Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PATOLOGIA PULPAR (21/08/2014) HISTOLOGIA PULPAR A polpa tem origem na papila dentária; o crescimento da papila dentária se dá quando, ainda com localização intraóssea, as células ectomesenquimais indiferenciadas sofrem o encapsulamento e se diferenciam em células que constituirão parte da polpa dentária. As células especializadas que produzem a dentina são os odontoblastos, e as terminações nervosas livres são formadas por fibroblastos e histiócitos. A polpa forma a dentina e esse processo é contínuo ao longo da vida, portanto, não há diferença embriológica entre essas estruturas. Quando o dente irrompe na cavidade bucal há formação de dentina primária, quando as funções do dente se desenvolvem é formada a dentina secundária, e associado a alterações patológicas está a formação de dentina terciária. Os odontoblastos são células ativas intimamente ligadas a dentina e por isso ajudam a manter a “saúde” tanto dela quanto da polpa; diante da agressão ao dente, essas células conseguem retrair o prolongamento odontoblástico contido nos canalículos dentinários e promovem a formação de uma barreira mecânica contra agentes físicos. O tecido conjuntivo pulpar é ricamente inervado, proporcionando a percepção de uma agressão que atinge a polpa; é altamente vascularizado para suprir a estrutura dentária. O forame apical é o único caminho que permite a troca de informações entre a polpa com o organismo, e vice-versa; é através dele que a invasão bacteriana ou algum trauma compromete a estrutura pulpar. A comunicação séptica pode evoluir para alterações no periápice, e posteriormente para osteomielites em pacientes imunocomprometidos. A polpa responde bem aos testes clínicos de sensibilidade – quente, frio, percussão, elétrico (NOTA: estímulos elétricos podem causar necrose pulpar em 20 a 30 dias depois do teste de vitalidade). A polpa vital íntegra tem coloração avermelhada e sangrante; Eventualmente o paciente pode sentir dor decorrente da cárie, e a medida que preparamos o dente para retirar a dentina necrótica sobra uma camada tão fina de dentina que a regularização da superfície da cavidade é suficiente para expor a polpa. Vale lembrar que, como a polpa é inexpansiva, qualquer meio que aumente a vascularização frente à agressão ou descomprima a polpa é suficiente para reduzir a dor do paciente. O aspecto histológico da polpa sadia não apresenta inflamação, embora haja células de defesa residentes na forma quiescente. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS PULPARES A etiologia das alterações pulpares influencia em todos os tipos de estímulos que desencadeiam uma resposta pulpar. As causas são diversas: dano mecânico (causado pelo profissional, trauma), lesão térmica (ocorre no caso do uso de materiais com brocas sem irrigação ou manipulação inadequada do instrumental na hora de fazer o preparo), irritação clínica na superfície da polpa (em pacientes com erosão dentária – causa multifatorial) e efeito das bactérias na instalação do processo carioso. PATOGÊNESE DAS DOENÇAS PULPARES Quando a cárie progride e ela se torna aguda, há a necrose pulpar – quadro em que o paciente perde a sintomatologia, porém, a inflamação atinge estruturas ósseas. Antes que haja necrose pulpar é possível realizar uma abordagem clínica que devolva ao dente sua função e saúde clínica através da endodontia. PULPITE REVERSÍVEL AGUDA PULPITE IRREVERSÍVEL AGUDA PULPITE IRREVERSÍVEL CRÔNICA NECROSE PULPAR DEGENERAÇÃO PULPAR CALCIFICANTE (formação de nódulos) CONSIDERAÇÕES SOBRE A DENTINA Dentina primária: é de caráter fisiológico, sendo formada desde os primeiros momentos da formação do órgão dentário até o irrompimento na cavidade bucal, quando o dente entra em oclusão. Dentina secundária: formada ao longo da vida até mesmo em dentes inclusos, não é uma resposta compensatória do organismo frente aos constantes traumas vindos da oclusão; desse modo, não é formada por ações oclusais. Dentina terciária: chamada também de reparadora ou reacional. A primeira dentina formada na papila dentária é a dentina do manto e posteriormente é formada a dentina primária (até o irrompimento do dente); concomitante ao avançar da idade há a formação da dentina secundária, e a medida que isso acontece há diminuição do espaço pulpar. Em casos patológicos instalados como lesões cariosas, traumas oclusais ou exposição dentinária, pode ser formada a dentina terciária. ALTERAÇÕES REGRESSIVAS Esclerose dentinária: em resposta a lesão cariosa, os odontoblastos podem encurtar o prolongamento dentro do canalículo dentinário, aumentando o depósito mineral nos túbulos dentinários e gerando uma barreira mecânica ou física denominada esclerose dentinária. Tanto a deposição da dentina quanto a fibrose e a atrofia pulpar causam diminuição do espaço da polpa dentária; esses processos são fisiológicos. *Calcificações pulpares: Embora ela possa acontecer fisiologicamente com o avançar da idade, outros fatores podem predispor a aparição de nódulos pulpares, como a hipertensão. São notórias pela presença maciça de formações nodulares no interior da polpa; são enxergadas na radiografia nitidamente com aspecto radiolúcido. Os nódulos podem chegar até a porção radicular, sendo os maiores localizados na câmara pulpar; a característica é de formações ósseas com um osso qualquer do corpo, a partir dos osteócitos e osteoblastos diferenciados a partir de células ectomesenquimais localizadas na câmara pulpar. ALTERAÇÕES REGRESSIVAS “AGRESSIVAS” Reabsorção interna: um quadro típico é a presença de manchas rosadas nos dentes, vistas por translucidez. As células gigantes multinucleadas (CGM) que reabsorvem a dentina recebem o nome de odontoclastos; além da reabsorção da dentina eles ocupam o lugar dos odontoblastos. Não há uma causa específica que determine a reabsorção. O tratamento endodôntico não necessariamente interrompe a reabsorção interna; pode ser que ainda sobre porções da polpa radicular em que ainda está ocorrendo o processo de reabsorção, e mesmo sem o suprimento nutricional e nervoso, as células permanecem ativas com os metabólitos degradados por elas. Quando o tratamento é feito inadequadamente pode ocorrer a reabsorção; se o material ultrapassa o limite, este é reconhecido como corpo estranho. Se ficar aquém, todo o material que foi levado junto com o desgaste da superfície interna do dente se acumula, podendo gerar uma reação inflamatória asséptica. Necrose pulpar: não há vitalidade pulpar. Geralmente advindo de processo carioso ou traumático; o desenvolvimento não depende necessariamente de um agente biologicamente ativo (como uma bactéria cariogênica), ela pode ser uma necrose pulpar asséptica. Das alterações regressivas é a única que não está diretamente ligada com o avançar da idade, embora a idade avançada favoreça a ocorrência de acidentes que podem levar a esse tipo de situação. O tratamento é a endodontia. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS As pulpites podem ser classificadas pelo aspecto clínico ou histopatológico, e ambos se correspondem. Há pulpite aguda reversível serosa, pulpite aguda irreversível purulenta, pulpite crônica ulcerada e pulpite crônica hiperplásica. É possível avaliar o quadro da pulpite através de testes térmicos, palpatórios, percussão, e eventualmente pode haver sangramento. De acordo com os aspectos histopatológicos, elas são subdividas e cada uma apresenta uma característica clínica especial. Não é difícil diferencia-las clinicamente, no entanto, as pulpites agudas merecem atenção pelo aspecto histológico. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS AGUDAS Pulpite reversível serosa: por ser reversível,não há grande processo inflamatório. A inflamação é leve, muito mais relacionada a presença de neutrófilos e macrófagos (características da inflamação aguda). No exame histopatológico é considerado o quadro de hiperemia; a hiperemia aumenta a vascularização, desse modo, há vasodilatação e o espaço intersticial diminui. A dor é sentida quando fazemos o teste de vitalidade pulpar, ou seja, quando a polpa é estimulada; é uma resposta rápida e o paciente logo sente dor. A etiopatogenia está associada a presença de lesões cariosas ou restaurações que não foram bem feitas. NOTA: restauração com infiltração x restauração com desadaptação: a única maneira para avaliar se a restauração feita de maneira inadequada está levando a um quadro inflamatório é pelo teste de inspeção; se existir algum degrau, isso é desadaptação marginal. A infiltração é o caminho que o microrganismo faz para atingir a polpa ou áreas de instalação do processo carioso, gerando eventos pulpares; desse modo, não é possível dizer que estamos vendo “infiltração na restauração”, ISSO É CONCEITO ERRADO. A desadaptação marginal pode levar a um quadro submicroscópico de infiltração. Histologicamente há ocorrência de hiperemia, neoformação vascular na região pulpar, vasos mais calibrosos que podem se estender até a região de polpa coronária. Pulpite irreversível purulenta: na avaliação histológica há inflamação com presença de exsudato inflamatório e células que migram por diapedese dos vasos para gerar os eventos inflamatórios na polpa; há predomínio de células polimorfonucleares. O caráter purulento é dado pela formação de microabscessos na polpa. O paciente sente dor espontânea, sentida principalmente quando ele está deitado, pois aumenta a perfusão sanguínea para região de cabeça e pescoço. Essa lesão pode evoluir para necrose, de acordo com o tamanho do dano; pode levar a uma lesão regressiva. O aspecto histopatológico é microabscessos localizados na região da polpa, presença de células polimorfonucleares, bastante exsudato, muitas células que migram por diapedese para regiões próximas as formações vasculares. Pulpite crônica ulcerativa: nessa forma da lesão a polpa está em contato com o meio bucal. O aspecto histológico é ulcerações, tecido conjuntivo exposto pela polpa, aspecto granuloso com neoformação vascular e CGM. Pode ocorrer devido a processos de cárie que foram negligenciados por um bom tempo (cárie de mamadeira). Há moderada vascularização, algumas áreas de necrose existem junto a outras áreas de reparação e é isso que denota o aspecto crônico dessa lesão. Embora esteja em contato com o meio bucal, o sistema imunológico do paciente em condições normais é suficiente para restringir o processo inflamatório a cavidade pulpar e ainda não ter estendido pro periápice, embora já sejam encontradas algumas alterações nessa área. Histologicamente, a dentina está interrompida pelo processo carioso (deveria selar a polpa), há área de necrose pela expansão do tecido conjuntivo diretamente pelo contato com o meio bucal, moderada vascularização, aspecto granulomatoso pelas células polimorfonucleares e células inflamatórias crônicas. Pulpite crônica hiperplásica: atinge principalmente crianças e adultos jovens que apresentam exposição pulpar. A característica clínica e histológica que a diferencia da pulpite crônica ulcerada é a presença de um revestimento de um epitélio que sela a polpa para evitar o contato do tecido conjuntivo com a cavidade bucal. Da mesma forma que a anterior, apresenta tecido de granulação (produzido após o trauma sobre a região ou ação bacteriana direta), é notado um revestimento de tecido inflamatório misto subagudo, com predomínio de neutrófilos. De onde vem o epitélio que reveste o tecido conjuntivo, visto que não há células epiteliais na polpa? Acredita-se que ele venha das células descamadas da mucosa de revestimento que se adere a superfície de conjuntivo, onde há condições propícias para a instalação do epitélio; desse modo, há implantação de células e consequentemente o selamento por proliferação lateral do epitélio. Nas porções profundas desse tecido encontra- se fibrose, e próximo a ela, infiltrado inflamatório crônico. Clinicamente, há formação do pólipo; essa mucosa revestida por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado do pólipo pulpar é intensamente desafiada mecanicamente durante a incidência de forças mastigatórias, embora o dente tenha uma perda momentânea dessa função devido a dor. Eventualmente pode desencadear eventos periapicais. (Questão da prática) Há a formação do epitélio estratificado pavimentoso, algumas projeções mais intensas de fibras colágenas e tecido conjuntivo com células inflamatórias crônicas, e algumas células subagudas são vistas justaepiteliais. RESUMO DA AULA As alterações da polpa tem etiologia mecânica, térmica, química e bacteriana; dentro das alterações estão dois subtipos: regressiva (relacionado com o avanço da idade), onde há esclerose dentinária (gerando bloqueio mecânico), fibrose dentinária (a partir do estímulo dos fibroblastos que promovem a contração pela maior produção de fibras colágenas), atrofia da polpa (que é a diminuição da luz pulpar gerando atresia de canais medulares radiculares por conta da formação de dentina secundária ao longo da vida e terciária por ação microbiana), e calcificação pulpar (com formação de nódulos, principalmente em pacientes hipertensos); as alterações regressivas “agressivas” são aquelas em que ocorre reabsorção interna, pois demanda uma intervenção clínica de tratamento endodôntico (tanto na polpa vital quanto na necrose pulpar). As alterações agudas são chamadas de pulpite reversível (histologicamente: serosa), e pulpite irreversível (histologicamente: purulenta, devido a presença de microabscessos na polpa). As alterações inflamatórias são crônicas e podem ser pulpite crônica ulcerativa (quando estão em contato direto com a cavidade bucal) e pulpite crônica hiperplásica (quando há revestimento epitelial do tecido conjuntivo pulpar); ambas apresentam inflamação crônica, células mononucleareas, alguns casos de fibrose e angiogênese, dando aspecto granulomatoso quando visto ao microscópio.
Compartilhar