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VIOLÊNCIA CONJUGAL MULHERES QUE MATAM

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UNIVERSIDADE TIRADENTES – UNIT 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
VIOLÊNCIA CONJUGAL: MULHERES QUE MATAM.
Aluna: Paula Fernanda Carregosa Santana
Orientadora: Profa. Grasielle Borges Vieira de Carvalho
Aracaju
2016
PAULA FERNANDA CARREGOSA SANTANA
VIOLÊNCIA CONJUGAL: MULHERES QUE MATAM.
Trabalho de Conclusão de Curso – Artigo – apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tiradentes – UNIT, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.
Aprovado em ____/____/____.
Banca Examinadora
___________________________________________________________________
Professor Orientador
Universidade Tiradentes
___________________________________________________________________
Professor Examinador
Universidade Tiradentes
___________________________________________________________________
Professor Examinador
Universidade Tiradentes
VIOLÊNCIA CONJUGAL: MULHERES QUE MATAM
Paula Fernanda Carregosa Santana[1: Graduanda em Direito pela Universidade Tiradentes – UNIT. E-mail: nanda.pfcs@yahoo.com.br ]
RESUMO
Este artigo visa tratar da violência conjugal, na perspectiva da mulher que mata o companheiro ou marido, diante de um contexto de opressão e subjugação por meio de um longo processo cultural e cíclico de discriminação social que a enquadra num papel de inferioridade entre os gêneros. Abordar sobre suas lutas e direitos conquistados pelo empoderamento feminino ocorridos nos séculos XIX e XX, bem como, refletir sobre como o Poder Público analisa a violência conjugal, e o seu papel na aplicação da Lei Maria da Penha nas medidas em coibir, proteger e punir. Discorrer sobre um assunto pouco discutido na criminologia e que sempre foi ignorado pela sociedade, as mulheres homicidas, abordando sobre suas causas para cometimento do homicídio conjugal.
Palavras-chaves: Violência Conjugal. Cultura Patriarcal. Desproteção. Mulheres Homicidas. 
INTRODUÇÃO
Quando se fala em violência, logo pensa-se no universo masculino, “O Homem Delinquente” de Cesare Lombroso, suas funções nas guerras, conquistas. O homem visto como um ser superior, intelecto, digno de direitos, direitos sobre patrimônios, direitos jurídicos, direitos sobre sua esposa. No entanto, quando se trata da mulher como autora, a violência não é muito discutida, principalmente homicida, pois, sempre foi vista, aos olhos da sociedade, como uma criatura frágil, de natureza materna, dedicada ao lar e ao casamento, devendo zelar pelos bons costumes perpassando a cultura da família tradicional durante gerações.
A Violência Conjugal é qualquer ato de violência reproduzido numa relação íntima e conjugal, através de agressões físicas e sexuais, abusos psicológicos, ofensas morais, controle de patrimônio trazidos nas relações de dominação e submissão entre os gêneros. A violência é a forma mais extrema do comportamento humano em mostrar sua intolerância, e está no cotidiano da sociedade sendo exposta através de palavras, gestos e atitudes. Sua principal relação está com a sensação de poder, dominação e superioridade, podendo ser reproduzida nos lugares públicos ou privados, e motivada por diversas razões.
O principal plano desse trabalho é mostrar que esses papéis trouxeram consequências à sociedade e sua história em diversos fatores sociais, culturais e principalmente criminais. Apresentar como as mulheres conseguiram transgredir os papéis submissos, conquistando sua liberdade e seus direitos, analisando esses direitos conquistados, quais são e sob que circunstâncias eles foram reconhecidos e sua importância para a população feminina.
Será discorrido o papel do Estado, a sua atuação e obrigação na busca pelos direitos igualitários e bem-estar da mulher ao longo da história. A partir disso será trazido um contexto histórico da violência conjugal, tal como suas implicações na sociedade e principalmente na mulher vítima da agressividade no lar; reflexões e comentários sobre a Lei Maria da Penha expondo suas inovações e benefícios, e como o Sistema de Proteção está lidando em aplicá-la e efetivá-la, interpretando seu desempenho.
Por fim uma breve análise sobre os estudos criminológicos sobre a situação da mulher na criminalidade, examinando seus motivos. Assim, serão trazidos casos de mulheres homicidas, investigando sob que circunstâncias as mulheres vítimas de agressões são levadas a cometerem o homicídio conjugal.
A estruturação do trabalho se dá mediante pesquisas em artigos, enciclopédias, literatura feminista, literatura jurídica, legislação, doutrinas e dados empíricos.
A CONSTRUÇÃO CULTURAL DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER
A Cultura é dita como um conjunto de ações, hábitos e crenças, que influenciadas por diversos fatores são partilhados entre os indivíduos, comunidades, sociedades, e transmitidos de uma geração para outra. Segundo estudos antropológicos, a aprendizagem cultural é dada através das agências de socialização, e a partir desse processo é aprendido os padrões comportamentais, ou seja, os modelos de conduta tratados como adequados impostos aos indivíduos, como por exemplo, os papéis de gênero. Estes que tratam de estereótipos diferenciados que são distribuídos entre homens e mulheres, constituídos mediante fundamentos sociais, biológicos, psicológicos, entre outras ciências, convictas da ideia de que o feminino e o masculino possuíam habilidades sociais diferentes, pelo fato de apresentar funções naturais e estética distintas.[2: As agências de socialização são grupos ou contextos sociais onde ocorrem processos significativos de socialização. Esses grupos ou contextos sociais são constituídos por família, escolas, grupo de amigos, e os meios de comunicação em massa. (GIDDENS, 2012, p. 212)]
“[...]no início, as mulheres eram socialmente iguais aos homens, mas sofreram uma baixa grande quando os nossos paizinhos antigos descobriram o quanto era importante a especialização nas tarefas diárias [...].
Portanto, não existiu a priori uma superioridade masculina, mas sim um processo cultural de repetição que se desenvolveu em razão de circunstância ou particularidades aleatórias. A mulher, perigosamente, aceitava o costume de cuidar da prole e o homem assumia a função de subsistência da família.” (BACILA, 2005, p. 50-51)
A cultura Ocidental, quanto aos papéis de gênero, é historicamente marcada pela discriminação da mulher. A idealização sobre o feminino, ou feminilidade, baseada em crenças preconceituosas taxou a mulher como um ser resguardado, frágil, emocional e dependente, sendo a ela preestabelecido pela sociedade obrigações como casar, preservar a natureza materna e afetiva, e dedicar-se totalmente às tarefas domésticas e familiares, gerando por meio de um processo repetitivo a aceitação dessas regras, afastando a mulher do mundo da intelectualidade, da liberdade de manifestação de pensamento, e do conhecimento, tendo espaço limitado no meio social, a excluindo do mercado de trabalho, fazendo prevalecer o masculino em termos de poder, prestígio e riqueza, influenciando na construção do chamado Patriarcado.[3: Pode-se entender por patriarcado a manifestação e institucionalização do domínio masculino sobre as mulheres e crianças da família, e o domínio se estende à sociedade em geral. O que implica que os homens tenham poder nas instituições importantes da sociedade, e que privam as mulheres do acesso às mesmas. (MENDES, 2014, p. 88)]
Conforme os estudos sobre a história do domínio do masculino sobre o feminino do professor Paulo Marco Ferreira Lima (LIMA, 2013, p. 27), os homens casados e com filhos tornaram-se os titulares do dever e do direito de exercer pátrio poder sobre sua família, tal como sobre o patrimônio familiar, ou seja, tinham o direito de administrar patrimônio próprio e aquele pertencente às suas mulheres e filhos menores de idade, devendo estas respeitar os direitos dos homens e os homens o poder de as obrigar a isto. Assim, pode-se observar queo patriarcado fora formado pela crença na ideia de que o homem teria o poder de controlar além do patrimônio, as opiniões, os desejos, as vontades e a liberdade de ir de vir da mulher, porém esse controle não se limitou somente no âmbito familiar, como também à todas as mulheres, transformando a relação entre homens e mulheres numa cultura de opressão e repressão.
Outro elemento pertencente ao Patriarcado revela-se na repressão da sexualidade feminina, que acarretou a mulher a desconhecer sua natureza sexual, já que o prazer era marginalizado, visto como ato pecaminoso, a mesma passou a conciliar o sexo somente à reprodução. Entretanto, um dos objetivos dessa repressão e controle era assegurar a fidelidade da mulher para com o marido, dado que, o casamento além de ser um contrato civil, era tratado como um contrato sexual, o qual corpo da mulher seria propriedade do marido, tendo ele o direito de administrá-lo.
“[...] A submissão da mulher é levada a efeito e mantida por padrões de relação interpessoal prescritos pelas estruturas culturais e sociais [...]. Os privilégios políticos e econômicos que os homens geralmente desfrutam, no que se refere às mulheres, permitem que eles continuem controlando-as. ” (BART e MORAN, apud SOARES, 1999, p. 125-126)
Tais concepções sexistas, deram à mulher o papel de submissão ao seu marido, não podendo desagradá-lo, pois a qualquer manifestação contrária à vontade dele o uso da força física era exercida como uma forma de controlá-la e discipliná-la. Logo, a mulher se viu obrigada a conviver com tais situações e aceitar a sua própria degradação, e assim a ideia de que a violência conjugal era um fenômeno natural foi atingindo países dos mais diferentes regimes culturais, econômicos e políticos, principalmente nos países em que se prevalecia uma cultura patriarcal. [4: Que se refere ao sexismo. Sexismo que é conceituado segundo Karin Ellen von Smigay (SMIGAY, 2002, p. 34) como um vasto conjunto de representações socialmente partilhadas, de opiniões e de tendência a práticas que desprezam, desqualificam, desautorizam e violentam as mulheres, tomadas como seres de menor prestígio social.]
Dessa forma, a violência conjugal acabou sendo naturalizada na convivência íntima, e tratada como uma questão privada, por ocorrer em ambiente doméstico, foi ignorada durante anos, somente chamando a atenção da sociedade nos anos 70 e 80, através dos movimentos feministas, que buscavam conscientizar a sociedade, o Estado e o Sistema Judicial de que a violência conjugal não se tratava de uma questão individual e privada, mas vinda de uma cultura social que atingia o cotidiano de muitas outras mulheres.
Entretanto, o sistema opressor veio a ser denunciado bem antes, fim do século XVIII, pela escritora inglesa iluminista e precursora do feminismo filosófico, Mary Wollstonecraft (1759-1797), por meio de sua mais conhecida obra, “A Vindication of the Rights of Woman” (1792), buscou ponderar a necessidade de emancipação da mulheres, defendendo o amor livre e a não obrigatoriedade do casamento, e que as mulheres não são, por natureza, inferiores aos homens, mas apenas aparentam ser por falta de educação, ela também sugeria a igualdade entre os sexos, posteriormente incentivando as mulheres a reivindicarem em busca da igualdade, liberdade e participação ativa nos ideais democráticos.
 A Luta por Direitos.
Apesar de haver um sistema social impondo regras sobre a feminilidade e a condição da mulher na sociedade, nem todas mulheres cabiam neste sistema, principalmente as pobres, que a partir do século XIX, com a industrialização e as guerras, os homens sendo convocados às guerras, levaram-nas a trabalhar nas indústrias; ou considerando que os homens, também pobres, não podiam sustentar as famílias sozinhos, as esposas passaram ingressar o mercado de trabalho para ajudar na subsistência da família. Desta forma, a visão de família e trabalho foi se modificando, e muitas mulheres fugiram dos estereótipos padronizados pela sociedade sobre o sexo feminino, assumindo o papel de “chefe de família”, e desconstruindo a imagem de sexo frágil, começaram a reivindicar por seus direitos de participação no espaço público e político.
As primeiras lutas das mulheres por seus direitos deu início ainda no século XIX, sendo a Nova Zelândia o primeiro país a reconhecer o direito ao voto às mulheres, em 1893, logo depois, em 1897, formado pelas primeiras ativistas feministas, surgiu no Reino Unido o Movimento Sufragista, o qual denunciavam o sistema sexista da sociedade britânica ao questionar sobre o fato de já serem consideradas capazes de integrar a cargos importantes na sociedade, e colaborar na produção industrial, mas ainda serem vistas incapazes de atuar como eleitoras. O movimento foi conduzido por ativistas de diferentes classes, sofreu bastante repressão policial e social, somente ganhando maior visibilidade na década de 1910, tendo sucesso final em 1918.
A luta pelo voto feminino no Brasil iniciou-se em 1910, quando a professora e feminista Leolinda de Figueiredo Daltro (1859-1935) juntamente com outras feministas, como a poetisa Gilka Machado (1893-1980) – que assombrava a todos com sua poesia erótica e de denúncia da opressão feminina – fundou no Rio de Janeiro, o Partido Republicano Feminino com o objetivo de representar e integrar as mulheres na sociedade política. Depois de muitos anos de reinvindicações e discussões, o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo foi assegurado 1946 à todas as mulheres brasileiras.
As reivindicações pelo voto feminino se estenderam por países do mundo inteiro, englobando uma lista de mais de 100 países. Essas reivindicações deixaram como herança, uma maior participação política da mulher, tanto no eleitorado quanto em cargos de liderança política. No entanto, a representação feminina na política ainda é discriminada, como destaca a Resolução de 2011 sobre participação política das mulheres da Assembleia Geral da ONU, as mulheres em todas as partes do mundo continuam a ser marginalizadas na esfera política, muitas vezes como resultado de leis discriminatórias, práticas, atitudes e estereótipos de gênero, baixos níveis de educação, falta de acesso à saúde e também pelo efeito desproporcional da pobreza nas mulheres, o que acaba causando um grande desequilíbrio no cenário político, por exemplo, no Brasil atualmente o número de eleitas é desigual em relação ao número de eleitoras, visto que, segundo pesquisa da União Inter-Parlamentar realizada em 2014, a representatividade feminina no Legislativo corresponde à 16,0% no Senado, e 9,9% na Câmara, e, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o número de eleitoras corresponde à 52,1% da população brasileira eleitoreira. 
Esse desequilíbrio não só atinge o respectivo cenário político, mas todo cenário social brasileiro, onde maior parte da população é composta por mulheres. A reduzida representação feminina em cargos políticos dificulta na implantação e implementação de políticas públicas voltadas a elas, bem como enfraquece a democracia, contribuindo para a estabilização da desigualdade de gênero, e a restrição da participação feminina nos espaços de poder tanto no âmbito público, quanto privado, posto que, é visível como as posições de poder ainda são ocupadas, em sua maioria, por homens. 
Com uma representatividade desfavorável nos espaços de poder, as mulheres estão em maior número nas lideranças dos movimentos sociais, vivendo e sobrevivendo a uma constante luta por seus direitos, mostrando que são capazes de protagonizar na esfera política e social.
O exemplo mais emblemático no Brasil que a participação ativa da mulher é fundamental para a construção da democracia, é trazido pelos movimentos feministas ocorridos entre as décadas de 60 a 80, onde buscavam o reconhecimento de seus direitos políticos, da igualdade no mercado de trabalho e na educação, de sua liberdade sexual e comportamental, como também denunciavam o sistema opressor e suas formas de discriminação a contraa mulher. Tais movimentos resultaram na realização de Convenções e Tratados Internacionais que reconheceram seus direitos. A exemplo é a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, ou Convenção de Belém do Pará, sendo ela o primeiro tratado internacional a reconhecer a violência doméstica como um problema generalizado pela sociedade e uma violação dos direitos humanos; busca conscientizar o Estado, o Judiciário e a Sociedade ao trazer uma definição da violência contra mulher; e ainda estabelecendo aos Estados signatários o dever de criar leis de proteção, modificar do padrões socioculturais, como os estereótipos e as regras de condutas diferenciadamente impostas aos homens e mulheres, além de investigar diligentemente qualquer violação, perseguindo a responsabilização dos agressores, e assegurar a criação de serviços de atendimento às vítimas de violência.
“A definição trazida pela convenção reveste-se de significativa importância ao preocupar-se com a violência na esfera privada, a chamada violência doméstica, pois os agressores das mulheres geralmente são parentes ou pessoas próximas. Dessa forma, a violação dos direitos humanos da mulher, ainda que ocorra no âmbito da família ou da unidade doméstica, interessa a sociedade e ao poder público. ” (TELES, 2003, p.68)
A Convenção de Belém do Pará, veio com o papel principal de acabar com esse silêncio, e fazer com que o Estado garanta às mulheres seus direitos, e conscientizar de que a violência vivenciadas no lar por elas não se trata apenas de uma questão privada, podendo ser resolvida entre o casal, mas como abordado pelo professor Teles, é uma questão para além do âmbito doméstico, que precisa da intervenção do Estado e da Sociedade, na condição de afirmar o rompimento do ciclo da violência praticada contra a mulher.
No Brasil, a primeira lei de proteção às mulheres e na garantia de maior intervenção estatal e judicial nos casos de violência doméstica, somente adveio em 2006, com a Lei nº 11.340/2006, anteriormente não havia uma lei específica para julgar os casos de violência conjugal, sendo alguns deles processados e julgados em Juizados Especiais Criminais, como previa a Lei 9.099/95, onde as penas não ultrapassavam de dois anos, por ser considerados como crimes de menor potencial ofensivo, e muitas vezes as penas eram pecuniárias, minimizando a gravidade da violência conjugal.
A Lei 11.340/2006, ou Lei Maria da Penha, que possui esse nome em homenagem à Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, não adveio da espontaneidade do Estado na busca pela erradicação, prevenção e punição da violência contra a mulher. Em 1994, Maria da Penha, publicou seu livro “Sobrevivi, posso contar”, o qual relatava sua história de vida sofrida e dolorosa, revelando as violências das quais foi vítima durante o tempo em que vivia com seu ex-companheiro, além de sua luta contra a impunidade de seu agressor. O livro serviu de instrumento para que Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional, denunciasse o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Após a denúncia, o Brasil foi condenado por intolerância e omissão estatal, devido a maneira como a justiça brasileira tratava os casos de violência contra a mulher, sendo obrigado a cumprir recomendações, devendo mudar a legislação brasileira na forma que garantisse nas relações de gênero, a prevenção e proteção da mulher em situação de violência, e punição do agressor.[5: Bioquímica cearense que foi vítima de várias e cruéis agressões no interior da residência conjugal, em 1983, pelo então marido, Marco Antônio Heredia Viveiros, o qual tentou assassiná-la por duas vezes, a primeira com um tiro nas costas enquanto dormia, deixando-a paraplégica, e a segunda quando tentou eletrocutá-la durante o banho. Marco Viveiros foi preso, julgado e condenado por duas vezes, mas conseguiu sair em liberdade devido à recursos impetrados pela defesa. (RIBEIRO, 2013, p. 61-62)]
Fruto de muita luta, a Lei Maria da Penha representa um enorme avanço para enfrentamento da violência doméstica contra a mulher no Brasil que busca mais do que a punição dos agressores. Ela visa propor uma mudança cultural na sociedade e na justiça na busca da eliminação da violência contra a mulher, e o reconhecimento desta como um problema de caráter público, devendo o Estado garantir à mulher condições justas e dignas que possibilite sua cidadania e emancipação, além da igualdade de gênero, excluindo todos os tipos de situações que a coloque num papel discriminatório.
REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONJUGAL E A LEI MARIA DA PENHA.
A violência contra a mulher constitui numa manifestação das relações de dominação e submissão historicamente trazida pela cultura patriarcal. Configurada em comportamentos que violam sua integridade física, mental, sexual, moral e patrimonial da mulher, restringindo sua liberdade e seu direito de ir e vir. Por muitos anos foi compreendido pela sociedade que a violência fazia parte da natureza humana, sendo naturalizada e ignorada pelo poder público. 
Foi a partir dos movimentos feministas ocorridos na década de 80 que houve uma conscientização da importância do Poder Público em reconhecer como uma violação dos direitos humanos a situação de opressão vivenciada pela mulher. 
A Lei Maria da Penha é uma conquista desses movimentos. Com prescrições legais de caráter preventivo, protetivo e assistencial à vítima, e punitivo ao agressor. Ela constitui de Ação Afirmativa que visa coibir toda e qualquer forma de violência doméstica e familiar contra a mulher, cumprindo com as premissas trazidas pela Convenção do Pará de que toda a mulher tem direito a que se respeite sua vida, sua integridade física, mental e moral e sua liberdade e segurança pessoais; enquadra qualquer tipo de violência praticada no lar contra a mulher, independentemente de sexo ou parentesco do agressor, mas que este tenha vinculo doméstico, familiar ou afetivo com a vítima, como explica Maria Berenice Dias: 
“Para a configuração da violência doméstica não é necessário que as partes sejam marido e mulher, nem que estejam ou tenham sido casados. [...] Para ser considerada a violência doméstica, o sujeito ativo tanto pode ser o homem como outra mulher. Basta estar caracterizado o vínculo de relação doméstica, de relação familiar ou de afetividade, pois o legislador deu prioridade à criação de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, sem importar o gênero do agressor. ” (DIAS, 2007, p.41)
Considerando que a violência contra a mulher é resultado do patriarcado, maior parte dos agressores são do sexo masculino. Segundo dados da pesquisa da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), de 2015, 72% dos casos registrados pela Central de Atendimento à Mulher são de agressões cometidas por homens, sendo estes, atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. Desta forma, afirma-se que, dentre os tipos de violência de gênero, a violência conjugal em relações heteroafetivas está em maior número. Conforme Safiotti (apud ALVES; DINIZ, 2005, p. 388) essa violência tende a obedecer a uma escala progressiva através dos anos de relacionamento, iniciando com agressões verbais, passando para as físicas e/ou sexuais, podendo chegar a ameaça de morte e até mesmo a homicídio. Geralmente no início da relação, o homem se mostra gentil, amoroso e carinhoso, porém, após um tempo tende a revelar uma personalidade manipuladora, controladora e violenta.[6: A Central de Atendimento à Mulher, ou Ligue 180, foi criada antes da promulgação da Lei, pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, em 2005, e é o serviço que mais recebe denúncias reclamações, tendo grande relevância para atendimento da mulher em situação de violência, a orientando sobre seus direitos e sobrea legislação vigente, e encaminhando para outros serviços quando necessário, além disso, a Central colabora para levantamento de dados e monitoramento de outros serviços de atendimento.]
Vale ressaltar que a violência doméstica não se restringe a agressões físicas, embora a mais extrema, existem outras formas de violência “invisíveis”. Assim a Lei Maria da Penha tipificou em seu artigo 7º as formas de violência contra a mulher, que são: violência física; violência psicológica; violência sexual; violência patrimonial; violência moral. 
A Lei Maria da Penha possibilitou à mulher maior acesso aos seus direitos, à informação e à justiça, e à sociedade a conscientização da gravidade da violência conjugal no Brasil e no Mundo. E para assegurar a sua concretização, ela traz mecanismos que responsabilizam a Segurança Pública – Autoridade Policial –, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Assistência Social e os órgãos gestores das políticas de Saúde, Educação, Trabalho e Habitação para enfrentamento da violência doméstica, e que permite à sociedade maior colaboração na denunciação. Assim o Estado expandiu serviços e implantou de redes de atendimento especializados para facilitação no atendimento dos casos de modo que propicie acolhimento digno à população feminina por meio de atividades de investigação, prevenção, proteção, assistência, e punição aos delitos praticado.
Desde a promulgação da Lei os números de denúncias de violência aumentaram, totalizando mais de 5 milhões, segundo a Central de Atendimento à Mulher. Em 2015 foram realizados 749.024 atendimentos, dentre eles 41,09% corresponderam à prestação de informações, 9,56% se referiram a encaminhamentos para serviços especializados de atendimento à mulher, 38,54% corresponderam a encaminhamentos para outros serviços de teleatendimento (telefonia), tais como: 190 da Policia Militar, 197 da Polícia Civil, Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos, e 10,23% (76.651) se referiram a relatos de violência contra a mulher, sendo 50,16% de física violência física; 30,33%, violência psicológica; 7,25%, violência moral; 2,10%, violência patrimonial; 4,54%, violência sexual; 5,17%, cárcere privado; e 0,46%, tráfico de pessoas. Comparado ao ano de 2014 houve um aumento de 44,74% de relatos de violência.
As mulheres desde sempre sofreram com o silêncio da violência no lar, e quando queriam registrar as queixas nas delegacias enfrentavam diversas dificuldades. As Delegacias Especializadas da Mulher, foram criadas em 1985, em São Paulo, por propostas e pressão do ativismo feminista, porém não se fez muito eficaz no desraizamento da violência conjugal. A mulher denunciava sua situação, mas todo procedimento não passava de uma simples lavratura do Boletim de Ocorrência, sem reconhecimento das agressões sofridas. A partir de 1995 com a Lei 9.099, os casos podiam ser processados e julgados nos Juizados Especiais Criminais, porém a punição ao agressor era o pagamento de cesta básica e prestação serviços comunitários, fazendo com que o mesmo voltasse para casa impune, reincidindo nos atos de violência. 
Com a vigência da Lei, essas delegacias foram ampliadas e nomeadas de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), e criados os Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher (JVDMs), com competência exclusiva para julgar e processar os casos. Dessa forma, à Autoridade Policial e ao Poder Judiciário foi introduzida maior atuação e responsabilidade para combater tais condutas, através de providências previstas na Lei que se destinam a investigar, prevenir e punir os delitos, e garantir proteção e assistência à vítima. 
Apesar de ser vista pela Organização das Nações Unidas como uma das mais importantes contribuições em defesa dos direitos humanos, e considerada uma das leis de maior popularidade na história recente da sociedade brasileira, visto que, segundo a pesquisa do Data Popular/Instituto Patrícia Galvão, de 2013, 98% da população a conhece, a Lei Maria da Penha ainda não conseguiu surtir grandes resultados na luta pela eliminação da violência contra mulher. Dados divulgados pelo Mapa da Violência (2015) referente ao ano de 2013, revelaram o número de homicídios de mulheres – feminicídio – por ano, entre 2007 e 2013 as taxas aumentaram em 0,9%, sendo de 3.772 para 4.762 homicídios de mulheres registrados no ano de 2013, onde 50,3% foram perpetrados por um familiar da vítima, e 33,2% pelo parceiro ou ex-parceiro, e em 27,1% ocorreram no domicílio. 
O feminicídio é a ponta de uma escala da violência conjugal, e essa gradatividade, segundo Valéria Scarance (FERNANDES, 2015, p.68) pode ser resultado de uma não intervenção processual dotada de efetividade, ou melhor, de uma falta de eficiência na aplicação da Lei Maria da Penha. E considerando que não houve uma redução no número de homicídios de mulheres após a vigência da Lei, passa-se a analisar o desempenho do Sistemas e Serviços de Proteção à Mulher no enfrentamento da violência contra a mulher, investigando aspectos relacionados à Lei.
 O Sistema de Proteção à Mulher e a Violência Conjugal 
O Estado, o Sistema de Justiça e de Segurança, em conjunto, compõem o Sistema Geral de Proteção à Mulher, e são de fundamental importância para efetivação da Lei Maria da Penha, sendo eles os principais instrumentos de intervenção e eliminação do ciclo vicioso da violência e discriminação contra mulher. 
Contudo, um estudo realizado com 1.800 pessoas (943 mulhesres; 857 homens) em 2011 pelo Instituto AVON/IPSOS, revelou que 59% das mulheres entrevistadas não confiam na proteção jurídica e policial nos casos de violência doméstica. Quando lhes foram perguntados os motivos 43% responderam que as leis não são eficientes para garantir esta proteção; 23% acreditam que os policiais consideram outros crimes mais importantes e 17% que muitos policiais não acreditam na seriedade da denúncia; 12% veem que maioria dos juízes e policiais são machistas e muitas vezes até concorda com o agressor; 4% não souberam dizer. 
Dado esse levantamento, passou-se a pesquisar sobre a atuação do Sistema de Proteção e percebeu-se a existência de uma resistência do sistema para aplicação da Lei por meio de condutas de omissão e negligência, descumprindo determinações previstas na Lei e dificultando o acesso da vítima para denunciar e ter assegurada a sua proteção. A exemplo, é a falta de investimento do Estado para ampliação, manutenção e capacitação das redes de atendimento.
Há ainda uma insuficiente demanda de unidades de Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher. Atualmente, são somente 368 delegacias especializadas para mais de 5 mil municípios brasileiros, e maior parte dessas DEAMs não funcionam 24h e nem nos finais de semana, sendo que maioria dos casos de violência ocorrem nos finais de semana, o que obriga às mulheres a esperarem para fazer a denúncia, ou como em muitos casos, desistirem de fazê-la. Além disso, foi identificada uma sintonia entre a cultura social e o poder público, posto que, ainda se é reproduzida o machismo através de posturas inadequadas e contra a lei nas próprias delegacias especializadas. Tais posturas são configuradas por ações como: não efetivar o boletim de ocorrência, orientar a vítima a refletir antes de apresentar denúncia, tentar uma conciliação entre a vítima e o agressor; minimizar o ato do agressor; desconsiderar o depoimento da vítima. (FERNANDES, 2015, p. 131).
Como foi o caso da Maria Fernanda, que após ser vítima de violência conjugal durante dois anos e meio, decidiu denunciar seu namorado quando o mesmo tentou enforcá-la após ela ter anunciado que queria o fim daquela situação, como relatou ao BBC BRASIL:[7: Nome fictício. ]
“Eu estava com a minha filha no colo, ele veio me enforcando, me encostando na parede. Deixei minha filha cair no chão. Acordei nervosa e liguei pro 190. Demorou 45 minutos [...]. Fomos até a delegacia da Polícia Civil. Colocaram nós dois na viatura, ele não foi algemado, foi do meu lado. O policial foi falandovárias coisas. 'Vocês estão de cabeça quente, não precisa fazer B.O., isso vai ferrar a vida dele', dizia. Na delegacia, não foi diferente. O delegado ouviu meu depoimento na frente do meu namorado. E logo começou: 'Vocês vêm aqui todo dia por causa dessas coisas de mulher e depois fica tudo bem. Você vai fazer isso mesmo? Ele vai perder o emprego e não vai adiantar nada porque daqui a pouco vão pagar a fiança e ele vai sair ainda mais bravo com você. Essas marcas aí? Estão tão fraquinhas... até você chegar no IML (para fazer exame de corpo de delito), já vão ter desaparecido'. Fiquei ainda com mais medo. Eles tentam de todas as formas fazer você desistir. E, no meu caso, eles conseguiram. 'Vai pra casa, resolve na conversa', o delegado me dizia. A raiva era tanta que eu comecei a chorar. Voltei andando para casa, eles não se ofereceram para me levar. Fui caminhando, eu com a minha filha no colo e, por 40 minutos até em casa, ele (namorado) veio atrás de mim fazendo ameaças.” (MENDONÇA, 10 dez. 2015)
Tais condutas praticadas pela autoridade pública, muitas vezes, obriga a vítima a voltar para casa sem apoio, e a conviver com seu agressor, causando sua revitimização. A revitimização constitui na violência continuada, ou seja, sem a devida proteção e não afastamento de seu agressor, ela pode vir a sofrer mais agressões, ameaças, e até a morte. A proteção da mulher além de ser uma obrigação do sistema de Segurança, é também e principalmente, uma obrigação do sistema de Justiça. 
O Poder Judiciário tem papel fundamental na proteção da mulher, pois, uma de suas competências é a decretação das Medidas Protetivas de Urgência. As medidas emergenciais tem como natureza a proteção justamente para que não haja a revitimização, evitando a violência conjugal fatal. Porém, assim como no sistema de Segurança, foi verificado que o sistema judicial também vem reproduzindo a cultura machista.
Num levantamento feito em 2015 pelo Centro de Estudos Sobre o Sistema de Justiça e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o feminicídio íntimo no Brasil, mostrou que dos 34 processos de homicídio de mulheres que foram analisados, dois terços eram posteriores à Lei Maria da Penha, muitos deles nem sequer havia qualquer menção à lei, em outros haviam, mas não foi necessariamente aplicada. A pesquisadora Marta Machado enfatizou que em meio desse estudo, foi possível encontrar uma resistência do Sistema Judicial Criminal em aplicar a Lei Maria da Penha, que viu muitos juízes querendo investigar a mulher, para saber se era boa mãe, dedicada, mulher direita, ou se era uma mulher que não cumpria com seu papel social. (CAMPOS, 30 abr. 2015)[8: O feminicídio íntimo é tipificado pela Lei de Feminicídio como homicídio qualificado, e é o homicídio da mulher no contexto doméstico. Maior parte desses homicídios vem de uma escalada gradativa de agressões, pois, as mulheres antes de serem assassinadas já passaram por diversos outros tipos de violência e ameaças. ]
Outro fator revelado no estudo foi que baixo índice de mulheres pediram ajuda antes do assassinato, talvez por descrer na proteção, ou pela escassa intervenção do Estado, ou ainda, por questões culturais, econômicas, afetivas, medo, como explica a Psicológa Lenira Politano da Sõveira:
“A falta de condições econômicas está diretamente associada à preocupação com a criação dos filhos [...]. Ela, muitas vezes, não sabe para onde ir com os filhos e como arcar com todas as despesas, já que o agressor ameaça não ajudá-la e um processo litigioso pode demorar. 
Pela minha experiência no atendimento a mulheres vítimas de violência, o medo, nas suas mais diversas expressões, é o que mais as paralisa: medo de ser morta pelo companheiro, medo de assumir sozinha os filhos e privá-los do atendimento de necessidades básicas, medo de exposição e escândalo [...].” (INSTITUTO AVON/IPSOS, 2011, p.12)
Situações assim revelam uma escassa aptidão do Sistema de Proteção para enfrentamento da violência contra a mulher, uma vez que, estes apresentam reações e resistências que obstaculizam a aplicação da Lei. E por isso se faz indispensável a compreensão da violência conjugal, suas formas, suas implicações, e que sua origem é historicamente sociocultural que enquadrou a mulher na sociedade em situação de inferioridade ao homem a tornando vítima mais fácil da violência.
A Lei Maria da Penha é resultado do reconhecimento estatal e social sobre a situação de vulnerabilidade e desigualdade trazida por um processo histórico e cultural, um avanço na legislação para proteger a população feminina. Por isso, das autoridades públicas necessitam-se maior capacitação e interpretação para que a Lei se faça eficiente no objetivo de evitar que a vítima seja revitimizada ou assassinada pelo agressor, ou como em alguns casos, através de um ritual de destruição da sua integridade física e mental e pelo medo de morrer, despertar uma agressividade defensiva, a levando a matar seu agressor como um último recurso para se proteger.
MULHERES TAMBÉM MATAM 
A Discriminação contra mulher trouxe à sociedade pensamento em relação à mulher como um ser passivo, frágil e dócil, incapaz de cometer crimes e atrocidades. Isso fez com que estudo da Criminologia por muitos anos se mantivesse afastado acerca da presença da mulher no crime. Porém quando autoras, gerava-se maior repercussão e repulsa na sociedade, do que quando praticado pelo homem, como se a mulher e a violência jamais devessem ter uma conexão, posto que, sua “inferioridade” a fazia ser incapaz de atuar em diversas esferas sociais, seja ela, intelectual, mercado de trabalho, ou até mesmo na esfera criminal. 
A primeira análise da delinquência feminina foi a partir do século XIX. Cesare Lombroso em parceria com Ferrero desenvolveu uma pesquisa com mulheres presas com o objetivo de criar uma tipologia criminal da mulher, dando origem ao seu livro La donna delinquente, la prostituta e la donna normal (1892), onde segundo ele, a mulher normal era um ser inferior ao homem, não sendo propícia a cometer crimes, dando a condição de delinquência às prostitutas, a tornando uma espécie de “criminosa nata”. 
“De acordo com Lombroso e Ferrero (1991), a criminosa nata era uma mulher menos evoluída. Por entenderem que o sexo feminino como menos evoluído que o masculino, concluíam que as criminosas seriam duplamente inferiores: em relação aos homens e às “mulheres normais” [...]. As mulheres “normais” eram pensadas como menos evoluídas do que os homens por terem uma atividade intelectual diminuída. Eram vistas como mais tolerantes à dor, portadoras de emotividade menos acentuada, de menor sensibilidade, menor atração pelo relacionamento sexual e submissão ao sentimento materno. [...]” (RAGO apud RINALDI, 2015, p. 84)
O pensamento de Lombroso e Ferrero, contribuiu para construção do preconceito e discriminação da mulher, enfatizando a suposta inferioridade feminina, criando um grupo de pessoas – as prostitutas – consideradas indesejáveis para a sociedade, associando o crime a sua condição de vida, gênero e sexualidade, as denominando de mentalmente doentes. No livro “The female ofender” (1895), Lombroso traz além da criminosa nata outras categorias como, as ofensoras histéricas, suicidas, mulheres criminosas lunáticas, epilépticas, moralmente insanas, criminosas ocasionais e criminosas de paixão. Assim, a criminalidade feminina ficou relacionada à prostituição, à histeria, à loucura, ao aborto, ao infanticídio, ao furto e roubo e aos crimes passionais. (SILVA, 2009)
A ideia de que a mulher é incapaz de cometer quaisquer crimes foi sumindo, e a participação da mulher na esfera criminal subiu ao longo do tempo, mas, as taxas de sua delinquência sempre foram inferiores à masculina. Durante os anos 30, a criminalidade feminina mundial era em média de 13%, já a masculina 86%. Os crimes cometidos por elas, em sua maioria eram furtos, roubos, crimes passionais, aborto, prostituição e infanticídio, e sua situação social, maior parte eram pobres, como permanece nos diasatuais. 
No Brasil, entre 2000 e 2014 o aumento da população carcerária feminina foi de 567%, ocupando o 5º lugar do ranking mundial, correspondendo a 6,4% da população carcerária brasileira, com 37. 380 presas, sendo que 68% praticaram crime de tráfico de entorpecentes, 9% furto, 8% roubo, 2% latrocínio, 1% formação de quadrilha ou bando, 3% desarmamento, 2% receptação, 0% violência doméstica e 7% homicídios. [9: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. IFOPEN MULHERES, 2014. (BRASIL, Ministério da Justiça. 2014)]
A relação entre a mulher e o homicídio é comumente trazida por alguns fatores como: transtornos mentais que causam comportamentos agressivos; uso excessivo de substâncias psicoativas – álcool, drogas e antidepressivos –; crime passional; ou ainda, em caso de ameaça a vida, pratica o homicídio na autodefesa, ou em defesa da vida dos filhos, ou do parceiro.
Segundo a Socióloga Rosemary Almeida (ALMEIDA, 2001, p. 33), os homicídios praticados pelas mulheres estão divididos em três categorias: a) crimes contra inimigos: que inclui mulheres que mataram desafetos e inimigos, por causa de brigas, vinganças, defesa da vida; b) crimes contra crianças: o infanticídio, representado pelos operadores do Direito como crimes tipicamente femininos; c) crimes contra companheiros: geralmente praticados por mulheres domésticas que mataram seus cônjuges. Este último, que pode ser motivado por crime passional, ou ainda vindo de um ritual de destruição resultado da violência sofrida no lar pelo seu companheiro.
Diante dos aspectos fundamentais trazidos no presente trabalho, dentre eles, a discriminação e consequente violência sofrida pela mulher; a aceitação e desproteção social, estatal, policial e jurídica, passa-se a abordar e analisar somente o homicídio íntimo praticado pela mulher contra seu companheiro.
 Alguns Casos de Mulheres Homicidas no Brasil
A mulher homicida que vive um ritual de destruição, normalmente está sob a condição de revitimização, posto que, segundo o Balanço de 2015 do Ligue 180, 65,33% das mulheres agredidas são financeiramente dependentes do marido, e sem a proteção das autoridades, sem apoio da sociedade e sob constantes ameaças, abusos e agressões, são levadas pelo desgaste físico e mental que extrapola o seu limite para suportar tal estado de frequente tortura, sendo naturalmente forçada a agir forma agressiva, na necessidade de zelar pela sua vida e a vida de seus filhos acaba matando seu companheiro como um último recurso de defesa e alívio.
Durante a pesquisa foi possível encontrar diversas manchetes de casos de mulheres homicidas, mostrando que a omissão e desproteção vem tornando situações assim cada vez mais comuns no cotidiano do brasileiro. 
Dessa forma, serão apresentados alguns casos-exemplo: “Mulher mata marido a facadas após ser agredida por ele, no ES”; “Mulher mata marido a facada após ser agredida por recusar fazer sexo”; “Mulher mata esposo após ser agredida”; “Mulher acusada de matar marido é absolvida das acusações”; [10: Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/07/mulher-mata-marido-facadas-apos-ser-agredida-por-ele-no-es.html ][11: Disponível em: http://www.gazetaonline.com.br/_conteudo/2016/04/noticias/cidades/3941375-mulher-mata-marido-a-facada-apos-ser-agredida-por-recusar-fazer-sexo.html][12: Disponível em: http://www.jornaldacidade.net/noticia-leitura/69/38107/mulher-mata-esposo-apos-ser-agredida.html#.WBu2wIWcHIU ][13: Disponível em: http://pontalonline.com/mulher-acusada-de-matar-marido-e-absolvida-das-acusacoes/ ]
O primeiro caso ocorreu na cidade de Anchieta/ES, em 2014:
“Uma mulher de 47 anos foi presa nesta sexta-feira (25) após matar o marido a facadas, nesta madrugada, em Iriri, distrito de Anchieta, no Sul do Espírito Santo. Segundo a polícia, após uma discussão entre o casal, a mulher teria levado uma pancada na cabeça e acabou usando a faca para se defender. A suspeita prestou depoimento, mas foi liberada por ter agido em legítima defesa e vai responder pelo crime em liberdade. A polícia informou que o crime está sendo investigado.
A polícia contou que o casal era conhecido na região pelas constantes brigas. Após a polícia tomar conhecimento do crime, a suspeita foi atendida pelo resgate do município com lesões pelo corpo.
A delegada Maria da Glória Pessoti, responsável pelo caso, informou que a mulher já havia sido agredida diversas vezes pelo marido, constando inclusive na ficha do homem, uma prisão em flagrante por agressão. ”11
O segundo caso aconteceu na cidade de Cariacica/ES, no dia 30 de abril de 2016: 
“Um serralheiro foi morto depois de ser esfaqueado pela esposa durante uma briga, na madrugada deste sábado (30), no bairro Pedro Fontes, em Cariacica. A mulher estava sendo agredida pois se recusou a fazer sexo com o marido, se armou com uma faca e o golpeou.
Segundo informações da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o casal estava bebendo dentro de casa quando o serralheiro, identificado como Gilberto Carlos da Silva, 33 anos, teria tentado transar com a esposa que se recusou devido a presença da filha caçula do casal, de 2 anos.
Indignado com a recusa, Gilberto passou a bater na esposa. No meio da confusão, ela apanhou uma faca de cozinha e deu um único golpe na lateral do tórax. Nu e ferido, ele correu para rua na tentativa de pedir socorro. Mas caiu na rua, em frente à casa. ”12
O terceiro caso aconteceu 2012, na cidade de Itaporanga/SE:
“Foi com o argumento da legítima defesa que Alessandra dos Passos Silva confessou ter matado o marido a golpes de faca. O fato ocorreu no último sábado (10), por volta das 16h, no povoado Salvadorzinho, em Itaporanga D’Ajuda, e vitimou José Carlos dos Santos.
De acordo com o registro na Delegacia Plantonista, a mulher afirmou que o marido chegou em casa embriagado e começou a agredi-la verbalmente, sendo que, momento depois, teria a atingido com um golpe de faca. Para tentar se defender, a mulher, então, pegou uma outra faca e atingiu o marido. 
Ela ainda chegou a acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que momentos depois chegou ao local e já encontrou José Carlos sem vida. O Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) também foi acionado e encontrou a mulher ferida e chorando na porta de casa. ”12
O quarto caso ocorreu em Frutal/MG, em 1999.
“Na manhã de hoje (18/05), foi julgada em Frutal, Débora Aparecida Almeida, acusada de matar seu marido Evandro Ricardo Barbosa no dia 04 de maio de 1999. De acordo com o processo, Débora era frequentemente agredida por Evandro que chegava em casa embriagado e sob influência de drogas [...]. Não aguentando mais a situação, Débora acabou se apoderando de um revólver que pertencia a Evandro e disparou várias vezes contra ele o matando. Na sessão do Júri desta terça (18/05), Débora foi absolvida de todas as acusações. O julgamento foi presidido pelo Juiz Gustavo Moreira e teve como Promotor de Justiça, o Doutor Renato Teixeira Rezende. ”13
Nos casos apresentados é possível observar a presença de alguns aspectos importantes trazidos ao longo do trabalho. Dessa forma, passa-se a analisar os casos expondo essa relação. A começar pela presente manifestação de violência contra essa mulher, com relatos de frequentes agressões, e que essas agressões já haviam sido denunciadas, como se pode ver no primeiro, mas que por omissão dos serviços de proteção à mulher, elas acabaram revitimizadas, e em último recurso, agindo em defesa de sua própria vida, de forma desesperada para se libertar daquela situação sofrida, cometeu o homicídio, configurando sua conduta em legítima defesa.
A Legítima Defesa é trazida pelo Direito Penal Brasileiro como uma excludente de ilicitude, ou seja, a pessoa que age em legítima defesa não comete crime, ele existe, porém não se aplica pena, e só está protegido pela Lei aquele que reagir a uma agressão injusta. Segundo Fernando Capez, a intenção do Legislador ao criar tal discriminante estava no fato de Estado não tersempre condições de oferecer proteção aos cidadãos em todos os lugares e momentos, permitindo que estes se defendam quando não houver outro meio (CAPEZ, 2007, p.281).
Dessa forma, atenta-se ao último caso em que a tese legítima defesa é reconhecida. Em entrevista gravada e publicada em áudio pela mesma fonte da manchete, o Advogado da Débora Aparecida conta que para chegar a absolvição, foram trazidas diversas provas de que ela já havia denunciado o marido pelas agressões frequentemente sofridas, além do fato de que ele já havia sido autuado por agredir outras pessoas, comprovando que era um homem violento. Fora relevante também o fato dela não ter antecedentes criminais, e a fundamental compreensão do Juiz e do Promotor envolvidos no processo sobre a situação de violência a qual a Débora vivia, reconhecendo que sua conduta como legítima defesa.
 Importante observar que, como o caso ocorreu em 1999, antes da vigência da Lei Maria da Penha, a omissão do Estado se fazia ainda maior, e que suas denúncias foram registradas em Delegacias comuns e no Conselho Tutelar.
Posto isto, apresenta-se mais um caso julgado em que a ré também fora absolvida por legítima defesa. ocorreu em 2014, na cidade de Florianópolis/SC. 
“Por unanimidade, a massagista Ana Raquel Santos da Trindade, 31, que matou em novembro de 2014 com 12 tiros o ex-namorado, Renato Patrick Machado de Menezes, 35, nos Ingleses, Norte da Ilha, foi absolvida no julgamento popular que ocorreu nesta quinta-feira (17) em Florianópolis.  Obcecado pela massagista, Renato era uma pessoa agressiva que a ameaçava e a estuprava.
Ela registrou mais de dez boletins de ocorrência na Delegacia da Mulher de Florianópolis, pediu medida protetiva, mas a Justiça não concedeu.  Então, a alternativa foi conseguir uma arma para se proteger.  Após disparar os seis primeiros tiros, ela recarregou o revólver calibre 32 e avançou mais uma vez para cima de Renato, quando disparou outras seis vezes. […].
 Ela disse que teve um relacionamento com ele durante seis meses, mas terminou e se mudou para Florianópolis. Obcecado, o agressor vinha com frequência ao balneário de Ingleses, onde ela morava.  Ana passava o cadeado no portão, mas não adiantava.  “Ele tentou me matar diversas vezes na frente de meu filho de quatro anos”.  Depois de ouvir o relato da massagista, o promotor de justiça se voltou para o corpo de jurados e pediu a absolvição de Ana. ”[14: Disponível em: http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/justica-absolve-mulher-que-matou-o-ex-namorado-em-florianopolis ]
No caso da Ana Raquel, fica ainda mais evidente a omissão dos Sistemas e serviços de proteção à mulher, e de que sua ação é consequência dessa desproteção. 
As ocorrências aqui relatadas apresentam situações onde é matar ou morrer, sendo correto afirmar que todas agiram em legítima defesa, posto que reagiram a uma agressão injusta perpetrada por seus maridos em local que o Estado e todo o sistema de proteção não há como administrar sua segurança enquanto negligente à sua obrigação em coibir e prevenir a violência doméstica, através da aplicação de políticas públicas para excluir a cultura patriarcal e a discriminação contra mulher.
Por fim, é importante esclarecer que os homicídios citados se tratam de exceção, visto que, são mulheres tomadas por um sentimento de desespero e sobrevivência, não havendo que se comparar com a violência praticada pelo homem, pois, o feminicídio é influenciado por concepções patriarcais e machistas, sendo tais homicídios vindos de diferentes circunstâncias, e sua única conexão é a inércia do Estado e do Sistema de Proteção, ao falham em proteger a mulher e romper os papéis de gênero e dentre todas outras questões de gênero.
No livro “A Paixão no Banco dos Réus” (2007) a autora Luiza Nagib Eluf enfatiza a relação entre o homicídio íntimo e a cultura patriarcal, e que esse homicida, o homem, geralmente é ciumento e considera a mulher um ser inferior que lhe deve obediência ao mesmo tempo em que a elege um problema mais importante de sua vida, e que o mesmo se trata de uma pessoa de grande preocupação com sua imagem social e sua respeitabilidade de macho. Assimilado ao sistema patriarcal, a maioria dos homicídios são praticados por homens, tendo as mulheres uma atuação muito rara no cometimento de homicídio. (ELUF, 2007, p.262-263)
No entanto, se a Lei Maria da Penha, que é o principal meio para evitar toda e qualquer tipo de violência conjugal, continuar tendo uma escassa aplicação, por meio da ineficaz atuação do sistemas e serviços de proteção, ao proteger e assistir essas mulheres revitimizadas, bem como a sociedade continuar inerte frente à violência conjugal, tais casos poderão se agravar, deixando de serem exceção e passando a ter uma maior propensão a acontecer. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todo trabalho desenvolvido foi mostrado que o principal fator da violência contra a mulher é a cultura patriarcal e machista, resultado de uma ideologia de superioridade masculina originada por discursos e crenças na inferioridade da mulher, a nomeando de incapaz.
A Lei Maria da Penha é o principal instrumento para eliminar essa cultura por meio suas determinações legais e inovadoras da legislação brasileira que buscam erradicar a violência, proteger e assistir a vítima, bem como punir o agressor.
As Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher e os Juizados de Violência Doméstica Contra a Mulher, são os mais importantes órgãos de proteção à vítima e punição ao agressor, com funções para atender a vítima e aplicar as Medidas Protetivas de Urgência preservando pelo objetivo principal da Lei. No entanto, diante de relatos, dados e pesquisas, foi possível observar que sua efetivação vem sendo desafiada, pela atuação do Estado mediante a falta de investimento, e por resistência do Sistemas de Segurança e Justiça em aplicar as medidas emergenciais, entre outras disposições legais, advindas de condutas inaceitáveis pela Lei, como descaso e despreparo das autoridades.
A desproteção do Sistema de Proteção gera a revitimização da mulher em situação de violência, a levando a morte pelo feminicídio. Ou ao chegar no risco de morte, em desespero pela sobrevivência acaba matando o companheiro, como nos casos apresentados, os quais todas elas eram vítimas de agressões há algum tempo, constituindo sua conduta em legitima defesa.
Foi esclarecido também, que tais homicídios se tratam de uma exceção, posto que a participação da mulher no histórico da violência e homicídio conjugal é raro, sendo os homens em número maior na prática do homicídio conjugal, mas que com a ineficaz atuação e interesse do poder público e da sociedade, tais casos poderão se tornar comum no cotidiano do brasileiro.
Para finalizar, ressalta-se que, embora haja legislações, tratados e políticas públicas, a sociedade, o Estado e o Sistema de Segurança e Justiça andam em sintonia relutando para perpetuar de forma inconsciente e consciente a violência doméstica e conjugal. Por isso, para que a Lei tenha efeitos positivos no processo penal, é indispensável a compreensão da origem e do que seria a violência conjugal contra a mulher, além da necessidade de ser colocado em evidência que a violência conjugal é uma questão a ser resolvida pelo poder público, pois a Lei por si só não tem a capacidade de mudar os números alarmantes até então pertencentes no Brasil, enquanto a sociedade ainda acomoda uma cultura guiada por relações de gênero que influenciam nas decisões judiciais. 
REFERÊNCIAS
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CONJUGAL VIOLENCE: WOMEN WHO KILL
ABSTRACT
This article aims to treat marital violence in the perspective of the woman that kills her partner or husband, in a context of oppression and subjugation through a long cultural process and social discrimination that the cyclical fall in a role of inferiority between genders. Addressing about their struggles and rights conquered by female empowerment that occurred in the 19th and 20th centuries, as well as reflect on how the Government analyzes the conjugal violence, and their role in the implementation of the Maria da Penha Law on measures to prevent, protect and punish. Talk about a subject little discussed in Criminology and who has always been ignored by society, homicidal women, focusing on their causes for Commission of marital homicide.
Keywords: Spousal Abuse. Patriarchal Culture. Deprotection. Female Murderers.
AGRADECIMENTOS
 “Por vezes a palavra representa um modo mais hábil de se calar do que o silêncio.” 
(Simone de Beauvoir)
Levantar as bandeiras da igualdade, romper as barreiras da sociedade. 
Meus sinceros sentimentos para milhares de mulheres que sofreram e sofrem das mais cruéis repressões, que foram silenciadas pela sociedade e obrigadas a conviver no seu dia a dia com a violência no lar. 
Toda minha gratidão às mulheres que desde séculos levantam a bandeira pelo empoderamento feminino, nos mostrando que somos capazes de conquistar nossos direitos, lutando pela igualdade, nossa liberdade e dignidade.
À minha orientadora e professora Grasielle Borges por toda orientação, e por todos ensinamentos que me fizeram uma pessoa com melhores ideologias.
Agradeço com toda emoção aos meus Pais pelo amor, carinho e dedicação, sempre buscando me incentivar, confiando em mim e mostrando que sou capaz até do “impossível”. À minha irmã Márcia, que sempre aconselhou e cuidou de mim, ao meu cunhado Victor, por todo incentivo e ajuda, e à ambos pelo maior presente que pôde me dar, meu sobrinho Lucca, a alegria de meus dias, que me dá o melhor bom dia de todos com seu sorriso. E toda à minha família, avós Ana, Raimunda, Jonas e João, tios e primos, em especial meus tios Valterlim e Alexandra, e meus primos Ana Paula, Daiana, Tiago, Luana e Daniel, e aos meus padrinhos Eduardo e Joseli, por cuidarem de mim, pelo amor, pelas palavras de conselho ao longo da minha caminhada.
Minha enorme gratidão ao meu amigo e companheiro para todas as horas, Lucas Mello, juntamente com meus amigos Itallo Sandes, Isadora Garção, João Gabriel, Jason, Adson Filipe pelo amor, apoio, conselhos e ajuda, por me passarem toda confiança para que eu conquiste todos meus ideais. Aos meus amigos da vida pela companhia e diversão. Por fim aos colegas e professores da Universidade Tiradentes por toda ajuda e aprendizado.
É preciso reconhecer que na nossa caminhada não estamos sozinhos, que sempre precisamos de ajuda e de conselhos. Por isso, além de toda minha gratidão, para vocês o meu amor e ajuda quando então necessitarem.
Por fim, quero declarar a minha sororidade, empatia e solidariedade às mulheres de todo o mundo, e dizer que o empoderamento é o caminho da conquista de nossas ideais.

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