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Vinicius José Perri Dias Farmacologia Geral Ansiolíticos e Hipnóticos ⇒ Medo e ansiedade: ● Medo: O medo é causado quando há presença de um estímulo ameaçador real. Um exemplo simples seria por exemplo um assalto. Quando o estímulo ameaçador real está presente, há desencadeamento do medo e uma série de reações: ○ Comportamentos defensivos: lutar, fugir e “congelar” ○ Alterações autonômicas: taquicardia, sudorese, tremor, liberação de esfíncteres ○ Aumento no niveis de atenção (estado de alerta) ○ Secreção de corticosteróides ● Ansiedade: A ansiedade é causada quando os estímulos ameaçadores são POTENCIAIS. Isso significa que a ansiedade é uma emoção antecipatória, e quando ela é desencadeada, a mesma de série de reações do medo ocorrem, porém em uma configuração diferente e menor intensidade. ● Ambas as emoções descritas acima servem para nos proteger. No caso da ansiedade, por ser antecipatória, somos capazes de prever resultados mediante uma possível ameaça, resultando na tomada de iniciativa para evitar aquilo. Vale ressaltar que existe uma distinção, muito tênue, entre a ansiedade saudável e patológica. A ansiedade passa a ser patológica quando interfere no desempenho das tarefas produtivas diárias. ⇒ Transtornos de ansiedade: ● Os transtornos de ansiedade se subdividem, porém todos os tipos tem dois sintomas comuns: 1) Ansiedade/medo 2) Preocupação ● É vago dizer que os subtipos de transtornos de ansiedade tem esses dois sintomas como sintomas nucleares, então, diz-se que eles são exacerbados e persistentes por mais de seis meses. Ao redor desses dois sintomas centrais, existem outros sintomas que compõem o subtipo do transtorno de ansiedade que está sendo analisado: ○ Concentração: Alguns subtipos de transtornos ansiosos tem prejuízo da concentração, logo, o desempenho nas tarefas que usam da função intelectual/mental fica prejudicado ○ Problemas no sono: Talvez o mais comum de todos seja o de iniciar o sono. A preocupação exacerbada toma conta dos pensamentos do indivíduo quando este se deita, atrasando o início do seu sono ○ Fadiga: Indivíduos ansiosos tem uma hiperativação do sistema nervoso, estando sempre vigilante e em alerta, o que consome muita energia ○ Irritabilidade: Especialmente em crianças a irritabilidade pode substituir os sintomas nucleares ○ Ataques de pânico: O indivíduo sente com frequência um “estrangulamento”, uma sensação de constrição, causando uma impressão de morte eminente ⇒ Sintomas cerebrais associados a regiões cerebrais e circuitos que os regulam: ✓ Podemos dividir os sintomas centrais dos transtornos ansiosos em dois, como dito anteriormente. Cada um deles tem por trás alguma anormalidade em determinada região cerebral: ● A ansiedade/medo é principalmente resultado do circuito centrado na amígdala. No esquema abaixo, vemos um corte sagital do encéfalo, e na região mais inferior do hemisfério esquerdo, vemos uma estrutura chamada amígdala. Veja que ela possui interconexão com áreas corticais e subcorticais ocupando uma posição central no meio de toda essa conexão. O indivíduo com transtorno de ansiedade tem a amígdala hiperativa, então, as transmissões sinápticas estão ocorrendo de maneira exagerada, dessa forma, ocorre hiperativação de outras áreas cerebrais, causando outros sintomas relacionados à ansiedade/medo. ● A base biológica por trás da preocupação é o circuito córtico estriado talamocortical (CETC). Esse circuito não tem um local de início pois está todo fechado. Uma área do córtex está hiperexcitada e está ligada com o estriado, que se comunica com o tálamo, que por sua vez fica hiperativado, O tálamo tem neurônios que se projetam para o córtex descrito inicialmente, então, esse circuito fica se retroalimentando e fica hiperativo, causando apreensão, expectativa. ● Dentro das áreas que aparecem hiperexcitadas nos transtornos ansiosos, temos neurotransmissores, e a neurotransmissão está anormal nessa área. ● Todos os neurotransmissores podem ter sua transmissão sináptica anormal. Se esse circuito (amígdala ou CETC) está hiperexcitado, pode estar por trás, por exemplo, a transmissão por serotonina, glutamato, noradrenalina, GABA (diminuída) e com relação ao CRF, existe uma série de mudanças plásticas (dessensibilização de receptores). ● Se o circuito está hiperexcitado, faz sentido pensar que o sistema neurotransmissor inibitório está deficiente, logo, o GABA não está inibindo adequadamente aquele circuito, por isso está hiperativo. ⇒ Fármacos usados para tratar transtornos de ansiedade: ✓ Ao tratar transtorno de ansiedade, devemos pensar em diferentes classes farmacológicas. Benzodiazepínicos: são uma classe muito tradicional na terapêutica para transtorno de ansiedade. Sabe-se que eles tem efeito bastante importante sobre o Transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Esses mesmos BZDs devem são recomendados para tratar ansiedade pontual. Eles também são muito utilizados para tratar transtornos de pânico, porém sempre associados a um ISRS Buspirona: é o principal exemplo de uma classe de fármacos chamada de azapironas. Ela é utilizada no transtorno de ansiedade generalizada, mas não é eficaz no tratamento de fobias a ansiedade social. A buspirona não é hipnótica, isto é, não induz sonolência, diferente dos BZDs. Antidepressivos: são muito bons para Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobias e transtorno de ansiedade social. Como esses transtornos de ansiedade aparecem junto com a depressão, esses fármacos tem ótimo efeito pois reduzem o transtorno de ansiedade e a depressão. Antiepiléticos: também podem ser utilizados no transtorno generalizado de ansiedade. Atenção para efeitos colaterais Antipsicóticos atípicos: também são utilizados, mas atenção para os efeitos colaterais Antagonistas B-adrenorreceptores: Não tratam transtorno de ansiedade. Seu uso é pontual. Controla sintomas físicos da ansiedade ao bloquear resposta simpáticas (controlar reações mais periféricas da ansiedade). Acredita-se que esses fármacos também tenham ação no sistema noradrenérgico do cérebro, mas seu principal efeito é no controle das reações autonômicas. O maior exemplo dessa classe é o propranolol. ⇒ Alvo dos agentes ansiolíticos tradicionais: ● Quando falamos nos fármacos tradicionais no tratamento de ansiedade, devemos falar de benzodiazepínicos. São a classe mais tradicional no tratamento do transtorno ansioso. Também temos um outro grupo de fármacos relacionados ao efeito ansiolítico que são chamados de barbitúricos. ● BZDs e barbitúricos têm como alvo farmacológico o receptor GABA-a. O receptor GABA-a é um receptor ionotrópico, ou seja, um canal iônico dependente de ligante, que nesse caso é o neurotransmissor GABA. Esse canal iônico é pentamérico, ou seja, formado por cinco proteínas, que se organizam, de forma a deixar um poro no meio. Existem três tipos de subunidades do receptor GABA-a: subunidade alfa, beta e gama. Geralmente, a composição deles é a seguinte: duas alfa, duas beta e uma gama. ● Existem várias isoformas para cada subunidade: ○ Seis subtipos de subunidade alfa ○ Três subtipos de subunidade beta ○ Um subtipo de subunidade gama ● Imagine que a partir dessas várias isomorfos surjam também várias combinações. Essas são as principais combinações de subunidades, pois são as mais presentes no cérebro humano. Em geral, o GABA se liga na interface entre subunidades alfa e beta e no meio há um poro permeável ao íon cloreto ⇒ Fisiologia do receptor GABA-a: ● Na imagem a direita vemos uma sinapse inibitória mediada por GABA. Quando esse neurotransmissor se liga ao receptor GABA-a, ocorre abertura do canal iônico para cloreto, ocorrendo influxo desse íon. ● A face interna da membrana pós-sináptica fica mais eletronegativa, então ocorre o fenômeno da hiperpolarização. Se a hiperpolarização for local, diz-se que ocorreu um potencial inibitório pós-sináptico, isto é, seu potencial ficou mais eletronegativo, então, se outro neurônio quiser interagir com a membrana pós-sináptica estimulando-a, o neurotransmissorexcitatório tentará despolarizar essa membrana porém irá promover apenas uma pequena despolarização, pois a membrana pós-sináptica estava com seu potencial muito negativo, logo a despolarização não atinge o limiar para disparar um PA. ● O PIPS é um potencial inibitório pós-sináptico, significa que naquele trecho da membrana pós-sináptica houve uma hiperpolarização. Por mais que chegue um estímulo depois, o potencial está tão negativo que ele despolariza mas não atinge o limiar de disparo, por isso, diz-se que na sinapse inibitória da membrana pós-sináptica fica menos excitável. ⇒ Barbitúricos: ● Os barbitúricos são fármacos utilizados no tratamento da ansiedade, porém em menor escala, quase não sendo usados. São a classe de fármacos mais antiga para tratar transtornos de ansiedade. Os barbitúricos são moléculas que tem um núcleo de barbitúrico, o que varia entre eles são os radicais que se ligam no carbono cinco. ● O receptor GABA-a é alvo dos barbitúricos. Temos o sítio ativo para o GABA, e temos um sitio modulador alostérico onde os barbitúricos se ligam (diferente do sítio de ligação do GABA). Sendo um sítio modulador alostérico, diz-se que os barbitúricos são fármacos moduladores alostéricos positivos, aumentando o tempo de abertura dos canais para íon cloreto. Para isso acontecer, o GABA também deve estar ligado em seu sítio ativo, pois quem abre o canal é o GABA e quem mantém ele aberto por mais tempo é o barbitúrico. Em doses terapêuticas o barbitúrico nao abre o canal, porém existem relatos que em doses maiores o barbitúrico consegue se ligar ao sítio do GABA (perda de seletividade). ● Os barbitúricos não só aumentam a duração de abertura dos canais cloreto, mas inibem a neurotransmissão de glutamato, mas isso não é bem elucidado. ⇒ Benzodiazepínicos: ● Todos os BZD tem um anel benzodiazepínico em sua estrutura. Que é a junção de um anel formado por sete elementos que está fundido a um anel aromático ● Os BZDs, assim como os barbitúricos, em doses terapêuticas, não se ligam ao sítio ativo do GABA. Vale ressaltar que o sítio modulador alostérico onde os BZDs se ligam não é o mesmo sítio dos barbitúricos. Os BZDs são considerados moduladores alostéricos positivos. ● Os BZDs aumentam a probabilidade de abertura do canal cloreto, isso quer dizer que o canal abre mais vezes por unidade de tempo, então a frequência de abertura aumenta. ● Na imagem abaixo podemos ver o receptor GABA-a visto de cima, com cinco subunidades. Sabemos que o GABA se liga na interface das subunidades alfa e beta, e que os moduladores alostéricos dos BZDs estão na interface das subunidades alfa e gama. Quando o receptor GABA-a está em repouso, o canal de cloreto fica fechado (figura 1). Quando o GABA está presente na sinapse, ele se liga no receptor GABA-a, com isso ocorre abertura do canal cloreto (figura 2), dessa forma há influxo de íons cloreto, tornando a membrana pós-sináptica hiperpolarizada, diminuindo sua excitabilidade. Para que o BZDs consigam exercer sua atividade, é preciso que o GABA esteja ligado no sítio ativo do receptor GABA-a, quando isso acontece, o BZD que está ocupando o sítio modulador, aumenta a afinidade do GABA pelo receptor, isso significa que a ação do GABA ocorre mais vezes porque o canal abre com maior frequência, então há entrada de mais íons cloreto, e a membrana pós-sináptica ficará mais hiperpolarizada. ● O efeito farmacológico dos BZDs é importante pois por trás dos sintomas centrais da ansiedade existe um circuito hiperativo, e a ação do GABA é inibitória. Se há administração de BZD, o paciente tem uma potencialização gabaérgica, que acaba diminuindo a hiperexcitação dos circuitos. Então, os circuitos têm sua ativação normalizada, isso causa um alívio da ansiedade no comportamento da pessoa, as reações causadas pela ansiedade são normalizadas (atenuação dos comportamentos ansiosos). ● OBS: Algumas pessoas podem desenvolver descontrole, justamente por conta da desinibição comportamental. Pode haver um efeito contrário, que é o efeito de hostilidade ou excitação paradoxal (espera-se efeito calmante com os BZDs, porém, a desinibição comportamental pode ocorrer de forma exagerada, tornando a pessoa hostil e irritada). ● Os benzodiazepínicos são usados para tratar estados de ansiedade aguda. Geralmente utiliza-se para aliviar momentos de ansiedade. ● Os benzodiazepínicos também podem ter outros efeitos, como por exemplo: ○ Redução do tônus muscular: Relaxamento parcial da musculatura esquelética (receptores GABA-a na medula espinhal) ○ Efeitos anticonvulsivantes ○ Amnésia anterógrada: evitar memórias desagradáveis (cirurgias por exemplo) ⇒ Funções das diferentes subunidades do receptor GABA-a: O receptor GABA-a é formado por cinco subunidades. Existem 3 subtipos de subunidades (alfa, beta e gama). Quando o receptor GABA-a tem pelo menos uma subunidade do subtipo: ● alfa-1 e o fármaco se liga nesse receptor: os efeitos que observamos são hipnótico e anticonvulsivantes. O diazepam tem uma certa seletividade para alfa-1, isso significa que diazepam se liga a receptores GABA-a que tem subunidades alfa-1 em sua composição, logo, o efeito do diazepam é de hipnose e anticonvulsivante. ● Alfa-2: Acredita-se que BZD que se ligam ao receptor GABA-a com subunidade alfa-2 tem efeito ansiolítico, no caso diazepam, midazolam. ● Alfa 2, 3 e 5: O efeito de relaxamento muscular está relacionado a fármacos que se ligam a receptores GABA-a que tem subunidades alfa 2, 3 e 5. ● Alfa 1 e 5: O efeito amnésico está relacionado as subunidades alfa 1 e 5. ● OBS: O zolpidem (fármaco Z) é muito mais seletivo, tendo afinidade por receptores GABA-a com subunidades alfa-1. Zolpidem não é um BZD, é um fármaco hipnótico. ● O flumazenil é um antagonista de BZD que se liga ao receptor GABA-a que tenha qualquer subunidade alfa. ⇒ Efeitos indesejáveis dos benzodiazepínicos: ● Geralmente, pacientes que tomam BZD tem prejuízo do desempenho psicomotor, diminuição dos níveis de atenção, prejuízo na velocidade com que se desempenha uma tarefa e diminuição no tempo de reação. ● A depressão respiratória, sob doses terapêuticas, pode ocorrer em pacientes com doenças respiratórias. No tronco encefálico temos um centro respiratório bulbar, que é formado por dois grupos de neurônios, que controlam músculos da inspiração e expiração, é esse centro respiratório que é inibido pelos BZDs. ● A prescrição deve ser evitada aos idosos, pois existe uma série de problemas que pode ser causada a eles pelos BZDs. O idosos pode ter prejuízo cognitivo (a amnésia anterógrada pode ser prolongada), e podem ter incoordenação motora com isso o risco aumentado de quedas e acidente. ● Os BZD causam tolerância e dependência. Esse efeito representa o principal obstáculo na prescrição de BZD. Um paciente que toma BZDs cronicamente desenvolve tolerância, o que faz com que a dose tenha que ser aumentada gradualmente até atingir o efeito necessário. O risco disso é a indução de dependência, nesse caso o indivíduo necessita utilizar o fármaco, caso contrário ele terá a síndrome de dependência (retirada). Essa síndrome têm uma composição de sintomas do tipo tremores, sudorese, taquicardia e a própria ansiedade exagerada, entre outros. Por conta da tolerância e dependência existe a prescrição descontrolada de BZD, simplesmente pelo fato do paciente ser dependente dele. Existe um comércio indevido dos BZD, o que acaba abrindo brechas para o abuso do fármaco. ● Se o indivíduo sofrer uma overdose por BZDs (sobredosagem aguda), muito comum em tentativas de suicidio, o paciente terá um sono prolongado e dependendo da dose tóxica pode ter depressão respiratória (inibição do centro respiratória). O efeito tóxico dos BZD podem aparecer quando o fármaco é associado a bebidas alcoólicas ou fármacos barbitúricos, esse uso deprime o sistema nervoso central, então, o paciente pode ter inibição do centro respiratório e desenvolver depressão respiratória grave. ⇒ Mecanismo de ação dos antagonistas de BZDs: ● Para reverter quadros deintoxicação por BZDs, utiliza-se um modulador alostérico neutro. O receptor GABA-a tem dois neurotransmissores GABA ligados em seu sítio ativo, que abrem o canal para íons cloreto, também temos um BZD ligado no sítio alostérico, aumentando a afinidade do GABA pelo sítio ativo. ● Se há superdosagem, administra-se o modulador alostérico neutro, que competirá com o BZD pela ligação no sítio modulador alostérico, o flumazenil não tem efeito nenhum sobre o receptor e apenas bloqueia o sítio receptor alostérico, então o GABA volta a exercer sua atividade inibitória normal. ⇒ Aspectos farmacocinéticos dos benzodiazepínicos: ⇒ Características dos benzodiazepínicos: ● Todos os BZD tem o mesmo mecanismo de ação. Todos potencializam a neurotransmissão gabaérgica. Eles variam na farmacocinética, por exemplo na meia-vida. ● O midazolam por exemplo tem meia vida de duas a quatro horas, já o clonazepam tem meia vida de 50 horas. ● Alguns formam metabólitos ativos (cuidado com os efeitos cumulativos). ● Podemos utilizar essa informação de duração de meia-vida para a terapêutica, os BZDs de curta duração são utilizados como hipnóticos. Os que têm duração mais longa são utilizados como ansiolíticos e como anticonvulsivantes. ● OBS: O problema dos de longa duração, é que por estarem presentes no organismo por muito tempo, acabam produzindo efeitos residuais, isto é, você toma hoje e amanhã sente cansaço e sonolência, pois eles ainda estão presentes e atuantes no organismo. ⇒ Buspirona: Agonista parcial de receptores 5-HT1a ● Temos uma segunda classe de fármacos para tratar ansiedade, as azapironas, mas o mais conhecido é a buspirona. A buspirona é um agonista parcial de receptores 5-HT1a (serotoninérgicos). Esses receptores são encontrados no dendrito e no soma de neurônios produtores de serotonina, que são encontrados no tronco encefálico, nos núcleos da rafe. Esse receptor é somatodendritico portanto. Também podemos achar esses receptores nos dendritos de neurônios espalhados pelo cérebro. ● A buspirona, sendo um agonista parcial, se liga nesses receptores somatodendriticos do núcleo da rafe. Esses receptores em específico são considerados autorreceptores, ou seja, toda vez que a serotonina aumenta em concentração ela se liga nesses receptores, que são metabotrópicos, acoplados a proteína Gi/Go, com isso, ocorre diminuição de AMPc dentro desse neurônio, que acaba abrindo canais de K+, dessa forma a membrana do neurônio serotoninérgico hiperpolariza e a passagem de impulsos nervosos diminui, então, não há mais liberação de serotonina na fenda. ● O receptor somatodendritico então regula a liberação de serotonina nas outras áreas do encéfalo. A buspirona mimetiza parcialmente a serotonina, estimulando o auto receptor, diminuindo a passagem de impulsos nervosos, causando menor liberação de serotonina, que sendo menos liberada deixa de estimular neurônios em outras áreas do cérebro. ● A buspirona também pode agir nessas outras áreas cerebrais que têm esse receptor, mas por ser agonista parcial, ela não terá efeitos tão grandes sob esses neurônios. ✓ OBS: Piora dos sintomas ansiosos no início do tratamento com Buspirona: ● O neurônio que está no núcleo da rafe tem receptores 5-HT1a, que são somato dendríticos e tem papel de regular serotonina nas outras áreas do cérebro, como por exemplo a amígdala. ● No início do tratamento temos um número x de receptores, ao tomar buspirona, esses receptores vão sendo estimulados. Com o uso prolongado da buspirona, eles respondem da seguinte forma: se interiorizam pois há muito fármaco disponível (dessensibilização), se há menos 5-HT1a, não há impedimento da passagem de impulsos nervosos, então, mais serotonina será liberada nas áreas cerebrais, por exemplo a amígdala, causando piora dos sintomas da ansiedade, isso acontece nas primeiras semanas do uso. ● Na terceira ou quarta semana de uso, esses receptores 5-HT1a param de ser internalizados, continuando em uma densidade adequada na membrana do neurônio da rafe, então a buspirona começa a agir em neurônios que estão na amígdala, causando um processo de dessensibilização nessa região e nas outras áreas cerebrais, então, por mais que a serotonina seja liberada na fenda, não há receptores para responder a ela, nesse momento os níveis de ansiedade se normalizam. Esses receptores que estão em diferentes áreas do cérebro e são recolhidos num segundo momento, são receptores do tipo 5-HT2. A buspirona é para uso contínuo. ⇒ Diferenças nos efeitos clínicos da buspirona e BZDs clássicos: ⇒ Efeitos sedativos e hipnóticos: ● Quando falamos de efeito sedativos estamos falando de ansiólise. No gráfico abaixo temos uma reta que está decrescendo, indicando o nível de consciência. Conforme a consciência vai sendo alterada, mudamos nossos estados. Veja que o alívio da ansiedade significa um nível de consciência no qual a sedação é mínima. Se houver sedação muito maior, com barbitúricos por exemplo, o nível de consciência decresce (sedação moderada). Na anestesia geral a pessoa não responde a estímulos, nem mesmo de dor. ● Os hipnóticos são fármacos utilizados para induzir e manter o sono. O sono tem alteração do estado da consciência fisiológico. Alguns fármacos conseguem induzir um estado parecido com o sono. Nunca será exatamente o sono pois esse é fisiológico. Os BZDs podem ser utilizados para tratar insônia somente por curtos períodos, pois ao usar de modo prolongado ele causa tolerância e dependência. Os BZDs, quando retirados, causam insônia de rebote. ⇒ Insônia: ● Durante o sono, ficamos pouco reativos a estímulos do meio, porém, temos alterações do sono que podem prejudicar o dia a dia. Existem pessoas que tem sonolência excessiva durante o dia e pessoas que não conseguem dormir durante a noite. ● Nosso encéfalo pode ficar pouco ativado, ter sua ativação aumentada e até ter ativação excessiva. Algumas pessoas tem ativação excessiva durante o dia, você fica adormecido, mas está acordado, provavelmente pois essa ativação excessiva durante a noite causa insônia (seja de início ou de manutenção). ● A insônia pode ser um sintoma de algum outro distúrbio ⇒ Fármacos hipnóticos: Existem fármacos específicos para tratar insônia, normalmente eles induzem sono e fazem manutenção do mesmo, esses são os fármacos Z: Zolpidem, Zaleplon e a Zopiclona. Os fármacos Z tem mecanismo de ação idêntico ao dos BZDs, ou seja, se ligam no sítio modulador alostérico de receptores GABA-a, aumentando a afinidade do GABA pelo sítio ativo, aumentando a frequência de abertura do canal iônico, aumentando a hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Utilizam-se fármacos Z pois eles são seletivos para receptores GABA-a que tenham apenas a subunidade alfa-1, que induzem sono (o uso de fármacos Z previne outros efeitos que os BZDs causariam). Em geral a meia vida desses fármacos é curta, evitando o efeito de ressaca no dia seguinte. Deve-se tomar cuidado pois esses fármacos continuam potencializando a transmissão gabaérgica, não devendo ser utilizado com álcool. ⇒ Indução de sono por BZDs: ● Nesse gráfico temos o comportamento de uma pessoa ao longo do tempo usando BZD. O BZD começou agir, tem efeito hipnótico, e o sono vai melhorando até se tornar normal, mas esse uso crônico causa tolerância, logo a mesma dose não causa mais o mesmo efeito, o sono começa. Ao interromper abruptamente o uso do BZD o paciente desenvolve insônia de rebote. Com o passar do tempo o nível de insônia volta a ser normal. ● Ao tomar fármaco Z o sono normaliza. Ao para de tomar ele cai um pouco, mas a maioria das pessoas se recupera. Alguns casos podem retomar a insônia.
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