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Leitura 8 Respeito pela diversidade cultural e pluralismo

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Introdução à Bioética, Valney C. Sampaio Martins
Universidade de Brasília
Leitura 8 - Respeito pela diversidade cultural e pluralismo
Artigo 12 – Respeito pela diversidade cultural e pluralismo
A importância da diversidade cultural e do pluralismo deve receber a devida consideração. Todavia, tais considerações não devem ser invocadas para violar a dignidade humana, os direitos humanos e as liberdades fundamentais nem os princípios dispostos nesta declaração, ou para limitar seu escopo.
O que é cultura?
Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.
O que é diversidade cultural?
Diversidade: conjunto de qualidades que distinguem uma pessoa ou coisa de outra - desigualdade, diferença.
Diversidade cultural são os vários aspectos que representam particularmente as diferentes culturas, com a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o modelo de organização familiar, a politica, entre outras características próprias de grupo de seres humanos que habitam um determinado território.
A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação.
O que é pluralismo? 
Multiplicidade; o que não é único. 
Doutrina filosófica que não admite, no mundo, senão seres múltiplos e individuais.
Sistema politico que se baseia na coexistência de grupamentos ou de organismo diferentes e independentes em matéria de administração ou de representação: pluralismo sindical, pluralismo partidário.
O que é pluralismo cultural? 
A pluralidade cultural está relacionada com a multiculturalidade de uma nação, ou seja, quando se encontram reunidos em um mesmo espaço vários tipos de manifestações culturas e tradições diferentes.
No Brasil, devido à sua “multi-colonização”, formou-se uma pluralidade de culturas vindas de praticamente todas as partes do mundo. 
A pluralidade cultural de um país é caracterizada pela aceitação da sua diversidade cultural.
O que é pluralismo moral? 
Situação constatada nas sociedades secularizadas contemporâneas, com coexistência de grupos de pessoas de posições morais diversas e independentes de outros grupos. O respeito ao pluralismo moral significa a capacidade de estranhos morais conviverem pacificamente com base no referencial de tolerância. Trata-se, ainda, de requisito indispensável na composição de comitês multidisciplinares e no próprio diálogo bioético.
O que é pluralismo histórico/bioético? 
Com variedades de realidades e culturas, é impossível ao mundo contemporâneo, conviver com imperialismos éticos, ou seja, com a imposição de parâmetros morais pretensamente universais exportados verticalmente das culturas mais fortes, para as mais frágeis. Para o exercício de uma bioética cidadã, politicamente comprometida com as necessidades e interesses das maiorias populacionais excluídas, é indispensável o respeito e a consideração de cada contexto específico, onde os problemas e conflitos acontecem. Assim, há uma impossibilidade de aplicação de princípios éticos universais, dada as diferentes visões morais de cada país ou região.
O que existe, portanto, são bioéticas, e não uma única bioética.
O que é utilitarismo?
“A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade, ou o princípio da maior felicidade, defende que as ações são corretas na medida em que tendem promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade. Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação de prazer. Para dar uma perspectiva clara do padrão moral estabelecido pela teoria, é preciso dizer muito mais; em particular que coisas se incluem nas ideias de dor e prazer; e até que ponto isto é deixado como questão em aberto. Mas estas explicações suplementares não afetam a teoria da vida na qual esta teoria da moralidade se baseia – nomeadamente, que o prazer e a ausência de dor, são as únicas coisas desejadas como fins; e que todas as coisas desejáveis (...) são desejáveis ou pelo prazer inerente a si mesmas ou como meios para promoção do prazer e a prevenção da dor”. Jhon Stuart Mill.
O que é colonialidade?
Regime de poder que, fundado em uma ideia de desenvolvimento, impõe padrões econômicos, políticos, morais e epistemológicos sobre outros povos não apenas para estabelecer um mecanismo de expansão dos estados-nação desenvolvidos, mas para a própria criação da identidade europeia (e estadunidense).
Não haveria Europa sem a subjugação da América latina, África e parte da Ásia. Não haveria Norte sem exploração do Sul. E, nesse sentido, a divisão do mundo em hemisférios atende a um projeto de poder, a uma geopolítica.
Pontos-chaves
Bioética de intervenção
Utilitarismo.
Colonialidade.
Colonialidade do poder
No interior da colonialidade do poder, funciona a colonialidade do saber, sendo que a segunda legítima e faz funcionar a primeira.
Teorias vindas da Europa e dos EUA:
Feitas na égide da colonialidade.
Dominação sob a égide do desenvolvimento e do progresso.
Suposto benefício para as sociedades menos favorecidas.
Dialogar com estes conceitos atentos ao rico de subordinação a eles.
Bioética de intervenção
A bioética de intervenção propõe enfatizar a necessidade de politização dos problemas morais advindos da condição vulnerada da maioria das populações da América Latina e do hemisfério Sul, como um todo, com ênfase no Brasil.
Uma das características da colonialidade: pensar a estruturação do real em função das hierarquias (país menos desenvolvido sob tutela do mais desenvolvido).
As formas de vida diferentes entre países centrais e periféricos:
Supõe uma diferença de nível de desenvolvimento.
Supõe um escalonamento de valores entre as vidas.
Hierarquia e justificativa para dominação, exploração e submissão, sob o pretexto de ser esse o caminho para o desenvolvimento da vida menos desenvolvida.
Colonialidade da vida.
 
Double standard
Hierarquia de vidas desenvolvidas sobre vidas não desenvolvidas (legitima incursões ditas proveitosas).
Relação de colonização da vida – pretexto para práticas violentas contra sociedades (principalmente continente Africanomas também América latina);
Benefícios, em tese, de todas as sociedades – alcançados através do risco de alguns.
Colonialidade da vida
Oferece legitimação para que, contraditoriamente, a pobreza seja tolerada e perseguida em nossa sociedade (para haver o progresso deve haver a contradição, a tensão e a diferença entre opressores e oprimidos – fabrica-se uma vida mais vulnerável para ocupar este lugar).
No início do colonialismo moderno a vida fabricada para ser oprimida foi a indígena e de pessoas do continente africano.
Foi-se o colonialismo e ficou a colonialidade – mesma lógica de usurpação, exploração e violência continua sendo aplicada, só que com métodos mais sofisticados (sem a presença formal da metrópole no país colônia).
Bioética de intervenção
Proposta no campo individual e privado.
Proposta no campo coletivo.
Ponto de partida: equidade.
Objetivo e ambiente de reflexão: justiça social.
Ferramenta de intervenção: libertação.
Mobilização de sujeitos e recursos: emponderamento e libertação.
Ponto de proteção: emancipação.
Dois fundamentos: utilitarismo e consequencialismo solidário e crítico.
Consequencialismo solidário
Onde reside o risco da adoção do utilitarismo para análise de conflitos que envolvem a área da saúde?
O consequencialismo solidário tem sua articulação com o utilitarismo por um forte motivo: a afirmação da solidariedade ficou definitivamente assetada com a aprovação da DUBDH da UNESCO (2005) – Art. 13 (“Solidariedade e cooperação”).
A bioética de intervenção propõe a solidariedade crítica com o intuito de evitar a armadilha colonial de sermos solidários em causa própria, beneficiar nossospróprios interesses.
Conclusão
A bioética de Intervenção para ser um vetor da diminuição das injustiças sociais deve ser uma bioética dialogada, sem esquecermos o fato de que há sérios problemas em dialogar com pessoas de moralidades, culturas e interesses diferentes.
A maneira como a bioética procura lidar com o utilitarismo, até agora, tem sido suficientemente satisfatório, para pensar os problemas a que se propôs. Enquanto não dispomos de um instrumento ou até que consigamos construir um mais adequado, seu uso deve ser plenamente cuidadoso. 
Imaginemos a bioética de intervenção como um navio que funciona com algumas peças com avarias. Enquanto não encontramos o porto seguro para substituir o utilitarismo por outra ferramenta teórica adequada à realidade da América Latina, vamos navegando com ele, consertando-o sempre que der problema, sobretudo atentos ao fato de que a peça avariada pode nos causar problemas em algum momento.
O navio da bioética de intervenção ainda tem muitos mares a navegar, no seu projeto de apoio à construção da teoria de uma vida não colonizada.
Exemplos
Infanticídio entre índios.
Freiras foucaltianas.
Brasil como estado laico.
Disputas geopolíticas no Oriente Médio.
Imperialismo romano.
Imperialismo norte-americano.
Recepção de imigrantes na Europa fugitivos da guerra no Oriente Médio.
Invasão dos EUA pelos mexicanos.
Utilitarismo no SUS.
Leite materno.

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