Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TYLOR, E. B. A ciência da cultura. In: Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer - Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. Fazendo uso de ferramentas filosóficas ou de estudos empíricos, buscando sempre bases sólidas para embasar suas ideias, Tylor procura fornecer uma compreensão das leis da natureza humana sem pressupostos da teologia ou metafísica. Para esse fim, adota uma abordagem sobre as várias culturas e os diferentes estágios passados por elas. Além disso, no desenvolvimento de sua tese, disserta a respeito do que conhece por civilização. É importante ressaltar que há um contexto etnocêntrico no evolucionismo, mesmo que este não ‘anule’, per se, as contribuições dadas pela vertente à antropologia. No início do texto, Tylor especifica que sua investigação é relacionada a tribos inferiores comparadas com as nações mais elevadas. Nesse contexto, a tarefa da “etnografia racional”, positivista e científica, é “a investigação das causas que produziram os fenômenos de cultura e das leis às quais estão subordinados” (p.93). Tylor também oferece, por fim, uma definição de cultura como algo adquirido através da convivência do homem com a sociedade, ou seja, não inata e sim aprendida, o que está em consonância com a antropologia moderna até seu ponto mais elementar, onde ambas são ‘construtos’. Considerando essa perspectiva, temos que costumes e noções tais como religião, crenças, opiniões e mesmo pensamentos tidos como individuais não passam de reflexos da sociedade no individual. Edward Tylor inicia sua obra definindo Cultura ou Civilização como “todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade” (p. 69). Busca também traçar a existência de uma uniformidade que permeia a civilização em seu sentido mais amplo (p. 69) e a presença dos estágios mencionados acima. Para isso, ao expor seu método, Tylor aponta que “para o presente propósito, parece tanto possível quanto desejável eliminar considerações de variedades hereditárias, ou raças humanas, e tratar a humanidade como homogênea em natureza, embora situada em diferentes graus de civilização. Os detalhes da pesquisa provarão, parece-me, que estágios de cultura podem ser comparados sem levar em conta o quanto tribos que usam o mesmo implemento, seguem o mesmo costume ou acreditam no mesmo mito podem diferir em sua configuração corporal e na cor de pelo e cabelo” (p.76). Tendo consigo os princípios que pautam a unidade e capacidade de evolução das culturas a partir da perspectiva evolucionista Tylor irá estender-se num ramo epistemológico do que aborda. Irá levantar a necessidade de posicionar o estudo da vida humana como um ramo da ciência natural, justificando a afirmativa através da ideia de que a história da humanidade está intimamente atrelada à história da natureza. (p. 70). A partir dessas colocações supracitadas, Edward Tylor construirá uma espécie de semelhança geral ou ontológica a partir da “comparação de raças que se encontram em torno de um mesmo grau de civilização” (p. 75). Já a comentar a filosofia da história, Tylor posiciona a tarefa dos historiadores em sua busca pela extração dos princípios gerais da ação humana (p. 73) explicando fenômenos através deles e estabelecendo conexões entre eventos que se registravam. O autor os responsabiliza por elevarem a história ao patamar de ciência, por estarem, até certo ponto, seguindo o mesmo método, apesar de lidarem com contextos, grandezas e fontes diferentes de trabalho. Como caso de estudo, Tylor aceita a tese da igualdade entre grupos de selvagens. A partir disso, faz uso desse caso para justificar seu argumento com a própria etnologia, levando em consideração o fato de existirem instrumentos e atividades em comum a mais de uma civilização, o que indica uma uniformidade e uma hierarquização. Afirma que “um primeiro passo no estudo da civilização é dissecá-la em detalhes, e, em seguida, classificá-los em seus grupos apropriados [no que diz respeito ao grau de complexidade]” e posiciona esse trabalho como tarefa do etnógrafo. (p. 78-79). Assim como nas ciências exatas, a junção de fenômeno, hipótese e resultado levará à elaboração de leis gerais que irão pautar os etudos dos dados seguintes. Sobre essa uniformidade, dada a amplitude de sua ocorrência, Tylor vê-se obrigado a conceituar uma série de “leis de manutenção e difusão de acordo com as quais esses fenômenos se consolidam em permanentes condições padrão, em estágios de cultura definidos”. (p. 83) A isso ele chama ‘hábito’, nome usado para fenômenos culturais que continuam a existir em estágios culturais mais avançados do que nos quais foram criados (p. 87). Observa a presença frequente desses hábitos (também chamado sobrevivências) nas sociedades. Não obstante, aborda o tema considerando a sua incompletude para a sobrevivência da cultura: “ a simples manutenção de hábitos antigos é apenas uma parte da transição do tempo antigo para os tempos novos e mutantes”. (p. 88). Por fim, Tylor aponta a tendência que acredita existir de que as sociedades avancem do estado de selvageria para a civilização, linearmente (p. 93). Considera, finalmente, que “ se existe lei em algum lugar, existe em todo lugar” (p. 97), numa filosofia semelhante (em uma perspectiva ontológica, não prático-metodológica) à busca de Lévi-Strauss pelo costume inicial (incesto). Em suma, a partir da generalização de leis e do estudo dos povos, Tylor lança uma obra basilar para a ciência sociológica.
Compartilhar