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Polícia Militar: PPT e RP o stress frente ao trabalho de risco

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UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA REGIONAL DE CHAPECÓ
Ana Paula Antunes
POLICIAL MILITAR: PPT E RADIOPATRULHA,
O STRESS FRENTE AO TRABALHO DE RISCO
Chapecó-SC, 2007
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ANA PAULA ANTUNES
POLICIAL MILITAR: PPT E RADIOPATRULHA,
O STRESS FRENTE AO TRABALHO DE RISCO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ, como parte dos requisitos para a obtenção de grau em Psicologia.
Orientadora: Tatyana Elisan Bonamigo
Chapecó – SC, novembro de 2007.
Agradecimentos
	É momento de deixar registrado os agradecimentos a todas as pessoas que de alguma forma estiveram presentes na minha vida nestes dois anos em que dediquei-me à esta pesquisa.
	A Deus, em primeiro lugar, pela oportunidade de estar no mundo e, por estar comigo a cada dia da árdua batalha em busca do conhecimento; por ter me dado saúde para agüentar madrugadas acordadas, caminhadas até o Batalhão às 7 horas da manhã, tantos dias sem almoço e tantas lágrimas derramadas.
	À minha família, que apesar de longe, sempre estiveram presentes, principalmente aos meus pais e minha irmã, que nunca deixaram de me apoiar e de me incentivar nesta caminhada, torcendo por mim e sofrendo comigo.
	À minha orientadora, Tatyana, em que conheci além de uma grande professora, uma amiga especial, que me orientou com dedicação e que acreditou em meu potencial.
 
	Aos policiais do 2o BPM, que gentilmente me receberam e colaboraram com esta pesquisa.
	Aos meus colegas e amigos, que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e incentivando, nos tantos momentos que tive vontade de desistir.
	Agradecimento especial, a Jô, a Gra, a Fer, a Muni e a Gisa que me “agüentaram”, nas tantas vezes que acreditei não conseguir terminar a pesquisa, mas mesmo assim me levaram nas festas, onde que eu só falava em TCC!!! 
	Meu eterno Muito Obrigada!
Ana.
Desconfiai do mais trivial
na aparência do singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceites o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural,
nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1: Exemplo do procedimento referente à matriz de dupla entrada	37
Gráfico 1: Nível de stress na amostra do PPT	78
Gráfico 2: Nível de stress na amostra da RP	80
Gráfico 3: Fase de stress apresentada na amostra da RP	81
Gráfico 4: Tipos de sintomas apresentados na amostra da RP que possui stress	83
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relação dos objetivos de pesquisa, que demandam dados de entrevista para serem discutidos e o tópico guia para a realização da entrevista
	34
SUMÁRIO
INTRODUÇAO	07
OBJETIVOS	13
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA	14
3.1 Sobre o Stress	15
3.2 Polícia Militar	22
3.3 Psicologia e Stress	25
4 MÉTODO	31
4.1 Tipo de Pesquisa	31
4.2 Participantes	31
4.3 Instrumentos	33
4.4 Procedimentos	35
4.5 Análise dos Dados	37
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DAS ENTREVISTAS	39
5.1 Inserção na Polícia Militar	39
5.2 História na Corporação	42
5.3 Pensamento sobre a Profissão	44
5.4 Atividades de Lazer	47
5.5 Fatores Stressantes na Profissão	51
5.6 Interferência dos Fatores de Stress no Cotidiano de Trabalho	59
5.7 Comportamentos Antes da Ocorrência	61
5.8 Reação ao ser Chamado para uma Ocorrência	65
5.9 Comportamentos Frente a Ocorrência	68
5.10 Como o Policial Sente-se Depois de Atender uma Ocorrência 	73
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DO INVENTÁRIO	77
6.1 Análise dos Resultados do ISSL Aplicado em Policiais do PPT	77
6.2 Análise dos Resultados do ISSL Aplicado em Policiais da RP	79
7 PROPOSTA DE UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO E PROMOÇÃO NO CAMPO EMOCIONAL DO POLICIAL MILITAR	85
7.1 Proposta Prática de um Programa de Prevenção e Promoção no Campo Emocional do Policial Militar	86
7.1.1 Objetivos	86
7.1.2 Conteúdo Programático	87
7.1.3 Recursos Utilizados e Duração do Programa	88
CONSIDERAÇÕES FINAIS	89
REFERÊNCIAS	94
ANEXOS	99
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INTRODUÇÃO
	Trabalho é a atividade humana voltada para a transformação da natureza e para a produção de bens, envolvendo o homem em todas as suas dimensões e exercendo importante papel na construção de sua subjetividade. Andery (1994) cita as idéias de Marx, dizendo que o homem é um ser natural, em que depende da transformação da natureza para sobreviver, e usa da natureza, transformando-a, segundo suas necessidades. O homem atua sobre a natureza através de uma atividade prática e consciente que lhe permite construir o mundo objetivo, construir a si mesmo e satisfazer suas necessidades buscando sua sobrevivência, ou seja, a produção pelo trabalho. 
	Andery (1994), ainda seguindo as idéias de Marx, diz que o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, ou seja, é o ser social que determina sua consciência. Assim, o que faz com que a pessoa sinta-se bem, é o seu “social”, onde o trabalho é um importante fator deste. Portanto, o sujeito que trabalha, tem um papel frente à sociedade, sentindo ser parte dela, usando de seu trabalho para sobreviver e garantir sua dignidade.
	Albornoz (1992) cita dentre muitos significados, o trabalho humano como uma “atividade determinada e transformadora, tantas vezes penosa e, contudo necessária”. Apesar de muitas vezes penosa, como diz Albornoz, algumas vezes, o trabalho pode (porém deveria) ser satisfatório. O trabalhador feliz, conforme Silva (1997), sente-se mais bem-disposto e com maior vigor físico, também sente sensação de bem-estar interior decorrente da melhoria das relações pessoais que mantém no trabalho, e vivencia o trabalho não como tortura e fonte de dissabores, mas como algo prazeroso e desejável. A importância do bem-estar no trabalho fica clara quando nos damos conta de que é trabalhando que passamos a maior parte de nossa vida, e é no trabalho, ou por meio dele, que realizamos grande parte de nossas aspirações.
	O trabalho é tão antigo quando a existência do homem, a Psicologia ligada ao trabalho é mais recente, e veio para ajudar a resolver problemas relacionados ao trabalho/ trabalhador. Antunes (1999), diz que a preocupação com a questão do trabalho, do ponto de vista psicológico, vem desde os tempos da Colônia, da preocupação com os indígenas que já exerciam controle sobre o processo produtivo. No século XIX, a urbanização traz novas preocupações a partir da ampliação e diversificação das atividades produtivas. É na década de 20 do século passado, com a Revolução Industrial consolidada, que ocorrem as primeiras experiências de aplicação da Psicologia às questões do trabalho, daí as bases para o desenvolvimento desse campo de atuação.
	Segundo Sampaio (1998), a Psicologia Organizacional veio com visões de não apenas capacitação para o trabalho, mas também de desenvolvimento de recursos humanos, maximiza a influência do ambiente no comportamento humano e minimiza influências intra-psíquicas (satisfação), estuda o comportamento do consumidor, plano de cargos e salários como elemento motivador, tenta compreender o trabalho humano em todos seus significados e manifestações, em que a referência, produtividade, cede lugar para uma compreensão mais próxima do homem que trabalha – sua saúde mental, a partir daí, passam a ser consideradas as questões do poder, conflito e seus reguladores. 
	O trabalho, para as empresas, tem o objetivo final de lucro, com o avanço da tecnologia do século XX, a promessa era a de facilitar a vida: mais lucro com menos trabalho. Porém estas invenções causaram graves conseqüências, “a informática, o fax, o celular e os pagersdeixam a pessoa ‘ligada’ no trabalho 24 horas por dia. É muito pior que trabalhar doze horas seguidas e depois ir para casa relaxar, como faziam os nossos avós” teoriza Paul Rosch (2007), do American Institute of Stress.
	A pior inovação, porém, explica Lipp (2006c), foi a descoberta de que a maneira de o trabalhador render mais é quando submetido a um razoável stress, mas sua produtividade máxima é atingida quando ele, sem perceber, passa de seu limite. Ou seja, sob tensão pesada o sujeito rende muito bem por algum tempo, depois adoece.
	Assim, verifica-se na história do trabalho e da Psicologia dentro de organizações, o abuso físico e mental, com o objetivo final de produtividade. Hoje sabe-se que a produtividade ascenderá da qualidade de vida dos trabalhadores, ou seja, a estrutura da saúde humana que há por trás do lucro é o lucro em si, já que o trabalhador satisfeito e com bem-estar físico e psíquico, pode gerar custos para a organização, mas como conseqüência, terá menos absenteísmo e maior produtividade, pois sabe-se que a produtividade ascenderá da qualidade de vida dos trabalhadores.
	O trabalho em si merece dispêndio de energia física e mental, estas podem provocar inúmeras doenças físicas e mentais nos trabalhadores, a partir da pressão que a empresa faz, gerando stress, ansiedade, problemas cardíacos e de pressão arterial, além de acidentes de trabalho, aí a importância de um profissional de Psicologia atuando nas organizações, para ajudar a manter saudável o nível de energia que o trabalhador consumirá. 
	Deterei-me ao stress que o trabalho pode gerar, principalmente em situações onde existe risco de vida e o poder há de dominar. Um dos ambientes de trabalho que geram estas características, e o qual será utilizado para a produção desta pesquisa, é a Policia Militar, neste caso, o 2º Batalhão da Policia Militar de Chapecó, e como Amador (2002, p. 55) cita, é de fundamental importância considerar os “policiais militares como trabalhadores que sofrem o impacto do trabalho sobre a sua subjetividade e saúde”, buscando responder ao problema de pesquisa:
	Como o stress interfere no cotidiano do policial militar que atende ocorrências de risco?
	A Policia Militar tem como missão contribuir para a segurança pública, preservação da cultura e das tradições de Santa Catarina, sendo a cidadania seu lema e a qualidade de vida do povo catarinense sua meta (Policia Militar, 2006). Ao executar esses serviços, o policial militar defronta-se inúmeras vezes com situações de conflito, pela natureza de seu trabalho, assim gerando situações de stress. Pesquisas já efetuadas no Brasil com esta população, afirmam que 65% dos policiais militares possuem stress (Lipp, 2006c).
	Dentre os vários fatores que causam o stress nesta população está a pressão para com o policial de manter uma identidade profissional forte e corajosa, contendo sua agressividade operativa e o rigor do regulamento interno, com o dever de não falhar no trabalho e com o risco do rigoroso controle da esfera prescrita do trabalho, incluindo a possibilidade de inquérito e punição; também, a possibilidade de ter um colega morto no cumprimento do dever e matar alguém durante o cumprimento do dever, além do salário insuficiente e a falta de recursos médicos e de equipamentos de trabalho (Amador, 2005 e Romano, 2001).
	Conforme Lipp (2006b), o “stress é uma reação do organismo que ocorre quando ele precisa lidar com situações que exijam um grande esforço emocional para serem superadas. Quanto mais a situação durar ou quanto mais grave ela for, mais stressada a pessoa pode ficar”. O stress, segundo a autora, tem 4 fases: a fase do alerta, da resistência, de quase-exaustão e a fase da exaustão.
	Lipp (2006a) traz que o stress, na fase de alerta, provoca reações normais e até mesmo defensivas ao indivíduo, quando o organismo se prepara para a reação de luta ou fuga, porém se estes níveis se mantiverem altos ou a exposição ao agente stressor continuar por tempo indeterminado, inicia-se a fase de resistência, onde os sintomas da fase anterior dão lugar a uma sensação de desgaste e cansaço. A fase de quase-exaustão aparece quando a pessoa não mais consegue resistir ou se adaptar ao stressor e as doenças começam a surgir, porém não tão graves como as da fase da exaustão, em que a pessoa pára de funcionar e não consegue trabalhar ou se concentrar.
A resposta de stress, ainda segundo Lipp (2006b), deve ser estudada nos seus aspectos físicos e psicológicos, pois ela desencadeia não só uma série de modificações físicas, como também produz reações a nível emocional. Nesta, o stress pode produzir desde apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento e hipersensibilidade emotiva até raiva, ira, irritabilidade e ansiedade, além de ter o potencial de desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas em pessoas predispostas. Quanto às modificações físicas, a reação do indivíduo pode não ser auto-controlada, pode ter comportamentos agressivos e a partir daí atrapalhar o andamento do trabalho e prejudicar sua saúde.
	Neste sentido, esta pesquisa visa produzir novos conhecimentos que contribuam para compreender a relação entre o trabalho e o sofrimento que dele pode decorrer, tendo como finalidade principal a reflexão de estratégias e de um programa que vise a promoção da saúde mental do policial militar no desempenho de seu trabalho, contribuindo de forma a tornar o trabalho policial mais humano, verificando as condições de saúde, segurança e bem estar, ressaltando a importância de um psicólogo organizacional dentro de instituições militares que convivem diariamente com o risco e o medo, e conseqüentemente com o stress.
	Este relatório constitui da revisão teórica sobre assuntos afins aos direcionados à pesquisa, ou seja, stress, Policial Militar e a Psicologia diante destes campos, além da análise dos dados obtidos através da coleta de dados junto aos Policiais Militares do Pelotão de Policiamento Tático e da Radiopratrulha do 2o Batalhão de Policia Militar da cidade de Chapecó.
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OBJETIVOS
	- Conhecer a inserção do policial na Policia Militar;
	- Analisar o nível do stress dos policiais militares do 2o BPM de Chapecó;
	- Analisar o cotidiano do policial e sua relação com o stress;
	- Analisar os comportamentos dos policiais relacionados aos atendimentos das ocorrências de risco;
	- Mapear os casos de afastamento dos policiais militares que atuam no espaço público;
	- Demonstrar a importância do papel do psicólogo no espaço militar;
	- Propor programas preventivos e promotores no campo emocional do policial militar no seu cotidiano de trabalho.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	
	O stress é uma doença que pode afetar qualquer pessoa, em qualquer profissão. Nesta pesquisa, verificou-se, a presença de stress em policiais militares do 2º BPM da cidade de Chapecó, assim sendo, abordará o stress, suas fases e formas de controlá-lo; conceitos sobre a profissão Policial Militar e sobre a violência que os rodeias, e, consequentemente, lhes pode gerar stress; e a contribuição da Psicologia sobre estes assuntos, para melhorar a saúde do policial, mediante casos de stress e outras patologias no campo emocional. 
	Desta forma, apresentam-se discussões dos temas relacionados com autores e estudiosos afins.
3.1 Sobre o Stress
	Considera-se de grande importância definir o termo stress dentro do conceito científico deste fenômeno, pois nestes últimos anos este conceito é utilizado de maneira inapropriada pelo senso comum. Filgueiras (1999) comenta que os meio de comunicação de massa têm veiculado o conceito de forma indiscriminada, favorecendo uma certa confusão a respeito do verdadeiro significado do termo, “o stress passou a ser responsável por quase todos os males que nos afligem atualmente, principalmente em decorrência da vida moderna” (p. 40), conseqüentemente, cresce o número de programas voltados para o controle do stress – muitos carecendo de um embasamento teóricomais aprofundado, assim como cresce o interesse econômico, podendo ser observado tanto na indústria farmacêutica, como nas companhias de seguro.
	O stress pode afetar qualquer pessoa, indiferente da idade, gênero ou profissão. Lipp (2006c) traz que a incidência de stress na população adulta, gira em torno de 32% – resultado de uma pesquisa realizada pelo Centro Psicológico de Controle do Stress (CPCS) em São Paulo, em que avaliou 1818 pessoas que transitavam no Aeroporto de Cumbica e no Conjunto Nacional que se prontificaram a responder ao Inventário de Sintomas Informatizado. Deste índice em que apresentou sintomas de stress, 13% eram homens e 19% mulheres, indicando que no nosso país as mulheres apresentam mais stress do que os homens.
Em algumas camadas da população brasileira, o stress é ainda mais freqüente e intenso, especialmente dependendo da ocupação exercida. Entre os profissionais com maior percentual de stress, conforme Lipp (2006c) estão os juízes do trabalho com 70% de incidência, os bancários com 65% e os policiais militares, com a mesma incidência, além de outros profissionais como os jornalistas da mídia escrita (62%), atletas juvenis de basquete e tênis (50%), executivos (40%) e professores (35%).
	O termo “stress” foi utilizado primeiramente por Selye em 1936, definido como “o grau de desgaste causado pela vida” (ABREU, 2002, p.24). Também é utilizado por França (2002), como vindo da Física, com “o sentido do grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a um esforço”. Para a área humana, denomina “o conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de adaptação”. 
	O stress pode ser responsabilizado por inúmeros acontecimentos de desgraças pessoais e à saúde, porém age como resposta ativada pelo organismo, para as pessoas enfrentarem situações percebidas como difíceis tentando adaptar-se ao evento stressor, neste processo utiliza-se de quantidades grandes de energia adaptativa, gerando excesso de stress (Lipp, 1994). Segundo Silva (2005) este excesso é o que causa as conseqüências danosas ao organismo humano, desencadeando ou potencializando doenças tais como gastrite, úlcera, hipertensão arterial, herpes simples, dermatites entre outras.
	Silva (2005, p.54) menciona que,
O stress é uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz [...], qualquer situação de tensão aguda ou crônica que produza uma mudança no comportamento físico, no estado emocional do individuo, ocorrendo uma resposta de adaptação psicofisiológica que pode ser negativa ou positiva para o organismo.
	O modelo trifásico desenvolvido por Hans Selye foi expandido por Lipp, após 15 anos de pesquisa no Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress (LEPS) da Puc-Campinas. Assim, antes pensava-se que o stress se desenvolvia apenas em três fases: alerta, resistência e exaustão, identificou-se recentemente a existência de uma outra fase do stress, designada de "fase de quase-exaustão", situada entre a "fase da resistência" e a “fase da exaustão". Deste modo, Lipp (2006a) traz, o stress em quatro fases:
- a fase do alerta, considerada a fase positiva do stress, onde o ser humano se energiza através da produção da adrenalina, a sobrevivência é preservada e uma sensação de plenitude é freqüentemente alcançada;
- a fase da resistência, em que a pessoa automaticamente tenta lidar com os seus stressores de modo a manter sua homeostase interna;
- a fase de quase-exaustão, nesta fase, o processo de adoecimento se inicia e os órgãos que possuírem uma maior vulnerabilidade genética ou adquirida passam a mostrar sinais de deterioração;
- a fase da exaustão, quando doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras e psoríase. A depressão passa a fazer parte do quadro de sintomas do stress na "fase de quase-exaustão" e se prolonga na "fase de exaustão".
Lipp (2006a) explica que o stress, na fase de alerta, provoca reações normais e até mesmo defensivas ao indivíduo, quando o organismo se energiza pela produção de adrenalina e prepara para a reação de luta ou fuga, porém se estes níveis se mantiverem altos ou a exposição ao agente stressor continuar por tempo indeterminado, inicia-se a fase de resistência, onde os sintomas da fase anterior dão lugar a uma sensação de desgaste e cansaço. A fase de quase-exaustão aparece quando a pessoa não mais consegue resistir ou se adaptar ao stressor e as doenças começam a surgir, porém não tão graves como as da fase da exaustão, em que a pessoa pára de funcionar e não consegue trabalhar ou se concentrar. A resposta de stress deve ser estudada nos seus aspectos físicos e psicológicos, pois ela desencadeia não só uma série de modificações físicas, como também produz reações a nível emocional. Nesta, o stress pode produzir desde apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento e hipersensibilidade emotiva até raiva, ira, irritabilidade e ansiedade, além de ter o potencial de desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas em pessoas predispostas. Quanto às modificações físicas, a reação do indivíduo pode não ser auto-controlada, pode ter comportamentos agressivos e a partir daí atrapalhar o andamento do trabalho e prejudicar sua saúde.
	O stress, segundo Lipp (2003), pode ser controlado pela pessoa que sofre desta doença. A autora traz quatro pilares de controle de stress:
	- a alimentação: uma boa alimentação é essencial para qualquer indivíduo, é muito importante repor as energias, vitaminas e nutrientes utilizados nos momentos de stress. Para tanto, deve-se alimentar de muitas verduras ricas do complexo B, vitamina C, magnésio e manganês;
	- relaxamento: o relaxamento ajuda a eliminar o excesso de adrenalina produzida e restabelece a homeostase interna do organismo. O relaxamento pode ser em forma de exercícios de respiração, yoga, relaxamento muscular, ouvir música, ver filmes, bate-papo ou leitura;
	- auto-manejo: auto-conhecimento e autodeterminação, ou seja, saber lidar com a causa do problema, saber o próprio limite e saber quando se aproxima dele;
	- atividade física, segundo Lipp (2003; 2006b), pesquisas indicam que o exercício físico, mantido sem interrupção por 30 minutos, é capaz de levar nosso corpo a produzir uma substância chamada beta-endorfina, que anestesia o organismo, fazendo as dores desaparecerem no momento, dando uma sensação de conforto, prazer, alegria e bem-estar. Um dos resultados de se utilizar o exercício físico, é a melhora que se obtém em nossa qualidade de vida, a saúde, a vida social e afetiva melhoram. Além disto, a qualidade de vida na área profissional vem a melhorar, pois a pessoa fica menos tensa e mais aberta para os desafios do trabalho.
	Além deste controle que o indivíduo pode manter, também deve tratar-se com psicólogo ou medicação, dependendo do caso. Lipp (2004) traz o tratamento psicoterápico como o ideal para tratar o stress emocional, aquele que não há comprometimento de nenhum órgão, torna-se então, necessário identificar e trabalhar a causa da tensão. Quando já existe a manifestação física na forma de alguma doença, o tratamento clama a atuação de um médico especialista na área afetada. “Mas, ainda assim, o tratamento deve incluir a atenção de um psicólogo especializado em stress, uma vez que a simples cura de uma úlcera não elimina a fonte stressora que pode ter desencadeado a doença” (LIPP, 2004, p. 53).
O stress emocional, segundo Lipp (2006d), tem etiologia complexa e diversificada que inclui desde fatores externos criadores de tensões patológicas, como fontes internas capazes de atuarem como geradores contínuos de estados tencionais significativos. Os fatores externos são de fácil percepção e entendimento, no entanto, condições internas, ligadas à diátese da personalidade, são de difícil auto-percepção.Inúmeras são as fontes internas de stress, dentre elas, sobressaem-se:
- a ansiedade enquanto traço de personalidade, denotando um estado constante de apreensão frente ao mundo e suas situações desafiadoras;
- o pessimismo caracterizado por uma ótica focalizada no lado negativo e perigoso dos eventos da vida;
- os pensamentos disfuncionais que levam à formulação de premissas errôneas quanto à vida e aos outros, e que moldam a busca de evidências para corroboração dessas premissas enviesadas;
- o padrão de comportamentos caracterizados pela pressa, a competição e hostilidade como modo típico de atuação na vida;
- a falta de assertividade caracterizada pela síndrome do "nunca dizer não" e as vulnerabilidades psicológicas adquiridas através de práticas parentais inadequadas associadas às vulnerabilidades biológicas. 
Todas estas características tendem a gerar um estado de tensão crônico, freqüentemente associado a conseqüências físicas e psicológicas.
Segundo Barreira (2006), se o indivíduo apresenta sintomas de stress e conhece as forças psicológicas e biológicas que atuam sobre ele, este pode, por meio da habilidade de reconhecer a dor, de perceber seu sentido e de tolerá-la até resolver os conflitos de forma construtiva, tornar-se resiliente.
Conforme Pinheiro (2004) e Barreira (2006), resiliência é um termo originalmente atribuído à física, em que busca estudar até que ponto um material sofre impacto e não se deforma. Para a Psicologia, tem a ver com a qualidade de resistência e de perseverança do ser humano em face às dificuldades da vida. A capacidade que tem o ser humano de se recuperar psicologicamente quando é submetido às adversidades, violências e catástrofes, corresponde à capacidade de pessoas ou grupos não só de resistir às adversidades, mas sim de utilizá-las em seus processos de desenvolvimento pessoal e crescimento social. Tais mecanismos de proteção, não necessariamente, eliminariam os riscos, porém têm um efeito de encorajamento que levam a pessoa ao enfrentamento e engajamento para a superação dos mesmos, numa predisposição positiva que agiria como uma forma de tornar o indivíduo sobrevivente e impulsioná-lo a ser o primeiro a participar e desenvolver a criatividade para quebrar a rotina do dia-a-dia.
Para Barreira (2006), as condições humanas não devem alimentar, no ser humano, a fantasia da resistência absoluta ao stress, da invulnerabilidade para resistir ao sofrimento, porque a resistência ao stress é relativa e suas bases são tanto constitucionais quanto ambientais, sem uma base fixa e que variam de acordo com as circunstâncias. Porém Pinheiro (2004) enfoca o aspecto individual da resiliência, afirmando que os sistemas de formação educacional deverão valorizar o desenvolvimento do sujeito, no sentido de preparar seus participantes para um maior controle do stress, lidando adequadamente com as estratégias de coping (conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou stressantes) e de promoverem o indivíduo resiliente, ao longo de todo o desenvolvimento co-extensivo à duração de vida.
O stress pode ocorrer em qualquer profissão, embora, nos explica Romano (2001), existem ocupações, como a dos policiais, que apresentam um alto índice do problema, por exigirem contatos interpessoais muito intensos dos policiais com o público em geral. Estes estão constantemente expostos ao perigo, à agressão e à violência, devendo freqüentemente intervir em situações de problemas humanos de muita tensão (aprofundado no item Psicologia e Stress).
	Lipp (2004) diz tornar-se importante diagnosticar o stress logo que comece a se instalar no organismo, a fim de tentar interromper o processo do adoecimento que pode ser desencadeado pela tensão excessiva. Uma das dificuldades freqüentemente mencionadas é a do diagnóstico dos sintomas e a fase do stress em que a pessoa possa se encontrar. Para tanto, pode utilizar-se o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (Lipp, 1994), um instrumento de avaliação psicológica que tem a finalidade de diagnosticar o stress e indicar a fase que se apresenta quando aplicado em indivíduos adultos. Este inventário será aplicado no total da amostra desta pesquisa, para assim apresentar dados quantitativos atuais, procurando identificar o nível de stress dos policiais militares do 2º BPM que atuam em atividades de risco, juntamente com outros dados obtidos com a mesma amostra, visando um programa promotor de saúde, para uma melhor atuação e qualidade de vida destes trabalhadores.
	
3.2 Polícia Militar
	
	Com a finalidade de contextualizar a profissão do policial militar, amostra participante desta pesquisa, será apresentado conceito, origem e fatores stressantes quanto às normas e atividades exercidas por esta classe de profissionais.
	Assis (2003, p. 29) aponta o conceito de polícia como o seguinte “ordem ou segurança pública; o conjunto de leis e disposições que lhe servem de garantia; a parte da Força Pública ou Corporação incumbida de manter essas leis e disposições de boa ordem; civilização; cultura social; cortesia; [...]”. De maneira mais clara, é a faculdade que o Estado tem de intervir nos setores que compõem a sociedade, cuidando, advertindo e corrigindo.
Segundo Souza (2005), as instituições policiais brasileiras (civis e militares), de um lado, derivam das corporações modernas da Europa Ocidental, surgidas na transição do século XVIII para o século XIX, forjadas na idéia de segurança pública como um serviço essencial prestado pelo Estado, concernente à garantia de direitos e ao assentamento da autoridade. De outro, foram criadas para controlar uma sociedade escravocrata, extremamente hierárquica e elitista. Desta forma, ao lado de seu papel modernizador que tirava o monopólio da violência da mão dos soberanos portugueses, sua existência efetivou a força repressora do Estado contra os escravos, os pobres livres e a população em geral. Sua atuação histórica acabou por instituir uma ética discriminatória na prática dos deveres estabelecidos pela autoridade das leis. 
Essas práticas autoritárias e violentas, segundo Costa (2006), ainda são empregadas a fim de promover justiça em nosso país. Ela continua presente nas estruturas sociais e de poder mesmo depois do período republicano e pós-redemocratização do país em 1988. O maior dilema das autoridades brasileiras tem sido a dificuldade de mantê-la sob o controle dos governos num país marcado por desigualdades e onde as leis são constantemente desrespeitadas pelas elites e pelas autoridades.
No que se refere à violência policial, conforme Costa (2006), a experiência policial e as suas práticas girariam em torno da combinação de perigo e autoridade. É o perigo que vai pôr em risco o emprego da autoridade. Desta forma, a adesão do policial às normas legais variaria de acordo com o perigo a que é exposto. Assim, o policial pode empregar o uso da força ilegal de acordo com o perigo a que ele se sente submetido, ou quando a sua autoridade é questionada ou desrespeitada. Além de que a temática relacionada à violência policial, segundo Amador (2000), pode estar relacionada com a personalidade de quem comete o ato violento, entendendo-o como questão centrada no indivíduo ou, pode ser atribuída à falhas na seleção de pessoal ou no treinamento para o trabalho da polícia.
A opinião pública negativa faz parte do ônus do trabalho policial, onde esses servidores apresentam elevado grau de sofrimento no trabalho pela falta de reconhecimento social. O conceito negativo emitido sobre eles pelas várias camadas sociais está entranhado na cultura. Ela legitima e naturaliza a violência que os vitima, muito mais do que a qualquer trabalhador, durante a jornada de trabalho ou nos tempos de folga em que, curiosamente, aumentam as ocorrências de lesões e traumas de que são vítimas (Souza, 2005). A autora aponta apenas as conseqüências físicas, porém não aponta as conseqüências psíquicas a que estes trabalhadores estão expostos, mas sabe-seque estas podem gerar problemas de saúde, como é o caso do stress.
Confirmando esta informação, pesquisas apontam os policiais militares como uma categoria propensa a sofrer de stress decorrente da profissão, Lipp (2006c) traz que pesquisas já efetuadas no Brasil com esta população, afirmam que 65% dos policiais militares possuem stress.
Romano (2001), em sua pesquisa com 153 policiais militares da cidade de São Paulo, objetivando uma proposta do controle de stress destes, traz itens em que sua amostra abaliza como causadores de stress. Dentre as grandes fontes de stress apontadas pelos policiais pesquisados, estão a natureza do trabalho da polícia e a natureza das organizações da polícia. 
	Dentre a natureza do trabalho da polícia, está, conforme Amador (2005) e Romano (2001), a tentativa de manter o controle, por parte dos policiais, de sua agressividade operativa que deve ser utilizado no cumprimento do dever de suas tarefas, sem configurar violência, assim o policial mantém-se sob tensão e fica vulnerável a seu descontrole. Na pesquisa de Romano, aparece como eventos mais stressantes o risco de vida relacionado à rotina de trabalho; à possibilidade de ter um colega morto no cumprimento do dever e matar alguém durante o cumprimento do dever. 
	Segundo Amador (2005) e Romano (2001), o evento gerador de stress quanto à natureza das organizações da polícia, é produzido, principalmente, sob o rigor do regulamento interno, onde deve-se reconhecer a inevitabilidade de “falhar” no trabalho. Porém, apesar dos esforços em se obter a realização de procedimentos precisos, torna-se impossível atingir o controle total da execução do trabalho em termos prescritos, e ainda submetem-se ao rigoroso controle da esfera prescrita do trabalho, incluindo a possibilidade de inquérito e punição. Além deste stressor, também aparece o salário insuficiente e a falta de recursos médicos e de equipamentos de trabalho.
	Porém o trabalho militar não deve ser considerado somente ruim, a profissão militar exige resistência física e disciplina, que é, muitas vezes, levado para sua vida fora da instituição, como a prática de exercícios físicos, o que colabora para a saúde.
3.3 Psicologia e Stress
	Conforme Lipp (2006e), o stress “é uma reação do organismo que ocorre quando ele precisa lidar com situações que exijam um grande esforço emocional para serem superadas. Quanto mais a situação durar ou quanto mais grave ela for, mais stressada a pessoa pode ficar”. O maior problema ocorre quando não conseguimos resistir ou nos adaptar, então o organismo começa a sofrer um colapso gradual.
	Independente da causa, segundo Lipp (2006d), sempre é possível aliviar sua intensidade e criar no ser humano uma resistência ao stress. 
Percebe-se, quanto ao stress, que a maioria das vulnerabilidades são adquiridas através de práticas parentais que não favoreceram o desenvolvimento de resistência ao stress, mas mesmo aquelas que fazem parte de uma diátese constitucional ficam menos pronunciadas quando se fortalece o indivíduo através da aquisição de estratégias de enfrentamento. Tendo em vista que pelo menos parte das vulnerabilidades pode ter sido aprendida e considerando que tudo o que é aprendido pode ser modificado, reinterpretado ou aprendido de novo com uma nova configuração e significado, então há de se concluir que é possível sim reduzir - e muitas vezes até eliminar completamente - as fontes internas de stress, geradoras de vulnerabilidades do ser humano. É neste aspecto que a Psicologia atua no tratamento dos fatores internos geradores do stress (LIPP, 2006d).
	O colapso interno gerado pelo stress pode alterar todos os fatores físicos e psíquicos, como conseqüência, haverá mudanças na vida social e profissional desse sujeito. Quando este não consegue controlar o stress, e o seu trabalho requer muito dele, as conseqüências são inestimáveis, nestes entra o policial militar, que lida diariamente com a pressão, a violência, a vida, a morte. Por atuar diretamente em situações geradoras de stress, a Psicologia pode contribuir para uma redução dos níveis patológicos do stress, para tanto, existe uma área especifica dentro da Psicologia, para atuar com estes profissionais. Cabe explicar donde surgiu e a importância desta área.
	Segundo França (2004), a Psicologia Jurídica é uma emergente área da ciência psicológica, é próprio desta, a interface com o Direito, permeando sua atuação. Os setores da Psicologia Jurídica são diversos, entre eles há o da Psicologia Policial, que pode ser definida, segundo Jesus (2000), como a aplicação da Psicologia Social a processos organizacionais, de formação, de apoio interno, profissionais e familiares, e de investigação policial.
	Verde (2005) aponta o surgimento da Psicologia Policial por volta dos anos 40, porém seu desenvolvimento ocorreu nos anos 80, seguindo a tendência norte-americana. Seu desenvolvimento pode ser dividido em quatro etapas:
	- a primeira etapa entre 1943 a 1966: com o projeto Couseling Program, em Portland (EUA), onde constava a suposição de que a Psicologia poderia auxiliar a polícia nos processos seletivos de pessoal, inspirado na Psicologia Organizacional, e auxiliar na investigação criminal, originado da Psicologia Clínica;
	- a segunda etapa aconteceu entre 1966 e 1968: nesta época surgiu nos EUA um aumento do número de Psicólogos ligados à organização policial. A atuação de Psicólogos na polícia expandiu-se através do desenvolvimento de métodos e técnicas especificas e o desenvolvimento de entrevistas com testemunhas;
	- a terceira etapa situa-se entre 1968 e 1970: quando ocorre a estruturação das funções da Psicologia Policial em terapia e aconselhamento dos agentes policiais e de suas famílias; treinamento e consulta de gerenciamento em recursos humanos; assessoramento policial em delitos especiais, tais como violações, homicídios, atentados, etc.;
	- a quarta etapa iniciou em 1970 até os dias atuais ocorrendo seu desenvolvimento institucional, estendendo-se para outros países.
	A polícia, durante muitos anos, manteve-se distante da sociedade, mas, na realidade, as forças policiais estão integradas por indivíduos que interagem socialmente, sendo assim, o estudo destas interações são importantes para a compreensão dos fenômenos complexos que ocorrem na atividade diária dos policiais. 
	A Psicologia contribui à organização policial “estudando, observando, pesquisando, contribuindo para o aprimoramento e manutenção de uma ótima performance do trabalho policial” (Jesus, 2000), assim como um apoio à família deste, pois os efeitos do trabalho atingem também toda a sua família. Estudos, segundo o mesmo autor, apontam altas taxas de separação, uso abusivo de bebidas alcoólicas, aumento de violência doméstica, etc., que se dão pelo ambiente de trabalho de alto risco, a freqüente mudança de horários de trabalho, valores culturais internos, baixos salários, falta de condições de trabalho, entre outros, todos geradores de stress a este grupo profissional.
	Segundo Jesus (2000) e Verde (2005) além das atividades já citadas, o profissional psicólogo atua na seleção e formação geral ou específica de pessoal das polícias civil, militar e do exército; contribui para a melhoria do clima organizacional; previne doenças ocupacionais; aumenta a eficácia das operações policiais; faz avaliação e tratamento psicológico dirigido a policiais que participaram de incidentes traumáticos, como a morte de um companheiro de trabalho; serviços de treinamento e desenvolvimento de habilidades profissionais, como o manejo do stress, preparação para a aposentadoria, melhora da relação matrimonial, entre outros; realiza contatos e relações com a comunidade; desenvolvimento de programas para melhorar o serviço, como a seleção, o stress, etc.
	Verde (2005) aponta três temáticas em que há resultados relevantes quanto à contribuição da Psicologia Policial: o controle do stress, assistência ao cidadão e assistência a testemunhas. Vou me deter às técnicasde controle do stress, objeto de minha pesquisa.
	Segundo Silva (2000), dentro da perspectiva de preparo para o trabalho de risco, uma das questões pertinentes às condições psicológicas dos trabalhadores é a que se relaciona ao stress. 
	Vale à pena ressaltar a importância de um tratamento psicoterápico frente ao stress, já que o tratamento médico especializado, de suma importância quando existe uma manifestação física na forma de alguma doença, pode curar a doença, mas não eliminar sua fonte stressora, a qual pode ter desencadeado a doença (Lipp, 2004).
	Romano (2001) levanta como de importância vital o desenvolvimento de um programa efetivo de controle do stress, com a identificação dos stressores, a avaliação da magnitude do stress associada a cada fonte e a determinação de quão freqüente cada stressor é encontrado. Já que, como Romano (2001) nos traz, o stress não pode ser eliminado por completo da vida profissional do policial militar, pois toda situação que exija deles a resolução de conflitos ou a manutenção da ordem, produzirá tensão e stress, que, em uma dosagem saudável, age como resposta ativada pelo organismo, para enfrentar situações percebidas como difíceis, preparando-se para a reação de luta ou fuga.
	Porém, esse profissional se vê, várias vezes ao dia, colocado frente às situações geradoras de stress, situações em que deve atender as exigências do seu trabalho, colocando em risco sua própria vida. Assim, enfrenta um desequilibro biológico que pode vir a afetar não só a ele, como pessoa, mas também à própria organização da Polícia e à comunidade, pois o stress manifesta-se em forma de absenteísmo, problemas emocionais, mudanças na eficiência, desempenho irregular, impaciência com a população com quem lida e erros sérios (Romano, 2001).
	Todo esse stress gerado sob o trabalho do policial, pode ser voltado a favor da organização, do policial e da comunidade. Para isto, o policial deve saber identificar e lidar com os efeitos do stress excessivo em seu trabalho.
	Partindo do exposto, é necessário que a Organização da Polícia Militar encare a sua responsabilidade com a saúde dos policiais, já que se trata de uma importante questão de saúde pública, pois o sofrimento psíquico decorrente do exercício laboral atinge uma categoria profissional inteira e porque seus efeitos atingem ampla e gravemente toda a sociedade (Amador, 2002).
4 MÉTODO
4.1 Tipo de Pesquisa
	
	Optou-se pela Pesquisa Descritiva, que Dmitruk (2004) define como o estudo de fatos e fenômenos sem que haja a interferência do pesquisador, e se utiliza de técnicas de observação, registro, análise e correlação de fatos sem manipulá-los.
	Para esta pesquisa, utilizou-se da descrição da realidade do trabalho dos policiais militares, baseado nas atividades de risco, com o objetivo de verificar a manifestação do stress nesta profissão. 
4.2 Participantes
	O 2º Batalhão da Policia Militar da cidade de Chapecó possui cerca de 360 policiais, sendo que aproximadamente 170 trabalham no efetivo operacional/dia. Este grupo é dividido em administrativo, com aproximadamente 35 policiais, e operacional, que faz, efetivamente, o trabalho de rua. Dentro do efetivo existe o policiamento ostensivo geral, com a radiopatrulha, a policia montada, o policiamento com cães, o grupo tático e o policiamento prisional (penitenciária e presídio), que são divididos em equipes de moto, viatura, a pé, policiamento comunitário e policiamento prisional.
	A opção em desenvolver a investigação com o efetivo da radiopatrulha e o grupo tático, que atende as ocorrências no município de Chapecó, se deu pelo fato de entender que estes estão propensos a situações de riscos. Com este critério de seleção dos participantes da pesquisa, serão formados dois grupos de amostra, com a finalidade de comparar os dados, que partem do nível de stress das diferentes equipes, tempo de serviço e a intenção quando da incorporação militar. 
	Um grupo será composto pelos policiais que fazem o policiamento operacional do Pelotão de Policiamento Tático (PPT). Este grupo tem como características o trabalho frente às ocorrências mais perigosas e possuem treinamento semanal, tem um efetivo de 45 policiais divididos em cavalaria (17 policiais), policiamento com cães (7 policiais) e policiamento operacional (que faz o policiamento de rua, e consta de 21 policiais, que compõe a amostra). Aplicou-se a Entrevistas de Profundidade, com o critério de saturação, em 10 policiais desta equipe, correspondente a 50% do efetivo, que foram separados em mais e menos tempo de serviço no grupo operacional em questão, e então sorteados aleatoriamente. Após, foi aplicado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos em 100% da sua amostra presente, que representou um número de 17 policiais (os outros 4 policiais encontravam-se em férias, afastamento ou a trabalho em outras regiões).
	O outro grupo utilizado como amostra da pesquisa será dos policiais da radiopatrulha (RP), que, normalmente, fazem o primeiro contato às ocorrências. Este grupo possui o efetivo de aproximado de 80 policiais, que é dividido em 4 equipes de, geralmente, 20 policiais cada. Ambos os grupos, PPT e RP, fazem uma escala de trabalho de 12: 24 (12 horas de trabalho durante o dia, com 24 horas de folga) e 12: 48 (12 horas de trabalho durante a noite, com 48 horas de folga).
	Aplicou-se a Entrevistas de Profundidade, com o critério de saturação, em 09 policiais deste efetivo, correspondente a 50% de uma equipe, em que separou-se todo o efetivo em mais e menos tempo de serviço neste grupo operacional e assim, sorteados os participantes, após, em 100% do efetivo da RP, aplicou-se o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (Lipp, 1994).
4.3 Instrumentos
	Para coletar os dados desta pesquisa utilizou-se de três instrumentos de pesquisa: a entrevista de profundidade, o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (Lipp, 1994) e a observação não participante. A pesquisa contemplou a análise qualitativa sobre os dados de entrevista e quantitativa sobre os dados dos testes que foram aplicados à amostra.
A Entrevista de Profundidade, segundo Gaskell (2003), fornece dados para uma análise qualitativa através de uma descrição detalhada de um meio social específico. Para a realização da entrevista foi utilizado o Tópico Guia, que tem a finalidade de dar conta dos fins e objetivos de pesquisa (Tabela 1), este deve ser usado de modo flexível e compõem-se de um conjunto de títulos, funcionando como lembrete ao entrevistador e um meio de monitorar o andamento da entrevista.
	Objetivos
	Tópico Guia
	
Conhecer a inserção do policial na Polícia Militar.
	- História do policial sobre sua inserção no trabalho na PM (é uma opção ou foi designado);
- História do policial na corporação militar;
- O que pensa/sente sobre seu trabalho na PM;
	
Analisar o cotidiano do policial e sua relação com o stress.
	- Verificar se existe atividades que o faz relaxar (freqüência, descrição, quem participa, como se sente);
- Quais as tarefas e comportamentos quando encontra-se no batalhão, não atendendo ocorrências;
- Analisar os fatores que os policiais acham que são eventos stressantes e como interfere no seu trabalho;
	
Analisar os comportamentos dos policiais relacionados aos atendimentos das ocorrências de risco.
	- Qual sua reação ao ser informado de que deve deslocar-se a uma ocorrência;
- Quais são seus comportamentos diante de uma ocorrência de risco;
- Como se sentem depois do atendimento de uma ocorrência.
Tabela 1: Relação dos objetivos de pesquisa, que demandam dados de entrevista para serem discutidos, e o tópico guia para a realização da entrevista.
	Outro instrumento que foi contemplado nesta pesquisa, visando a análise quantitativa, é o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos – ISSL, trata-se de um Inventário validado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que visa identificar a presença de sintomas de stress, ostipos de sintomas existentes (somáticos ou psicológicos) e a fase em que se apresentam. Sua aplicação pode ser feita de forma individual ou coletiva para sujeitos de ambos os sexos, com a faixa etária entre 15 e 75 anos. Sua análise é compilada em resultados brutos, que são traduzidos em porcentagens para cada uma das quatro fases (alerta, resistência, quase-exaustão ou exaustão), portanto, a porcentagem encontrada, corresponde às chances de se estar em cada uma das fases de stress concebidas na escala (Lipp, 1994).
	Também foi realizada a observação não participante do cotidiano de trabalho dos policiais. Na observação não-participante, segundo Lakatos (2001), o pesquisador toma contato com a comunidade a qual pesquisa, mas não integra-se a ela; presencia o fato, mas não participa dele, seu objetivo é o de observar a situação, comportamentos e ambiente, sem nele interferir, para assim obter dados neutros.
4.4 Procedimentos
No decorrer da construção desta pesquisa foram realizadas conversas informais com os oficiais responsáveis pelo setor de relações públicas do 2º BPM, para coletar informações sobre a organização da instituição. 
Antes de iniciar a coleta de dados, o projeto foi apresentado ao Comandante do 2º Batalhão de Policia Militar de Chapecó, para a aprovação através de um documento por escrito (Anexo 1). Após entrou-se em contato com os participantes da pesquisa para o convite e agendamento das entrevistas e aplicação do instrumento de avaliação psicológica àqueles que se dispuserem a participar.
Com o efetivo operacional do PPT foi agendado com 10 policiais, considerando os de mais e menos tempo de serviço no efetivo atual, que foram selecionados de forma randômica, para aplicação da Entrevista de Profundidade. Após, foi aplicado o ISSL em 100% da sua amostra presente, que representa um número de 17 policiais, quando de seus encontros semanais para treinamento, onde encontram-se todos seus integrantes.
Com o grupo da RP, foram selecionados 09 policiais, separados em mais e menos tempo de serviço neste grupo operacional, que foram sorteados aleatoriamente, para a aplicação da Entrevista de Profundidade. Após, feito contato com o comando do Batalhão, foi ajustado quatro encontros, no momento em que estão entrando de serviço, para a aplicação em grupo do ISSL, que compreenderá 100% de seu efetivo presente, ou seja, 52 policiais. 
No início da entrevista foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), os deixando cientes sobre o sigilo dos dados pessoais e consistindo na autorização em participar da pesquisa. Para melhorar a qualidade dos dados, a entrevista foi gravada (já previsto no consentimento informado). Concomitante às entrevistas foi realizada visitas ao Batalhão para observações e conversas informais.
	Com os dados coletados, as entrevistas foram transcritas e analisadas. Segundo Gaskell (2003), a análise dos dados busca dar sentido e compreensão à entrevista, que posteriormente foi comparada com os resultados do Inventário e das observações.
4.5 Análise dos Dados
	Os resultados do teste ISSL foram analisados de forma quantitativa, onde foram comparados os dados entre os dois grupos de pesquisa e entre a amostra no total em relação ao tempo de trabalho.
	 Os dados das entrevistas foram analisados de forma qualitativa. Após a transcrição das entrevistas, estas foram lidas exaustivamente e o conteúdo analisado primeiramente através dos seguintes eixos temáticos (que correspondem ao tópico guia): história da inserção do policial na PPT/ RP, história do policial no PPT/ RP, pensamentos sobre a profissão, atividades de lazer que praticam, fatores stressantes na profissão e sua interferência no cotidiano de trabalho, comportamentos antes da ocorrência, reação ao ser chamado pra uma ocorrência, comportamentos frente a ocorrência, como sente-se depois da ocorrência. Construiu-se, inicialmente, uma matriz de dupla entrada (Quadro 1), com os eixos temáticos e as falas referentes à estes. 
	
	Eixo temático A
	Eixo temático B
	Eixo temático C
	Eixo temático D
	Policial 1
Radiopatrulha
Tempo serviço
	Falas
	Falas
	Falas
	Falas
	Policial 2
Radiopatrulha
Tempo serviço
	Falas
	Falas
	Falas
	Falas
	Policial3
GRT
Tempo serviço
	Falas
	Falas
	Falas
	Falas
	Policial 4
GRT
Tempo serviço
	Falas
	Falas
	Falas
	Falas
Quadro 1: Exemplo do procedimento referente a matriz de dupla entrada
Através desta matriz, na vertical, temos as falas de cada policial e no conjunto foi formado um “texto” com as falas de todos os policiais. Através deste procedimento foi construída as categorias, e as possíveis sub-categorias referentes a cada Eixo. Foram realizadas as comparações entre os grupos de pesquisa e verificado se há influência do tempo de serviço no stress. Na horizontal temos os dados contínuos, referentes a cada policial, onde podemos ter a análise de sua história.
	 
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DAS ENTREVISTAS
	Neste capítulo serão analisados e discutidos os dados referentes às entrevistas. Para a apresentação dos dados das entrevistas serão apresentados os Eixos de Análise que referem-se a: história da inserção do policial na Polícia Militar, história do policial no Pelotão de Policiamento Tático (PPT) e na radiopatrulha (RP), pensamentos sobre a profissão, atividades de lazer que praticam, fatores stressantes na profissão e sua interferência no cotidiano de trabalho, comportamentos antes da ocorrência, reação ao ser chamado para uma ocorrência, comportamentos frente a ocorrência, como sente-se depois da ocorrência. Dentro de cada eixo serão apresentadas as categorias referentes a cada temática que emergiram da análise qualitativa dos dados.
5.1 Inserção na Policia Militar
	Ao pesquisar as influências que levaram o policial militar escolher esta carreira verificou-se que quatro policiais do PPT tiveram influência da história familiar. Os policiais têm na família membros que são policiais como pai, irmãos, tios e primos.
“Família, o meu pai era policial e eu sou o quinto de cinco irmãos, e todos eles são da policia, então uma coisa foi puxando a outra (PPT 1). Eu sou filho de militar, sempre fui incentivado pelo pai (PPT4). Surgiu da própria família, meu pai é policial, tios policias, alguns irmão policiais, então tudo levou a essa situação (PPT5) Eu era bem jovem e tinha vontade, por ter parentes, ter tio, primo, sargento também, soldado, na brigada (PPT6)”.
	A mesma influência acontece com os policiais da RP.
“Vontade de família, então, já vem hereditário, avô policial, pai policial, irmãos mais velhos policial, conseqüentemente eu policial (RP3). Meu pai foi da PM, meu irmão ainda é, então também como opção de profissão (RP 7)”.
	Soares (1987) afirma que a identidade alcançada pelos pais no exercício diário de seus trabalhos influi na percepção do jovem que, quando da escolha de sua profissão, leva em consideração o seu “eu fui”, seu futuro definirá quem “ele é”, com base no seu passado. Neste passado existe a identificação, o acompanhamento profissional dos pais e outros parentes, o que o faz decidir ter a mesma profissão de seus familiares ou não. 
	Ainda, conforme Soares (1987), a identificação no grupo familiar está bastante presente no momento da escolha profissional, podendo ser, até mesmo, um caráter intransponível em algumas famílias.
	Seguindo o mesmo raciocínio há a identificação com a atividade profissional de amigos. Este fator também determinou a escolha pela profissão dos participantes da pesquisa, como pode ser vista nas falas dos policiais da RP:
“Tinha um colega lá perto de casa, que disse “ó quando você completar seus 18 anos quero que você inclua”, de tanto ele insistir, vamos tentar (RP1). Tinha uns amigos que trabalhavam na PM, isso que me levou a prestar o concurso, tinha admiração pela profissão deles, pelo trabalho e aí acabou influenciando (RP2). Bem por acaso, vontade de ser policia eu nunca tive,um colega chegou com uma inscrição (RP3). Trabalhava num supermercado, tinha uns policiais que faziam compras no mercado e eu atendia eles, um dia eles comentaram comigo se eu queria entrar na policia e aquilo foi me conquistando, me fazendo pensar e decidi entrar e ai fui fazer o concurso e passei e estou ai até hoje (RP6)”.
Outro fator que influenciou a escolha dos policiais militares para atuarem nesta área foi a questão da remuneração.
“Deu vontade de entrar, um pouco pela remuneração do trabalho (PPT 2). Eu entrei na policia pelo salário, o dobro praticamente do que eu ganhava na outra empresa (PPT3). O salário, o salário da policia na época era 3 vezes mais que eu ganhava nessa empresa (PPT8). Surgiu a oportunidade pra concurso, fiquei sabendo do salário e me interessei (RP9). A questão salarial na época (RP2). Fiquei porque o próprio salário era melhor que o de fora (RP5). É um trabalho melhor remunerado que eu tinha antes (RP7)”.
	Delgado (2002, p. 3) conceitua remuneração ou salário como “o conjunto de parcelas contra prestativas devidas e pagas pelo empregador ao empregado, em decorrência da relação de emprego”. O autor coloca a relação empregatícia como de vínculo essencialmente econômico, “ao valor econômico da força de trabalho colocada à disposição do empregador deve corresponder uma contrapartida econômica em benefício obreiro” (DELGADO, 2002, pg. 1).
	Conforme Delgado (2002), o salário atende a um essencial universo de necessidades pessoais do empregado e de sua família, é o mecanismo mais comum de enfrentamento de carências básicas do indivíduo, como alimentação, habitação, vestuário, educação e saúde, daí a preocupação e interesse das pessoas por uma boa remuneração por seu trabalho.
	Há também, como trazem policiais do PPT, a influência da inserção na atividade militar o acaso, apesar de terem essa vontade.
“Eu sempre tinha a vontade de ser um funcionário publico, o funcionário publico é diferente, até chega a ser um pouco melhor, então eu prestei 2 ou 3 concursos e me encaixei na PM, fiz o concurso pra PM e passei, acabei gostando (PPT7). Eu estudei num colégio militar, sempre tive a vontade de ser PM (PPT10)”.
	Assim como os policiais da RP, escolheram essas profissão por terem admiração à ela.
“Ser policia era sonho passado (RP8). Veio desde pequeno ainda, esse gosto surgiu quando eu era pequenininho na aula, no desfile, quando tinha aquela parada militar, a gente foi se influenciando nisso e dali pra frente (RP4)”.
	Considerando os fatores que influenciaram os policiais ao se inserirem na atividade militar percebe-se que 79% dos entrevistados levaram em consideração os aspectos ambientais na escolha da profissão, como fatores econômicos, familiares e o apoio de amigos, porém Soares (1987), explica o homem como um ser determinado, em que ele próprio faz a sua história e a de seu grupo social. Assim, apesar dos fatores ambientais, ele escolheu esta profissão como sua e apesar dos desafios e dificuldades, se integram a ela, e como veremos a diante, se satisfazem ou não com a escolha.
5.2 História na Corporação
	Todos os policiais do PPT que participaram das entrevistas iniciaram sua atividade profissional na Polícia Militar trabalhando na RP, a grande maioria recebeu convite para integrar o grupo tático, como pode ser verificado nas seguintes falas:
“Foi uma opção e um convite, me convidaram pra ir para a Policia Rodoviária Estadual e para vir pra o PPT, e como eu já estava aqui em Ccó, vim pro PPT (PPT1). Fiquei um mês trabalhando na rua, no policiamento ostensivo, dali mesmo foi convidado pra integrar o pelotão que antigamente era o COE (PPT3). Convidaram a trabalhar no GRT (PPT8). Me convidaram pra vir pro GRT, voltei, gosto de estar na rua, é estar no batente, trabalhando, arriscando até muitas vezes (PPT6)”.
	Alguns policiais do PPT aceitaram o convite para atuar no grupo tático por este ter uma estrutura melhor, já que seu armamento é mais potente, têm treinamentos semanais, mantém sempre o mesmo grupo de trabalho em escala, que é de quatro homens, ao contrário da RP que é de dois homens por viatura.
“Desde que surgiu o pelotão sempre quis ir, sempre tive próximo de entrar, mas não dava certo, mas logo surgiu o curso de táticas pra ingressar no GRT, me convidaram (...) porque aqui você tem mais acesso a cursos, especialização, na verdade é 4 em vez de 2, como na RP, impomos bem mais respeito (PPT2). Fiquei 6 meses no trânsito e fui pra RP, o Tenente estendeu o convite pra mim trabalhar do grupo tático, aqui é uma parte mais profissional da policia porque tem um treinamento diferente, tem um pensamento diferente em cima de situações, em cima de riscos, as ocorrência, até nossa própria chegada na ocorrência é um pouco diferente, com mais cuidado, mais treinamento, mais armas, mais homens (PPT5)”.
	Os demais integrantes da amostra, os policiais da RP, sempre se mantiveram na atividade operacional desde sua entrada na corporação. 
“Na RP desde que me formei (RP1). 20 anos na PM eu trabalhei na viatura, na RP (RP2). Nesses 15 anos de rua, de serviço só na rua (RP3). Sempre na radiopatrulha, na central, sempre atuando na rua (RP4). Vai fazer 20 anos agora, sempre na RP (RP5). Eu trabalhei praticamente quase só na viatura (RP6). Faz 1 ano e meio, e tenho mais ou menos o mesmo tempo de RP, trabalhando na rua (RP7). A vida toda trabalhei na RP, algum tempo no P2, na verdade a P2 também é RP, a atividade fim (RP8). Pelo menos 90% desses anos na RP (RP9)”.
	O policial ao entrar na corporação militar não escolhe para onde quer ir, mas com o decorrer do trabalho, se identifica com algumas áreas, comumente as operacionais. A entrada no PPT depende de convite, que na maioria das vezes surge pelo bom desempenho na função operacional, o qual geralmente é aceito, pois o PPT possui uma estrutura melhor, que apesar do risco da profissão, lhes dá uma segurança maior.
5.3 Pensamento Sobre a Profissão
	Os policiais pesquisados trouxeram várias crenças sobre sua profissão, desde considerar uma profissão stressante até estar satisfeito com a escolha profissional.
	Um policial do PPT trouxe a profissão como stressante ao considerar a desproporção econômica dos agentes�, já que faz o seu trabalho de autuar ou de prender, mas quem pode pagar bons advogados acaba por se livrar da pena e a sociedade acaba por acreditar que não faz o seu serviço.
“Stressante no sentido de quem se dá mal, é só quem não tem condições financeiras, porque a gente atua sempre oprimindo, e só quem não tem condições de se defender, de pagar bons advogados está lá preso, então daí, essa desproporção (PPT1)”.
	Essa sensação de ineficiência que o policial trouxe, ligada à Justiça brasileira também aparece em outras pesquisas, como na de Menandro e Souza (1996) e a de Amador (2000), onde os policiais pesquisados reclamam que os agentes são liberados pela Policia Civil, antes mesmo dos PMs que os deteram, que acompanham os agentes até a Delegacia, para prestar depoimento. 
	Outra insatisfação que aparece, relacionada à sua ineficiência, é quanto à valorização de seu trabalho frente à sociedade, que não reconhece ou compreende suas dificuldades.
“É pouco valorizado por quem não está no meio, pela imprensa, pessoas que nem conhecem como funciona, falar é fácil, mas conviver onde a gente convive, o que a gente faz, é difícil (PPT3). Não somos reconhecidos pela sociedade (PPT6). Tu vai atender a ocorrência, tu chegou lá, você é o anjinho, mas tu teve que pegar o primo dela, o parente dela numa residência, as vezes tem que usar da força pra isso, força necessária, daí você não é o anjinho você é o demônio, isso complica um pouco, frustra um pouco (PPT5). Uma profissão muito criticada, muito mal compreendida, às vezes tem a parte boa, mas é muito pouco a parte boa e sobressai mais a parte ruim da crítica (PPT8). É stressante, nem sempre o reconhecimento é vindo. (RP7)”.
	O risco freqüente na atividade militar é uma insatisfaçãoconsiderada, por policiais do PPT, como aparece nas seguintes falas:
“É um trabalho de auto-risco (PPT3). É uma profissão difícil, tu põe a tua vida, as vezes em risco pra ajudar as outras pessoas (PPT4). É uma profissão de risco, stressante (PPT7)”. 
	Os policiais da RP também trazem essa percepção quanto à profissão:
“Ela é uma profissão de risco (RP1). uma profissão de risco (...) se expõe, as vezes a gente acaba se expondo ao risco de vida mesmo (RP2)”.
	Amador (2000) aponta em sua pesquisa com policiais de Porto Alegre, a mesma queixa, onde policiais daquela cidade trazem o risco de vida como uma constante em seu trabalho, pois além do confronto diário com seus oponentes, recebem telefonemas anônimos ameaçando-os de morte.
	Apesar destas questões negativas quanto à profissão, três policiais da RP e um do PPT consideram a profissão importante frente à sociedade.
“Sinto também que hoje nós somos o braço forte da sociedade, nós somos o único recurso que a sociedade tem (RP3). É muito importante pra sociedade em si, fico imaginando sem a policia (...) a todo minuto estão chamando, não tem um minuto de sossego, então eu vejo a importância dela pra sociedade, imagino sem a PM a quem a comunidade iria apelar (RP6). Pra mim ela é importante (RP4). É de vital importância, a sociedade não funcionaria sem nós (PPT10)”.
	A polícia segundo Amador (2002), esteve, desde sua constituição, em vinculação com o governo e com táticas de controle social, pois nasceu da necessidade do controle das ilegalidades, tendo como uma de suas táticas a supressão das classes perigosas. 
Amador (2002) traz que o trabalho policial se caracteriza por uma ambivalência entre o exercício da coerção física e o desempenho de funções de bem-estar social e de relacionamento com as comunidades, daí sua importância social.
	Assim, os policiais entrevistados, de ambas as guarnições, apresentam-se satisfeitos ao pensarem sua profissão, como segue nas falas de cinco policiais do PPT e de dois da RP:
“Me sinto, as vezes, mais bem no serviço, do que em muitos lugares (PPT2). Eu acho que pra mim é gratificante, sou feliz como eu estou (PPT6). Uma profissão nobre, uma profissão boa (PPT8). É uma gratificação muito grande (PPT9). Gratificante, a policia é a mãe, entre os colegas não tem stress, a gente vive como uma família (PPT1). Trabalho pra PM até de graça, pra você ver o quanto eu gosto do que faço (RP8). Atualmente gosto, não desde que entrei, aprendi a gostar, mas quando entrei não, agora sim (RP5)”.
	Verifica-se que entre as questões que os fazem satisfeitos está a gratificação em atuar na Polícia Militar, o status que a profissão pode dar, o bom relacionamento com a equipe de trabalho e a questão salarial apresentada na fala de um policial da RP:
“Financeiramente eu acredito que não é das piores, por Chapecó hoje ter um nível de vida, um custo de vida não muito alto (RP9)”.
A satisfação no trabalho é um fenômeno complexo e de difícil definição, por se tratar de um estado subjetivo, podendo variar de pessoa para pessoa, de circunstância para circunstância e ao longo do tempo para a mesma pessoa. Segundo Martinez (2004), a satisfação está sujeita a influência de forças internas e externas ao ambiente de trabalho. Ela pode afetar a saúde física e mental do trabalhador, interferindo em seu comportamento profissional e/ou social. Os elementos causais da satisfação no trabalho estão relacionados ao próprio trabalho e ao seu conteúdo, possibilidades de promoção, reconhecimento, condições e ambiente de trabalho, relações com colegas e subordinados, características da supervisão e gerenciamento, e políticas de competências da instituição.
Sendo assim, o que pode ser satisfazer um trabalhador, pode não satisfazer o outro. Onde alguns reclamam da questão salarial, outros a acham justa, assim como enquanto alguns estão satisfeitos com a profissão, outros têm muitas críticas diante de seu cotidiano de trabalho.
5.4 Atividades de Lazer
	Ao pesquisar as atividades de lazer, verificou-se que a atividade esportiva está entre os momentos relaxantes dos policias do PPT, mesmo sem freqüência definida.
“Futebolzinho de vez em quando, com os amigos (PPT1). Gosto de esporte, jogo futebol, pratico exercício, não é uma atividade regular, mas toda semana ou jogo futebol ou corro, não tenho horários fixos, mas pratico atividades físicas (PPT4). No mínimo duas ou três vezes por semana vou correr (PPT6). A gente pratica uma corrida, uma defesa pessoal, umas 3 vezes por semana (PPT7). Pratico vôlei uma vez por semana (PPT9)”.
	O mesmo acontece com três policiais da RP.
“o que eu tenho feito é caminhada aqui no Ecoparque com a minha família, uma ou duas vezes por semana (RP4). Quando posso eu costumo correr no parque da Efapi (RP8). jogo futebol, uma, duas vezes por semana (RP8). jogo futebol (RP9)”.
Segundo Bregolato (2003), realizar exercícios físicos é sinônimo de saúde física- mental-espiritual. O movimento corporal faz parte da natureza humana e sem ele a pessoa se atrofia. A prática de atividades físicas é fundamental para se ter qualidade de vida. Entre os benefícios estão:
	- Evita doenças degenerativas;
	- Melhora a aptidão física, com aumento de força e flexibilidade;
	- Reflete positivamente na auto-estima;
	- Aumenta a disposição para atividades diárias;
	- Favorece a socialização através da participação em grupo e integração social;
	- Auxilia no relaxamento e no sono;
	- Promove o bem-estar psicológico, reduzindo níveis de ansiedade, depressão e apatia;
	- Ajuda no controle de peso, reduzindo a quantidade de gordura.
	Lipp (2006b) complementa trazendo que a atividade física é uma das maneiras mais eficazes para a redução imediata da tensão física e mental, o que pode controlar o stress a curto prazo.
	Segundo Lipp (2006b), pesquisas indicam que o exercício físico, mantido sem interrupção por 30 minutos, é capaz de levar nosso corpo a produzir uma substância chamada beta-endorfina, que dá uma sensação de conforto, prazer, alegria e bem-estar. Além disto, a beta-endorfina anestesia o organismo, fazendo as dores desaparecerem no momento. Um dos resultados de se utilizar esta técnica como manejo do stress, é a melhora que se obtém na qualidade de vida, em que a saúde, a vida social, afetiva e profissional vêm a melhorar, pois pessoa fica menos tensa e mais aberta para os desafios do cotidiano e do trabalho, daí a importância em se praticar exercícios físicos, seja qual for.
Os policiais pesquisados trouxeram como atividade relaxante os exercícios na academia, artes marciais ou o próprio treinamento voltado para a atividade profissional da equipe do PPT.
“todo dia vou pra academia, vou pegar minha esposa no trabalho, depois a gente vai pra academia e fica 1 hora e meia (PPT2). faço academia, musculação (PPT9)”.
“Dentro do pelotão uma vez por semana a gente tem atividades de treinamento (PPT4)”.
“Sou professor de caratê, à tarde e a noite quando estou de folga vou pra escola de caratê. Esta pratica de artes marciais relaxa mesmo, me deixa tranqüilo, eu posso estar numa pilha eu vou lá e corro, eu salto, eu soco, daí vou pra casa relaxado (PPT5). sou instrutor de jiu-jitsu, quando não estou de serviço, treino, diariamente (PPT10)”.
	
Os policiais também consideram um momento de lazer, atividades com a família e amigos, seja uma pesca, uma janta, uma festa, momentos que possam desfrutar destas companhias.
“Tudo me causa prazer em casa, ficar em casa com minhas filhas me causa prazer, sair pra jantar (PPT1). Eu saio, janto com a família (PPT2). Junto com a minha família, eu procuro propiciar o máximo de lazer possível, sair, ir dançar, ir jantar, ir numa festa (PPT4). Sair com a esposa, filhos, família, irmãos (PPT5). Sair com os colegas da guarnição, a gente se reúne muito, e é proibido falar do serviço, então você tem essas horas de lazer que é uma fonte de energia, pra no outro dia ir trabalhar (PPT5). Semanalmente eu pratico pesca esportiva,então toda semana eu vou pescar, esporte não faço nenhum, não gosto de futebol. Então é pesca, meu filho gosta disso, minha esposa gosta disso, já tenho alguns colegas de profissão que gostam, então a gente reúne e vamos pra beira de algum rio (RP3). Eu tenho uma chacrinha eu vou pra lá pra descansar, vou lá e corto grama, planto alguma coisa, a gente vai com a família, faz algumas atividades (RP6). Gosto de fazer um churrasquinho, acampar, tocar um violão, cantar, com os amigos (RP8)”.
	As atividades voltadas para o ramo automotivo, como mexer com carros, restaurar carros antigos, é considerada atividade de lazer por dois policiais, um do PPT e um da RP.
“Gosto de mexer com carros, vou na oficina de amigos (PPT6). Eu gosto bastante de lidar com carro, esses carros antigos, estar desamassando, chapeando, restaurando uma pecinha, tem amigos que ajudam (RP1)”.
	Um policial da RP traz sua atividade profissional como um momento de lazer, de diversão, pois o contato com várias pessoas faz aumentar seu círculo de amizades.
“Tenho meu trabalho também como, praticamente uma diversão, tenho muitas amizades (PPT2)”.
	Um policial do PPT e três da RP não praticam nenhuma atividade esportiva.
“Geralmente fico em casa, sou bastante caseiro (PPT3). Não pratico esportes (RP5). praticava caratê, mas agora estou a alguns meses um pouco parado (...) é um pouco de má boa vontade, preguiça (RP7). Eu não pratico esporte. Uma porque eu tenho problema, eu tenho um rim menor que o outro e tem aquele tal de sopro no coração, então o médico não permite que eu faça nenhum esforço físico, já por causa desses problemas, tenho pressão alta (...) eu levo uma vida normal, como qualquer pessoa, a única coisa que não posso forçar, ter que fazer força abusiva já não posso, correr, forçar, já não posso (RP2)”.
	Vale a pena salientar, como traz Lipp (2005), que a atividade física pode ser utilizada como protetor de stress excessivo, ajudando a atingir uma sensação de bem estar e calma. A falta de exercícios físicos para estes policiais que dizem não praticar por ser caseiro, por preguiça ou por problema de saúde, pode os tornar mais vulneráveis ao stress.
5.5 Fatores Stressantes na Profissão
	Existem alguns fatores stressantes na profissão apresentados pelos policiais militares. Alguns fatores são apresentados pelos dois grupos, como problemas com o comando e a insegurança quanto às ocorrências, e outros apresentados somente por um dos grupos.
	Entre os fatores stressantes apresentados pelos dois grupos está o comando, em que três policiais do PPT apontam nas seguintes falas:
“A pressão dos oficiais, contam os soldados mais antigos que um botão fora do lugar, na camisa, já dava problema (PPT2). Estar indignado com um superior, esse é o maior problema nosso (PPT6). A parte interna da própria policia, do próprio comando (...) são regras, se tu faz, está mal feito, se tu não faz, é porque tu não presta (PPT5)”.
	Assim como quatro policiais da RP:
 
“Comandos, é a disciplina que te impõem quando vai pra uma ocorrência (RP5). As próprias mudanças de comando, tu nunca é comandado pela mesma pessoa, cada um tem uma cabeça, tudo diferente, forma de assumir serviço, forma de tratamento, tudo é diferente, quando você está se adaptando, troca o comandante de companhia, tudo diferente do primeiro (RP5). Algumas cobranças que não são, que não tem motivo, coisas muito pequenas que não são relevantes ao próprio trabalho é cobrado muito com rigor e as coisas que as vezes a gente necessita no dia-a-dia não são nos apoiado (RP2). Entra de serviço com um, você trabalha com vontade, com satisfação, você pega um outro oficial que você sabe que durante o dia ele vai te stressar, tu já assume o serviço meio irritado porque você já sabe que aquele oficial, você vai ter problema com ele durante o dia, ele vai complicar com alguém e aquele ali pode ser você (RP6). Falta muita motivação por parte do comando, do estado (RP9)”.
	Pude verificar nos momentos de observação que todo dia, ao assumirem o serviço, se faz presente, além do comandante da guarnição, o Oficial Adjunto, que lhes passa informações e cobranças, assim como acontece na guarnição de Porto Alegre:
Todos os dias, a cada inicio de turno, (...) os policiais realizam a Parada Diária de Serviço, na qual elaboram a estratégia de trabalho do turno que vai iniciar (...). Nesse momento, o tenente responsável pelos grupos de trabalho caminha entre os soldados, cabos e sargentos – silenciosamente enfileirados – fornecendo informações sobre o turno que se inicia (AMADOR, 2000, p. 78).
	Esse momento representa quão rigoroso é o trabalho dos policiais, que a cada serviço recebem informações diferentes de oficiais diferentes. Assim como, quando um novo comandante assume o Batalhão e termina com programas em que a polícia é responsável, algumas vezes em andamento e com bom resultado, para pôr em prática outros, desmotivando os policiais.
	Dentre esses fatores relacionados ao comando, três policiais da RP trazem a hierarquia como fator stressante.
“O problema maior hoje é mais o problema interno, a questão a própria hierarquia, a própria disciplina, o regulamento disciplinar hoje é um dos problemas que mais causam stress hoje na atividade (RP2). Tu obedece ordens, tem que obedecer uma cadeia hierárquica (RP7). Nós temos a cobrança aqui dentro, dentro do batalhão, uma cobrança de certos oficiais (RP6)”.
	O Regulamento Disciplinar da PM de SC (Decreto 12.112 de 16 de setembro de 1980), em seu artigo 5º cita “a hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas e das Forças Auxiliares, por postos e graduações”. Neste ainda consta, no artigo 6º, que a disciplina policial-militar “é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes do organismo policial-militar”. 
	Barbosa (2007) complementa citando que
a subordinação é a divisão em níveis hierárquicos, que são os postos e graduações da pirâmide organizacional, com as responsabilidades inerentes ao cargo e suas limitações, em que quem pode “o mais” pode “o menos”, mas não o inverso, e a todos somente é permitido fazer o que é determinado pela lei, por força do princípio da legalidade.
	Soriano Neto (2007) traz que a hierarquia militar é a base das Forças Armadas, aumentando à medida que cresce o grau hierárquico, com a finalidade de impor regras de moral e ética quando o militar age como seu próprio juiz.
	Diante de todas as questões previstas e regulamentadas em Lei, o Policial Militar deve introjetar o modelo hierárquico militar, em que, nos traz Teixeira et al (2007) “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, facilitando exercer o comando e obter a obediência dos subordinados. Contudo, faz com que os subordinados trabalhem desmotivados, cumprindo ordens para não sofrerem sanções disciplinares previstas no regulamento da corporação (RDPM), “entende-se disso, que o grande desmotivador não é o autoritarismo e sim o autoritarismo o tempo todo”.
Questões ligadas a essa rigidez regulamentar são relacionadas ao cotidiano de trabalho do policial militar, como escala de trabalho, desequilíbrio do sono (pelas escalas de trabalho) e ouvir os chamados de ocorrências pelo rádio, onde devem ficar atentos por todo o período de trabalho, que também são considerados fatores stressantes, conforme a fala de dois policiais da RP:
“Tem horas que o rádio até começa a dar um stress, 24 horas a escutar, porque tu acompanha todas as ocorrências, chega uma hora que aquilo vai até te causar uma irritação (RP6). Essas noites de sono que desequilibram, você não sabe mais se dorme de dia ou se dorme de noite (RP6). Escala de serviço, essa parte mais interna, faz uma escala lá, não te avisam e te jogam (RP1)”.
Outro fator stressante, comum ao PPT e à RP, é a insegurança quanto às ocorrências. Como nos traz

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