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2 ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA CURSO DE PEDAGOGIA RICARDO TAVARES DE MEDEIROS RUAN PABLO CORRÊA RICARDO PEDAGOGIA EMPRESARIAL: UMA NOVA PROPOSTA PARA UM NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO SERRA 2011 3 RICARDO TAVARES DE MEDEIROS RUAN PABLO CORRÊA RICARDO PEDAGOGIA EMPRESARIAL: UMA NOVA PROPOSTA PARA UM NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Orientador: Profº Dr Davis Moreira Alvim SERRA 2011 4 RICARDO TAVARES DE MEDEIROS RUAN PABLO CORRÊA RICARDO PEDAGOGIA EMPRESARIAL: UMA NOVA PROPOSTA PARA UM NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Aprovada em ____ de ________ de 2011 COMISSÃO EXAMINADORA _________________________________________________ Profº Doutor Davis Moreira Alvim Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Orientador _________________________________________________ Profº Doutor Omar Carrasco Delgado Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 1 _________________________________________________ Profª Mestre Vânia Rosa Rodrigues Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 2 5 A Deus, nossas famílias, amigos e professores com todo o o carinho. 6 Ao Prof. Dr Davis Alvim Moreira pela orientação nos dada. Aos membros da banca, professores Vânia, Omar e Davis pela leitura e observações desta pesquisa. Aos entrevistados pela possibilidade de nos fornecer os dados. A todos aqueles que colaboraram para a realização desta pesquisa. 7 “As empresas passaram a se preocupar não só com treinamentos, mas com a educação também. Eles perceberam que a Pedagogia aumenta a eficácia dos programas de treinamento porque as pessoas aprendem melhor. E, quando maior a coerência entre a cultura da companhia e os princípios pedagógicos aplicados, maior será o sucesso da empresa no mercado”. Marisa Éboli 8 RESUMO O contexto histórico e as ideias de Liberalismo e Neoliberalismo contribuíram para se chegar até a Pedagogia Empresarial. As mudanças ocorridas nesse período levaram a algumas empresas à idéia de que a educação e a empresa precisavam estar juntas para aperfeiçoamento dos profissionais inseridos e para a melhoria nos rendimentos financeiros das empresas. Com a proximidade de Pedagogia e empresa, interligamos a reformulação do curso de graduação em Pedagogia, que além das habilitações para a docência, sugere também a inserção deste profissional em espaços não-escolares. Foram muitos protestos para se chegar a uma legislação que permitisse tal habilitação. Com a habilitação instituída legalmente, algumas instituições abordam de forma simples e vaga, ou seja, abordam de maneira optativa. Com essas modificações no curso de Pedagogia, surgiram possibilidades do pedagogo estar atuando em várias instâncias além da docência. Esta pesquisa tem caráter exploratório, descritivo, bem como bibliográfico. Foram realizadas entrevistas com pedagogos e alunos do 1º e 7º períodos do Curso de Pedagogia da Faculdade Serravix com a finalidade de percepção do alcance do que é a pedagogia empresarial. Neste sentido, foi utilizado como instrumento metodológico a entrevista, materializada pela técnica do questionário. Como esta pesquisa aborda a Pedagogia Empresarial, destaca-se a inserção do profissional nas empresas especificamente no departamento de Recursos Humanos na função de gestor, exercendo as atividades de gestão da cultura organizacional, como gestão de treinamento, gestão de recrutamento e seleção. Ainda no campo empresarial percebe-se a importância do pedagogo como gestor do Departamento Social. Em vista disso, tem-se a ciência que esta pesquisa visa abordar como se chegou a ideia de Pedagogia empresarial, e as formas de atuação do profissional nas empresas. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia. Empresa. Recursos Humanos. Gestão. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 11 2 O LIBERALISMO, O NEOLIBERALISMO E A EMPRESA .................... 15 2.1 O LIBERALISMO CLÁSSICO .................................................................. 15 2.2 O NEOLIBERALISMO.............................................................................. 17 2.3 A DIVISÃO DO TRABALHO NAS EMPRESAS........................................ 22 3 EMPRESA E PEDAGOGIA..................................................................... 24 3.1 EMPRESA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL........................................... 24 3.2 REFORMULAÇÕES NO CURSO DE PEDAGOGIA................................ 27 3.3 A PEDAGOGIA NO CONTEXTO EMPRESARIAL.................................. 30 3.3.1 CONFLITOS DE PAPÉIS PROFISSIONAIS EM UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR.... 31 3.3.2 SOCIEDADE DE CONTROLE VERSUS SOCIEDADE DISCIPLINAR.......................... 34 4 CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EMPRESARIAL.................. 36 4.1 O PEDAGOGO NO DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS (DRH)......................................................................................................... 36 4.1.1 O PEDAGOGO EMPRESARIAL COMO GESTOR DA CULTURA CORPORATIVA......... 38 4.1.2 O PEDAGOGO COMO GESTOR DE TREINAMENTOS E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL ............................................................................................. 39 4.1.3 O PEDAGOGO COMO ANALISTA DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO ....................... 44 4.2 O PEDAGOGO EMPRESARIAL COMO GESTOR DO DEPARTAMENTO SOCIAL DA EMPRESA.............................................................................. 49 2.3 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS JUNTO A PEDAGOGOS EMPRESARIAIS ........................................................................................ 50 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 54 6 REFERÊNCIAS..........................................................................................57 APÊNDICE APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA PEDAGOGA A ................... 60 10 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM A PEDAGOGA B ......... 62 APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM A PEDAGOGA C.......... 64 APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 1º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ....................................... 66 APÊNDICE E - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 1º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ....................................... 67 APÊNDICE F - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 1º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ....................................... 68 APÊNDICE G - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 7º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ....................................... 69 APÊNDICE H - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 7º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ...................................... 70 APÊNDICE I - QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM ACADÊMICO DO 7º PERÍODO DO CURSO DE PEDAGOGIA ....................................... 71 ANEXOS ANEXO A – PÁGINA DA BIBLIOTECA ................................................................... 72 11 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso possui por temática “Pedagogia empresarial: uma nova proposta para um novo tempo na educação”. O contexto no qual está inserido o tema é o ambiente da gestão educacional, compreendida como sendo a forma de organizar, estruturar, planejar e coordenar as ações e estratégias de funcionamento das instituições educacionais. Justifica-se a delimitação a partir da preocupação com a escassez de informações a respeito da atuação dos profissionais da Pedagogia em espaços não-escolares, principalmente no que se refere ao ambiente empresarial. É indiscutível a relevância de se investigar tal temática, visto que a pós- modernidade alterou não apenas as relações de trabalho, as formas de produção, mas também, as relações de ensino-aprendizagem, pois, tanto os docentes quanto os discentes passaram a adotar novas práticas, novos comportamentos, construindo assim um novo perfil. No tocante, a finalidade desta pesquisa é proporcionar aos acadêmicos de Pedagogia, aos profissionais da educação e a todos os interessados em discutir as possibilidades de trabalho do pedagogo nas empresas, bem como destacar suas funções e extensões de atuação. A questão investigativa a ser respondida é conhecer quais as possíveis funções do pedagogo em uma empresa. No contexto da história da economia mundial, alguns fatos históricos influenciaram o modelo de mercado existente atualmente. Tais momentos históricos, foram determinantes para o surgimento de novas ideologias econômicas chamadas de Liberalismo e posteriormente Neoliberalismo. É impossível não mencionar os acontecimentos que marcaram o período do liberalismo e neoliberalismo onde se destacam: a transformação do mercado no que 12 se refere a um maior acesso aos produtos disponíveis e via de conseqüência o aquecimento econômico. O Liberalismo defendia a teoria do livre comércio, possibilitando a industrialização e a liberdade econômica, tendo a mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação. Em seguida, este passou a ser chamado de Neoliberalismo que foi adotado a partir da primeira metade do século XX e foi proposta por economistas franceses, alemães e norte-americanos, e passou a visar uma alocação dos princípios do Liberalismo Clássico, que por sua vez restringia a intervenção do Estado na economia, sendo que em alguns momentos o Estado poderia efetivar o seu poder. Graças a esses fatos históricos, hoje as empresas estão investindo na capacitação profissional de seus funcionários atualmente chamados de colaboradores, deixando de preocupar-se só com a venda dos produtos, preocupando-se também com os processos que envolvem as pessoas, relacionamentos, informações e a busca do sucesso das próprias empresas. Visando os lucros ampliou-se a necessidade do trabalho pedagógico dentro da empresa, criando uma educação corporativa com programas de treinamentos específicos de acordo com as necessidades da empresa. Tal trabalho que visa o aperfeiçoamento dos colaboradores, desde a equipe operacional até a gerencial da mesma. Esta pesquisa aborda o tema da Pedagogia Empresarial, um tema novo da Pedagogia e pouco estudado, onde há um eixo de questões de prós e contras. Pode-se perceber que a Pedagogia possui diversas ramificações e que a ciência não é de exclusividade de ambientes escolares. A escolha deste tema tem fundamental importância para formação do pedagogo, pois é uma ramificação da Pedagogia que pouco discutida e investigada, o tema chama a atenção pelo fato de estar inserido em uma área em crescimento, pois muitos alunos concluintes de tal curso escolhem temas relacionados apenas aos ambientes escolares e as formas de ensinar. 13 A Pedagogia Empresarial chama atenção pelo fato de que em nenhum momento da graduação houve um aprofundado a respeito do tema, pois foram raros os momentos em que algum professor abordou sobre tal ramificação. Outro motivo que chamou atenção foi à ausência de artigos ou qualquer outra forma de investigação científica produzida pelos discentes desta instituição sobre o tema proposto. Esta pesquisa contribuirá positivamente para incentivar que outros indivíduos investiguem e possam dar continuidade a discussão acadêmica iniciada neste trabalho de conclusão de curso, bem como, proporcionar para a sociedade civil uma nova visão a respeito da Pedagogia, que ainda é vista de forma menor e pouco valorizada. No que se refere a metodologia, trata-se de uma pesquisa com investigação em campo realizada via internet, ou seja, no espaço virtual e também desenvolvida no ambiente acadêmico com alunos do primeiro e do sétimo períodos do curso de Pedagogia da Faculdade Serravix no turno matutino. No que se refere a entrevista com pedagogos adotou-se o critério de profissionais que tenham ou já tiveram contato direto com a Pedagogia empresarial. Foram entrevistados três profissionais, três alunos do primeiro período e três do sétimo, permitindo assim a percepção inicial dos acadêmicos acerca da temática e a percepção real daqueles que estão deixando a graduação. As entrevistas foram realizadas no espaço de tempo de cinco dias, compreendidos no período de dezesseis a vinte de maio do corrente ano. A estrutura da narrativa está disposta em três capítulos, organizada obedecendo à seguinte linha de raciocínio: no primeiro capítulo é apresentado o contexto histórico- social, permitindo ao leitor a percepção do caminho desenvolvido para se chegar ao conceito inicial de Pedagogia empresarial. Na seqüência, o capítulo dois aborda a relação existente entre empresa e Pedagogia, destacando a crítica realizada aos cursos de graduação em Pedagogia, 14 fundamentando tal crítica com análise de dados extraídos da entrevista realizada com os acadêmicos. Finalizando esta investigação, o capítulo final apresenta um panorama descritivo da atuação do pedagogo nas empresas, destacando as diferentes funções desempenhadas junto ao departamento de Recursos Humanos e do departamento sugerido nesta pesquisa denominado departamento social.15 2 O LIBERALISMO, O NEOLIBERALISMO E A EMPRESA O Liberalismo e o Neoliberalismo são quadros históricos que devem ser abordados nesta pesquisa, pois, são fundamentos, que norteiam o histórico da Pedagogia Empresarial. A partir desses fatos destaca-se no presente capítulo importância das noções de “liberdade econômica” e “livre mercado” para uma abertura empresarial, que mais tarde promoveu as divisões dentro desta instituição em que, hoje, encontram-se equipes multidisciplinares divididas por hierarquias de cargos e funções visando o crescimento da produção. 2.1 O LIBERALISMO CLÁSSICO É impossível dissociar história e economia. Dentro do contexto histórico mundial podem-se encontrar vários períodos ou acontecimentos que favoreceram a construção e o desenvolvimento da economia. Destacam-se, dentre outros fatos históricos importantes, o Iluminismo, o Liberalismo Econômico e a Crise de 1929 como momentos fundamentais para o início do surgimento das teorias do Liberalismo Clássico e dos fundamentos que norteiam a Pedagogia Empresarial. O Iluminismo foi um movimento intelectual que teve suas origens na Europa nos séculos XVII e XVIII e que propunha uma mudança drástica na mentalidade da época. No campo econômico os iluministas questionavam o Absolutismo e o mercantilismo e, conseqüentemente, o rei e o clero. Segundo Stigar (2009) os pensadores iluministas como Jhon Locke (1632-1704) e o francês François-Marie Arouet, que se autodenominava como Voltaire (1694-1778), contribuíram para o fim do Absolutismo, respectivamente, na Inglaterra (Revolução inglesa de 1680) e na França (Revolução Francesa, 1789) por meio das revoluções burguesas da época moderna. Com as críticas do iluminismo à política mercantilista adotada pelos reis absolutistas e as revoluções burguesas surge o Liberalismo Econômico. É o que demonstra Holanda (2001, p.18): A França no séc. XVIII vai se transformar no baluarte do pensamento liberal tendo os fisiocratas como protagonistas fundantes. Eles acreditavam que os problemas econômicos e sociais eram motivados pelo desconhecimento das leis naturais por parte dos dirigentes políticos. Estes, por não compreenderem tais leis, não podiam organizar a produção, a não ser na direção da desordem e da insegurança. 16 O liberalismo foi uma doutrina fundamentada ideologicamente contra as revoluções anti-absolutistas que ocorreram ao longo dos séculos XVII e XVIII na Europa. Definimos a doutrina liberal ou o Liberalismo como os princípios e teorias políticas que defendem a liberdade política e econômica, sendo contrária ao forte controle do Estado na economia e na vida das pessoas. O pensamento liberal originou-se no século XVII, por meio de obras sobre política publicadas pelo já citado filósofo inglês John Locke. No século XVIII, o filósofo e economista escocês Adam Smith reforçou o liberalismo econômico com suas ideias. Os princípios básicos do liberalismo são: a defesa da propriedade privada; a liberdade econômica (livre mercado); a mínima participação do Estado nos assuntos econômicos da nação (governo limitado) e a igualdade perante a lei (estado de direito). Assim, o liberalismo defendia o princípio segundo o qual o Estado deveria deixar o livre mercado ser o regulador da economia, defendendo, como dizia Smith, que a 'mão invisível do mercado' fosse o agente regulador da economia. Segundo Moraes (2001, p.17): A argumentação de Smith é clara. Para que o mundo seja mais livre justo e rico, é necessário que a disciplina anônima e invisível da concorrência substitua a disciplina visível das hierarquias arcaicas. E onde estão estas hierarquias perniciosas? São as obrigações tradicionais e personalizadas das instituições medievais, os regulamentos das corporações de ofícios e as leis do estado mercantilista. Smith elogia a virtuosa mão invisível do mercado contra a viciosa mão visível do poder político. Kon (1999, p.15) afirma que Adam Smith, o “pai do Liberalismo”, defendia a teoria que o livre comércio entre as nações viabilizava o processo de industrialização. Esta teoria teve ampla aceitação pela burguesia inglesa da época que via no liberalismo uma possibilidade de ampliar seus lucros. Entre os anos de 1978 e 1979, Focault lecionou no collége de France o curso chamado “Nascimento da Biopolítica”. Em sua aula no dia 17 de janeiro de 1979 o tema discutido foi o liberalismo e a adoção de uma nova arte de governar. Segundo Focault (2008, p. 140) o liberalismo é a liberdade econômica como modelo de governo que visa expandir o Estado por meio desta, ou seja, a partir do livre mercado. Porém, a controvérsia sobre os aspectos fundadores e limitadores da teoria liberal levantavam dúvidas. Por um lado o liberalismo seria fundador, pois 17 levaria à expansão dos Estados fracos, economicamente falando, por outro seria limitador, uma vez que os estados dependeriam do mercado para crescerem. O autor aborda a temática refletindo sobre a forma de governo, partindo de uma “arte de governar” iniciada a partir do século XVIII e com a nomenclatura “razão governamental moderna” que visava e objetivava um excesso de governo, que se transformava em um método de governo e que assegurava a prosperidade da nação. Valor de troca e veridição espontânea dos processos econômicos, medidas de utilidade e jurisdição interna dos atos do poder público: aí está como a razão governamental articula os princípios fundamentais de sua autolimitação. Troca de um lado, utilidade de outro, (...) a categoria geral que vai abranger tanto a troca quanto a utilidade é, naturalmente, o interesse, dado que o interesse é o princípio da troca e o critério da utilidade (FOUCAULT, 2004, p.46). Segundo Silva (2009), a reflexão de Foucault acerca do liberalismo, ao analisar como os conceitos de utilidade, interesse e eficácia, se sobrepõem às noções e soberania e legitimidade, explicita as transformações ocorridas no século XVIII. Daí, após as diversas facetas da intervenção estatal, como o nazismo, o socialismo e o Welfare State, ocorrerão novas transformações na segunda metade do século XX, ligadas ao neoliberalismo. O autor inicialmente faz uma abordagem sobre o neoliberalismo alemão, em seguida os ordoliberais, e por ultimo a intenção de refundar o Estado sem acudir a nenhum dos princípios que tinham levado ao Estado nacional-socialista. Foucault afirma então que os autores destes momentos prezam pela legitimidade e formalização numa sociedade no modelo de empresa. 2.2 O NEOLIBERALISMO Nos anos 20 as ações se valorizavam por causa do crescimento econômico, com a massificação de bens de consumo, que naquela época estavam praticamente ao alcance de todos os americanos, no que ocasionou numa superprodução que fez com que a bolsa de valores ficasse em alta. Porém, tal euforia econômica gerou um caos que ficou conhecido como a Crise de 1929 ou a Grande Depressão, que se deu devido aos empresários agirem por conta própria, só pensando em seus lucros fazendo entre si a concorrência. Milhões de operários sofreram fome e desemprego 18 e com isso a economia se desenvolvia sem nenhum controle, nenhum planejamento. Chegou o momento que a produção superou a capacidade de consumo da sociedade. Quando apareceram as primeiras notícias de falência de empresas, todos os empresários e investidores tiveram receio e venderam suas ações, o que fez com que os preços caíssem até acontecer a quebra da bolsa de Nova York. Após a crise de 1929 e um longo período de forte intervenção do Estado na economia, o Neoliberalismo apareceu. Foi um termo adotado a partir da primeira metade doséculo XX, ganhando importância maior a partir da década de 1970. Inicialmente a doutrina neoliberal foi proposta por economistas franceses, alemães e norte-americanos e visava uma alocação dos princípios do liberalismo clássico às subordinações do Estado regulador, em seguida, a doutrina neoliberal passou a defender a liberdade de mercado e passou a restringir a intervenção do Estado sobre a economia, só permitindo está em alguns ramos que influenciasse economia e, mesmo assim, bem pouco era tal intervenção. É nesse segundo sentido que o termo é mais usado hoje em dia. Nesse período o Liberalismo emergiu como representação política e moral da sociedade moderna. Sua consolidação foi se efetivando com a instalação das revoluções burguesas na Europa no século XVIII. Seu apogeu chegou na metade do século XX. Desprezado e combatido na primeira metade do século XX, renasceu com bastante expressão política e ideológica no final da década de 70 na Inglaterra e nos Estados Unidos (HOLANDA, 2001, p.150). Pode-se definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do Estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), ou seja, uma abertura empresarial que se baseava na criação de pessoas jurídicas com opção de escolha do ramo de atuação, este momento partia do princípio de garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. Tal momento faz pensar que nem sempre toda liberdade econômica corresponde à liberdade política, pois nesta época muitos trabalhadores tentaram reagir aos patrões que faziam às ordens, ou seja, somente os patrões comandavam e criavam suas próprias leis trabalhistas. 19 Anderson (1995) aponta que a economia se via em meio ao caos e o governo americano ainda seguia o modelo de Estado de Adam Smith. Com a economia já afundada, em 1932 os americanos elegem o presidente Franklin Delano Roosevelt que trazia consigo um novo pensamento para a economia, ao invés de Adam Smith, o novo presidente seguia as teorias do economista inglês John Maynard Keynes. Conforme Faria (2009) o objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação. O pensamento de John Keynes visava “salvar” o capitalismo por meio da intervenção do Estado na economia. Roosevelt criou então um plano econômico chamado New Deal que influenciou na imitação por parte de quase todos os países do mundo. Depois desta novidade os países capitalistas deixaram de lado o liberalismo e implantaram a participação do Estado nas decisões econômicas. Chega-se ao fim do liberalismo e surgia o novo momento econômico o capitalismo monopolista de Estado. Que fez uma recuperação da economia, passando a vigiar as ações do mercado, acompanhando os empresários nas questões de investimentos e fiscalizando a bolsa de valores. O New Deal posteriormente seria copiado por parte de quase todos os países capitalistas a partir da década de 70. De acordo com Sunstein (2004, p. 2) o plano econômico New Deal criou leis sociais, que pensavam nos trabalhadores e desempregados. Inicialmente os empresários rejeitaram tal plano e acusaram Roosevelt de comunista. O plano, porém, levou à recuperação das indústrias e proporcionou empréstimos aos proprietários rurais. Pode-se dizer que o New Deal contribuiu para que o sistema também beneficiasse os operários com o crescimento econômico. O trecho abaixo foi retirado da carta onde Roosevelt formalizava os direitos dos trabalhadores norte - americanos: [...] O direito a um emprego remunerado nas fábricas, lojas, fazendas ou minas da nação; O direito de ganhar o suficiente para satisfazer de forma adequada suas necessidades relacionadas à alimentação, vestuário e lazer 20 O direito de todo agricultor de produzir e vender suas mercadorias para obter um retorno que dará a sua família uma vida digna; O direito de todo empresário, grande ou pequeno, de atuar em uma ambiente livre da concorrência desleal e da dominação por monopólios, tanto nacionais quanto estrangeiros; O direito de toda família a uma moradia digna; O direito à saude e assistência médica adequada; O direito a adequada proteção dos idosos frente às dificuldades econômicas, doenças, acidentes e desemprego; O direito a uma boa educação (ROOSEVELT apud Sunstein, 2008, p. 3). Assim, paulatinamente, quase todos os países capitalistas do mundo foram deixando de lado o liberalismo e implementaram a forte participação do Estado nas tomadas de decisões econômicas. Chega-se ao fim do liberalismo clássico e surge o novo momento econômico: o capitalismo monopolista de estado, que recupera a economia passando a vigiar as ações do mercado, exigindo ainda investimento dos empresários e fiscalizando a bolsa de valores. No caso do Brasil, segundo Alem (apud PREBISCH,1964, p.5): As exportações deveriam ter sido o complemento da industrialização periférica. Entretanto, não teria sido fácil realizá-las em plena desintegração da economia mundial durante os anos 30, quando adquire impulso o movimento industrializador em alguns países periféricos. Nestes tempos, os países industrializados, (...) se viram forçados a aplicar medidas fortemente restritivas de suas importações. Teriam permitido, então, nestas circunstâncias, acesso das exportações industrializadas de países em desenvolvimento, quando colocavam obstáculos a suas exportações primárias? (...) Como resultado, a industrialização teve que se voltar para dentro, como um simples processo de substituição de importações, simples, mas, geralmente, custoso. Por acaso haveria outra possibilidade? Poder-se- ia se esperar que os países industrializados em seu empenho de lutar contra a depressão a partir de tarifas e outras restrições estimulassem as importações de manufaturados produzidos pela periferia? Claro que não. E nem poder-se-ia esperar, tampouco, que ante a facilidade de substituir importações, a partir da forte proteção e com um mercado interno relativamente seguro e crescente, os países que iniciavam deste modo sua industrialização desviassem seus esforços em direção a mercados externos hostis e arriscados. É inegável que a industrialização baseada na substituição de importações tem contribuído para a elevação da renda nos países em desenvolvimento, mas o fez em grau muito menor do que poderia ter feito com uma política racional que combinasse a substituição de importações com as exportações de manufaturados. Esse trecho de Prebisch, citado por Alem, diz respeito ao modelo econômico da que se baseava na substituição da industrialização pela importação que tinha grande participação do Estado, ou seja, ela expressa o momento em que o Brasil começou a seguir o modelo neoliberal. 21 Neste momento histórico chegou-se a conclusão de que a industrialização causava danos ao país, não se importando tanto com o crescimento econômico, mas sim com a estabilidade monetária. Caracterizando este período pela valorização dos produtos estrangeiros, chegando ao pensamento de que quem defendesse as empresas nacionais eram pessoas atrasadas e preservar o emprego dos brasileiros uma ideia antiga, ou seja, acreditava-se que o Brasil não tinha como competir com a concorrência externa. Como citado anteriormente, esse modelo considerado antigo fez com que o Brasil abandonasse tais ideias e partisse para as doutrinas neoliberais. Desta forma, a partir do momento que o populismo deixou de existir com o golpe de 1964, o modelo até então vigente, perdia suas bases e todo o sistema que fez o Brasilentrar em crescimento deixou de existir. No período em que Fernando Collor passa a governar o Brasil na década de 1990, os produtos internacionais tiveram uma queda nos impostos, que fez com que os produtos importados invadissem o mercado brasileiro. Mendonça (2011) afirma: A oferta de produtos cresceu e os preços de algumas mercadorias caíram ou se estabilizaram. Os efeitos iniciais destas medidas indicavam que o governo estava no caminho certo, ao debelar a inflação que havia atingido patamares elevados no final da década de 1980 e início da década de 1990, mas isso durou pouco tempo. Em tal período ocorreram privatizações de empresas estatais e o governo passou a incentivar os investimentos externos, no entanto, tais investimentos chegaram posteriormente, devido o receio dos investidores frente à economia instável do país naquele momento. O governo que teve o processo mais acelerado de abertura econômica foi o de Fernando Henrique Cardoso, que fez que muitas empresas não conseguissem se adaptar às novas regras de mercado, levando-as à falência ou a vender seu patrimônio. O governo Lula manteve a orientação da política econômica do governo anterior. 22 2.3 A DIVISÃO DO TRABALHO NAS EMPRESAS De acordo com Fernandes (2010) a divisão do trabalho começou a ser praticada a partir da Revolução Industrial, provocando uma mudança radical no conceito de produção pela fabricação maciça por meio da máquina em substituição ao artesanato e da aplicação da especialização do trabalhador na linha de montagem. Percebe-se então que surge a figura do especialista, que seria o profissional encarregado de uma função para suprir determinada atividade dentro da empresa. Com a criação deste profissional a empresa visava que cada pessoa colaborasse para um aumento na produção. Isso ocasionaria numa repetição por parte dos trabalhadores, que tiveram suas funções divididas, mas que se baseava numa constante repetição da mesma tarefa. Sabe-se que o objetivo de toda empresa é a produção de produtos e serviços, e que para atingir esse objetivo é necessário uma eficiência por parte de todos os colaboradores, por isso, a importância da divisão do trabalho que nada mais é que a separação de pequenas atividades e tarefas que constituem o processo de produção. Fernandes (2010) aponta que como conseqüência do princípio da divisão do trabalho surge a especialização: cada órgão ou cargo passa a ter funções e tarefas específicas e especializadas. Outra conseqüência do princípio da divisão do trabalho é a diversificação funcional dentro da organização. A pluralidade de funções imposta pela especialização exige o desdobramento da função de comando, cuja missão é dirigir todas as atividades para que elas cumpram harmoniosamente as respectivas missões. Com essa divisão de funções especializadas surge a necessidade de uma supervisão por meio de uma hierarquização a fim de dirigir as atividades dos níveis de profissão que são escalados dentro da empresa. Em toda organização se faz necessário uma hierarquia, segundo Maltez (1988), hierarquia vem do grego hieros (sagrado) e arquia (ser chefe), ou seja, o mesmo que comando sagrado. O termo veio do latim eclesiástico “hierachia”, talvez por meio do 23 francês “hierarchie”. Designava, no cristianismo primitivo, o poder dado por Cristo aos apóstolos para formarem e governarem a Igreja. O autor afirma ainda que designa, hoje, qualquer sistema onde a distribuição do poder é desigual, a partir de um sistema de graus, de linha de comando. Com isso o princípio da hierarquia é o de criar escalas de cargos, ou seja, dividir a organização em camadas e níveis de autoridade. À medida que os níveis vão subindo a autoridade do gestor também vai aumentando. Portanto, com a divisão de funções se faz necessário a criação de uma hierarquia que visa a gestão para o crescimento da produção da organização, que conseqüentemente gera novas atividades a todo o momento que dependendo do ramo de atuação, cria-se cada vez mais especialistas para suprirem a demanda da empresa. Conclui-se que o pensamento Liberal surgido no século XVII significou a ruptura com um Estado limitador e castrador da iniciativa, criatividade e da própria idéia de livre mercado tão naturais em se falando de economia. No entanto a teoria que para o século XVII representou um avanço para as relações econômicas, no século XX mostrou-se obsoleta e ineficiente para garantir a prosperidade. Diante da crise instaurada já nas primeiras décadas do século XX, teóricos e cientistas econômicos propõe uma nova adequação das teorias liberais frente a novos parâmetros que a economia mundial havia adquirido no decorrer dos citados séculos. Assim surge o Neoliberalismo, doutrina econômica que aliou a lei da oferta procura com regulação parcimoniosa dos governos suficiente apenas para garantir o desenvolvimento econômico saudável e na medida do possível sem grandes crises. O amadurecimento do pensamento econômico ao longo da história proporcionou uma noção clara de como as empresas precisam conduzir estratégias de forma a garantir uma gestão eficiente tanto de resultados econômicos sem, contudo esquecer do desenvolvimento dos aspectos humanos. 24 3 EMPRESA E PEDAGOGIA Após a abordagem histórica do processo de abertura empresarial vista no primeiro capítulo, a partir de agora será focado a questão da relação entre a Empresa e a Pedagogia. Será abordada a formação profissional dentro das empresas e conseqüentemente serão abordadas as mudanças ocorridas dentro do curso de graduação em Pedagogia. Serão destacadas ainda, a exploração desses conceitos e a investigação da relação entre Pedagogia e Empresa, bem como analisar uma entrevista com os alunos do primeiro e sétimo períodos do curso de Pedagogia da Faculdade Serravix. 3.1 EMPRESA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL Percebe-se que foi em meio ao processo de abertura empresarial que as empresas ganharam um destaque por ganharem, crescentemente, um importante papel no crescimento econômico do país. Uma das conseqüências desse processo expansão da iniciativa privada é a ideia de praticar a formação dos funcionários dentro das empresas. Observa-se como se deu este processo neste tópico. Segundo Tomazette (2002) é um traço característico da empresa a organização dos fatores da produção, pois o processo produtivo da empresa pressupõe atos coordenados e programados para se atingir um fim. O autor argumenta ainda que tal organização pode assumir as formas mais variadas de acordo com as necessidades, abrangendo tanto a atividade que se exercita organizando o trabalho alheio, quanto aquela que se exercita organizando um complexo de bens ou, mais genericamente, de capitais, assim como aquela que se atua coordenando uns e outros. Percebe-se que a empresa é uma organização com fatores de produção que devem ser organizados, coordenados e programados. Cabendo ao tipo de ramo de atuação escolher qual a forma mais adequada para realizar as atividades até se obter o lucro. Em nossa visão, articular e preencher a instituição “empresa” com determinação e organização é o fundamento central para se alcançar um patamar de instituição com lucros, cabendo a administração geral escolher e se adaptar a um modelo de produção cuja eficiência para a produção seja baseada em vivências de 25 qualificação constante para os colaboradores, para que estes possam se atualizar constantemente e prestar serviços com mais eficácia. Essa preocupação surge como uma demanda, ao mesmo tempo interna e externa, por melhor desempenho e formação profissional, recebendo inclusive incentivos governamentais para a sua operacionalização, como disposto na Lei N° 6.297/75, especialmenteem seus artigos 1° e 2°, que dispõem que as pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro tributável, para fins do imposto sobre a renda, o dobro das despesas comprovadamente realizadas, no período-base, em projetos de formação profissional, previamente aprovados pelo Ministério do Trabalho: [...] Art. 2º, Considera-se formação profissional, para os efeitos desta Lei, as atividades realizadas em território nacional, pelas pessoas jurídicas beneficiárias da dedução estabelecida no Art. 1º que objetivam a preparação imediata para o trabalho de indivíduos, menores ou maiores, através da aprendizagem metódica, da qualificação profissional e do aperfeiçoamento e especialização técnica, em todos os níveis (BRASIL, 1975). Ao mencionar a formação profissional, logo se pensa em educação e na pluralidade de ideias referentes aos espaços pedagógicos que acontecem o processo de ensino aprendizagem. Geralmente, tal pensamento leva a pensar o ensino somente em escolas, porém: Não há uma única forma nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece...; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é o seu único praticante. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação (BRANDÃO, 1985, p.7). Com base nessa reflexão pode-se perceber que a educação possui diversas ramificações e que não é de exclusividade de ambientes escolares, gerando o seguinte questionamento: por que não formar também dentro das empresas? Com as constantes mudanças nos dias atuais as empresas estão investindo na capacitação profissional de seus funcionários, atualmente chamados de “colaboradores”, deixando de preocupar-se somente com a venda dos produtos, mas, preocupando-se também com os processos que envolvem as pessoas, 26 relacionamentos, deixando claro que se faz de tudo para a busca do sucesso das próprias empresas. Visando os lucros, ampliou-se a necessidade de um trabalho pedagógico dentro da empresa, criando uma educação corporativa com programa de treinamentos específicos de acordo com as necessidades de uma empresa. Trata-se de um trabalho que visa o aperfeiçoamento dos colaboradores, desde a equipe operacional até gerencial. Com esta abordagem, percebe-se a criação de uma metodologia pedagógica nas empresas que, supostamente, passa a se chamar Pedagogia Empresarial. A Pedagogia Empresarial expressa um novo ramo da educação, que surge com essa demanda entre empresa e colaborador, procurando proporcionar um ambiente cuja comunicação e o relacionamento interpessoal colaborem para a formação profissional do trabalhador. Almeida (2006) destaca que: As formas como as pessoas se comunicam e se relacionam passam a ser fator de peso no encaminhamento de sua formação profissional. A formação profissional não cessa com a conclusão de um curso (qualquer que seja), ela precisa continuar e acomodar-se no espírito do profissional sob pena de se dissipar e desaparecer com o tempo. O autor afirma que a formação deve ser algo permanente, e que deve ser constante, pois é comum na atualidade vermos pessoas que se satisfazem com apenas a formação do ensino médio ou da graduação, deixando de lado outras formas de crescimento pessoal e intelectual. Porém, o que mais acontece é que funcionários não possuem tempo disponível para momentos voltados para formação, devido o grande excesso de trabalho nas empresas. A partir destas informações sugeri-se que as empresas necessitavam de profissionais comprometidos e habilitados com o aperfeiçoamento e a formação profissional dos colaboradores a partir de uma ciência que envolvesse as questões do ensino e treinamento. Sugeri-se que a ciência de maior validade para este caso é a Pedagogia. 27 3.2 REFORMULAÇÕES NO CURSO DE PEDAGOGIA O curso de Pedagogia sofreu várias mudanças ao longo dos anos, possibilitando almejar outras áreas de conhecimento e outras áreas de trabalho, deixando de se preocupar somente com a educação formal, observa-se a seguir como ocorreram tais mudanças. Libâneo (2001) afirma que é quase unânime entre os estudiosos, hoje, o entendimento de que as práticas educativas estendem-se às mais variadas instâncias da vida social, não se restringindo, portanto, à escola e muito menos a docência, embora estas devam ser a referência da formação do pedagogo escolar. Sendo assim, o campo de atuação do profissional formado em pedagogia é tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Em todo lugar onde houver uma prática educativa com caráter de intencionalidade, há aí uma pedagogia. A Pedagogia nem sempre foi vista como possivelmente direcionada para o ambiente empresarial. Se hoje está relação existe, isso se deve aos manifestos de estudantes desta ciência. Segundo Silva (2003), o curso de Pedagogia foi instituído no Brasil por ocasião da organização da Faculdade de Filosofia, da Universidade do Brasil, por meio do decreto-lei n.1.190 de 4 de abril de 1939. Nesta época o curso funcionava em forma de bacharelado no período de três anos, mas caso o graduando quisesse a habilitação de licenciado, poderia fazer mais um ano com a disciplina de didática ou, ainda, escolher disciplinas seriadas. O curso de Pedagogia ficou assim seriado: complementos de matemática (1ª série), história da filosofia (1ª série), sociologia (1ª série), fundamentos biológicos da educação (1ª série), psicologia educacional (1ª,2ª e 3ª séries), estatística educacional (2ª série), história da educação (2ª e 3ª séries), fundamentos sociológicos da educação (2ª série), administração escolar (2ª e 3ª séries), educação comparada (3ª série), filosofia da educação (3ª série) (SILVA, 2003, p.12). O cursos que formavam bacharéis ou licenciados em Pedagogia davam a habilitação de técnico em educação e do professor de disciplinas pedagógicas do curso normal. Com isso as habilitações se tornavam vagas, pois, a oferta de emprego no campo de trabalho do “técnico em educação” era ocupada por outros profissionais. Para tanto, em 1967 estudantes da região de Rio Claro-SP, 28 organizaram-se no Congresso Estadual de Estudantes e apresentaram propostas para a reformulação do curso, alegando que a licenciatura destinava-se apenas a formação teórica do professor e que negligenciava outros aspectos essenciais à formação de profissionais no campo educacional. Os estudantes argumentaram ainda a criação de cargos, alegavam que o licenciado em Pedagogia pudesse suprir, conforme aponta a autora: [...] os licenciados em Pedagogia – poderiam suprir necessidades educacionais da realidade educacional brasileira nos seguintes setores: planejamento educacional, TV educativa, instrução programada, educação de adultos, formulação de uma filosofia de educação e reformulação de uma política educacional, educação de excepcionais, especialização em níveis de ensino, desenvolvimento de recursos humanos, atividades comunitárias, avaliação do desempenho em escolas e empresas, administração de pessoal (análise e classificação de cargos, recrutamento e seleção, colocação e treinamento de pessoal), educação sanitária enquanto atinente às instituições educacionais (SILVA, 2003, p.20). Tais manifestos fizeram com que, atualmente, o curso de Pedagogia se tornasse uma licenciatura plena. O artigo 3º da Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006 diz respeito à formação do estudante de Pedagogia: O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionadano exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. Para um entendimento da formação atual do curso de graduação em Pedagogia, foi realizada uma entrevista com alunos do primeiro e sétimo período do curso de graduação em Pedagogia, com o propósito de identificar as concepções e expectativas dos acadêmicos do início até a conclusão do curso. Foi constatado que os graduandos do primeiro período esperam que a graduação ofereça conhecimentos específicos direcionados a docência nas modalidades de educação infantil e ensino fundamental e quando questionados sobre o campo da Pedagogia Empresarial as respostas foram unânimes, pois responderam que conhecem, porém superficialmente. Entretanto, opinaram acerca da inserção do 29 pedagogo na empresa, expondo o que pensam sobre o trabalho do profissional, dentre as respostas os acadêmicos acreditam que o profissional realiza as seguintes funções no campo empresarial: a realização de projetos, formação e orientação de equipes, a preocupação social com o trabalhador industrial e a integração de equipes. Já as respostas dos alunos que estão na fase de conclusão foram mais críticas, pois responderam que o curso não trabalha a temática e quando de fato traz a conceituação a trata de forma vaga e insatisfatória. Com base nesta análise, pode-se afirmar que os graduandos demonstram interesse pela área, porém, como não é uma temática abordada com freqüência na graduação, estes alunos serão futuros profissionais sem nenhuma práxis relacionada a este tema e aos outros em que a Pedagogia é atuante, tornando a formação delimitada a um único espaço, indo de forma contrária ao Art. 3 da resolução do CNE/CP citada acima. A Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006 para as aptidões dos formados do curso de graduação em Pedagogia: Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: [...] II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social; [...] IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares (grifo nosso), na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo; [...] XIII - participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares; Libâneo (1998) ainda afirma que o estudante de Pedagogia conhece o lado científico e filosófico da educação e adquire conhecimentos teóricos e práticos de sua atuação, assim, em correspondência, o curso é dividido em três áreas: a) Conhecimentos científicos e filosóficos da educação: Filosofia da Educação, Sociologia da Educação, História da Educação, Psicologia da Educação, etc. b) Conhecimentos específicos da atividade: didática, organização escolar, estrutura e funcionamento do ensino, etc. 30 c) Conhecimentos técnico-profissionais: gestão educacional, avaliação, currículo, etc. Ou seja, o profissional formado em Pedagogia é habilitado a atender a demanda sócio-educativa de cunho formal, não-formal e informal, podendo assim atuar em escolas, em movimentos sociais, em empresas, em educação de jovens e adultos, em serviços de psicopedagogia, dentre outras funções. 3.3 A PEDAGOGIA NO CONTEXTO EMPRESARIAL Tendo o conhecimento da amplitude do curso de Pedagogia e com base no inciso XIII do CNE/CP, enfocaremos o campo da Pedagogia Empresarial neste tópico abordando as formas de inserção da Pedagogia dentro das empresas. Como visto anteriormente o Conselho Nacional de Educação dispõe em seu artigo 5º que o curso de Pedagogia não habilita o profissional somente para lidar com o ensino de crianças e adolescentes, nem mesmo para só trabalhar nos espaços escolares, com tal amplitude do curso o profissional foi inserido no campo empresarial. Silva (apud FERREIRA,1985), afirma que o pedagogo passa a ganhar espaço nas empresas enquanto alguém que atua na área de desenvolvimento de Recursos Humanos, especificamente em treinamento de pessoal responsável pela preparação, formação de mão-de-obra para o atendimento das especificidades da organização. Portanto, acredita-se que uma empresa é um conjunto de pessoas voltadas para explorar determinado ramo a fim de atingir um objetivo já definido anteriormente e, a Pedagogia, é a ciência que estuda a formação humana. Relacionando Empresa e Pedagogia, temos a ideia de um espaço de caráter não escolar, mas que serve como local para formação pessoal e de crescimento intelectual, não só visando os conceitos para melhorar a produção em si, mas sim levar em consideração os conteúdos para crescimento individual do colaborador. 31 Até então tal tarefa era apenas da escola, porém como a empresa está investindo na formação continuada de seus colaboradores, a prática do treinamento ocupa um espaço dentro dos locais de trabalho. Resumindo, tal relação traz uma contribuição significativa para a empresa em relação ao perfil profissional do empregado, pois, as competências, habilidades e atitudes repassadas por meio de treinamentos produzem e difundem o conhecimento para as adaptações metodológicas da forma de trabalho. Entretanto, vale lembrar que para isso a formação do profissional encarregado de realizar tais treinamentos no setor empresarial deve ser aquela que proporcione uma ligação com a educação, ou seja, aquela que possa ter um olhar clínico sobre aqueles que estão em processo de treinamento, é feita a referência a palavra clínico para designar um olhar que procure situar o indivíduo em questão para lidar com as atividades que serão desempenhadas na empresa ou então para mostrar os caminhos de como se devem proceder dentro do respectivo local de trabalho, mas vale atentar para um trabalho feito em equipe com os diversos profissionais da empresa para um trabalho efetivo sobre aqueles que estão em formação continuada. 3.3.1 CONFLITOS DE PAPÉIS PROFISSIONAIS EM UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Com a inserção do pedagogo na empresa, pode ser que algumas funções sejam confundidas com as de outros profissionais que atuam nas empresas, este tópico abordará este assunto. Segundo Almeida (2006), a atuação desse novo profissional precisa ocorrer de forma relacionada e cooperativa com a dos outros profissionais de gestão. Assim será possível elaborar e consolidar planos, projetos e ações que visem colaborar para a melhoria da atuação dos profissionais, bem como melhorar o desempenho da empresa. O autor indica que o trabalho em uma equipe multidisciplinar, geralmente é constituído por administradores, psicólogos e, agora, o pedagogo. Com profissionais 32 com formações diferentes deve-se haver a visão holística por partes de cada um para que a execução das atividades sejam executadas e cumpridas de forma clara que proporcionem o envolvimento de todos para o desenvolvimento dos recursos humanos da empresa. Cabe alertar o pedagogo empresarial, não confundir planejamento educacional, voltados para processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos na escola como planejamento de atividades a serem desenvolvidas no âmbito das empresas. O que se deve fazer no caso da empresa é desenvolver habilidades de comunicação, leitura e audição, assim, como aprimorar atitudes e conhecimentos dentro da empresa (NOGUEIRA, 2005, p.19). Entende-se que o pedagogo busca relacionar o saberes corporativos e integrar-se com os profissionais de outras áreas de maneira que colabore para a melhoria organizacionale da qualidade no ambiente de trabalho e na vida dos colaboradores. Tornando o domínio dos seus conhecimentos, técnicas e práticas que somadas a experiência dos profissionais de outras áreas, facilitará na atuação dos projetos e ações na gestão de pessoas. Gil (1994) destaca que o treinamento nas empresas passou a abranger aspectos psicossociais do indivíduo. Assim, os programas de treinamento, além de visarem capacitar os trabalhadores para o desempenho das tarefas, passaram a incluir também os objetivos voltados para o relacionamento interpessoal e sua interação a organização. É uma tarefa relevante para o pedagogo os aspectos psicossociais, pois desenvolvem no comportamento mental e físico dentro da sociedade e também inserido indiretamente ou diretamente no colaborador dentro da empresa. O bem- estar do ser humano tornou-se uma preocupação para os empreendedores, pois afeta o cognitivo e, como conseqüência, a capacidade da produção. Existem também outras questões que interferem a capacidade na execução do trabalho. A gestão de pessoas deve valorizar o trabalho do outro e deve ser uma forma de percepção efetiva do que está faltando em relação a empresa. Por isso, é preciso utilizar métodos e técnicas apuradas, já que esse desafio passa por um processo de preparação e desenvolvimento pessoal e profissional. 33 No treinamento em empresa deve-se atentar para a socialização do grupo e a percepção aos possíveis conflitos que surgem de acordo com a necessidade do grupo a ser ministrado o treinamento. As atividades elaboradas permitirão a melhoria do relacionamento, o desenvolvimento na produção, nas relações interpessoais, possibilitando a interação, a aproximação dos colaboradores entre si e empregador, visando garantir que o quadro funcional esteja bem consigo mesmo e com os colegas de trabalho através de processo de dinâmicas de grupo, palestras, treinamentos, seminários, oficinas, congressos, capacitação em serviço, excursões a outras unidades e ouvidorias. Essas atividades são competências realizadas e implementadas, coordenadas, projetadas pelo pedagogo juntamente com a equipe multidisciplinar da empresa. Andriani (1991) afirma que as mudanças acontecem se houver ambiente para que elas ocorram. Segundo sua metáfora, o peixe tem na água o seu ambiente para a sua sobrevivência. Para que uma organização possa caminhar para altos índices de qualidade e produtividade, é necessário que ela se abra para a participação dos funcionários. E a participação só ocorrerá de forma efetiva, se for gerado ambiente para tal; caso contrário, a participação não sobreviverá. Este ambiente começa a ser gerado, exercitado o respeito ao funcionário, ouvindo seus problemas de trabalho e antes de tudo, valorizando suas ideias. O pedagogo é um mediador do processo de participação do indivíduo com as questões inerentes no convívio com o semelhante e no que diz respeito a empresa e trabalho. O comportamento está ligado a essa abertura do funcionário demonstrar seu potencial, sua opinião, seus problemas pessoais, agora é importante salientar que quando há um ambiente agradável, uma abertura a participação, mas se não conduzir toda essa força que existe na empresa, com sua equipe e proposta de gestão para a melhoria do funcionário e sua responsabilidade com a produção no trabalho e bem-estar coletivo e individual de nada valerá as ações e práticas desenvolvidas na empresa. 34 3.3.2 SOCIEDADE DE CONTROLE VERSUS SOCIEDADE DISCIPLINAR Para compreendermos a importância da empresa no mundo de hoje, devemos observar com atenção o contexto em que ela se insere. Será abordada, neste tópico, a diferença entre a atual sociedade de controle e as antigas sociedades disciplinares. Será demonstrado que uma delas exercita o poder através da disciplina e, a outra, através de mecanismos que, posteriormente, influenciaram na entrada Pedagogia nas empresas. Em seu Post-Scriptum sobre as Sociedades de Controle, Gilles Deleuze faz um contraponto entre as atuais sociedades de controle e as antigas sociedades de disciplina: Nas sociedades de disciplina não se parava de recomeçar (da escola à caserna, da caserna à fábrica), enquanto nas sociedades de controle nunca se termina nada, a empresa, a formação, o serviço sendo os estados metaestáveis e coexistentes de uma mesma modulação, como que de um deformador universal (DELEUZE, 1992, p.3). O autor explica que as sociedades de disciplina são aquelas que os homens são pautados pelas relações disciplinares onde se utilizam maquinários cuja necessidade do homem é maior, além haver uma vigilância intensa por parte de seus superiores. Já a sociedade de controle é a sociedade que promove o constante impulso à especialização, onde os controles são feitos por computadores que, a partir do século XX, passam a ter uma importância maior dentro da sociedade, ocasionando em um aumento maior na questão da formação profissional constante. Porém, o autor levanta controvérsias sobre essa questão, pois, para ele, o indivíduo passa a ser alienado com tal situação da formação que, por ser freqüente, este passa a adquirir a cultura da empresa consigo, interiorizando suas relações de poder. Com a sociedade de controle, a família, escola e a empresa passam a ser vistos como sistemas que deixam de ser fechados entre si, ou seja, passam a se interligar uns com os outros. Essa necessidade de se relacionar é importante para ambos, pois permite o acesso aos valores e conflitos que percorre cada área específica de cada sistema. 35 Com essas informações percebemos que existe uma influência para a Pedagogia dentro da empresa, pois se a sociedade de controle exigia profissionais especialistas e com maior tempo de formação continuada, a partir desta relação entre os sistemas mencionados promoveu-se esta preocupação em formar, mas junto consigo veio a crítica de uma formação alienada que deve ser revista por profissionais. Conclui-se que, para a Pedagogia chegar até as empresas foi necessário uma abertura empresarial e que, a partir dela, novas formas de gestão foram inseridas dentro destes espaços que até então não eram vistos como locais de aprendizagem por questões inerentes apenas ao desenvolvimento e crescimento da empresa. Posteriormente, com a especialização dos colaboradores foi pensada a ideia de uma formação constante dentro das empresas que passaram a ser pensadas como locais de aprendizagem, mesmo levando em conta conteúdos de alienação para o treinamento dos colaboradores. A partir de então se reforça o pensamento da necessidade da figura de mais um profissional que pudesse criar condições favoráveis a inserir o conhecimento dentro da empresa, compartilhando tarefas e funções num ambiente com equipes multidisciplinares. Nota-se ainda que o aparecimento da perspectiva empresarial na Pedagogia está ligado ao contexto da passagem das sociedades disciplinares para a sociedade de controle, onde surge a preocupação com uma formação alienada que é transmitida aos aprendizes dentro da empresa. 36 4 CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EMPRESARIAL Até o presente momento foi discutida a Pedagogia no contexto empresarial em seu sentido mais amplo. A partir de agora será feita uma abordagem em relação as ações, métodos e técnicas do pedagogo nas empresas no departamento de Recursos Humanos e no departamento social. Além disso, serão apresentadas e analisadas as entrevistas realizadas com profissionais que tenham ou já tiveram alguma vivência com Pedagogia Empresarial. 4.1 O PEDAGOGO NO DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS (DRH) Atualmente, o DRH foi implantado em grande escala na maioriadas empresas de caráter público ou privada. A nomenclatura condiz com a realidade, pois, este é o setor da empresa que estabelecerá a quebra de barreiras entre a empresa em seu contexto de administração e colaboradores. Inicialmente necessário se faz saber quem é este profissional que lida com a humanização dentro das empresas. Ribeiro (2005) aponta que o profissional de Recursos Humanos deve possuir o poder de diferenciar as pessoas com as quais lida em seu dia-a-dia, pois os seres humanos são dotados de personalidades próprias, profundamente diferentes entre si, com uma história particular e diferenciada, além de possuírem conhecimentos, habilidades, destrezas e capacidades, indispensáveis à adequada gestão dos recursos organizacionais. Destaca ainda que esse profissional tenha de considerar as “pessoas como pessoas”, e não como meros recursos da organização. De acordo com o autor, é imprescindível o respeito das potencialidades e individualidades do colaborador dentro da empresa. No departamento de recursos humanos avalia-se o indivíduo em todos os sentidos desde a sua formação profissional até seu comportamento. O autor destaca ainda as características fundamentais que o profissional deve possuir para trabalhar neste departamento: 37 Adaptabilidade; Análise crítica; Boa comunicação escrita e oral; Bom humor; Capacidade analítica; Capacidade de discernimento; Capacidade para negociar prazos; Capacidade para se relacionar com clientes e fornecedores internos e externos; Compromisso com resultados; Coordenação de grupos interdisciplinares; Dinamismo; Disposição para o aprendizado contínuo; Domínio de sistemas de informações gerenciais; Empreendedorismo; Facilidade para se integrar nos negócios da empresa; Flexibilidade; Habilidade com relações humanas/facilidade de relacionamento; Habilidade para administrar conflitos; Habilidade para trabalhar em equipe (RIBEIRO, 2005, p. 2). Das qualidades citadas acima, muitas o profissional graduado em Pedagogia adquire ao longo do curso, devido a incentivos e necessidades que algumas disciplinas exploram do acadêmico. Santos (2007) afirma que o Pedagogo atua na empresa na área de Recursos Humanos em dois setores: primeiro, o setor de Treinamento e Desenvolvimento e, segundo, o de Recrutamento e Seleção. Contudo, acredita-se que seja de grande validade inserir a questão da gestão da cultura organizacional que é da área de recursos humanos para promover a difusão da cultura da corporativa, entretanto, a autora afirma que devido a sua formação o pedagogo tem como forte o treinamento, porém como abordado no capítulo anterior o curso de graduação em Pedagogia vem sofrendo mudanças e este tem se encontrado em outros locais de trabalho. A sociedade pós-moderna é altamente competitiva e o avanço das novas tecnologias traz consigo o impacto das mudanças e desafios para as empresas, que buscam o aperfeiçoamento a todo o momento. No contexto desse processo de aperfeiçoamento está também a capacitação dos colaboradores na busca da melhor qualidade do desempenho empresarial, portanto, os próximos subtópicos falarão a respeito do pedagogo como gestor da cultura corporativa, o pedagogo como gestor de treinamentos e desenvolvimento profissional e o pedagogo como Analista de Recrutamento e Seleção. 38 4.1.1 O PEDAGOGO EMPRESARIAL COMO GESTOR DA CULTURA CORPORATIVA Sabe-se que toda instituição possui uma cultura com valores e métodos, neste tópico será abordado como o profissional formado em pedagogia colabora para a gestão da cultura presente em todas as organizações. Chiavenato (2009), afirma sobre a cultura organizacional: Cada organização tem sua própria cultura organizacional ou cultura corporativa. Para se conhecer uma organização, o primeiro passo é conhecer sua cultura. Viver em uma organização, trabalhar nela, atuar em suas atividades, desenvolver carreira nela é participar intimamente de sua cultura organizacional. O modo como as pessoas interagem em uma organização atitudes predominantes, as pressuposições adjacentes, as aspirações e os assuntos relevantes nas interações entre os membros fazem parte da cultura da organização. A cultura organizacional constitui o DNA da organização (CHIAVENATO, 2009, p.199). É fundamental que os valores e costumes existentes em uma empresa sejam preservados. A execução de um trabalho a partir da observação do profissional é um passo relevante que demonstra respeito aos hábitos e crenças estabelecidas por meio de normas, valores e atitudes por parte dos envolvidos nesse processo que é a cultura organizacional. Johann (2004), no livro “Gestão da Cultura Corporativa” cita a pesquisa da Harvard Business School sobre a força da cultura nas empresas que afirma que a cultura corporativa de alto desempenho é, ao mesmo tempo, densa e compartilhada por todos, na organização e adaptativa e flexível, por ter sua competência necessária para absorver continuamente novos valores culturais. Com a pesquisa tem-se a noção de uma cultura cujos valores são transmitidos entre um e outro dentro dos espaços onde as mentalidades estão voltadas para ideias diferentes que possam ser compartilhadas entre todos, porém para isso cabe uma mediação por parte de um gestor que possa dar a orientação necessária para conduzir o processo de difusão de uma cultura organizacional. 39 Segundo Ferraz (apud SOUZA, 2006) o pedagogo como gestor da cultura corporativa dentro da empresa é o responsável pela avaliação de cursos, profissionais e programas de faculdades no estabelecimento de parcerias. Tal profissional escolhe entre opções disponíveis, aquela que melhor atenda às necessidades da empresa. Quando a autora afirma que o pedagogo é o responsável pela avaliação de cursos e programas de faculdades, está abordando a importância da criação de Universidades Corporativas nas empresas que é o ponto que será mais abordado a partir de agora, e a questão do treinamento que será abordada no tópico seguinte. Fonseca (apud SOUZA, 2006) afirma que as Universidades Corporativas, se tornaram o agente principal da gestão do conhecimento e das conseqüentes transformações nas organizações, nos dias atuais e futuros, bem como, despertam o interesse nas empresas preocupadas com a competitividade, o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social. Destaca-se que, a Universidade Corporativa tem como função principal criar o desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários por meio de ferramentas que estimulem o desempenho do negócio. Geralmente nesses espaços corporativos os envolvidos estão sujeitos a participar de programas de treinamento que por sua vez é mais um campo de atuação do pedagogo empresarial. 4.1.2 O PEDAGOGO COMO GESTOR DE TREINAMENTOS E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL O treinamento é uma ferramenta presente nas instituições que visam qualificar seus funcionários para um melhor rendimento. A inserção do pedagogo neste campo de atuação está diretamente ligada à formação, pois visa a formação dos indivíduos inseridos na sociedade. Destaca-se abaixo, como se dá o trabalho do pedagogo no desempenho de suas funções como gestor de treinamentos: Treinamento é o processo educacional focado no curto prazo e aplicado de maneira sistemática e organizada através do qual as pessoas aprendem conhecimentos, habilidades e competências em função de objetivos 40 definitivos. O treinamento envolve a transmissão de conhecimentos específicos relativos ao trabalho, atitudes diante de aspectos da organização, da tarefa e do ambiente, e pode envolver desenvolvimento de habilidades e competências (CHIAVENATO, 2009, p. 389). Contudo, Ribeiro (2005), destaca que as principais funçõesde um gestor de treinamento são transmitir aos aprendizes os conhecimentos teóricos e práticos. O autor dispõe de uma série de tarefas que o profissional precisa saber: - Colabora na elaboração de programas de treinamento; - Avalia o desempenho dos aprendizes com a aplicação de testes, provas e exercícios; - Contribui para a elaboração de instrumentos de avaliação de aprendizagem; - Coopera no levantamento das necessidades de treinamento na organização; - Se necessário, realiza entrevistas de orientação didática com os aprendizes (RIBEIRO, 2005, p. 38). Almeida (2006) discute que o os métodos utilizados pelos gestores inseridos nas empresas, são métodos arcaicos e que, geralmente, os treinamentos são ministrados pela mesma pessoa que passa horas supervisionando o trabalho. O autor destaca ainda que as mesmas técnicas e recursos aplicados em sala de aula na educação escolar formal com alunos entre sete e dezoito anos podem ser aplicadas com sucesso no treinamento empresarial com adultos. Infelizmente muitas empresas ainda possuem em seus quadros gestores de treinamento que não apreendem nenhum conhecimento didático-pedagógico, visto que são detentores de embasamento técnico. Já o pedagogo traz consigo conhecimentos da disciplina de didática, ministrada durante o curso de graduação. Tal disciplina tem por meta ensinar tudo a todos. O autor defende que a Didática é um instrumento valioso e não deve ser negligenciada ou relegada a um plano secundário e destaca, ainda, que o pedagogo pode colaborar decisivamente ao apoiar os especialistas na redação de conteúdos, desenvolvimento de atividades, elaboração de avaliações, e apoio na crítica e a autocrítica do processo de ensino-aprendizagem, permitindo a empresa uma qualidade superior nos treinamentos que por serem ministrados por especialistas 41 sem conhecimento didático, mas apenas tecnicistas encontram dificuldades em transmitir tais conhecimentos. Atualmente existem novos métodos didáticos de treinamento, e segundo Ribeiro (apud LENZEN, 1991), do ponto de vista didático-metodológico, pode-se destacar que, no nível empresarial, torna-se necessária a adoção de estratégias que de fato permitam uma melhoria na formação profissional e não apenas nas formas de atuação dos profissionais no âmbito dessa mesma empresa. Boog (apud Pinto, 1999) defende o treinamento nas empresas, pois acredita que quando o colaborador está despreparado para desempenhar suas tarefas e responsabilidades, pode gerar inúmeros problemas, sendo eles: -Acidentes do trabalho; -Desperdício de material; -Máquinas e equipamentos danificados; -Conflitos e desentendimento entre colegas e chefes; -Produtos ou serviços de baixa qualidade; -Quantidade insuficiente de produção; -Custos altos; -Excessiva dependência do supervisor; -Reclamações de clientes -Outros (BOOG, apud PINTO, 1999 p. 127). Tais problemas podem ser gerados pela falta de uma organização de forma geral dos treinamentos, que devem possuir um diferencial e por sua vez devem possuir objetivos, Chiavenato (2009) destaca tais objetivos para o treinamento: Preparar as pessoas para a execução imediata das diversas tarefas do cargo; Proporcionar oportunidades para o contínuo desenvolvimento pessoal, não apenas em seus cargos atuais, mas também para outras funções mais complexas e elevadas; Mudar a atitude das pessoas seja para criar um clima mais satisfatório entre elas ou para aumentar-lhes a motivação e torná-las mais receptivas às novas técnicas de gestão (CHIAVENATO, 2009, p. 390). Seguindo a linha de pensamento do autor, o treinamento possibilita com a aprendizagem, a valorização da competência e habilidade de cada indivíduo, pois, com esta há uma mudança nos comportamentos dos colaboradores que podem ter uma resistência em suas posturas e atitudes, o desafio é enfrentar esse processo de mudança na organização de maneira que a autonomia destes não seja influenciada, 42 e que estes sintam na liberdade de estar num ambiente de trabalho agradável, onde possa assumir sua função sem ferir sua individualidade. Ao propor tais objetivos, as empresas passam a sofrer mudanças em sua dinâmica organizacional, que por sua vez passam a pensar no desenvolvimento dos colaboradores. Ribeiro (2008) faz uma crítica relevante ao pedagogo dentro da instituição na função de gestor de treinamento: O pedagogo que atua na empresa precisa ter sensibilidade suficiente para perceber quais estratégias podem ser usadas e em que circunstâncias para que não se desperdice tempo demais aplicando numerosos métodos e, com isso, percam-se de vista os propósitos tanto da formação quanto da própria empresa. Ao planejar um programa de formação/treinamento, a seleção de métodos obedece ao princípio do desenvolvimento concomitante de competências técnicas e de relacionamento social (RIBEIRO, 2008, p.24). Observando a crítica da autora, observa-se que muitos pedagogos “pedagogizam” demasiadamente seus campos de trabalho, ou seja, partem de uma dinâmica sem fim e acabam esquecendo-se do objetivo no qual deve ser atingido. Percebe-se assim, que devido ao curso de graduação ser todo direcionado a docência das séries iniciais, tende-se que a forma de trabalho do profissional será todo infantilizado, porém tal pensamento está totalmente equivocado, visto que, a sociedade valoriza o lado dinâmico e acolhedor do curso e esquece-se da necessidade de uma postura séria que o profissional deve ter - e via de regra possui e domina, devido a sua formação - em relação às questões norteadoras e políticas do ensino. Durante a graduação do Curso de Pedagogia as disciplinas específicas para a docência visam que os acadêmicos tenham a visão holística sobre tudo e todos, e quando fala-se em desenvolvimento de pessoas nas empresas, tal profissional que fará esta atividade deverá estar atento também a esta visão, para que seu trabalho ocorra de forma eficaz atingindo a todas as escalas de hierarquia do ambiente empresarial. Almeida (2006) destaca que para planejar o desenvolvimento humano nas organizações são necessários: 43 Visão holística sobre o comportamento das pessoas no mundo corporativo; Atualização constante sobre a área de atuação da empresa onde atua; Profundo conhecimento dos paradigmas educacionais em discussão na atualidade. (ALMEIDA, 2006 p.127) Nessa perspectiva, o desenvolvimento de pessoas na organização tem como papel central o exercício da capacidade de adequar e transformar conhecimentos e tecnologias para os funcionários dentro da empresa. Chiavenato, afirma sobre o desenvolvimento profissional: É a educação profissional que aperfeiçoa a pessoa para uma carreira dentro de uma profissão. É a educação profissional que visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar a pessoa para seu crescimento profissional em determinada carreira na organização ou para que se torne mais eficiente e produtiva no seu cargo. Seus objetivos são menos amplos que os da formação e situados no médio prazo, visando proporcionar conhecimentos que transcendem o que é exigido no cargo atual, preparando-a para assumir funções mais complexas. É dado nas organizações ou em firmas especializadas em desenvolvimento de pessoal. (CHIAVENATO, 2009, p.388) Nesta perspectiva de abordagem do autor percebe-se claramente que o desenvolvimento profissional de pessoas nas empresas é similar ao treinamento, porém procura atingir o colaborador de uma forma que propicie que a organização garanta que este tenha um desenvolvimento do capital humano. Almeida destaca que quando se fala em desenvolvimento humano, está se falando de um desenvolvimento da inteligência do “ecossistema” da organização. Ao trabalhar o desenvolvimento
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