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FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E TERAPIA INTENSIVA Ana Paula Westrup Luiz1; Camila Lamesa Silva2; Michelle Cardoso Machado3 Resumo A fisioterapia respiratória pode definir-se como uma especialidade da fisioterapia que utiliza estratégias, meios e técnicas de avaliação e tratamento que buscam a otimização do transporte de oxigênio, contribuindo assim para prevenir, reverter ou minimizar disfunções ventilatórias, promovendo a máxima funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes; podendo ainda proporcionar assistência ao paciente criticamente enfermo em unidades de terapia intensiva. Alguns estudos têm investigado os efeitos da fisioterapia respiratória dentro das unidades de terapia intensiva; no entanto, a fisioterapia relacionada ao tempo de internação ainda é causa de discussões tanto na sua função e importância como nas técnicas e métodos aplicados. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo geral realizar uma revisão sistemática das literaturas disponíveis sobre a eficácia da fisioterapia respiratória em Unidades de Terapia Intensiva e tempo de internação. Esta revisão comprova que se faz urgentemente necessária a produção de melhores e mais rigorosas investigações acerca do trabalho da fisioterapia em Unidades de Terapia Intensiva especialmente no que concerne as complicações pulmonares, tempo de desmame e internação nas unidades, a fim de avaliar sua importância e necessidade nas mesmas, objetivando o melhor tipo de serviço prestado ao paciente gravemente enfermo. Palavras-Chave: Fisioterapia respiratória; unidades de terapia intensiva; tempo de internação. _______________________________________________________________________________________________ 1;2 Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL campus Tubarão-SC. 3 Professora do curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL campus Tubarão-SC. Introdução Os pacientes com restrição ao leito na Unidade de Terapia Intensiva podem apresentar complicações motoras, respiratórias, hemodinâmicas, cardíacas, neurológicas, além de condições pós-traumáticas, condições pré- operatórias e pós-operatórias. A atuação da Fisioterapia em âmbito hospitalar tem por objetivo minimizar os efeitos da imobilidade no leito e tratar ou prevenir complicações respiratórias. A fisioterapia respiratória está indicada para pacientes da Unidade de Terapia Intensiva preconizando minimizar a retenção de secreção pulmonar, melhorar a oxigenação e reexpandir áreas pulmonares com atelectasia1, além de “evitar os efeitos deletérios da hipo ou inatividade do paciente acamado”2. Com relação à importância do fisioterapeuta nas Unidades de Terapia Intensiva, a fisioterapia respiratória tem sido cada vez mais solicitada e sua atuação nas Unidades de Terapia Intensiva cada vez mais freqüente3, o fisioterapeuta pode dar uma contribuição valiosa ao tratamento global do paciente4. O objetivo desse estudo é rever, através de uma revisão bibliográfica, as provas relativas à eficácia da fisioterapia respiratória em pacientes submetidos às Unidades de Terapia Intensiva e sua relação com o tempo de internação. Para a realização desta pesquisa, foram utilizadas referências disponíveis na biblioteca da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), além de artigos científicos disponíveis em bancos de dados na Internet. Os artigos que foram pesquisados através de bancos de dados na Internet foram extraídos dos sites “bireme”, “scielo”, “lilacs”, “medline” e “pubmed”. A consulta de artigos nesses bancos de dados foi realizada no período de 09 de janeiro a 28 de outubro de 2008, sendo que os mesmos foram publicados no período de 1991 a 2008. Utilizaram-se como palavras-chave: “physiotherapy”, “physiotherapy in critical care”, “physiotherapy in intensive care”, “hospital intensive care”, “mechanical ventilation”, “respiratory physiotherapy”, “chest physiotherapy”. Preconizando uma melhor compreensão do tema em estudo, este trabalho foi dividido em três capítulos: o capítulo 1 refere-se à introdução do tema em estudo, fazendo um breve resgate histórico da fisioterapia respiratória. Por conseguinte, o capítulo 2 discorrerá sobre a eficácia da fisioterapia respiratória em pacientes submetidos às Unidades de Terapia Intensiva e sua relação com o tempo de internação discutindo de forma mais aprofundada e crítica, a partir de uma revisão de trabalhos científicos. Por fim, no último capítulo serão apresentadas as considerações finais sobre o tema pesquisado. A unidade de terapia intensiva As Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são Unidades complexas dotadas de sistema de monitorização contínua que admitem pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamento intensivos tenha possibilidade de se recuperar5. Atualmente, estas unidades desempenham um papel decisivo na chance de sobrevida de pacientes gravemente enfermos, sejam eles vítimas de trauma ou de qualquer outro tipo de ameaça vital6. De acordo com a portaria nº 3432, 12 de agosto de 1998 do Ministério da Saúde7, a UTI deve contar com equipe básica composta por: -um responsável técnico com título de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina intensiva pediátrica; -um médico diarista com título de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina intensiva pediátrica para cada dez leitos ou fração, nos turnos da manhã e da tarde; -um médico plantonista exclusivo para até dez pacientes ou fração; -um enfermeiro coordenador, exclusivo da unidade, responsável pela área de enfermagem; -um enfermeiro, exclusivo da unidade, para cada dez leitos ou fração, por turno de trabalho; -um fisioterapeuta para cada dez leitos ou fração no turno da manhã e da tarde; -um auxiliar ou técnico de enfermagem para cada dois leitos ou fração, por turno de trabalho; -um funcionário exclusivo responsável pelo serviço de limpeza; -acesso a cirurgião geral (ou pediátrico), torácico, cardiovascular, neurocirurgião e ortopedista. Histórico A Unidade de Terapia Intensiva possui registros de sua existência desde o século XIX. Porém, eles se tornaram mais evidentes a partir de 1969, quando verificou-se a necessidade de criação de uma unidade de cuidados específicos para pacientes críticos8. Durante a II Guerra Mundial, a necessidade de um local para assistência aos soldados vitimados e a escassez de equipes de enfermagem para manter os cuidados necessários exigiu a criação de uma sala onde a atenção intensiva pudesse ser assegurada, o que resultou na difusão de salas de recuperação9. A propagação do conceito de um local próprio para atenção intensiva aconteceu, por sua vez, em função da alta mortalidade provocada pelas epidemias de poliomielite ocorridas na Dinamarca e nos Estados Unidos na década de 50. Nessa época foi criado o centro de tratamento respiratório no Massachusetts General Hospital e em 1958, a primeira UTI multidisciplinar em Baltimore10. No Brasil, a primeira UTI surgiu no ano de 1967 na cidade do Rio de Janeiro11. No Estado de Santa Catarina, a primeira UTI foi inaugurada em 1968, no Hospital Governador Celso Ramos. Em 1983 inaugurou - se a UTI do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina12. Fisioterapia respiratória em terapia intensiva A fisioterapia respiratória é utilizada há muitos anos, com o objetivo de prevenir a instalação de infecções respiratórias e quando estas já estão instaladas,promover um tratamento adequado, evitando complicações secundárias13. A Fisioterapia respiratória pode definir-se como uma especialidade da Fisioterapia que utiliza estratégias, meios e técnicas de avaliação e tratamento que buscam a otimização do transporte de oxigênio, contribuindo assim para prevenir, reverter ou minimizar disfunções ventilatórias, promovendo a máxima funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes. Podendo ainda proporcionar assistência ao paciente criticamente enfermo em unidades de terapia intensiva (UTI), além de intervenções terapêuticas em pacientes com diversas disfunções de sistemas orgânicos em UTIs. A função que o fisioterapeuta exerce na Unidade de Terapia Intensiva varia consideravelmente de uma unidade a outra, dependendo do país, da instituição, do nível de treinamento e da situação do paciente. Em alguns países ou instituições o fisioterapeuta tem a responsabilidade de avaliar todos os pacientes em Unidades de Terapia Intensiva, sendo que, em outros locais, participam da equipe de cuidados quando o médico responsável solicita sua participação14. Técnicas fisioterapêuticas As técnicas fisioterapêuticas têm o objetivo de auxiliar na manutenção das funções vitais, reduzindo assim o número de complicações e o tempo de ocupação do leito. Essas técnicas podem ser freqüentemente utilizadas em pacientes adultos na unidade de terapia intensiva e se dividem em respiratórias e motoras. Técnicas respiratórias A fisioterapia respiratória em terapia intensiva envolve um grande número de técnicas que podem ser associadas às modalidades de ventilação mecânica. Dentre as principais estão: manobras de higiene brônquica e reexpansão pulmonar15. - Manobras de higiene brônquica: drenagem postural; percussão; vibração manual; vibrocompressão; aceleração do fluxo expiratório (AFE); terapia expiratória manual passiva (TEMP); tosse assistida; aspiração traqueobrônquica; ZEEP (Zero End Expiratory Pressure); recrutamento alveolar. - Técnicas de reexpansão pulmonar: exercícios respiratórios; padrão ventilatório diafragmático; padrão ventilatório em tempos; compressão/descompressão; fortalecimento muscular. Técnicas motoras Os exercícios (movimentos ativos, ativo-assistidos ou passivos) são de grande importância na manutenção da saúde física e mental do ser humano. A mobilização dos membros superiores utilizados juntamente com exercícios respiratórios otimizam o aumento dos diâmetros da caixa torácica, melhorando a ventilação. Os exercícios com os membros inferiores são importantes na manutenção do retorno venoso. Portanto, se faz importante a retirada do paciente do leito precocemente, promovendo assim melhora nas condições ventilatórias, circulatórias, motoras e psicológicas16. Entre as técnicas motoras mais utilizadas estão: Mobilizações; Método Kabat e Posicionamento. Fisioterapia em unidade de terapia intensiva e tempo de internação Alguns estudos têm investigado os efeitos da fisioterapia respiratória dentro das unidades de terapia intensiva. Um dos principais temas abordados faz referência ao processo do desmame da ventilação mecânica. A suspensão ou retirada do processo de ventilação mecânica é um importante fator. Um estudo realizado pela American Association for Respiratory Care e pelo American College of Critical Care Medicine cita que, quando as condições que levaram o paciente à ventilação mecânica se estabilizarem, a remoção do ventilador deverá ocorrer o mais rápido possível, pois atrasos desnecessários no processo do desmame podem levar a sérias complicações como por exemplo: pneumonia, trauma das vias aéreas, bem como maior custo para o hospital17. A decisão de extubação dos pacientes graves deve ser guiada por uma avaliação clínica detalhada, a fim de reduzir ao máximo o risco de reintubação18. Em uma pesquisa realizada no Canadá conclui-se que, atenção deve ser dada para os casos de fracasso do desmame e, em particular, à necessidade de re-intubação dos pacientes, pois esses processos geram conseqüências importantes no índice de morbidade, podendo levar não apenas a complicações respiratórias, mas também cardíacas19. Um estudo de coorte retrospectivo realizado na Unidade de Terapia Intensiva em um hospital dos Estados Unidos, analisou durante 30 meses, todos os pacientes admitidos na unidade com insuficiência respiratória aguda e que foram submetidos à ventilação mecânica por tubo endotraqueal em um período maior de 12 horas. Fracasso na extubação foi definido como a reinstituição da ventilação mecânica no prazo de 72 horas (n=60) e o outro grupo incluiu pacientes que foram extubados com sucesso em 72 horas (n=93). Na comparação dos resultados, não houve diferença significativa quanto à mortalidade hospitalar, mas, o tempo de permanência hospitalar foi significativamente maior em pacientes re-intubados, bem como os custos hospitalares aumentados20. Em Londres, uma pesquisa realizada para analisar os pacientes em fase do desmame da ventilação mecânica, ofereceu novas descobertas e concluiu que uma avaliação do equilíbrio entre a força dos músculos respiratórios, de trabalho e de condução central torna-se essencial na otimização do sucesso do desmame21. Um outro estudo realizado no Shands Hospital at the University of Florida, analisou um grupo de 10 pacientes graves, dependentes de ventilação mecânica. Após 31 dias do início de suporte respiratório, foi implantado um treinamento de força muscular inspiratória. Os pacientes foram considerados como tendo sido desmamados quando foram capazes de respirar sem o suporte da ventilação mecânica por 24 horas consecutivas. Após 43 dias de treinamento, 9 dos 10 pacientes foram desmamados com sucesso; concluindo que, a fraqueza muscular é também um colaborador para o fracasso do processo de desmame; sendo assim, programas de treinamento da força muscular inspiratória auxiliam e otimizam o processo do desmame da ventilação mecânica22. No estudo de Cook realizado em Ontário no Canadá, os pacientes que recebiam ventilação mecânica invasiva foram submetidos a um treino com a ventilação não invasiva (CPAP); observou-se que, a capacidade residual funcional aumenta com o uso da ventilação não invasiva através do CPAP, concluindo assim, que a fisioterapia minimiza a possibilidade de fracasso no processo do desmame23. Outra pesquisa realizada no Canadá cita que, para edema pulmonar agudo, o CPAP sozinho reduz drasticamente a necessidade de intubação e reduz taxas de complicações em pacientes24. O estudo de Bersten mostrou uma redução significativa no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva entre os pacientes tratados com CPAP25. Um outro estudo mostrou as tendências para a melhoria da taxa de mortalidade hospitalar26. Em uma pesquisa que estudou 56 doentes submetidos à ventilação não invasiva, encontrou-se como resultados: a modalidade reduziu a necessidade de intubação de 50% para 21%, reduziu a taxa de mortalidade entre os pacientes com DPOC e diminuiu o tempo de internação hospitalar de 6 dias para 1,8; comprovando assim, que o recurso da ventilação não invasiva constitui um avanço terapêutico para certas formas de insuficiência respiratória27. Objetivando determinar se há redução no tempo de internação de pacientes que recebem fisioterapia, uma pesquisa realizada em UTI entre novembro de 1997 e novembro de 1999 com pacientes traqueostomizados, mostrou que a fisioterapia intensiva (incluindo o período noturno) aliada a intubação, pode diminuir o tempo necessário de permanência na UTI, indicando que os custos com a fisioterapiasão cobertos pela diminuição do tempo na Unidade de Terapia Intensiva28. Um estudo prospectivo e aleatório, realizado no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre-RS, incluiu pacientes com mais de 48 horas em ventilação mecânica invasiva. Protocolos de fisioterapia respiratória e de aspiração traqueal isolada foram aleatorizados para a ordem de aplicação, com intervalo de 24 horas entre eles. Dados da mecânica pulmonar e das variáveis cardiorrespiratórias foram coletados antes da aplicação do protocolo, imediatamente após; 30 minutos e 120 minutos após a aplicação dos mesmos. Doze pacientes completaram o estudo. A pneumonia foi a causa mais comum de insuficiência respiratória. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos em relação ao volume corrente e volume minuto. A resistência do sistema respiratório diminuiu de forma significativa imediatamente após a aplicação do protocolo de fisioterapia respiratória. Quando comparado com o protocolo de aspiração traqueal isolada foi significativamente menor. O estudo concluiu que o protocolo de fisioterapia respiratória foi eficaz na diminuição da resistência do sistema respiratório quando comparado com o protocolo de aspiração. Essa diminuição manteve-se duas horas após a sua aplicação, o que não ocorreu quando realizada apenas a aspiração traqueal isolada29. Uma pesquisa realizada em forma de revisão bibliográfica objetivou chegar a um documento suficientemente sintético, que refletisse a melhor evidência disponível na literatura além de, descrever os pontos mais importantes relacionados à atuação do fisioterapeuta no ambiente da terapia intensiva com ênfase na ventilação mecânica. Conclui-se que a fisioterapia ocupa hoje papel relevante no ambiente da terapia intensiva, principalmente para os pacientes sob ventilação mecânica invasiva ou não invasiva30. Com relação à eficácia da fisioterapia em pacientes na unidade de terapia intensiva, vários artigos abordando este tema foram encontrados; como um estudo realizado com 639 pacientes submetidos à ressecção pulmonar, sendo que, 119 deles receberam fisioterapia e 520 não receberam esse cuidado. O estudo demonstrou redução significativa no tempo de internação, nas ocorrências de atelectasia e também redução nos custos nos pacientes que receberam a fisioterapia31. Uma pesquisa realizada na Alemanha verificou os efeitos da técnica de posicionamento em pacientes na unidade de terapia intensiva. Um questionário com 12 itens de múltipla escolha foi enviado para 1763 unidades de terapia intensiva que foram identificados a partir do hospital alemão "Deutsches Krankenhausadressbuch". Um total de 702 questionários (40,4%) foram devolvidos e analisados. O estudo mostrou que, a técnica de posicionamento no leito melhorou a oxigenação dos pacientes (95%) e também foi eficaz na redução das complicações associadas ao ventilador mecânico32. O estudo de coorte retrospectivo realizado com 94 pacientes (incluindo 68 homens e 26 mulheres) mostrou que, o tratamento fisioterapêutico preventivo em pacientes com complicações respiratórias em decorrência de doença neuromuscular, reduziu significativamente o número de internações por ano e dias por ano33. Com o objetivo de avaliar os efeitos da fisioterapia motora na função pulmonar, uma pesquisa foi feita com 12 pacientes hospitalizados. Os resultados foram que o volume minuto aumentou de 14,8 para 16,6 após a mobilização, provavelmente pelo aumento do volume corrente e aumento da freqüência respiratória; e a saturação de oxigênio aumentou de 93,6% para 95,3%, concluindo então que a fisioterapia motora pode minimizar os efeitos deletérios que a imobilidade no leito causa nos volumes pulmonares e no transporte de oxigênio34. Um outro estudo analisou 12 pacientes que estavam sob ventilação mecânica, e associaram a manobra de vibrocompressão, como tratamento fisioterapêutico, e constatou-se que esta manobra atinge os objetivos de desobstrução broncopulmonar no paciente sob ventilação mecânica sem causar alterações no aspecto hemodinâmico35. Outros autores estudaram a aplicação de manobras fisioterapêuticas reexpansivas e desobstrutivas em um paciente com diagnóstico de pneumonia associado o derrame pleural, e constataram que após 15 dias de evolução a atuação fisioterapêutica foi eficaz na resolução do derrame pleural, melhorando a ventilação e restaurando a mecânica pulmonar normal36. Um ensaio clínico randomizado realizado na UTI Neonatal do Hospital das Clínicas de Botucatu–UNESP, comparou duas técnicas fisioterapêuticas, aplicadas em recém nascidos prematuros, nas primeiras 48 horas pós-extubação. Os dois grupos de estudo foram: grupo que recebeu fisioterapia respiratória convencional - FRC (n= 20) e grupo - aumento do fluxo expiratório - AFE (n= 20). Em ambos os grupos a síndrome do desconforto respiratório (SDR) foi o principal diagnóstico. Observou-se que tanto a FRC como o AFE aumentaram significativamente a SpO2 nos dois momentos de avaliação (10 minutos e 30 minutos após as manobras), mostrando que, a curto prazo, estas técnicas são benéficas para a oxigenação. Porém há que se considerar que os recém nascidos avaliados já apresentavam SpO2 em níveis adequados antes da fisioterapia37. Resultado semelhante foi descrito por Finner, que com o uso da FRC em 20 recém-nascidos de termo e de pré-termo, obtiveram em 15 minutos após a fisioterapia, aumento significativo de 14,5mm Hg na PaO238. Alguns estudos39, 40 têm descrito a utilização da fisioterapia respiratória, comprovando sua eficácia e necessidade de aplicação para os pacientes que necessitam de cuidados em Unidades de Terapia Intensiva, como mostra um estudo embasado nos resultados observados após a fisioterapia respiratória para prevenção de pneumonia associada ao ventilador, em 60 pacientes intubados e ventilados mecanicamente por no mínimo 48 horas. Os pacientes foram divididos em grupo controle, que não recebia fisioterapia e grupo de intervenção, onde foram aplicadas as técnicas. Os resultados mostraram que a pneumonia associada ao ventilador ocorreu em 39% do grupo controle e apenas 8% no grupo de intervenção41. Em um Hospital nos Estados Unidos, após a média do tempo de permanência hospitalar no setor de oncologia aumentar significativamente, uma equipe multidisciplinar decidiu criar um programa para evitar o descondicionamento dos pacientes com câncer que eram admitidos na unidade. Os pacientes passaram a receber tratamento fisioterapêutico a fim de evitar o descondicionamento e aumentar sua força global. Os resultados da pesquisa mostraram que o tempo de permanência hospitalar no setor de oncologia caiu 14% e o programa também auxiliou para um menor número de quedas, melhora do condicionamento físico e ainda melhorou a qualidade de vida dos pacientes42. A fisioterapia relacionada ao tempo de internação, no entanto, ainda é causa de discussões tanto na sua função e importância como nas técnicas e métodos aplicados. A intervenção da fisioterapia foi testada através da realização de um estudo randomizado, onde os pacientes em fase de pós- operatório imediato de cirurgia cardíaca foram divididos em dois grupos recebendo técnicas diferenciadas consideradas como alta ou baixa intensidade de tratamento. Não foram verificadas diferenças entre os dois grupos, referindo-se as complicações pulmonares e tempo de permanência hospitalar e concluindo ainda que no grupo de alta intensidade, os custos hospitalares foram mais elevados43. Em contra partida, um estudo realizado no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul tevecomo objetivo estabelecer a efetividade de um programa de orientação fisioterapêutica pré-operatória para pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio, em relação à redução do tempo de internação hospitalar, prevenção de complicações radiológicas pulmonares, alteração de volumes pulmonares e força muscular inspiratória. A pesquisa foi composta por 86 pacientes submetidos à cirurgia eletiva de revascularização do miocárdio no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. O grupo intervenção (44 pacientes) foi avaliado e recebeu orientação fisioterapêutica com material por escrito 15 dias antes da cirurgia. Já o grupo controle recebeu cuidados de rotina no dia da internação hospitalar. Observou– se significativa redução do tempo de internação hospitalar no grupo intervenção. Não se verificou diferença para alteração de volumes pulmonares, força muscular inspiratória e incidência de complicações radiológicas pulmonares entre os grupos44. Considerações finais A importância que a fisioterapia ocupa hoje em vários âmbitos da saúde, parece ser muito recente e, a inserção de ensaios clínicos randomizados é ainda irrelevante, pois, há pouca evidência sobre os efeitos das intervenções fisioterapêuticas. Embora ainda existam poucos estudos que comprovem a eficácia da fisioterapia respiratória nas Unidades de Terapia Intensiva, sabe-se que, quando bem empregada, traz resultados satisfatórios e contribuem muito para a recuperação do paciente. Ainda existe pouco investimento financeiro de pesquisa na área, assim como baixo número de profissionais com titulação e formação específica para a produção de evidências científicas claras e fortes. Esta revisão comprova que se faz urgentemente necessária a produção de melhores e mais rigorosas investigações acerca do trabalho da fisioterapia em Unidades de Terapia Intensiva especialmente no que concerne as complicações pulmonares, tempo de desmame e internação nas unidades, a fim de avaliar sua importância e necessidade nas mesmas, objetivando o melhor tipo de serviço prestado ao paciente gravemente enfermo, além da padronização e defesa da classe profissional dentro das Unidades de Terapia Intensiva, a qual é diretamente relacionada com a comprovação científica de sua efetividade. Referências 1 Light RW. Doenças da pleura. 3ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. 2 Regenga MM. Fisioterapia em cardiologia: da unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo: Roca; 2000. 3 Yamaguti WPS, Alves LA, Cardoso LTQ, Galvan CCR, Brunetto AF. Fisioterapia respiratória em UTI: efetividade e habilitação profissional. Jornal Brasileiro de Pneumologia. 2005;31(1):89-90. 4 Hammon WE. 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