Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 1. INTRODUÇÃO: 1.1. Escherichia coli enteropatogênica (EPEC): Escherichia coli são bactérias Gram negativas, anaeróbicas facultativas, que fazem parte da flora intestinal normal humana, e são importantes na manutenção da fisiologia intestinal. Essas bactérias foram consideradas inofensivas durante muitos anos. Contudo, cepas de E. coli causadoras de diarréia, tanto em humanos e animais domésticos como boi (Fischer et al., 1994), ovelha (Cid et al., 2001), coelho (Robins-Browne et al., 1994), cachorro (Turk et al., 1998) e porcos (Zhu et al., 1994), foram descritas entre as décadas de 40 e 50 (Nataro e Kaper, 1998). Inicialmente, todas as cepas de E. coli que induzem diarréia foram nomeadas como E. coli enteropatogênicas (EPEC). Estudos posteriores permitiram que as E. coli enteropatogênicas fossem classificadas em diferentes grupos de acordo com seus mecanismos de infecção e fatores de virulência produzidos (Kaper, 1994). Os fatores de virulência são proteínas de adesão, de invasão, e proteínas tóxicas que caracterizam diversas manifestações clínicas, que vão desde diarréias coleriformes e colites agudas até disenteria e morte (Nataro e Kaper, 1998; Chen e Frankel, 2004). Existem hoje seis principais classes de E. coli patogênicas: as enteropatogênicas (EPEC), as enterohemorrágicas (EHEC), as enterotoxigênicas, (ETEC), as enteroagregativas (EAEC), as enteroinvasivas (EIEC) e as que aderem difusamente (DAEC) (Tabela 1). 2 TABELA 1: Comparação entre E. coli enteropatogênicas E. coli Mecanismos de infecção Fatores de Virulência EPEC Lesão de Adesão e desvanecimento do enterócito (A/E) Attaching/ Effacing. BfpA (EAF+), EspB, EspD, EspA, intimina e Tir, dentre outros. EHEC Lesão de Adesão e desvanecimento do enterócito (A/E) Attaching/ Effacing. Além de hemorragia e edema da lâmina própria causada pela liberação de citotoxina. Toxina shiga símile/ Verocitotoxina (Stx). ETEC Colonização da superfície da mucosa intestinal e liberação de enterotoxinas. Toxina Termo estavél (ST), Toxina Termo lábel (LT). EAEC Aderência inicial na mucosa intestinal, produção de muco e de citotoxina. Enterotoxina estável enteroagregativa (EAST1) EIEC Invasão epitelial, rompimento do vacúolo endocítico, multiplicação intracelular, movimento direcional pelo citoplasma, invasão de células epiteliais adjacentes. Plasmídio que codifica genes de invasão. DAEC Aderência difusa na membrana epitelial, elongação das microvilosidades, sem alteração no citoplasma. Hemolisina α, Fator 1 de citotoxicidade necrosante (CNF1). Adaptada de Nataro e Kaper,1998. 3 O termo “EPEC” deve ser empregado para espécies de Escherichia coli diarreicogênicas que não produzem nenhuma enterotoxina, mas que causam a lesão histopatológica característica determinada pela ligação íntima e desvanecimento das microvilosidades dos enterócitos (Attaching and Effacing - A/E) (Nataro e Kaper, 1998) lesão essa que leva a uma pronunciada disfunção na absorção intestinal. As EPEC foram responsáveis por surtos de diarréia aguda infantil nas décadas de 40 e 50 nos países desenvolvidos. Hoje, são a principal causa de diarréia bacteriana infantil, nos países em desenvolvimento ou em áreas de saneamento precário, perdendo apenas para o rotavírus em número de pacientes internados (WHO, 2000). Estudos no Brasil, México, África do Sul e Bangladesh mostraram que 30-40% dos casos de diarréia bacteriana infantil são devido à infecção por EPEC, sendo a doença responsável por altas taxas de mortalidade. Cerca de 1.000.000 de crianças-caso/ano (Baldwin, 1998) no mundo e 200.000 somente no Brasil (Gomes et al., 1991). Os principais sintomas da doença causada por EPEC são diarréia aquosa, em vários graus de intensidade, e desidratação. O quadro clínico pode se agravar rapidamente pela dificuldade na eliminação da bactéria podendo implicar em infecção do trato urinário e meningite (Chen e Frankel, 2004). Outro fator que pode contribuir para o agravamento da doença é a falta de um método diagnóstico diferencial rápido, o que dificulta a detecção, e conseqüentemente, o tratamento precoce (Vallance e Finlay, 2000). A diarréia causada por EPEC acomete, freqüentemente, neonatos nas áreas endêmicas, devido à falta de uma resposta imune adquirida. Os principais fatores de risco são a ausência do aleitamento ao seio materno, o baixo peso ao nascer, desnutrição nos primeiros meses de vida, e a residência em áreas de saneamento precário. Este último sugere que a água utilizada para preparação dos alimentos seja a principal fonte de contaminação (Fernandes e Medina-Acosta, 2002; Fernandes e Medina-Acosta, 2004). Nos países em desenvolvimento a profilaxia para bactéria enteropatogênicas é dependente de programas de tratamento de água e esgoto, uma vez que a transmissão é oro-fecal. E os métodos, em geral, utilizados para detecção dessas 4 bactérias, têm duração de aproximadamente 48h, tempo suficiente para o estabelecimento do processo típico de adesão e destruição das microvilosidades do epitélio intestinal. Esse processo leva a diarréia e a quadros de forte desidratação, podendo levar uma criança à morte (Flores, 2001). Há, então, grande necessidade da produção de imunoprofiláticos e métodos diagnósticos rápidos contra as bactérias enteropatogênicas, tanto para população infantil dos países em desenvolvimento, quanto para migrantes ou turistas vindos de países industrializados. Os últimos são alvo fácil para infecção com enterobactérias patogênicas, uma vez que têm baixo nível de imunidade adquirida, devido à baixa incidência da doença em seus países de origem. 1.2. Mecanismo de infecção e Fatores de virulência Alguns trabalhos propõem que a patogênese de EPEC ocorre em quatro fases distintas (Knutton et al., 1998; Donnenberg e Kaper, 1992), contudo esse modelo é artificial e controverso. No primeiro estágio, em condições propícias, EPEC expressa em sua superfície as adesinas BfpA (Subunidade A dos pili formadores de feixe de EPEC), a adesina intimina e filamentos curtos de EspA (Proteína A secretada de EPEC). No segundo estágio, as células bacterianas se aderem ao epitélio intestinal através dos filamentos de BfpA e EspA, e o sistema de secreção do tipo III transloca Tir (receptor translocado de intimina) e outras proteínas efetoras para o citoplasma das células hospedeiras. As proteínas efetoras ativam vias de sinalização que levam a alteração do citoesqueleto e perda das microvilosidades locais. No terceiro estágio, os filamentos de EspA são perdidos da superfície bacteriana, a intimina se liga ao Tir resultando na ligação íntima, com acúmulo de actina na interface com a bactéria. Na última fase, ocorre a formação do pedestal típico da lesão de adesão e desvanecimento (A/E) causada pela grande quantidade de elementos do citoesqueleto no local da adesão por EPEC. Ao final, esse processo leva a perda eletrolítica e eventual morte celular (Clarke et al., 2003) (Figura 1). 5 FIGURA 1: Modelo de 4 estágios da patogênese de EPEC. Adaptada de (Clarke et al., 2003). Feixe de BfpA Intimina Filamento de EspA EspB e EspD Actina Tir EspF EPEC EPEC EPEC EPEC A B C D EPEC EPEC EPEC EPEC A B C DMicrovilos Enterócitos 1º 2º 3º 4º 6 1.2.1. Adesão inicial O processo de adesão inicial da bactéria à célula hospedeira é mediado pelo feixe de pili, formado pela proteína BfpA como demonstrado em experimentos de infecção in vitro por Hicks et al. (1998) e Cleary et al. (2004). Os genes responsáveis pela biogênese dos pili de proteína A encontram-se em um megaplasmídio denominado Fator de Aderência de EPEC (EAF) (Nataro e Kaper, 1998). O feixe de pili é utilizado pela bactéria na formação de micro-colônias, fenótipo de adesão típico de EPEC denominada Aderência localizada (LA”Localized Adherence”) (Figura 2) (Nataro e Kaper, 1998; Rodrigues et al., 2004). Algumas cepas de EPEC, denominadas atípicas, perdem esse plasmídio, aderem-se difusamente ao epitélio intestinal e exibem menor virulência e patogenicidade, sendo este fenótipo de adesão atípico de EPEC denominada aderência difusa (Figura 3) (Nataro e Kaper 1998). FIGURA 2: Aderência localizada de EPEC. Fenótipo típico de EPEC em cultura de células epiteliais (Reproduzido com permissão do Dr. Brett Finlay, University of British Columbia, Canadá, e do Dr. Michael Donnenberg, Universidade de Maryland, EUA). 7 FIGURA 3: Aderência Difusa de EPEC Fenótipo atípico de EPEC em cultura de células epiteliais (Reproduzido com permissão do Dr. Brett Finlay, University of British Columbia, Canadá, e do Dr. Michael Donnenberg, Universidade de Maryland, EUA). 1.2.2. Ilha de patogenicidade: Lócus de Desvanecimento do Enterócito (LEE) A capacidade da EPEC de causar a lesão A/E é dependente da ativação de genes que codificam a síntese dos fatores de virulência de EPEC. Estes estão localizados no lócus cromossômico LEE (Locus of Enterocyte Effacement) chamado de Ilha de patogenicidade (PAI - pathogenicity island). Possui 34 Kpb e está dividido em cinco operons policistrônicos denominados, em ordem, LEE 1, LEE 2, LEE 3, LEE 5 e LEE 4 (Cleary et al., 2004). Os genes que codificam um sistema de secreção do tipo III estão no LEE 1, 2, 3; eae, que codifica a adesina intimina, e tir, que codifica o receptor translocado de intimina, estão no LEE 5; espA, espB e espD, que codificam proteínas secretadas através do sistema de secreção do tipo III,estão no LEE 4; e o gene que codifica o regulador ler, que ativa transcrição do LEE 1, 2, 3, 4 e 5, está no LEE 1 (Elliot et al., 1998). A região LEE está presente em EPEC e EHEC com alto grau de homologia, mas não está presente em cepas de E. coli da flora normal, E. coli K-12, ou ETEC. Seqüências homólogas ao LEE também são encontradas em outras bactérias enteropatogênicas que causam o fenótipo A/E (Adesão e desvanecimento), incluindo, REDEC-1 (EPEC de coelho), Hafnia. alvei diarreicogênica e Citrobacter rodentium (Elliot et al., 1998, Künhe et al., 2004). 8 Mutações em algum dos fatores bacterianos codificados por LEE previnem a formação da lesão A/E em culturas de células epiteliais, tais como mutantes para eae, tir ou espA (Cleary et al., 2004). Atualmente, essas mutações tem sido alvo para o desenvolvimento de vacinas para EPEC, como aqueles mutantes para o regulador Ler (Zhu et al., 2005) e para eae (Stakenborg et al., 2006). Estes já foram utilizados como vacinas em coelhos, e mostraram ser imunogênicos e protetores em testes de desafio com dose letal de EPEC selvagem. 1.2.3. Sistema de secreção do tipo III (TTSS) O sistema de secreção do tipo III (TTSS) está associado com a virulência de muitas bactérias Gram negativas que infectam humanos, animais, insetos e plantas. Sua organização e composição são bastante conservadas (Hueck, 1998), como, por exemplo, entre a Shigella (Sansonetti et al., 1986), Salmonella (Galan, 1996) e Yersinia (Rosqvist et al., 1990). Consiste em um corpo basal formado por um complexo multiprotéico que atravessa ambas membranas bacterianas, e uma estrutura tipo agulha, projetada para o exterior, que permite a liberação direta de proteínas efetoras no interior das células hospedeiras (Hueck 1998; Hartland et al., 2000). Essa organela pode ser visualizada por microscopia eletrônica e é chamada de complexo agulha ou corpo basal (Sekiya et al., 2001, Ogino et al., 2006). As principais proteínas formadoras do corpo basal do TTSS em EPEC e EHEC são EscC, EscV e EscF. As EscC e EscV compõem as estruturas de anéis nas membranas bacteriana externa e interna, respectivamente (Gauthier et al., 2003) e a EscF, permanece ancorada na membrana bacteriana através dos anéis interno e externo (Figura 4) (Sekiya et al.,2001; Ogino et al., 2006). O TTSS de EPEC e EHEC é o único que possui a extensão de um filamento para formar o ‘complexo agulha’ (Knutton et al., 1998). A proteína translocada EspA é a única constituinte desse filamento condutor que liga diretamente a bactéria à célula hospedeira (Knutton et al., 1998; Hartland et al., 2000; Daniell et al., 2003); Ogino et al., 2006). Cepas mutantes para EscF não são capazes de expressar EspA e formar a agulha do TTSS, enquanto que mutantes para EspA não são capazes de expressar EscF e formar o corpo basal do TTSS, mostrando assim que essas proteínas podem afetar a forma e a estabilidade do complexo (Sekiya et al.,2001). 9 Os filamentos de EspA são essenciais para translocar para a célula hospedeira as proteínas EspD (Proteína D Secretada de EPEC), e EspB (Proteína B Secretada de EPEC), que participam na formação de poros na membrana do enterócito (Knutton et al., 1998; Hartland et al., 2000; Vallance e Finlay, 2000). Os poros servem de passagem das proteínas efetoras para a célula hospedeira, como o receptor translocado de intimina, Tir, envolvido na ligação íntima e transdução de sinal, à proteína associada a mitocôndra, Map, que interfere no potencial de membrana da mitocôndria; a proteína F secretada de EPEC, EspF, requerida para ruptura das junções célula-célula e na morte celular programada; a proteína G secretada de EPEC, EspG, envolvida na desestabilização dos microtúbulos; e proteína H secretada de EPEC, EspH envolvida na modulação dos filamentos de actina para a formação do pedestal (Garmendia et al., 2005). 10 Membrana da célula hospedeira ME MI EspA Filamento de EspA AE AI EscF Tir, EspB, EspD EscN PP EspB, EspD Membrana da célula hospedeira ME MI EspA Filamento de EspA AE AI EscF Tir, EspB, EspD EscN PP Membrana da célula hospedeira ME MI EspA Filamento de EspA AE AI EscF Tir, EspB, EspD EscN PP EspB, EspD FIGURA 4: Modelo Esquemático do sistema de secreção do tipo III de EPEC Primeiro os anéis interno e externo são formados, e em seguida EscF é polimerizada através dos anéis. EspA é secretada e ligada no topo do complexo agulha de onde inicia sua polimerização e formação da agulha desse complexo (filamento). Através dessa estrutura em forma de tubo as proteínas EspB, EspD e Tir são translocadas para a célula hospedeira, onde EspB e EspD formam poros para que Tir e outras proteínas efetoras cheguem ao citoplasma. ME: Membrana Externa, MI: Membrana Interna, PP: Periplasma, AE: Anel Externo da porção ancorada do sistema de secreção do tipo III de EPEC, AI: Anel Interno da porção ancorada do sistema de secreção do tipo III de EPEC. Adaptada de Sekiya et al. (2001). 1.2.4. Aderência íntima Dentre as proteínas efetoras que a bactéria transloca através do TTSS para o citoplasma do enterócito, está a proteína Tir de 90 kDa. Esta insere-se na membrana servindo de receptor para a proteína intimina de 94 kDa, que está presente na membrana externabacteriana. A ligação Tir-intimina estabelece uma adesão íntima entre a bactéria e o enterócito, com conseqüente perda localizada das microvilosidade das células do epitélio intestinal. Com a translocação de proteínas efetoras para a célula hospedeira e a adesão íntima entre a bactéria e o enterócito, a bactéria torna-se capaz de modular algumas vias de sinalização na célula 11 hospedeira (Kenny et al., 1997). Dessa forma, EPEC pode iniciar a formação do pedestal e mediar seu efeito patogênico na célula hospedeira enquanto permanece na superfície extracelular. 1.2.5. Transdução de sinal Ao se fixar na membrana da célula hospedeira a proteína Tir é fosforilada, ativando a via de sinalização da fosfolipase C (PLC), o que leva a formação de fosfatidil inositol (IP), aumento no fluxo de cálcio intracelular e ativação de proteína quinase C (PKC). Como conseqüência à sinalização intracelular, ocorre reorganização do citoesqueleto e formação de um pedestal na interface com a bactéria, caracterizando a típica lesão A/E (Moon et al., 1983; Dytoc et al., 1994; DeVinney et al., 1999; Campellone e Leong, 2003) (Figura 5). A lesão A/E causada pela infecção por EPEC provoca danos celulares que levam a diarréia. Estes são caracterizados pela perda da absortividade através das microvilosidades, pela redução das junções do tipo oclusão entre as células, pelo aumento da permeabilidade paracelular, com conseqüente perda de importantes eletrólitos como Cl- e HCO3-, e pelo processo inflamatório mediado pela infiltração de neutrófilos (Vallance e Finlay, 2000) (Figura 5). Dano tecidual Recrutamento de Neutrófilos Alteração de Cl- e HCO3- Secreção iônica Diarréia Diminuição Integridade das junções Tight Perda da superfície de absorção Diminuição Da Resistência H2O H2OCl - Cl- EPEC Dano tecidual Recrutamento de Neutrófilos Alteração de Cl- e HCO3- Secreção iônica Diarréia Diminuição Integridade das junções Tight Perda da superfície de absorção Diminuição Da Resistência H2O H2OCl - Cl- EPEC FIGURA 5: Esquema dos danos celulares que levam à diarréia na infecção por EPEC. Adaptado de Vallance e Finlay, 2000. 12 1.3. A Proteína EspA Como mencionado anteriormente, os genes que codificam as proteínas secretadas encontram-se no lócus cromossômico LEE, que também inclui todos os outros componentes formadores do TTSS, além das proteínas efetoras. Dentre as proteínas secretadas codificadas por LEE está EspA, uma proteína de aproximadamente 25 kDa, que é a formadora da agulha do TTSS (Chen e Frankel, 2004). Daniell e colaboradores (2003) mostraram, em experimentos de microscopia eletrônica dos filamentos de EspA, que a forma com que esses filamentos se organizam é muito semelhante ao arranjo da flagelina na formação do flagelo. Porém, eles diferem na região central, sugerindo que o filamento de EspA forme um canal central por onde as proteínas da bactéria são liberadas no citoplasma do enterócito. A formação dos filamentos de EspA ocorre por adição de muitas subunidades de EspA no topo de crescimento do filamento, e as proteínas efetoras são translocadas através de um canal central do filamento de EspA como confirmado no trabalho de Crepin e colaboradores 2005. Além disso, mostraram que o aumento da concentração intracelular das subunidades de EspA resulta em filamentos mais longos, sugerindo que a quantidade de EspA produzida pela bactéria constitui um fator limitante para definir o comprimento do filamento. A secreção de muitas proteínas do TTSS é regulada pela presença de chaperoninas citoplasmáticas. Creasey e colaboradores (2003) identificaram uma interação entre EspA e EspB com uma proteína citoplasmática que, além de impedir a formação de agregados de EspA intracelulares, mostrou regular a expressão, o nível de transcrição e a secreção da EspA, sendo chamada de chaperoninas CesAB. Em termos funcionais o TTSS é chamado de injectiossomo, uma organela especializada na translocação, para o interior do enterócito, de proteínas efetoras que são necessárias para que ocorra a adesão íntima, subversão, transdução de sinal e formação da lesão A/E (Kenny et al., 1997; Knutton et al., 1998) (Figura 6). 13 Membrana da célula do hospedeiro Membrana bacteriana externa Membrana bacteriana interna Espaço Periplasmático Membrana da célula do hospedeiro Membrana bacteriana externa Membrana bacteriana interna Espaço Periplasmático FIGURA 6: Esquema representando o aparato do sistema de secreção do tipo III de EPEC/EHEC. Estão representadas as proteínas que formam o sistema de secreção do tipo III e as proteínas que são translocadas. Em destaque a proteína EspA, a principal proteína que compõe o sistema de secreção do tipo III, formadora do filamento translocador que liga a bactéria à célula hospedeira. Adaptada de (Garmendia et al., 2005). Além de mediar a translocação de proteínas efetoras, os filamentos de EspA podem funcionar como adesinas, como demonstrado em estudos in vitro com células epiteliais, em que EPEC deficiente para os genes que codificam BfpA e intimina foram capazes de estabelecer adesão inicial através dos filamentos de EspA, porém, não tão eficientemente quanto a cepa selvagem. Os filamentos de EspA funcionaram como um tipo de adesina estabelecendo uma ligação transiente entre a bactéria e a célula hospedeira (Hartland et al., 2000; Cleary et al., 2004). Além disso, Moreira e colaboradores (2006) mostraram, em substratos abióticos, 14 que EspA e BfpA de EPEC estão envolvidas na formação de biofilme, o que pode justificar a alta resistência dessa bactéria a antibióticos. A grande importância e contribuição dos filamentos de EspA para a lesão A/E foram comprovados em estudos in vitro com cultura de CaCo-2 (modelo de células epiteliais) e cepa de EPEC deficiente para o gene espA, em que essa cepa foi incapaz de induzir a típica lesão A/E (Cleary et al., 2004). Resultados semelhantes foram obtidos por Abe e colaboradores em 1998, utilizando cepas de REPEC (EPEC de coelho) deficiente para espA na infecção experimental de coelhos. No entanto, utilizando microscopia de fluorescência e anticorpos policlonais anti-EspA marcados com diferentes fluorocromos, Knutton e colaboradores (1998) observaram que a expressão dos filamentos de EspA in vitro é transiente, demonstrando que, após o início da formação da lesão A/E, os filamentos de EspA vão diminuindo, gradualmente, até não serem mais detectados na lesão A/E madura. (Figura 7). Esses dados sugerem uma aplicação profilática importante para anticorpos anti –EspA. Embora, estes não previnam a formação dos filamentos de EspA, como descrito anteriormente (La Ragione et al., 2005), podem, de alguma forma, impedir a formação da lesão A/E, seja por inibição da função de ‘ancoramento’ dos filamentos de EspA com a membrana da célula hospedeira, através da prevenção da interação de EspA com outras proteínas efetoras, ou por estabilizar os filamentos, prevenindo seu desarranjo, que é o pré-requisito para que ocorra a adesão íntima. 15 FIGURA 7: Foto micrografia de fluorescência. Anticorpos marcados em vermelho reconhecem actina, nas células epiteliais, e anticorpos marcados em verde reconhecem EspA, em EPEC, mostrando que a presença dos filamentos de EspA é transiente, barra = 5µm (Knutton et al., 1998). Os filamentos de EspA também são essenciais para desencadear a hemólise de células vermelhasdo sangue em experimentos in vitro, uma vez que EPEC mutantes para EspA não foram capazes de induzir a lise, assim como mutantes para EspD. Entretanto, mutantes para EspB ainda induziram fraca hemólise. Esse é um modelo de estudo simples que sugere a necessidade dos filamentos de EspA para desencadear a lesão A/E (Shaw et al., 2001), e mostra que, a formação dos filamentos de EspA é dependente de EspD, como confirmado por Crepin et al. (2005a). Trabalhos de caracterização de EspA em diferentes sorotipos de EPEC mostraram a importância dessa proteína na patogênese de EPEC e o seu possível uso em diagnóstico e profilaxia, devido a alta similaridade entre as seqüências de aminoácidos das diferentes cepas de EPEC, e entre EPEC e EHEC (Neves et al., 1998 e 2003). Análises comparativas (Tabela 2) das seqüências de aminoácidos da proteína EspA de EPEC de coelho (REPEC sorotipo O103:H2) com a de outras bactérias enteropatogênicas revelam alta similaridade da seqüência de aminoácidos entre diferentes cepas de E. coli eteropatogênicas e diferentes sorotipos de variados hospedeiros específicos. 16 TABELA 2: Porcentagem de similaridade entre a seqüência de aminoácidos da proteína EspA de REPEC (0103:H2) com as diferentes E.coli enteropatogênicas E.coli Sorotipo Hospedeiro Similaridade Protéica % Nº de acesso REPEC “0103:H2” Coelho Af200363 STEC “026:H” Bovino 100 AJ277443 EPEC “0111:H2” Ovelha 99 AJ225018 EPEC “0128:H2” Ovelha 99 AJ225021 EPEC -- Cachorro 98 U65681 EPEC -- Suíno 98 AF064683 EHEC “0103:H2” Bovino 94 AJ303141 EPEC “0127:H6 Humano 91 Z54352 EHEC “0127:H7” Humano 91 AF022236 EPEC “055:H7” Ovelha 90 AJ225220 EPEC “055:H6” Ovelha 90 AJ225019 BLAST (National Center for Biotechnology Information, NCBI, NIH, Bethesda, MD). (Análise feita para este trabalho). Estudos recentes mostraram que a proteína EspA de EPEC e EHEC de diferentes cepas possui a extremidade N e C terminal com alta similaridade, formando a região central do filamento, e uma região entre as extremidades que é hipervariável, exposta e imunodominante. Além disso, esse estudo mostrou que pequenos peptídeos, inseridos na região hipervariável, são apresentados na superfície do filamento de EspA e são acessíveis para anticorpos. Essa observação pode ter um considerável impacto para o futuro uso do filamento de EspA como ‘peptide display’ (Crepin et al., 2005b). O polimorfismo encontrado na região central da EspA indica que há interações entre os filamentos de EspA e o sistema imune do hospedeiro, o que faz da EspA um possível alvo para o desenvolvimento de vacina (Crepin et al., 2005b). O estudo de La Ragione e colaboradores (2005) reforça essa idéia, uma vez que anticorpos policlonais anti-EspA demonstraram reconhecer todos fragmentos de EspA com exceção dos fragmentos correspondentes aos aminoácidos 129-171 e 150-192, 17 onde o último compõe a região conservada do filamento, ou seja, a região não exposta. A proteína EspA demonstrou estimular a produção de IgG e IgA humanos, uma vez que anticorpos anti-EspA são detectados em soros de pacientes acometidos por EPEC (Martinez et al., 1999), e em colostros de mães que residem em regiões endêmicas para EPEC (Loureiro et al., 1998). Sendo assim, a detecção de anticorpos anti- EspA em pacientes abre a possibilidade de diagnóstico específico e profilaxia de pessoas acometidas por E. coli enteropatogênicas. Em nosso grupo de pesquisa, trabalhos buscando a caracterização e diagnóstico para EPEC já foram realizados, tanto utilizando BfpA recombinante com soro de pacientes e colostro das mães (Fernandes et al., 2002 a e b) quanto BfpA e EspB recombinante com coproanticorpos (Fernandes et al., 2003), em testes de Western blot. 1.4. Resposta imune, vacinas e imunobiológicos contra E. coli enteropatogênicas Para avaliar a resposta imune contra REPEC Ramirez e colaboradores (2005) infectaram coelhos com REPEC selvagem e com mutantes para intimina e EspA. Em geral, observaram um aumento da migração de leucócitos polimorfonuleares e a expressão de citocinas proinflamatórias como IL-6, IL-8, TNF-α sendo secretadas por linfócitos da Placa de Peyer e baço. Essas características indicam que a colonização por REPEC dirige a resposta imunológica para Th1. Durante a infecção com REPEC mutante para EspA, houve um aumento dos níveis de expressão das citocinas IL-8 e TNF-α, e fraco aumento de IL-10. Diversos trabalhos visam determinar a presença e a especificidade de anticorpos protetores contra proteínas essenciais para o estabelecimento da infecção por E. coli enteropatogênicas. A resposta imune contra EPEC e EHEC é detectada no leite de lactantes com a presença de altos níveis de anticorpos IgA contra as proteínas EspA, EspB, intimina (Loureiro et al., 1998; Noguera-Obenza et al., 2003) e BfpA (Loureiro et al., 1998; Fernandes et al., 2002b). Também foram detectados, no soro de crianças, altos níveis de anticorpos IgG anti-EspA, EspB, intimina (Martinez et al., 1999), BfpA (Fernandes et al., 2002a) e Tir (Li et al., 2000). Anticorpos anti-BfpA e anti-EspB também foram encontrados em fezes de crianças 18 alimentadas naturalmente e artificialmente (Fernandes et al., 2003). Carbonare e colaboradores (2003) também analisaram anticorpos do soro e saliva de crianças residentes em área endêmica para EPEC e encontraram anticorpos reativos para as adesinas (BfpA e intimina) e para as proteínas secretadas de EPEC (EspA e EspB). Comprovada a imunogenicidade de diversas proteínas de EPEC e EHEC, o seu uso para produção de imunobiológicos tornou-se alvo de estudos para muitos pesquisadores. Em busca de um método diagnóstico rápido para E. coli enteropatogênicas, anticorpos anti-EspB foram produzidos e usados em testes de aglutinação reversa passiva em látex. Estes anticorpos foram capazes de detectar fatores de virulência tanto EPEC quanto EHEC (Lu et al., 2002). Com o mesmo objetivo, anticorpos policlonais e monoclonais recombinantes anti-EspA e intimina foram capazes de reconhecer essas proteínas de EHEC, em testes de Western blot ( Kühne et al., 2004). Recentemente, La Ragione e colaboradores (2005), por meio de experimentos de fluorescência, demonstraram que anticorpos policlonais e monoclonais anti-EspA e intimina inibem a reorganização do citoesqueleto de células epiteliais HEp-2 induzida pela infecção por EHEC, e que anticorpos anti- EspA da cepa EHEC O157:H7 interferem na reorganização de actina de 13 dos 21 sorotipos de EPEC testados, mostrando que houve proteção cruzada. O uso de anticorpos IgY, produzidos na gema do ovo de galinhas hiperimunizadas, anti-intimina, Tir, EspA, EspB e EspD foi proposto por Girard e colaboradores (2006) como uma alternativa promissora na prevenção da lesão A/E causada por EPEC. Nesse estudo, IgY anti-EspA inibiu a aderência de EPEC humana em cultura de órgãos in vitro (IVOC). Uma outra abordagem que vem sedo explorada por alguns pesquisadores é o uso de proteínas recombinantes, ou mesmo E. coli enteropatogênicas mutantes, como vacinas. Potter e colaboradores (2004) utilizaram proteínas secretadas (Esps e Tir) para imunizarem bovinos. A resposta imune induzida foi suficiente para manter baixos níveis de bactérias nas fezes após o desafio com EHEC. A vacinação de coelhos com REPEC mutantes para o regulador (ler) do lócus LEE conferiu proteção aos coelhos após desafio com cepa selvagem de REPEC (Zhu et al., 2005). Resultados semelhantes foram descritos com EPEC mutante para EspB e Tir (Boullier et al., 2003). 19 Recentemente, a proteção de coelhos contra REPEC 8+/0103 foi realizada com vacinação oral com EPEC mutante para intimina, porém, não foi eficiente para proteger totalmente os coelhos desafiados com REPEC de outros bio-sorogrupos (Stakenborg et al., 2006).2. Justificativa A proteína EspA, secretada por E. coli enteropatogênicas via sistema de secreção do tipo III, é a subunidade formadora do filamento que liga a bactéria à célula hospedeira. Ela permite a translocação de proteínas efetoras para o interior da célula hospedeira, desencadeando a adesão íntima, subversão, transdução de sinal e formação da lesão patognomônica de adesão e desvanecimento. Desta forma, a proteína EspA é de grande importância no estabelecimento da infecção. A EspA é considerada uma proteína imunogênica alvo de estudos de profilaxia experimental, podendo ser utilizada na produção de uma vacina protetora contra EPEC e EHEC de vários sorotipos, pois, a exposição natural a EPEC resulta em produção de IgG e IgA específicas prevalente em indivíduos nas áreas endêmicas. A produção de proteína EspA de EPEC, de forma recombinante, e de anticorpos anti-EspA oferecem algumas vantagens, pois a similaridade estrutural da EspA das diferentes E. coli enteropatogênicas e as altas freqüências de anticorpos anti–EspA, sugerem que uma proteção cruzada seria possível contra múltiplos sorotipos de maneira eficaz no bloqueio da formação da lesão A/E. Portanto, a produção de EspA de forma recombinante e de anticorpos anti-EspA recombinante abrem a possibilidade para o desenvolvimento de métodos diagnóstico mais rápidos, baratos e eficientes, além de sua aplicação em profilaxia e terapia. 20 3. OBJETIVOS Clonar e expressar o gene espA de EPEC em sistema de expressão bacteriano pQE-30. Produzir e purificar proteína EspA recombinante. Produzir anticorpos policlonais anti- EspA recombinante em coelhos hiperimunes. Avaliar a antigenicidade da proteína EspA recombinante com IgG policlonais anti- EspA produzidos em coelhos, e com IgG e IgA séricas de crianças assintomáticos de 0 a 2 anos. 21 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. Estratégia metodológica A seqüência codificadora espA foi amplificada por meio da técnica de PCR utilizando iniciadores específicos desenhados para conter sítios das enzimas Bam HI e Hind III. A seqüência amplificada foi clonada no vetor de clonagem comercial pGEM-T-Easy®. A construção recombinante obtida, pGEM/espA, foi digerida com as enzimas de restrição Bam HI e Hind III, para obtenção do inserto relativo à seqüência espA com as extremidades compatíveis, para ligação com o vetor de expressão bacteriano pQE-30, também digerido com Bam HI e Hind III. Tanto o vetor como a seqüência espA foram purificados e ligados em condições e concentrações apropriadas. As construções recombinantes pQE-30/espA foram utilizadas para transformar E. coli M15 (pREP4). Após a seleção de clones contendo pQE-30/espA e pREP4, foi feita a indução da expressão da proteína EspA com IPTG. A proteína EspA foi purificada por coluna de afinidade Ni-NTA-Sepharose, utilizada na imunização de coelhos, e testada quanto sua antigenicidade. Anticorpos policlonais de coelhos imunizados foram analisados in vitro por ELISA e Western blot. A proteína EspA recombinante também foi utilizada em testes de captura (ELISA e Western blot) para IgG e IgA anti-EspA de crianças assintomáticas menores de 2 anos. Anticorpos anti-EspA foram utilizados em ensaios de inibição da hemólise por EPEC e REPEC. 22 FIGURA 8: Esquema representativo da Estratégia metodológica PCR espA + VVeettoorr ppGGEEMM--TT eeaassyy pGEM/espA Bam HI Hind III pGEM/espA VVeettoorr ppGGEEMM--TT eeaassyy + espA Hind III Bam HI Vetor pQE-30 VVeettoorr ppQQEE--3300 ddiiggeerriiddoo + Transformação pQE-30/espA E.coli M15 Expressão Purificação NNii--NNTTAA--SSeepphhaarroossee HHiissEEssppAA IImmuunniizzaaççããoo ddee ccooeellhhooss AAnnttiiccoorrppooss -- EElliissaa -- BBlloott -- IInniibbiiççããoo ddaa hheemmóólliissee 23 4.2. Material Biológico 4.2.1. Células TABELA 3: Células utilizadas Célula Cepa Fonte Escherichia coli DH5-α Invintrogen Escherichia coli M15 Qiagen Escherichia coli Enteropatogênica humana (hEPEC) B171 Cedida por Wilmar Dias da Silva – LBR/UENF Escherichia coli Enteropatogênica de coelho (rEPEC) REPEC-1 Cedida por João Ramos Costa Barros - UERJ 4.2.2 Coelhos Para o experimento de imunização com EspA recombinante foram utilizados dois coelhos albinos pesando 2Kg, obtidos de criador local. Todo o procedimento experimental foi realizado dentro dos padrões éticos e de acordo com as leis de proteção de animais de laboratório. 4.2.3 Soro e anticorpos Amostras de sangue foram coletadas de 100 crianças, assintomáticas para diarréia, de 0 a 2 anos de idade, atendidas pela Drª Regina Célia de Souza Campos Fernandes no Centro da Criança e do Adolescente da cidade de Campos dos Goytacazes. O sangue foi coagulado a temperatura ambiente e separado por centrifugação a 12.000x g e o soro mantido a -20 ºC até o uso. Todo o procedimento foi realizado dentro dos padrões éticos e com o consentimento dos pais. Para obtenção do sangue dos coelhos foi feita a sangria total por um médico veterinário, o sangue foi coagulado a temperatura ambiente e separado por centrifugação a 12.000x g e o soro mantido a -20 ºC até o uso. Os anticorpos anti-His, anti-IgG e anti-IgA peroxidase foram adquiridos da Sigma-Aldrich, EUA e mantidos a -20 ºC até o uso. 24 4.3. Amplificação da região codificadora espA O DNA de EPEC EAF + cepa B171 sorotipo O111:NM (Riley et al., 1990), extraído pelo método TENS (Solução Tris, EDTA, NaOH, SDS) (Sambrook, 1989) foi usado para amplificação da região codificadora da EspA. Foram utilizados iniciadores específicos desenhados de acordo com pesquisa de seqüências disponíveis no banco de seqüências do Genebank (número de acesso: AF200363) Forward 5 ’CGC CGC GGA TCC GCG ATG GAT ACA TCA ACT GCA ACA - 3’ e Reverse 5’ CGC CCC AAG CTT GGG TTA TTT ACC AAG GGA TAT TGC – 3’. As regiões sublinhadas correspondem aos sítios alvos para as enzimas de restrição Bam HI e Hind III, engenheiradas para facilitar a clonagem direcionada. O produto da amplificação esperado seria de 579 pb de acordo com pesquisa no banco de dados (nº acesso: AF200363). Para 50 µL da reação de PCR foram utilizados de 10- 20 ng de DNA molde, 25 pmol de cada iniciador, mistura de deoxinucleotídeos na concentração final de 0,2 mM (Biotools), e 1U da polimerase (Biotools) diluídos em tampão da própria enzima 1X concentrado (Biotools com 2mM MgCl2), outras concentrações de iniciadores, dNTPs e MgCl2 foram testadas até se chegar a 25pmoles, 25mM, 2,5mM respectivamente que foram as concentrações ótimas. As condições de amplificação foram 95 ºC, 5 min (1 ciclo); 94 ºC, 1 min, 49 ºC, 2.5 min, 72 ºC, 2.5 min (30 ciclos); 72 ºC, 15 min (1 ciclo). Ao final da PCR as amostras foram analisadas em gel de agarose contendo 0.8% de brometo de etídio. 4.4. Purificação de fragmentos de DNA a partir de géis de agarose A região amplificada (espA) foi retirada do gel de Agarose 0,8%, tratado com brometo de etídio, com a utilização do Kit de extração de DNA Concert Rapid Gel Extraction System, (GIBCO BRL, Life Technologies). 4.5. Preparação de células DH5-α e M15 (PREP4) competentes As células foram cultivadas em Erlenmeyer contendo 50 mL de meio LB (Luria Broth) até DO600nm= 0,5 - 0,7 e centrifugadas a 4 ºC a 2.060x g durante 5 min; o sobrenadante foi descartado e o pellet dissolvido em 25 mL de 50 mM CaCl2 gelado, 25 misturado gentilmente, e colocado em gelo durante 20 min. Essa mistura foi centrifugada a 4 ºC a 2.060xg durante 5 min, o pellet dissolvido em 3,5 mL de 50 mM/ 15% glicerol/ CaCl2. Foram feitas alíquotas de 100 µL, congeladas em nitrogênio líquido e estocados a -70 ºC. 4.6. Clonagem da região codificadora espA e transformação de E.coli DH5-α O DNA referente ao amplicon purificado foi diretamente ligado, utilizando 0,1U T4 ligase® (Promega), ao vetor de clonagem pGEM-T Easy® (Promega). O produto da ligação foi utilizado para a transformação de E. coli da cepa DH5-α® (Invitrogen) pelo método de choque térmico (3 minutos 42 ºC, 15 minutos 0 ºC). Os transformantes foram selecionados em meio LB sólido contendo ampicilina (100 µg/mL), 0,5 mM IPTG e X- Gal (80 µg/mL). Neste sistema as colônias transformadas com as construções positivas crescem com coloração branca, enquanto as negativas crescem com coloração azul. A coloração branca se dá quando o gene para a β-galactosidase é interrompido pelo inserto que possui o gene de interesse. A β-galactosidase expressa pela colônia cliva o substrato cromogênico X-Gal presente no meio de cultura. As colônias brancas foram selecionadas e crescidas em meio LB líquido por 16h contendo ampicilina (100 µg / mL). O DNA das bactérias foi extraído pelo método TENS e digerido com 0,1U da enzima Bam HI e Hind III® (Promega). O fragmento restrito de 579 pb liberado do vetor de 3015pb foi purificado a partir do gel utilizando Kit de extração de DNA (GIBCO BRL®). 4.7. Análise dos clones por PCR A validação dos possíveis clones (pGEM-Teasy/espA) foi feita pela reação da PCR , nas condições descritas no item 4.5, utilizando o DNA extraídos das colônias brancas. As amostras positivas foram selecionadas e utilizadas para obtenção do fragmento para clonagem no vetor de expressão. Os clones positivos foram chamados de pLUA-04(1, 2, 4, 8 e 10). 26 4.8. Subclonagem da região codificadora espA no vetor de expressão pQE- 30 O amplicon espA purificado, de 579 pb, foi ligado ao vetor de expressão pQE- 30 ® (Qiagen) linearizado com Bam HI ® (Promega) e Hind III® (Promega).A quantificação desses DNA foi feita em visualização eletroforética comparativa com marcador de DNA ג hind. O vetor pQE-30 possui o gene bla que confere resistência ao β-lactâmico ampicilina. A ligação foi feita nas proporções 1:1 e 1:3 vetor: inserto, utilizando 0,1U de enzima ligase (®Promega, EUA) em tampão próprio da ligase, 1X concentrado, contendo ATP. O volume da reação foi de 20 µL e a incubação a 16 ºC por 16h. As E. coli competentes, cepa M15 (pREP4), foram transformadas, por choque térmico, com a construção originada da ligação da região codificante amplificada com o vetor de expressão (Sambrook, 1989). O plasmídio pREP4 contém o gene nptll que confere resistência ao antibiótico canamicina, e contém o gene lac Iq, que codifica um repressor da expressão do operador lac, presente no vetor de expressão pQE-30® (Qiagen). Bactérias co-tranformadas com o vetor de expressão recombinante e pREP4 foram selecionadas em meio LB contendo ampicilina (100 µg/mL) e canamicina (25 µg/mL). O DNA plasmidial das colônias obtidas na transformação foi extraído pelo método TENS (Sambrook, 1989) e para a confirmação da clonagem foi feito digestão com as enzimas Bam HI® (Promega) e Hind III® (Promega), seguida de reação da PCR nas condições descritas no item 4.5. Os clones positivos foram chamados de pLUA-052.6, 8.3, 8.5, 10.3 e 10.6. 4.9. Validação da clonagem por seqüenciamento A validação do processo de clonagem foi realizada por seqüenciamento total em ambas as direções do inserto com DNA do clone pLUA-0510.3. O seqüenciamento foi feito por encomenda (Genemed Synthesis, Califórnia, EUA). 4.10. Teste da expressão da proteína His 6EspA Os clones pQE-30/espA em M15 (pREP4), confirmados PCR e sequenciamento foram testados para expressão da proteína recombinante. Colônias isoladas foram utilizadas como pré-inóculo, cultivadas em tubo Falcon de 30 mL contendo 5 mL de meio LB líquido com ampicilina (100 µg/mL) e canamicina (25 27 µg/mL), a 37 ºC durante 16 h, sob agitação constante, em 250 rpm. Novos inóculos foram feitos a partir desta cultura na diluição 1:20 em erlenmeyer de 4 mL contendo 2 L de meio LB e foram crescidos até DO600nm = 0,6. Alíquotas foram retiradas a cada hora para análise. A expressão do transgene foi induzida, durante 3h, com a adição de 1,0 mM de IPTG, o indutor sintético que reprime lac Iq. Assim, a expressão de Iac foi liberada permitindo a transcrição do transgene inserido no pQE-30. A indução também foi testada utilizando 0,7 mM, 0,5 mM, 0,3 mM, 0,1 mM e 0, 05 mM de IPTG. A figura 9 mostra um esquema representativo do vetor de expressão pQE-30® (Qiagen), mostrando o sítio múltiplo de clonagem com os respectivos sítios das enzimas de restrição, onde foi inserido o gene que codifica para EspA, e uma seqüência que codifica para um hexâmero de histidina. Os sítios das enzimas de restrição Bam HI e Hind III, inseridos na seqüência gênica espA, flanqueiam o sítio múltiplo de clonagem no vetor pQE-30. Amostra de material induzido e não induzido foram analisadas,quanto a indução, em SDS-PAGE segundo Laemmli (1972). A proteína EspA recombinante foi expressa como uma proteína de fusão a um hexâmero de histidina e foi denominada His6-EspA. A proteína de fusão tem 206 aminoácidos, sendo que 193 são correspondentes a seqüência para EspA e 13 aminoácidos extras para facilitar a purificação em coluna de afinidade, como ilustrado na figura 10 abaixo. 28 espA FIGURA 9: Esquema representativo do vetor de expressão pQE-30 (Qiagen) NH2 ATg AgA ggA TCg 6XHis ggA TCC NNN 579 pb(EspA) FIGURA 10: Esquema representativo da sequência da proteína His6EspA 4.11. Purificação de His6EspA expressa em células M15 por cromatocrafia de afinidade em Ni-NTA-Agarose Após o período de indução, a cultura foi centrifugada a 2800x g por 30 min a 4º C. O meio foi descartado, o pellet ressuspendido em 20-40 mL de tampão de lise desnaturante (10 mM Tris pH 8,0, 100 mM NaH2PO4, 7 M Uréia, 2 M Tiouréia) e levado para ultrasom (10 Watts (RMS)). O lisado foi centrifugado a 11.600x g durante 5 min e o sobrenadante transferido para outro tubo. Amostras de 5 mL de Ni-Sepharose (50% resina e 50% de etanol a 30%) foram adicionados em coluna Bam HI 13 aminoácidos de fusão * * 29 de 15 mL. Esta foi lavada três vezes com 1 mL de tampão de equilíbrio (10 mM Tris pH 8,0, 100 mM NaH2PO4, 7 M Uréia, 2 M Tiouréia) deixando o lisado em contato com a resina durante 40 min, sob agitação leve, a temperatura ambiente. A quantidade de His6EspA induzida foi determinada previamente em SDS-PAGE (Laemmli, 1970), e 1 mL do lisado foi passado na coluna por vez, uma vez que a capacidade da coluna é de 5-10 mg de proteína por mL de resina. Após a coleta do material não retido a coluna foi lavado com intuito de eliminar as proteínas contaminantes. A lavagem foi feita 10 vezes com 5 mL de tampão de lavagem (10 mM Tris pH 8,0, 100 mM NaH2PO4, 7 M Uréia, 2 M Tiouréia) e 5 vezes com tampão de lavage (10 mM Tris pH 8,5, 100 mM NaH2PO4, 7 M Uréia, 2 M Tiouréia) . Após as lavagens o material ligado à coluna foi eluído com tampão de eluição (10 mM Tris pH 4,5, 100 mM NaH2PO4, 7 M Uréia, 2 M Tiouréia). Todos os lavados e eluídos foram coletados de 5 em 5 mL. Imediatamente à eluição, a resina foi lavada três vezes com 5 mL da solução de lavagem após uso em condições desnaturantes e guardada em etanol 30% a4ºC. A proteína purificada passou pelo processo de diálise para dessalinização (4 vezes em 4L de solução de diálise) e por concentração pelo processo de sublimação (liofilização). Todas as amostras coletadas foram aplicadas em gel desnaturante de acrilamida (SDS-PAGE) a 15% para visualização da proteína His6EspA. A proteína purificada foi quantificada por ácido biscínconínico (Redinbaugh e Turley, 1986) e por densitometria ( Bozzo e Retamal , 1991). 4.12. Produção de anticorpos policlonais anti-His6EspA em coelho A imunização de dois coelhos albinos, pesando cerca de 2 Kg cada, para a produção de anticorpos policlonais contra a proteína His6EspA seguiu o esquema de imunização descrito por Harlon e Lane (1998). A primeira imunização foi realizada com 150 µg de proteína, emulsificada com 500 µL de adjuvante completo de Freünd® (Sigma-Aldrich, EUA). As aplicações foram subcutâneas na região cervical do animal. Após 15 e 30 dias foram feitos reforços aplicando a quantidade de 100 µg antígeno emulsificado com 500 µL de adjuvante incompleto de Freünd® (Sigma- Aldrich, EUA) . Após 15 dias do último reforço foi feita a sangria total dos animais via punção cardíaca, por um Veterinário. O sangue foi coagulado, centrifugado, e o soro 30 coletado foi aliquotado e estocado a -20º C para uso posterior em testes de interação antígeno-anticorpo. 4.13. Purificação de IgG anti-His 6EspA de coelho A IgG do soro de coelho pré-imunizado e imunizado foi purificada em coluna de afinidade de proteína A (segundo as especificações do fabricante -® Sigma- Aldrich, EUA) utilizando o Kit Protein A Antibody Purification KitR . A IgG total purificada foi quantificada por ácido biscinconínico (Redinbaugh e Turley, 1986). 4.14. Testes de antigenicidade da His6EspA A antigenicidade da His6EspA foi avaliada por Western blot/imunoblot segundo metodologia descrita (Towbin et al., 1979). A proteína EspA (4 µg) recombinante purificada por afinidade foi fracionada por SDS-PAGE (Laemmli, 1970) e eletrotransferidas para membrana de nitrocelulose de 0,22 µm (Bio-Rad Laboratories, Richmond, EUA). As membranas foram bloqueadas com 1% de leite desnatado em tampão TST-20 (Tris, Sal (NaCl), Tween-20)(ANEXO) por 16 h a 4 ºC. Os anticorpos utilizados para detectar His6EspA foram: monoclonal anti-His, anticorpos policlonais anti-EspA produzidos em coelho (nesse trabalho) e soros (n= 100) de pacientes pediátricos assintomáticos diluídos em TST-20 com 0,3% de leite desnatado, a 1:6.000, 1:10.000, 1:500, respectivamente. As membranas foram incubadas com os anticorpos diluídos durante 4 h. Os reagentes para detecção dos anticorpos imobilizados foram proteína A conjugada a peroxidase (Amersham Pharmacia Biotech, EUA), na diluição 1:6.000, anticorpo monoclonal de coelho anti- IgG humana conjugada a peroxidase (® Sigma-Aldrich, EUA ) e anticorpo monoclonal de coelho anti-IgA humana conjugada a peroxidase (® Sigma-Aldrich, EUA), na diluição de 1:40.000, em TST-20 com 0,3% de leite desnatado. O tempo de incubação foi de 2 h. Entre cada etapa as membranas foram lavadas 3 vezes com TST-20. As membranas foram reveladas pela adição de uma solução do cromógeno diaminobenzidina (DAB) (® Sigma-Aldrich, EUA). A reação foi bloqueada com água destilada. A antigenicidade da His-EspA foi avaliada por testes de ELISA segundo metodologia descrita (Coligan, 1991). No ensaio de ELISA, utilizando placa de 96 31 poços, foram incubados 50 µL/poço de uma solução de 2 µg/mL da proteína His6EspA recombinante em tampão carbonato/bicarbonato (ANEXO), durante 16 h a 4º C. Após a sensibilização, a placa foi bloqueada com 1% de leite em pó desnatado (diluído em PBS 1X, Tween-20 0,05%) por uma hora a 37º C. Logo após foram adicionados os soros (anti- HisEspA recombinante) dos diferentes coelhos diluídos em log 2 a partir de 1:100 até 1:3,276,800 e de pacientes de 0 a 2 anos de idade diluídos a 1:500, ambos em 0,2% de leite/Tween-20 0,05% em PBS e incubados por duas horas. Foi utilizada proteína A conjugada a peroxidase, na diluição de 1:30.000, ou IgG de cabra anti-IgG de coelho conjugada a peroxidase, na diluição 1:40.000. Para os soros humanos foram utilizadas IgG de coelho anti-IgG e IgA humana conjugada a peroxidase. A revelação ocorreu após 25 min, na presença de 2 mM de orto-fenil-diamina (® Sigma-Aldrich, EUA) e 0,006% de peróxido de hidrogênio. A reação foi parada com a adição de 20 µL de 0,1 N de ácido sulfúrico. A leitura das reações colorimétricas foi realizada em leitor de placas Multiskan, Labsystems Uniscience, a 492 nm. Para esse ensaio consideramos o End Point sendo diluição que apresenta uma D.O. duas vezes maior a do controle negativo. 4.15. Ensaio de hemólise e inibição de hemólise A atividade hemolítica foi determinada como descrito em (Shaw et al., 2001; Ribeiro e Medina-Acosta, 2003) com adaptações. O sangue de um indivíduo saudável foi coletado em vacuum tube contendo heparina como anticoagulante. As hemácias foram sedimentadas por centrifugação por 10 min 2.000 x g 20 ºC e lavadas três vezes em PBS (Tampão fosfato salino) (ANEXO) de alta força iônica ou IGP (Tampão Isotônico Glicose Fosfato) (ANEXO) de baixa força iônica. As células foram reconstituídas em PBS ou em IGP para 20% (v/v) volume de célula empacotada. Essa suspensão foi diluída 1:20 em PBS ou em IGP, e desta suspensão 100 µL/ poço a uma placa contendo 96 poços . As EPEC (EAF+) B171 (O111:NM) (cepa patogênica para humano), REPEC-1 (cepa patogênica para coelho) e DH5-α (Invitrogem) (cepa não patogênica) foram crescidas em DMEM contendo 10% de soro fetal bovino inativado, a 37 ºC durante 16 h sob agitação de 170 rpm. Um mililitro de cada cultura foi transferido para tubo de microcentrífuga e foram sedimentadas por centrifugação por 10 min a 2.000 x g a 32 20ºC. As células foram lavadas com PBS ou IGP e recontituídas em 500 µL de PBS ou IGP. Dessa solução 100µL/poço foram adicionados em placa de 96 poços juntamente com as hemácias para indução de hemólise. A cepa de E. coli DH5-α, foi utilizada como um dos controles negativo. Um segundo controle negativo foi feito com hemácia e PBS ou hemácia e IGP. O controle de hemólise total foi feito incubando hemácias com 1% de Tween-20 em água destilada. Para os testes de inibição da hemólise 50 µg ou 100 µg de IgG de coelho imunizados com EspA, purificada utilizando o Kit Protein A Antibody Purification KitR (Sigma Co., St. Louis, EUA), foram incubadas com as bactérias durante 25 min antes de acrescentar as hemácias diluídas em PBS ou IGP. Todas as amostras foram incubadas durante 1 h a 37 ºC e centrifugadas durante 5 min por 1.500 x g a 20 ºC. O sobrenadante foi transferido para outros poços e a absorbância medida a 405nm. Todas as amostras foram feitas em duplicatas. A atividade hemolítica foi calculada como porcentagem, usando a fórmula: % de hemólise=[ valor da média D.O. 405nm da amostra teste] - [valor da média D.O. 405nm com tampão] / [valor da média D.O. 405nm amostra tratada com Tween-20] - [valor da média D.O. 405nm com tampão] X 100%. 33 5. RESULTADOS 5.1. Amplificação da região codificadora para EspA Utilizamos DNA extraído de EPEC (EAF+) B171 (O111:NM) para amplificação da região codificante da EspA. Foram utilizados iniciadores específicos, dNTPs e MgCl2 em diferentes concentrações até se encontrar a melhor, que foi 25pmoles, 25mM, 2,5mM respectivamente. Foi usado o pQE-30 como controle negativo e o megaplasmídio, que contém a região codificadora bfpA, como controle positivo. Para visualizar o resultado os 25 µL da reação da PCR foram aplicados em gel de agarose 0,8% com brometo de etídio (Figura 11 A). Após estabelecimento das condições ótimas, a PCR foi repetida parater o fragmento em grande quantidade para a clonagem (Figura 11 B). Figura 11: Visualização eletroforética da amplificação da espA Gel de agarose 0,8% contendo 0,03% de brometo de etídio. A: Amplificação da espA com iniciadores específicos. M: marcador λ Hind de 564 pb a 23.000 pb; 1: espA amplificada; 2: controle negativo pQE-30; 3: controle positivo com pLUA-013 4: controle positivo com DNA de EPEC. B: 1-8 amostras da amplificação da espA em grande quantidade para a ligação ao pGEM- Teasy. M: marcador 1kb. As setas indicam a posição relativa do amplicom de 579pb. 579pb 579pb 1 2 3 4 5 6 7 8 M A B M 1 2 3 4 34 5.2. Ligação do Amplicon no vetor de clonagem Foi realizada a ligação do amplicom ao vetor pGEM-Teasy, (®Kit Promega). Células DH5-α competentes foram transformadas com o produto da ligação e plaqueadas em meio LB sólido contendo ampicilina 100 µg/mL, IPTG 80µg/Ml e X- Gal 16 mM para selecionar as colônias brancas. As colônias selecionadas foram crescidas em 5mL de meio LB líquido contendo ampicilina 100 µg/mL por 16 h. O DNA de 10 colônias brancas foi extraído pelo método de TENS. 5.3. Validação dos possíveis clones (pGEM-Teasy/espA) Foi feita uma PCR para validação dos possíveis clones (pGEM-Teasy/espA) e seis dos dez possíveis clones (1, 2, 3, 4, 8 e 10) foram positivos para espA (Figura 12). Foi realizada uma digestão com as enzimas Bam HI ®(Promega) e Hind III®(Promega) dos DNA das colônias (1, 2, 3, 4, 8 e 10) positivas por PCR para linealizar o vetor de clonagem e deixar o inserto espA com extremidades coesivas, prontas para serem ligadas no vetor de expressão pQE-30. Um gel de agarose 0.8% foi feito e nele aplicado toda a amostra das digestões. Foi possível visualizar a liberação do fragmento correspondente a espA somente na digestão dos DNA das colônias 1, 2, 4, 8, e 10, de onde a banda correspondente ao inserto espA foi extraída do gel utilizando o Kit da Gibco (Figura 13). As colônias positivas receberam o nome de pLUA-041, 2, 4, 8 ou 10. 35 Figura 12: Visualização eletroforética do produto da PCR para validar clones pGEM/espA Gel de agarose 0,8% contendo 0,03% de brometo de etídio. M: marcador λ Hind de 564 pb a 23.000 pb; 1-10: DNA de colônias 1-10 de pGEM/espA; C+: controle positivo com DNA de EPEC; C- : controle negativo com pQE-30. Figura 13: Visualização eletroforética da digestão para confirmação de clones pGEM/espA e purificação de espA. Gel de agarose 0,8% contendo 0,03% de brometo de etídio. M: marcador λ Hind de 564 pb a 23.000 pb; 1-7: DNA de clones pGEM/espA positivos por PCR e digeridos com Bam HI e Hind III . 579pb 500pb M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 C+ C- 579pb 36 5.4. Preparação do vetor de expressão pQE-30 Células DH5- α competentes foram transformadas com pQE-30, plaqueadas em meio LB contendo ampicilina (100 µg/mL). Algumas colônias foram selecionadas e crescidas em 5mL de meio LB com ampicilina (100 µg/mL) por 16 h. Os DNAs dessas colônias foram extraídos pelo método de TENS. Foi feita a digestão do pQE-30 extraído, com as enzimas Bam HI ®(Promega) e Hind III®(Promega). Depois da digestão foi feita uma precipitação utilizando 0.3M de NaCl e 2,5 V de etanol e um gel de agarose 0.8% foi feito para visualização do vetor extraído, digerido e precipitado (Figura 14). Figura 14: Visualização eletroforética da digestão e precipitação do vetor de expressão pQE-30. Gel de agarose 0,8% contendo 0,03% de brometo de etídio. M: marcador de 100pb a 1517pb. 1 e 2 vetor pQE-30 linearizado pelas enzimas Bam HI e Hind III, e precipitado. Vetor pQE-30 linear M 1 2 3500pb 500pb 37 O inserto espA obtido da digestão de clones positivos pGEM/espA foi purificado do gel pelo Kit da Qiagen. Após a purificação, um gel de agarose 0.8% foi feito para quantificação do vetor e inserto purificado (Figura 15). Figura 15: Visualização eletroforética do vetor de expressão pQE-30 e o inserto espA com extremidades Bam HI e Hind III purificados. Gel de agarose 0,8% contendo 0,03% de brometo de etídio. 1: pQE-30 linearizado; 2-6: espA purificada de 5 diferentes clones pLUA-04(1, 2, 4, 8 e 10); M: marcador de 100pb a 1517pb. 5.5. Ligação do inserto espA no vetor de expressão Uma vez digeridos com as enzimas Bam HI e Hind III, o inserto extraído do gel via Kit, e o vetor pQE-30 precipitado foram quantificados em torno de 5 ng/µL e 40 ng/µL, respectivamente. Diferentes reações de ligação vetor – inserto foram feitas: 1:1 e 1:3 com o fragmento espA purificado dos clones pLUA-04(1, 2, 4, 8 e 10), sendo a concentração do vetor foi sempre de 50ng/µL. A reação de autoligação (sem inserto) também foi realizada como controle. As E. coli da cepa M15 foram transformadas por choque térmico, com o produto de cada ligação, plaqueadas em meio LB contendo ampicilina (100 µg/mL) e canamicina (25 µg /mL) e crescidas por 16 h a 37 ºC. 3400pb 1 2 3 4 5 6 579pb 1 2 3 4 5 6 M 38 5.6. Validação dos clones por PCR Uma PCR foi também realizada com o DNA dos clones pLUA-052.6, 8.3, 8.5, 10.3 e 10.6. O DNA de EPEC foi utilizado como controle positivo e pQE-30 foi usado como controle negativo (Figura 16). FIGURA 16: Visualização eletroforética da reação da PCR para validação da clonagem de espA no vetor pQE-30. Gel de Agarose 0.8% contendo 0,03% de brometo de etídio. M: marcador λ Hind de 564 pb a 23.000 pb. Nos poços 1-5 DNA de cinco clones; C-: controle negativo com pQE-30; C+: controle positivo com DNA de EPEC. 5.7. Teste da expressão da proteína His6espA Trinta colônias foram selecionas, crescidas em meio LB contendo ampicilina (100 µg/mL) e canamicina (25 µg/mL) e incubadas por 16 h a 37 ºC. Como as células M15 contém o plasmídio pREP4 (que contem um gene para resistência a canamicina), juntamente com pQE-30/espA (que contem gene para resistência a ampicilina), colônias que crescerem em meio contendo os dois antibióticos possuem ambos os plasmídios. Cultivos positivos para ambos os plasmídios, foram incubadas com 1 mM de IPTG para a expressão da proteína recombinante EspA. Cinco cultivos expressaram EspA recombinante e foram M 1 2 3 4 5 C- C+ 579pb 39 chamados de pLUA-052.6, 8.3, 8.5, 10.3 e 10.6 (Figura 17). Esse mesmo procedimento de indução da expressão foi repetido, porém utilizando diferentes concentrações do indutor IPTG, a fim de encontrar a sua concentração mínima ainda capaz de induzir, e dessa forma evitar desperdício (Figura 18). O DNA desses cultivos foi extraído pelo método TENS e armazenados para fim de manutenção. Foi realizado um ensaio de Western blot com o lisado total das colônias positivas, utilizando anticorpo monoclonal anti-hexâmero de histidina como anticorpo primário(Figura 19). FIGURA 17: Visualização eletroforética da expressão da proteína EspA recombinante SDS-PAGE com gel de acrilamida/bisacrilamida a 15% corado com azul de Comassie R-250. Nas raias 1, 3, 5, 7 e 9 são amostras de lisado de cultura não induzida; nas raias 2, 4, 6, 8 e 10 são amostras de lisado de cultura induzida durante 3h com IPTG. A seta representa a banda de proteína EspA super expressa. 25 kDa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 40 NI 1 2 3 4 5 6 Induzidos 25 kDa NI 1 2 3 4 5 6 Induzidos 25 kDa FIGURA 18: Visualização eletroforética da indução da expressão da proteína EspA recombinante com diferentes concentrações de IPTG SDS-PAGE com gel de acrilamida/bisacrilamida a 15% corado com azul de Comassie R-250. NI: referente ao lisado não induzido, 1-6: referente aos lisados induzidos, respectivamente, com 1 mM, 0,7 mM, 0,5 mM, 0,3 mM, 0,1 mM e 0,05 mM de IPTG. 41 FIGURA 19: Detecção de EspA recombinante por Western blotting Lisado total de proteína EspA recombinante foi aplicada num gel de acrilamida 15% e transferido para membrana de nitrocelulose onde IgG anti-His reconheceu o hexâmero de histidina fusionado à proteína EspA. M: marcador low range (BioRad); 1, 3, 5, 7 e 9: são amostras de lisado de cultura induzidas durante 3 h com IPTG; 2, 4, 6 e 8: são amostras de lisado de cultura não induzida. A seta indica a proteína EspA super expressa. 20,7 M (kDa) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 107 81 48,7 33,8 27 20,7 42 5.8. Validação do clone pLUA-0510.3 por sequenciamento A partir do resultado da PCR foram feitas extrações de DNA para se obter quantidades suficientes, e de boa qualidade, a serem precipitados e enviados para sequenciamento. O sequenciamento foi feito por encomenda (Genemed Synthesis, Califórnia, EUA). O clone pLUA-0510.3 foi seqüenciado totalmente, em ambas as direções do inserto (Figura 20). CCCTTCCGGCGGAACATTTCACACAGAATTCATTAAAGAGGAGAAATTAACTATGATGATGATGAGAGGATCGCCCC ATCACCATCACCATCACATCACCATCACCATCACATCACCATCACCATCACATCACCATCACCATCACGGATCCGGATCCGGATCCGGATCCGCGGCGGCGGCGATGGATACATCAACTGCAACATCAGTTGCTAGTGCGAAC GCGAGTACTTCGACATCGACAGTCTATGACTTAGGCAGTATGTCGAAAGACGAAGTAGTTCAGCT ATTTAATAAAGTCGGTGTTTTTCAGGCTGCGCTTCTCATGTTTGCCTATATGTATCAGGCACAAAG CGATCTGTCGATTGCAAAGTTTGCTGATATGAATGAGGCATCTAAGGAGTCAACCACAGCCCAAA AAATGGCTAATCTTGTGGATGCTAAAATTGCTGATGTTCAGAGTAGTTCTGACAAGAATAAGAAAG CCAAACTTCCTCAAGAAGTGATTGACTATATAAATGATCCTCGCAATGACATTACAGTAAGTGGTA TTAGCGATCTAAATGCTGAATTAGGCGCTGGTGATTTGCAAACGGTGAAGGCCGCTATTTCGGCC AAATCGAATAACTTGACCACGGTAGTGAATAATAGCCAGCTTGAAATACAGCAAATGTCAAATACG TTAAACCTATTAACGAGTGCACGTTCTGATATTCAGTCACTGCAATACAGAACTATTTCAGCAATAT CCCTTGGTAAATAACCCAAGCTTAAGCTTAAGCTTAAGCTTAATTAGCTGAGCTTGGACTCCTGTTGATAGATCCAGTAATGAC CTCAGAACTCCATCTGGATTTGTTCAGAACGCTCGGTTGCCGCCGGGCGTTTTTTATTGGTGAGA ATCCAAGCTAGCTGGGCGAGATTTTCAGGAGCTAAAGGAAGCTAAAATGGAGAAAAAAATCACTG GATATACCACCGTTGATATATCCCAATGGCATCGTAAGAACATTTTGAGGCATTTCAGTCAGTTGC TCATGTACCTATACCAGACCGTTCAGCTGGATATACGCTTTTTAAGACCGTAAAGAAAAATAGCAC AGTTTATCGGCTTTATCACATCTGCCCGCTGATGATGCTCATCGATTTCGTATGGCATGAGGACG GTGAGCTGTGTAATTGGATAGTGTTCACCTTGTTCACCGTTTCATGGAGCACTGGAACGTTTCATC GCCTTGATGTAATCCCACGACGATTCGGCGCGAACTTATGTC FIGURA 20: Seqüência total do clone pLUA-05 10.3 A região em vermelho esta indicando a seqüência parcial do vetor pQE-30; em preto o códon inicial; em lilás o hexâmero de histidina; em verde o sítio para restrição Bam Hl; em alaranjado o sítio para restrição Hind III; em roxo um aminoácido adicional marcador de identificação; e em azul a seqüência referente a EspA. 43 Ao desenhar os iniciadores, tomamos como referência a seqüência de espA da REPEC sorotipo “O103:H2”, porém, a reação da PCR foi realizada utilizando o DNA da EPEC humana (B171) sorotipo “O111:NM”. Comparando o resultado desse sequenciamento com a seqüência de espA da REPEC (“O103:H2”) vimos que possui 100% de homologia com a espA de EPEC humana (“O111:NM”). 5.9. Purificação da EspA recombinante em coluna de Ni- Sepharose Foi montada uma coluna com 5 mL de resina Ni-Sepharose que foi equilibrada com 10 mL de tampão de lise pH = 8,0. Foi aplicado 1 mL do lisado total acrescido de 1mL do tampão de lise pH 8,0 e incubado durante 40 min. Uma única porção de material não retido foi coletada. A primeira lavagem foi feita com 50 mL (10x de 5 mL) de tampão de lise pH 8,0. A segunda lavagem foi feita com 25 mL (5x de 5 mL) de tampão pH 8,5, e a eluição foi feita com 50 mL de tampão pH 4,5 (10x de 5 mL) (Figuras 21 e 22). FIGURA 21: Visualização da purificação da proteína EspA recombinante em coluna de afinidade Ni- Sephaose. SDS-PAGE com gel de acrilamida/bisacrilamida a 15% corado com azul de Comassie R-250. Raia 1: lisado total; 2: não retido; 3: lavado em pH 8,0; 4: lavado em pH 8,5; 5-10: Eluído 1, 2, 3, 4, 5 e 6 em pH 4,5. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 25 kDa 44 20 59 52 59 90 99.9 99.9 52 40 % FIGURA 22: Análise das frações de purificação da proteína EspA recombinante SDS - PAGE 15% com amostras da proteína EspA recombinante purificada em coluna de afinidade Ni- agarose, dialisada e liofilizada. Raia 1: lisado total, 2-9: purificações de EspA, em diferentes dias. O percentual de pureza da proteína EspA de diferentes purificações, é mostrado na parte inferior do gel. Os percentuais foram obtidos usando programa e a metodologia de densitometria usadas por (Bozzo e Retamal, 1991). 5.10. Quantificação de His 6EspA utilizando densitometria A partir do gel de SDS PAGE 15%, da figura 22, foi realizado estudo de densitometria, usando o programa computacional desenvolvido por Bozzo e Retamal (1991). Os dados de densitometria somados aos dados de dosagem de proteínas pelo método de Bradford (1976) (das purificações 5, 6 e 7, da figura 22, podem ser resumidos na tabela 3. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 25 kDa 45 TABELA 4: Demonstrativo da purificação da proteína EspA recombinante 5 6 7 Lisado Proteína solúvel a 2,65 mg 2,35 mg 2,25 mg 3,72 mg Produção 71,2% 63,2% 60,5% ---- Rendimento b 17,7 mg/g peso úmido 15,7 mg/g peso úmido 15 mg/g peso úmido 25 mg/g peso úmido Eficiência 70,8% 62,8% 60% ---- Homogeneidade 99,9% 99,9% 90% ---- a Proteína total por mL. b A partir de 4 L de cultura foi obtido 2,4 g de peso úmido de células que foi diluído em 16 mL de tampão de lise. A quantidade relativa de proteína total solúvel presente em 1 mL é 18,6 mg. Os cálculos foram realizados considerando um nível de expressão de 20% que representa 3,72 mg do lisado total. 5.11. Imunização de coelhos com proteína EspA recombinante A proteína EspA recombinante, 99,9% homogênea, foi utilizada para o processo de imunização. 5.12. Avaliação da especificidade do anticorpo policlonal de coelho contra EspA recombinante Para avaliar a especificidade do anticorpo policlonal anti-EspAproduzido em coelhos foi sensibilizada uma placa de ELISA, com 2 µg/mL de EspA recombinante e incubada com o anticorpo policlonal anti-EspA de coelho nas diluições em log 2 a partir de 1:100 até 1:3,276,800. Consideramos o anticorpo ainda reativo (End Point) numa diluição com Densidade Óptica (D.O.) duas vezes a do controle negativo (soro pré-imune), e o título foi de 1:400,000. Com o objetivo de visualizar a reatividade do anticorpo de coelho contra EspA, 4 µg de EspA recombinante foi aplicada por poço de um gel SDS – PAGE 15% e transferida para uma membrana de nitrocelulose. Essa membrana foi cortada em tiras, uma foi incubada com IgG de coelho anti-His, (controle positivo), e a outra 46 foi incubada com IgG de coelho anti-EspA, ambas durante 3 h. Por último, a membrana foi incubada com proteína A peroxidase por mais 2 h e a reação foi revelada. Anticorpo anti-EspA produzido em coelho mostrou ser reativo para EspA recombinante, e na mesma intensidade do controle positivo (Figura 23). 1 2 3 4 5 6 25 kDa 1 2 3 4 5 6 25 kDa FIGURA 23: Avaliação da reatividade do anticorpo anti-EspA produzido em coelho. Uma montagem para comparação onde 1 e 2 são SDS-PAGE 15% corado com Comassie blue. 1: lisado bacteriano, 2: Proteína EspA recombinante pura, 3, 4, 5: proteína EspA pura transferida para membrana de nitrocelulose, 6: lisado bacteriano transferido para membrana de nitorcelulose. 3: proteína EspA recombinante pura, anticorpo monoclonal anti-Hexâmero de Histidina na diluição 1:6.000, 4: proteína EspA recombinante pura, anticorpo anti-EspA produzido em coelho na diluição 1:10000, 5: Proteína EspA recombinante pura, soro de paciente pediátrico na diluição de 1:500, 6: lisado bacteriano, anticorpo anti-EspA produzido em coelho na diluição 1:10.000. 47 5.13. Estudo da soro prevalência de IgG e IgA séricas anti-EspA de crianças de 0 a 2 anos. Para avaliar a soro prevalência de IgG e IgA séricas, placas de ELISA foram sensibilizadas com 2 µg/mL de EspA recombinante, e incubada com soro de 100 crianças de 0 a 2 anos numa diluição de 1:500. Consideramos soro positivo para EspA o soro que na diluição 1:500 teve D.O. duas vezes a do controle negativo (sem anticorpo primário). Dos 100 soro analisados 75 foram positivos para IgG e 23 para IgA (Figura 24). 0 20 40 60 80 100 0-6 meses 6-12 meses 12-18 meses 18-24 meses 0-24 meses Fa ix a Et ár ia (m es es ) Porcentagem (%) IgA IgG FIGURA 24: Soro prevalência de IgG e IgA séricas anti-EspA recombinante em lactentes. O gráfico mostra a porcentagem de crianças soro positivas para IgG e IgA anti-EspA em diferentes faixas etárias. 23/100 75/100 40/49 10/49 5/12 7/12 27/36 8/36 1/3 0/3 48 Depois de realizada a seleção dos soros positivos para EspA recombinante, foi avaliada a especificidade desses soros para EspA através da sua titulação. Mais placas de ELISA foram sensibilizadas com 2 µg/mL de EspA recombinante e 75 soros positivos para IgG e 23 soros positivos para IgA foram diluídos 1:100 a 1:3.200. Foi considerado ainda positivo o soro diluído que apresentou uma D.O duas vezes maior a do controle negativo chamado de “End Point”. A reatividade dos soros nas outras diluições foram consideradas End Point de 1 a 6 de acordo com o grau da reatividade com EspA recombinante (Figuras 25 e 26). ELISA Soroprevalência IgG anti-EspA 0 1 2 3 4 5 6 7 0 6 12 18 24 30 Faixa Etária (meses) En d Po in ts FIGURA 25: Especificidade da IgG anti-EspA O gráfico mostra a relação da especificidade da IgG anti-EspA com a faixa etária dos pacientes soro positivos. 49 ELISA Soroprevalência de IgA anti-EspA 0 1 2 3 4 5 6 0 5 10 15 20 25 30 Faixa Etária (meses) En d Po in ts FIGURA 26: Especificidade da IgA anti-EspA O gráfico mostra a relação da especificidade da IgG anti-EspA com a faixa etária dos pacientes soro positivos. Para podermos visualizar a especificidade de soros de crianças de 0 a 2 anos anti- EspA recombinante foram feitos dois géis preparativos de acrilamida contendo aproximadamente 4 µg de EspA recombinante e transferidos para membranas de nitrocelulose. Depois de bloqueadas com 1% de leite bovino, foram secas e cortadas em tiras. Os soros que no ELISA foram mais positivos para IgG ou IgA foram incubados com diferentes tiras. A IgG anti-Human foi utilizado como anticorpo secundário (Figuras 27 e 28). 50 FIGURA 27: Imunodetecção de IgG anti-EspA de crianças assintomáticas. SDS – PAGE 15% preparativo, contendo HisEspA purificada, foi transferida a uma membrana de nitrocelulose, depois cortada em tiras. 1-12: soros das crianças (1, 2, 9, 13, 17, 41, 73, 74, 81, 85, 89, 99) de até 2 anos de idade (1:500) e revelado com IgG de cabra anti-IgG humano conjugada a peroxidase (1:40.000). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 + + + + + + + + + + + + 25 kDa 51 FIGURA 28: Imunodetecção de IgA anti-EspA de crianças assintomáticas. SDS – PAGE 15% preparativo contendo HisEspA purificada foi transferida para membrana de nitrocelulose, depois cortada em tiras. 1-12: soros das crianças (4, 5, 6, 9, 15, 17, 41, 45, 51, 54, 74, 81) de até 2 anos de idade (1:500) e revelado com IgG de cabra anti-IgA humano conjugada a peroxidase (1:40.000). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 + - + + + + + + + + + - 25 kDa 52 5.14. Ensaio de hemólise e inibição da hemólise TABELA 5: Porcentagem de hemólise de hemácias com diferentes tratamentos EPEC REPEC DH5-α (c-) Hemácia+IGP 47% 43,2% 2,5% Hemácia+PBS 0,85% 1,2% 4,7% Hemácia+IGP+50µg IgG anti-EspA 38,1% 38,5% ---- Hemácia+IGP+100µg IgG anti-EspA 4,6% 5,5% ---- Hemácia+PBS+50µg IgG anti-EspA 1% 0,3% ---- Hemácia+PBS+100µg IgG anti-EspA 0,06% 0,26% ---- Hemácia+IGP+100 µg IgG pré-imune ---- -0,09 ---- Hemácia+PBS+100 µg IgG pré-imune ---- 0,9% ---- As cepas de EPEC e REPEC utilizadas nesses ensaios mostraram induzir a lise de hemácias quando em solução com IGP (baixa força iônica), e lise extremamente baixa quando em solução com PBS, pois, em baixa força iônica a aproximação da bactéria (dos filamentos de EspA) com as hemácias fica facilitada, sendo o ensaio mais sensível. A cepa de E. coli DH5-α foi utilizada como controle negativo por não ser patogênica, portando, não possui filamentos de EspA, que é o que medeia a lise (Shaw et al., 2001). O teste de inibição da hemólise se baseia em inibir o contato dos filamentos de EspA utilizando anticorpos anti-EspA produzidos em coelho. Ao utilizarmos 50 µg de IgG anti-EspA, a inibição da hemólise foi apenas de 8,9% em comparação ao ensaio somente com EPEC, e de 4,7% em comparação ao ensaio somente com REPEC. Com utilização de 100 µg de IgG anti-EspA, houve inibição de 42,4% em comparação ao ensaio somente com EPEC, e de 37,7% em comparação ao ensaio somente com REPEC. Contudo, ao utilizarmos IgG pré-imune como controle negativo da inibição, a hemólise não foi observada. 53 6. Discussão Dada a alta morbidade e mortalidade causada por EPEC, principalmente em crianças de até 2 anos de idade, existe interesse
Compartilhar