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Int. ao Est. da História Aula 8
Terceira Geração dos Annales
 Podemos pensar no surgimento da Terceira geração de Annales quando, em 1969, nomes como Jacques Revel e André Burguière assumem a administração da escola, seguidos por Jacques Le Goff. Embora as mudanças administrativas nesse período sejam bem claras, o campo intelectual é difícil de ser descrito. Observamos, então, o rompimento com a metodologia utilizada por Braudel, fazendo com que a História fosse estudada com grande auxílio de disciplinas como a Antropologia, a Literatura e até mesmo a Psicologia. Outro ponto importante é que podemos perceber que nessa geração não encontramos nenhuma forma de liderança como observamos nas anteriores com Bloch, Febvre e Braudel. Os historiadores da terceira geração foram bastante influenciados por ideias estrangeiras, principalmente americanas. Muitos deles viveram nos Estados Unidos por algum tempo e até mesmo escreveram em inglês. Os campos de pesquisa também se ampliaram, alguns historiadores voltaram a se dedicar ao estudo da história política enquanto outros seguiam pela história quantitativa. Novas abordagens como nova história econômica, psico-história, história da cultura popular, entre outras, também surgiram durante a terceira geração. BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929 – 1989. A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997. p.80. 
 Essa renovação historiográfica possibilitou à história enxergar a vivência humana a partir de elementos que antes não eram considerados, como o corpo, a infância e os sonhos. Observamos também o espaço dado às mulheres, o que não aconteceu nas gerações anteriores. Historiadoras como Christiane Klapisch, Arlette Farge, Michelle Perrot e Mona Ozouf, que estudaram temas como a família, a mulher e o trabalho. Os trabalhos oriundos da terceira geração ficaram caracterizados pelo estudo das mentalidades. A mentalidade é filha direta da escola dos Annales e, desde o começo dos Annales, esteve na preocupação dos historiadores, como diz Ronando Vainfas: A preocupação com “os modos de sentir e pensar” ocupou a atenção dos annalistes desde os primórdios da revista Annales, quando não antes, nos estudos de Marc Bloch e de Lucien Febvre produzidos na década de 1920. Além do mais, é preciso lembrar que, apesar das várias mudanças por que passou a historiografia francesa nos últimos 60 anos, os estudiosos das mentalidades sempre se reconheceram como herdeiros contemporâneos de Bloch e de Febvre, por muitos chamados de “pais fundadores” da chamada Nova história produzida na França. VAINFAS, Ronaldo. História das mentalidades e história cultural. In: CARDOSO, Ciro Framarion e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p.129. 
 Inicialmente o conceito de mentalidades era marcado pela indefinição e, segundo Le Goff, a indefinição era importante para a fase de assimilação de um novo campo de investigação pelos historiadores. Assim, “A historia das mentalidades (...) dirige a atenção exclusiva para o não conscientizado, o cotidiano, os automatismos do comportamento, os aspectos extrapessoais da consciência individual, para aquilo que foi comum a César e  ao último soldado das suas legiões, a São Luís e ao camponês (...) GURIÊVITCH, Aaron. A síntese histórica e a escola dos anais. São Paulo: Perspectiva, 2003.p. 178. 
 Um dos primeiros a contestar a história quantitativa e se aventurar na história das mentalidades foi Philippe Ariès. Seu trabalho era voltado para as relações entre natureza e cultura, como a cultura enxerga fenômenos como a infância e a morte, por exemplo. No caso da infância, Philippe trabalhou com a perspectiva de que o sentimento da infância não existia durante a idade média, e que essa forma de observar as crianças passou a existir na França somente a partir do século XVII, em seu livro A criança e a vida familiar no Antigo Regime. Ao tratar da morte, Philippe Ariès também utilizou a perspectiva da morte como fenômeno da natureza e como o homem reage diante desse fenômeno. O livro L’Homme devant la mort – o homem diante da morte - trabalha um período de quase mil anos abordando as atitudes do homem diante da morte em diversos períodos da história. BURKE, Peter. Op. cit. p.83. 
Segundo Peter Burke: L’Homme devant la mort tem os mesmos méritos e defeitos do livro L’Enfant et la vie familiale sous l’Ancien Regime. Nele se encontram a mesma audácia e a mesma originalidade, o mesmo uso de uma ampla variedade de evidências, que incluiu literatura e arte, mas não a estatística, e a mesma vontade de não tratar cartas regionais ou sociais de diferenças. 
 O livro de Ariès levou vários historiadores a darem mais atenção às “mentalidades”, dando início à aproximação da história e literatura, mostrando que as fontes literárias podiam ser utilizadas no estudo da história. Podemos destacar a figura de Alphonse Dupront, que elaborou sua tese de doutorado em torno do estudo das Cruzadas como uma guerra santa para a conquista de lugares sagrados. Outro importante historiador do período foi Robert Mandrou, o principal historiador a seguir pelo caminho de Febvre no estudo da psicologia histórica. Madrou também trabalhou com história cultural. Além desse trabalho, Le Roy Ladurie também escreveu sobre história climática e sobre história rural, trabalhando com largos períodos de tempo, característica dos historiadores de Annales. 
 Embora a vasta gama de interesses, historiadores e diferentes métodos de estudo da história utilizada pela terceira geração tenha sido benéfica para a historiografia, podemos observar que a história estudada através da longa duração não é uma alternativa viável quando trabalhamos com a história moderna, devido à rapidez com que novos acontecimentos aparecem. A tecnologia passou a influenciar a vida do homem transformando rapidamente o meio ambiente, não apenas com o crescimento das cidades e diminuição das áreas rurais, mas também com o crescimento de uma nova modalidade de moradia, as favelas. As transformações da vida cotidiana influenciam a forma como as experiências culturais são tratadas e assim, determinadas aproximações e métodos da Escola dos Annales não davam conta de trabalhar tais aspectos. Embora as gerações da Escola dos Annales sejam diferentes entre si, a evolução do pensamento historiográfico é vista como resultado do crescimento da disciplina história ao longo do tempo, sendo assim, cada geração de Annales teve uma parcela importante de contribuição para o estudo da história. O movimento dos Annales pode ser considerado revolucionário e elevou o estudo da história a um outro nível. 
 Um dos importantes legados da terceira geração dos Annales foi o tipo de história que produziam. A reunião com a antropologia, com a psicologia e uma nova narrativa histórica tornou esse tipo de história bastante popular na França. Enquanto o clássico livro de Braudel – O mediterrâneo – lançado anos antes, não vendeu muitas cópias, o livro de Montaillou ficou na lista dos mais vendidos durante semanas.

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