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DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
- DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado. 
- DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – Direito de família. V. 
5. São Paulo: Saraiva. 
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil. V. 5. São Paulo: Saraiva. 
- REVISTA BRASILEIRA DE DIREITO DE FAMÍLIA. IBDFAM. – vários números. 
- ROSENVALD, Nelson e FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito das famílias. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris. 
 
01. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
A CF/88, em seu art. 226, consagra um sistema jurídico de direito de família 
aberto, inclusivo e não discriminatório. Vale dizer, o nosso sistema 
constitucional, além do casamento, reconhece também como entidades familiares a 
união estável e o núcleo monoparental (formado por qualquer dos pais e sua prole). 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado. 
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. 
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável 
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar 
sua conversão em casamento. 
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade 
formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são 
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
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§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do 
casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e 
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma 
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada 
um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no 
âmbito de suas relações. 
 
A doutrina mais abalizada (Paulo Lobo, Luiz Edson Fachin, Maria Berenice Dias) 
reconhece, por sua vez, que outros arranjos familiares, ainda que não 
expressamente previstos, merecem a devida tutela jurídica e constitucional. 
 
CÓDIGO DE 1916 CÓDIGO DE 2002 (art. 226 e 227 da CF) 
 Matrimonializada (só existia pelo 
casamento) 
Múltipla, plural. O casamento não é a única 
forma de constituição de família. Ex.: União 
estável, família monoparental. 
Patriarcal (o homem era o chefe da família) Igualitária (homens e mulheres são iguais) 
Hierarquizada (todos deviam obediência ao 
pai, o que se chamava de pátrio poder) 
 Democrática 
Necessariamente heteroparental (só havia 
família pelo casamento, que só poderia se 
dar entre pessoas de sexos diferentes) 
Pode ser hetero ou homoparental. Ex.: Mãe 
solteira com filha formam um núcleo 
monoparental. A homoparentalidade decorre 
da monoparentalidade. 
Concepção somente biológica (apenas os 
filhos biológicos tinham proteção, os 
adotivos não tinham a mesma proteção), 
ou seja, havia uma categorização dos 
filhos. 
 Pode ser biológica ou socioafetiva. Cessa a 
categorização dos filhos e passa a ocorrer a 
parentalidade deles. 
Indissolubilidade familiar. A família era 
uma instituição jurídica e social, que não 
poderia ser dissolvida. 
 Dissolubilidade dos vínculos. 
 
 
02. CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
Sem pretender esgotar a definição, entendemos que a família, base da sociedade 
(art. 226 da CF), é um ente despersonificado moldado pelo vínculo da 
socioafetividade, dotado de estabilidade e merecedor de tutela jurídica. 
 
OBS: A doutrina costuma reconhecer superada a tese defendida por Savatier e 
Carbonnier no sentido de a família ser uma pessoa jurídica. 
 
Conceito: É o conjunto de regras aplicáveis às relações entre pessoas ligadas pelo 
casamento ou pela união estável, pelo parentesco, pela afinidade e pela adoção. 
 
Natureza jurídica de suas normas: Embora o Direito de Família seja ramo do direito 
privado (do Direito Civil), boa parte de sua disciplina está contida nos artigos 226 e 
227 da Constituição Federal de 1988, e os dispositivos presentes no Novo Código 
Civil brasileiro (Lei 10.406/2002), têm relevante interesse público a fundamentá-
los. 
Não podem, portanto, ser derrogados por contrato entre as partes interessadas. 
Cabe somente à União legislar sobre a matéria (são leis ordinárias federais, de 
aplicação em todo o território nacional). 
 
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O Direito de Família se divide em quatro partes: 
a) direito pessoal (Arts. 1.511 a 1.638 complementado pelas Leis 6.515/77, 
8.069/90 (ECA) e 8.560/92); 
 b) direito do patrimonial .(Arts. 1.639 a 1.722 
complementado pela Lei8.009/90); 
 c) união estável (arts. 1.723 a 1.727, será complementado pelas leis 8.971/94 e 
9.278/96) 
 d) direito assistencial (tutela e curatela) (Arts. 1.728 a 1.783) 
 
 
03. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MODERNO CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
A família é: 
 
a) Socioafetiva 
Significa que o conceito de família é moldado não pela técnica legal, mas sim 
pela afetividade (exemplo disso foi o reconhecimento da união estável 
homoafetiva à unanimidade pelo STF, ao julgar a ADI 4.277 e a ADPF 132). 
 
b) Eudemonista 
Significa que, à luz do princípio da função social, toda família deve servir de 
ambiência para que seus membros realizem os seus projetos pessoais de vida e 
felicidade. 
 
c) Anaparental 
Significa que a entidade familiar pode inclusive ser formada por pessoas que 
não guardem entre si estrito vínculo de consanguinidade. 
 
d) Uniões Paralelas - Poliamor 
 
3.1 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMILIA 
1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – ART. 1º, III CF 
2. SOLIDARIEDADE FAMILIAR – ART. 227 e 230 CF 
3. PLURALIDADE DAS ENTIDADES FAMILIARES – ART. 226, §§ 3º e 4º CF 
4. ISONOMIA ENTRE CÔNJUGES – ART. 226, §5º CF 
5. ISONOMIA ENTRE FILHOS – ART. 227, §6º CF 
6. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ART. 227 CF E 
ART. 1º E ss do ECA 
7. PATERNIDADE RESPONSAVEL E LIVRE PLANEJAMENTO – ART. 226, § 7º, 
227, §§ 3º, 4º e 6º CF 
8. MONOGAMIA – ART. 1521, VI CC 
9. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: Este princípio, desenvolvido por 
inúmeros autores, como Rodrigo da Cunha Pereira, sustenta não poder o 
Estado invadir a esfera íntima da família, sufocando-a ou oprimindo-a. 
 
OBS: O art. 5º da Lei Maria da Penha consagra estas características modernas do 
conceito de família, especialmente a anaparentalidade. 
 
 
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Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e 
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero 
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e 
dano moral ou patrimonial: 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de 
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive 
as esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada 
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou 
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo 
independem de orientação sexual. 
 
RELAÇÕES DE PARENTESCO 
arts. 1.591 a 1.595 CC c/c arts. 226 § 4º e 227 §6º da CF/88 
 
1. Conceito: vínculo jurídico estabelecidopela consangüinidade ou pela 
adoção, daí decorrendo o parentesco biológico ou natural e o civil. 
Relações Jurídicas Decorrentes do Parentesco: filiação, poder familiar, alimentos e 
usufruto dos bens dos filhos 
 
2. ESPÉCIES DE PARENTESCO 
a) Parentesco biológico ou consangüíneo: reprodução natural e assistida (FIV e 
inseminação – homóloga e heteróloga – Resolução 1.358/92 do Conselho 
Federal de Medicina – EXIGÊNCIA DO CONSENTIMENTO DO CÔNJUGE 
ESTÉRIL – presunção de paternidade – são filhos havidos na constância do 
casamento - pater is est - art. 1.597) 
b) Parentesco Civil: adoção – arts. 1.618 a 1.629 CC; Parentesco civil – adoção 
plena – (arts. 39 a 52 da Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do 
Adolescente – e 1.618 a 1.629 CC ) – rompe-se todo e qualquer vínculo com a 
família biológica; é irrevogável x adoção restrita (art. 1.623) – aplicável no 
caso de maior de 18 anos. Exigência de consentimento dos pais biológicos 
(exceto para crianças e adolescentes abandonados ou cujos pais tiveram o 
poder familiar suspenso) – ver também arts. 39 a 52 da Lei 8.069/90 – 
estágio de convivência: se para adoção por estrangeiros, mínimo de 15 dias 
(para crianças até 2 anos) e de 30 dias (para crianças acima de 2 anos). 
c) Parentesco sócio-afetivo: famílias reconstituídas; relações de afeto Filho – no 
CCB – herdeiro (ótica patrimonialista); na CF/88 e no CC/02 – pessoa (ótica 
personalista/eudemonista; melhor interesse da criança (art. 6º ECA) 
3. AFINIDADE – ART. 1.595 - não se confunde com o parentesco, pois naquela se 
estabelece o vínculo jurídico apenas entre o cônjuge e os parentes do outro cônjuge. 
Contam-se as linhas e graus da mesma forma que no parentesco consangüíneo. 
A afinidade em linha reta não se dissolve com a dissolução do casamento que a 
originou e é impedimento para contrair núpcias (art. 1.521, II) 
EXEMPLOS: são os sogros, pais dos sogros, avós dos sogros. Os enteados e seus 
filhos, as noras, os genros, os cunhados (irmãos do cônjuge), tios, sobrinhos, 
primos e avós do cônjuge. 
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Linhas reta: (um descende do outro – art. 1.591); 
Linha colateral (pessoas que descendem de um tronco comum mas não uma da 
outra – art. 1.592) 
Graus: medida da distância entre dois parentes 
- na linha reta chega ao infinito; 
- na linha colateral só é relevante até o quarto grau; 
A linha reta - São consanguíneos: há vínculos entre os descendentes e ascendentes 
de um progenitor comum. Ex: bisavós, avós, pais, filhos, netos, bisnetos... A linha 
reta é ilimitada. O grau se conta a cada geração. O filho é 1º grau, neto = 2º grau, 
bisneto = 3º ... 
Linha Colateral: São os irmãos, primos, tios, sobrinhos... 
Na linha colateral, embora não descendendo um do outro, são descendentes de um 
tronco ancestral comum. 
O parentesco começa no 2º grau. Exemplo: Irmão = 2º grau; Tios = 3º grau; 
Sobrinhos = 3º grau; Sobrinho-neto = 4º grau; Primos = 4º grau; Primo-segundo = 
5º grau; Primo-terceiro = 6º grau. 
Parentesco por afinidade: São os sogros, pais dos sogros, avós dos sogros. Os 
enteados e seus filhos, as noras, os genros, os cunhados (irmãos do cônjuge), tios, 
sobrinhos, primos e avós do cônjuge. 
4. RELEVÂNCIA DO TEMA 
Impedimentos matrimoniais (art. 1.521) e para serem testemunhas (art. 228, V), 
alimentos (princípio da reciprocidade – arts. 1.696 a 1.698 CC c/c 229 CF/88) e 
sucessão (art. 1.829). 
Para efeitos sucessórios a relevância do parentesco chega até o 4º grau colateral 
(primos). 
Para impedimento de testemunha em audiência a lei estabelece até o 3º grau na 
linha colateral (tios e sobrinhos – art. 228, V). 
Para efeitos de impedimento ou suspeição do juiz (arts. 405 § 2º, I e 134, IV do 
CPC). Os impedimentos matrimoniais não ultrapassam o 3º grau na linha colateral. 
Para efeitos de alimentos, a relevância da linha colateral não ultrapassa o 2º grau. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CASAMENTO 
 
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Até o advento da República, em 1889, a única forma de casamento era o religioso. 
Assim, quem não era católico não tinha acesso ao casamento. O casamento civil 
surgiu apenas em 1891. 
Nos termos do art. 1.511 do CC, lembrando a doutrina de Van Wetter, podemos 
definir o casamento como uma instituição oficial, solene, que firma uma comunhão 
plena devida entre os cônjuges na perspectiva do princípio constitucional da 
igualdade. 
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com 
base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 
 
 
 
4.1. NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO 
 
a) Corrente publicista 
Sustentava que o casamento seria instituto de direito público, em outras palavras, 
um ato administrativo. É uma corrente superada. 
b) Corrente privatista 
Sustenta que o casamento é um instituto de direito privado. 
Dentro da corrente privatista, existem os autores não-contratualistas e os autores 
contratualistas. 
 
- Os autores não-contratualistas entendem que o casamento não é um contrato. Há 
quem sustente que o casamento é um negócio complexo (ver os autores no livro de 
Orlando Gomes); outros dizem que é um acordo. Também há quem sustente que é 
uma instituição ou um ato-condição (Leon Duguit). Ato-condição é aquele que, 
quando praticado, coloca a parte em uma condição impessoal. 
 
- Respeitável parcela da doutrina, desde Clóvis Beviláqua, chegando a Orlando 
Gomes, afirma, por sua vez, que o casamento é um contrato especial de direito de 
família. O núcleo do casamento é o consentimento das partes, como ocorre em 
todos os contratos. 
 
4.2. PRESSUPOSTOS EXISTENCIAIS DO CASAMENTO 
 
01. Consentimento 
É o núcleo do casamento. Ver art. 1.538, I do CC. 
 
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa 
se algum dos contraentes: 
I - recusar a solene afirmação da sua vontade; 
 
 
02. Celebração por autoridade materialmente competente 
Logicamente, faltando à autoridade celebrante competência legal ou material para o 
ato, o casamento será inexistente, ressalvada a hipótese prevista no art. 1554 que 
consagra a boa-fé dos contraentes. 
Se quem realizou o casamento não tinha competência material para fazê-lo, o 
casamento é inexistente. Diferente é a hipótese de quem não tinha competência 
territorial para celebrar o casamento, pois neste caso o casamento é apenas 
anulável. 
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Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem 
possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções 
de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no 
Registro Civil. 
 
03. Diversidade de sexos 
Tradicionalmente, a diversidade de sexos era pressuposto existencial do casamento. 
Atualmente está superada essa condição. 
 
O PROCEDIMENTO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO 
 
Denomina-se “procedimento de habilitação” aquele que tramita perante o 
Oficial de Registro Civil e é destinado a verificar se os nubentes são capazes para 
casar, se possuem impedimentos que não autorizem o casamento ou causas 
suspensivas que lhes atribua restrições. T 
ambém é na fase de habilitação que são publicados editais, denominados 
“proclamas”, cuja finalidade é tornar pública a pretensão dos nubentes e, dessa 
forma, permitir a arguição de impedimentos e causas suspensivas por parte de 
terceiros. 
As funções preventiva e repressiva do procedimento de habilitação são bem 
delineadas pelo estudioso Carlos Roberto Gonçalves, ao citar Sílvio Rodrigues: O 
Estado „assume, emface da pessoa que quer casar-se, duas atitudes. A primeira é 
uma atitude preventiva, manifestada no processo de habilitação, em que, 
demonstrada a existência do empecilho dirimente, proíbe-se a realização do 
matrimônio. A segunda é uma atitude repressiva, que tem lugar quando, a despeito 
da existência de um impedimento dirimente, efetua-se o casamento. 
 
Nessa hipótese, o Estado reage contra o ato infringente do mandamento legal para 
fulminá-lo de nulidade. (RODRIGUES, 2003 apud GONÇALVES, 2009, p.42). Dessa 
forma, observa-se que o procedimento de habilitação matrimonial tem como 
principal objetivo verificar a existência de situações que possam macular o pretenso 
casamento. 
 
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por 
ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser 
instruído com os seguintes documentos: 
 
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; 
 
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou 
ato judicial que a supra; 
 
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem 
conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; 
 
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e 
de seus pais, se forem conhecidos; 
 
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou 
de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de 
divórcio. 
 
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, 
com a audiência do Ministério Público. (Texto alterado pela LEI 12.133, DE 2009). 
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de 
terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. 
Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se 
afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os 
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nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver. 
 
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a 
publicação. 
 
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos 
que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos 
regimes de bens. 
 
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em 
declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a 
indicação do lugar onde possam ser obtidas. 
 
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota 
da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu. 
 
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova 
contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o 
oponente de má-fé. 
 
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a 
inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de 
habilitação. 
 
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que 
foi extraído o certificado. 
 
4.3. CAPACIDADE PARA O CASAMENTO 
Também chamada de capacidade núbil, nos termos do art. 1517 do CC, homem e 
mulher podem se casar a partir dos 16 anos completos. 
 
- Entre os 16 e os 18 anos, o noivo deverá obter uma autorização para o casamento. 
 
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, 
exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes 
legais, enquanto não atingida a maioridade civil. 
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o 
disposto no parágrafo único do art. 1.631. 
 
- Havendo divergência entre os pais, o juiz decidirá. O mesmo ocorre se um dos pais 
negar a autorização de forma desmotivada. 
 
Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder 
familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o 
exercerá com exclusividade. 
Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder 
familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do 
desacordo. 
 
 
- A autorização pode ser revogada até a data do casamento. Art. 1518 do CC. 
 
Art. 1.518. Até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou 
curadores revogar a autorização. 
 
 
É possível o casamento abaixo da idade núbil? 
Sim. Art. 1520 do CC. 
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Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem 
ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou 
cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. 
 
Quanto à gravidez, não há dúvidas de que esta hipótese autoriza o casamento 
abaixo da idade núbil. 
A discussão ocorre no que tange a hipótese em que se tenta evitar imposição ou 
cumprimento de pena criminal. 
O Código Penal brasileiro, em sua atual redação, considera o “estupro de 
vulnerável” (com menor de 14 anos) crime que se processa mediante ação penal 
pública incondicionada. Assim sendo, em regra, não teria cabimento uma 
autorização para casamento entre a menor e o réu, ressalvadas situações 
excepcionais em que a maturidade da vítima e a estabilidade da relação possam 
indicar a inequívoca ausência de justa causa para a ação penal. 
OBS: Ainda a título de introdução, vale lembrar que existem 02 tipos básicos de 
casamento: 
 Casamento civil 
 Casamento religioso com efeitos civis (admitido pela CF/1934). 
 
- O Tribunal de Justiça da Bahia, em decisão pioneira (MS 34739-8/2005), admitiu 
o casamento espírita com efeitos civis (ver no material de apoio referência a 
parecer do jurista Dalmo Dallari – neste parecer o jurista diz que não cabe à lei 
dizer o que é religião e quem são as autoridades competentes para realizar um 
casamento religioso. Apesar do espiritismo não ser uma religião, no Brasil ele é 
abraçado como se religião fosse). 
 
- Vale acrescentar ainda que são formas especiais de casamento: 
 
 Casamento por procuração (art. 1542 do CC) 
 
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por 
instrumento público, com poderes especiais. 
§ 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do 
mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o 
outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante 
por perdas e danos. 
§ 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-
se representar no casamento nuncupativo. 
§ 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. 
§ 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. 
 
 Casamento nuncupativo ou in articulo mortis ou in extremis (art. 1540 do CC) 
É o casamento da pessoa que está com iminente perigo de morte. 
Permite-se a dispensa do processo de habilitação e até da presença do 
celebrante. 
O art. 1541 do CC traz a formalização do casamento nuncupativo perante o 
Estado. 
 
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de 
vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o 
ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na 
presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham 
parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. 
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Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer 
perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, 
pedindo que lhes tome por termo a declaração de: 
I - que foram convocadas porparte do enfermo; 
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e 
espontaneamente, receber-se por marido e mulher. 
§ 1o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às 
diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se 
habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o 
requererem, dentro em quinze dias. 
§ 2o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o 
decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. 
§ 3o Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, 
apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do 
Registro dos Casamentos. 
§ 4o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, 
quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração. 
§ 5o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, 
se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da 
autoridade competente e do oficial do registro. 
 
 Casamento em caso de moléstia grave (art. 1539 do CC) 
Neste caso, a pessoa encontra-se doente, já se habilitou para casar e a 
autoridade celebrante vai até o local para celebrar o ato. É diferente do 
casamento nuncupativo, em que não há tempo para atender a estas 
formalidades. 
 
Pressupõe-se que já estejam satisfeitas as vontades preliminares do casamento e 
o oficial do registro civil tenha expedido o certificado de habilitação ao 
casamento, mas a gravidade do estado de saúde o impede de locomover-se e de 
adiar a cerimônia. Neste caso, o juiz irá celebrar na casa da pessoa ou onde se 
encontrar, em companhia do oficial, ainda que à noite, perante duas 
testemunhas que saibam ler e escrever. Só será realizado à noite se houver 
urgência. 
 
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o 
presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo 
urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e 
escrever. 
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o 
casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do 
oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do 
ato. 
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no 
respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, 
ficando arquivado. 
 
 Casamento consular (art. 1544 do CC) 
E o casamento de brasileiro realizado no estrangeiro, perante a autoridade 
consular brasileira. O cidadão brasileiro que reside no exterior tem a opção de 
casar conforme a lei pátria, no consulado, caso não queira sujeitar-se à 
legislação local. Deverá ser submetido a registro no prazo de 180 dias, a contar 
da volta de um ou de ambos ao país. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
12 
 
4.4. PROMESSA DE CASAMENTO / NOIVADO / ESPONSAIS 
O noivado traduz a promessa de casamento que, quando injustificadamente 
descumprida, poderá por quebra de boa-fé objetiva, resultar em responsabilidade 
civil por dano material e moral. A jurisprudência brasileira tem mais de uma 
decisão admitindo a responsabilidade civil por ruptura de noivado, como se vê na 
AC 0282469-5/TJPR, bem como no próprio STJ, no RESP 251.689/RJ. 
 
Segundo Antônio Chaves, os esponsais consistem em um compromisso de 
casamento entre duas pessoas desimpedidas, de sexo diferente, com o escopo de 
possibilitar que se conheçam melhor, que aquilatem suas afinidades e gostos. 
 
O noivado não acarreta a obrigação de casar, mas a doutrina tem admitido a 
responsabilidade civil por ruptura injustificada de noivado. Não existe a 
orbigatoriedade de casar, o problema consiste no exercício abusivo do direito, com 
quebra da boa-fé objetiva, em havendo demonstrado prejuízo. Ex.: Romper o 
noivado na véspera do casamento sem motivo aparente. 
 
OBS: Prevalece ainda o entendimento no sentido de que a ruptura de namoro não 
gera responsabilidade civil. 
 
 
4.5. PLANO DE VALIDADE DO CASAMENTO 
 
Os impedimentos matrimoniais traduzem os requisitos necessários à validade 
jurídica do casamento. 
 
É digno de nota que a Lei 12.153/09 estabeleceu que a habilitação para o 
casamento tramitará perante o oficial de registro civil, com intervenção do 
Ministério Público, só indo ao juiz em caso de impugnação ou havendo necessidade 
de suprimento. 
 
No CC/16, os impedimentos matrimoniais eram tratados no art. 183. Dividiam-se 
em: 
 
- Impedimentos absolutamente dirimentes (art. 183, I a VIII): de ordem 
pública, eram os impedimentos mais graves, que acarretavam a nulidade do 
casamento. 
 
- Impedimentos relativamente dirimentes (art. 183, IX a XII): também 
chamados de impedimentos privados, eram menos grave e acarretavam 
apenas a anulabilidade do casamento. 
 
- Impedimentos proibitivos ou impedientes (art. 183, XV a XVI): diferenciavam-
se dos demais porque quem os violasse submetia-se apenas a uma sanção 
patrimonial: teria que casar pelo regime de separação obrigatória de bens. 
 
 
a) Impedimentos 
No CC/02, os impedimentos absolutamente dirimentes são chamados apenas de 
impedimentos e sua consequência também é a nulidade. Art. 1521 do CC. 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
13 
 
 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou 
civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem 
o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o 
terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa 
de homicídio contra o seu consorte. 
 
OBS: A despeito da proibição constante na parte final do inciso IV do art. 1521, a 
doutrina brasileira (Enunciado 98 da I Jornada) amparada no Decreto-lei 3.200/41, 
sustenta a excepcional possibilidade de casamento entre colaterais de 3º grau, se 
houver parecer médico favorável (este impedimento existe apenas para proteger a 
saúde genética da prole). 
 
Enunciado 98 – Art. 1.521, IV, do novo Código Civil: o inc. IV do art. 
1.521 do novo Código Civil deve ser interpretado à luz do Decreto-Lei n. 
3.200/41 no que se refere à possibilidade de casamento entre 
colaterais de 3º grau. 
 
OBS 2: Não consta mais no rol de impedimentos aquele referente à impossibilidade 
de o casal condenado por adultério contrair núpcias. 
 
OBS 3: O casamento nulo, que decorre da infringência de impedimentos ou de 
enfermidade mental de um dos cônjuges, encontra referência nos art. 1548 e 1549. 
O juiz não poderá reconhecer de ofício a nulidade do casamento, pois esta só 
poderá ser promovida mediante ação direta de qualquer interessado ou do MP (deve 
haver a ação declaratória de nulidade). Apesar de se tratar de uma norma de ordem 
pública, segundo Pablo, estamos diante de um caso especial, em que a própria letra 
da lei impediria o reconhecimento de ofício. 
 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da 
vida civil; 
II - por infringência de impedimento. 
 
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos 
previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação 
direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público. 
 
 
b) Causas de anulação do casamento 
O CC/02, com alguma mudança de conteúdo, passou a tratar os impedimentos 
relativamente dirimentes do CC/16 como causas de anulação do casamento, quetêm como base o art. 1550 do CC. A consequência permanece a mesma, ou seja, o 
casamento será anulável. 
 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
14 
 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu 
representante legal; 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o 
consentimento; 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente 
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre 
os cônjuges; 
VI - por incompetência da autoridade celebrante. 
Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato 
judicialmente decretada. 
 
- Merece especial atenção as hipóteses de anulação de casamento por vício da 
vontade, previstas nos art. 1556 a 1558 do CC. 
 
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se 
houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial 
quanto à pessoa do outro. 
 
- Estas hipóteses que resultam na invalidade do casamento referem-se a 
situações que já existiam antes do casamento, mas que o cônjuge só soube em 
momento posterior a ele: 
 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro 
cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo 
esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida 
em comum ao cônjuge enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, 
torne insuportável a vida conjugal; 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, 
ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz 
de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, 
por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge 
enganado. 
 
- Inciso III: No caso do inciso III, para que se anule o casamento, é necessário que 
o cônjuge portador da doença saiba que está doente. Caso não saiba, apesar de não 
haver espaço para a anulação, o cônjuge que se reputar prejudicado poderá 
requerer o divórcio. A impotência coeundi, defeito físico irremediável, também é 
causa de anulação do casamento se o cônjuge só descobrir depois do casamento 
(tem que provar). Não se deve confundir a impotência coeundi com a impotência 
generandi, que é a incapacidade de ter filhos e não abre espaço para a anulação do 
casamento. 
 
No entanto, pode acontecer de um dos cônjuges saber que não podia ter filhos, mas 
enganar o outro para casar-se. Neste caso, o erro recairá sobre o inciso I, ou seja, 
sobre a má conduta e, por isso, será possível requerer a anulação. 
 
OBS: Ver o peculiar embargo infringente 701036425 do TJ/RS. 
 
 
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o 
consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado 
mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a 
saúde e a honra, sua ou de seus familiares. 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
15 
 
 
OBS 2: Ver os demais artigos referentes à anulação do casamento, especialmente 
aqueles que tratam dos prazos e da legitimidade para a ação anulatória. 
 
Em conclusão, vale acrescentar ainda que, a despeito da polêmica, é razoável a tese 
(Zeno Veloso, Tartuce, Simão) segundo a qual a eficácia da sentença anulatória 
de casamento é retroativa. A sentença que anula o casamento retroage para 
atingir os efeitos do casamento em sua origem. Por isso, quem tem o casamento 
anulado volta a ter o estado civil de solteiro. 
 
c) Causas suspensivas do casamento 
O novo CC trata dos impedimentos proibitivos ou impedientes no art. 1523 
denominando-os de causas suspensivas do casamento. Os cônjuges podem se 
casar, mas não devem. O casamento será válido, mas os cônjuges terão que se 
submeter ao regime de separação obrigatória de bens. 
 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não 
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter 
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da 
dissolução da sociedade conjugal; 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a 
partilha dos bens do casal; 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, 
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto 
não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as 
respectivas contas. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes 
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV 
deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, 
para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou 
curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de 
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
 
- Inciso I: existe para evitar confusão de patrimônio do marido que morreu com o 
novo. 
- Inciso II: existe para evitar a confusão de sangue de um possível filho. Esta 
hipótese é mitigada pelo exame de DNA e deve ser vista com equilíbrio. 
- Inciso III: o divorciado pode se casar no dia seguinte ao seu divórcio. Mas se não 
houver sido feita a partilha do casamento anterior, terá que se casar no regime de 
separação obrigatória de bens. 
 
 
OBS: Casamento putativo 
O casamento putativo, nos termos do art. 1561 do CC, nada mais é do que o 
matrimônio inválido (nulo ou anulável) cujos efeitos jurídicos são preservados em 
favor do cônjuge de boa-fé. Na perspectiva do principio da boa-fé objetiva, é a 
própria teoria da aparência que justifica o referido instituto (art. 1571). Ver obra de 
Yussef Said Cahali – O Casamento Putativo. 
Ex.: Dois irmãos se casam sem saber que são irmãos. O juiz invalidará o 
casamento, mas preservará os seus efeitos (partilha os bens, garante direito a 
alimentos, tudo como se fosse um divórcio). 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
16 
 
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé 
por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos 
filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. 
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os 
seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, 
os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. 
 
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: 
I - pela morte de um dos cônjuges; 
II - pela nulidade ou anulação do casamento; 
III - pela separação judicial; 
IV - pelo divórcio. 
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges 
ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código 
quanto ao ausente. 
§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o 
cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, 
dispondo em contrário a sentença de separação judicial. 
 
Casamento putativo em que apenas um dos cônjuges está de boa-fé 
Uma pessoa casada consegue se casar com outra pessoa. Os efeitos jurídicos serão 
preservados apenas com relação ao cônjuge de boa-fé (terá direito a todos os bens 
que levou para o casamento e também a sua parte nos bens do cônjuge; terá direito 
a alimentos etc.). 
 
OBS: O art. 1554 do CC traz uma especial hipótese de casamento inexistente por 
ausência de competência legalda autoridade celebrante, e que ainda assim, tem os 
seus efeitos jurídicos preservados em favor do cônjuge de boa-fé. 
 
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem 
possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções 
de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no 
Registro Civil. 
 
A despeito da polêmica, é razoável a tese segundo a qual o juiz, por decorrência da 
norma superior da boa-fé objetiva, poderá de ofício reconhecer a putatividade. 
 
 
4.6. PLANO DE EFICÁCIA DO CASAMENTO 
 
a) Deveres matrimoniais 
Art. 1565 do CC. 
 
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a 
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da 
família. 
§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o 
sobrenome do outro. 
§ 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao 
Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício 
desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições 
privadas ou públicas. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
17 
 
 §1º: Qualquer dos cônjuges, se quiser, poderá acrescer ao seu o sobrenome ou 
patronímico do outro. Aqui se pode visualizar o princípio da isonomia entre os 
cônjuges. 
 
OBS: O STJ, a despeito da redação do §1º do art. 1565, já admitiu a supressão 
de um nome de família, quando do casamento, com base no direito da 
personalidade (RESP 662.799/MG). 
 
Também pode ocorrer de uma pessoa acrescer ao seu o sobrenome de casado 
do cônjuge. 
 
 §2º: Tem conexão com o princípio da intervenção mínima do direito de família. 
 
Art. 1566 do CC. 
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: 
I - fidelidade recíproca; 
II - vida em comum, no domicílio conjugal; 
III - mútua assistência; 
IV - sustento, guarda e educação dos filhos; 
V - respeito e consideração mútuos. 
 
¥ Sustento, guarda e educação dos filhos: deriva do poder familiar. 
 
¥ Mútua assistência: traduz a assistência material e moral. 
 
¥ Vida em comum no domicílio conjugal 
É conhecido como dever de coabitação e pode ser relativizado em decorrência 
da vontade das partes. Observa Orlando Gomes que a coabitação representa 
mais do que a simples convivência sobre o mesmo teto, mas também união 
carnal (debitum conjugale). 
 
Não havendo razões de saúde ou decisão de abstinência sexual, o dever de 
coabitação engloba o debitum conjugale. Os autores mais modernos costumam 
criticar esta expressão, pois não concordam que o ato sexual seja tratado como 
um dever. Para Stolze, apesar de não se puder considerá-lo como um dever, não 
se pode deixar de admitir que o sexo é uma consequência do casamento. 
 
Na AC 70016807315, o tribunal gaúcho anulou um casamento em virtude da 
mulher ter afirmado que nunca teve e nunca teria intenção de ter relações 
sexuais com o marido (anulação do casamento por erro sobre pessoa). 
 
 
¥ Fidelidade recíproca 
A quebra do dever de fidelidade pode se dar de diversas maneiras, mediante a 
prática de condutas desonrosas, mas a ruptura mais brusca deste dever de 
fidelidade opera-se por meio do adultério, o qual pressupõe espúria conjunção 
carnal com terceiro. 
 
Figuras especiais de infidelidade: 
 
01. Quase-adultério 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
18 
 
Situação em que existem atos preparatórios à relação sexual espúria. 
 
02. Adultério inocente, casto ou de seringa 
Traduz a situação de infidelidade por meio de método científico de 
reprodução humana assistida não autorizada pelo cônjuge traído 
(concepção humana heteróloga, com utilização de sêmen de terceiro, sem 
autorização do cônjuge). 
 
03. Adultério precoce 
Quando o cônjuge abandona o outro imediatamente após a celebração do 
casamento. 
 
OBS: O chamado adultério virtual, que melhor seria denominado de 
infidelidade virtual (por não haver contato físico entre os parceiros) opera-se 
por meio da tecnologia digital, mediante troca de e-mails, chats de bate-
papo e redes sociais de relacionamento. A 2ª Vara Cível de Brasília, segundo 
o site Consultor Jurídico, reconheceu a infidelidade virtual de um homem 
condenado a pagar R$20.000,00 à esposa pelos desvios amorosos 
cometidos via internet. 
 
REGIME DE BENS 
 
 
6.1. CONCEITO 
 
Regime de bens é o estatuto patrimonial do casamento. Ou seja, o conjunto de 
normas que disciplina os efeitos patrimoniais derivados do casamento. Também é 
aplicado à união estável. 
É estudado a partir do art. 1639 do CC. 
 
Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, 
estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. 
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data 
do casamento. 
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização 
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a 
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de 
terceiros. 
 
Os noivos podem, durante o processo de habilitação para o casamento, escolher o 
regime de bens. 
Essa escolha opera-se por meio de um contrato especial e solene denominado pacto 
antenupcial (art. 1653). Este contrato deve ser lavrado por escritura pública. 
 
Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura 
pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento. 
 
Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica 
condicionada à aprovação de seu representante legal, salvo as 
hipóteses de regime obrigatório de separação de bens. 
 
Art. 1.655. É nula a convenção ou cláusula dela que contravenha 
disposição absoluta de lei. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
19 
 
Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação 
final nos aqüestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens 
imóveis, desde que particulares. 
 
Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante 
terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do 
Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. 
 
 
No Brasil, temos os seguintes regimes de bens: da comunhão universal de bens, da 
comunhão parcial de bens, da separação de bens e de participação final nos 
aquestos. 
 
OBS: Embora não seja comum, a doutrina considera juridicamente possível que, no 
pacto antenupcial, possam ser mescladas regras de regimes diversos (Enunciado 
331 da IV Jornada de Direito Civil). 
 
Enunciado 331 – Art. 1.639. O estatuto patrimonial do casal pode ser 
definido por escolha de regime de bens distinto daqueles tipificados no 
Código Civil (art. 1.639 e parágrafo único do art. 1.640), e, para efeito 
de fiel observância do disposto no art. 1.528 do Código Civil, cumpre 
certificação a respeito, nos autos do processo de habilitação 
matrimonial. 
 
 
Desde 1977, adota-se como regime legal supletivo o da comunhão parcial de 
bens. O novo CC mantém a regra no art. 1640. Se os noivos não escolherem o 
regime de bens, cairão no regime supletivo de comunhão parcial. Antes da Lei 
6.515/77, o regime legal supletivo era o da comunhão universal de bens. 
 
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, 
vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão 
parcial. 
 
Uma das principais características do novo CC, no direito patrimonial de família, é 
a possibilidade de mudança de regime de bens no curso do casamento, na linha de 
autores como Orlando Gomes e do parágrafo 1408 do Código Civil alemão (ver §2º 
do art. 1639 do nosso CC). – MEMORIZAR 
 
§ 2o É admissívelalteração do regime de bens, mediante autorização 
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a 
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de 
terceiros. 
 
- Muitos tribunais baixaram provimento regulamentando a mudança de bens 
durante a constância do casamento. 
 
- Esta mudança não pode ser feita administrativamente no cartório, pois deve haver 
uma autorização judicial, através da jurisdição voluntária. Não haverá lide. O 
pedido deve ser feito por ambos os cônjuges. Se um deles não quiser a mudança, 
ela não ocorrerá. 
 
- Além disso, não poderá prejudicar direitos de terceiro. Não pode, por exemplo, um 
empresário individual alterar o regime de bens para prejudicar seus credores. 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
20 
 
 
- Autorizada a mudança de bens, o juiz mandará expedir mandados para os 
Cartórios competentes (de Registro Civil, de Imóveis) e, se qualquer um dos 
cônjuges for empresário, também para a Junta Comercial. 
 
- A sentença que altera o regime de bens, no entender de Pablo Stolze, tem eficácia 
retroativa, pois o patrimônio atingido pela sentença já existia antes, mas agora 
será regrado por novo regime. A sentença que muda o regime de bens tem eficácia 
retroativa (efeito ex tunc) em virtude de atingir o patrimônio anteriormente 
existente. No entanto, os atos a serem realizados somente a partir dali observarão o 
novo regime de bens. 
 
O STJ já pacificou o entendimento de que pessoas casadas antes do CC/02 também 
podem alterar o seu regime de bens (RESP 730.546/MG). 
 
OBS: No RESP 821.807/PR foi admitida a mudança do regime bens de um casal 
que estava casado no regime de separação obrigatória de bens. 
 
6.2. REGIME DE SEPARAÇÃO LEGAL OU OBRIGATÓRIA DE BENS 
 
Existem duas espécies de separação de bens: a convencional, que é o regime de 
separação em que o casal, mediante a sua autonomia privada, escolhe a separação 
de bens e a legal, imposta pela lei, no art. 1641 do CC. 
 
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: 
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas 
suspensivas da celebração do casamento; 
II - da pessoa maior de sessenta anos; 
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 
12.344, de 2010) 
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. 
 
 
OBS: O inciso II foi modificado recentemente pela Lei 12.344/10, pois até então o 
regime era imposto para os que se casassem com mais de 60 anos. 
 
OBS 2: Muitos consideram que a imposição de regime de separação obrigatória em 
virtude de idade é inconstitucional por afrontar o princípio da isonomia. 
 
Ex. do inciso III: Casamento de menores (16-18 anos) quando os pais discordam. O 
juiz tem que autorizar o casamento e o regime será de separação obrigatória de 
bens. 
 
A regra é que regime de separação legal obrigatória não pode ser alterado pelas 
partes. No entanto, neste caso, não seria justo que pessoas que não tiveram a 
oportunidade de escolher o regime de bens em virtude de serem menores de idade, 
ficassem impedidas, ao longo da vida, de amealhar o patrimônio comum. 
 
O STF, então, visando mitigar a dureza do regime de separação legal, evitando 
assim injustiças em face de pessoas que não tiveram a oportunidade de escolher o 
seu regime de bens, editou a Súmula 377. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
21 
 
Súmula 377 / STF: No regime de separação legal de bens, 
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento. 
 
OBS: Não é o mesmo que transformar o regime em comunhão parcial de bens, pois 
este, além de possuir esta característica, possui outras regras específicas. 
 
OBS 2: Na separação convencional de bens, escolhida através do pacto antenupcial, 
não se aplica esta Súmula, tendo em vista que as partes escolheram este regime de 
acordo com a sua própria vontade. 
 
6.3. REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS 
 
Trata-se do regime predominante no Brasil e, como já vimos, de aplicação supletiva, 
quando não haja sido feita a escolha de regime no pacto antenupcial. 
 
Regulado a partir do art. 1658 do CC, a comunhão parcial de bens opera a 
comunicabilidade dos bens adquiridos a título oneroso na constância do 
matrimônio, por um ou ambos os cônjuges, preservando-se, assim o patrimônio 
exclusivo de cada um, bem como os bens adquiridos gratuitamente ou por causa 
anterior. 
 
Ex.: Se uma pessoa tinha um carro no valor de R$30.000,00 antes do casamento e, 
na sua constância, o vendeu por R$25.000,00 e comprou outro carro também no 
valor de R$25.000,00. Este bem não entrará na comunhão. No entanto, se uma 
casa foi comprada com o salário de um dos cônjuges, ela entrará na comunhão. 
 
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que 
sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções 
dos artigos seguintes. 
A regra geral da comunhão parcial é a separação do passado e a comunhão do 
futuro, nos termos vistos acima. Porém, deve-se ainda observar as seguintes regras: 
 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, 
na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados 
em seu lugar; 
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um 
dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; 
III - as obrigações anteriores ao casamento; 
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em 
proveito do casal; 
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
Inciso VI: O direito ao crédito salarial não entra na 
comunhão parcial. 
 
OBS: Embora a lei diga claramente que o provento do trabalho pessoal de cada 
cônjuge não entra na comunhão, o STJ já julgou contra legem em mais de uma 
oportunidade, entendendo que o crédito trabalhista retido poderia ser dividido para 
evitar a injustiça da esposa ficar sem nada. Ver RESP 421.801/RS e RESP 
646.529/SP. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
22 
 
OBS 2: Há também um julgado que abre a possibilidade de se dividir valores 
relativos a FGTS: RESP 758.548/MG. 
 
Art. 1.660. Entram na comunhão: 
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, 
ainda que só em nome de um dos cônjuges; 
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de 
trabalho ou despesa anterior; 
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de 
ambos os cônjuges; 
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, 
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de 
cessar a comunhão. 
Ex. inciso II: Se a pessoa ganhar na Megasena, os bens 
entrarão na comunhão. 
 
Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título 
uma causa anterior ao casamento. 
 
Ex.: Uma poupança anterior ao casamento será 
incomunicável. 
 
Ex. 2: Um cidadão paga todas as 25 prestações da 
promessa de compra e venda de um apartamento antes 
da constância do casamento, mas a escritura de compra 
e venda deste só é lavrada depois do casamento. O 
apartamento não se comunicará nos termos do art. 1661. 
 
OBS: Se a pessoa tiver pago 10 prestações da promessa 
de compra e venda solteiro e as outras 15 na constância 
do casamento, o cônjuge poderá reclamar parte 
proporcional do bem, não importa de quem seja o salário 
que pagou as prestaçõesrestantes. 
 
 
 
6.4. REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS 
 
Até 1977, o regime de comunhão universal era o supletivo. 
 
O regime de comunhão universal de bens tende à unidade patrimonial; vale dizer, 
neste regime opera-se uma comunicabilidade de bens anteriores e posteriores ao 
casamento, adquiridos a título gratuito ou oneroso, ressalvadas algumas exceções 
(art. 1667 e seguintes). Há uma quase total fusão do patrimônio do casal. 
 
Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de 
todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas 
passivas, com as exceções do artigo seguinte. 
 
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: 
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e 
os sub-rogados em seu lugar; 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
23 
 
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro 
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; 
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de 
despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; 
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a 
cláusula de incomunicabilidade; 
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. 
 
6.5. REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS 
 
Nasceu na Costa Rica, que não possui uma tradição jurídica de influência no nosso 
direito, e veio ser adotado pelo CC/02 em substituição ao antigo regime total. Neste, 
o patrimônio da esposa era administrado por seu marido e a esposa detinha 
possibilidade de administrar poucos bens, que eram chamados de bens parafernais. 
 
É um regime indiscutivelmente fadado ao desuso. Sua disciplina é feita a partir do 
art. 1672. 
É um regime de normas de difícil compreensão e de execução problemática. 
Segundo Maria Berenice Dias, para que este regime funcionasse bem, o casal teria 
que manter uma contabilidade ao longo do casamento para evitar fraude. 
 
No regime de participação final nos aquestos, a ideia é criar um regime que possua 
características híbridas, de separação e de comunhão de bens. Este regime 
funciona como se fosse um regime de separação de bens, sendo que o que for 
adquirido pelo esforço comum do casal será objeto de meação. Pelo contrário, na 
comunhão parcial de bens também se divide o que foi adquirido por apenas um dos 
cônjuges. 
 
Na participação final dos aquestos só haverá divisão do patrimônio comum 
adquirido onerosamente pelo casal ao longo do casamento. A forma de fazer este 
cálculo é muito difícil e é prevista pelos art. 1673 e 1674. 
 
Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge 
possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe 
cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade 
dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do 
casamento. 
 
Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge 
possuía ao casar e os por ele adquiridos, a qualquer título, na 
constância do casamento. 
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada 
cônjuge, que os poderá livremente alienar, se forem móveis. 
 
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-
á o montante dos aqüestos, excluindo-se da soma dos patrimônios 
próprios: 
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-
rogaram; 
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade; 
III - as dívidas relativas a esses bens. 
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos 
durante o casamento os bens móveis. 
 
6.6. REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
24 
 
É regulado pelos art. 1687 e 1688. 
Na separação convencional, não existe meação. 
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a 
administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá 
livremente alienar ou gravar de ônus real. 
 
Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as 
despesas do casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de 
seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial. 
 
OBS: A lei brasileira dá a viúva que foi casada em separação convencional o direito 
de concorrer com os filhos na herança do de cujus, mesmo que aqueles não sejam 
comuns. 
 
RESP 555.771/SP: Um casal separou-se apenas de fato e não partilhou os bens. O 
homem constituiu família com outra mulher através de uma união estável. A antiga 
esposa pleiteou direito pelos bens da segunda família. O STJ decidiu que a primeira 
mulher não teria direito, ainda que não tenha havido a partilha. 
 
 
OUTORGA UXÓRIA OU AUTORIZAÇÃO 
MARITAL 
 
 
Determinados atos só podem ser praticados com a autorização do cônjuge, a 
chamada vênia conjugal. Alguns preferem chamar de outorga uxória a autorização 
que a mulher dá ao marido e de autorização marital a autorização que o marido dá 
a mulher. 
 
Art. 1647 do CC. MEMORIZAR. 
 
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges 
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação 
absoluta: 
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; 
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; 
III - prestar fiança ou aval; 
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos 
que possam integrar futura meação. 
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos 
quando casarem ou estabelecerem economia separada. 
 
Stolze e Nelson Nery interpretam a separação absoluta deste artigo como sendo 
apenas a separação convencional. Isso ocorre porque a separação legal não é 
absoluta, tendo em vista que admite patrimônio comum (Súmula 377 do STF). 
 
Inciso I: Poderão comprar bens imóveis. Não pode alienar e nem gravar de ônus 
real, ainda que seja do patrimônio exclusivo do cônjuge. 
 
Inciso III: Quanto à fiança, o STJ editou a Súmula 332 que diz que se o marido 
prestar fiança sem a outorga uxória, a fiança será totalmente ineficaz. 
 
Se a pessoa quer realizar um ato e necessitar da outorga uxória e a esposa não 
quiser dar, por capricho, ou por que está doente, poderá ser suprida pelo juiz. Se 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
25 
 
não for suprida pelo juiz, o ato será anulável e, consequentemente, ineficaz. O prazo 
para anular será de até 02 anos após o fim do casamento. 
 
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a 
outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe 
seja impossível concedê-la. 
 
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando 
necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o 
outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de 
terminada a sociedade conjugal. 
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por 
instrumento público, ou particular, autenticado. 
 
OBS: No caso do regime de participação final nos aquestos existe norma 
excepcional no art. 1656 que diz que no pacto antenupcial que adotar este regime 
poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que 
particulares. Neste caso, pode-se ressalvar esta situação dizendo que qualquer dos 
dois podem vender o imóvel sem autorização do outro no pacto antenupcial. Para 
todos os outros incisos terá que buscar a outorga uxória. 
 
 
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL 
 
No direito brasileiro, o casamento pode ser dissolvido de diferentes formas (art. 1571): 
 
 Morte; 
 Declaração de ausência; 
 Divórcio. 
OBS:A separação não está elencada entre as formas de dissolução porque a doutrina e 
jurisprudência, de forma majoritária, entendem que, com a EC 66/10, a separação foi 
extirpada do direito brasileiro. 
 
OBS 2: A nulidade ou anulação do casamento não é forma dissolutiva, mas 
desconstitutiva (é como nunca se estivesse existido). Por isto, não pode ser elencada 
entre as formas dissolutivas. 
 
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: 
 
I - pela morte de um dos cônjuges; 
II - pela nulidade ou anulação do casamento; 
III - pela separação judicial; 
 
 IV - pelo divórcio. 
 
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo 
divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao 
ausente. 
 
§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge 
poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em 
contrário a sentença de separação judicial. 
 
02. MORTE 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
26 
 
 
A morte real de qualquer dos cônjuges dissolve o casamento. A morte real é aquela 
declarada por laudo médico. 
 
03. DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA 
 
A declaração de ausência, a partir do CC/02, também é forma de dissolução do 
casamento. Art. 1571, §1º do CC. 
 
O procedimento de ausência é trifásico: começa com a curadoria dos bens do ausente (1ª 
fase), passando pela sucessão provisória (2ª fase) e culminando na sucessão definitiva (3ª 
fase). 
 
O dispositivo não prevê em qual destas três fases o casamento do ausente será 
dissolvido. A maioria da doutrina entende, partindo da interpretação do art. 6º do CC, 
que a dissolução do casamento ocorre na 3ª fase (abertura da sucessão definitiva), pois 
este estabelece que é nesta fase que presume-se a morte do ausente. 
 
OBS: Cristiano Chaves discorda, em virtude do grande lapso temporal exigido para que 
se chegue a esta fase. 
 
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, 
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão 
definitiva. 
 
Se o ausente eventualmente retornar, depois do deu casamento já estar resolvido, o 
casamento não será restabelecido. Mesmo que retorne, o seu casamento permanecerá 
dissolvido e, se este quiser restabelecê-lo, terá que casar de novo. 
 
OBS: O cônjuge do ausente, depois de aberta a sucessão definitiva, torna-se viúvo por 
presunção. No entanto, se o ausente retornar, ele não possuirá um estado civil 
específico, tendo em vista que não será solteiro, nem casado e nem viúvo. 
04. DIVÓRCIO 
 
Não se deve esquecer que a EC 66/10 trouxe novas luzes para o tema, pois materializou 
o princípio da facilitação da dissolução do casamento. Art. 226, §6º da CF. 
 
Art. 226, § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
 
4.1. Efeitos jurídicos da EC 66/10: 
 
a) Abolição dos prazos para o divórcio 
Consequentemente, pode-se também dizer que não é mais distinção entre divórcio direto 
e divórcio por conversão. As modalidades não se fazem mais necessárias. 
 
Alguns autores criticam a abolição dos prazos, dizendo que isto acaba banalizando o 
casamento. Cristiano Chaves discorda, pois se não há prazo para casar, também não se 
justifica a existência de prazo para divorciar. 
 
b) Impossibilidade de discussão sobre a causa da dissolução do casamento 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
27 
 
Não se discute mais a causa da dissolução do casamento. Consequentemente, não se 
discute mais de quem é a culpa. 
Isto ocorre porque a causa da dissolução é estranha aos limites cognitivos da ação de 
divórcio. 
 
Conclui-se, portanto, que o divórcio tornou-se um direito potestativo extintivo da parte, 
ou seja, para divorciar basta a manifestação de vontade da pessoa casada. 
 
Apesar de não mais se discutir a culpa na ação de divórcio, é preciso observar que, no 
direito de família, a culpa ainda pode ser discutida em duas hipóteses: 
 
01) Indenização decorrente de ato ilícito (pois o conceito de ilicitude envolve a culpa, é 
subjetivo). Ex.: Lesões corporais, doença venérea. 
 
A competência para processar e julgar o pedido indenizatório é da vara de família. 
 
02) Mutação da natureza dos alimentos devidos ao cônjuge (art. 1694, §2º). 
 
Esta hipótese não é restrita ao casamento, é cabível em qualquer relação familiar. 
 
Art. 1694, § 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, 
quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. 
 
OBS: Em nenhuma destas hipóteses, a discussão sobre a culpa será travada dentro 
da ação de divórcio. A culpa será discutida na ação de indenização ou de alimentos. 
 
 
c) Extinção do instituto da separação, em juízo ou cartório 
 
Sobre este assunto, deve-se assinalar que a opinião prevalecente é pela superação da 
superação. Sobre este assunto, já se manifestaram Pablo Stolze, Flávio Tartuce, 
Cristiano Chaves, Maria Berenice Dias etc. A maioria da jurisprudência também é neste 
sentido. 
 
Isto ocorre porque a separação judicial agora se mostra inútil, na medida em que não há 
mais prazo para o divórcio. Com menos de 01 ano já se pode divorciar, mas não se 
poderia separar. 
 
Para o STJ, no RESP 1.065.209/SP, entendeu que a separação de fato e a separação de 
corpos produzem todos os efeitos que seriam produzidos pela separação: término do 
regime de bens e extinção dos deveres conjugais. Esta é mais uma comprovação da 
inutilidade do instituto da separação judicial. 
 
Em cartório, o oficial deve se negar a lavrar escritura pública, em virtude de não haver a 
providência da separação judicial no sistema. Em juízo, trata-se de hipótese de extinção 
do processo sem resolução de mérito por impossibilidade jurídica do pedido. 
 
Nas separações que já estavam em curso, a parte autora deve ser intimada para que 
adeque o pedido. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
28 
 
Como fica a questão intertemporal, ou seja, a situação das pessoas que já eram 
separadas? Trata-se de uma questão de estado da pessoa e, por isso, quem era 
separado, continua separado. É um caso de ultra-atividade da norma no Direito Civil. 
 
4.2. Características do divórcio judicial 
 
O divórcio judicial pode ser litigioso ou consensual (amigável). Sob o ponto de vista 
processual, a diferença é relevante, pois se for litigioso, terá procedimento comum 
ordinário e se for consensual terá procedimento de jurisdição voluntária (art. 1121 e 
seguintes do CPC). 
 
OBS: No projeto de novo CPC, o divórcio consensual só poderá ser em juízo se houver 
interesse de incapaz. Caso contrário, será sempre em cartório. 
 
Se o divórcio é litigioso é porque existe algum conflito. Após o advento da EC 66/10, o 
litígio estará relacionado às questões subjacentes, como a partilha de bens, a guarda de 
filhos ou aos alimentos, e nunca ao divórcio em si. Portanto, pode-se dizer que houve 
uma diminuição do objeto litigioso do divórcio. 
 
As características seguintes servem tanto para o divórcio litigioso quanto para o divórcio 
consensual: 
 
a) Natureza personalíssima 
 
Só quem pode promover a ação de divórcio são os próprios cônjuges. Portanto, não existe 
a possibilidade de intervenção de terceiros na ação de divórcio. 
 
Exceção: Se um dos cônjuges for incapaz, será representado no processo pelo seu 
curador, ascendente ou irmão, nesta ordem. Neste caso, haverá uma representação 
processual, e não uma substituição processual. Ex.: Incapacidade superveniente. 
 
 
b) Obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público 
 
Art. 82. Competeao Ministério Público intervir: 
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, 
curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de 
última vontade; 
 
Mesmo não havendo interesse de incapaz, o CPC exige a intervenção do MP no divórcio 
judicial. 
 
c) Competência por foro privilegiado 
 
 Art. 100. É competente o foro: 
 I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a 
conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; 
O art. 100, I do CPC estabelece o foro privilegiado da mulher na ação de divórcio. 
Discute-se acerca da compatibilidade deste artigo com a Constituição. 
 
O STJ, no RESP 193.104/RS, fixou o seu entendimento no sentido de que o foro 
privilegiado é compatível com a Constituição. 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
29 
 
 
OBS: Cristiano Chaves entende ser caso de inconstitucionalidade progressiva, pois para 
mulheres mais idosas, justifica-se o foro privilegiado, mas para mulheres que viveram no 
atual momento histórico, esta regra não mais se justifica. 
 
A Súmula 383 do STJ mitigou o foro privilegiado da mulher. Somente se fixa a 
competência da ação de divórcio pelo foro privilegiado da mulher se não houver interesse 
de menor. 
 
Súmula 383 / STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas 
de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua 
guarda. 
 
OBS: O foro privilegiado da mulher é regra de competência relativa, que pode ser 
modificada pela vontade das partes. 
 
 
d) Possibilidade de revelia 
 
O art. 320, II do CPC estabelece que nas ações que envolvam direitos indisponíveis, como 
o divórcio, pode haver revelia. No entanto, esta revelia virá desacompanhada dos seus 
regulares efeitos. 
 
Isso significa que, mesmo que haja a revelia, neste caso, ela não causará a presunção de 
veracidade dos fatos alegados pelo autor. 
 
A revelia aqui gera apenas a desnecessidade de intimação do revel para os atos 
processuais subsequentes. 
 
Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo 
antecedente: 
I - se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; 
II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; 
 
 
e) Possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica 
 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo 
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a 
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no 
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações 
sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da 
pessoa jurídica. 
 
Esta desconsideração não pode ocorrer de ofício, ou seja, exige-se pedido da parte ou do 
MP. 
 
Outro detalhe é que para que o juiz desconsidere a personalidade jurídica na ação de 
divórcio devem existir os requisitos da desconsideração em qualquer outro caso: exige-se 
o abuso demonstrado por desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
30 
 
OBS: Não se discute o elemento subjetivo, ou seja, a culpa. Basta que exista o desvio de 
finalidade ou a confusão patrimonial. Por isso, sustenta-se que a desconsideração do art. 
50 do CC submete-se a uma teoria objetiva. 
 
OBS 2: No divórcio, a desconsideração da personalidade jurídica apresenta-se sob as 
vestes da desconsideração da personalidade jurídica inversa, pois desconsidera-se a 
figura do sócio para atingir os bens da empresa. Geralmente, o que ocorre é o abuso pela 
confusão patrimonial. 
 
f) Utilização do sobrenome de casado 
 
Art. 1565, § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o 
sobrenome do outro. 
 
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde 
o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido 
pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar: 
 
I - evidente prejuízo para a sua identificação; 
 
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da 
união dissolvida; 
 
III - dano grave reconhecido na decisão judicial. 
 
A regra geral de uso de sobrenome no caso divórcio é manter o sobrenome do cônjuge. 
A decisão é do cônjuge que alterou o sobrenome. Isto ocorre porque o sobrenome é 
direito da personalidade. 
 
Portanto, quando uma pessoa modifica o seu sobrenome em razão do casamento, cabe 
somente a ela decidir se irá ou não mantê-lo. 
 
OBS: Caso o cônjuge que alterou o sobrenome e permaneceu com ele se case de novo, 
seu novo cônjuge poderá utilizar o sobrenome do cônjuge anterior. 
 
A qualquer momento, o cônjuge que alterou o sobrenome poderá requerer a retificação a 
qualquer momento após o divórcio. Art. 109 da Lei 6.015/73. 
 
Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento 
no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com 
documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o 
órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que 
correrá em cartório. 
 
g) Possibilidade de divórcio sem prévia partilha de bens 
 
Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de 
bens. 
 
Súmula 197 / STJ: O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia 
partilha dos bens. 
 
DIREITO DE FAMÍLIA – Profª Msc. Samira Daud 
31 
 
De acordo com a Súmula 197 do STJ, tanto no divórcio consensual quanto no litigioso, é 
possível ao juiz dissolver o casamento sem a prévia partilha de bens. Neste caso, todos os 
bens serão mantidos em condomínio, as partes permanecerão proprietárias. 
 
Quando um dos interessados quiser, promoverá a partilha por uma ação autônoma de 
partilha, que se submeterá às regras da partilha sucessória. A competência será da vara 
de família. 
 
Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as regras de 
partilha de herança (arts. 2.013 a 2.022). 
 
OBS: Se os bens permanecem em condomínio, os seus frutos continuam sendo comuns. 
 
 
h) Fixação da guarda de filhos pelas regras da guarda compartilhada 
 
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. 
 
§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores 
ou a alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a 
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe 
que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos 
comuns. 
 § 2o A guarda unilateral será atribuída ao genitor que revele melhores 
condições para exercê-la e, objetivamente, mais aptidão para propiciar aos 
filhos os seguintes fatores: 
I – afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar; 
II – saúde e segurança; 
III – educação. 
§ 3o A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a 
supervisionar os interesses dos filhos. 
 
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: 
 
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em 
ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou 
em medida cautelar; 
 
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em 
razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a 
mãe. 
 
§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado 
da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e 
direitos atribuídos aos genitores e as sanções

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