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Cirurgia – Rodrigo Resende – 19/09/2016 Aula 04 – Incisões e Suturas Manobras Cirúrgicas Fundamentais Diérese – ato de incisar para conseguir visualizar e iniciar o procedimento cirúrgico, é o acesso. Posso realizá-la com bisturi ou uma tesoura. Exérese – é o objetivo da cirurgia. Ex: extração do elemento 11, biópsia. Hemostasia – controle de sangramento. Síntese – sutura, ela é mandatória em todo procedimento. Todo e qualquer procedimento precisa de sutura no final. Em caso pediátrico, só não suturamos caso o dente permanente já esteja erupcionando. Mesmo caso não haja sangramento, precisamos suturar, pois a epinefrina perde seu efeito após 6h e vai sangrar. Para o sucesso de uma cirurgia, o profissional deve ter o instrumental apropriado (não pode faltar instrumental), ter um planejamento cirúrgico (ter sempre um plano A, B e C) e utilizar a técnica correta. Entende-se por planejamento o tipo de fio que vai utilizar, o tipo de lâmina, radiografia do paciente, qual tipo de anestesia, quantos tubetes de anestésicos, planejar o passo a passo da cirurgia. Cuidados Gerais com as Incisões Utilizar lâminas novas e afiadas - se a lâmina não estiver afiada ela não vai cortar e, além disso, ficará mastigando o tecido causando um maior sangramento, maior dor pós-operatório e maior edema pós-operatório. Toda vez que encostamos a lâmina no osso, ela perde o corte, então usamos uma lâmina para arcada superior e outra nova para a arcada inferior; Realizar incisões firmes, contínuas e com bordas regulares; Cuidados com estruturas anatômicas da região; Proporcionar um campo amplo e boa visualização – a incisão vai depender da cirurgia que eu vou fazer. Não adianta fazer uma incisão pequena pensando em não traumatizar tanto o paciente, pois na hora que for descolar o tecido ele irá rasgar. O campo tem que ter o tamanho de acordo com o instrumento que será utilizado; Planejamento prévio. Obs: Quando estivermos usando o bisturi vamos entrar com a lâmina em 45o e seguir a 90o, pois isso faz com que a incisão fique reta. Não pode manter 45o ou 90o o tempo todo, pois dessa maneira a incisão ficará com falhas. Retalho Cirúrgico É uma de tecido delimitada por incisões cirúrgicas. Objetivos: Obter acesso cirúrgico na área a ser operada; Mover tecidos moles de um local para o outro - é o caso de uma comunicação buco-sinusal (abre uma comunicação entre a cavidade oral e o seio maxilar). Sendo assim tem que fazer um retalho – vestibular ou palatino – para fechar essa comunicação. Se esta ficar aberta o paciente abrirá um quadro de infecção, entrará comida dentro do seio maxilar. Indicações: Exposição de raízes residuais que foram fraturadas durante a realização de exodontias pelo método fechado; Realização de exodontias seriadas – objetivo de ajeitar o osso no final da cirurgia, deixá-lo o mais liso possível, sem espícula; Dentes multirradiculares com coroa destruída; Dentes anquilosados; Raízes residuais próximas ao seio maxilar; Dentes inclusos; Molares com raízes finas, longas e/ou divergentes – abre o retalho para diminuir a chance de ter uma fratura apical; Dentes com hipercementose; Enucleação de lesões – no tratamento de cistos e tumores devemos remover a lesão por inteira; Raízes residuais sepultadas sob prótese dentária; Quando se realizou força excessiva sem êxito durante exodontias pela técnica fechada. Qual instrumental utilizar? Afastador de Minessota; Cabo de bisturi número 3; Lâmina 15 ou 15C; Descolador de periósteo do tipo Molt; Aspiração; Pinça hemostática – reta e curva. Regras do Planejamento para o Retalho Cirúrgico O retalho deve ser planejado de forma a evitar injurias as estruturas vitais localizadas na área da cirurgia – Ex: no palato tem que tomar cuidado com a artéria palatina Base do retalho 2x maior que a altura – serve para garantir a vascularização. Se tem uma base muito curta o sangue não consegue chegar na ponta do retalho causando necrose naquela região; Tamanho adequado para favorecer a visualização de toda a área a ser manipulada – evitar a dilaceração do tecido quando estiver descolando o mesmo; Margens do retalho devem estar SEMPRE apoiadas sobre osso sadio (6 a 8mm aquém da lesão) – se o retalho não estiver apoiado em osso sadio ele vai sofrer decência, abrindo as laterais causando uma infecção secundária Os retalhos devem ser manipulados cuidadosamente e delicadamente, evitando assim torções, compressões e distensões excessivas – quanto mais mexido o retalho estiver mais haverá sangramento, dor e edema no pós-operatório; O retalho deve ser afastado sem tensão – se o retalho está muito tenso tem que aumentar a incisão fazendo a relaxante; O retalho deve ser mucoperiosteal, de espessura total (mucosa, submucosa, periósteo) – vou incisar tudo de uma vez só e descolar tudo de uma vez só; A incisão vertical de alivio (ou relaxante) deverá ser realizada de forma oblíqua – se a incisão for reta não vou ter tanta vascularização quanto uma oblíqua e pode ocorrer uma necrose tecidual; A incisão relaxante deve ser ao lado da papila (parapapilar), preservando-se aderida a papila gengival – não pode incisar na papila, pois é difícil de suturar e além disso toda área suturada sofre retração. Tipos de Retalho Retalho em Envelope É o tipo mais comum Pode ser utilizado em todas as áreas da cavidade oral (vestibular, lingual e palatina) É feita no sulco gengival até a crista óssea e através do periósteo, rebate-se o retalho mucoperiosteal Fazer o retalho no mínimo 2 dentes anteriores e 1 dente posterior. Ex: canino, o retalho deverá ser feito, no mínimo, na altura do IC e 1PM do mesmo lado Em áreas edêntulas a incisão é realizada ao longo da crista do rebordo Técnica: com a lâmina de bisturi vai se destacando as papilas e com a ponta mais fina do Molt vai descolando o mucoperiósteo. É o retalho mais fácil de ser suturado, fácil de ser executado e com menor risco de lesar qualquer tipo de estrutura nobre Retalho em L (três ângulos ou triangular) Incisão em envelope + 1 incisão relaxante Observar sempre a direção e o posicionamento da relaxante Boa ampliação para distal e para o fundo de vestíbulo Fazer o retalho no mínimo 1 dente anterior e 1 dente posterior Indicação: elemento dentário localizado muito acima na região superior ou muito abaixo na região inferior OBS: Contraindicações para incisões relaxantes (nesse caso só faremos retalho em envelope, um 3MI podemos fazer um retalho em L) Palato devido a artéria palatina; Superfície lingual da mandíbula devido ao nervo lingual; Na eminência canina; Através das inserções musculares já que músculo não se regenera; Região do forame mentoniano. Retalho Quadrangular (ou trapézio) 1 incisão em envelope e 2 incisões relaxantes; Boa amplitude para o fundo de vestíbulo, mas limitado para mesial e distal (não conseguimos expandi-lo nessas direções); Diminui a irrigação da região. Quanto mais incisões relaxantes o tecido tiver, menor será a irrigação para o tecido e assim terá maior chances de necrose. Incisão Semilunar Visa acessar a região apical dos dentes; Evita trauma na papila e na margem gengival; Acesso limitado (o dente não se encontra totalmente visível); Indicado nas cirurgias de periápice (apicectomia). Incisão em Y (ou duplo Y) Preconizada para a região palatina; 1 incisão linear no centro do palato duro, associado a 2 (ou 4) verticais relaxantes menores; As incisões relaxantes não devem se aproximar da região da artéria palatina; O duplo Y é indicado quando se deseja uma maior exposição do palato. Princípios de Sutura ou Síntese Conjunto de manobras cirúrgicas que visam a aproximação dos tecidos que foram divididos ou separados durante o ato cirúrgico de incisão, divulsão ou devido a trauma em tecidos moles. Cicatrização: 1ª intenção - é aquela cicatrização onde há aproximação das bordas, onde há necessidade de sutura; 2ª intenção – é aquela cicatrização onde não há nenhuma sutura, o próprio organismo vai formar o tecidodaquela região (ex: escoriação); 3ª intenção – processo que envolve limpeza, debridamento e formação de tecido de granulação saudável para posterior coaptação das bordas da lesão. Ela corresponde a fase final dos procedimentos cirúrgicos e tratamento das lacerações dos tecidos moles; É fundamental pra: Cicatrização tecidual; Posicionamento e estabilização dos tecidos; Como auxiliar na hemostasia local; Impedir o aparecimento de espaço morto. Obs: Espaço Morto É quando não suturamos todos os planos e se deixa um espaço entre os tecidos, levando a formação de coágulo nessa região e acúmulo de bactérias. A sutura sempre deve ser iniciada de dentro para fora. O espaço morto é evitado quando suturamos devidamente os planos anatômicos (mucosa-mucosa, músculo-músculo, pele-pele). Ex: O profissional suturou pele, mas não suturou músculo. Nesse espaço haverá formação de coágulo e será infectado por bactérias. Ex: O paciente tomou uma facada no rosto que atravessou toda a pele chegando até a mucosa jugal. Qual a sequência para suturar? Primeiro a mucosa, depois os músculos e depois a pele. Como evitar o Espaço Morto? Sutura por planos; Drenos; Curativo compressivo; Tampão – não é mais usado, pois o odor era muito ruim e forte. Qual o instrumental correto? Porta agulha, tesoura do tipo íris, pinça hemostática (curva e reta), pinça dente de rato, aspiração, fio adequado, seringa descartável com uma agulha rosa (para lavar a ferida – se deixar qualquer tipo de corpo estranho gerará uma infecção) Qual tipo de agulha? Constituídas de aço inoxidável; Composta por três partes: ponta ativa, corpo e parte terminal - não se deve nunca segurar a agulha com o porta agulha na ponta ativa - pois ela vai ficar distorcida, vai ficar romba e na hora de passar pelo tecido vai fazer uma maior abertura causando maior dor no pós-operatório do paciente – e nem na parte terminal, pois corre o risco de soltar o fio da agulha. O local correto de segurar a agulha é na metade ou 3/4 da agulha; Podem se apresentar diretamente presas ao fio (atraumática) ou isoladas (traumática, causa maior dano tecidual). Forma da Agulha Reta – usada na cirurgia geral; Semi-curva – usada na cirurgia geral; Curva – usada na odontologia. Curvatura da Agulha 1/4; 1/2 – normalmente é utilizada em molares superiores e enxertos; 3/8 - usada na odontologia; 5/8. Forma da Secção da Agulha Cônica (atraumática) – é usada para sutura de pele e mucosa. Cilíndrica (atraumática) – é usada para sutura de músculo, tecido subcutâneo, nervo e fáscia. Triangular (traumática) – é usada para reparo de mucosa e de tecidos comprometidos. Tipo de Fio Grande resistência a tração e torções; Calibre fino e regular; Ausência de reação tecidual; Baixo custo; Fácil esterilização; Flexível e pouco elástico; Fácil visualização Os fios ideais são os mais escuros (preto, roxo, azul), porque mesmo com sangue é possível visualizar o fio. Os fios podem ser: Monofilamentados – relativamente mais rígidos, mais inertes aos tecidos e há uma relativa dificuldade para realização do nó. Eles recebem uma camada de teflon por cima, o que os torna mais resistentes e com memória. São mais indicados para pele. Ex: nylon. Multifilamentados – ele é torcido ou trançado, o que aumenta a força do fio e sua abrasividade, mas os torna mais propícios a causarem contaminação da ferida. São indicados para a cavidade oral. Fio Categute: Simples x Cromado – absorvível Hoje em dia não está sendo mais utilizado, porque causa uma alta reação inflamatória nos tecidos. Origem: animal – submucosa de intestino de carneiro ou de boi; Apresenta-se em embalagem metálica umidificada, devendo ser mantido úmido; Digestão por enzimas proteolíticas (absorção rápida). O Simples 70 dias e o Cromado 120 dias; Conservam sua resistência de 5 a 7 dias (Simples) e de 9 a 14 dias (Cromado); Perdem força de tração 50% em 24h (Simples) e 5 dias (Cromado). Poligalactina 910 (Vicryl) – absorvível Sintético; Custo elevado; Sofrem decomposição por hidrolise lenta. Posteriormente são absorvidos por macrófagos 60 a 90 dias; Força tensional de 21 a 28 dias; Reação tecidual moderada; Maior resistência a tração (melhor utilizado quando existe a necessidade de resistir a força muscular); Indicação: pacientes pediátricos e especiais. Seda – não absorvível Fácil manipulação; Remover em 7 dias; Produz pouca ração tecidual; Requer ao menos 3 nós para sua fixação segura; Indicação: suturas intraorais pós exodontias. Algodão – não absorvível Origem vegetal; Melhor segurança nos nós em relação aos fios de seda; Reação tecidual semelhante aos fios de seda; Requer ao menos 3 nós para sua fixação segura; Fácil manipulação. Nylon – não absorvível Monofilamentado; Elástico e resistente a água; Produz pouca reação tecidual; Difícil manipulação; Não produz nós firmes; Requer ao menos 4 nós para fixação segura; RESUMO Sutura em Músculo/Mucosa Interna Categute simples ou cromado; Poligalactina 910. Alvéolo/Mucosa/Exodontia Algodão; Seda; Categute simples ou cromado (pediatria e especial) Poligalactina 910 (pediatria e especial) Pele Nylon Espessura dos Fios Quanto mais zeros, mais fino é o fio; Quando mais fino o fio, menos lesão na pele vai causar; O número de zeros no fio aumenta à medida que sua espessura e diâmetro diminuem. Na odontologia: 3-0 e 4-0 – mucosa interna ou planos internos (músculos). Ex: alvéolo, língua, lábio. 5-0 e 6-0 – pele. Ex: supercílio. Normas para a realização de sutura Antissepsia e assepsia correta; Respeitar os diferentes planos anatômicos; Ausência de corpos estranhos e/ou tecidos desvitalizados; Hemostasia adequada; Limpeza da ferida; Abolição dos espaços mortos; Emprego de suturas e fios adequados; Realizadas com técnica apropriada. Cuidados A agulha deverá ser apreendida pelo porta-agulha na metade ou 3/4 de distância da ponta ativa (nunca na parte ativa e na conexão fio/agulha); A agulha deverá entrar perpendicularmente ao tecido a ser suturado; Não forçar a agulha contra os tecidos; Introduzir a agulha com movimentos circulares que acompanhem a sua curvatura, realizando movimento de rotação do pulso do cirurgião; Realizar-se a sutura dos tecidos moveis em direção aos relativamente fixos; O nó cirúrgico pode ser realizado manualmente ou com o auxílio de porta-agulha; A sutura devera aproximar as bordas da ferida, sem causar torções ou distorções; A agulha deverá ser passada nos tecidos com auxílio da pinça, transfixadas em 1 ou 2 etapas; O nó cirúrgico deverá sempre ser posicionado na vestibular ou lateralmente ao traço da incisão (na pele) e NUNCA sobre ela; O 1º ponto no centro da incisão, o 2º e 3º nas extremidades e depois vamos intercalando no meio; Na sutura de retalho, em L, o 1º ponto é sempre no vértice do retalho (na incisão relaxante). Tipos de Sutura Isolada Ela proporciona melhor orientação na adaptação dos bordos da ferida; O rompimento de um ou outro ponto isoladamente não prejudica a integridade da sutura; Ex: isolada simples, isolada em U vertical, isolada em U horizontal, isolada em 8 ou X. Contínua Menor tempo para sua realização; Há distribuição de tensão ao longo da ferida; Ideal para feridas extensas e com bordos regulares; Se arrebentar um ponto, compromete a sutura inteira; Ex: contínua simples, contínua do tipo festonada, contínua intradérmica. Obs: A distância entre um ponto e outro é de no mínimo de 5-7 mm. A quantidade de tecido que deve pegar de um lado e de outro é de no mínimo 3 mm. É importante pegar a mesma quantidade de tecido tanto de um lado quanto de outro. Remoção de Sutura Antes da remoção realizar antissepsia da região. Os fios devem ser removidos no período de: Local sem grande tensão – 3 a 5 dias; Local com grande tensão – 10 a 12 dias; Intraoral – 7 a 10 dias. Lembre-se: O número de pontos deve ser limitado o suficiente para o fechamento adequadamente da ferida. Um número excessivo de pontossignifica mais material estranho ao organismo, produzindo traumatismo prolongando assim o procedimento de reparação.