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PARTE 1 FUNC¸O˜ES VETORIAIS 1.1 Introduc¸a˜o Em Ca´lculo 1, trabalhamos com func¸o˜es reais de uma varia´vel real, i.e. func¸o˜es da forma f : Dom(f) ⊆ R → R x 7→ y = f(x). Como exemplo de func¸o˜es reais de uma varia´vel real, podemos citar f(x) = x2, x ∈ R e g(x) = √ x, x ≥ 0. Em Ca´lculo 2B trabalharemos com func¸o˜es mais gerais, que sa˜o as func¸o˜es vetoriais de va´rias varia´veis reais, as quais esta˜o definidas na pro´xima sec¸a˜o. 1.2 Func¸o˜es Vetoriais DEFINIC¸A˜O 1.2.1: Dado um conjunto Dom(F ) ⊆ Rn, uma func¸a˜o vetorial F de n varia´veis reais e´ uma correspondeˆncia, F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm, que a cada ponto X = (x1, x2, ..., xn) ∈ Dom(F ), associa um e apenas um Y = (y1, y2, ..., yn) ∈ Rm. Como de costume, o conjunto Dom(F ) e´ chamado de domı´nio da func¸a˜o F . No caso de func¸o˜es vetoriais F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm, temos que existem, e sa˜o u´nicas, m func¸o˜es reais de n varia´veis reais, fi : Dom(F ) ⊆ Rn → R, i = 1, ..., n, tais que para todo X ∈ Dom(F ), F (X) = (f1(X), f2(X), ..., fm(X)). Estas func¸o˜es sa˜o chamadas de func¸o˜es coordenadas de F ou func¸o˜es componentes de F . Desta forma, representamos a func¸a˜o F como F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm X = (x1, x2, ..., xn) 7→ F (X) = (f1(X), f2(X), ..., fm(X)). 1 Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 2 Como exemplo de func¸a˜o vetorial de uma varia´vel real podemos citar F (t) = (cos t , sen t), t ∈ R e como exemplo de func¸a˜o vetorial de va´rias varia´veis reais, podemos citar F (x, y) = (√ x2 + y2 , xy , x+ y ) , (x, y) ∈ R2. Observac¸a˜o 1.2.1: Um ponto ou vetor X ∈ Rn pode ser representado tanto na hori- zontal quanto na vertical. Isto e´, X = (x1, x2, ..., xn) ou X = x1 x2 : xn . Em relac¸a˜o ao domı´nio da func¸a˜o F temos um importante comenta´rio a fazer. Conti- nuaremos aqui abusando da linguagem, tal como fizemos em Ca´lculo 1. Isto e´, quando a func¸a˜o F for dada por sua expressa˜o e fizermos a pergunta: “qual e´ o domı´nio da func¸a˜o F?” Estaremos de fato perguntando: “qual e´ o maior subconjunto de Rn no qual F esta´ bem definida?”, ou seja, “qual e´ o maior subconjunto de Rn no qual todas as m expresso˜es dadas por fi(X), i = 1, ...,m, esta˜o bem definidas?” Desta forma, podemos ver que chamando de Di o maior subconjunto de Rn no qual a expressa˜o dada por fi(X) esta´ bem definida, o domı´nio da func¸a˜o F e´ a intersec¸a˜o de todos os Di, i = 1, ...,m, i.e. Dom(F ) = ⋂m i=1Di. Confira os exemplos abaixo. Exemplo 1.2.1: Determine e esboce o domı´nio da func¸a˜o F (x, y) = ( 1√ y , 1√−x ) . Soluc¸a˜o: Neste caso, temos que f1(x, y) = 1√ y e f2(x, y) = 1√−x . Portanto, D1 = {(x, y) ∈ R 2 | y > 0} e D2 = {(x, y) ∈ R2 |x < 0}, de modo que Dom(F ) = {(x, y) ∈ R2 |x2 + y2 < 1, y > 0 e x < 0}. Na figura ao lado temos um esboc¸o de Dom(F ) (em amarelo). y x ♥ Exemplo 1.2.2: Determine e esboce o domı´nio da func¸a˜o F (x, y) = ( 1√ 1− (x2 + y2) , x y , y x ) . Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 3 Soluc¸a˜o: Neste caso, temos que f1(x, y) = 1√ 1− (x2 + y2) , f2(x, y) = x y e f3(x, y) = y x . Portanto, D1 = {(x, y) ∈ R2 |x2+y2 < 1}, D2 = {(x, y) ∈ R2 | y 6= 0} e D3 = {(x, y) ∈ R2 |x 6= 0}, de modo que Dom(F ) = {(x, y) ∈ R2 |x2 + y2 < 1, y 6= 0 e x 6= 0}. Na figura ao lado temos um esboc¸o de Dom(F ) (em verde). 1–1 y x ♥ A seguir apresentamos os conceitos de imagem, gra´fico e conjunto de n´ıvel de func¸o˜es vetoriais de va´rias varia´veis reais. Dada a func¸a˜o F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm, definimos os seguintes conjuntos • Imagem de F : Im(F ) = {F (X) ∈ Rm |X ∈ Dom(F )}. • Gra´fico de F : G(F ) = {(X,F (X)) ∈ Rn+m |X ∈ Dom(F )}. • Conjunto de Nı´vel K de F : dado K ∈ Im(F ), CK(F ) = {X ∈ Dom(F ) |F (X) = K}. Observac¸a˜o 1.2.2: Em Ca´lculo I, a visualizac¸a˜o dos gra´ficos ajudavam em muito a compreensa˜o das func¸o˜es reais de uma varia´vel real, que eram nossa mate´ria prima. Em tempo, lembre-se que dada uma func¸a˜o f : Dom(f) ⊆ R → R, seu gra´fico e´ o subconjunto de R2 dado por G(f) = {(x, f(x)) ∈ R2 |x ∈ Dom(f)}. Aqui em Ca´lculo 2, a visualizac¸a˜o deste conjunto de pares ordenados (X,F (X)), X ∈ Dom(F ), que constituem o gra´fico da func¸a˜o F , continuara˜o de grande valia para um melhor en- tendimento das func¸o˜es. Entretanto, vale a pena ressaltar que tal visualizac¸a˜o apenas sera´ poss´ıvel se n+m ≤ 3. Observac¸a˜o 1.2.3: Em Ca´lculo I, na˜o fazia sentido esboc¸ar nem domı´nio, nem ima- gem de func¸a˜o reais de uma varia´vel real, pois tais conjuntos seriam simplesmente subconjuntos da reta. Aqui em Ca´lculo 2B, ale´m de esboc¸ar o domı´nio (nos casos em que n ≥ 2, como nos Exemplos 1.2.1 e 1.2.2 anteriores), vamos ter interesse em esboc¸ar imagens (nos casos em que m ≥ 2, como nos Exemplos 1.2.3 e 1.2.6 a seguir) e conjuntos de n´ıvel (nos casos em que n ≥ 2, como no Exemplo 1.2.5 a seguir). Agora faremos alguns exemplos utilizando os conceitos vistos anteriormente. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 4 Exemplo 1.2.3: Determine e esboce a imagem da func¸a˜o F (t) = (t, t2), t ≥ 0. Soluc¸a˜o: Temos que a imagem de F e´ o conjunto Im(F ) = {(t, t2) ∈ R2 | t ≥ 0}. Observe que x = t e y = t2, de modo que a imagem da func¸a˜o F e´ a parte da para´bola y = x2, com x ≥ 0 (figura ao lado). y x ♥ Exemplo 1.2.4: Determine e esboce o gra´fico da func¸a˜o f(x, y) = √ x2 + y2, (x, y) ∈ R2. Soluc¸a˜o: Temos que o gra´fico de f e´ o conjunto G(f) = {(x, y, √ x2 + y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Observe que z = √ x2 + y2, de modo que o gra´fico da func¸a˜o f e´ o semicone z = √ x2 + y2, com z ≥ 0 (figura ao lado). x y z ♥ Exemplo 1.2.5: Determine e esboce o conjunto de n´ıvel (1,0) da func¸a˜o F (x, y, z) = (x+ y + z , z), (x, y, z) ∈ R3. Soluc¸a˜o: Temos que conjunto de n´ıvel (1,0) de F e´ o conjunto C(1,0)(F ) = {(x, y, z) ∈ R3 |x+y+z = 1 e z = 0}, que consiste da intersec¸a˜o do plano x+ y + z = 1, com o plano z = 0, o que fornece a reta x+ y = 1 no plano xy. o conjunto de n´ıvel (1, 0) de F esta´ esboc¸ado na figura ao lado. x y z ♥ Exemplo 1.2.6: Determine e esboce o gra´fico da func¸a˜o F (t) = (t, t2), t ∈ R. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 5 Soluc¸a˜o: Temos que o gra´fico de F e´ o conjunto G(F ) = {(t, t, t2) ∈ R3 | ∈ R}. Observe que x = t, y = t e z = t2, de modo que o gra´fico da func¸a˜o F e´ a intersec¸a˜o do plano x = y com o cilindro z = y2 (ou z = x2) (figura ao lado). x y z ♥ Exemplo 1.2.7: Determine e esboce a imagem da func¸a˜o F (t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, 2pi]. Soluc¸a˜o: Temos que a imagem de F e´ o conjunto dado por Im(F ) = {(cos t, sen t) ∈ R2 | t ∈ [0, 2pi]}. Para esboc¸ar este conjunto, observe inicialmente que como x(t) = cos t e y(t) = sen t, temos que x2(t) + y2(t) = 1. Portanto, todos os pontos da imagem desta func¸a˜o esta˜o contidos na circunfereˆncia x2 + y2 = 1. Agora veremos que as equac¸o˜es acima repre- sentam na˜o apenas alguns pontos da circunfereˆncia, mas sim todos os pontos da mesma. De fato, considere a circunfereˆncia de raio 1 e centro na origem esboc¸ada ao lado. Neste caso, e´ fa´cil ver que x = x(t) = cos t, t ∈ [0, 2pi], y = y(t) = sen t, onde t e´ o aˆngulo central indicado. Observe que quando t varia de 0 a 2pi, o ponto P = (x, y) parte do ponto (1, 0) e completa a volta ao longo da circunfereˆncia no sentido anti-hora´rio. y x P=(x,y)y(t) x(t) t 0 Concluimos portanto que a imagem desta func¸a˜o e´ pre- cisamente a circunfereˆncia x2 + y2 = 1 (figura ao lado). 1 –1 1–1 y x Exemplo 1.2.8: Esboce o gra´fico da func¸a˜o F (t) = (cos t, sen t), t ∈ R. Ca´lculo 2B - Notas deAula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 6 Soluc¸a˜o: Temos que o gra´fico de F e´ o conjunto dado por Im(F ) = {(t, cos t, sen t) ∈ R3 | t ∈ R}. Para esboc¸ar este conjunto, observe inicialmente que sendo y(t) = cos t e z(t) = sen t, temos do Exemplo 1.2.6 acima, que y2(t) + z2(t) = 1. Ou seja, a projec¸a˜o do gra´fico de F , no plano yz, e´ a circunfereˆncia de raio 1 e centro na origem (figura abaixo a` esquerda). Desta forma, temos que as coordenadas y e z do gra´fico da func¸a˜o F esta˜o contidas no cilindro circular reto y2 + z2 = 1 (figura abaixo a` direita). 1 –1 1–1 y x x y z Ale´m disto, a varia´vel x vai aumentando conforme o valor de t vai crescendo, pois x = t. Desta forma, temos como gra´fico desta func¸a˜o, uma curva que faz uma espiral para frente, conforme o valor de t aumenta. Esta curva, semelhante a uma mola espiral, e´ chamada de he´lice. x y z ♥ Veremos agora exemplos que mostram que um mesmo conjunto pode ser apresentado como imagem de uma func¸a˜o, ou como gra´fico de outra func¸a˜o, ou ainda, como con- junto de n´ıvel de uma terceira func¸a˜o. Exemplo 1.2.9: Determine o gra´fico da func¸a˜o f : R2 → R (x, y) 7→ f(x, y) = x2 + y2. Soluc¸a˜o: Temos que o gra´fico de f e´ o conjunto G(f) = {(x, y, x2 + y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Note que z = x2 + y2, de modo que o gra´fico da func¸a˜o f e´ o parabolo´ide z = x2 + y2. ♥ Exemplo 1.2.10: Determine a imagem da func¸a˜o H : R2 → R3 (x, y) 7→ H(x, y) = (x, y, x2 + y2). Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 7 Soluc¸a˜o: Temos que a imagem de H e´ o conjunto Im(H) = {(x, y, x2 + y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Novamente vemos que z = x2+y2, de modo que a imagem da func¸a˜o H e´ o parabolo´ide z = x2 + y2. ♥ Exemplo 1.2.11: Determine o conjunto de n´ıvel 0 da func¸a˜o g : R3 → R (x, y, z) 7→ g(x, y, z) = z − (x2 + y2). Soluc¸a˜o: Temos que conjunto de n´ıvel 0 de g e´ o conjunto C0(g) = {(x, y, z) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2 e z = x2 + y2}, que equivale a C0(g) = {(x, y, x2 + y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}, que tambe´m fornece o parabolo´ide z = x2 + y2. ♥ Observe que nos treˆs exemplos acima, o conjunto pedido era dado pelo parabolo´ide z = x2+y2, esboc¸ado ao lado. Compare esta observac¸a˜o com as definic¸o˜es apresentadas abaixo. x y z DEFINIC¸A˜O 1.2.2: • Diz-se que um conjunto S ⊂ Rn+m esta´ definido explicitamente se S e´ o gra´fico em Rn+m de uma func¸a˜o F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm. • Diz-se que um conjunto S ⊂ Rm esta´ definido parametricamente se S e´ a imagem em Rm de uma func¸a˜o H : Dom(H) ⊆ Rn → Rm. • Diz-se que um conjunto S ⊂ Rn+m esta´ definido implicitamente se S e´ o conjunto de n´ıvel em Rn+m de uma func¸a˜o G : Dom(G) ⊆ Rn+m → Rm. Na pro´xima aula, vamos falar de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real e veremos mais exemplos de identificac¸a˜o e esboc¸o de imagens. Ja´ na terceira aula, vamos falar de func¸o˜es reais de va´rias varia´veis reais, de modo que veremos mais exemplos de identi- ficac¸a˜o e esboc¸o de domı´nios, conjuntos de n´ıvel e gra´ficos. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 8 1.3 Exerc´ıcios Exerc´ıcio 1.3.1: Descreva o conjunto S, onde S e´ a para´bola y = x2, x ∈ R de forma expl´ıcita, impl´ıcita e parame´trica. Resposta: Forma expl´ıcita: S e´ o gra´fico da func¸a˜o f f : R → R x 7→ f(x) = x2, isto e´, S = G(f) = {(x, x2) ∈ R2 |x ∈ R}. Forma impl´ıcita: S e´ o conjunto de n´ıvel zero da func¸a˜o g g : R2 → R (x, y) 7→ g(x, y) = y − x2, isto e´, S = C0(g) = {(x, y) ∈ R2 | y − x2 = 0}. Forma parame´trica: S e´ a imagem da func¸a˜o F F : R → R t 7→ F (t) = (t, t2), isto e´, S = Im(F ) = {(t, t2) ∈ R2 | t ∈ R}. Exerc´ıcio 1.3.2: Responda cada um dos itens a seguir. a) Defina uma func¸a˜o f1 cujo conjunto de n´ıvel 0 e´ a para´bola y = x 2 em R2. b) Defina uma func¸a˜o f2 cujo conjunto de n´ıvel 0 e´ o cilindro parabo´lico y = x 2 em R3. c) Determine e esboce o domı´nio e a imagem da func¸a˜o f3(x, y) = ( x, y, √ 1− (x2 + y2) ) . d) Determine uma func¸a˜o f4 tal que seu gra´fico e´ a imagem da func¸a˜o f3 do item (c). Resposta: a) f1 : R2 → R (x, y) 7→ f(x, y) = y − x2, b) f2 : R3 → R (x, y, z) 7→ f(x, y, z) = y − x2, Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 9 c) Temos que o domı´nio de f3 e´ o conjunto Dom(f3) = {(x, y) ∈ R2 | 1− (x2 + y2) ≥ 0} = {(x, y) ∈ R2 |x2 + y2 ≤ 1}. O domı´nio de f3 e´ portanto a circunfereˆncia de centro na origem e raio igual a 1 e seu interior (figura abaixo a` esquerda). A imagem de f3 e´ o conjunto Im(f3) = {( x, y, √ 1− (x2 + y2) ) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2 } . A imagem de f3 e´ portanto a semi-esfera de centro na origem e raio igual a 1, com z ≥ 0 (figura abaixo a` direita). 1–1 y x x y z d) f4 : Dom(f4) ⊆ R2 → R (x, y) 7→ f(x, y) =√1− (x2 + y2), onde Dom(f4) = {(x, y) ∈ R2 |x2 + y2 ≤ 1}. Observe que de fato, G(f4) = { ( x, y, √ 1− (x2 + y2) ) ∈ R3 |x ∈ R}. ♥ PARTE 2 FUNC¸O˜ES VETORIAIS DE UMA VARIA´VEL REAL 2.1 Func¸o˜es Vetoriais de Uma Varia´vel Real Vamos agora tratar de um caso particular de func¸o˜es vetoriais F : Dom(f) ⊆ Rn → Rm, que sa˜o as func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real. Neste caso, temos que n = 1, i.e. o domı´nio e´ um subconjunto de R. DEFINIC¸A˜O 2.1.1: Dado um conjunto Dom(F ) ⊆ R, uma func¸a˜o vetorial F de uma varia´vel real e´ uma correspondeˆncia, F : Dom(F ) ⊆ R → Rm, que a cada ponto t ∈ Dom(F ), associa um e apenas um Y = (y1, y2, ..., yn) ∈ Rm. Exemplo 2.1.1: Abaixo temos exemplos de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real, com m = 2 ((a) e (c)) e m = 3 ((b) e (d)). a) F1(t) = (2t, 4t), t ≥ 0. b) F2(t) = (t, 2t, 4t), t ≥ 0. c) F3(t) = (2 cos t, 3 sen t), t ∈ [0, 2pi]. d) F4(t) = (cos t, sen t, t), t ≥ 0. 2.2 Operac¸o˜es com Func¸o˜es Vetoriais de Uma Vari- a´vel Real Definiremos a seguir as usuais operac¸o˜es de soma, diferenc¸a, e produto por escalar entre func¸o˜es vetoriais, da mesma forma que fizemos para func¸o˜es reais. Ale´m disso, definiremos novas operac¸o˜es, conforme pode ser visto na definic¸a˜o a seguir. 10 Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 11 DEFINIC¸A˜O 2.2.1: Considere as func¸o˜es F,G : D ⊆ R → Rm e f : D ⊆ R → R e a constante k ∈ R. Neste caso, definimos as seguintes func¸o˜es: a) a func¸a˜o F +G : D ⊆ R→ Rm, chamada de soma de F e G, dada por (F +G)(t) = F (t) +G(t),∀ t ∈ D; b) a func¸a˜o F −G : D ⊆ R→ Rm, chamada de diferenc¸a entre F e G, dada por (F −G)(t) = F (t)−G(t), ∀ t ∈ D; c) a func¸a˜o kF : D ⊆ R→ Rm, chamada de produto de F pela constante k, dada por (kF )(t) = kF (t),∀ t ∈ D; d) a func¸a˜o fF : D ⊆ R→ Rm, chamada de produto de F pela func¸a˜o escalar f , dada por (fF )(t) = f(t)F (t),∀ t ∈ D; e) se f(t) 6= 0, ∀t ∈ D, a func¸a˜o F f : D ⊆ R → Rm, chamada de quociente de F pela func¸a˜o escalar f , dada por ( F f ) (t) = F (t) f(t) , ∀ t ∈ D; f) a func¸a˜o F.G : D ⊆ R→ R, chamada de produto escalar de F e G, dada por (F.G)(t) = F (t).G(t),∀ t ∈ D; g) se m = 3, a func¸a˜o F × G : D ⊆ R → R3, chamada de produto vetorial de F e G, dada por (F ×G)(t) = F (t)×G(t), ∀ t ∈ D. Exemplo 2.2.1: Sabendo que f(t) = sen t, F (t) = (t, et, t2) e G(t) = (t, 1, t3), calcule: (a) F +G (b) 2F (c) fF (d) F.G (e) F ×G. Soluc¸a˜o: a) (F +G)(t) = F (t) +G(t) = (t, et, t2) + (t, 1, t3) = (2t, 1 + et, t2 + t3); b) (2F )(t) = 2F (t) = 2(t, et, t2) = (2t, 2et, 2t2); c) (fF )(t) = f(t)F (t) = sen t (t, et, t2) = (t sen t, et sen t, t2 sen t); d) (F.G)(t) = F (t).G(t) = (t, et, t2).(t, 1, t3) = t2 + et + t5; e) (F ×G)(t) = F (t)×G(t) = ∣∣∣∣∣∣ ~i ~j ~k t et t2 t 1 t3 ∣∣∣∣∣∣ = (t3et − t2, t3 − t4, t− tet). ♥ Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise2011-2 12 2.3 Ca´lculo com Func¸o˜es Vetoriais de Uma Varia´vel Real Veremos agora os conceito de limite, continuidade e derivada de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real. Iniciaremos com a definic¸a˜o de limite. A noc¸a˜o limite de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real naturalmente conserva a ide´ia de limite vista em Ca´lculo 1, onde apenas e´ preciso fazer o devido ajuste das distaˆncias envolvidas. Lembre-se que se ~v = (v1, v2, ..., vm) e ~u = (u1, u2, ..., um) sa˜o dois vetores em Rm, a distaˆncia entre ~v e ~u e´ dada por ||~v − ~u|| = √ (v1 − u1)2 + (v2 − u2)2 + ...+ (vm − um)2, onde a func¸a˜o || . || : Rm → R e´ chamada de norma. Observe ainda que ||~v|| = √ v21 + v 2 2 + ...+ v 2 m = √ ~v.~v. No que se segue, vamos supor que D e´ um intervalo ou uma unia˜o finita de intervalos. DEFINIC¸A˜O 2.3.1: (Limite) Seja F a func¸a˜o vetorial F : D ⊆ R→ Rm. Suponha que F esta´ definida em um intervalo aberto contendo o ponto t0 (exceto possivelmente no pro´prio ponto t = t0). Dizemos que F (t) tende a L, L ∈ R, quando t tende a t0, cuja notac¸a˜o e´ lim t→t0 F (t) = L, se para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que, 0 < |t− t0| < δ ⇒ ||F (t)− L|| < ε. Observe que para F (t) = (f1(t), f2(t), ..., fm(t)) e L = (l1, ..., lm), temos que ||F (t)− L|| = √ (f1(t)− l1)2 + (f2(t)− l2)2 + ...+ (fm(t)− lm)2. Sendo assim, e´ fa´cil verificar que lim t→t0 F (t) = L se e somente se lim t→t0 fi(t) = li, para todo i = 1, ...,m. Confira o teorema a seguir. TEOREMA 2.3.1: Seja F a func¸a˜o vetorial F : D ⊆ R → Rm t 7→ F (t) = (f1(t), f2(t), ..., fm(t)). e seja L = (l1, l2, ..., lm). Suponha que F esta´ definida em um intervalo aberto contendo o ponto t0 (exceto possivelmente no pro´prio ponto t = t0). Enta˜o, temos que lim t→t0 F (t) = L⇐⇒ lim t→t0 fi(t) = li, i = 1, ...m. Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 13 Portanto, pelo teorema acima, temos que “ O limite de F , quando t tende a t0, existe e e´ igual a L = (l1, l2, . . . , lm) se e somente se o limite de todas as suas func¸o˜es coordenadas fi, i = 1, ...m, quando t tende a t0, existem e sa˜o iguais a li, i = 1, ...m, respectivamente.” Exemplo 2.3.1: Calcule lim t→0 ( sen t t , 1− cos t t ) . Soluc¸a˜o: De acordo com o teorema anterior, como lim t→0 sen t t = 1 e lim t→0 1− cos t t = 0, temos que lim t→0 ( sen t t , 1− cos t t ) = ( lim t→0 sen t t , lim t→0 1− cos t t ) = (1, 0) . ♥ As propriedades de limite conhecidas continuam va´lidas, acrescidas agora de pro- priedades envolvendo os produtos escalar e vetorial e a norma em Rm (em lugar do mo´dulo). TEOREMA 2.3.2: (Propriedades de Limite) Considere as func¸o˜es F,G : D ⊆ R → Rm e f : D ⊆ R → R, tais que limt→t0 F (t) = L, limt→t0 G(t) = M e limt→t0 f(t) = k. Neste caso, temos que a) limt→t0(F ±G)(t) = L±M b) limt→t0(fF )(t) = kL c) limt→t0 ( F f ) (t) = L k , se k 6= 0 d) limt→t0 ||F (t)|| = ||L|| e) limt→t0(F.G)(t) = L.M f) caso m = 3, limt→t0(F ×G)(t) = L×M Observac¸a˜o 2.3.1: Caso o ponto t0 ∈ D seja um extremo de intervalo, temos os con- ceitos de limites laterais, cujas definic¸o˜es sa˜o adaptac¸o˜es naturais da Definic¸a˜o 2.3.1 e cujas notac¸o˜es sa˜o as usuais. Ale´m disso, os Teoremas 2.3.1 e 2.3.2 permanecem va´lidos se t0 ∈ D for um extremo de intervalo. Vejamos agora os conceito de continuidade de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real. Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 14 DEFINIC¸A˜O 2.3.2: (Continuidade) Seja F a func¸a˜o vetorial F : D ⊆ R→ Rm e seja t0 ∈ I(aberto) ⊆ D. Dizemos que F e´ cont´ınua no ponto t0, se lim t→t0 F (t) = F (t0). Observac¸a˜o 2.3.2: Caso o ponto t0 ∈ D seja um extremo de intervalo, o limite uti- lizado e´ um limite lateral apropriado. Observe que de acordo com o Teorema 2.3.1, temos que lim t→t0 F (t) = F (t0)⇐⇒ lim t→t0 fi(t) = fi(t0), i = 1, ...,m. Sendo assim, temos que “ F e´ cont´ınua em t0 se e somente se todas as suas func¸o˜es coordenadas sa˜o cont´ınuas em t0.” Dizemos ainda que F e´ cont´ınua em um intervalo B ⊂ D se F e´ cont´ınua para todo t ∈ B e dizemos simplesmente que F e´ cont´ınua se F e´ cont´ınua para todo t em seu domı´nio. Podemos agora definir formalmente o que se entende em matema´tica por uma curva, que, de uma certa forma, reflete a nossa noc¸a˜o intuitiva. Confira a definic¸a˜o abaixo. DEFINIC¸A˜O 2.3.3: (Curva) Considere a func¸a˜o vetorial F : I ⊆ R→ Rm, onde I e´ um intervalo da reta. Se F e´ uma func¸a˜o cont´ınua, chamamos sua imagem de curva. Em outras palavras, temos que “ curva e´ a imagem de uma func¸a˜o vetorial cont´ınua definida em um intervalo.” Observac¸a˜o 2.3.3: Quando estivermos nos referindo a uma curva C em Rm, imagem da func¸a˜o (cont´ınua) F : I ⊂ R→ Rm, diremos que C e´ uma curva parametrizada pela func¸a˜o F ou que F e´ uma parametrizac¸a˜o para C. Observac¸a˜o 2.3.4: Nem todo autor define curva da forma que fizemos. Em alguns livros, curva e´ definida como a pro´pria func¸a˜o vetorial cont´ınua F : I ⊂ R→ Rm e sua imagem C e´ chamada de trac¸o da curva. Optamos por definir da forma que fizemos Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 15 para o conceito coincidir com nossa noc¸a˜o intuitiva. Vamos agora passar ao conceito de derivada. DEFINIC¸A˜O 2.3.4: (Derivada) Considere a func¸a˜o F : D ⊆ R → Rm e seja t0 ∈ I(aberto) ⊆ D. Dizemos que F e´ deriva´vel em t0, se lim h→0 F (t0 + h)− F (t0) h existe. Neste caso, definimos a derivada de F em t0, denotada por F ′(t0) ou dF dt (t0), como sendo o valor deste limite. Observe que, pelo Teorema 2.3.1, temos que “ F e´ deriva´vel em t0 se e somente se suas func¸o˜es coordenadas sa˜o deriva´veis em t0 e, neste caso, F ′(t0) = (f ′1(t0), ..., f ′ m(t0)).” Exemplo 2.3.2: Calcule a derivada de F em t0 = 1, onde F (t) = (3t 2, sen t3, et 2 ). Soluc¸a˜o: Conforme observado acima, como todas as treˆs func¸o˜es coordenadas de F sa˜o deriva´veis para todo t ∈ R, temos que F ′(1) = ( (3t2)′ ∣∣ 1 , ( sen t3)′ ∣∣ 1 , (et 2 )′ ∣∣∣ 1 ) = ( 6t|1 , 3t2 cos t3 ∣∣ 1 , 2t et 2 ∣∣∣ 1 ) = (6 , 3 cos 1 , 2e) . ♥ Vamos agora a`s propriedades da derivada. TEOREMA 2.3.3: (Propriedades da Derivada) Considere as func¸o˜es F,G : D ⊆ R → Rm e f : D ⊆ R → R, todas diferencia´veis em t0 ∈ I(aberto) ⊆ D. Neste caso, temos que a) (aF ± bG)′(t0) = aF ′(t0)± bG′(t0), a, b ∈ R b) (fF )′(t0) = f ′(t0)F (t0) + f(t0)F ′(t0) c) (F.G)′(t0) = F ′(t0).G(t0) + F (t0).G′(t0) d) caso m = 3, (F ×G)′(t0) = F ′(t0)×G(t0) + F (t0)×G′(t0) Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 16 e) ||F (t0)|| ′ = (√ F (t0).F (t0) )′ = F (t0).F ′(t0) ||F (t0)|| Observac¸a˜o 2.3.6: Caso o ponto t0 ∈ D seja um extremo de intervalo, temos os conceitos de derivadas laterais, cujas definic¸o˜es sa˜o adaptac¸o˜es naturais da Definic¸a˜o 2.3.4 e cujas notac¸o˜es sa˜o as usuais. Ale´m disso, o Teorema 2.3.3 permanece va´lido se t0 ∈ D for um extremo de intervalo. Dizemos ainda que a func¸a˜o F : D ⊆ R → Rm e´ diferencia´vel ou deriva´vel se F e´ diferencia´vel para todo t0 ∈ D. 2.4 Interpretac¸a˜o Geome´trica da Derivada Considere o intervalo I ⊂ R e um ponto t0 pertence ao interior do intervalo I. Seja C uma curva no plano parametrizada pela func¸a˜o cont´ınua e injetora ~r : I ⊂ R → R2, diferencia´vel em t0. Em outras palavras, C e´ a curva imagem da func¸a˜o ~r, onde ~r e´ diferencia´vel em t0. Considere agora dois pontos P e Q em C, cujos vetores posic¸a˜o sa˜o, respectivamente, ~r (t0) e ~r (t0+h). Neste caso, −→ PQ representa o vetor ~r (t0+h)−~r (t0), que e´ um vetor sobre a reta secante a` curva C que conte´m os pontos P e Q (figuraabaixo). Observe que se h > 0, o vetor ~r (t0 + h)− ~r (t0) h , que e´ um mu´ltiplo escalar do vetor ~r (t0 + h)− ~r (t0), possui a mesma direc¸a˜o e sentido deste vetor. Ao fazermos h → 0, observamos que este vetor se aproxima de um vetor sobre a reta tangente a` curva C no ponto P . Por esta raza˜o, ~r ′(t0) e´ chamado de vetor tangente a` curva C, parametrizada por ~r, no ponto P . Confira a definic¸a˜o abaixo. Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 17 DEFINIC¸A˜O 2.4.1: (Vetor tangente unita´rio) Seja ~r e´ uma func¸a˜o cont´ınua e injetora. Dado um ponto ~r (t0) ∈ C, se ~r ′(t0) existe e e´ na˜o-nulo, definimos o vetor ~t, dado por ~t (t0) = ~r ′(t0) ||~r ′(t0)|| , como o vetor unita´rio tangente a` curva C, parametrizada por ~r, no ponto ~r (t0). DEFINIC¸A˜O 2.4.2: (Reta tangente) Seja ~r e´ uma func¸a˜o cont´ınua e injetora. Dado um ponto ~r (t0) ∈ C, se ~r ′(t0) existe e e´ na˜o-nulo, a equac¸a˜o parame´trica da reta tangente a` curva C no ponto ~r (t0) e´ dada por (x, y) = ~r (t0) + λ~r ′(t0), λ ∈ R. Exemplo 2.4.1: Determine a reta tangente a` curva C parametrizada por ~r, onde ~r (t) = (cos t, sen t), t ∈ [0, 2pi], no ponto (0,1). Soluc¸a˜o: Conforme visto, a reta tangente a` curva C parametrizada pela func¸a˜o ~r, no ponto ~r (t0), e´ dada por (x, y) = ~r (t0) + λ~r ′(t0), λ ∈ R, se ~r ′(t0) na˜o e´ nulo. No caso, temos que ~r ′(t) = (− sen t, cos t), de modo que ||~r ′(t)|| 6= 0 para todo t ∈ [0, 2pi]. Ale´m disso, temos que o ponto (0,1) corresponde a ~r (pi 2 ) . De fato, resolver a igualdade ~r (t0) = (0, 1), corresponde a resolver o sistema x(t0) = cos t0 = 0 t0 ∈ [0, 2pi], y(t0) = sen t0 = 1 cuja soluc¸a˜o e´ t0 = pi 2 . Sendo assim, temos que ~r ′(t0) = ~r ′ (pi 2 ) = ( − sen pi 2 , cos pi 2 ) = (−1, 0). Portanto, a equac¸a˜o da reta tangente pedida e´ dada por (x, y) = (0, 1) + λ(−1, 0), λ ∈ R, isto e´, (x, y) = (−λ, 1), λ ∈ R, o que corresponde a` reta y = 1. Observe que ~r so´ deixa de ser injetora nos pontos t0 = 0 e t1 = 2pi, pois ~r(0) = ~r(2pi) = (1, 0), que na˜o e´ o ponto em questa˜o no problema. Entretanto, so´ por curiosidade, observe que a derivada a` direita de ~r no ponto t0 = 0 e a derivada a` esquerda de ~r no Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 18 ponto t1 = 2pi sa˜o ambas iguais a (0, 1). ♥ Observac¸a˜o 2.4.1: Nas definic¸o˜es anteriores, pedimos que a parametrizac¸a˜o ~r fosse injetora, pois, caso contra´rio, um ponto P na curva C poderia corresponder a dois pontos t1 e t2 distintos, o que poderia gerar inconsisteˆncia, como por exemplo, dois vetores tangentes de direc¸o˜es diferentes. Com a exigeˆncia da injetividade de ~r, dado um ponto P na curva C, temos que a equac¸a˜o ~r(t0) = P fornece uma u´nica soluc¸a˜o para t0. Observac¸a˜o 2.4.2: Se C e´ uma curva no espac¸o parametrizada pela func¸a˜o ~r : I ⊂ R → R3, tanto a interpretac¸a˜o geome´trica como as definic¸o˜es anteriores continuam procedentes, apenas com a alterac¸a˜o de que na equac¸a˜o da reta tangente deve-se incluir a coordenada z, i.e. (x, y, z) = ~r (t0) + λ~r ′(t0), λ ∈ R. 2.5 Interpretac¸a˜o F´ısica da Derivada Uma raza˜o para escolher especificamente ~r ′(t) como o vetor tangente, ao inve´s de um mu´ltiplo dele, e´ que muitas vezes vamos considerar o paraˆmetro t como a varia´vel tempo e ~r (t) como sendo a representac¸a˜o da trajeto´ria de uma part´ıcula que se desloca no espac¸o ou no plano. Com esta interpretac¸a˜o, ||~r ′(t)|| e´ a definic¸a˜o natural de velocidade do movimento ao longo da trajeto´ria C descrita por ~r (t) quando t varia. O termo “velocidade” se deve ao fato de que, para h pequeno, tem-se que ||~r (t)− ~r (t+ h)|| |h| e´ aproximadamente a taxa me´dia de distaˆncia percorrida sobre o intervalo de t a t + h Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 19 (figura abaixo). Ale´m do mais, e´ fa´cil mostrar que se ~r ′(t) existe, lim h→0 ||~r (t+ h)− ~r (t)|| |h| = ||~r ′(t)||. Sendo assim, ||~r ′(t)|| e´ o limite das taxas me´dias sobre intervalos de tempo arbitraria- mente pequenos. Desta forma, a func¸a˜o real v definida por v(t) = ||~r ′(t)|| e´ chamada de velocidade escalar, e o vetor ~v, definido por ~v (t) = ~r ′(t), e´ chamado de vetor ve- locidade no ponto ~r (t). Da mesma forma, se ~v (t) e´ deriva´vel, definimos ~a (t) = ~v ′(t) como o vetor acelerac¸a˜o do movimento e a(t) = ||~a (t)|| como a intensidade da acelerac¸a˜o. Quando ~r (t) descreve a trajeto´ria de uma part´ıcula de massa constante m, enta˜o m~a (t) e´ o vetor forc¸a que atua sobre a part´ıcula e ma(t) e´ a intensidade da forc¸a que age na part´ıcula. 2.6 Exerc´ıcios Exerc´ıcio 2.6.1: Considere as func¸o˜es do Exemplo 2.1.1. Determine e esboce (se poss´ıvel) as imagens e os gra´ficos destas func¸o˜es. Soluc¸a˜o: Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 20 a) Temos que a imagem de F1 e´ o conjunto Im(F1) = {(2t, 4t) ∈ R2 | t ≥ 0}. Observe que como x = 2t e y = 4t, temos que y(t) = 2x(t), t ≥ 0. Portanto, a imagem desta func¸a˜o e´ a semi- reta (em R2) y = 2x, x ≥ 0. Uma outra forma de verificar que trata-se de uma semi-reta, e´ observar que F1(t) = (2t, 4t) = t(2, 4), t ≥ 0. Portanto, a imagem desta func¸a˜o e´ a semi-reta (em R2) que conte´m a origem e e´ paralela ao vetor (2, 4) (apenas mu´ltiplos positivos deste vetor). A imagem de F1 esta´ esboc¸ada ao lado. y x O gra´fico de F1 e´ o conjunto G(F1) = {(t, 2t, 4t) ∈ R2 | t ≥ 0}. Conforme observado no item anterior, podemos escrever o conjunto de pontos (t, 2t, 4t), t ≥ 0, como (t, 2t, 4t) = t(1, 2, 4), t ≥ 0. Portanto, a imagem desta func¸a˜o e´ a semi-reta (em R3) que conte´m a origem e e´ paralela ao vetor (1, 2, 4) (apenas mu´ltiplos positivos deste vetor). O gra´fico de F1 esta´ esboc¸ado ao lado. x y z b) Temos que a imagem de F2 e´ o conjunto Im(F2) = {(t, 2t, 4t) ∈ R3 | t ≥ 0}. Observe que a imagem de F2 coincide com o gra´fico de F1 (figura ao lado). O gra´fico de F2 e´ o conjunto G(F2) = {(t, t, 2t, 4t) ∈ R4 | t ≥ 0}. Como o gra´fico de F2 esta´ em R4, na˜o podemos esboc¸a´- lo. x y z c) Temos que a imagem de F3 e´ o conjunto Im(F3) = {(2 cos t, 3 sen t) ∈ R2 | t ∈ [0, 2pi]}. Observe que como x(t) = 2 cos t e y(t) = 3 sen t, t ∈ [0, 2pi], temos que x2(t) 4 + y2(t) 9 = 1. Portanto, todos os pontos da imagem da func¸a˜o F3 esta˜o contidos na elipse x2(t) 4 + y2(t) 9 = 1. Na˜o faremos aqui, mas e´ poss´ıvel mostrar qua as equac¸o˜es acima representam na˜o apenas alguns pontos desta elipse, mas sim, todos os pontos da mesma (figura ao lado). –3 3 2–2 y x Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 21 O gra´fico de F3 e´ o conjunto G(F3) = {(t, 2 cos t, 3 sen t) ∈ R2 | t ≥ 0}. Para esboc¸ar este conjunto, observe inicialmente que sendo y(t) = 2 cos t e z(t) = 3 sen t, temos, conforme visto acima, que x2(t) 4 + y2(t) 9 = 1. Ou seja, a projec¸a˜o do gra´fico de F3, no plano yz, e´ uma elipse. Desta forma, temos que as coordenadas y e z do gra´fico da func¸a˜o F3 esta˜o contidas no cilindro eliptico reto x2(t) 4 + y2(t) 9 = 1, x ≥ 0, pois x = t ≥ 0. Para finalizar, observe que a varia´vel x vai aumentando conforme o valor de t vai crescendo (x = t). Desta forma, temos como gra´fico da func¸a˜o F3 e´ uma curva que faz uma espiral para frente, conforme o valor de t aumenta. Este exemplo e´ seme- lhante ao Exemplo 1.2.8, onde a circunfereˆncia e´ substi- tuida por uma elipse. O gra´fico de F3 esta´ esboc¸ado na figura ao lado. x y z d) Temos que a imagem de F4 e´ o conjunto Im(F4) = {(cos t, sen t, t) ∈ Rt | t ≥ 0}. Para esboc¸ar a imagem da func¸a˜o F4, observe que ela e´ muito semelhante ao gra´ficoda func¸a˜o do Exemplo 1.2.8, onde os pontos da imagem agora pertencem ao cilindro, no plano xy, x2(t) + y2(t) = 1, z ≥ 0, pois z = t ≥ 0.. Portanto, a projec¸a˜o da imagem da func¸a˜o F4, no plano xy, e´ a circufereˆncia de centro na origem e raio igual a um. Ale´m disto, quando o valor de t vai aumentando, a varia´vel z tambe´m vai aumentando (z = t). Desta forma, temos como imagem da func¸a˜o F4, uma mola ou he´lice na vertical (figura ao lado). O gra´fico de F4 e´ o conjunto G(F4) = {(t, cos t, sen t, t) ∈ R4 | t ≥ 0}. Como o gra´fico de F4 esta´ em R4, na˜o podemos esboc¸a´- lo. x y z ♥ Exerc´ıcio 2.6.2: Obtenha a equac¸a˜o da reta tangente a` imagem da func¸a˜o F (t) = (cos t, sen t, t), t ∈ R, no ponto de sua imagem que corresponde a t = pi 2 . Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 22 Soluc¸a˜o: Observe que quando t = pi 2 , temos que F (pi 2 ) = ( cos (pi 2 ) , sen (pi 2 ) , pi 2 ) = ( 0, 1, pi 2 ) . Portanto a equac¸a˜o da reta tangente pedida e´ igual a (x, y, z) = F (pi 2 ) + λF ′ (pi 2 ) , λ ∈ R = ( 0, 1, pi 2 ) + λF ′ (pi 2 ) , λ ∈ R. Desta forma, devemos encontrar F ′ (pi 2 ) . Derivando enta˜o F e calculando F ′ (pi 2 ) , encontramos F ′(t) = x(t) = − sen t y(t) = cos t z(t) = 1 ⇒ F ′ (pi 2 ) = (−1, 0, 1) A equac¸a˜o desejada e´ enta˜o (x, y, z) = ( 1, 0, pi 2 ) + λ (−1, 0, 1) , λ ∈ R. ♥ 2.7 Apeˆndice: Uma Observac¸a˜o Interessante Sobre a Derivada Lembre-se que para uma func¸a˜o f : Dom(f) ⊆ R→ R, sua derivada em um ponto x0 pertencente a um intervalo aberto contido ne domı´nio de f , se existir, fornece o coefi- ciente linear da reta tangente ao gra´fico de f no ponto (x0, f(x0). Portanto, em Ca´lculo 1, associa´vamos a diferenciabilidade de uma func¸a˜o f a` suavidade do seu gra´fico. O que fizemos agora, na˜o foi trabalhar com o gra´fico da func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel e sim com sua imagem. Vimos uma interpretac¸a˜o geome´trica diferente para a derivada de func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel, que e´ relacionada a` sua imagem. Portanto, o fato de uma curva, imagem de uma func¸a˜o vetorial F , apresentar ou na˜o “bicos”, nada mais tem a ver com a diferenciabilidade da func¸ao vetorial F . Nos dois exemplos abaixo, ilustraremos situac¸o˜es que mostram que na˜o ha´ relac¸a˜o entre a diferenciabilidade de uma func¸a˜o vetorial e sua imagem possuir ou na˜o “bicos”. No primeiro exemplo temos um caso em que uma curva suave pode tanto ser imagem de uma func¸a˜o diferencia´vel ou na˜o e, no segundo exemplo, vemos um caso em que uma func¸a˜o diferencia´vel possui uma imagem com “bicos”. Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 23 Exemplo 2.7.1: Considere as treˆs func¸o˜es vetoriais abaixo. F1(t) = (t, t 2), F2(t) = (t 3, t6) e F3 = { (t, t2), se t ≥ 0 (t3, t6), se t < 0 . Determine e esboce a imagem destas func¸o˜es e verifique que F1 e F2 sa˜o diferencia´veis na origem, enquanto que F3 na˜o e´ diferencia´vel na origem. Soluc¸a˜o: Nos treˆs casos acima temos que y(t) = (x(t))2, de modo que a imagem das treˆs func¸o˜es e´ a para´bola y = x2, x ∈ R (figura ao lado). Quanto a` diferenciabilidade destas func¸o˜es, e´ fa´cil ver que F ′1(t) = (1, 2t) e F2(t) = (3t 2, 6t5), de modo que F ′1(0) = (1, 0) e F ′ 2(0) = (0, 0). y x0 Observe ainda que tanto F1 como F2 sa˜o diferencia´veis na origem, mas que so´ F1 possui reta tangente na origem (a reta y = 0), uma vez que F ′2(0) = (0, 0). Ja´ em relac¸a˜o a` func¸a˜o F3, temos que F ′3(t) = (1, 2t), se t < 0 6 ∃, se t = 0 (3t2, 6t5), se t < 0 , pois, o limite lim h→0 F3(h)− F3(0) h na˜o existe, uma vez que os limites laterais sa˜o diferen- tes. De fato, lim h→0+ F3(h)− F3(0) h = lim h→0+ ( h h , h2 h ) = lim h→0+ (1, h) = (1, 0) e lim h→0− F3(h)− F3(0) h = lim h→0− ( h3 h , h6 h ) = lim h→0− ( h2, h5 ) = (0, 0). ♥ Exemplo 2.7.2: Considere as func¸o˜es vetoriais G1(t) = (t, |t|) e G2(t) = (t|t|, t2), t ∈ R. Determine e esboce a imagem destas func¸o˜es e verifique que G1 na˜o e´ diferencia´vel na origem, enquanto que G2 e´ diferencia´vel na origem. Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 24 Soluc¸a˜o: Observe que G2(t) = { (−t2, t2), se t < 0 (t2, t2), se t ≥ 0 . Deste modo, temos que y(t) = { −x(t), se x < 0 x(t), se x ≥ 0 . y x0 Portanto, a imagem de G2 e´ dada por y = |x|, x ∈ R. Da mesma forma, como G1(t) = (t, |t|), ∀x ∈ R, tambe´m temos que y = |x|, x ∈ R, de modo que a imagem das duas func¸o˜es e´ igual a y = |x|, x ∈ R (figura ao lado). vamos agora estudar a diferenciabilidade destas func¸o˜es na origem. Quanto a` diferenciabilidade da func¸a˜o G1, observe que G′1(t) = (1,−1), se t < 0 6 ∃, se t = 0 (1, 1), se t < 0 , pois, lim h→0+ G1(h)−G1(0) h = lim h→0+ ( h h , h h ) = lim h→0+ (1, 1) = (1, 1) e lim h→0− G1(h)−G1(0) h = lim h→0− ( h h , −h h ) = lim h→0− (1,−1) = (1,−1). Como lim h→0− G1(h)−G1(0) h 6= lim h→0+ G1(h)−G1(0) h , temos que na˜o existe lim h→0 G1(h)−G1(0) h , o que significa que G1 na˜o e´ diferencia´vel na origem. Quanto a` diferenciabilidade da func¸a˜o G2, observe que G′2(t) = (−2t, 2t), se t < 0 (0, 0), se t = 0 (2t, 2t), se t < 0 , pois, lim h→0+ G2(h)−G2(0) h = lim h→0+ ( h2 h , h2 h ) = lim h→0+ (h, h) = (0, 0) Ca´lculo 2B - Notas de Aula(em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 25 e lim h→0− G2(h)−G2(0) h = lim h→0− ( −h 2 h , h2 h ) = lim h→0− (−h, h) = (0, 0). Como lim h→0− G2(h)−G2(0) h = (0, 0) = lim h→0+ G1(h)−G1(0) h , temos que lim h→0 G1(h)−G1(0) h = (0, 0), o que significa que G′1(0) = (0, 0). ♥ PARTE 3 FUNC¸O˜ES REAIS DE VA´RIAS VARIA´VEIS REAIS 3.1 Func¸o˜es Reais de Va´rias Varia´veis Reais Vamos agora tratar do segundo caso particular de func¸o˜es vetoriais de va´rias varia´veis reais, F : Dom(F ) ⊆ Rn → Rm, que sa˜o as func¸o˜es reais de va´rias varia´veis reais. Neste caso, temos que m = 1 e n ≥ 2, i.e. o domı´nio e´ um subconjunto de Rn, n ≥ 2, enquanto que a imagem e´ um subconjunto da reta . DEFINIC¸A˜O 3.1.1: DadoDom(f) ⊆ Rn, uma func¸a˜o real f de va´rias varia´veis reais e´ uma correspondeˆncia, f : Dom(f) ⊆ Rn → R, que a cada ponto X = (x1, x2, ..., xn) ∈ Dom(f), associa um e apenas um y = f(X) ∈ R. Exemplo 3.1.1: Abaixo temos alguns exemplos de func¸o˜es reais de va´rias varia´veis, com n = 2 ((a) e (b)) e n = 3 ((c) e (d)). a) f(x, y) = 4− (x2 + y2), (x, y) ∈ R2. b) g(x, y) = xy, (x, y) ∈ R2. c) h(x, y, z) = x+ y + z, (x, y, z) ∈ R3. d) w(x, y, z) = 1 x2 + y2 + z2 , (x, y, z) ∈ R3\{(0, 0, 0)}. Conforme ja´ mencionado, o conjunto Dom(f) e´ chamado de domı´nio da func¸a˜o f . Ale´m disso, continuaremos abusando da linguagem, conforme mencionado nas aulas anteriores. Isto e´, quando a func¸a˜o f for dada por sua expressa˜o e fizermos a pergunta: “qual e´ o domı´nio da func¸a˜o f?” Estaremos de fato perguntando: “qual e´ o maior subconjunto de Rn no qual f esta´ bem definida?”, ou seja, “qual e´ o maior subconjunto de Rn no qual a expressa˜o dada por f(X) esta´ bem definida?” 26 Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 27 3.2 Operac¸o˜es com Func¸o˜es Reais de Va´rias Varia´- veis Reais Definiremos a seguir as usuais operac¸o˜es de soma, diferenc¸a, produto e quociente, da mesma forma que fizemos para func¸o˜es reais de uma varia´vel. DEFINIC¸A˜O 3.2.1: Considere as func¸o˜es f, g : D ⊆ Rn → R e a constante k ∈ R. Neste caso, definimos as seguintesfunc¸o˜es: a) a func¸a˜o f + g : D ⊆ Rn → R, chamada de soma de f e g, dada por (f + g)(X) = f(X) + g(X),∀X ∈ D; b) a func¸a˜o f − g : D ⊆ Rn → R, chamada de diferenc¸a entre f e g, dada por (f − g)(X) = f(X)− g(X), ∀X ∈ D; c) a func¸a˜o kf : D ⊆ Rn → R, chamada de produto de f pela constante k, dada por (kf)(X) = kf(X), ∀X ∈ D; d) a func¸a˜o fg : D ⊆ Rn → R, chamada de produto de f pela func¸a˜o g, dada por (fg)(X) = f(X)g(X),∀X ∈ D; e) se g(X) 6= 0, ∀X ∈ D, a func¸a˜o f g : D ⊆ Rn → R, chamada de quociente de f pela func¸a˜o g, dada por ( f g ) (X) = f(X) g(X) ,∀X ∈ D. Vamos agora nos concentrar em func¸o˜es reais de apenas duas varia´veis reais. 3.3 Func¸o˜es Reais de Duas Varia´veis Reais Vamos trabalhar agora apenas com func¸o˜es reais de duas varia´veis reais. Isto e´, vamos trabalhar com func¸o˜es f da forma f : Dom(f) ⊆ R2 → R (x, y) 7→ f(x, y). Vamos iniciar identificando e esboc¸ando o domı´nio de algumas func¸o˜es de duas varia´veis reais. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 28 Exemplo 3.3.1: Determine e esboce o domı´nio das func¸o˜es definidas pelas expresso˜es abaixo. a) f1(x, y) = x+ y x− y . b) f2(x, y) = √ y − x+√1− y. c) f3(x, y) = 1√ x2 − y2 . d) f4(x, y) = √ x2 − y2 − 1. e) f5(x, y) = y x− 1. f) f6(x, y) = ln(xy − 1). Soluc¸a˜o: a) Neste caso, como o termo x − y aparece no denomi- nador da expressa˜o de f1, devemos ter x− y 6= 0. Desta forma, segue que Dom(f1) = {(x, y) ∈ R2 | y 6= x}. Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o e´ todo plano xy, excetuando a reta y = x (figura ao lado). y x b) Neste caso, para podermos tirar as duas raizes que aparecem na expressa˜o de f2, devemos ter y − x ≥ 0 e 1− y ≥ 0. Portanto, segue que Dom(f2) = {(x, y) ∈ R2 | y ≥ x e y ≤ 1}. Ao lado temos um esboc¸o da regia˜o determinada pelas retas y = x e y = 1. y x 1 c) Neste caso, para podermos tirar a raiz que aparece na expressa˜o de f3, devemos ter x 2 − y2 ≥ 0. Ale´m disso, como o termo √ x2 − y2 esta´ no denominador da func¸a˜o f3, e´ necessa´rio ter x 2 − y2 6= 0. Portanto, segue que Dom(f3) = {(x, y) ∈ R2 |x2 − y2 > 0}. Como x2− y2 > 0⇔ y2 < x2 ⇔ |y| < |x| ⇔ −|x| < y < |x|, temos que Dom(f3) = {(x, y) ∈ R2 | − |x| < y < |x|}. Ao lado temos um esboc¸o do domı´nio da func¸a˜o f . y x Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 29 d) Neste caso, para podermos tirar a raiz que aparece na expressa˜o de f4, devemos ter x 2− y2− 1 ≥ 0. Portanto, segue que Dom(f4) = {(x, y) ∈ R2 | x2 − y2 ≥ 1}. Ao lado temos um esboc¸o da regia˜o determinada pela hipe´rbole x2 − y2 = 1. y x1–1 e) Neste caso, como o termo x − 1 aparece no denomi- nador da expressa˜o de f5, devemos ter x− 1 6= 0. Desta forma, segue que Dom(f5) = {(x, y) ∈ R2 |x 6= 1}. Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o e´ todo plano xy, excetuando a reta x = 1 (figura ao lado). y x1 f) Neste caso, como o termo xy − 1 aparece como argu- mento do logaritmo natural na expressa˜o de f6, devemos ter xy − 1 > 0. Desta forma, segue que Dom(f6) = {(x, y) ∈ R2 |xy > 1}. Ao lado temos um esboc¸o da regia˜o determinada pela hipe´rbole xy = 1. (figura ao lado). y x ♥ 3.4 Exemplos de Func¸o˜es Reais de Duas Varia´veis Reais Veremos a seguir exemplos de alguns tipos de func¸o˜es reais de duas varia´veis reais. Exemplo 3.4.1: (Func¸a˜o Polinomial) Uma func¸a˜o polinomial de duas varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R2 → R dada por f(x, y) = ∑ m+n≤p amnx nym, onde p e´ um natural fixo e os coeficientes amn sa˜o nu´meros reais dados. A soma e´ Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 30 estendida a todas soluc¸o˜es (m,n), m e n naturais, da inequac¸a˜o m+ n ≤ p. Exemplo: f(x, y) = 2x5y2 + x2y3. Exemplo 3.4.2: (Func¸a˜o Afim) Uma func¸a˜o afim de duas varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R2 → R dada por f(x, y) = ax+ by + c, onde a, b e c sa˜o nu´meros reais dados. A func¸a˜o afim e´ um caso particular de uma func¸a˜o polinomial. Exemplo: f(x, y) = 2x+ 7y + √ 6. Exemplo 3.4.3: (Func¸a˜o Linear) Uma func¸a˜o linear de duas varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R2 → R dada por f(x, y) = ax+ by, onde a e b sa˜o nu´meros reais dados. A func¸a˜o linear e´ um caso particular de uma func¸a˜o afim. Exemplo: f(x, y) = 2x+ 2√ 3 y. Exemplo 3.4.4: (Func¸a˜o Racional) Uma func¸a˜o racional de duas varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : Dom(f) ⊆ R2 → R dada por f(x, y) = p(x, y) q(x, y) , onde p e q sa˜o func¸o˜es polinomiais dadas. Temos, neste caso, que Dom(f) = {(x, y) ∈ R3 | q(x, y) 6= 0}. Exemplo: f(x, y) = x2y2 + 7y3 xy + x . Observe que Dom(f) = {(x, y) ∈ R2 |x(y + 1) 6= 0} = {(x, y) ∈ R2 |x 6= 0 e y 6= −1} Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o e´ todo plano xy, excetuando as retas x = 0 e y = −1 (figura ao lado). y x1 3.5 Curvas de Nı´vel de Func¸o˜es Reais de Duas Varia´veis Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 31 Seja f : Dom(f) ⊆ R2 → R. Conforme ja´ sabemos, dado k ∈ Im(f), temos que o conjunto de n´ıvel da func¸a˜o f correspondente ao n´ıvel k e´ o subconjunto do domı´nio dado por Ck(f) = {(x, y) ∈ Dom(f) | f(x, y) = k}. No caso em questa˜o, que e´ o das func¸o˜es reais de duas varia´veis reais, os conjuntos de n´ıvel de f sa˜o de fato curvas, as quais sa˜o portanto chamadas de curvas de n´ıvel de f . Conforme mencionado, as curvas de n´ıvel sa˜o muito u´teis para se ter uma visa˜o do comportamento da func¸a˜o. Isto porque elas nos fornecem todos os pontos do domı´nio tais que o valor da func¸a˜o e´ constante. Desta forma, se tive´ssemos todas as curvas de n´ıvel k poder´ıamos construir o gra´fico de f “pegando”cada curva de n´ıvel de f e colocando na altura z = k. Observac¸a˜o 3.5.1: Como sabemos que f e´ constante ao longo das curvas de n´ıvel, observe que duas curvas de n´ıvel de uma func¸a˜o f correspondentes aos n´ıveis k1 e k2, onde k1 6= k2, na˜o podem se interceptar. Vamos agora fazer alguns exemplos. Exemplo 3.5.1: Determine e esboce as curvas de n´ıvel das func¸o˜es dadas abaixo. a) f1(x, y) = x+ y. b) f2(x, y) = x 2 + y2. c) f3(x, y) = y x− 1. d) f4(x, y) = ln(xy − 1). e) f5(x, y) = y 2 − x2. f) f6(x, y) = xy2 x2 + y4 . Soluc¸a˜o: a) Neste caso, observe que Dom(f1) = R2 e que Im(f1) = R. Desta forma, temos que para todo k real, o conjunto de n´ıvel k de f1 e´ dado por Ck(f1) = {(x, y) ∈ R2 |x+ y = k}, ou seja, as curvas de n´ıvel k de f1 sa˜o retas x+ y = k. Por exemplo, para k = 0, temos a reta y = −x; para k = 1, temos a reta y = −x+ 1; para k = 2, temos a reta y = −x+ 2; para k = −1, temos a reta y = −x− 1; para k = −2, temos a reta y = −x− 2. As curvas de n´ıvel de f1 encontram-se esboc¸adas abaixo. A curva de n´ıvel k = 0 esta´ Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 32 esboc¸ada em azul, as curvas de n´ıvel k > 0 esta˜o esboc¸adas em verde e as curvas de n´ıvel k < 0 esta˜o esboc¸adas em rosa. y x b) Neste caso, observe que Dom(f2) = R2 e que Im(f2) = {z ∈ R | z ≥ 0}. Desta forma, temos que para todo k ≥ 0 real, o conjunto de n´ıvel k de f2 e´ dado por Ck(f2) = {(x, y) ∈ R2 |x2 + y2 = k}. Observe que para k = 0, temos apenas o ponto (0, 0), i.e. C0(f2) = {(0, 0)}. Ja´ para k > 0, temos que as curvas de n´ıvel k > 0 de f2 sa˜o circunfereˆncias x 2 + y2 = k, i. e. circunfereˆncias de raio √ k e centro na origem. Por exemplo, para k = 1, temos a circunfereˆncia x2 + y2 = 1; para k = 2, temos a circunfereˆncia x2 + y2 = 2; para k = 3, temos a circunfereˆncia x2 + y2 = 3; para k = 4, temos a circunfereˆncia x2 + y2 = 4. As curvas de n´ıvel de f2 encontram-se esboc¸adas abaixo.A curva de n´ıvel k = 0 (a origem) esta´ esboc¸ada em azul e as curvas de n´ıvel k > 0 esta˜o esboc¸adas em verde. y x c) Neste caso, observe que Dom(f3) = {(x, y) ∈ R2 |x 6= 1} e que Im(f3) = R. Desta forma, temos que para todo k real, o conjunto de n´ıvel k de f3 e´ dado por Ck(f3) = {(x, y) ∈ Dom(f3) | y = k(x− 1)}, ou seja, as curvas de n´ıvel k de f3 sa˜o retas y = k(x− 1). Por exemplo, para k = 0, temos a reta y = 0; para k = 1, temos a reta y = x− 1; Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 33 para k = 2, temos a reta y = 2x− 2; para k = −1, temos a reta y = −x+ 1; para k = −2, temos a reta y = −2x+ 2. As curvas de n´ıvel de f3 encontram-se esboc¸adas abaixo. As curvas de n´ıvel k = 0 (semi-retas) esta˜o esboc¸adas em azul, as curvas de n´ıvel k > 0 (semi-retas) esta˜o esboc¸adas em verde e as curvas de n´ıvel k < 0 (semi-retas) esta˜o esboc¸adas em rosa. y x d) Neste caso, observe que Dom(f4) = {(x, y) ∈ R2 | xy > 1} e que Im(f4) = R. Desta forma, temos que para todo k real, o conjunto de n´ıvel k de f4 e´ dado por Ck(f4) = {(x, y) ∈ Dom(f4) | ln(xy − 1) = k}. Como ln(xy− 1) = k ⇔ xy− 1 = ek ⇔ xy = 1+ ek, temos que as curvas de n´ıvel k de f sa˜o hipe´rboles xy = 1 + ek. Por exemplo, para k = 0, temos a hipe´rbole xy = 2; para k = 1, temos a hipe´rbole xy = 1 + e; para k = 2, temos a hipe´rbole xy = 1 + e2; para k = −1, temos a hipe´rbole y = xy = 1 + 1 e ; para k = −2, temos a hipe´rbole y = xy = 1 + 1 e2 . As curvas de n´ıvel de f4 encontram-se esboc¸adas abaixo. As curvas de n´ıvel k = 0 esta˜o esboc¸adas em azul, as curvas de n´ıvel k > 0 esta˜o esboc¸adas em verde e as curvas de n´ıvel k < 0 esta˜o esboc¸adas em rosa. y x e) Neste caso, observe que Dom(f5) = R2 e que Im(f5) = R. Desta forma, temos que Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 34 para todo k real, o conjunto de n´ıvel k de f5 e´ dado por Ck(f5) = {(x, y) ∈ R2 | y2 − x2 = k}. Observe que para k = 0, temos que y2 − x2 = 0 ⇔ y2 = x2 ⇔ |y| = |x| ⇔ y = ±x, i.e. as curvas de n´ıvel zero sa˜o as retas y = x e y = −x. Ja´ para k > 0, temos que as curvas de n´ıvel k > 0 de f5 sa˜o hipe´rboles y 2 − x2 = k > 0, i. e. hipe´rboles cujos focos esta˜o no eixo y. Contudo, para k < 0, temos que as curvas de n´ıvel k < 0 de f5 sa˜o hipe´rboles y2 − x2 = k < 0, i. e. hipe´rboles cujos focos esta˜o no eixo x. Por exemplo, para k = 0, temos as retas y = x e y = −x; para k = 1, temos a hipe´rbole y2 − x2 = 1; para k = 2, temos a hipe´rbole y2 − x2 = 2; para k = −1, temos a hipe´rbole x2 − y2 = 1; para k = −2, temos a hipe´rbole x2 − y2 = 2. As curvas de n´ıvel de f5 encontram-se esboc¸adas abaixo. As curvas de n´ıvel k = 0 (retas) esta˜o esboc¸adas em azul, as curvas de n´ıvel k > 0 esta˜o esboc¸adas em verde e as curvas de n´ıvel k < 0 esta˜o esboc¸adas em rosa. y x f) Neste caso, observe que Dom(f6) = R2\{(0, 0)}. Ja´ a imagem de f6, vamos deter- minar mais tarde. Desta forma, temos que para todo k ∈ Im(f6), o conjunto de n´ıvel k de f6 e´ dado por Ck(f6) = { (x, y) ∈ Dom(f6) ∣∣∣ xy2 x2 + y4 = k } . Observe que k = 0 ∈ Im(f6), e que o conjunto de n´ıvel 0 de f6 e´ dado por C0(f6) = {(x, y) ∈ Dom(f6) |x = 0 ou y = 0}. Desenvolvendo enta˜o a igualdade xy2 x2 + y4 = k, para k 6= 0, temos que xy2 x2 + y4 = k ⇔ xy2 = kx2 + ky4 ⇔ kx2 − y2x+ ky4 = 0. Resolvendo a equac¸a˜o acima em x, segue que x = y2 ± y2√1− 4k2 2k . Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 35 De posse deste resultado, fica claro que Im(f6) = [ −1 2 , 1 2 ] . Sendo assim, para k ∈[ −1 2 , 1 2 ] , k 6= 0, temos que o conjunto de n´ıvel k de f6 e´ dado por Ck(f6) = { (x, y) ∈ Dom(f6) ∣∣∣ x = y2(1± 1√1− 4k2 2k )} , ou seja, as curvas de n´ıvel k(k 6= 0) de f6 sa˜o as para´bolas x = y2 ( 1± 1√1− 4k2 2k ) , com (x, y) 6= (0, 0). Por exemplo, para k = 1/2, temos a para´bola x = y2; para k = 1/3, temos as para´bolas x = y2 ( 3 + √ 5 2 ) e x = y2 ( 3−√5 2 ) ; para k = 1/4, temos as para´bolas x = y2 ( 4 + √ 12 2 ) e x = y2 ( 4−√12 2 ) ; para k = −1/2, temos a para´bola x = −y2; para k = −1/3, temos as para´bolas x = −y2 ( 3 + √ 5 2 ) e x = −y2 ( 3−√5 2 ) ; para k = −1/4, temos as para´bolas x = −y2 ( 4 + √ 12 2 ) e x = −y2 ( 4−√12 2 ) ; As curvas de n´ıvel de f6 encontram-se esboc¸adas abaixo. y x Vamos agora passar aos gra´ficos de func¸o˜es reais de duas varia´veis. Portanto, e´ inter- essante que voceˆ fac¸a uma revisa˜o de planos, cilindros, esferas, superf´ıcies de revoluc¸a˜o e superf´ıcies qua´dricas em geral. Na Parte 4, temos uma revisa˜o destes to´picos. Na˜o deixe de estuda´-los. 3.6 Gra´ficos de Func¸o˜es Reais de Duas Varia´veis Seja f : Dom(f) ⊆ R2 → R. Conforme ja´ sabemos, temos que o gra´fico da func¸a˜o f e´ o subconjunto de R3 dado por Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 36 G(f) = {(x, y, f(x, y)) ∈ R3 | (x, y) ∈ Dom(f)}. No caso em questa˜o, que e´ o das func¸o˜es reais de duas varia´veis reais, atente para o fato de que os gra´ficos destas func¸o˜es esta˜o em R3. A representac¸a˜o geome´trica do gra´fico de uma func¸a˜o de duas varia´veis e´ uma tarefa dif´ıcil. Por isto, em alguns casos nos contentamos com as curvas de n´ıvel. Vamos agora fazer alguns exemplos que na˜o esta˜o entre os mais dif´ıceis. Exemplo 3.6.1: Determine e esboce os gra´ficos das func¸o˜es dadas abaixo. Use as curvas de n´ıvel encontradas no Exemplo 3.5.1, se achar necessa´rio. a) h1(x, y) = x+ y. b) h2(x, y) = x 2 + y2. c) h3(x, y) = y 2 − x2. d) h4(x, y) = e −(x2+y2). e) h5(x, y) = 1− y2. f) h6(x, y) = y x− 1. g) h7(x, y) = ln(xy − 1). Soluc¸a˜o: a) Temos que o gra´fico de h1 e´ dado por G(h1) = {(x, y, x+ y) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Temos portanto que o gra´fico da func¸a˜o e´ o plano z = x+ y, que e´ o plano que conte´m a origem e e´ perpendicular aos vetores (1, 1,−1) e (−1,−1, 1) (figura ao lado). x y z b) Temos que o gra´fico de h2 e´ dado por G(h2) = {(x, y, x2 + y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Temos portanto que o gra´fico da func¸a˜o e´ o parabolo´ide z = x2 + y2 (figura ao lado). x y z Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 37 c) Temos que o gra´fico de h3 e´ dado por G(h3) = {(x, y, y2 − x2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2}. Temos portanto que o gra´fico da func¸a˜o e´ o parabolo´ide hiperbo´lico z = y2 − x2 (figura ao lado). x y z d) Temos que o gra´fico de h4 e´ dado por G(h4) = {( x, y, e−(x 2+y2) ) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2 } . Neste caso, observe que, as varia´veis x e y so´ aparece na forma ( √ x2 + y2)2. Estamos portanto diante de uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o. Desta forma, para descobrir a func¸a˜o z = f(y) (ou z = f(x)), cuja rotac¸a˜o do gra´fico resultou na superf´ıcie em questa˜o, vamos substituir o termo (x2 + y2) na expressa˜o de h4 por y 2 (ou por x2). Encontramos assim, a func¸a˜o z2 = f(y) = e−y 2 . Temos enta˜o, que o gra´fico de h4 e´ a superf´ıcie gerada pela rotac¸a˜o da curva z2 = e−y 2 , no plano yz, em torno do eixo z (ou, o que da´ no mesmo, a rotac¸a˜o da curva z2 = e−x 2 , no plano xz, em torno do eixo z) (figura ao lado). x y z d) Temos que o gra´fico de h5 e´ dado por G(h5) = {( x, y, 1− y2) ∈ R3 | (x, y) ∈ R2} . Neste caso, observe que, no plano yz, a equac¸a˜o z = 1− y2, e´ a equac¸a˜o de uma para´bola. Portanto, em R3, a equac¸a˜o z = 1 − y2 e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ a para´bola z = 1 − y2, no plano yz, e cuja geratriz e´ paralela ao eixo x. Este cilindro e´ chamado de cilindro parabo´lico (figura ao lado). x y z Ca´lculo 2B - Notasde Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 38 f) Temos que o gra´fico de h6 e´ dado por G(h6) = {( x, y, y x− 1 ) ∈ R3 |x 6= 1 } . Lembre-se que vimos no Exemplo 3.3.1 (e) que Dom(h6) = {(x, y) ∈ R2 |x 6= 1}. Na figura ao lado temos o gra´fico esboc¸ado pelo Maple V. Embora seja dif´ıcil visualizar, a reta dada pela intersec¸a˜o dos planos x = 1 e y = 0 na˜o pertence ao gra´fico da func¸a˜o e, quanto mais o valor de x se aproxima de 1, maior fica o valor da func¸a˜o. Imagine mais ou menos uma “vareta”que ao mesmo tempo que gira em torno da reta x = 1, y = 0, vai levantando uma extremidade e abaixando a outra. x y z g) Temos que o gra´fico de h7 e´ dado por G(h7) = {(x, y, ln(xy − 1)) ∈ R3 | (x, y) ∈ Dom(f4)}. Lembre-se que vimos no Exemplo 3.3.1 (f) que Dom(h7) = {(x, y) ∈ R2 | xy > 1}. Na figura ao lado temos o esboc¸o do gra´fico da func¸a˜o. x y z ♥ Vamos agora nos concentrar em func¸o˜es reais de treˆs varia´veis reais. 3.7 Func¸o˜es Reais de Treˆs Varia´veis Reais Vamos estudar agora com mais detalhes as func¸o˜es reais de treˆs varia´veis reais. Isto e´, func¸o˜es f da forma f : Dom(f) ⊆ R3 → R (x, y, z) 7→ f(x, y, z). Vamos iniciar identificando e esboc¸ando o domı´nio de algumas func¸o˜es de duas varia´veis reais. Exemplo 3.7.1: Determine e esboce o domı´nio das func¸o˜es definidas pelas expresso˜es abaixo. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 39 a) f1(x, y, z) = √ 1− x2 − y2 − z2. b) f2(x, y, z) = √ 1− z. c) f3(x, y, z) = 1√ 1− x− y − z , x ≥ 0, y ≥ 0 e z ≥ 0. Soluc¸a˜o: a) Neste caso, para podermos tirar a raiz de 1 − x2 − y2 − z2 que aparece na expressa˜o de f1, devemos ter 1− x2 − y2 − z2 ≥ 0. Desta forma, segue que Dom(f1) = {(x, y, z) ∈ R3 |x2 + y2 + z2 ≤ 1}. Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o e´ a esfera x2+ y2 + z2 = 1 e seu interior (figura ao lado). x y z b) Neste caso, para podermos tirar a raiz de 1 − z que aparece na expressa˜o de f2, devemos ter 1 − z ≥ 0. Portanto, segue que Dom(f2) = {(x, y, z) ∈ R3 | z ≤ 1}. Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o f2 e´ a regia˜o do espac¸o abaixo do plano z = 1, incluindo o pro´prio plano z = 1. x y 1 z c) Neste caso, para podermos tirar a raiz de 1−x−y−z que aparece na expressa˜o de f3, devemos ter 1−x− y− z ≥ 0. Ale´m disso, como o termo√1− x− y − z esta´ no denominador da func¸a˜o f3, e´ necessa´rio ter 1−x−y−z 6= 0. Portanto, segue que Dom(f3) = {(x, y, z) ∈ R3 |x+y+z < 1, x ≥ 0, y ≥ 0 e z ≥ 0}. Temos portanto que o domı´nio da func¸a˜o f3 e´ a regia˜o do primeiro octante limitada pelo do plano x+y+z = 1, excluindo o pro´prio plano x+ y + z = 1. x y 1 1 1 z ♥ 3.8 Exemplos de Func¸o˜es Reais de Treˆs Varia´veis Reais Veremos a seguir exemplos de alguns tipos de func¸o˜es reais de treˆs varia´veis reais. Exemplo 3.8.1: (Func¸a˜o Polinomial) Uma func¸a˜o polinomial de treˆs varia´veis reais Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 40 a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R3 → R dada por f(x, y, z) = ∑ m+n+k≤p amnkx nymzk, onde p e´ um natural fixo e os coeficientes amnk sa˜o nu´meros reais dados. A soma e´ estendida a todas soluc¸o˜es (m,n, k), m, n e k naturais, da inequac¸a˜o m+ n+ k ≤ p. Exemplo: f(x, y, z) = 2x5y2z + x2y3z3 + z2. Exemplo 3.8.2: (Func¸a˜o Afim) Uma func¸a˜o afim de treˆs varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R3 → R dada por f(x, y, z) = ax+ by + cz + d, onde a, b, c e d sa˜o nu´meros reais dados. Exemplo: f(x, y, z) = 2x+ 7y + √ 5 7 z + 3. Exemplo 3.8.3: (Func¸a˜o Linear) Uma func¸a˜o linear de treˆs varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : R3 → R dada por f(x, y, z) = ax+ by + cz, onde a, b e c sa˜o nu´meros reais dados. Exemplo: f(x, y, z) = 2x+ 2√ 3 y + z. Exemplo 3.8.4: (Func¸a˜o Racional) Uma func¸a˜o racional de treˆs varia´veis reais a valores reais e´ uma func¸a˜o f : Dom(f) ⊆ R3 → R dada por f(x, y, z) = p(x, y, z) q(x, y, z) , onde p e q sa˜o func¸o˜es polinomiais dadas. Temos, neste caso, queDom(f) = {(x, y, z) ∈ R3 | q(x, y, z) 6= 0}. Exemplo: f(x, y, z) = x2y2 + 7y3 + z2 xy + xz . Neste caso, observe que Dom(f) = {(x, y, z) ∈ R3 |xy + xz 6= 0} = {(x, y, z) ∈ R3 |x(y + z) 6= 0} = {(x, y, z) ∈ R3 |x 6= 0 e y + z 6= 0}. Portanto, o domı´nio de f e´ todo R3, menos o plano x = 0 e plano y + z = 0. Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 41 3.9 Superf´ıcies de Nı´vel de Func¸o˜es Reais de Treˆs Varia´veis Seja f : Dom(f) ⊆ R3 → R. Conforme ja´ sabemos, dado k ∈ Im(f), temos que o conjunto de n´ıvel da func¸a˜o f correspondente ao n´ıvel k e´ o subconjunto do domı´nio dado por Sk(f) = {(x, y, z) ∈ Dom(f) | f(x, y, z)) = k}. No caso em questa˜o, que e´ o das func¸o˜es reais de treˆs varia´veis reais, os conjuntos de n´ıvel de f sa˜o de fato superf´ıcies, as quais sa˜o portanto chamadas de superf´ıcies de n´ıvel de f . Observac¸a˜o 3.9.1: Como sabemos que f e´ constante ao longo das superf´ıcies de n´ıvel, observe que duas superf´ıcies de n´ıvel de uma func¸a˜o f correspondentes aos n´ıveis k1 e k2, onde k1 6= k2, na˜o podem se interceptar. Vamos agora fazer alguns exemplos. Exemplo 3.9.1: Determine e esboce as superf´ıcies de n´ıvel das func¸o˜es dadas abaixo. a) h1(x, y, z) = x. b) h2(x, y, z) = x 2 + y2. c) h3(x, y, z) = x 2 + 4y2 + z2. e) h4(x, y, z) = 1√ 1− x− y − z , x ≥ 0, y ≥ 0 e z ≥ 0. d) h5(x, y, z) = x 2 + y2 − z2. Soluc¸a˜o: Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 42 a) Neste caso, observe que Dom(h1) = R3 e que Im(h1) = R. Desta forma, temos que para todo k real, as superf´ıcies de h1 correspondentes ao n´ıvel k sa˜o dadas por Sk(h1) = {(x, y, z) ∈ R3 |x = k}, ou seja, as superf´ıcies de n´ıvel de h1 sa˜o planos paralelos ao plano yz. Por exemplo, para k = 0, temos o plano x = 0; para k = 1, temos o plano x = 1; para k = 2, temos o plano x = 2; para k = −1, temos o plano x = −1; para k = −2, temos o plano x = −2. As superf´ıcies de n´ıvel de h1 encontram-se esboc¸adas ao lado. x y z b) Neste caso, observe que Dom(h2) = R3 e que a im- agem de h2 e´ Im(h2) = {k ∈ R | k ≥ 0}. Desta forma, temos que para todo k ≥ 0, as superf´ıcies de n´ıvel de h2 correspondentes ao n´ıvel k sa˜o dadas por Sk(h2) = {(x, y, z) ∈ R3 |x2 + y2 = k}. Observe que para k = 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h2 e´ da forma x 2 + y2 = 0, o que corresponde ao eixo z. Ja´ para cada k > 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h2 correspondente ao n´ıvel k e´ da forma x2+y2 = k > 0, o que corresponde a cilindros circulares concentricos (figura ao lado). De fato, por exemplo para k = 0, temos x2 + y2 = 0 ⇔ x = 0 e y = 0, que e´ a reta (x, y, z) = (0, 0, z), z ∈ R; para k = 1, temos o cilindro x2 + y2 = 1; para k = 2, temos o cilindro x2 + y2 = 2; para k = 3, temos o cilindro x2 + y2 = 3. x y z Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 43 c) Neste caso, observe que Dom(h3) = R3 e que a im- agem de h3 e´ Im(h3) = {k ∈ R | k ≥ 0}. Desta forma, temos que para todo k ≥ 0, as superf´ıcies de n´ıvel de h3 correspondentes ao n´ıvel k sa˜o dadas por Sk(h3) = {(x, y, z) ∈ R3 |x2 + 4y2 + z2 = k}. Observe que para k = 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h3 se degenera em apenas um ponto, que e´ a origem (0, 0, 0). Ja´ para cada k > 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h3 correspondente ao n´ıvel k e´ da forma x2 + 4y2 + z2 = k > 0, o que corresponde a elipso´ides concentricos (figura ao lado). De fato, por exemplo para k = 0, temos x2 + 4y2 + z2 = 0 ⇔ x = 0, y = 0 e z = 0, que e´ a origem (0, 0, 0); para k = 1, temos o elipso´ide x2 + 4y2 + z2 = 1; para k = 2, temos o elipso´ide x2 + 4y2 + z2 = 2; parak = 3, temos o elipso´ide x2 + 4y2 + z2 = 3. x y z d) Neste caso, observe que Dom(h4) = {(x, y, z) ∈ R3 | x+ y + z < 1, x ≥ 0, y ≥ 0, z ≥ 0} e que a imagem de h4 e´ Im(h4) = {k ∈ R | k > 1}. De fato, como x + y + z < 1, x ≥ 0, y ≥ 0, z ≥ 0, temos que 0 < x + y + z < 1 ⇔ −1 < −x − y − z < 0 ⇔ 0 < 1 − x − y − z < 1, de modo que 1 1− x− y − z > 1 e, portanto, 1√ 1− x− y − z > 1. Desta forma, temos que para todo k > 1, as superf´ıcies de n´ıvel de h4 correspondentes ao n´ıvel k sa˜o dadas por Sk(h4) = { (x, y, z) ∈ Dom(h4) ∣∣∣∣ 1√1− x− y − z = k } = { (x, y, z) ∈ Dom(h4) ∣∣∣∣√1− x− y − z = 1k } = { (x, y, z) ∈ Dom(h4) ∣∣∣∣ 1− x− y − z = 1k2 } = { (x, y, z) ∈ Dom(h4) ∣∣∣∣ x+ y + z = 1− 1k2 } Portanto, temos que as superf´ıcies de n´ıvel de h4 correspondentes ao n´ıvel k (k > 1) sa˜o da forma x + y + z = 1 − 1 k2 , o que corresponde a planos paralelos ao plano Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 44 x+ y + z = 1, contidos no tetraedro x+ y + z < 1, x ≥ 0, y ≥ 0, z ≥ 0 (excetuando a face x+ y + z = 1) (figura abaixo). De fato, por exemplo, para k = 1, temos x+ y + z = 0 ⇔ x = 0, y = 0 e z = 0, pois x ≥ 0, y ≥ 0, z ≥ 0; para k = 2, temos o plano x+ y + z = 1− 1 4 ; para k = 3, temos o plano x+ y + z = 1− 1 9 ; para k = 4, temos o plano x+ y + z = 1− 1 16 . x 1 y 1 1 z e) Neste caso, observe que Dom(h5) = R3 e que Im(h5) = R. Desta forma, temos que para todo k real, as superf´ıcies de n´ıvel de h5 correspondentes ao n´ıvel k sa˜o da forma Sk(h5) = {(x, y, z) ∈ R3 |x2 + y2 − z2 = k}. Portanto, vamos ter treˆs casos diferentes: – para k = 0, temos que as superf´ıcie de n´ıvel de h5 e´ o cone x2 + y2 − z2 = 0; – para cada k > 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h5 correspondente ao n´ıvel k e´ da forma x2+ y2− z2 = |k|. Temos assim, que as superf´ıcies de n´ıvel de h5 sa˜o hiperbolo´ides de duas folhas; – para cada k < 0, temos que a superf´ıcie de n´ıvel de h5 correspondente ao n´ıvel k e´ da forma z2− x2− y2 = |k|. Temos assim, que as superf´ıcies de n´ıvel de h5 sa˜o hiperbolo´ides de uma folha. x y z Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 45 x y z x y z x y z 3.10 Gra´ficos de Func¸o˜es Reais de Treˆs Varia´veis Seja f : Dom(f) ⊆ R3 → R. Conforme ja´ sabemos, temos que o gra´fico da func¸a˜o f e´ o subconjunto de R4 dado por G(f) = {(x, y, z, f(x, y, z)) ∈ R4 | (x, y, z) ∈ Dom(f)}. No caso em questa˜o, que sa˜o o das func¸o˜es reais de treˆs varia´veis reais, atente para o fato de que os gra´ficos destas func¸o˜es esta˜o em R4, de modo que na˜o e´ poss´ıvel esboc¸a´- los. Exemplo 3.10.1: Determine o gra´fico da func¸a˜o f(x, y, z) = x2 + y2. Soluc¸a˜o: G(f) = {(x, y, z, x2 + y2) ∈ R4 | (x, y, z) ∈ R3}. 3.11 Exerc´ıcios Exerc´ıcio 3.11.1: Determine e esboce as curvas de n´ıvel da func¸a˜o f(x, y) = ex 2y. Resposta: Temos que Dom(f)R2 e Im(f) = (0,∞). As curvas de n´ıvel k, para k.0, sa˜o dadas por Ck(f) = {(x, y) ∈ R2 | ex2y = k} = {(x, y) ∈ R2 |x2y = ln k}. Observe que se k = 1, temos que x2y = 0 ⇔ x = 0 ou y = 0. Portanto, as curvas de n´ıvel 1 de f sa˜o os eixos coordenados. Se 0 < k < 1 ou se k > 1, as curvas de n´ıvel de f sa˜o dadas pela equac¸a˜o y = ln k x2 . Note que se 0 < k < 1, ln k < 0, de modo que as Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 46 curvas esta˜o abaixo do eixo x e se k > 1, ln k > 0, de modo que as curvas esta˜o acima do eixo x. Abaixo temos um esboc¸o das curvas de n´ıvel. As curvas de n´ıvel k = 1 (eixos coordenados) esta˜o esboc¸adas em azul, as curvas de n´ıvel k > 1 esta˜o esboc¸adas em verde e as curvas de n´ıvel 0 < k < 1 esta˜o esboc¸adas em rosa. y x PARTE 4 REVISA˜O DE PLANOS, CILINDROS, SUPERFI´CIES DE REVOLUC¸A˜O, ESFERAS E SUPERFI´CIES QUA´DRICAS EM GERAL (Leitura para Casa) Vamos agora fazer uma revisa˜o de planos, cilindros, superf´ıcies de revoluc¸a˜o, esferas e superf´ıcies qua´dricas em geral. 4.1 Revisa˜o de Planos Dado um ponto P0 = (x0, y0, z0) pertencente a um plano que e´ perpendicular ao vetor na˜o-nulo ~v = (a, b, c), temos que um ponto P = (x, y, z) pertence a este plano se e somente se o vetor −→ P0P for perpendicular ao vetor ~v. Em outras palavras, P pertence ao plano se e somente se ~v· −→ P0P= 0. Como −→ P0P= (x− x0, y − y0, z − z0), temos que P pertence ao plano se e somente se (a, b, c) · (x− x0, y − y0, z − z0) = 0, o que equivale a a(x− x0) + b(y − y0) + c(z − z0) = 0. Temos assim que a equac¸a˜o do plano que conte´m o ponto P0 = (x0, y0, z0) e e´ perpen- dicular ao vetor na˜o-nulo ~v = (a, b, c) e´ dado por a(x− x0) + b(y − y0) + c(z − z0) = 0. Observe ainda que a equac¸a˜o acima pode ser escrita como ax+ by + cz = d, onde d = ax0 + by0 + cz0. Reciprocamente, e´ fa´cil verificar que toda equac¸a˜o da forma ax + by + cz = d, se a, b e c na˜o forem todos nulos, representa um plano cujo vetor 47 Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 48 normal e´ dado por (a, b, c). 4.2 Revisa˜o de Cilindros Dada uma curva C em um plano e uma reta l que na˜o esta´ contida no plano da curva C, chamamos o conjunto de pontos formado por todas as retas que interceptam C e sa˜o paralelas a l de cilindro. A curva C e´ chamada de diretriz do cilindro e a cada reta paralela a l que intercepta C e´ chamada de geratriz. O cilindro que mais estamos acostumados e´ aquele obtido tomando-se como curva C uma circunfereˆncia no plano xy e como l uma reta perpendicular a este plano. Este cilindro e´ conhecido como cilindro circular reto. De um modo geral, trabalhamos com mais frequeˆncia com cilindros cuja curva diretriz C esta´ contida em um dos planos coordenados e a reta geratriz l e´ perpendicular ao plano coordenado que conte´m C. Observe que, nesta situac¸a˜o, a curva C e´ func¸a˜o apenas duas varia´veis. Desta forma, temos que a superf´ıcie em R3 cuja equac¸a˜o conte´m apenas as varia´veis x e y e´ um cilindro cuja geratatriz e´ paralela ao eixo z. Da mesma forma, temos que a superf´ıcie em R3 cuja equac¸a˜o conte´m apenas as varia´veis x e z e´ um cilindro cuja geratriz e´ paralela ao eixo y. E, finalmente, temos que a superf´ıcie em R3 cuja equac¸a˜o conte´m apenas as varia´veis y e z e´ um cilindro cuja geratriz e´ paralela ao eixo x. Observe que se a “curva”C for, por exemplo, a reta ax + by = c, o “cilindro”gerado trata-se de um plano cujo vetor perpendicular e´ o vetor (a, b, 0). Desta forma, podemos ver os planos como “cilindros”especiais. Exemplo 4.2.1: Esboce as superf´ıcies em R3 dadas pelas equac¸o˜es abaixo. a) x2 4 + y2 = 1 b) y = x2 c) z = 3 √ x d) z = sen y e) z = |x| Soluc¸a˜o: a) Neste caso, observe que, no plano xy, a equac¸a˜o x2 4 + y2 = 1, e´ a equac¸a˜o de uma elipse com centro na origem e a = 2 e b = 1. Portanto, em R3, a equac¸a˜o x2 4 +y2 = 1 e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ a elipse x2 4 +y2 = 1, no plano xy, e cuja geratriz Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 49 e´ paralela ao eixo z. Este cilindro e´ chamado de cilindro eliptico (figuras abaixo). y x x y z b) Neste caso, observe que, no plano xy, a equac¸a˜o y = x2, e´ a equac¸a˜o de uma para´bola. Portanto, em R3, a equac¸a˜o y = x2 e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ a para´bola y = x2, no plano xy, e cuja geratriz e´ paralela ao eixo z. Este cilindro e´ chamado de cilindro parabo´lico (figura ao lado). y x x y z c) Neste caso, observe que, no plano xz, a equac¸a˜o z = 3 √ x, e´ a equac¸a˜o de uma raiz cu´bica. Portanto, em R3, a equac¸a˜o z = 3 √ x e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ a raiz cu´bica z = 3 √ x, no plano xz, e cuja geratrize´ paralela ao eixo y. (figuras abaixo). Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 50 z x y x z d) Neste caso, observe que, no plano yz, a equac¸a˜o z = sen y, e´ a equac¸a˜o de uma seno´ide. Portanto, em R3, a equac¸a˜o z = sen y e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ a seno´ide z = sen y, no plano xz, e cuja geratriz e´ paralela ao eixo x. (figura ao lado). z y x y z e) Neste caso, observe que, no plano xz, a equac¸a˜o z = |x|, e´ a equac¸a˜o da func¸a˜o mo´dulo. Portanto, em R3, a equac¸a˜o z = |x| e´ a equac¸a˜o de um cilindro cuja diretriz e´ o gra´fico da func¸a˜o mo´dulo y = x2z = |x|, no plano xy, e cuja geratriz e´ paralela ao eixo y (figura ao lado). z x yx z ♥ 4.3 Revisa˜o de Superf´ıcies de Revoluc¸a˜o Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 51 Um outro tipo de superf´ıcies comumente encontradas sa˜o as superf´ıcies de revoluc¸a˜o. Uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o e´ uma superf´ıcie obtida pela rotac¸a˜o de uma curva plana C ( C esta´ contida em um plano), no espac¸o, em torno de uma reta l, contida no plano da curva. A reta l e´ chamada de eixo de revoluc¸a˜o ou rotac¸a˜o. Neste caso, observe que as intersec¸o˜es de uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o com planos perpendiculares ao eixo de revoluc¸a˜o, quando na˜o e´ vazia, fornecem pontos ou circunfereˆncias. Portanto, se a superf´ıcie de revoluc¸a˜o e´ o gra´fico de uma func¸a˜o, temos que suas curvas de n´ıvel ou sa˜o pontos ou sa˜o circunfereˆncias. Vamos apenas tratar aqui de algumas superf´ıcies de revoluc¸a˜o de sa˜o obtidas pela rotac¸a˜o de curvas dadas na forma impl´ıcita ao redor de um dos eixos do plano coor- denado. Ale´m disto, vamos supor que que a curva na˜o intercepta o eixo de rotac¸a˜o em mais de um ponto. Como exemplos deste tipos que trataremos, temos: curva dada pela equac¸a˜o f(x, y) = 0 girada em torno do eixo x ou do eixo y; curva dada pela equac¸a˜o f(x, z) = 0 girada em torno do eixo x ou do eixo z e curva dada pela equac¸a˜o f(yz) = 0 girada em torno do eixo y ou do eixo z. Para ilustrar o processo, suponha que a curva no plano yz dada pela equac¸a˜o f(y, z) = 0 (ou a curva no plano xz dada pela equac¸a˜o f(x, z) = 0) tenha sido girada em torno do eixo z. Neste caso, temos que um ponto P = (x, y, z) qualquer contido na superf´ıcie resultou da rotac¸a˜o de um ponto Q particular contido na curva, cujas coordenadas (y0, z0) satisfazem a equac¸a˜o f(y0, z0) = 0 (ou cujas coordenadas (x0, z0) satisfazem a equac¸a˜o f(x0, z0) = 0). Contudo, analisando o processo de rotac¸a˜o, podemos observar que z = z0 e y0 = √ x2 + y2, se y0 > 0 ou y0 = − √ x2 + y2, se y0 < 0 ou (z = z0 e x0 = √ x2 + y2, se x0 > 0 ou x0 = − √ x2 + y2, se x0 < 0). Desta forma, temos que f( √ x2 + y2, z) = f(y0, z0) = 0, y0 > 0 (ou f( √ x2 + y2, z) = f(x0, z0) = 0, x0 > 0) ou f(− √ x2 + y2, z) = f(y0, z0) = 0, y0 < 0 (ou f(− √ x2 + y2, z) = f(x0, z0) = 0, x0 < 0). Como P e´ um ponto arbitra´rio na superf´ıcie, uma forma de reconhecer se uma dada equac¸a˜o representa uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o de uma curva f(y, z) = 0 no plano yz em torno do eixo z (ou de uma curva f(x, z) = 0 no plano yz em torno do eixo z) e´ verificar se esta equac¸a˜o so´ apresenta as varia´veis x e y na forma √ x2 + y2. E, sendo assim, para descobrir a equac¸a˜o f(y, z) = 0 que originou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ x2 + y2 por y (ou, enta˜o, para descobrir a equac¸a˜o f(x, z) = 0 que originou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ x2 + y2 por x). Analogamente, uma forma de reconhecer se uma dada equac¸a˜o representa uma su- perf´ıcie de revoluc¸a˜o de uma curva f(y, z) = 0 no plano yz (ou de uma curva f(x, y) = 0 no plano xy) em torno do eixo y e´ verificar se esta equac¸a˜o so´ apresenta as varia´veis x e z na forma √ x2 + z2. E, sendo assim, para descobrir a equac¸a˜o f(y, z) = 0 que orig- inou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ x2 + z2 por z (ou, enta˜o, para descobrir a equac¸a˜o f(x, y) = 0 que originou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ x2 + y2 por x). Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 52 Finalmente, uma forma de reconhecer se uma dada equac¸a˜o representa uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o de uma curva f(x, z) = 0 no plano xz (ou de uma curva f(x, y) = 0 no plano xy) em torno do eixo x e´ verificar se esta equac¸a˜o so´ apresenta as varia´veis y e z na forma √ y2 + z2. E, sendo assim, para descobrir a equac¸a˜o f(x, z) = 0 que origi- nou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ y2 + z2 por z (ou, enta˜o, para descobrir a equac¸a˜o f(x, y) = 0 que originou a superf´ıcie, basta substituir o termo √ y2 + z2 por y). Exemplo 4.3.1: Esboce as superf´ıcies de revoluc¸a˜o dadas pelas equac¸o˜es abaixo, iden- tificando a curva e o eixo de revoluc¸a˜o. a) z = e−(x 2+y2) b) x2 + z2 = e−2y 2 Soluc¸a˜o: a) Neste caso, observe que, as varia´veis x e y so´ aparece na forma ( √ x2 + y2)2. Estamos portanto diante de uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o gerada pela rotac¸a˜o de uma curva no plano yz (ou xz) em torno do eixo z. Ale´m disso, como z = f(x, y), temos que a curva no plano yz e´ o gra´fico de uma func¸a˜o z = g(y) (ou z = h(x)). Desta forma, para descobrir a func¸a˜o z = g(y) (ou z = h(x)), cuja rotac¸a˜o do gra´fico resultou na superf´ıcie em questa˜o, vamos substituir o termo (x2+y2) na equac¸a˜o da superf´ıcie por y2 (ou por x2). Encontramos assim, a func¸a˜o z = g(y) = e−y 2 . Temos enta˜o que esta superf´ıcie e´ a superf´ıcie gerada pela rotac¸a˜o do gra´fico da func¸a˜o z = g(y) = e−y 2 , no plano yz, em torno do eixo z (ou, o que da´ no mesmo, a rotac¸a˜o da curva z = h(x) = e−x 2 , no plano xz, em torno do eixo z) (figura ao lado). z y (ou x) x y z b) Neste caso, observe que, as varia´veis x e z so´ aparece na forma ( √ x2 + z2)2. Estamos portanto diante de uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o gerada pela rotac¸a˜o de uma curva no plano xy (ou yz) em torno do eixo y. Portanto, conforme vimos, vamos substituir o termo (x2 + z2) na equac¸a˜o da superf´ıcie por z2 (ou por x2) para descobrir a equac¸a˜o da curva no plano xy (ou yz), cuja rotac¸a˜o em torno do eixo y gerou a superf´ıcie dada. Desta forma, encontramos a equac¸a˜o z2 = e−2y 2 , o que corresponde a z = g1(y) = e −y2 ou z = g2(y) = −e−y2 . Como a rotac¸a˜o e´ em torno do eixo y, podemos escolher uma das duas equac¸o˜es, pois o resultado da rotac¸a˜o de ambas sera´ o mesmo. Vamos escolher z = g1(y) = e −y2 . Temos enta˜o que esta superf´ıcie e´ superf´ıcie gerada pela rotac¸a˜o do gra´fico da func¸a˜o z = g1(y) = e −y2 , no plano yz, em torno do eixo y (ou, o que da´ no mesmo, a rotac¸a˜o do gra´fico da func¸a˜o x = h1(x) = e −y2 , no plano xy em torno do eixo Ca´lculo 2B - Notas de Aula (em construc¸a˜o) - Prof a Denise 2011-2 53 y) (figuras abaixo). z (ou x) y x y z ♥ 4.4 Revisa˜o de Esferas Considere dois pontos P0 = (x0, y0, z0) e P1 = (x1, y1, z1) em R3. Sabemos que distaˆncia entre estes dois pontos P0 e P1 e´ dada por d(P0, P ) = ||P0P1|| = √ (x1 − x0)2 + (y1 − y0)2 + (z1 − z0)2. Portanto, se P = (x, y, z) e´ um ponto em R3 que satisfaz a equac¸a˜o (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 = a2, onde a > 0, temos que a distaˆncia de P ao ponto P0 e´ constante e igual a a. Temos portanto que o conjunto de pontos que satisfaz a equac¸a˜o acima e´ o conjunto formado por todos os pontos que distam de P0 uma distaˆncia igual a a. Desta forma, geometri- camente, temos enta˜o que a equac¸a˜o (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 = a2 e´ a equac¸a˜o de uma esfera com centro em P0 = (x0, y0, z0) e raio a. Exemplo 4.4.1: Identifique a superf´ıcie dada pela equac¸a˜o x2 + y2 + z2 + 2x− 4y + 6z = 11. Soluc¸a˜o: Reagrupando os termos e completando os quadrados,
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