátria, que vão desde o sincretismo do processo de conhecimento, por meio do qual o Estado 
entrega tanto tutela cognitiva quanto executiva com a previsão da tutela específica e do 
cumprimento de sentença, até o fim do processo cautelar com o advento do novo CPC. 
Portanto, fácil concluir que o processo se apresenta muito mais enxuto e compacto do 
que outrora, o que é digno de aplausos uma vez que, por se prestar apenas como instrumento 
para a realização do direito material, deve mesmo ser composto tão somente de institutos e 
procedimentos suficientes para a consecução daquele fim. 
Todavia, dúvidas podem surgir especificamente quanto ao fim do processo cautelar. 
Primeiramente, deve-se deixar bem claro que a tutela cautelar não desapareceu de nosso 
sistema; pelo contrário, continua sendo viável e necessária para a conservação de direitos 
ameaçados de perecimento. Mas ela não se formalizará mais por ação e processo próprios; 
logo, o que acabou foram a ação e o processo cautelares. 
A tutela cautelar, ou simplesmente “tutela (provisória) de urgência de natureza cautelar” nos 
termos da nova lei formal, deverá ser requerida dentro do mesmo processo em se pretende a 
tutela principal (seja esta de conhecimento ou de execução), em caráter antecedente ou 
incidental em relação ao pedido principal. Neste último caso, fica clara a possibilidade da 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
31 
 
cumulação de pedido cautelar e não cautelar, atualmente consagrada no art. 308, §1º, NCPC, e 
a desnecessidade de pagamento de custas iniciais – art. 295, da mesma lei. 
Certo é que andou muito bem o legislador ao simplificar o procedimento cautelar, 
realocando a matéria para a Parte Geral do novo Código, em seu Livro V, unificando-a com a 
tutela antecipada sob a rubrica “Tutelas Provisórias” e reservando-lhes um capítulo próprio 
denominado “Tutelas de Urgência”, vez que a urgência é da própria essência da tutela cautelar, o 
que, aliás, é justamente a característica que tanto a assemelha à tutela antecipada. 
A propósito, oportuno neste momento tecer algumas diferenciações entre tutela 
cautelar e antecipada, a fim de dissipar qualquer dúvida acerca dos institutos. 
 
1.2 Das Tutelas Provisórias de Urgência: de natureza cautelar e de natureza antecipada. 
 
1.2.1 Diferenças e semelhanças entre tutela cautelar e “tutela antecipada” 
 
Primeiramente, deve-se ficar claro que, na “tutela antecipada”, o que se antecipa, na 
verdade, não é a tutela, ou seja, a declaração, a constituição, a condenação etc, mas sim os 
efeitos que a futura concessão desta tutela poderia produzir, face o perigo de 
dano/perecimento do direito objeto da lide. 
 
Exemplos: 
1) numa ação de conhecimento com pedido de despejo, a tutela é a 
execução lato sensu e o efeito desta tutela é o despejo, a desocupação; 
2) numa ADI, a tutela é a declaração de inconstitucionalidade, e o 
efeito desta tutela é a ineficácia da lei ou ato normativo 
inconstitucional; 
3) numa ação de conhecimento com pedido de indenização por danos 
materiais, a tutela é a condenação, e o efeito desta tutela é o 
pagamento do valor necessário a reparar o dano...etc. 
 
 Portanto, é totalmente incorreto falar em TUTELA ANTECIPADA, pois não é a tutela, 
o mérito que se antecipa, mas os efeitos que decorreriam de sua eventual concessão. Assim, o 
mais correto é dizer ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
32 
 
 E é exatamente nisso que se diferenciam a “tutela antecipada” do chamado julgamento 
antecipado da lide, agora no NCPC denominado de julgamento antecipado do mérito. Este último é 
instituto previsto no art. 355 do novo código, que, em face da presença de alguns requisitos 
(não haja necessidade de produzir outras provas – a causa está madura; ou houver revelia com 
efeito da confissão ficta e o revel não requerer provas), autoriza o juiz julgar, mediante uma 
cognição exauriente e profunda, o mérito da causa, concedendo a tutela (e não meramente 
os seus efeitos) de forma definitiva, antes da fase instrutória, abreviando o procedimento, 
tornando o processo mais célere. Nesse caso, há extinção do processo com resolução do 
mérito, sendo o ato do juiz uma sentença, portanto, passível de apelação. 
Já na antecipação dos efeitos da tutela, como se antecipa apenas os efeitos, a cognição 
do juiz é meramente superficial e perfunctória, dada de forma provisória, e sua decisão é 
interlocutória, portanto passível de agravo de instrumento (cf. art. 1.015, I, NCPC), 
continuando o processo em sua marcha normalmente até à fase final. 
POR OUTRO LADO, como já dito, muitos confundem também “tutela antecipada” 
com tutela cautelar. 
 A tutela cautelar se presta, face o fundado perigo de dano, apenas a proteger, 
acautelar o direito, objeto do processo, evitando o seu perecimento. 
Já por meio da “tutela antecipada”, também face o fundado perigo de dano, busca-se a 
satisfação (provisória) do direito mediante a concessão prévia dos efeitos da tutela cognitiva 
pretendida (seja declaração, constituição, condenação, incluindo, neste último, 
ordem/mandado e execução lato sensu). 
Portanto, a tutela cautelar não tem caráter satisfativo, ou seja, de realização do direito 
material. É tutela meramente conservativa de direitos, visando garantir o resultado útil do 
processo. 
Já a “tutela antecipada”, ao contrário, é tutela satisfativa de direitos, já que realiza, de 
forma antecipada e provisória, o direito, dando ao requerente o bem da vida por ele 
pretendido. 
Sabiamente, Fredie Didier Júnior já usara o seguinte trocadilho para melhor elucidar 
tal diferenciação: 
“enquanto a tutela cautelar PROTEGE PARA EXECUTAR, 
a tutela antecipada EXECUTA PARA PROTEGER”. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
33 
 
Entretanto, é claramente perceptível o objetivo comum de ambas as tutelas: o de 
EVITAR O PERECIMENTO DO DIREITO PRETENDIDO. Seja por meio da mera proteção 
(tutela cautelar), seja da satisfação (tutela antecipada), elas buscam evitar a corrosão de 
direitos pela ação do tempo (causas objetivas) ou pela ação humana (causas subjetivas), que 
geram uma demora além do razoável do processo (periculum in mora), impondo um ônus 
insuportável ao autor1. 
Também se assemelham por se fundarem em cognição sumária, superficial, ou seja, 
para que sejam concedidos basta a demonstração daprobabilidade do direito (fumus boni iuris, 
e não a sua certeza (art. 300, NCPC). 
Em razão disso, ambas caracterizam-se pela provisoriedade e precariedade da decisão, 
ou seja, são substituíveis pela decisão definitiva (art. 296), podendo ser, a qualquer tempo no 
processo, revogadas ou modificadas. 
Por assim se assemelharem é que a doutrina, e agora o NCPC, as tem classificado como 
espécies do gênero tutelas provisórias de urgência, tendo os mesmos pressupostos e um 
regime comum para a concessão em caráter incidental (já em caráter antecedente, os regimes 
se diferenciam: art. 303 e seguintes – tutela antecipada; art. 305 e seguintes – tutela cautelar). 
 
1.2.2 Fungibilidade entre as tutelas provisórias de urgência 
 
Justamente pelas semelhanças acima apontadas é que o legislador (art. 305, parágrafo 
único) previu a fungibilidade entre a tutela antecipada e a tutela cautelar. Isso significa dizer que se o 
autor requerer tutela cautelar em caráter antecedente, caso o juiz entenda se tratar de tutela 
antecipada, satisfativa, poderá assim recebê-la, desde que siga o rito desta, como já dito, 
previsto no art. 303 e seguintes do NCPC. Trata-se da chamada fungibilidade progressiva, uma 
vez parte-se da tutela menor (cautelar) para a maior (antecipada). 
Valendo-se da analogia, a doutrina defende a possibilidade do contrário, ou seja, da 
fungibilidade regressiva, ou seja, o autor requerer tutela antecipada (tutela maior) e o juiz 
conceder tutela cautelar (tutela menor), desde que também se obedeça ao rito previsto para 
esta (art. 305 e seguintes do NCPC). 
 
 
 
1
Marinoni defende, em nome do princípio da igualdade, a ideia da redistribuição do ônus do tempo entre as 
partes por meio das tutelas provisórias. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
34 
 
1.2.3 Liminar 
 
Tanto na tutela de urgência de natureza cautelar, quanto na de natureza antecipada, é 
possível que a decisão seja proferida antes de citar o réu (inaudita altera parte), ou seja, no início 
do processo. Se isso acontecer, diz-se que tal decisão foi dada em caráter liminar ou 
liminarmente (initio litis/in limine/no limiar do processo). 
Todavia, a expressão liminar tem sido utilizada indiscriminadamente para se referir ao 
conteúdo da decisão do juiz, ora à tutela cautelar, ora à tutela antecipada, o que tem 
conduzido a uma confusão enorme entre os dois institutos, havendo quem os considere como 
fenômenos idênticos por isso. 
Mas, na verdade, liminar é um aspecto temporal da decisão; é, portanto, o MOMENTO 
em que ela é proferida, ou seja, antes de o réu ser citado. 
Sendo assim, não importa se proferida a título de tutela antecipada ou de tutela 
cautelar. Se concedida no início, antes de citar o réu, ou seja, no início da lide posta em juízo, a 
decisão será liminar. 
Conclui-se, assim, que nem toda liminar é uma tutela cautelar; pode ser que seja uma 
tutela antecipada, ou até mesmo uma sentença de indeferimento liminar da inicial etc. 
 
1.2.4 Da Tutela Provisória de Evidência 
 
A par da tutela provisória de urgência de natureza antecipada (a qual se diferencia, 
mas também em muito se assemelha, à tutela de urgência de natureza cautelar), não se pode 
ignorar que a “tutela antecipada” pode também ser concedida fora da hipótese da urgência, 
bastando a evidência do direito pretendido para justificar a sua antecipação. 
É a chamada tutela provisória de evidência, também prevista no NCPC, em seu art. 311. 
Pode-se dizer, em breves palavras, que a tutela de evidência é a tutela antecipada concedida 
independentemente da demonstração do periculum in mora, quando: 
 
I – ficar caracterizado abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório da parte 
=> trata-se da já velha conhecida tutela antecipada punitiva ou sancionatória, prevista no art. 
273, II, CPC/73. Trata-se de conceitos indeterminados; porém, pode-se afirmar que o segundo 
está compreendido no primeiro (abuso é mais amplo e ocorre dentro do processo; ato 
protelatório é uma espécie de abuso, mas pode ocorrer também fora do processo). Tem pouca 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
35 
 
aplicação prática (mais comum quando concedida na sentença para afastar o efeito 
suspensivo da apelação) diante da possibilidade de o juiz poder aplicar outras sanções, como 
litigância de má-fé (embora este possa cumulá-las). 
 
II – as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese 
firmada em julgamento de casos repetitivos ou súmula vinculante => depende de dois 
pressupostos: 
- existência de prova documental do fato constitutivo; 
- probabilidade do direito (estado de evidência) por estar fundamentado em tese jurídica já 
firmada em precedente obrigatório (súmula vinculante; julgamento de processos ou recursos 
repetitivos. 
 
III – se tratar de pedido reipersecutório (leia-se: de entregar coisa) fundado em prova 
documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de 
entrega do objeto custodiado sob cominação de multa => era a velha hipótese do art. 902 do 
CPC/73 (devolução da coisa dada em depósito por estar fundado em prova literal, prova 
escrita), que deixou de ser veiculada por rito especial, e agora será pleiteada mediante rito 
comum, aplicando-se as regras da tutela específica das obrigações de entregar coisa (art. 498 e 
ss, NCPC). 
A probabilidade ou a evidência é demonstrada pela configuração da mora ex re 
(advento do termo certo) ou da mora ex persona (pela interpelação ou citação). 
Em que pese o legislador ter previsto a aplicação de multa, sabe-se que, pelo poder 
geral de efetivação, o juiz poderá aplicar outras medidas que julgar adequadas, necessárias e 
razoáveis. 
 
IV – a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do 
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável => há aqui 3 
pressupostos a serem observados: 
- a evidência deverá ser demonstrada por prova exclusivamente documental (interpretação 
extensiva: prova documentada/emprestada e fato que independe de prova, como notório, 
incontroverso e confessado); 
- a prova documental deve ser suficiente; e 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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- ausência de contraprova documental suficiente do réu => ATENÇÃO: a contraprova insuficiente 
deve ser documental, pois que, caso fosse qualquer espécie de prova, ensejaria o julgamento 
antecipado do mérito (art. 355, I, NCPC – causa madura), cuja cognição é exauriente e a 
decisão definitiva. 
 
 Diante de tudo o que foi visto, conclui-se, quanto às tutelas provisórias, de urgência ou 
de evidência, o seguinte esquema: 
 
 
 
 
2 DAS TUTELAS PROVISÓRIAS 
 
 Como já visto, segundo o art. 294 do NCPC, a tutela provisória pode fundamentar-se 
em urgência ou evidência. 
As tutelas de urgência, onde se inserem a tutela cautelar (de natureza conservativa) e 
a tutela antecipada (de natureza satisfativa), pressupõem a demonstração do perigo de dano 
ou o risco do resultado útil do processo (periculum in mora) e a probabilidade do direito que se 
objetiva assegurar ou realizar, respectivamente. 
Já a tutela de evidência, sempre de natureza antecipada e satisfativa, pode ser 
concedida independentemente de periculum in mora, bastando a demonstração de que as 
afirmações de fato estejam comprovadas, tornando o direito evidente. 
 Certo é que, tanto num caso quanto no outro, a tutela provisória rege-se por regras, as 
quais se passará a analisar a partir de agora. 
 
 
 
TUTELASPROVISÓRIAS 
(arts. 294 a 311) 
Tutelas de Urgência 
(periculum in mora + 
fumus boni iuris) 
Tutela de Evidência 
(s/ periculum in mora; 
só fumus) 
 
natureza cautelar 
(conservativa) 
 
natureza antecipada 
(satisfativa) 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
37 
 
2.1 Formas de requerimento 
 
 As tutelas de urgência poderão ser requeridas tanto em caráter antecedente ao pedido 
principal, como em caráter incidental a este. Já a tutela de evidência só pode ser requerida em 
caráter incidental¸ uma vez que não há urgência que justifique o seu requerimento antes da 
formulação do pedido principal. 
 Segundo a melhor doutrina, a tutela provisória antecedente “é aquela concebida para 
aqueles casos em que a situação de urgência já é presente no momento da propositura da ação 
e, em razão disso, a parte não dispõe de tempo hábil para levantar os elementos necessários 
para formular o pedido de tutela definitiva (e respectiva causa de pedir) de modo completo e 
acabado, reservando-se a fazê-lo posteriormente” (DIDIER JR, 2015, p. 572). 
 Ou seja, em razão da urgência, primeiro pede-se a tutela provisória; depois, pede-se a 
tutela definitiva. Obviamente que o pagamento das custas iniciais será necessário, 
dispensando-o quando da formulação do pedido principal. 
 Já a tutela provisória incidental é requerida junto ou depois do pedido principal, o que 
pode ocorrer na própria petição inicial (cumulando-se, inclusive, pedidos – art. 308, §1º); em 
petição interlocutória simples; oralmente, em audiência ou sessão de julgamento no tribunal; 
em petição de recurso. Nesse caso, como o pedido é incidental, não há pagamento de custas 
(art. 295, NCPC), pois já fora feito quando da formulação do pedido principal. 
 A depender da forma como a tutela provisória de URGÊNCIA é requerida, o regime 
será único ou diferenciado para as tutelas cautelar e antecipada. 
Assim, se forem requeridas em caráter incidental, ambas seguirão as regras gerais 
previstas no art. 300; porém, se requeridas em caráter antecedente, a tutela antecipada obedecerá 
procedimento próprio previsto no art. 303 e 304, e a tutela cautelar, o previsto nos arts. 305 a 
310, todos do NCPC. 
Todavia, esta dualidade procedimental será estudada em momento oportuno. 
 
2.2 Juízo competente 
 
 Conforme o art. 299, a tutela provisória incidental deverá ser endereçada ao próprio juízo 
da causa, ou seja, ao juízo onde o processo está em curso, seja em juízo de 1º grau, seja em sede 
de tribunal (em grau de recurso ou em sua competência originária – parágrafo único do art. 
299). 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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 Todavia, em se tratando de tutela provisória antecedente, preceitua o referido dispositivo 
legal que será a mesma endereçada ao juízo competente para conhecer da causa principal. Ou seja, 
devemos lançar mão das regras gerais de competência, previstas nos arts. 44 a 53 do NCPC (a 
que correspondem os arts. 91 a 100 do CPC/73). 
 
2.3 Legitimidade 
 
 Tanto autor, réu (quando reconvinte, ou formular pedido contraposto em ação dúplice 
etc) ou terceiros intervenientes (inclusive o assistente simples, desde que o assistido 
concorde), podem requerer a tutela provisória, uma vez que não se pode negar a qualquer das 
partes, que alega ter direito à tutela jurisdicional definitiva, a possibilidade de obtê-la 
provisoriamente. 
 Didier Júnior (2015, p. 573) vai mais além e defende, em nome do princípio da 
isonomia, a possibilidade de o réu requerê-la até mesmo quando simplesmente contesta, já 
que tem o direito da antecipação dos efeitos da tutela negativa, ou seja, da improcedência do 
pedido, desde que observe os pressupostos legais. A única ressalva que faz é quando se tratar 
de tutela provisória de caráter antecedente, em que a nova lei processual fala em requerimento na 
„petição inicial‟, o que pressupõe a legitimidade exclusiva do autor. Argumenta ainda, neste 
caso, que não se justifica o pedido antecedente pelo réu porque, ao reconvir, por exemplo, ele 
o fará concomitantemente à contestação, ou seja, ao „pedido principal e definitivo‟. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
39 
 
3 DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 
 
3.1 Noções gerais 
São espécies de procedimentos no processo de conhecimento: 
a) comum 
b) especiais: 
 de jurisdição contenciosa – arts. 567 a 718, NCPC; 
 de jurisdição voluntária – arts. 719 a 770, NCPC; 
 em legislação especial – mandado de segurança (Lei n. 12.016/09); procedimento 
sumaríssimo dos Juizados Especiais (Leis n. 9.099/95; 10.259/01; 12.153/09); etc. 
 
Os procedimentos especiais são aqueles “destinados a orientar a tramitação judicial de 
certas pretensões que não encontrariam tratamento processual condizente dentro dos 
parâmetros do procedimento ordinário” (Humberto Theodoro Jr.). 
São medidas utilizadas para que os procedimentos especiais alcancem seus objetivos: 
- alteração de prazos; 
- alteração da sequência de atos; 
- eliminação de atos; 
- fusão de atos cognitivos e executivos; 
- delimitação do tema a ser deduzido na inicial ou na contestação; etc. 
Todavia, aplica-se, subsidiariamente, aos procedimentos especiais as regras do 
procedimento comum (art. 318, parágrafo único, CPC). 
 
3.2 Procedimentos especiais previstos no NCPC 
 
Os procedimentos especiais estão previstos tanto no NCPC quanto na legislação 
especial (ex.: juizados especiais, mandado de segurança, etc.). 
São espécies de procedimentos especiais no NCPC: 
a) de jurisdição contenciosa: 
 ação de consignação em pagamento (arts. 539 a 549); 
 ação de exigir contas (arts. 550 a 553); 
 ações possessórias (arts. 554 a 568); 
 ação de divisão e da demarcação de terras particulares (arts. 569 a 598); 
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40 
 
 ação de dissolução parcial de sociedade (arts. 599 a 609); 
 inventário e partilha (arts. 610 a 673); 
 embargos de terceiro (arts. 674 a 681); 
 oposição (arts. 682 a 686); 
 habilitação (arts. 687 a 692); 
 ações de família (arts. 693 a 699); 
 ação monitória (arts. 700 a 702); 
 homologação de penhor legal (arts. 703 a 706); 
 regulação de avaria grossa (arts. 707 a 711); 
 restauração de autos (arts. 712 a 718); 
 
Por outro lado, o NCPC não prevê mais como procedimento especial de jurisdição 
contenciosa as ações de depósito (que foi „desprocedimentalizada‟ e transformou-se uma das 
hipóteses de tutela de evidência – art. 311, III); de anulação e substituição de título ao portador e de 
usucapião (prevendo apenas a imposição da citação por editais nestes feitos, que passaram a 
ser de rito comum – art. 259); além da nunciação de obra nova e venda a crédito com reserva de 
domínio. 
 
b) de jurisdição voluntária: 
 notificação e interpelação (arts. 726 a 729); 
 alienações judiciais (art. 730) 
 divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e da alteração 
do regime de bens do matrimônio (arts. 731 a 734); 
 testamentos e codicilos (arts. 735 a 737); 
 herança jacente (arts. 738 a 743); 
 bens do ausente (arts. 744 e 745); 
 coisas vagas (art. 746); 
 interdição (arts. 747 a 758); 
 tutela e curatela (arts. 759 a 763); 
 organização e fiscalização das fundações (arts. 764 e 765); 
 ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo 
(arts. 766 a 770); 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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3.2.1 AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO (arts. 539a 549 do NCPC e 334 a 
345 do CC) 
 
a) introdução 
A lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também assegura a ele e a qualquer 
interessado o direito de pagar, caso o credor se recusar a recebê-lo (mora accipiendi). A esta 
forma especial ou indireta de pagamento, a lei (art. 304, CC) denominou de consignação, 
consistente no depósito judicial ou em estabelecimento bancário da quantia ou coisa devida 
(portanto, o objeto será apenas obrigações de dar). 
Ex: o locador se recusa a receber o aluguel, ao argumento de que o valor devido é 
superior ao ofertado ou por qualquer outro motivo. Nesse caso, faculta-se ao devedor manejar 
a ação de consignação em pagamento ou de fazer a consignação extrajudicial. 
 
b) cabimento 
O art. 539 do NCPC admite a consignação em pagamento “nos casos previstos em lei”, que 
são os previstos no art. 335, CC, ou seja, na lei civil estão elencadas as situações que podem 
impedir o devedor de solver a obrigação pelos meios normais, quais sejam: 
I - o credor se recusa injustamente a receber o pagamento ou dar quitação => mora accipiendi 
quando a dívida for portável; 
II - o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos => mora 
accipiendi quando a dívida for quesível; 
III - o credor for pessoa incapaz (representante desconhecido ou se recusa a receber), 
desconhecido (credor antigo, já falecido, e não se conhece os herdeiros), declarado ausente (se 
o curador for desconhecido ou se recusar a receber) ou reside em lugar inacessível (caso de 
dívidas portáveis); 
IV - há dúvida quanto ao credor (legitimado a receber); 
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
 
b) modalidades: extrajudicial ou judicial. 
 A consignação extrajudicial ocorre quando a prestação for quantia em dinheiro e, no 
lugar do pagamento, existir estabelecimento bancário, oficial ou particular. 
Trata-se, na verdade, de instrumento de direito material, pois visa evitar a demanda 
judicial. 
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42 
 
Consiste em depósito bancário, com AR ao credor, o qual, em 10 dias, poderá 
comparecer à agência bancária e levantar o depósito; ou permanecer inerte, quando então 
presumir-se-á a sua aceitação, liberando o devedor; ou manifestar por escrito ao 
estabelecimento bancário a recusa ao recebimento, quando então terá o devedor o prazo de 1 
mês para ajuizar a ação consignatória (instruindo a inicial com a cópia do depósito e da 
recusa). Não ajuizada a ação no prazo, considera-se sem efeito o depósito, podendo o devedor 
levantá-lo, e, se quiser, oportunamente ajuizar a referida ação. 
Já consignação judicial tem lugar quando a prestação for coisa, ou quando não for 
possível a via extrajudicial. 
 
d) procedimento: 
- petição inicial: 
=> competência (territorial/relativa): segundo o art. 540 do NCPC, a petição inicial deverá 
ser dirigida ao juízo do lugar do pagamento (domicílio do autor/devedor – se a dívida for 
quesível, ou se o domicílio do credor for desconhecido; domicílio do réu/credor – se a dívida 
for portável); da situação da coisa (art. 341 do CC); ou do foro eleito. Consignação de 
aluguéis será ajuizada no lugar do foro contratual ou, na sua falta, no da situação do imóvel 
(art. 58, II, Lei n. 8.245/91). 
=> pedido: de depósito da quantia ou coisa devida e da citação do réu para levantar o 
depósito ou oferecer contestação (art. 542, NCPC). Se tratar de prestações periódicas, o 
devedor pode se utilizar de um só processo para promover o depósito das diversas 
prestações em que se divide a obrigação (art. 541, NCPC). 
=> valor da causa: será o valor da prestação devida, acrescido dos juros e demais encargos, ou 
o valor correspondente à coisa. Se tratarem de prestações periódicas, o valor da causa 
corresponderá à soma das prestações até o máximo de uma anuidade (súm. 449, STF). 
 
- despacho da inicial: ao analisar a inicial, o juiz defere o depósito, que deve ser efetuado no 
prazo de 5 dias (art. 893, I), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito (art. 
542, parágrafo único do NCPC), pois o depósito consiste em pressuposto processual 
específico do procedimento consignatório. 
 
- após o depósito: o juiz determina a citação do réu, que pode: 
 levantar o depósito: acarreta a extinção do processo com resolução do mérito; OU 
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43 
 
 oferecer resposta no prazo de 15 dias: caso não aceite o depósito. A resposta poderá 
ser nas modalidades da contestação, reconvenção ou exceção. Se for contestação, nos termos 
do art. 544 do NCPC o réu poderá alegar, além das preliminares: 
- inocorrência de recusa; 
- recusa justa; 
- não realização do deposito no prazo ou no lugar do pagamento; 
- não integralidade do depósito (deverá indicar o montante devido). Lembrando que, neste 
ultimo caso, a consignação ganhará feição de ação dúplice, ou seja, rejeitado o pedido 
do autor, o juiz o condenará a satisfazer o montante devido (art. 545). 
 
 permanecer inerte: quando então será decretada a sua revelia e haverá o julgamento 
antecipado da lide. 
 
- oferecida contestação, o ação segue o procedimento ordinário, com instrução, se necessário, 
culminando na sentença, que, se julgar o pedido procedente, declarará extinta a obrigação e 
condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios (art. 546, NCPC). O juiz 
fará o mesmo se o credor receber e der quitação (parágrafo único do art. 546). 
 
e) consignação de coisa indeterminada ou incerta (art. 543): se a coisa for indeterminada ou 
incerta, e a escolha couber ao réu (credor), este será, antes, citado para exercer o direito de 
escolha, no prazo de 5 dias (salvo outro prazo na lei ou no contrato), e comparecer para 
receber a prestação. Caso o credor não faça a escolha no prazo legal, a faculdade é devolvida 
ao devedor, que deve proceder ao depósito da coisa. 
 
f) ação consignatória como ação dúplice (art. 545, NCPC): 
Como visto, a ação consignatória pode se revelar como uma ação dúplice na medida 
em que o réu, independentemente de reconvenção, poderá alegar na contestação a 
insuficiência do depósito, ocasião em que o autor poderá complementá-lo em 10 dias, salvo se 
o inadimplemento der causa à rescisão contratual. 
Assim, o réu pode levantar desde logo a quantia ou coisa depositada, o que acarreta 
liberação parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida (§1º).
 
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Se a sentença concluir que o depósito foi insuficiente, ela determina, sempre que 
possível, o montante devido, podendo o réu executar o autor nos mesmos autos (a sentença 
valerá como título executivo e poderá desde já ser cumprida) - §2º. 
Caso o contrário, não sendo possível, na sentença, fixar o montante devido, deverá 
antes ser apurado em liquidação de sentença (§2º). 
 
g) consignação quando há dúvida a quem se deve pagar: 
 
Nos termos do art. 547 do NCPC, se houver dúvida sobre quem deva legitimamente 
receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do 
crédito para provarem o seu direito. 
Neste caso, diz o art. 548: 
I - se, citados, ninguém comparece: opera-se a revelia deles, o juiz libera o devedor julgando 
antecipadamente a lide, e o depósito converte-se em coisas vagas, ou seja, é arrecadado como 
bem de ausente, perdurando indefinidamente, até que um interessado provoque o seu 
levantamento; 
II - se comparece apenas um deles: o juiz decidirá de plano, julgando extinta a obrigação, e o 
credor, demonstrando o seu direito à prestação, levantará odepósito a seu favor. 
III - se comparece mais de um pretendente: do mesmo modo o juiz declara efetuado o 
depósito e extinta a obrigação, continuando, porém, o processo a correr unicamente entre os 
presuntivos credores, pelo procedimento comum, para se apurar quem é o verdadeiro titular 
do crédito. 
 
h) consignação incidental: 
- ocorre quando outros pedidos são cumulados ao pedido consignatório (ex.: revisional); 
- é cabível, desde que se observe o procedimento comum (requisitos do art. 327); 
- atenção ao art. 328, §3º, NCPC, antigo art. 285-B, CPC/73. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.2.1 Ação de exigir contas no NCPC (arts. 550 a 553, NCPC) 
 
Refere-se ao dever contratual de prestar contas por aquele que administra bens ou 
direitos alheios. Ex: síndico de condomínio. 
Portanto, a legitimidade passiva será do administrador e a legitimidade ativa, por 
consequência, será do interessado na administração dos bens ou direitos. 
Importante observar que o NCPC, no art. 550, reduziu a legitimidade ativa desta ação 
para apenas aquele que afirma ser titular do direito de exigir contas, ou seja, do interessado na 
administração dos bens ou direitos, razão pela qual foi renomeada como “ação de exigir 
contas”. Antes, o CPC/73 legitimava também ao administrador a prestá-las através da então 
chamada ação de prestação de contas. 
A ação de exigir de contas tem seu procedimento delineado pelo artigo 550 do NCPC e 
seus parágrafos, em que se vislumbra a ocorrência de duas fases distintas (bifásico), com objetos 
distintos: na 1ª fase, discute-se apenas a existência da relação de direito material e a obrigação 
ou não de prestar contas; e, na 2ª, serão analisadas as contas, determinando a existência de 
saldo e sua apuração, bem como condenando o réu ao pagamento da referida quantia. 
 
- 1ª Fase: 
Nos termos do caput e §1º do art. 550, na petição inicial, o autor especificará, 
detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos 
comprobatórios dessa necessidade, se existirem, requerendo a citação do réu para que as 
preste ou ofereça contestação no prazo de 15 dias. 
Citado, o réu poderá adotar 3 comportamentos distintos: 
- prestar as contas (§2º) => tendo o autor, então, o prazo de 15 dias para se manifestar, 
prosseguindo-se o processo para as demais fases do rito comum (saneamento, instrução e 
decisão). 
- contestá-las (§3º) => de modo fundamentado e específico, com referência expressa ao 
lançamento questionado. O código não diz, mas naturalmente, neste caso, o processo também 
prosseguirá para as próximas fases. 
- não contestá-las (§4º) => o juiz decreta a revelia e julga antecipadamente o mérito 
reconhecendo a existência das contas. 
 
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Em qualquer caso, a 1ª fase será encerrada pela decisão2 que julgar procedente ou 
improcedente o pedido. 
No caso de improcedência, não há que se falar numa 2ª fase, pois que não foram 
reconhecidas as contas exigidas pelo autor. 
Mas, havendo a condenação do réu a prestar as contas, este deverá apresentá-las em 
15 dias, o que marca o início da 2ª fase. 
 
- 2ª Fase: 
Como já dito, esta 2ª fase será para analisar as contas, determinar a existência de 
saldo e apurá-lo, condenando o réu ao pagamento da referida quantia. 
Caso o réu não apresente as contas em 15 dias após a decisão que as reconheceu na 1ª 
fase, perderá o direito a impugnar aquelas que ainda serão, em seguida, apresentadas pelo 
autor num prazo de 15 dias, podendo o juiz determinar realização de exame pericial, se 
necessário (§§5º e 6º, in fine). 
Mas, do contrário, se o réu apresentá-las dentro do referido prazo (o qual deverá ser 
na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, 
se houver), o juiz abrirá prazo para o autor impugná-las (art. 551). 
Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá 
prazo razoável pra que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos 
individualmente impugnados (§1º do art. 551), seguindo o processo para as próximas fases do 
procedimento comum (saneamento, instrução e decisão - §6º, 1ª parte, do art. 550). 
Aqui, a decisão, que será uma sentença, analisará 3 questões: se as contas foram 
corretamente apresentadas; a existência de saldo ou inexistência de saldo; e, havendo saldo, a 
quantia sobre a qual recairá a condenação. 
Desta sentença caberá apelação e, após o trânsito em julgado, terá início a fase de 
cumprimento de sentença, uma vez que ela se constituirá em título executivo judicial (art. 
552). 
 
 
 
 
2
 O NCPC, no §5º, não usa mais a expressão „sentença‟, mas sim “decisão que julgar procedente o pedido....”, o 
que denota a ideia de que se trata de decisão interlocutória, e, nesse caso, de mérito (pois resolve um pedido 
principal sem colocar fim ao procedimento, que avançará rumo à 2ª fase), portanto, passível do recurso de 
agravo de instrumento (cf. art. 1.015, II, NCPC). 
 
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47 
 
3.2.2 Ações Possessórias (arts. 554 a 568, NCPC) 
 
a) Juízo petitório x juízo possessório 
- possessório (ius possessionis): a pretensão diz respeito à posse em si mesma, sem cogitar 
qualquer outra relação jurídica. O fundamento da pretensão e o pedido são a posse. Portanto, 
instruir tais causas com prova da titularidade do domínio é irrelevante, uma vez que basta 
demonstrar a posse anterior e a ofensa a esta. Seguindo o mesmo raciocínio, mas em situação 
diversa, é o proprietário que nunca foi possuidor do seu bem, o qual será carecedor da ação 
possessória, cabendo-lhe, na verdade, a imissão na posse. 
 
- petitório (ius possidendi): a pretensão diz respeito ao direito de propriedade. O fundamento é 
a posse decorrente da propriedade, e o pedido é o domínio. Ex:. reivindicatória, imissão na 
posse, embargos de terceiro etc. O art. 557 do NCPC veda, na pendência da ação possessória, 
que o réu ou o autor ajuízem ação visando o reconhecimento do domínio. A tutela da posse 
seria inútil se fosse possível ao proprietário responder ao possuidor com a ação petitória. 
 
b) Espécies de Possessórias (art. 1210 CC): 
- ação de reintegração de posse: cabível quando há o esbulho da posse (perda violenta, 
clandestina ou precária da posse); 
- ação de manutenção de posse: cabível quando há turbação na posse (efetivo embaraço ao 
exercício da posse); e 
- interdito proibitório: cabível, preventivamente, quando há ameaça ao exercício da posse, ou 
seja, ameaça iminente de turbação ou esbulho. 
 
c) Fungibilidade das ações possessórias (art. 554, CPC/15): pela dificuldade em distinguir 
uma situação de esbulho e turbação; ou entre esta e simples ameaça a posse, o legislador 
previu, no art. 554, a aplicação do principio da fungibilidade ou conversibilidade dos interditos, 
segundo o qual o juiz poderá conhecer de um pedido possessório, diverso do requerido pelo 
autor, desde que os requisitos estejam provados, outorgando-lhe a proteção adequada. Isso 
ocorre muito em caso da alteração da situação fática depois do ajuizamento da demanda 
possessória. 
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48 
 
Ex: ajuíza-se interdito proibitório em razão da ameaça de esbulho sofrida; porém, este, 
no curso do processo, se concretiza, deixando de ser simples ameaça; o juiz pode 
converter em ação de reintegração de posse. 
 
O princípio restringe-se às possessórias (independente do rito), não se aplicando,portanto, entre ação petitória e ação possessória, posto que tem pedidos e fundamentos 
completamente diversos, o que poderia implicar num julgamento extra petita. 
Também não se aplica se o novo ato espoliativo ocorreu após o trânsito em julgado da 
possessória, uma vez que se trata de causa de pedir para o ajuizamento de nova possessória. 
 
d) Ações de força nova e de força velha – definição do rito (art. 558, NCPC) 
 
- ação de força nova: a ação é proposta dentro de 1 ano e 1 dia da ofensa da posse; o rito será 
especial do Capítulo. A concessão liminar será com base nos arts. 561 e 562, NCPC, ou seja, 
basta que o autor comprove a posse, o esbulho ou a turbação, a perda ou continuação na 
posse, principalmente a data do ato espoliativo, independentemente de demonstração de 
periculum in mora, que, nas possessórias, é presumido – in re ipsa. 
 
- ação de forca velha3: a ação é proposta após esse prazo; o rito a ser observado será o comum 
(o pedido liminar submeterá aos requisitos previstos no art. 300, NCPC, ou seja, a 
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo), sem 
retirar o caráter possessório. 
 
Obs:. O interdito proibitório é sempre ação de força nova, porque a ameaça é constante e deve 
ser sempre atual. 
 
 
 
 
3
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassou decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que havia 
considerado impossível a concessão de antecipação de tutela em ação possessória, em caso de posse velha (com prazo superior a um ano e 
um dia). A disputa pela posse da Fazenda do Céu, situada na Prainha de Mambucaba, em Paraty (RJ), remonta a 1983. Segundo a ministra 
Isabel Gallotti, o fato de a ação possessória ser fundada em posse velha impõe que ela seja regida pelo procedimento ordinário, 
previsto no artigo 924, parte final, do Código de Processo Civil (CPC), e não pelo rito especial, reservado às ações intentadas com 
menos de ano e dia. Embora a posse velha impeça o deferimento da imissão liminar (prevista no artigo 928 do CPC), nada impede – 
acrescentou a ministra – que o juiz atenda ao pedido de antecipação de tutela (artigo 273), cabível em todas as ações ordinárias, desde 
que estejam presentes no caso específico os requisitos legais para sua concessão (Notícia STJ 08/08). 
 
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49 
 
e) Objeto das ações possessórias 
 
Só é cabível ação possessória para bens e direitos capazes de serem apreendidos 
fisicamente, isto é, para bens materiais (bens móveis, semoventes e imóveis). 
 Sum. 228 STJ: não cabe ação possessória para a proteção do direito autoral. 
 Sum. 415 STF: cabe possessória para defender servidão de passagem. 
 
f) Procedimento das possessórias 
 
 Petição inicial (arts. 319/320 e 561 CPC): 
 
- Competência => foro do domicílio do réu, para bens móveis e semoventes (art. 46, NCPC); foro 
da situação da coisa, quando se tratar de bem imóvel (art. 47, §2º, NCPC). 
Neste último caso, ainda que se trate de ação fundada em direito pessoal, não se 
aplica o art. 46 do NCPC, que prevê a competência do foro do domicílio do réu, por haver 
previsão específica para as ações possessórias no art. 47, §2º, do mesmo diploma legal, 
segundo o qual a competência para a ação possessória imobiliária será proposta no foro da 
situação da coisa, cujo critério territorial, ali estabelecido, se reveste excepcionalmente de 
caráter absoluto. 
Vale lembrar que, em alguns casos, a competência será do Juizado Especial. É o que 
ocorre nas possessórias cujo valor for igual ou inferior a 40 salários mínimos, conforme art. 3o, 
IV, da Lei n. 9.099/95. 
 
- Partes e sua qualificação: 
a) capacidade de ser parte => pessoas físicas e pessoas jurídicas, de direito privado ou de 
direito público. 
 As partes devem ser identificadas com precisão, salvo no caso de invasão por um 
número indeterminado de pessoas (indicação apenas dos ocupantes). O novo CPC estabelece 
regramento para a citação de grande número de pessoas, afirmando que se procede a citação 
dos ocupantes encontrados no local, e, dos demais, por edital, devendo-se ouvir o MP e, se for 
o caso, a Defensoria Publica (art. 554, §§1º e 2º, NCPC). 
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50 
 
b) capacidade de estar em juízo => apenas capazes. Se o responsável pelo ato for 
absolutamente incapaz, a ação é em face daquele encarregado pela sua vigilância (pai, tutor ou 
curador). 
c) legitimidade => quem figurou na lide. 
Será autor o possuidor esbulhado, turbado ou ameaçado, irrelevante se também 
detentor de direito real. 
Os compossuidores tem a faculdade de promover a ação em conjunto ou isoladamente, 
sendo que, no primeiro caso, formar-se-á um litisconsórcio facultativo unitário, e, no segundo, 
ainda que não tenham os demais figurados como partes, serão alcançados pelos efeitos da 
coisa julgada, atuando o autor em legitimidade extraordinária. 
Em se tratando de pessoas casadas compossuidoras, a regra é a mesma, com a 
diferença que, se formarem litisconsórcio facultativo, será necessária a outorga uxória/marital 
(art. 73, §2º, NCPC). 
A ação pode ser tanto contra o autor do ato como contra o seu mandante, podendo o 
primeiro requerer a sua substituição por este (art. 339, NCPC). 
Já o legitimado passivo é o autor do esbulho, turbação ou ameaça, ainda que seja 
possuidor da coisa. 
 
Observações importantes: 
 sucessor a título universal ou causa mortis é também legitimado, ativa ou passivamente, 
porque continua na posse de seu antecessor (art. 1.207, Código Civil - CC), e o sucessor a 
título singular responderá pelo vício apenas se recebeu por má fé a coisa esbulhada (art. 1.212, 
CC). 
 possuidores diretos e indiretos têm legitimidade um em face do outro, como também 
ambos em face de terceiros em litisconsórcio ativo facultativo. 
 
- Causa de Pedir (fatos e fundamentos jurídicos): 
 No caso da manutenção e reintegração de posse, segundo o art. 561, o autor dever 
provar: 
 a posse anterior (e não o domínio4. Exemplos de documentos que demonstram a posse: 
contas de luz, correspondências, fotografias e outros); 
 
4
Por essa razão que o promitente comprador não tem interesse processual para intentar ação de reintegração de 
posse, mas sim imissão na posse, pois pleiteara a posse com fundamento no título de propriedade. 
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 a ofensa ou o ato espoliativo, ou seja, turbação ou o esbulho; 
 a data da turbação ou do esbulho (define o rito) – difícil de ser provada por prova 
documental, o que poderá ensejar a concessão da liminar por meio de audiência de 
justificação prévia (coleta de prova oral); 
 a continuação ou a perda da posse (se manutenção ou reintegração, respectivamente). 
Já no caso do interdito proibitório, conforme o art. 567, além da posse anterior, basta 
provar a iminência da turbação ou do esbulho, ou seja, a fundada e grave ameaça de tais atos 
consumarem (se ameaça for consumada, é caso de manutenção ou reintegração de posse). 
 
- Pedido => expedição do competente mandado (de manutenção, de reintegração ou de 
proibição do esbulho ou turbação). 
 Além do pedido principal, o art. 555 do NCPC permite a cumulação de outros 
pedidos sem prejuízo do rito especial, desde que tenham por fundamento a turbação ou o 
esbulho, como a cumulação com o pedido de condenação em perdas e danos e indenização dos 
frutos. Ademais, para efetivar a tutela relativa à posse, prevê o parágrafo único do art. 555 que 
oautor poderá requerer também a imposição de medida necessária e adequada para evitar 
nova turbação ou esbulho e para cumprir tutela provisória ou final. 
 Se o autor cumular outros pedidos, além dos previstos no art. 555, aí o rito será o 
ordinário. 
 O pedido de concessão da liminar é possível, como já visto, se tratar de ação de força 
nova (art. 558 c/c art. 562, CPC), afastando, nesse caso, a aplicação da antecipação dos efeitos 
da tutela genericamente prevista no art. 300, NCPC, pertinente apenas se a ação de força 
velha (art. 558, parágrafo único). 
 
- Valor da causa => aplicação por analogia do art. 292, IV, NCPC (o valor de avaliação da área ou 
do bem objeto do pedido). 
- Provas => todos os meios de prova hábeis a demonstrar a posse (no caso de manutenção de 
posse e do interdito proibitório, a atualidade da posse), a ofensa e o tempo de sua ocorrência. 
 
- Requerimento de citação do réu => se o local for inacessível, não permitindo a aproximação do 
oficial de justiça, a citação será por edital. Lembrando que o art. 554, §1º, do NCPC, prevê, na 
ação em que figure no pólo passivo grande número de pessoas, a citação será pessoal dos 
ocupantes que forem encontrados no local e dos demais, por edital. 
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52 
 
- Documentos indispensáveis à propositura da ação (art. 283, CPC). 
 
 Apreciação da liminar antecipatória (arts. 561 a 564 – reintegração e manutenção na posse 
e 567 – interdito proibitório): 
Provado o esbulho ou a turbação em menos de ano e dia, o mandado de reintegração 
ou de manutenção é deferido liminarmente (sem ouvir o réu), conforme o art. 562, ou em 
audiência de justificação prévia, consoante o art. 563. No caso do interdito proibitório, o juiz 
determinará ao réu uma obrigação de não fazer, proibindo-o de molestar a posse do autor, sob 
pena de incorrer em multa pecuniária. 
Mas se o ato espoliativo for mais de ano e dia (apenas se turbação ou esbulho, pois 
que, como visto, a ameaça é sempre nova), então, a liminar só será deferida se os requisitos do 
art. 300 (tutela de urgência antecipada genérica) estiverem satisfeitos. 
Sendo o réu for ente público, não é cabível liminar inaudita altera pars, ou seja, depende 
da oitiva dos seus representantes legais (art. 562, parágrafo único). 
A liminar na ação possessória tem natureza antecipatória posto que satisfativa, em 
nada se assemelhando com a cautelar, vez que não objetiva assegurar processo, mas 
restabelecer o mais rápido possível o status quo ante alterado pela ofensa à posse. 
Todavia, poderá ser deferida com ou sem audiência de justificação prévia, a depender 
se os seus requisitos (posse anterior e o tempo da ofensa há menos de ano e dia) forem 
comprovados por documentos ou por provas orais. 
O réu é citado para a audiência de justificação (art. 562, in fine), mas não pode produzir 
provas, apenas contraditar e reperguntar as testemunhas do autor. Isso porque, para o STJ, tal 
citação não é para defesa, mas apenas para o réu comparecer e participar da audiência, não 
ensejando em nulidade processual a sua ausência. 
O juiz pode condicionar a manutenção da liminar à prestação de caução real ou 
fidejussória pelo autor, se réu provar que o autor carece de idoneidade financeira para 
responder eventuais perdas e danos caso venha a sucumbir na ação, dispensada se tratar de 
parte economicamente hipossuficiente (art. 559). 
Da decisão judicial que concede ou não a liminar é cabível agravo de instrumento. 
 
 Respostas do réu: concedido ou não o mandado liminar, o autor promoverá, nos 5 dias 
subseqüentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 dias (art. 564). 
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Obviamente que se houve audiência de justificação prévia, o prazo será contado da intimação 
(e não citação) da decisão que deferir ou não a liminar (parágrafo único do art. 564). 
 Se o réu quedar-se inerte e não apresentar resposta, ser-lhe-á decretada a revelia, 
seguindo o processo o rito comum, nos termos do art. 566. 
 Todavia, apresentando resposta, o réu poderá oferecer: 
a) contestação: o réu pode arguir quaisquer das preliminares do art. 337, CPC (inclusive, 
incompetência absoluta caso a regra do art. 47, §2º, aplicada às possessórias imobiliárias, não 
for observada, ou incompetência relativa se a regra do art. 46, aplicada às possessórias de bens 
móveis, não for observada); e, no mérito, pode alegar a ausência dos requisitos do art. 561; 
opor, como fato extintivo ao direito do autor, o usucapião (Sum. 237, STF – não se trata de 
defesa petitória, porque a discussão sobre prescrição aquisitiva se assenta na posse; ademais, 
o objetivo na possessória não é uma sentença declaratória do domínio); e a indenização por 
benfeitorias feitas na coisa. 
Por fim, insta registrar que as ações possessórias tem caráter dúplice5, o que autoriza o 
réu também pleitear, mediante pedido contraposto, proteção possessória e perdas e danos 
pelos prejuízos decorrentes da suposta ofensa praticada pelo autor (art. 556, NCPC). 
 
b) Reconvenção ou pedido contraposto6: em razão do art. 556 prever a possibilidade de o réu 
formular pedido contraposto na própria contestação (por se tratar de ação dúplice), 
sustentou-se por muito tempo a impossibilidade de manejo da reconvenção nas possessórias 
por falta de interesse de agir. Porém, a jurisprudência afastou tal entendimento sob o 
argumento de que o pedido contraposto cinge-se às hipóteses tipificadas no art. 556 do CPC, 
sendo cabível a reconvenção para outras hipóteses. 
 
 Após o prazo da resposta: todas as ações possessórias seguem o procedimento ordinário 
(art. 566), o qual culmina na sentença. 
 A sentença possessória é objetivamente complexa, uma vez que pode conter, a par do 
mandado possessório, o pleito cominatório e até condenatório de indenização. Desta feita, ao 
 
5
 Ações dúplices ou ambivalentes são aquelas onde autor e réu podem formular pretensões, e o deferimento do 
pedido de um implicará necessariamente no indeferimento do pedido do outro. 
6
 Na verdade, reconvenção e pedido contraposto são demandas do réu contra o autor no mesmo processo, 
formuladas na mesma peça em que se apresenta a contestação, distinguindo-se, apenas, pela amplitude: no 
primeiro pode ser formulado qualquer pedido, desde que conexo com a ação principal ou com os fundamentos da 
defesa (art. 343); já o segundo limita-se ou a causa de pedir remota ou o pedido para algo tipificado. O pedido de 
proteção possessória, por exemplo, deve ser considerado como pedido contraposto porque o art. 556 limita-o ao 
pleito indenizatório. 
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54 
 
julgar procedente o pedido principal e os cumulados, a sentença faz nascer obrigação de 
entregar coisa bem como de dar quantia. 
 No primeiro caso, a execução dar-se-á segundo a disciplina das tutelas específicas das 
obrigações de entrega de coisa, prevista no art. 498 (antigo art. 461-A), onde o juiz fixará 
prazo para a entrega da coisa, que, se desobedecido, ensejará a expedição de mandado de 
busca e apreensão, se coisa móvel, ou de manutenção ou reintegração na posse, se coisa 
imóvel. 
 Por outro lado, no que tange ao capítulo da sentença que condenou na obrigação de 
dar quantia (indenização, p.ex.), transitada esta em julgado e não cumprida voluntariamente 
pelo réu, o credor elaborará memória de cálculo atualizada e requererá a intimação do devedor 
para efetuar o pagamento no prazo de 15 dias, sob pena de multa de 10% sobre a dívida e 
expedição de mandado de penhora (art. 523;a que correspondia no CPC de 73 o art. 475-J). 
 Transcorrido o mesmo prazo, ao invés de pagar, poderá o devedor apresentar 
impugnação ao cumprimento da sentença, ocasião em que o feito prosseguirá perpassando 
pela fase expropriatória até a satisfação do credor. 
 Vale lembrar que, havendo pedido de desfazimento de construção, a sentença de 
procedência será cumprida obedecendo ao disposto no art. 497 (a que correspondia o art. 
461), que estabelece a tutela específica das obrigações de fazer. 
 Por fim, salienta-se que da sentença das ações possessórias caberá apelação em ambos 
efeitos se for de improcedência, pois que, se de procedência, confirmando a liminar, 
obviamente se aplica a exceção do art. 1.012, V, segundo a qual a apelação será recebida apenas 
no efeito devolutivo se a sentença confirmar a tutela antecipada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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55 
 
3.2.3 Inventário e partilha (arts. 610 a 673) 
 
a) Noções gerais 
 Conforme art. 1784 do Código Civil, falecida a pessoa natural, a herança transmite-se, 
desde logo, aos sucessores. Entretanto, é necessário identificar quem são eles e, havendo mais 
de um, definir como será feita a divisão da herança. Para essa finalidade, existe o 
procedimento de inventário e partilha. 
 Inventário significa relacionar, catalogar, enumerar. No CPC, inventário consiste no 
procedimento especial de jurisdição contenciosa, pelo qual se procede à descrição e à 
avaliação do patrimônio (bens, direitos e obrigações) deixado por alguém em virtude de seu 
falecimento. 
 Já a partilha, por sua vez, constitui o segundo estágio do procedimento e vem a ser a 
atividade desenvolvida para dividir o acervo patrimonial entre os sucessores. Importante 
notar que não existe partilha sem inventário (até a partilha feita por testamento não dispensa 
futuro inventário), mas pode ocorrer inventário sem partilha (ex: inventário negativo ou 
quando houver apenas um herdeiro). 
 
b) Espécies de inventário (procedimento): 
- inventário judicial: que divide em inventário tradicional (ou solene) e arrolamento, que, por sua 
vez, pode ser sumário (art. 659 – independente do valor da herança, desde que todos os 
herdeiros sejam maiores, capazes e de acordo com a partilha amigável) ou comum (art. 664 – 
independente se capazes ou não os herdeiros, desde que o valor dos bens for igual ou inferior a 
1.000 salários mínimos). O inventário tradicional ou solene tem aplicação residual (art. 610 – 
“havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”). 
 
- inventário extrajudicial: se todos forem capazes e concordes quanto à partilha, procede-se 
ao inventário e à partilha, administrativamente, em Cartório, valendo a escritura pública 
como título hábil para qualquer ato de registro bem como para levantamento de importância 
depositada em instituições financeira (art. 610, §1º). 
 Para Alexandre Câmara (2007, p. 480), este procedimento veio substituir o 
arrolamento sumário, vez que se tratam das mesmas hipóteses (todavia, remanescerá o 
arrolamento sumário apenas quando houver um único herdeiro, dispensando obviamente 
partilha, e que este seja incapaz, circunstância que afasta a via extrajudicial). 
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56 
 
 Para parte da doutrina, não há opção aos interessados, carecendo-lhes de interesse 
processual pelo inventário judicial por ausência de necessidade (há quem discorde em defesa 
ao princípio da inafastabilidade jurisdicional). 
 O inventário extrajudicial deverá ser feito necessariamente por meio de advogado 
(ou por defensor público, se os interessados não tiverem condições financeiras), o qual 
redigirá a minuta, devendo constar a qualificação completa do autor da herança, dia e local do 
falecimento, a qual será levada ao Tabelionato de Notas. O tabelião poderá exigir, para lavrar 
a respectiva escritura, documentos tais como: certidão de óbito; documento de identificação 
de todas as partes; certidão comprobatória do vínculo de parentesco com o autor da herança; 
certidão de casamento do cônjuge sobrevivente; e documentos comprobatórios da 
propriedade dos bens e seu valor. 
 
c) Inventário Judicial 
c.1) Petição Inicial 
 A petição inicial observará normalmente os requisitos do art. 319, com as 
peculiaridades próprias do procedimento do inventário, porém trata-se de uma petição bem 
menos burocratizada, não havendo necessidade de ampla exposição dos fatos e dos 
fundamentos jurídicos do pedido, do pedido com suas especificações e do protesto pela ampla 
produção de provas (MONTENEGRO FILHO, 2006, p. 449). Basta noticiar a morte do autor 
da herança (com a certidão de óbito em anexo à exordial), a existência de bens e herdeiros, 
sem necessariamente identificá-los (salvo no arrolamento sumário, que, pela celeridade 
própria do rito, impõe a apresentação do esboço de partilha já na petição inicial). 
 Entretanto, deve ser endereçada ao juízo competente, que, nesse caso, será definido 
por 2 critérios: o territorial e o material. 
 Pelo critério territorial, previsto no art. 48 do NCPC, é competente para o processo 
de inventário e partilha o foro do domicílio do autor da herança. Todavia, o referido artigo 
estabelece foros subsidiários. Assim, se o autor da herança não tinha domicílio certo, será 
competente o foro da situação dos bens imóveis. Todavia, se o de cujus possuía bens imóveis em 
foros diferentes, será competente qualquer destes. Não havendo bens imóveis, a ação deverá ser 
ajuizada no foro do local de qualquer dos bens do espólio. 
 Pelo critério material, a ação será aforada na Vara Especializada em Sucessões, onde 
houver; do contrário, será competente a Vara Cível. 
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57 
 
 Vale lembrar que cabe à autoridade brasileira, com exclusividade, proceder ao 
inventário e à partilha de bens situados no Brasil, independentemente da nacionalidade ou 
domicílio do de cujus (art. 23, II, NCPC). 
 Quanto à legitimidade, a abertura do inventário deverá ser requerida, 
primeiramente, pelo administrador provisório no prazo de 2 meses após o falecimento do 
autor da herança. Duas observações merecem ser feitas quanto à eventual inércia dos 
interessados na abertura do processo de inventário: 
1ª) o NCPC não mais ressalva a hipótese da iniciativa de ofício do juiz (o art. 989 não tem um 
correspondente na nova lei processual); 
2ª) a multa pela inércia depende de previsão por lei estadual. Em Goiás, a Lei n. 13.772/00 foi 
alterada pela Lei n. 16.169/07, passando a ser devida não em caso de atraso na abertura do 
inventário, e sim na demora da expedição da declaração do ITCMD. 
 Mas, além do administrador provisório, o art. 616 do NCPC elenca os legitimados 
concorrentes, a saber: 
- o cônjuge ou companheiro supérstite: independentemente do regime de bens. 
- herdeiro 
- legatário (beneficiado pelo testamento) 
- testamenteiro 
- cessionário do herdeiro ou do legatário 
- credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança: seu crédito deve ser líquido e certo. 
- administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário ou do autor da herança ou do 
cônjuge ou companheiro supérstite. 
- Ministério Público, se houver herdeiro incapaz e forem omissos os outros legitimados (é 
residual). Se a iniciativa não for do MP, este deverá, da mesma forma, ser intimado para 
intervir no feito como fiscal da lei se o herdeiro for incapaz ou ausente, ou houver testamento. 
- Fazenda Pública, por ter interesse em apurar e receber o ITCMD. 
 
c.2) Administração da herança (provisória e inventariança)Iniciado o inventário e até que haja a partilha, o encargo de administrar a massa 
hereditária é do inventariante. 
 Entretanto, antes dele ser nomeado e prestar compromisso, esse encargo incumbe ao 
administrador provisório, que é aquele que está na posse e na administração dos bens do 
falecido, independente de nomeação pelo juiz. 
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58 
 
 Recebida a petição inicial, o juiz nomeará então o inventariante, que, segundo o art. 
617 do NCPC, poderá ser (ordem relativa): 
- cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao 
tempo da morte deste; 
- o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio; 
- qualquer herdeiro, quando nenhum estiver na posse ou administração do espólio; 
- o herdeiro menor, por seu representante legal (novidade do NCPC); 
- o testamenteiro, se lhe foi confiada a administração do espólio do toda a herança estiver 
distribuída em legados; 
- o inventariante judicial, se houver; 
- pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. 
 Intimado da nomeação, o inventariante prestará em 5 dias o compromisso de bem e 
fielmente desempenhar a função (parágrafo único, art. 617). 
 Incumbe ao inventariante, além de representar judicial e extrajudicialmente o espólio 
até a partilha, as atribuições previstas nos arts. 618 e 619, NCPC (ex: administrar o espólio 
com diligência; prestar as primeiras e últimas declarações; trazer à colação os bens recebidos 
pelo herdeiro ausente; alienar bens de qualquer espécie; pagar dívidas do espólio; fazer 
despesas para a conservação dos bens do espólio; etc), sob pena de remoção (art. 622), 
mediante incidente instaurado de ofício ou a requerimento de qualquer dos interessados, com 
observância ao contraditório, em autos apensos ao inventário, sem suspendê-lo, de cuja 
decisão caberá agravo. Removido que seja, o juiz nomeará outro, observada da ordem do art. 
617. 
 
c.3) Primeiras declarações 
 De acordo com o art. 620, nomeado o inventariante, este, num prazo de até 20 dias 
após firmar compromisso, deverá prestar as primeiras declarações (também sob pena de 
remoção), consistentes em informações indispensáveis à realização do inventário, como: 
- a qualificação completa do de cujus; 
- a data e o lugar do óbito; 
- a qualificação completa dos herdeiros (incluindo email), a qualidade e seu grau de 
parentesco com o falecido; 
- a qualificação completa do cônjuge ou companheiro supérstite e o regime de bens do 
casamento ou da união estável; 
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59 
 
- a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio, inclusive aqueles que 
devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que nele forem encontrados, fazendo uma 
descrição minuciosa dos bens imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, jóias, títulos da dívida 
pública, ações, quotas, dívidas ativas e passivas, direitos e ações, e, por fim, o valor corrente de 
cada um dos bens. 
 Só se pode imputar sonegação de bens ao inventariante após este declarar por feita a 
descrição de todos os bens (art. 621). 
 
c.4) Citação e Impugnação às primeiras declarações 
 Feitas as primeiras declarações, cita-se o cônjuge/companheiro, os herdeiros e 
legatários, por correio ou por edital (se estiverem em lugar incerto ou desconhecido), e 
intima-se a Fazenda Pública, o Ministério Público, havendo herdeiro incapaz ou ausente, e o 
testamenteiro, se houver testamento. 
 O objetivo é para, num prazo comum de 15 dias, impugnar as primeiras declarações, 
cuja cópia lhes são entregue no momento da citação ou intimação (art. 626, §3º, §4º). 
 De acordo com o art. 627, a impugnação pode versar sobre: 
- erros, omissões e sonegação de bens: quando então o juiz mandará retificá-los (§1º, art. 627); 
- reclamação contra a nomeação do inventariante (não confundir com remoção): em razão da 
preterição na ordem do art. 617, quando então o juiz nomeará herdeiro mais bem situado na 
ordem preferencial (§2º, art. 627); 
- a qualidade de quem foi incluído como herdeiro: o juiz, verificando a ausência de condição 
de herdeiro, determinará a sua exclusão do feito. 
 Por outro lado, aquele que, se julga herdeiro, não for contemplado nas primeiras 
declarações, deverá pleitear a sua inclusão antes da partilha. Nesse caso, ouvidas as partes em 
15 dias, o juiz decidirá (art. 628). 
 Em ambos os casos, se a disputa da qualidade de herdeiro demandar produção prova 
que não a documental, o juiz remeterá a parte para as vias ordinárias, sobrestando ou 
reservando, acautelatoriamente, o seu quinhão até decisão do litígio (§3º, at. 627 e §2º, art. 
628). No caso do herdeiro preterido, tal medida perderá a sua eficácia se ele não promover, no 
prazo de 30 dias após a sua efetivação, a ação de petição de herança. 
 Vale lembrar que o herdeiro descendente, que recebeu doação ou dote do ascendente, 
é obrigado, no prazo de que dispõe para impugnar as primeiras declarações, a fazer colação dos 
bens recebidos (à título gratuito), a fim de reconstituir o acervo hereditário, sob pena de ser 
considerado sonegador (a sonegação será argüida por meio de ação própria no prazo de 10 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
60 
 
anos). A colação será feita conferindo os bens por termo aos autos, ou, se o herdeiro já os não 
possuir, trar-lhes-á o valor. Caso o herdeiro negue o recebimento da doação, abre-se vista às 
partes e, instaurada a controvérsia, remetem-se a via ordinária, não podendo o herdeiro 
receber o seu quinhão enquanto pender a demanda, salvo se prestar caução correspondente ao 
valor dos bens sujeitos à conferência (§2º, art. 641). 
 
c.5) Avaliação dos bens e últimas declarações 
 Após o prazo para a impugnação, não oferecida ou decidida se oferecida, o juiz 
nomeará perito, se não houver avaliador judicial, para avaliar os bens do espólio (inclusive 
quotas sociais e apuração de haveres), a fim de preparar a partilha e estimar a base de cálculo 
do imposto causa mortis. 
 A avaliação será dispensada se a Fazenda Pública e os herdeiros (é necessário que 
todos sejam capazes) concordarem com o valor atribuído nas primeiras declarações (art. 633). 
 Do contrário, será oferecido um laudo, do qual as partes poderão se manifestar no 
prazo de 15 dias (art. 635). Se impugnado, o juiz, acolhendo, determinará a retificação ou 
repetição da perícia. 
 Por outro lado, se aceito o laudo ou resolvidas as impugnações a seu respeito, será 
lavrado o termo das últimas declarações, que nada mais são do que o ato processual pelo qual 
se põe fim à fase do inventário dos bens (no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou 
completar as primeiras), sobre as quais serão ouvidas as partes também num prazo de 15 dias, 
cabendo ao juiz decidir sobre eventuais impugnações (art. 637). 
 Em seguida, não manifestando as partes, ou decidindo o juiz sobre as impugnações, 
procede-se ao cálculo do imposto causa mortis (ITCMD), sobre o qual também serão ouvidas 
todas as partes no prazo comum de 5 dias, e, em seguida, a Fazenda Pública, decidindo o juiz 
eventuais impugnações (art. 638). 
 
c.6) Pagamento das dívidas do autor da herança (art. 642 e ss) 
 Antes de se proceder à partilha, devem ser pagas as dívidas do falecido. Para tanto, o 
credor deverá se habilitar mediante petição acompanhada de prova literal da dívida, a qual 
será distribuída em dependência e autuada em apenso ao processo de inventário. 
 Se os herdeiros concordarem, o credor será habilitado e os bens, suficientes à 
satisfação o crédito, separados para imediata alienação ou adjudicação, de acordo com as 
regrasde expropriação previstas no código. 
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 Mas, se surgir qualquer controvérsia, a habilitação deverá ser resolvida pelas vias 
ordinárias, resguardando eventual direito do credor pela reserva cautelar dos bens (art. 643, 
caput e parágrafo único). Contudo, passados 30 dias da efetivação de tal reserva, sem que o 
credor promova ação cabível (cobrança ou execução), a medida perderá eficácia. 
 Obs: credor de dívida líquida e certa, porém não vencida, poderá também requerer 
habilitação no inventário. Todavia, havendo concordância das partes, a reserva dos bens será 
feita para futuro pagamento. 
 
d) Partilha 
 Superadas todas as etapas anteriores, proceder-se-á a partilha, que poderá ser 
amigável ou judicial. 
 Se amigável, as partes, que deverão ser maiores e capazes, apresentarão negócio 
jurídico que será homologado pelo juiz por meio de sentença. Atenção: a partilha amigável, 
que ocorre no bojo do inventário judicial, não se confunde com a apresentada em Cartório de 
Notas no inventário extrajudicial, que dispensa homologação. 
 Não sendo amigável, dar-se-á vista às partes para que, no prazo comum de 15 dias, 
formulem o pedido de quinhão (cota parte que cabe a cada um), o qual será decidido pelo juiz, 
deliberando a partilha e designando os bens que deverão constituir o quinhão de cada 
herdeiro e legatário. Lembrando que, se houver um só sucessor, não haverá partilha, mas sim 
adjudicação. 
 O NCPC, no parágrafo único do art. 647, prevê, de forma inédita, a possibilidade de o 
juiz deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de 
fruir determinado bem, sob a condição de que, ao término do inventário, tal bem integre a 
cota desse herdeiro. 
 Também prevê a nova lei, no art. 649, que o bem não comporta cômoda divisão e que 
não couber na parte do cônjuge ou companheiro supérstite ou de um só herdeiro, será licitado 
entre interessados ou vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, salvo se houver 
acordo para que todos o adjudique. 
 Definidos os quinhões, o partidor, que é serventuário da justiça, elabora o esboço 
(plano) da partilha definitiva de acordo com a decisão judicial, onde se prevê o monte-mor, o 
abatimento das dívidas do espólio, bem como as despesas com funeral, os bens trazidos à 
colação, e, do resultado final, que é o monte partível, prevê a reserva da meação do cônjuge ou 
companheiro sobrevivente (se for o caso), dividindo a outra metade: em duas partes, a 
disponível e a legítima, se houver testamento; ou entre os herdeiros de acordo com a ordem de 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª: Évelyn Cintra Araújo 
 
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vocação hereditária (herdeiros necessários – cônjuge, descendentes e ascendentes; parentes 
colaterais) – art. 651. 
 Feito o esboço, as partes dele serão intimadas para, no prazo comum de 15 dias, se 
manifestarem (art. 652). Havendo impugnação, o juiz decidirá, o que, após, a partilha será 
lançada nos autos. 
 Comprovado o pagamento do imposto causa mortis e juntadas as certidões negativas 
de débitos fiscais (se houver dívida fiscal, é possível o julgamento da partilha se houver 
garantias – parágrafo único, art. 654), o juiz profere sentença (de natureza constitutiva), 
homologando a partilha lançada nos autos. 
 Transitando em julgado a sentença de partilha, receberá o formal de partilha ou a 
carta de adjudicação (no caso de herdeiro único) para fins de registro. 
 Lembrando que, de acordo com os arts. 657 e 658, caso haja vícios ou defeitos na 
partilha, caberá, no prazo de 1 ano, ação anulatória nos termos do art. 966, §4º, se tratar de 
partilha amigável, ou ação rescisória, consoante o art. 966, caput, no caso de partilha judicial 
(obs: em caso de investigação de paternidade post mortem, sendo a partilha já ultimada, tal 
situação não se sujeita ao prazo decadencial da rescisória, mas ao prazo prescricional de 10 
anos para ajuizamento da respectiva ação de petição de herança, cf. Sumula 149 do STF). 
 Por fim, registra-se que, sendo descobertos bens sonegados ou surgindo novos bens, 
deverá se proceder à sobrepartilha (art. 669), aplicando-se as mesmas regras do processo de 
inventário e partilha, correndo nos mesmos autos. 
 
e) Arrolamento sumário do art. 659 do NCPC 
 Trata-se de um inventário simplificado, por serem os herdeiros maiores, capazes e 
concordes com a partilha, ou herdeiro único, independente dos valores dos bens, cujo 
procedimento é concentrado, suprimindo algumas fases e atos do inventário tradicional: 
- petição inicial: apresentada por todos os herdeiros, onde indicarão os dados do falecido, 
relação dos seus bens e o plano de partilha, além de já elegerem um inventariante; 
- o juiz recebe a petição e nomeia o inventariante indicado na inicial; 
- o juiz homologa a partilha, independentemente de recolher o tributo (o cálculo e o 
pagamento do imposto são feitos administrativamente, perante a secretaria da fazenda 
estadual). 
 
f) Arrolamento comum do art. 664 do NCPC 
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 Cabível quando o valor dos bens deixados pelo falecido for igual ou inferior a 1.000 
salários mínimos. Todavia, o procedimento já não é tão simplificado quanto o do sumário, 
senão vejamos: 
- petição inicial, instruída com a certidão de óbito; 
- nomeação do inventariante (segundo a ordem legal); 
- primeiras declarações, com atribuição de valores aos bens e plano de partilha; 
- citação dos herdeiros (intimação do MP, se houver herdeiros incapazes, ou testamento); 
- havendo acordo sobre a partilha e apresentadas as quitações fiscais, o juiz homologa; 
- havendo impugnação à avaliação feita pelo inventariante por qualquer das partes ou pelo 
MP, é necessária avaliação judicial, de cujo laudo serão ouvidas as partes; 
- impugnações serão decididas na audiência a ser designada, determinando o juiz o 
pagamento de eventuais dívidas; 
- pagamento do imposto; 
- juiz julga a partilha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.2.4 Embargos de terceiro (arts. 674 a 680, NCPC) 
 
a) Conceito: nos termos do art. 674, é o instrumento processual para aquele que, não sendo 
parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre 
os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, requerer o seu desfazimento ou sua 
inibição. 
 
b) Requisitos: 
- constrição ou ameaça de constrição judicial: ou seja, pressupõe um ato de constrição 
realizado, como penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, 
arrolamento, inventário, partilha etc, ou ameaçado de ser praticado, ocasião em que os 
embargos serão preventivos. Ex: simples descrição, em inventário, do acervo patrimonial que 
irá compor o espólio; 
- ser o proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor do bem ou do direito apreendido ou 
ameaçado de apreensão (§1º art. 674): portanto, tem por finalidade a defesa não só da posse ou 
da propriedade de bens, mas também de qualquer direito (real ou pessoal) atingido ou 
ameaçado de ser atingido indevidamente por ato judicial de apreensão, como, por exemplo, 
quotas de sociedade, créditos e outros direitos patrimoniais, etc. Na verdade, os embargos de 
terceiro são um instrumento de proteção à posse, uma vez que o ato de constrição ou a sua 
ameaça não passam de um esbulho ou turbação, porém realizados por ato judicial. 
- qualidade de terceiro em relação ao processo do qual emanou a ordem judicial: ou seja, não 
ter participado

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