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Peça de Direito Constitucional Sessão 02 Murilo

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA VARA 
DA FAZENDA PÚBLICA E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE 
FORTALEZA/CE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MAGNÓLIA, brasileira, (estado civil), trabalhadora rural, portadora 
do CI n° xxxxxxxxx (CPF n° xxx-xxx-xxx-xx), (endereço eletrônico), residente em 
domiciliada na Rua x, n° xxxx, cep n° xxxxx-xxx, em Caicó/CE, neste ato 
representada por seu advogado, vem mui respeitosamente perante vossa 
excelência propor o seguinte: 
 
MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR 
 
 
Em face do ESTADO DO CEARÁ, CNPJ nº, com sede na rua X, n° x, 
indicando como autoridade coatora o SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DO 
CEARÁ, Sr. ABC, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos, com fulcro no 
artigo 5º, inciso LXIX da Constituição Federal e Lei 12.016/09: 
I – DOS FATOS 
 
Ocorre que a autora, devidamente qualificada na exordial, sofre de 
uma doença grave conhecida popularmente como Lúpus (doença autoimune 
inflamatória crônica que faz com que o sistema imunológico do paciente ataque e 
destrua tecidos saudáveis do organismo erroneamente). 
 
Há alguns meses, Magnólia adentrou na justiça por meio de seu 
procurador infra-assinado, com pedido de Habeas Data, requerendo seu 
prontuário médico que havia sido negado pelo mesmo requerido desta. Ocorreu 
corretamente o deferimento de tal pedido, lhe fornecendo suas informações 
pessoais inerentes à seus direitos fundamentais 
 
Posteriormente a tal fato, foi feita a verificação do prontuário e 
constatou-se que lhe foi receitado o uso contínuo de um medicamento específico 
para a sua doença, o que, dada a pouca frequência de diagnósticos semelhantes, e 
o valor alto do medicamento, demonstram sua necessidade. 
 
Magnólia é uma jovem humilde e de escassos recursos financeiros, 
não tendo como arcar com as custas medicamentosas relacionadas a sua doença, 
os quais custam um valor exorbitante para a realidade financeira dela e de sua 
família. 
 
Foram feitas vastas pesquisas e, descobriu-se que o medicamento 
receitado para o tratamento da jovem, compõe a lista de remédios a serem 
gratuitamente fornecidos pelo SUS (Sistema único de saúde), também constando 
na relação de medicamentos excepcionais elaborada pelo próprio Estado do 
Ceará. 
 
Diante disso, Magnólia foi orientada para o seguinte ato: que ela 
procurasse a central de distribuição estadual de medicamentos mais próxima de 
sua casa, no município de Caicó, para solicitação do medicamento. 
 
Entretanto, no dia 10/10/2017, foi informada de que o 
fornecimento de medicamentos de alto custo, mesmo aqueles constantes as listas 
do SUS e do Governo Estadual, estava suspenso por tempo indeterminado por 
ordem da Secretaria Estadual de Saúde. 
 
Após isso, no mesmo dia, Magnólia retornou extremamente 
preocupada com a situação dizendo sobre tal negativa que tivera e, foi 
novamente instruída por seu procurador, que elaborou um requerimento formal 
à Secretaria de Saúde do Estado, solicitando a compra do medicamento e a 
disponibilização gratuita do mesmo à assistida. 
 
No dia 11/10/2017, o requerimento foi protocolado junto à 
Secretaria de Saúde do Estado, obtendo a resposta de que a compra de todos os 
medicamentos estava suspensa por tempo indeterminado. 
 
 
II – DA LIMINAR 
 
Da narrativa dos fatos é possível visualizar que o ato coator da 
Autoridade Municipal causou risco à vida da impetrante, pois os medicamentos 
negados são fundamentais para o tratamento que necessita ser 
reiniciado URGENTEMENTE. 
 
Logo, doutor Julgador, estão presentes todos os requisitos para a 
concessão da medida liminar que ora se pleiteia, visto o iminente risco de dano 
irreparável à vida da impetrante, ou seja, o perigo na demora no uso dos 
medicamentos pode causar a morte da impetrante (periculum in mora) e há 
também a probabilidade da positiva das alegações ou aparência do bom direito, 
pois estão colacionados aos autos o Laudo médico que confirma a enfermidade, o 
pedido do medicamento e a afirmativa de negativa do impetrado (fumus boni 
iuris). 
 
 
III – DO DIREITO 
 
 
Sabe-se que o direito requerido pela impetrante, é liquido e certo, 
como prevê o artigo 5°, inciso LXIX: 
 
 “Conceder-se-á mandado de segurança para 
proteger direito líquido e certo, não amparado 
por habeas corpus ou habeas data, quando o 
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for 
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no 
exercício de atribuições do Poder Público”. 
 
Além de estar pleiteado um direito da autora, é de suma 
importância ressaltar que é um DEVER do Estado, estando em suas 
competências, o cuidado para com a saúde da população, cabendo à 
administração direta manter o zelo em relação a isto. 
 
A lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, Dispõe sobre as 
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o 
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Esta lei 
regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados 
isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas 
naturais ou jurídicas de direito Público ou privado e, ela prevê em seu artigo 2°, de 
maneira extremamente direta, que tal pedido aqui dirigido, é tanto um direito por 
uma parte (Magnólia), quanto um dever por outra parte (Estado). 
 
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser 
humano, devendo o Estado prover as condições 
indispensáveis ao seu pleno exercício. 
 
E, esta mesma lei, dispõem sobre o SUS (Sistema Único de Saúde), 
que consiste no conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e 
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e 
indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constituem o Sistema Único 
de Saúde (SUS), cujos seus objetivos são a identificação e divulgação dos fatores 
condicionantes e determinantes da saúde, a formulação de política de saúde 
destinada a promover, nos campos econômico e social, e a assistência às pessoas 
por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a 
realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas, estando 
incluídas ainda no campo de atuação do SUS: 
 
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde 
SUS: [...] 
III - a assistência às pessoas por intermédio de 
ações de promoção, proteção e recuperação da 
saúde, com a realização integrada das ações 
assistenciais e das atividades preventivas. 
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação 
do Sistema Único de Saúde (SUS): [...] 
d) DE ASSISTÊNCIA terapêutica integral, 
INCLUSIVE FARMACÊUTICA; [...] 
VI - a formulação da política de medicamentos, 
equipamentos, imunobiológicos e outros insumos 
de interesse para a saúde e a participação na sua 
produção; 
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os 
serviços privados contratados ou conveniados que 
integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são 
desenvolvidos de acordo com as diretrizes 
previstas no art. 198 da Constituição Federal, 
obedecendo ainda aos seguintes princípios: 
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde 
em todos os níveis de assistência; 
II - integralidade de assistência, entendida como 
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços 
preventivos e curativos, individuais e coletivos, 
exigidos para cada caso em todos os níveis de 
complexidade do sistema; 
III - preservação da autonomia das pessoas na 
defesa de sua integridade física e moral; 
 
O direito à saúde é de dimensãobastante ampla, abrangendo o 
coletivo, significando não somente uma obrigação do Estado, mas também um 
direito subjetivo de cada cidadão. Nesse sentido, o Ministro do STF Celso de 
Mello, ao julgar o AgR-RE 271.286-8/RS, proferiu o seu voto no sentido de 
reconhecer o direito à saúde, como exigível judicialmente, destacando: 
 
“A essencialidade do direito à saúde fez com que o 
legislador constituinte qualificasse como 
prestações de relevância pública as ações e 
serviços de saúde (art. 197), legitimando a 
atuação do Poder Judiciário nas hipóteses em que 
a Administração Pública descumpra o 
mandamento constitucional em apreço”. 
 
A constituição prevê expressamente, alguns direitos sociais. De 
acordo com a Constituição, os direitos sociais são de eficácia imediata conforme 
consagra o artigo 5°, § 1º da Constituição Federal. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes: 
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata. 
 
É de óbvia percepção que, a impetrante necessitada de assistência 
para que mantenha sua saúde e, conforme diz o ordenamento jurídico, a 
impetrante tem respaldo constitucional para seus direitos, dentre estes, os 
direitos sociais, onde estão descritos a SAÚDE, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, o transporte, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados. A Constituição prevê 
isto expressamente em seus artigo 6, que dispõe de maneira específica tais 
direitos subjetivos. 
 
Art. 6º. São direitos sociais a educação, A SAÚDE, a 
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção 
à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição. 
 
Nossa carta maior, a Constituição Federal, prevê também nos 
artigos 196 e 23, inciso II, essa relação entre dever e direito, citando 
explicitamente que, há tanto o DIREITO de todo cidadão por um lado e, por outro, 
regulamenta que há também um DEVER do estado de realizar as tarefas 
relacionadas à área da saúde,: 
 
Art. 196. A SAÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER 
DO ESTADO, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de 
doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, 
proteção e recuperação. 
Art. 23. É competência comum da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: 
II - cuidar da saúde e assistência pública, da 
proteção e garantia das pessoas portadoras de 
deficiência; 
 
O artigo 23, inciso II, há previsão de que o dever de promover a 
saúde pública, pertence aos três entes federativos: União, Estados e Municípios. O 
STF, já entendeu que a interpretação do artigo 23, inciso II, da Constituição 
Federal, deve ser no sentido de reconhecer que todos os entes da Federação no que 
diz respeito às prestações para que o direito à saúde seja mais efetivo, têm 
responsabilidade solidária. Nesse sentido foi a decisão proferida no RE 855178 
RG / SE – SERGIPE: 
 
RECURSO EXTRAORIDNÁRIO. CONSTITUCIONAL 
E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. 
TRATAMENTO MÉDICO. RESPONSABILIDADE 
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. 
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O 
tratamento médico adequado aos necessitados se 
insere no rol dos deveres do Estado, porquanto 
responsabilidade solidária dos estes federados. O 
polo passivo pode ser composto por qualquer um 
deles, isoladamente ou conjuntamente (RE 
855178 RG/SE – Sergipe. Relato: Ministro Luiz 
Fux. Julgamento: 05/03/2015. DJe – 050 
Divulgado 13-03-2015 Publicado 16-03-2015 
 
 
IV – DOS PEDIDOS 
 
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência: 
 
1. Seja concedida a medida liminar pleiteada, 
para compelir o município e o secretário 
municipal de saúde a fornecer a medicação 
necessária para o tratamento na rede pública de 
saúde ou arcar com o custo do medicamento na 
rede particular de saúde do município; 
 
 
2. Que, após a concessão da liminar seja 
notificado o poder público coator, na forma do 
artigo 7º, inciso I, da Lei 12.016/09; 
 
3. Seja julgado totalmente procedente o 
pedido para condenar o Estado do Ceará e o 
Secretário de Saúde do Estado a fornecer a 
medicação necessária para o tratamento na rede 
pública de saúde ou arcar com o custo do 
medicamento na rede particular de saúde do 
município, sob pena de sequestro de valores dos 
cofres públicos; 
 
 
Provas pré-constituídas em anexo. 
 
Atribui à causa o valor de R$ 2.000,00 
 
Nestes termos, pede e espera deferimento. 
 
Fortaleza / Ceará. 15/10/2017 
 
 
Dr.(a) Xxxxxx xx Xxxxxxxx 
Advogado(a) 
OAB/UF nº Xxxx

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