Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Farmacologia dos Ansiolíticos e Hipnóticos COMPREENDER O QUE É ANSIEDADE PATOLÓGICA, ASSIM COMO A COMPREENSÃO DOS MECANISMOS DE AÇÃO E PRINCIPAIS REAÇÕES ADVERSAS DOS ANSIOLÍTICOS. AUTOR(A): PROF. TATIANA CRISTINA FERREIRA ARAMINI AUTOR(A): PROF. VIVIANI MILAN FERREIRA RASTELLI Quando a ansiedade é um transtorno ansioso? Medo e ansiedade são respostas normais do organismo frente a situações de ameaça, sendo considerados elementos importantes da reação de “luta e fuga”, fundamental para a sobrevivência do indivíduo. O medo é uma resposta emocional, fisiológica e comportamental a uma ameaça externa definida (por exemplo, um intruso ou um veículo descontrolado). Esta ansiedade adaptativa frente à uma situação de perigo, é perfeitamente normal. No entanto, há circunstâncias as quais a presença da ansiedade não é adaptativa e constitui um transtorno psiquiátrico. A ansiedade pode manifestar-se subitamente (por exemplo, na síndrome do pânico) ou gradualmente, ao longo de minutos, horas ou dias. A capacidade de tolerar a ansiedade varia muito e, por isso, muitas vezes é difícil de determinar o que significa “ansiedade anormal”. No entanto, quando ela ocorre em momentos inadequados ou é tão intensa e duradoura que chega a interferir nas atividades normais, ela será então adequadamente considerada como um distúrbio. Os distúrbios da ansiedade podem ser tão angustiantes e interferir de tal maneira na vida do indivíduo que podem levá-lo a outros distúrbios, como a depressão. Podemos citar como transtornos de ansiedade: agarofobia, ataque do pânico, fobia específica, fobia social, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós traumático (TEPT), dentre outros. Estes transtornos são altamente prevalentes e são associados com altos níveis de morbidade e mortalidade. 01 / 12 Legenda: OS SINTOMAS DA ANSIEDADE PODEM SER DIVIDIDOS ENTRE SINTOMAS FíSICOS E PSíQUICOS Bases neuroquímicas dos transtornos de ansiedade 02 / 12 A ansiedade excessiva foi tratada primariamente com drogas que têm propriedade sedativa, incluindo álcool, barbitúricos, opióides, beta- bloqueadores e benzodiazepínicos (BZD). Dessas, os BZD são os mais específicos e efetivos, e mais amplamente utilizados. Os BZD aumentam a potência do principal aminoácido inibitório no cérebro, o GABA (ácido gama-aminobutírico), modulando o funcionamento dos receptores GABA-A. Com base na efetividade de drogas potencializadoras de GABA, foi proposto que o excesso da neurotransmissão excitatória é um importante marcador fisiológico da ansiedade. Esta hiperatividade parece ocorrer especialmente na amígdala. Esta região do cérebro exerce papel central nas vivências de ansiedade e medo, tendo conexões recíprocas com o córtex cingulado anterior (ACC) e córtex orbitofrontal (OFC). Ou seja, a ativação excessiva destas estruturas cerebrais são responsáveis pelo medo. 03 / 12 Legenda: SENTIMENTO DE MEDO: OS SENTIMENTOS DE MEDO SãO REGULADOS POR CONEXõES RECíPROCAS ENTRE A AMíGDALA E O CóRTEX CINGULADO ANTERIOR (ACC), ASSIM COMO CONECõES RECíPROCAS ENTRE A AMíGDALA E O CóRTEX ORBITOFRONTAL (OFC). GABA, ansiedade e benzodiazepínicos GABA é um neurotransmissor chave envolvido na ansiedade e na ação ansiolítica de uma importante classe de medicamentos, os benzodiazepínicos. O neurotransmissor GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC e tem um importante papel regulador na redução da atividade de muitos neurônios, incluindo a amígdala. 04 / 12 O GABA é produzido a partir do aminoácido glutamato, graças as ações da enzima ácido glutâmico descarboxilase. Depois de formado nos neurônios pré-sinápticos, GABA é transportado para o interior de vesículas sinápticas por transportadores vesiculares de aminoácidos inibitórios (VIAAT), onde é armazenado até a sua liberação na sinapse durante a neurotransmissão inibitória. As ações do GABA podem ser finalizadas por meio da enzima GABA transaminase (que inativa o neurotransmissor GABA). Existem 3 principais tipos de receptores de GABA, sendo eles: GABA-A, GABA-B e GABA-C, no entanto, de importância para o tratamento da ansiedade, vamos nos limitar ao receptor GABA-A. Os ansiolíticos atualmente disponíveis são agonistas neste receptor somente, sendo os receptores GABA-B e GABA-C responsáveis por outras funções no organismo. O GABA-A é um receptor ionotrópico que contém um canal de Cl . A atividade ansiolítica é decorrente do aumento do influxo de Cl , o que causa uma hiperpolarização, isto impede a despolarização e potenciais de ação excessivos (a hiperatividade de alguns grupos de neurônios), como ocorre na ansiedade patológica. - - 05 / 12 Legenda: SíNTESE DO NEUROTRANSMISSOR GABA: A ENZIMA áCIDO GLUTâMICO DESCARBOXILASE CONVERTE O PRECURSOR GLUTAMATO AO áCIDO GAMA-AMINOBUTíRICO (GABA), QUE é O PRINCIPAL NEUROTRANSMISSOR INIBITóRIO DO SNC. APóS A PRODUçãO, O GABA é TRANSPORTADO ATé AS VESíCULAS PELO TRANSPORTADOR VESICULAR DE AMINOáCIDO INIBITóRIO (VIAAT). O GABA FICA ARMAZENADO EM VESíCULAS ATé A SUA LIBERAçãO NA FENDA SINáPTICA. Legenda: RECEPTOR GABA-A 06 / 12 As drogas usadas para aliviar a ansiedade são chamadas de ansiolíticos. A maior parte dessas drogas pertence à classe dos hipnóticos e sedativos, um grupo de drogas com atividade depressora do SNC. Os depressores do SNC incluem os barbitúricos, os benzodiazepínicos e o álcool. Todos eles reduzem a excitabilidade neuronal, potencializando os efeitos inibitórios do neurotransmissor GABA. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório nos sistema nervoso, ele tem receptores na maioria das células do SNC para exercer efeitos inibitórios difundidos. O complexo GABA / GABA-A regula um canal de cloreto (Cl-), que aumenta a corrente de cloreto para dentro da célula para mover o potencial de membrana para longe do limiar de disparo. Dessa forma, agonistas GABAérgicos produzem uma hiperpolarização local, ou potencial inibitório pós-sináptico, e inibem o disparo celular. Para ser considerado um ansiolítico, uma droga deve aliviar os sentimentos de tensão e preocupação e sinais de estresse, que são típicos do indivíduo ansioso. Drogas que aliviam a ansiedade frequentemente também produzem um estado calmo e relaxado, com tontura e lentidão do pensamento, incoordenação e tempo de reação prolongado. Benzodiazepínicos (BZD) Os benzodiazepínicos têm sítio de ligação ao receptor receptor GABA-A e funcionam como moduladores alostéricos positivos, ou seja, quando um BZD se liga (agonista) em GABA-A, ocorre alterações neste receptor que aumentam a afinidade do GABA (neurotransmissor), ao receptor GABA-A. Uma vez esse receptor ativado por GABA, ocorre um aumento na frequencia de abertura de canal de Cl o que resulta em uma hiperpolarização. Na ausência de GABA, no entanto, os BZD não têm efeito na abertura do canal de Cl . Como é de se esperar, a adição de um antagonista competitivo de BZD, como o flumazenil, impede a potencialização da ação do GABA induzida por BZD, mas não afeta a hiperpolarização induzida pelo neurotransmissor. Todos os BZD têm estrutura molecular e mecanismos de ação similares. A escolha de um BZD específico para uma situação terapêutica depende primariamente da velocidade de início e duração da ação da droga. A duração de ação é determinada por (1) diferenças em seus métodos de biotransformação e (2) a extensão da redistribuição a depósitos inativos, como músculo esquelético e gordura. Os BZD de longa duração passam por diversos passos metabólicos para produzir múltiplos metabólitos ativos que podem ter meias- vidas de 60 horas ou mais. Isto pode ser problemático para indivíduos idosos, que podem acumular rapidamente droga no corpo devido à redução na capacidade metabólica. - - 07 / 12 Reaçõesadversas: os BZD em superdosagem aguda são consideravelmente menos perigosos do que outros agentes hipnóticos. Eles causam sono prolongado, sem depressão grave da respiração ou da função cardiovascular. Entretanto, na presença de outros depressores do SNC, particularmente o álcool, os BZD podem causar depressão respiratória grave e até mesmo potencialmente fatal. A disponibilidade de um antagonista eficaz, o flumazenil, significa que os efeitos de uma superdosagem aguda podem ser neutralizados (o que não ocorre com os barbitúricos). Os principais efeitos colaterais dos BZD consistem em sonolência, confusão, amnésia anterógrada e comprometimento da coordenação, que afeta consideravelmente as habilidades manuais, como o desempenho de um motorista. Ocorre tolerância com todos os BZD, bem como dependência. Vias de administração e usos terapêuticos dos BZD 08 / 12 Fármaco Vias de administração Exemplos de usos terapêuticos Comentários Tempo de meia vida T ½ Midazolam IV Pré-anestésico e anestésico geral Muito utilizado para o procedimento de endoscopia Curta: 3 a 6 horas Alprazolam Oral Transtorno de ansiedade, agarafobia Pode ocorrer graves sintomas de abstinência Intermediária: 11 – 20 horas Lorazepam Oral, IM, IV Transtorno de ansiedade, estado de mal epiléptico, anestésico geral IV ---------------------- ---- Intermediária: 11 – 20 horas Clonazepam Oral Distúrbios convulsivos, tratamento da mania aguda e determinados distúrbios de movimento Pode surgir tolerância para o uso como anticonvulsivante Prolongada: 24 a 48 horas Diazepam Oral, IM, IV, Retal Transtorno de ansiedade, estado de mal epiléptico, relaxamento muscular esquelético, pré- medicação anestésica, abstinência de álcool Benzodiazepínico protótipo Prolongada: 24 a 48 horas. Triazolam Oral Insônia ------------------ Ação curta: 3 a 6 horas 09 / 12 M t b lit ti Barbitúricos Ex.: Fenobarbital Atuam por mecanismo de ação semelhante ao BZD, exceto de que os barbitúricos podem estimular receptores GABA-A mesmo sem ação de GABA (neurotransmissor), além disso ocorre o aumento do tempo de abertura do canal de Cl e não da frequencia como mencionado para os BZD. Na prática clínica, não se utiliza mais barbitúricos na ansiedade (por termos disponibilidade de fármacos mais seguros). SEROTONINA, ESTRESSE E ANSIEDADE A serotonina é um neurotransmissor chave que inerva a amígdala e se sabe que antidepressivos que aumentam a concentração de serotonina pelo bloqueio do seu transportador (SERT), são também eficazes na redução dos sintomas da ansiedade e do medo. Agonista parcial do receptor serotoninérgico 5-HT1A A importância da 5-HT (serotonina) reflete-se no uso clínico da buspirona, um agonista parcial nos receptores 5-HT1 utilizado no tratamento da ansiedade fraca ou moderada. O mecanismo de ação da buspirona é complexo e ainda não está totalmente esclarecido. É possível que a buspirona atue sobre receptores pré-sinápticos inibitórios, reduzindo assim a liberação de 5-HT e de outros mediadores.É importante salientar que são necessários dias ou semanas para que a buspirona produza seu efeito no homem, sugerindo que mecanismos indiretos de adaptação de receptores podem estar envolvidos. A buspirona não causa perda de coordenação motora, e não foram relatados efeitos de abstinência e nem mesmo toxicidade grave causando depressão respiratória. A diferença é que a buspirona não é um depressor do SNC. O que lhe confere uma vantagem com menor risco de intoxicação, apesar de maior demora para inicio dos efeitos. Reações adversas: náusea, vertigens, cefaleia e inquietação, que geralmente parecem ser menos incômodos do que os efeitos colaterais dos BZD. ATIVIDADE FINAL Sobre os benzodiazepínicos, estão corretas as afirmações abaixo, exceto: - A 10 / 12 A. Os BZD aumentam a afinidade do GABA ao receptor GABA A, resultando na abertura de canal de Cl e hiperpolarização do neurônio. B. Causam sonolência, por isso são classificados também como hipnóticos. Este efeito é mais pronunciado nas drogas de maior tempo de meia-vida. C. O diazepam é também um relaxante muscular. Devido ao tempo de meia vida prolongado deve-se ter cuidado na administração deste medicamento para um paciente idoso. D. O midazolam é um BZD de ação prolongada, podendo permanecer no organismo entre 1 a 3 dias. Podemos afirmar que buspirona tem como desvantagem (quando comparada ao uso dos benzodiazepínicos): A. Menor toxicidade. B. Maior tempo para obtenção dos efeitos ansiolíticos. C. Assim como os BZD, a buspirona é também um depressor do SNC, o que favorece o tratamento da ansiedade. D. Causa extrema sonolência, ainda mais pronunciada que os BZD. O mecanismo de ação dos benzodiazepínicos pode ser resumido na afirmação: A. É agonista dos receptores serotonérgicos 5HT 1A. B. Agonista GABA A, aumentando a afinidade do neurotransmissor glutamato pelo receptor GABA A e aumentanado o influxo de Cl que é responsável pela hiperpolarização do neurônio. C. Agonista GABA A, aumentando a afinidade do neurotransmissor GABA pelo receptor GABA A e aumentanado o influxo de Cl que é responsável pela hiperpolarização do neurônio. D. Agonista GABA A, aumentando a afinidade do neurotransmissor GABA pelo receptor GABA A e aumentanado o influxo de Ca que é responsável pela hiperpolarização do neurônio. REFERÊNCIA FUCHS, F.D; WANNMACHER L. Farmacologia Clínica. 4º ed. Editora Guanabara Koogan. GOODMAN; GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 11ª ed Editora MCGraw-Hill. - - - 2+ 11 / 12 RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 6º ed. Editora Guanabara Koogan. STAHL S. M. Psicofarmacologia. Bases neurocientíficas e aplicações práticas. 3º ed. Editora Guanabara Koogan. 12 / 12
Compartilhar