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Artigo Inédito Resumo Com base no conhecimento da orga- nização, estrutura e funcionamento dos tecidos responsáveis pela formação radi- cular e fundamentados na literatura pode- se afirmar que em movimentos de dentes com rizogênese incompleta um compri- mento radicular menor pode até ocorrer, mas em função de uma maturação dos tecidos embrionários da papila dentária e folículo pericoronário por fechamento e término precoce do terço apical, mas não em função de reabsorção radicular. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho está em re- visar a literatura e fundamentar biologi- camente as respostas a três perguntas freqüentes entre os ortodontistas: - Dentes com rizogênese incompleta quando movimentados apresentam maior índice e risco de reabsorção dentária? - Dentes com rizogênese incompleta quando movimentados podem apresen- tar raízes mais curtas? - Dentes com rizogênese incomple- ta podem ser movimentados ortodon- ticamente? Para responder estas perguntas deve-se relembrar: - Conceitos pontuais da formação do Alberto Consolaro* Maria Fernanda Martins-Ortiz** Tânia Regina Grão Velloso*** * Professor Titular em Patologia - FOB-USP. ** Pós-Graduanda em Odontologia, Área de Concentração em Ortodontia - FOB-USP. *** Pós-Graduanda em Odontologia, Área de Concentração em Patologia Bucal - FOB-USP. dente em sua fase inicial; - A formação da raiz logo após com- pletada a formação da coroa; - A formação da raiz na altura do terços médio e apical; - A configuração espacial da papila dentária e tecidos vizinhos. OS GERMES DENTÁRIOS SÃO RES- PEITADOS PELA OSSIFICAÇÃO! A lâmina dentária advém do ectoder- ma do revestimento da boca primitiva. Em forma de lâmina vertical, invade o mesênquima subjacente que, em fases mais tardias, dará origem ao osso da ma- xila e mandíbula como revela a figura 1. A sua borda mais profunda revelará 10 focos de proliferações celulares que assumem a forma de botões duplos dis- tribuídos uniformemente ao longo das futuras cristas ósseas alveolares. Estes botões darão origem aos germes dentá- rios decíduos e permanentes, exceto aos molares permanentes. Imediatamente abaixo dos botões den- tários, o mesênquima promoverá uma aglomeração e proliferação de células ectomesenquimais para constituírem a papila dentária como revelam as figuras 1 e 2. O botão vai gradativamente assu- mindo a forma de campânula e segue Dentes com Rizogênese Incompleta e Movimento Ortodôntico: Bases Biológicas Teeth with Incomplete Root Formation and Orthodontic Movement: Biological Basis Alberto Consolaro Palavras-chave: Rizogênese incom- pleta; Movimento dentário induzido; Movimento orto- dôntico; Reabsor- ção dentária. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 25 envolvendo ou “abraçando” a papila dentária tal qual um capuz como está na figura 3. O órgão do esmalte em forma de campânula e a papila dentária subjacen- te apresentam-se circundados pela orga- nização periférica do ectomesênquima, de- licadamente capsular, denominando-se folículo ou saco dentário. Esta forma de organização objetiva dar origem ao periodonto de sustentação: cemento, li- gamento periodontal e osso alveolar fasciculado. O germe dentário têm 3 partes dis- tintas: o órgão do esmalte, a papila dentária e o folículo dentário, como está evidenciado na figura 2. O germe dentá- rio por apresentar um exuberante com- ponente epitelial ou órgão do esmalte tem elevada concentração de Fator de Cresci- mento Epidérmico ou Epitelial (EGF). Este mediador celular estimula vários fenômenos, mas ao interagir com recep- tores de células ósseas estimula a osteoclasia periférica. Após a lâmina dentária dar origem aos germes dentários ocorre sua frag- mentação por apoptose e simultanea- mente ocorre a ossificação intramembra- nosa da maxila e mandíbula. Neste pro- cesso de ossificação há o “respeito” ou a circunscrição dos germes dentários, ge- rando-se as criptas ósseas, pois a pre- sença significante de EGF impede a pro- ximidade do tecido ósseo com os elemen- tos estruturais do germe dentário como na figura 1 e 4A. O INÍCIO DA FORMAÇÃO DA RAIZ Uma vez completada a formação da coroa, a porção mais cervical do órgão do esmalte ou alça cervical, a partir do colabamento de seus epitélios externo e interno, formam a bainha epitelial de Hertwig como se vê na figura 2. Quem induzia a formação da dentina coroná- ria era o epitélio interno do órgão do esmalte; a indução à formação da dentina radicular será feita pela cama- da mais interna da bainha epitelial de Hertwig que pode ser destacada na fi- gura 4B e 6. Após induzir o depósito das primeiras FIGURA 1 - Corte frontal da parte média da porção cefálica de um embrião no qual pode-se observar a cavidade bucal (CB) preenchida quase totalmente pela língua (L) e delimitada superiormente pelo pa- lato secundário (P) que a separa da cavi- dade nasal (CN). As setas pequenas es- tão apontando os núcleos de ossificação da mandíbula, inclusive com a cartilagem de Meckel (M). Nas quatro futuras cristas alveolares (*) observam-se a lâmina den- tária (LD) e duas fases diferentes da odon- togênese: botão (B), com concentração periférica de células ectomesenquimais para dar origem à papila dentária, e campânula (C) com órgão do esmalte em forma de sino envolvendo a maior parte da papila dentária (PD). FIGURA 2 - Germe dentário e seus três elementos constituintes: o órgão do esmalte (OE), a papila dentária (PD) e o folículo dentário (FD) circundando e delimitando-o em relação ao tecido ósseo primário (TO) perifericamente localizado a constituir a futura cripta dentária. O germe dentário ainda se comunica com o ectoderma (E) de re- vestimento da boca primitiva via lâmi- na dentária (LD). FIGURA 3 - Esquema demonstrativo da configuração espacial tridimensional do órgão do esmalte numa visão infero-superior considerando-o como parte de um germe dentário inferior, tal qual no corte microscópico obser- vado na figura 4. Observa-se a loja onde se acomoda a porção coronária da papila dentária (*) e a ligação do órgão do esmalte com o ectoderma (E) pela lâmina dentária ainda não fragmentada (seta). camadas da dentina radicular e antes de se fragmentar, a bainha epitelial de Hertwig deposita uma fina camada de proteínas semelhantes ao esmalte de apro- ximadamente 10 micrometros de espes- FIGURA 4 - Na radiografia panorâmica destaca-se nas imagens das criptas ósseas o germe dentário do segundo molar inferior com formação completa do esmalte (*). Da mesma forma, na peça cirúrgica em B, pode-se delinear a junção amelocementária (setas vazias) e uma discreta faixa de tecido radicular formado. A papila dentária (PD) está exuberante e ocupando o espaço mais apical e interno do germe dentário. Delicadamente, nota-se uma discreta faixa ressaltada pelo reflexo luminoso da fotografia correspondente à bainha epitelial de Hertwig (setas cheias) A B sura, também denominada cemento in- termediário ou afibrilar. Estas proteínas são importantes na indução à diferencia- ção dos futuros cementoblastos e da ce- mentogênese por parte das célu- R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 26 las do folículo dentário, as mais próximas da papila dentária. Os restos da fragmentação da bai- nha epitelial de Hertwig dão origem aos restos epiteliais de Malassez, estruturas importantíssimas na manutenção do espaço periodontal pela presença fre- qüente de EGF no ligamento periodon- tal, evitando a anquilose alveolodentá- ria e subseqüente reabsorção dentária por substituição. MORFOLOGIA ESPACIAL DA PAPILA DENTÁRIA A papila dentária, independentemente da fase de formação da raiz dentária, tem a forma de um botão, uma verdadeira “es- ponja” esférica de tecido mole localizada na extremidaderadicular em dentes com rizogênese incompleta como no dente da figura 4 e 5. A papila dentária “encaixa” a sua porção mais coronária no compartimen- to pulpar delimitado pela dentina recém depositada cujo término tem a forma de bisel no qual se continua ou se “pendu- ra” a porção mais apical da bainha epitelial de Hertwig como está demons- trado na figura 5, 6 e 7. Desta forma, na porção lateral e externa da papila dentá- ria, uma pequena faixa está “revestida” pela bainha epitelial de Hertwig como na figura 4. Na porção mais apical da papila dentá- ria ou externamente voltada para o folículo dentário, sua superfície é regular tal qual nas figuras 4 e 5. O folículo dentário como se nota nas figuras 6 e 7 está formado por tecido ectomesenquimal pobre em fibras, rico em matriz extracelular e ricamente vascularizado. A nutrição sangüínea da papila den- tária advém dos espaços ósseos vizinhos, um vaso sangüíneo principal chega à papila dentária via folículo pericoronário e será o responsável pelo suprimento sangüíneo da futura polpa dentária como está demonstrado na figura 7. Outra ori- gem muito importante de nutrição para as células da papila dentária vem de sua ampla interface com o folículo dentário que através de vasos menores em grande número e da embebição plasmática, su- prem-na exuberantemente. FIGURA 5 - Papilas dentárias (*) em dente com rizogênese incompleta e determinação da trifurcação radicular. Na radiografia periapical, o dente com rizogênese incompleta destaca- se pelo amplo espaço apical ocupado pelo exuberante tecido embrionário da papila dentária e folículo dentário (*). A papila dentária tem sua porção coronária delicadamente delineada pela dentina recém depositada em cujas bordas em forma de bisel se fixa a bainha epitelial de Hertwig (setas vazias). A linha radiopaca delineadora da papila dentária e do folículo dentário na região apical se continua lateralmente como cortical óssea alveolar (CA) e na região do esmalte como demarcadora dos limites do folículo pericoronário (FP). FIGURA 6 - Dente com rizogênese incompleta com amplo espaço periapical preenchido por tecido mole e circundado por osso alveolar (OA) em formação. Em B, o maior aumento evidencia a polpa dentária (PD), o ligamento periodontal (LP), a dentina recém depositada (D), a bainha epitelial de Hertwig (setas), o folículo dentário (FD) e o osso alveolar (OA). rio em formação com a papila dentá- ria (PD) delineada pela bainha de Hertwig (setas vazias) “pendurada” na dentina recém depositada (D) com forma de bisel e pelo folículo dentário (FD). Na vizinhança do ápice em for- mação, têm-se o osso alveolar (OA) apical em organização. Advindo do osso alveolar apical, nota-se um fei- xe vascular principal (setas cheias) que nutre a papila e folículo dentário, além de numerosos outros vasos me- nores coadjuvantes. Comparando-se com o ligamento periodontal lateral (LP), destaca-se o baixo grau de den- sidade de fibrosamento da papila e do folículo dentário. FIGURA 7 - Em A e B observa-se den- tes em estádios diferentes de rizogênese, destacando-se o amplo espaço apical (*) correspondente à papila dentária e ao folículo dentário. Em C e D, destaca-se o ápice dentá- R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 27 A FORMAÇÃO DO TERÇO API- CAL DA RAIZ DENTÁRIA A formação da raiz depende da papila dentária e sua atividade da relação morfofuncional com a bainha de Hertwig e com o folículo pericoronário. Este con- junto formado por estas três estruturas responsáveis pela formação da raiz tam- bém foi denominado de “órgão forma- dor da raiz dentária” evidenciado nas fi- guras 6 e 7. A raiz vai se formando e o dente irrompendo até atingir o plano oclusal e constatar seu antagonista. Quando o den- te atinge o plano oclusal em geral ainda está para formar o terço apical. A forma- ção do terço apical não se faz às custas do espaço obtido no alvéolo com o movimen- to da erupção dentária e sim às custas do tecido ósseo apical localizado. Provavel- mente esta osteoclasia apical se faz pela proliferação continuada da bainha epitelial de Hertwig que ao aproximar-se do osso apical, eleva a quantidade de EGF, estimulando-a. Estes fenômenos celulares e teciduais envolvidos na formação do terço apical geram forças intrínsecas e podem gerar deformações de citoesqueleto e modifi- cação dos calibres vasculares. Soma-se a estes efeitos, uma provável aceleração da apoptose na fase terminal da rizogê- nese na bainha epitelial de Hertwig. O somatório destes fenômenos levaria ao fechamento do ápice dentário pela dife- renciação final dos tecidos embrionários e determinação do comprimento final do dente. RESPONDENDO ÀS PERGUNTAS E REVENDO A LITERATURA Nesta revisão sobre o efeito da mo- vimentação dentária induzida em den- tes com rizogênese incompleta, procu- rou-se resgatar todos os artigos que tra- tassem do assunto no idioma inglês, en- contrando-se dois trabalhos: uma tese de ROSENBERG2 defendida em 1972 e um artigo de pesquisa clínica e radio- gráfica publicado por HENDRIX et al.1 em 1994. Dentes com rizogênese incom- pleta quando movimentados or- todonticamente apresentam maior índice ou risco de reab- sorção dentária? A reabsorção óssea no periodonto la- teral e apical durante o movimento dentário induzido por aparelhos orto- dônticos depende da pressão exercida sobre os vasos sanguíneos com dimi- nuição do seu calibre e redução do flu- xo sangüíneo, promovendo isquemia. Esta isquemia pode levar a áreas de necrose e hialinas com morte focal dos cementoblastos, fenômenos envolvidos na iniciação das reabsorções dentárias. Também depende da compressão celu- lar e deformação do citoesqueleto, pro- movendo o estresse celular e conse- qüente liberação de mediadores locais da osteoclasia. A papila dentária, espacialmente, representa um botão ou uma “espon- ja” de tecido mole como explicamos nos tópicos anteriores (figs. 4 e 5). Sua nutrição advém de um vaso principal de origem óssea, de vasos menores e numerosos do folículo dentário e tam- bém da rica matriz extracelular pobre em fibras dos tecidos vizinhos e em- brionários embebendo-a com o líquido intersticial (fig. 7). As forças geradas na movimenta- ção dentária induzida em dentes com rizogênese incompleta, dificilmente pro- moverão colabamento de vasos e isquemia na área. A papila dentária e tecidos vizinhos são moles, ocupam uma grande área como se nota nas ra- diografias das figuras 7 e 8, não sendo comprimidos contra o osso apical loca- lizado à distância se comparado com o osso alveolar no ligamento periodontal completamente formado (figs. 6 e 7). Não haverá de ocorrer necrose e áreas hialinas na região apical, muito menos morte dos cementoblastos recém esta- belecidos. Da mesma forma, estas for- ças não promoverão compressão e de- formação do citoesqueleto significan- tes a ponto de gerar estresse celular e níveis elevados de mediadores locais de osteoclasia. Considerando a forma espacial de or- ganização dos tecidos apicais durante a rizogênese incompleta, a sua estruturação, a sua irrigação e relações com as áreas vi- zinhas, não há fundamentação biológica para acreditar em um maior risco ou índice de reabsorção dentária quando os dentes com rizogênese incompleta forem movi- mentados ortodonticamente, se comparar- FIGURA 8 - No terço apical dos dentes com rizogênese incompleta o grande espaço radiolúcido apical semi-esférico (*) representa a papila dentária contor- nada pelo folículo dentário, como nos incisivos em A. Em B, comparativamente, os ápices completamente formados são contornados pelo espaço periodontal com 200 a 400 micrometros da espessura (setas). O ligamento periodontal tem a forma de uma fina membrana de tecido conjuntivo fibroso, muito menos es- pesso do que o espaço da papila dentária e folículodentário que juntos formam uma verdadeira “esponja” de tecido mole no ápice dentário em formação. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 28 mos com dentes com raízes completa- mente formadas como na figura 8. Em sua tese de mestrado, ROSENBERG2 observou que dentes hu- manos com rizogênese incompleta mo- vimentados ortodonticamente apresen- tavam comprimento ligeiramente maior quando comparados com o grupo de dentes com raízes completamente for- madas. O menor comprimento obser- vado nos dentes completamente forma- dos e movimentados foi atribuído à reab- sorção dentária apical. Para ROSENBERG2 a presença da papila den- tária seria um fator de proteção contra a reabsorção dentária apical quando da movimentação dentária induzida. Os dados da tese de ROSENBERG2 funda- mentam clinicamente as explicações bi- ológicas descritas neste trabalho. Dentes com rizogênese incomple- ta quando movimentados podem apresentar raízes mais curtas? Na formação do terço apical, como se descreveu no tópico anterior, o espa- ço necessário se faz às custas do osso e isso levaria a uma discreta e continuada compressão dos elementos vasculares e celulares, induzindo a diferenciação e maturação mais rápida da papila den- tária e do folículo dentário, contribuindo para o término da formação radicular. Se considerarmos a forma espacial de organização dos tecidos apicais durante a rizogênese incompleta, sua estruturação, sua irrigação e relações com as áreas vizi- nhas, para ocorrer o colabamento dos va- sos e a isquemia da papila dentária e do folículo dentário, a força aplicada deve ser intensa. Uma vez aplicadas, estas forças levariam ao encurtamento do dente, e ain- da assim o risco de reabsorção dentária apical não estaria presente. Em seu trabalho descrito em 1994, HENDRIX et al.1 compararam grupos de dentes humanos, caninos e pré-molares, movimentados ortodonticamente, divi- dindo-os em: com rizogênese incomple- ta e com raízes formadas. Observaram que nos dentes com rizogênese incom- pleta houve um encurtamento menor das raízes quando comparados com os den- tes com raízes completas. Atribuíram seus resultados a uma ação “protetora” da papila dentária, levando ao fechamento precoce do ápice radicular, mas não fun- damentou biologicamente sua explicação. Dentes com rizogênese incomple- ta podem ser movimentados or- todonticamente? Sim, desde que as forças aplicadas sejam de baixa ou média intensidade e visem obter movimentos dentários em tempo adequado. Nesta situação, é pos- sível que as alterações vasculares, teciduais e celulares não interfiram na formação do terço apical a ponto de al- terar o comprimento original do dente movimentado, muito menos aumenta- rá o risco de reabsorção radicular, pelo contrário, diminuirá a possibilidade de sua ocorrência. Quando forças forem aplicadas sobre dentes com rizogênese incompleta pode até ocorrer um encur- tamento em relação ao que seria o com- primento original do dente, pois a redu- ção do suprimento sangüíneo pode le- var a uma maturação precoce da papila em polpa dentária e do folículo dentário apical em ligamento periodontal. O tér- mino apical se fará mais precocemente. AS RAZÕES DA PSEUDOCON- TROVÉRSIA: RIZOGÊNESE IN- COMPLETA VERSUS MOVIMEN- TAÇÃO DENTÁRIA A inter-relação entre os assuntos en- volvendo movimentação dentária induzida e reabsorções dentárias em dentes com rizogênese incompleta foi muito pouco explorada na literatura. Os freqüentes questionamentos advêm da falta de integração interdisciplinar. A compreensão da odontogênese e mais especificamente da rizogênese permiti- ria compreender biologicamente o com- portamento de dentes com rizogênese incompleta movimentados ortodontica- mente. A valorização e aplicação clínica deste conhecimento biológico são de- terminadas pelo desconhecimento de sua importância por parte de quase todos que estudam a odontogênese. Os fenômenos envolvidos na odonto- gênese e descritos no trabalho foram estabelecidos muitos anos atrás e são considerados de domínio público, por isto não se listou a grande quantidade de autores que abordam o assunto em artigos de revisão e livros textos. A interdisciplinaridade é essencial e fundamental para a integração do co- nhecimento humano. CONCLUSÃO O conhecimento da organização, es- trutura e funcionamento dos tecidos res- ponsáveis pela formação radicular per- mitem a compreensão de que forças or- todônticas não promovem maior índice ou risco de reabsorção dentária em den- tes com rizogênese incompleta. Com base nestes conhecimentos e fundamentados na literatura pode se afirmar que em mo- vimentos de dentes com rizogênese in- completa pode até ocorrer comprimen- to radicular menor, mas em função de uma maturação dos tecidos embrioná- rios da papila dentária e folículo pericoronário por fechamento e térmi- no precoce do terço apical, mas não em função de reabsorção radicular. due to unsuitable forces that cause premature maturation of the apical tissues but not due to root resorption. Key-words: Incomplete root formation; Induced tooth movement; Orthodontic tooth movement; Tooth resorption. moviment shorten their roots? Based upon the literature, as well as on the characteristics of anatomy, organization and function of the in- complete apex it can be postulated that orthodontic moviment of incom- plete teeth may shorten their roots Abstract The following study longs to answer three very common questions among orthodontists: Can teeth with incom- plete root formation be orthodontically moved? If so, is there any further risk of apical resorption? Does the R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 29 REFERÊNCIAS Pela escassez da literatura pertinen- te e sua importância clínica, na lista das referências sobre o assunto com- posta por dois trabalhos, além dos da- dos habituais para a recuperação da publicação original, incluiu-se os seus resumos respectivos. 1 - HENDRIX, C. C. et al. A radiografic study of posterior apical root resorption in orthodontic patients. Am. Am. Am. Am. Am J Orthod Dentofacial OrthopJ Orthod Dentofacial OrthopJ Orthod Dentofacial OrthopJ Orthod Dentofacial OrthopJ Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 105, no. 4, Apr. 1994. Resumo: Estudo radiográfico de reab- sorções radiculares em dentes poste- riores de pacientes submetidos a trata- mento ortodôntico. No trabalho, compararam-se dois grupos de dentes. O primeiro ou grupo A foi constituído pelos caninos e pré- molares com rizogênese incompleta e o segundo ou grupo B, formado por dentes com raízes completamente for- madas. Em ambos os grupos os den- tes foram submetidos a tratamento or- todôntico pela técnica de Edgewise para comparar os índices de reabsorções ra- dicular nos dentes posteriores. Avaliou- se secundariamente outras variáveis como gênero, tempo de tratamento, idade e terapia com e sem extração. As mensurações foram tomadas ao início e ao final do tratamento por radiogra- fias panorâmicas e as distorções devi- damente corrigidas conforme o preco- nizado por Brouwers e Carels. Os dentes com rizogênese incom- pleta não atingiram seu tamanho “nor- mal” esperado ao final do tratamento, mas ainda assim apresentavam raízes mais longas do que os dentes do Gru- po B também ao final do tratamento. O fenômeno foi explicado atribuindo- se aos dentes com raízes incompletas uma maior proteção, interrompendo o seu processo de desenvolvimento em vez de reabsorverem. Recomendou-se que os tratamentos ortodônticos sejam iniciados mais precocemente, quando as raízes ainda apresentam-se incom- pletas. Os dentes posteriores com raízes totalmente formadas desde o princípio do tratamento apresentaram reabsor- ções radiculares independentemente do gênero, idade, terapiacom ou sem ex- tração e da duração do tratamento. 2 - ROSENBERG, M. N. An evaluation of the incidence and amount of apical root resorption and dilaceration occurring in orthodontically treated teeth having incompletely formed roots at the beginning of Begg treatment. Am J Orthod Dentofacial OrthopAm J Orthod Dentofacial OrthopAm J Orthod Dentofacial OrthopAm J Orthod Dentofacial OrthopAm J Orthod Dentofacial Orthop, St. Louis, v. 61, no. 5, p. 524-525, 1972. Resumo: Avaliação da prevalência e quantidade de reabsorção radicular e dilaceração ocasionadas pelo tratamento ortodôntico em dentes com rizogênese incompleta ao início do tratamento com a técnica de Begg. Determinou-se a prevalência e quantidade de reabsorção radicular em dentes com rizogênese incompleta em radiografias panorâmicas. Os pacientes foram submetidos ao tratamento ortodôntico com a técnica de Begg e quatro extrações. Todos os pacientes foram tratados pelo mesmo operador e sem história médica significante. Antes da análise estatística corrigiu-se as medidas obtidas das radiografias panorâmicas para que representassem valores normais sem distorções. Esta correção procedeu-se com a radiografia dos dentes antes da extração e comparando-as às medidas das radiografias, determinando o grau de distorção da imagem. As médias foram calculadas pela quantidade de reabsorção dentária ocorrida em cada grupo de dentes: caninos superiores, caninos inferiores, segundos pré-molares superiores, e pré-molares inferiores. Foi registrado ainda se os dentes haviam ou não atingido o tamanho normal. Calculou-se a prevalência de dilaceração tanto antes quanto após o tratamento. O valor médio de reabsorção em cada um dos grupos estudados foi insignificante, menor que 0.5mm. Apenas 6% dos dentes apresentaram reabsorção maior que 2mm. A prevalência de reabsorção neste estudo foi de 37%. Os caninos apresentaram uma prevalência significantemente maior que os pré-molares. A prevalência e a quantidade de reabsorção encontradas neste estudo não foi significantemente diferente da quantidade observada em estudos com dentes com raízes completas. Presume-se que o grau de formação radicular não afeta significantemente a prevalência ou magnitude da reabsorção radicular. Observou-se dilaceração da por- ção apical anterior ao tratamento em 25% dos dentes estudados. Apenas 8% dos dentes que apresentaram di- laceração após o tratamento não apresentavam antes do mesmo. Pode-se afirmar que estes 8% foram ocasionados pelo tratamento. Os pré-molares apresentaram uma prevalência de dilaceração signifi- cantemente maior que os caninos. Constatou-se que os dentes com rizogênese incompleta submetidos à movimentação ortodôntica atingem o seu tamanho normal e o comprimento esperado. Não se observaram efeitos adversos e significantes que contra- indiquem a movimentação ortodôntica em dentes com rizogênese incompleta. Na verdade, parece haver menos reabsorções radiculares nestes dentes do que nos dentes com raízes completamente formadas. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-30, mar./abr. 2001 30
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