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---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1 Case apresentado à disciplina de Filosofia do Direito II, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB. 2 Aluna do 3° Período, do Curso de Direito, da UNDB. 3 Professor, Mestre, Orientador. SINOPSE DO CASE: O USO DE MEIOS EXTRALEGAIS NA REINVINDICAÇÃO DE DIREITOS E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA1 Victória Caroline Rocha Fonseca2 Thales da Costa Lopes3 1. DESCRIÇÃO DO CASO 2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO Com o advento do Estado Democrático de Direito vigente no Brasil, após a Constituição Federal de 1988, foi possível a criação de um modelo governamental que visa a participação política e popular de todo e qualquer cidadão, fazendo com que o mesmo exerça plenamente sua cidadania em meio à sociedade, almejando melhorias ao bem-estar social e coletivo. Dessa maneira, a democracia é entendida como sendo a forma de governo que propicia o poder por meio da participação e responsabilidade cívica direta dos cidadãos, razão pela qual a mesma tornou-se fundamento basilar para o firmamento do Estado Democrático de Direito. Sendo assim, é de suma importância analisar a existência de certos limites no que cerne o presente assunto. Assim sendo, questiona-se se a utilização de meios extralegais, tais como interdição de vias, greves, ocupações de estabelecimentos públicos ou privados, funcionam como forma adequada para a participação e reinvindicação política e de direitos. 2.1 Descrição das decisões possíveis 2.1.1 A utilização de meios extralegais pode se configurar como meio adequado para a reivindicação de direitos e/ou participação política. 2.1.2. A utilização de meios extralegais não se configura como meio adequados para a reivindicação de direitos e/ou participação política. 2 2.2 Argumentos capazes de fundamentar cada decisão 2.2.1 A utilização de meios extralegais pode se configurar como meio adequado para a reivindicação de direitos e/ou participação política. No final do século XX, o panorama social e político brasileiro passa pelo seu período de Redemocratização, ocorrido na década de 80. Com isso, o Estado e suas respectivas instituições passam a objetivar o asseguramento de direitos e deveres fundamentais a seus cidadãos, bem como outros valores contidos na Constituição de 1988. Nisso, os populares passam a cada vez mais a ensejar sua participação no cenário sócio-político, com a ideia de integralizar o processo democrático. A exemplo das manifestações ocorridas desde 2013, inaugurando um momento de extrema importância para a história do pais, em que populares, sobretudo a juventude saíram às ruas das capitais brasileiras afim de protestar, requerendo melhorias no serviço de mobilidade pública, o fim da corrupção, e até mesmo o impeachment da então presidente Dilma Rousseff . Nesta ocasião diversos movimentos populares de cunho político e social se fizeram presente, levando milhares de pessoas às ruas proferindo palavras de ordem, como formar de fazer valer sua cidadania, concretizando aquilo que conceitua Peruzzo (2007): “Movimentos populares são manifestações e organizações constituídas com objetivos explícitos de promover a conscientização, a organização e a ação de segmentos das classes subalternas visando satisfazer seus interesses e necessidades, como os de melhorar o nível de vida, através do acesso às condições de produção e de consumo de bens de uso coletivo e individual; promover o desenvolvimento educativo-cultural da pessoa; contribuir para a preservação ou recuperação do meio ambiente; assegurar a garantia de poder exercitar os direitos de participação política na sociedade e assim por diante. Em última instância, pretendem ampliar a conquista de direitos de cidadania, não ‘somente para pessoas individualmente, mas para o conjunto de segmentos excluídos da população”. (PERUZZO, 2007) Como já dito, a CF/88, em seu Artigo 1º assegura o direito, ao exercício da cidadania ativa e direta, que se concretiza por instrumentos como plebiscito, referendo, iniciativa popular, ação pular, mandato de segurança coletiva e ação civil pública, e tem ainda como representantes os sindicatos, associações partidos políticos e o próprio MP. (BRASIL, 2018). Dessa maneira, as ruas e espaços públicos atuam como palco para a manifestação genuína da legitimação do poder popular, tornando-se importantes instrumentos na mão dos cidadãos, que ali encontram o espaço propício para a formulação e exposição de suas ideias e reinvindicações sociais, conforme afirma Douzinas: 3 “As políticas de resistência, a rua e a praça estão bem à frente e são um excelente corretivo tanto para a teoria política dominante quanto para a radical. Precisamos de abordagens teóricas e, talvez, de novas estratégias políticas. As revoltas são políticas ao nível zero; as ocupações, uma nova política democrática emergente”. (DOUZINAS, 2013) Outro fator a ser analisado a respeito do uso positivo desse modo de reinvindicação de direitos/ participação política é o fato desse movimentos ensejarem debates que antes não ocorriam acerca de temas polêmicos e que atormentavam a sociedade em geral, ou que muita das vezes passava despercebido das discussões, mas que a partir dos movimentos da massa, promoveram notório estímulo a um tomada de consciência política coletiva, levando a tona questões até então silenciadas (Mendonça, Ercan , 2014). Por fim vale enfatizar o entendimento de que tais medidas certamente são válidas, eficazes e adequadas para a garantia de participação política. 2.2.2 A utilização de meios extralegais não se configura como meio adequados para a reivindicação de direitos e/ou participação política. De fato, é incontestável a importância e o papel exercido pelo uso de meios extralegais, tais como manifestações populares, etc.. para a sociedade brasileira, sobretudo quando se faz presente no ordenamento jurídico vigente, o Estado Democrático de Direito, que tem como premissa a expressiva participação popular em meio a sociedade. Porém, vale destacar a necessidade de estipular limites para tais atos, a fim de resguardar entre outros fatores, a integridade e segurança da própria cidadania. O alerta feito aqui, cabe quanto ao uso excessivo e deturpado dos valores citados acima, uma vez que a busca pelo bem-estar democrático, pelo progresso, liberdade e outros fatores tornam-se mecanismos de coerção exercida nos indivíduos, o que é fato gerador de complexos dilemas sociais. Nas palavras de Todorov, "o povo, a liberdade, o progresso são elementos constitutivos da democracia; mas se um deles se emancipa de suas relações com os outros, escapando assim a qualquer tentativa de limitação e erigindo-se em único e absoluto, eles transformam-se em ameaças: populismo, ultraliberalismo, messianismo, enfim, esses inimigos íntimos da democracia" (TODOROV, 2012). Da mesma forma, assevera La Quadra: “Na história humana, a procura do Bem frequentemente se ergueu a partir do convencimento de que os outros precisam de ajuda e "salvação", razão pela qual me transformo na encarnação da missão de construir a redenção universal. Esse messianismo se expressou em diversos momentos históricos - nas guerras revolucionárias e coloniais, bem como no projeto comunista -, mas na forma contemporânea ele se veste com as roupagens dos valores 4 democráticos universais, quando são simplesmente desejos de poder e riqueza travestidos de humanismo”. (CUADRA, 2014) É de suma importância atentar para os limites existentes no equilíbrio democrático, que deve sempreser buscado, uma vez que é necessário que haja uma limitação mútua, uma vez que o indivíduo não deve impor seus ideais ou vontades à comunidade cujo está inserido, para que da mesma forma a mesma não interfira nos interesses privados de seus cidadãos. (TODOROV, 2012). Por fim, conclui-se que essa noção de populismo e de participação / reinvindicação de direitos deve ser praticada com cautela, para que o direitos dos demais também possam ser reconhecidos e respeitados na sociedade, para que dessa forma a democracia presente no Estado Democrático de Direito venha cumprir seu real papel, para que melhorias com a todos os cidadãos seja requeridas da maneira certa, visando não só satisfações mediatas, mas também a longo prazo, gerando um bem estar social comum a todos. 2.3 Descrição dos critérios e valores contidos em cada decisão possível. 2.3.1:Cidadania: exercício de direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país. 2.3.2:Estado Democrático de Direito: Garantia a qualquer Estado de oferecer respeito às liberdades civis, direitos e garantias fundamentais, por meio de proteção jurídica. 2.3.2:Populismo: Forma de governo pautada no apoio popular de seus respectivos governantes. 5 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. CUADRA, Fernando Marcelo de La. Estud. hist. (Rio J.), Rio de Janeiro , v. 27, n. 53, p. 215-218, June 2014 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 21862014000100215&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Apr. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21862014000100011 DOUZINAS, Costas (2013). Philosophy and resistance in the crisis: Greece and the future of Europe. Cambridge: Polity Press. TODOROV, Tzvetan. Os inimigos íntimos da democracia .São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 215p. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&pid=S0103- 2186201400010021500001&lng=en >. Acesso em: 14. Abril. 2018. MENDONÇA, Ricardo F. ; ERCAN, Selen A. (2014). Deliberation and Protest: Strange Bedfellows? Revealing the Deliberative Potential of 2013 Protests in Turkey and in Brazil. APSA Annual Meeting, Washington, D.C.. Anais da APSA 2014, v. 1. p. 1-24. PERUZZO,Cicilia. Direito à comunicação comunitária, participação popular e cidadania. Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF (Junho, 2007). Disponível em: <https://lumina.ufjf.emnuvens.com.br/lumina/article/view/201/196>. . Acesso em: Acesso em: 14. Abril. 2018.