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CAPÍTULO DE LÍVRO SANTOS FILHO, Graciliano M. A Ética Pastoral em Relação à Família. Em TORRES, Milton L.; TORRES, Tânia M. L. (Org.). Ética Pastoral. (Capítulo 6, pp. 139 - 150). São Paulo: All Print Editora, 2008. A Ética Pastoral em Relação à Família Capítulo VI Pr. Graciliano Martins dos Santos Filho Psicólogo Clínico e Institucional Professor das Faculdades Integradas Adventistas de Minas Gerais – FADMINAS Para formar um grupo social é imprescindível que os homens se organizem. E a organização ocorre a partir da busca de pontos comuns capazes de nortear o grupo, que aos poucos, vão sendo internalizados pelos indivíduos e dão origem ao que se chama de costumes do grupo. Daí em diante, esses mesmos costumes podem ser observados nos indivíduos pelo comportamento de cada um e dessa forma o grupo assume uma identidade que o distingue dos outros grupos. Com isso, entende-se que estes pontos comuns, eleitos e assimilados pelo grupo, constituem-se os valores éticos e estéticos de um povo e determina o que é aceito socialmente como o moral, o imoral e o amoral. Portanto, é a partir da eleição dessas normas de conduta individual e coletiva que se estabelece um grupo social. E é essa maneira também de se comportar regulada pelo uso, que se entende por Ética, do grego ethos, que significa “costumes”. Todavia, a Ética como parte do saber da Filosofia, estuda as normas morais que regram a conduta associada ao bem, tendo sempre como referência os direitos e deveres de um determinado grupo social. A conduta do Pastor é regrada pela ética Bíblica Mas para além do que é aceito pela ética grega, a Bíblia entende que os valores morais para os cristãos, não se originam e não estão calcados em normas estabelecidas pelas convenções sociais ou pelos costumes assimilados pelo uso. Rom. 12:1-3. Porque a noção humana do certo e do errado, segundo ela, é um reflexo do poder e da misericórdia do Criador em favor de Suas criaturas moralmente caídas. 1Cor. 6:11; Gal. 5:22-23. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto” diz as Escrituras. Tia. 1:17; Mat. 5:48. Ou seja, sem Jesus, nada poderia ser feito em favor do homem que pudesse livrá-lo da imoralidade e de sua terrível conseqüência. Jo. 15:5; Rom. 5:20-21; 6:22-23. O pecado tornou o homem imoral, naturalmente menos sensível ao dever e a justiça (Rom. 3:10-12), mas a Lei Moral de Deus foi posta no coração de todos os homens (Rom. 2:14-15) e por isso, a transformação pela qual o homem passa quando conhece Jesus, não se encontra nas explicações humanas. No que tange a moral, a Bíblia afirma que o homem sem Cristo está morto (Efe. 2:1-10) e o termo grego paraarrependimento, (aponta para uma mudança profunda e radical da mente que pode ser definido como um milagre! 2Cor. 5:15-17; Jo. 16:8. E essa mudança altera profundamente as convicções e a conduta também. Porque é possível que alguém acredite na educação e não goste de estudar. Todavia, Tiago disse que “a fé sem as obras é morta”. Porque a fé não é mera opinião, mas uma crença que interage com o modo de ser. Daí a pergunta: “Que proveito há meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tem obras? Por ventura essa fé pode salva-lo?” Tia. 2:14-17. Para o Apóstolo, há grande diferença entre a religião que um sujeito admira e a religião que ele vive. E de igual forma, acreditar que as doutrinas são verdadeiras não é fé, é só uma opinião. Tia. 1:22-25. Entretanto, como é possível praticar sem acreditar? Jesus foi além do tangível para enunciar um novo princípio ético-religioso. “Ouviste o que foi dito? Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçá-la, já em seu coração cometeu adultério com ela.” Mat. 5:27-28. E com o isso o Salvador levantou uma importante questão: Que a Religião é mais do que a prática de doutrinas ou condutas socialmente aceitas como boas. E é muito mais do que aquela fé que se limita a convicção de uma determinada verdade. Ou seja, não basta ter a certeza de que o Senhor existe! Jesus considerou como base de uma verdadeira conversão o que o indivíduo essencialmente deseja para esta vida e para vida por vir. Porque, de acordo com o nosso Salvador, pecado não é um ato é uma atitude. Mat. 5:27-28. Ou melhor, não é o que um indivíduo faz, mas o que ele deseja fazer. O pecado é o desejo e o ato ou o que o pecador faz, é a conseqüência. Mas a ética grega está associada à conduta e entende que a religião de um indivíduo é compreendida pelo que ele pratica. No entanto, o Mestre disse que antes que alguém pratique um ato aceito como imoral, houve uma atitude pecaminosa. Portanto, o pecado ocorre sempre antes do ato, é qualquer atitude contrária a Vontade do Criador, é uma decisão e não a satisfação plena ou parcial da vontade. 1Jo. 3:15. A Família – Um grupo social Considerando a família do Pastor, além das orientações bíblicas que regram as relações dos seus membros, toda família possui um conjunto invisível de exigências próprias que organizam as diferentes maneiras através das quais os membros interagem, e são essas exigências ou normas que fazem os costumes ou a identidade da família. E dessa forma, para um indivíduo fazer parte dela será necessário abrir mão da sua singularidade para se nivelar aos demais membros. Entretanto, quando um membro da família não aceita perder parte da sua individualidade para se identificar com a coletividade, aí geram os conflitos e o processo de adaptação poderá ser demorado, doloroso e com resultados imprevisíveis! Tudo porque as resistências para as adaptações facilitam ou dificultam o desenvolvimento psicossocial de cada membro. Porque, com a rigidez ou com a flexibilidade extremadas com que a família se organiza, aponta para os desajustes familiares e reflete a existência de possíveis psicopatologias. “Enfermidades mentais prevalecem por toda parte. Nove décimos das doenças das quais os homens sofrem têm aí sua base. Talvez algum vivo problema doméstico esteja, qual cancro roendo até à alma e enfraquecendo as forças vitais. Remorsos pelos pecados às vezes solapam a constituição e desequilibram a mente.” Ellen G. White, Mente Caráter e Personalidade, Vol. 1, p. 59. A família é um grupo social e enquanto instituição, ela também tem as suas normas que determinam seus valores, seus costumes e a sua identidade social. No entanto, embora a percepção social no que tange ao pertencer a uma determinada família contemple outras explicações, como os vínculos genéticos, legais e etc., para pertencer a uma família depende muito mais da aceitação dos seus membros do que das normas e paradigmas sociais existentes. Portanto, podemos afirmar que é possível a um indivíduo estar convencionalmente ligado a uma família e não pertencer a ela ou vice-versa. Segundo White, (1973), “A sociedade compõe-se de famílias, e é o que a façam os chefes de família. Do coração “procedem às saídas da vida,” e o coração da sociedade, da igreja, a prosperidade da nação, dependem das influências domésticas.” (O Lar Adventista, 15). Por isso esse assunto é de tão grande relevância que para o entendimento Céu (Sal. 127:1), a boa formação familiar depende da intervenção direta e incondicional do Criador. O Pastor e a sua família na relação com os valores culturais da Igreja Ao assumir o pastorado, é para os vocacionados e Chamados o cumprimento de uma sagrada e prazerosa Missão. No entanto, a família do Pastor é muitas vezes questionada porque não assume o perfil de uma família Ministerial que é esperado pela Igreja. Por isso é importante que todos saibam antes que vai interagir com uma cultura diferente dasua. E isso implica em que vai precisar compreender bem o que cada coisa representa para esse grupo. As representações sociais são teorias calcadas em saberes do senso comum, elaboradas e partilhadas coletivamente com o fim de construir uma interpretação da realidade. Portanto, para entender melhor o papel social do Pastor, talvez se faça necessário compreender primeiro os padrões sociais vigentes. Mat. 16:13-16. Obviamente, quem entra para o pastorado entra para um grupo, e se é um grupo, já possui normas de conduta que o tornou socialmente organizado. Considerando que cultura é um estilo de vida definido por padrões comuns de um povo e que são os valores culturais que, basicamente, distinguem os grupos sociais uns dos outros no modo de pensar, de ver o mundo e de agir, tentar mudar uma cultura é o mesmo que tentar mudar a identidade de um povo. Por esse motivo a família do Pastor precisa assimilar a cultura da Igreja sob a pena de não ser aceita pelo grupo. Porém, há esposas que vivem de forma diferente dos membros da igreja e esperam ser compreendidas e aceitas. “A influência da esposa, ou fala decidida, inequivocamente em favor da verdade, ou contra ela. Ou ela ajunta com Jesus, ou espalha. A esposa não santificada é a maior maldição que um ministro possa ter.” (White, O Lar Adventista, 355). Mas o Pastor e a sua família representam uma Instituição e são observados socialmente como se fossem a própria Instituição que representam. Assim é que em seus atos públicos, os membros da família do Pastor não são considerados como pessoas fazendo algo, não é a identidade pessoal de cada um que é notada, mas o que eles representam socialmente. E o que eles representam, obviamente, está associado às crenças e os costumes do grupo religioso que eles pertencem. Ou seja, a família representa a Igreja de tal forma que a sua conduta compromete socialmente o nome, a credibilidade, a imagem da Instituição. Por isso que a Igreja pode e determina o modelo de pastorado pelo qual ela deseja ser representada. E essas determinações, compreendidas pelos padrões sociais vigentes, são traduzidas por um conjunto de normas (Código de Ética), que modelam o pastorado de um determinado grupo religioso. Portanto, o pastorado pertence a um grupo social ou Instituição Religiosa, e o seu papel social enquanto pastor é representá-la socialmente juntamente com a sua família. Conclui-se, portanto, que a representação social do pastor inclui a sua família, a sua conduta pessoal e a sua práxis pastoral. Porém, tudo isso pode ser compreendido como sendo uma figura social ou uma imagem que pertence à Igreja. E a Igreja, cabe regrar sob todas as atuações pastorais em todos os lugares públicos ou privados, incluindo própria casa do Pastor. Porque “é desígnio de Deus que, em sua vida doméstica, o mestre da Bíblia seja um exemplo das verdades que ensina. O que um homem é, exerce maior influência do que o que diz.” (White, O Lar Adventista, 58). Portanto, o Pastor tem a responsabilidade de transmitir por preceito e, por exemplo, os princípios bíblicos para sua família, zelar pelos procedimentos religiosos e pela conduta dos membros da sua casa. (Josué 24:15). E essa relação é tão significativa que as capacidades ministeriais podem ser verificadas a partir da forma como o Pastor vivencia os papéis de esposo, de pai, amigo, sacerdote, líder da sua família e etc., reflete a forma como vai exercer o pastorado na Igreja. E como a práxis pastoral em quaisquer de suas atribuições ministeriais é muito associada à liderança, por conta disso, a lógica do Apóstolo Paulo toma como modelo a liderança da família para considerar alguém recomendável ou não para o exercício das demandas eclesiástica. “Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia.” E acrescenta: “Porque se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” 1Tim. 3:4-5. “Pais e mães que põem Deus em primeiro lugar na família e ensinam os filhos a considerar o temor do Senhor como o princípio da sabedoria, glorificam a Deus diante dos anjos e dos homens, oferecendo ao mundo o espetáculo de uma família bem dirigida e bem educada.” EGW, O Lar Adventista, 27. O Pastor nas relações éticas com o cônjuge e com os filhos A ética que deve gerir a relação do Pastor com a sua família passa por sentimentos de responsabilidade, amor, lealdade e etc. Porque, quem ama protege, permite que a identidade do outro seja preservada e os interesses e as opiniões sejam manifestados. Mas isso só é observado onde todos são aceitos e amados. Porque, quando há uma identidade grupal, todos se comportam de forma coordenada diante dos problemas e mostram capacidade para atuar em conjunto. No entanto, as pessoas são diferentes, reagem de forma diferente às diversas situações e o fazem sob emoção e não apenas pela razão. Mas a auto-estima de uma família é notada quando as aspirações, os desempenhos e as realizações de cada membro são apoiados pelo grupo e promove o que pode ser chamado de “orgulho da família.” Portanto, é importante que todos os membros da família observem princípios tais como: a. A Fraternidade - Jo. 15:12-13; 1º Jo. 1:7 b. A Unidade – Jo. 17:20-22; Fil. 2:3-5 c. A Sinceridade – Mat. 5:37; Tia. 5:12 d. A Fidelidade - Mt. 7:12; Mat. 18: 15-17 e. A Honestidade – Rom. 13:7-8: Tia. 4:17 f. A Pontualidade - Tia. 2:12 g. A Verdade – Fil. 1:21 Além disso, deve cultivar a maior das virtudes. Paulo disse que “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...” (1Cor. 13:7). O Apóstolo também disse que “se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.” 1Tim. 5:8. O Pastor deve encontrar tempo para dialogar com os filhos e se tornar para eles o melhor amigo, porque quem ama gosta de estar junto e protege. Mas “os filhos dos ministros são, em certos casos, os mais negligenciados do mundo, pela razão de que os pais não estão com eles senão por pouco tempo, e ficam na liberdade de escolher suas obrigações e entretenimentos.” White, O Lar Adventista, 354. Na relação com o cônjuge o Pastor tem uma grande responsabilidade: torná-la feliz para usufruir da bênção de uma companhia saudável. Todavia, a responsabilidade depende de valores intrínsecos (Tia. 1:12-16) e pode ser compreendida como sendo a capacidade de ser imune a quaisquer influencias objetivas ou subjetivas que possam comprometer a integridade moral. Portanto, as desculpas não justificam a falta de tempo, de atenção, afetos e etc. O Senhor criou o homem e a mulher para que fossem felizes. “O vínculo da família é o mais íntimo, o mais terno e sagrado de todos na Terra. Foi designado a ser uma bênção à humanidade. E assim o é sempre que se entre para o pacto matrimonial.” White, A Ciência do Bom Viver, 356, 357. No entanto, não é incomum encontrar pessoas que fazem ou fizeram parte da família ministerial e que já passaram por um desenlace. “Pessoa alguma pode com mais eficácia estragar a felicidade e a utilidade de uma mulher, e tornar-lhe a vida mais pungente fardo, que seu marido; e ninguém pode fazer a centésima parte para despedaçar as esperanças e aspirações de um homem, para lhe paralisar as energias e arruinar-lhe a influência e as perspectivas, como sua própria esposa.” EGW, Review and Herald, 2 de fevereiro de 1886. Comprometimento com a educação A conduta dos filhos depende muito do como os pais vão transmitir as normas. E é certo que se ensina mais pelo exemplo do que pelos preceitos. “Pai e mãe devem manifestar respeito mútuo, se queiserem ver essas qualidades deesenvolvidas em seus filhos”. White, o LarAdventista, 216. Mas além disso, é possível conseguir o respeito dos filhos por três meios diferentes, mas o melhor deles é o amor. Como conseguir o respeito dos filhos ATITUDE AMIZADE CONFIANÇA CONDUTA 1 AMOR Cumplicidade Empatia Aceitação Submissão 2 INTERESSE Admiração Simpatia Indiferença Falsidade 3 MEDO Desprezo Antipatia Rejeição Rebeldia “A melhor maneira de ensinar os filhos a respeitar os pais é dar-lhes a oportunidade de ver o pai dar bondosa atenção à mãe e esta mostrar respeito e reverência pelo pai”. White, Mente Caráter Personalidade, I, 216. Mas para além do que já é conhecido da natureza do pastorado, é de bom alvitre saber: 1. Os Pastores em geral são educadores, em particular são agentes de transformação social e, como tais, devem ser reconhecidos e valorizados, mas, sobretudo, como embaixadores do Céu na Terra. 2. Como pessoa, deve acreditar em si mesmo, sendo verdadeiro no falar e coerente no agir; deve lutar pela dignidade humana e em especial dos da própria família, preservar os valores da justiça, da paz e amar a vida. 3. Como líder, deve valorizar o seu trabalho; comprometer-se com as causas que nobilitam a sua profissão; ter postura ética; ser exemplo e estímulo para outros que o admiram e ter o diálogo como meio para a resolução dos problemas relacionais. 4. Como cidadão, deve ser consciente e crítico; não permitir que os próprios direitos sejam vilipendiados e cobrar de si mesmo o cumprimento dos deveres; repudiar a miséria, a ignorância e a violência; ser um arauto responsável da liberdade. 5. Como guia espiritual da Igreja e líder da família, deve ajudar as pessoas a se libertarem do preconceito e de tudo que impede o alcance da plenitude; confiar nelas; fazer que elas possam ultrapassar os limites que separam os anseios e a realização dos ideais; olhar para cada membro da família e da igreja como gostaria de ser olhado; dirija-se a eles demonstrando confiança, respeito e disponibilidade; valorize-os não pela aparência ou pelo que possuem, mas pelo que são e pelo que pretendem ser. 6. Deve ajudá-los a acreditar em si mesmos; nunca lhes exija a maturidade ou o conhecimento que ainda não possuem; transmita otimismo e esperança; promova o equilíbrio entre a razão e a emoção; pense e aja com eles e nunca por eles. 7. Sabemos que tal empreitada é espinhosa e difícil, mas vale à pena. A gratidão, quase sempre silenciosa, mas algumas vezes manifestada pela família e pela igreja, não pode substituir o Chamado como a razão maior do seu Ministério. Ame cada membro de sua família... Bibliografia WHITE, Ellen G. Review and Herald, 2 de fevereiro de 1886. __________. Mente, caráter e personalidade. Tatuí, SP: CPB, 1990a. 2 v. __________.A ciência do bom viver. Tatuí, SP: CPB, 1990b. __________. O lar adventista. 10. ed. Tatuí, SP: CPB, 1995.
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