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Universidade Estácio de Sá – UNESA Curso: Direito Disciplina: Direito Constitucional II Professor: Jan Silva Aula 1 - Resumo Unidade I – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: INTERVENÇÃO FEDERAL 1. Intervenção 1.1. Parte geral 1.2. Intervenção federal 1.3. Quadro geral 1.4. Hipóteses 1.5. Procedimento de intervenção federal 1.6. Intervenção estadual nos municípios 1. Intervenção Intervenção é a cessação excepcional da autonomia política dos Estados, Distrito Federal ou Municípios, com vistas ao restabelecimento do equilíbrio federativo. É ato político que consiste na incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que suporta a intervenção. É medida excepcional de suspensão temporária da autonomia de determinado ente federativo, fundada em hipóteses taxativamente previstas no texto constitucional, e que visa à unidade e preservação da soberania do Estado Federal e das autonomias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. 1.1. Parte geral A intervenção é um ato político, exclusivo, e a depender da hipótese, discricionário ou vinculado, praticado pelo Chefe do Poder Executivo Federal (Presidente da República) ou estadual (Governador do Estado). É uma medida de cunho excepcional, somente pode ser decretada com base nos arts. 34 e 35 da Constituição, permitindo a intervenção de Ente Federativo de maior base territorial no Ente de menor base territorial. Traços importantes da intervenção: • Surgimento: Lei Hamilton, de 1791, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos. A Lei permitia ao Presidente, apoiado pelo Governo Central, convocar milícias para intervir em Estados onde o caos houvesse se instalado. • Previsão no Brasil: Constituição de 1891, art. 6º. • Natureza: medida excepcional, temporária, de natureza política, vertida num punctum dolens. • Objetivos: a intervenção objetiva: ➢ Proteger a estrutura federativa contra abusos e os atos de prepotência dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, com vistas à estabilidade da ordem constitucional; ➢ Preservar a unidade e a soberania do Estado Federal, visando a salvaguarda da autonomia dos entes políticos; ➢ Garantir o primado da rigidez constitucional. 1.2. Intervenção federal Temos a intervenção federal quando a União intervém nos Estados, no Distrito Federal ou nos Municípios situados em Território Federal. 1.3. Quadro geral • Disciplina Constitucional: arts. 34 a 36 da CRFB/88. A intervenção é um antídoto contra a ilegalidade, o arbítrio, a autossuficiência e o abuso de poder dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A intervenção busca resguardar o pacto federativo, afastando por certo tempo as prerrogativas totais ou parciais das pessoas políticas de Direito Público Interno. O Decreto interventivo somente é válido bas hipóteses taxativamente previstas na Constituição Federal. • Modalidades: a intervenção pode ser federal (se a União intervir nos Estados ou no Distrito Federal) e estadual (se os Estados-membros intervierem nos Municípios). Assim, vigoram duas regras: ➢ Regra da intervenção Federal: só a União pode intervir nos Estados e no Distrito Federal, por meio de decreto do Presidente da República (art. 84, X, CRFB/88); ➢ Regra da intervenção estadual: apenas os Estados podem intervir nos Municípios, mediante ato do governador estadual. • Municípios localizados em Território Federal: caso venha ser criado um Território Federal, os municípios nele localizados, somente poderão sofrer intervenção decretada pela União Federal, pois o Território não e ente político, não possui autonomia. 1.4. Hipóteses As hipóteses de intervenção federal são as seguintes: • Intervenção federal espontânea: o Presidente da República age de ofício, decretando ato interventivo para proteger a unidade nacional, a ordem pública e as finanças dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios localizados em Território Federal (art. 34, I, II, III e V, CRFB/88). Nesta modalidade, verificado os pressupostos, e ouvidos os Conselhos da República e de Defesa Nacional (arts. 90, I e 91, § 1º, II, CRFB/88), o Presidente pode decretar a intervenção de modo discricionário. • Intervenção federal provocada por solicitação: é decretada para garantir o livre exercício das funções executiva e legislativa, quando coação ou impedimento recaírem sobre elas. Neste caso, para o Presidente da República decretar a intervenção, é necessário que os Poderes Executivo e Legislativo coactos ou impedidos a solicitem (art. 34, I, c/c o art. 36, I, 1ª parte). Nesta modalidade, o PR é o árbitro da conveniência e da oportunidade de decretar o ato interventivo. Ele não está obrigado a intervir, pois age discricionariamente. • Intervenção federal provocada por requisição: é decretada pelo PR, que se limita a suspender a execução do ato impugnado, estabelecendo a duração e os parâmetros da medida interventiva. Essa espécie de intervenção inadmite controle político por parte do Congresso Nacional, podendo ser requisitada: ➢ Pelo STF, nas hipóteses de garantia do próprio Poder Judiciário (art. 34, IV, c/c o art. 36, I, 2 ª parte, CRFB/88); ➢ Pelo STF, STJ ou TSE, para preservar a autoridade das ordens e decisões judiciais (art. 34, VI, 2ª parte, c/c o art. 36, II). Na intervenção por requisição, o PR age de modo vinculado, ou seja, deverá, necessariamente, decretar o ato interventivo, exceto se for caso de suspensão de executoriedade do ato impugnado (art. 36, § 3º). O PR simplesmente acata o resultado do veredito do STF, autorizando o ato interventivo. • Intervenção federal por provimento de representação: havendo recusa à execução de lei federal, o Procurador-Geral da República poderá formular representação, no STF, pleiteando o ato interventivo (art. 34, VI. 1ª parte, c/c o art. 36, III). Mas o PGR também pode ajuizar ação direta de inconstitucionalidade interventiva, perante o STF, com objetivo de assegurar a primazia dos princípios sensíveis da Constituição (art. 34, VII, c/c o art. 36, III). 1.5. Procedimento de intervenção federal Antes de iniciar o procedimento de intervenção pressupostos materiais e formais devem ser observados. Os pressupostos materiais da intervenção federal se encontram taxativamente no art. 34, I a VII, da CRFB/88. Conforme este dispositivo, a União, excepcionalmente, só poderá intervir nos Estados e no Distrito Federal para: • Manter a integridade nacional: devido a indissolubilidade do vínculo federativo preceituada pela Constituição Federal no caput do seu art. 1º, o direito de secessão de qualquer Estado-membro é vedado, logo, o PR poderá decretar a intervenção ex jure proprio, por meio de ato discricionário (art. 84, XIII). A imissão do PR é crime de responsabilidade (art. 85, I). • Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da federação em outra: competirá ao PR tomar a iniciativa de praticar ato interventivo, se ocorrer: ➢ Invasão estrangeira; ➢ Invasão de uma unidade em outra. • Pôr termo a grave comprometimento da ordem pública: ação comprometedoras da paz e da legalidade podem ensejar a decretação de intervenção federal. • Garantir o livre exercício dos Poderes: uma deliberação de um dos poderes (Executivo ou Legislativo), ou requisição do STF, se o Poder Judiciário for obstruído, ensejará ato interventivo do Presidente da República. • Reorganizar as finanças da unidade da federação que: ➢ Suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; • Deixar de entregaraos Municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei. A controvertida Dívida Fundada, requisito material de intervenção federal, vigora no Brasil desde a Reforma Constitucional de 1926. Pelo art. 98, da Lei nº 4.320/67, é a dívida que “compreende os compromissos de exigibilidade superior a 12 meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou financeiro de obras e serviços públicos”. • Prover a execução de lei federal, ou ordem ou decisão judicial: essa modalidade só é válida quando não couber solução judiciária para ocaso. Se a ordem judicial for descumprida, configurar-se-á o pressuposto material para a intervenção. Primado do Poder Judiciário na resolução de litígios. • Assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis: tais princípios equivalem: ➢ À forma republicana, ao sistema representativo e ao regime democrático; ➢ Aos direitos da pessoa humana; ➢ À autonomia municipal; ➢ À prestação de contas da Administração Pública, direta e indireta; ➢ À aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferência, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Os pressupostos formais da intervenção federal (art. 36, I a III, CRFB/88) também devem ser observados. A decretação da intervenção federal deve satisfazer os seguintes pressupostos formais: • No caso do art. 34, V: para o interventivo ser decretado com base nesse preceptivo é preciso que haja solicitação do Poder Legislativo ou do Executivo coacto ou impedido, ou requisição do STF, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; • No caso de desobediência à ordem judicial ou decisão judiciária: para o ato interventivo ser decretado nessa hipótese deve haver requisição do STF, do STJ ou do TSE; • Em caso de provimento pelo Supremo Tribunal Federal: a Corte Excelsa acolhe representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal, autorizando o ato interventivo. Observados os pressupostos materiais e formais, o procedimento para a União intervir na autonomia política dos Estados ou Distrito Federal englobará as seguintes fases: ➢ Inicial; ➢ Judicial; ➢ Decretação interventiva; ➢ Controle político e jurisdicional. 1. A fase inicial é a etapa introdutória do procedimento interventivo, na qual, os legitimados deflagram a intervenção federal. São legitimados para iniciar o procedimento da intervenção federal: • Presidente da República (art. 34, I, II, III e V, da CRFB/88); • Poderes locais (art. 34, IV) – os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário locais podem solicitar a decretação do ato interventivo; • STF, STJ ou TSE (art. 34, VI, 2ª parte) – havendo desobediência à ordem ou decisão judiciária, compete, exclusivamente, ao STF requisitar intervenção da União nos Estados ou no Distrito Federal para garantir a execução de sentenças das Justiças Federal, Estadual, do Trabalho ou Militar, mesmo que se fundarem em Direito Infraconstitucional. • Procurador-Geral da República (art. 34, VI e VII, CRFB/88) – incumbe o PGR ajuizar a ação de executoriedade de lei federal e ação direta de inconstitucionalidade interventiva. Ambas ações devem ser dirigidas ao STF. 2. Na fase judicial, o Supremo Tribunal Federal o STF se manifesta a respeito da ação de executoriedade de lei federal ou da ação inconstitucionalidade interventiva, que o PGR lhe enviou para processo e julgamento. A fase judicial incide somente nas hipóteses prescritas no art. 34, VI e VII, da Constituição Federal. Se o STF julgar quaisquer dessas ações procedentes, a matéria é remetida do Presidente da República, para a elaboração do decreto interventivo. 3. Fase do decreto interventivo, a intervenção é formalizada definitivamente. Uma vez publicado o decreto, sua eficácia é imediata, legitimando a medida intervencionista. Sobre essa fase, devemos saber: • Competência para decretar e executar a intervenção: exclusiva do Presidente da República. É indelegável (art. 84, X); • Abrangência do decreto interventivo: o decreto interventivo, segundo a CRFB/88, art. 36, § 1º, deve estipular a amplitude, o prazo e as condições de sua execução. Sua amplitude só pode ser avaliada pelo exame das lesões institucionais sofridas pelo Estado Federal. • A figura do interventor: o decreto interventivo poderá nomear um interventor, cujo nome há de ser submetido ao Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa, no prazo de vinte e quatro horas, art. 36, §§ 1º e 2º. Escolhido pelo PR, o interventor nada mais é do que um elevado servidor público federal, cujas funções federais devem constar no decreto interventivo. A responsabilidade civil dos atos do interventor é da União, se ele estiver no exercício da atividade federal, art. 37, § 6º, ou do Estado ou do DF, caso esteja desempenhando atribuição regular da Administração estadual ou distrital. • Cessação do decreto interventivo: concluída a intervenção, uma vez cessados os motivos por que foi decretada, findam-se os efeitos do decreto interventivo, com o restabelecimento da normalidade constitucional. 4. Fase do controle político e jurisdicional. Sendo a intervenção um ato político, temporário e excepcional, o Congresso Nacional pode exercer o controle político do decreto interventivo, no prazo de vinte e quatro horas, isso para garantir a excepcionalidade da intervenção. Caso o Congresso Nacional venha a rejeitar o ato interventivo, caberá ao PR cessar a ordem, sob pena de crime de reponsabilidade (art. 85, II, CRFB/88). Excepcionalmente, a apreciação do Congresso Nacional pode ser dispensada, nas intervenções para: ➢ Promover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial (art. 34, VI); ➢ Garantir a primazia dos princípios sensíveis (art. 34, VII); ➢ Preservar vetores constitucionais dos Estados e do Distrito Federal (art. 35, IV). 1.6. Intervenção estadual nos municípios A intervenção estadual é aquela praticada pelos Estados-membros nos Municípios, art. 35, CRFB/88. A intervenção estadual em Municípios, igualmente a intervenção federal em Estados ou no DF, é um ato excepcionalíssimo, político e temporário, que afasta a autonomia do Município, para restabelecer a normalidade constitucional. As hipóteses previstas de intervenção estão taxativamente previstas na Constituição Federal, e os Estados-membros não podem criar novos pressupostos. Sendo um ato de natureza política, apenas pode ser decretado pelo governador, e, na hipótese do art. 35, IV, depende que o Tribunal de Justiça a julgue procedente. O governador deverá especificar a amplitude, o prazo e as condições para o ato interventivo ser executado, e, quando couber, nomeará interventor, afastando as autoridades envolvidas. O interventor substituirá o Prefeito, prestando contas ao Governador e ao Tribunal de Contas do Estado. Responderá administrativa, civil ou criminalmente pelos atos que praticar. A intervenção estadual submete-se ao controle político, por parte da Assembleia Legislativa, que deverá, no prazo de 24 horas, apreciar o decreto interventivo do governador. Este controle poderá ser dispensado quando o Tribunal de Justiça der provimento à representação para assegurar a observância dos princípios constitucionais estaduais ou prover execução de lei, ordem ou decisão judicial (atr. 35, IV, CRFB/88). A representação ao Tribunal de Justiça é a peça inaugural da ação interventiva no Município, devendo ser elaborada pelo Procurador-Geral de Justiça. Os pressupostos para a intervenção estadual são: ➢ Falta de pagamento, sem motivo de força, maior,por dois anos consecutivos, da dívida fundada; ➢ Não forem prestadas as contas devidas, na forma da lei; ➢ Não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; ➢ O Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial. Cessados os motivos da intervenção, as autoridades retornam aos seus cargos com a respectiva destituição interventor.
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